Assessoria Técnico-Social e Participação Comunitária: Uma Parceria que dá Certo

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A Associação Comunitária de Cabeceira do Cônego Marinho nasceu no ano de 1994, antes mesmo da emancipação do município de Cônego Marinho, que antes pertencia ao município de Januária. No entanto, esta associação não nasceu de uma demanda da comunidade, mas por interesses políticos. No inicio, foram levantados os documentos para a fundação, mas por não ter atividades na comunidade, ela ficou muito tempo inativa. Depois de alguns anos sem organização, a comunidade foi chamada a se reunir para acessar créditos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) acompanhado pela EMATER e pelo sindicato patronal na elaboração dos projetos. A proposta apresentada era de acesso a R$ 16.000,00 que foi dividido entre 10 famílias, para plantação de mandioca, uma vez que a comunidade já tinha a prática de fabricação da farinha. Porém, Seu Vicente Pereira Lima, conta que os moradores tiveram dificuldades na administração do recurso. O agente do banco financiador do PRONAF vinha de Salinas, que fica a 500 Km da comunidade, o que dificultava aos agricultores tirarem suas dúvidas. Um dos moradores desistiu de aderir ao crédito, o que gerou um custo a mais para aqueles que continuaram com o projeto. Eles receberam somente R$14.400,00, mas tiveram que arcar com toda a dívida de R$16.000,00, no momento da quitação do empréstimo. O grupo buscou solucionar essa dificuldade, no entanto, o responsável pelo acompanhamento do projeto não conseguiu resolver a pendência junto ao financiador. Os agricultores que assinaram como avalistas do projeto se juntaram então, e quitaram a dívida para que não ficassem inadimplentes (devedores) ao sistema financeiro, impedindo a todos de acessarem novos créditos. Outra experiência vivenciada pela comunidade foi o projeto de criação de pintainhas, disponibilizado pela EMATER. Juntamente com outros representantes de associação, seu Valdo, presidente da associação, recebeu 750 pintainhas para a comunidade, sendo distribuídas para 50 famílias, sendo 15 pintainhas para cada uma. Mas os moradores contam que nem todo mundo conseguiu criar as pintainhas, muitas morreram no caminho, pois elas vinham de granjas de Belo Horizonte. Outras famílias não tinham condições de comprar a ração para alimentá-las, vendendo para outras famílias e algumas poucas conseguiram produzir ovos na comunidade. Em 2005 o município começou a trabalhar a compra e repasse de alimentos para o banco de alimentos, financiado pela CONAB e experimentou de ambas as realidades. A comunidade chegou a ter alguns produtores cadastrados, mas o programa não se efetivou por falta de assessoria efetiva. Somente em 2009 que a comunidade passou a fazer parte do projeto. Desde então, três famílias passaram a ser assessoradas e entregar hortaliça, mandioca, beiju, Minas Gerais Ano 6 | nº 917 | Outubro | 2012 Cônego Marinho - Minas Gerais Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Assessoria Técnico-Social e Participação Comunitária: Uma Parceria que dá Certo 1 Dona joana molha sua plantação com a água da cisterna acompanhada pelo técnico do P1+2 Muitas famílias da comunidade melhoraram sua produção

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A Associação Comunitária de Cabeceira do Cônego Marinho nasceu no ano de 1994, antes mesmo da emancipação do município de Cônego Marinho, que antes pertencia ao município de Januária. No entanto, esta associação não nasceu de uma demanda da comunidade, mas por interesses políticos. No inicio, foram levantados os documentos para a fundação, mas por não ter atividades na comunidade, ela ficou muito tempo inativa.

Depois de alguns anos sem organização, a comunidade foi chamada a se reunir para acessar créditos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) acompanhado pela EMATER e pelo sindicato patronal na elaboração dos projetos. A proposta apresentada era de acesso a R$ 16.000,00 que foi dividido entre 10 famílias, para plantação de mandioca, uma vez que a comunidade já tinha a prática de fabricação da farinha.Porém, Seu Vicente Pereira Lima, conta que os moradores tiveram dificuldades na administração do recurso. O agente do banco financiador do PRONAF vinha de Salinas, que fica a 500 Km da comunidade, o que dificultava aos agricultores tirarem suas dúvidas. Um dos moradores desistiu de aderir ao crédito, o que gerou um custo a mais para aqueles que continuaram com o projeto. Eles receberam somente R$14.400,00, mas tiveram que arcar com toda a dívida de R$16.000,00, no momento da quitação do empréstimo. O grupo buscou solucionar essa dificuldade, no entanto, o responsável pelo acompanhamento do projeto não conseguiu resolver a pendência junto ao financiador. Os agricultores que assinaram como avalistas do projeto se juntaram então, e quitaram a dívida para que não ficassem inadimplentes (devedores) ao sistema financeiro, impedindo a todos de acessarem novos créditos. Outra experiência vivenciada pela comunidade foi o projeto de criação de pintainhas, disponibilizado pela EMATER. Juntamente com outros representantes de associação, seu Valdo, presidente da associação,

recebeu 750 pintainhas para a comunidade, sendo distribuídas para 50 famílias, sendo 15 pintainhas para cada uma. Mas os moradores contam que nem todo mundo conseguiu criar as pintainhas, muitas morreram no caminho, pois elas vinham de granjas de Belo Horizonte. Outras famílias não tinham condições de comprar a ração para alimentá-las, vendendo para outras famílias e algumas poucas conseguiram produzir ovos na comunidade. Em 2005 o município começou a trabalhar a compra e repasse de alimentos para o banco de alimentos, financiado pela CONAB e experimentou de ambas as realidades. A comunidade chegou a ter alguns produtores cadastrados, mas o programa não se efetivou por falta de assessoria efetiva. Somente em 2009 que a comunidade passou a fazer parte do projeto. Desde então, três famílias passaram a ser assessoradas e entregar hortaliça, mandioca, beiju,

Minas Gerais

Ano 6 | nº 917 | Outubro | 2012Cônego Marinho - Minas Gerais

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Assessoria Técnico-Social e Participação Comunitária:

Uma Parceria que dá Certo

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Dona joana molha sua plantação com a água da cisterna acompanhada pelo técnico do P1+2

Muitas famílias da comunidade melhoraram sua produção

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farinha e alguns outros produtos. A comunidade de Cabeceira do Cônego Marinho foi se articulando aos poucos. O agricultor Manoel..., conhecido como Manelinho, depois de trabalhar como construtor de cisternas para o Programa Um Milhão de Cisternas e perceber que a demanda por água da sua comunidade tinha solução, entrou em contato com a Cáritas para que a sua comunidade também tivesse acesso ás cisternas de placas. Os agentes da Cáritas responsáveis pelo projeto promoveram então reuniões com a comunidade para identificar a real demanda e definir as famílias que mais tinham dificuldade de acesso á água, portanto aquelas que seriam atendidas primeiro. A comunidade já recebeu até hoje 45 cisternas de placas de 16 mil litros, que captam água do telhado para consumo humano e 19 cisternas de 52 mil litros que fornecem água para produção. Os moradores contam que a experiência de trabalhar em mutirão para construir a cisterna foi muito importante para a organização e união entre eles. Durante o processo eles foram orientados pelo pedreiro responsável pela construção e pelo animador da comunidade, que davam orientações técnicas e organizaram as construções.Depois de prontas as cisternas, os agricultores receberam os cursos de gerenciamento de recursos hídricos (GRH) e gestão de água para produção (GAPA), onde aprenderam a economizar e tratar a água da cisterna, além de técnicas de cuidado com elas. Além disso, eles receberam também o caráter produtivo, que é constituído de mudas de plantas que os próprios agricultores escolheram para iniciar a produção. Durantes estes cursos muitas famílias, com as de dona Clarice Leite e de dona Joana Lima aprenderam a fazer compostos orgânicos que fortalecem a terra e caldas para o combate de pragas, que elas usam sempre e percebem a melhoria da qualidade e quantidade da produção. Dona Joana conta que plantava antes somente cebolinha, alface e alho num canteiro junto da casa. Ela tinha muita vontade de plantar cenoura, mas com aquela quantidade de água e as dificuldades com o tipo de terra da propriedade a cenoura não dava. Até que ela começou a plantar junto da cisterna e usar os compostos. Hoje ela já colhe uma boa quantidade de alimentos numa qualidade muito boa, que serve para a alimentação da família e das galinhas que cria e ainda para dividir com os vizinhos.A família de dona Clarice também percebeu logo os bons resultados de tudo o que aprendeu. Antes ela e o marido, seu Valdo, vendiam apenas farinha e outros derivados de mandioca na feira de Januária e algumas poucas hortaliças que dona Clarice cuidava pertinho da cozinha. Mas depois que seu Valdo participou de um intercâmbio na cidade de Andaraí, na Bahia, onde ele aprendeu a plantar os canteiros no formato de mandala, que economiza o esforço e água, eles viram a produção aumentar significativamente. Hoje eles entregam alimentos para o Programa de Aquisição de Alimentos, além de venderem na feira cenoura, beterraba, cebola, alface, tomate, pimentão, repolho, couve e mais uma série de outros produtos que cultivam na horta mandala. Dona Clarice conta que viu uma grande mudança na sua venda, porque o pimentão que ela produz tem um cheiro diferente dos que são trazidos de fora por serem produzidos organicamente e isso atrai muito os fregueses que compram tudo rapidinho.Tanto dona Clarice quanto dona Joana, acreditam que boa parte das melhoras da produção vem da confiança e do acompanhamento do animador social Wanderson Lima agente da Cáritas que acompanha a comunidade, pois como elas mesmas dizem ele já é de casa e dentro de casa é muito mais fácil tirar as dúvidas e aprender mais para melhorar. A comunidade acredita que ainda precisa melhorar o conhecimento e o acesso a algumas políticas públicas, mas percebe que se tiverem assessores de comprometimento e que acreditem na agricultura familiar, muitas outras melhorias virão.

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Dona Clarice cuida com carinho do seu canteiro mandala

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largura tarja superior 2ª página 4cm

Fonte Arial corpo 11

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MARCAUGT Programa

Cisternas

largura 11,5mm