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ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE VITÓRIA EMESCAM BRUNA MARCELLE DE MIRANDA SOUZA JESSICA DEOLINDO DE SANTANA MARIANA LIMA FERREIRA ESTEVES ASSISTÊNCIA FISIOTERAPÊUTICA NA DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE NO ÂMBITO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE VITÓRIA 2018

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ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE

VITÓRIA – EMESCAM

BRUNA MARCELLE DE MIRANDA SOUZA

JESSICA DEOLINDO DE SANTANA

MARIANA LIMA FERREIRA ESTEVES

ASSISTÊNCIA FISIOTERAPÊUTICA NA DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE

NO ÂMBITO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

VITÓRIA

2018

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BRUNA MARCELLE DE MIRANDA SOUZA

JESSICA DEOLINDO DE SANTANA

MARIANA LIMA FERREIRA ESTEVES

ASSISTÊNCIA FISIOTERAPÊUTICA NA DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE

NO ÂMBITO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

curso de graduação em fisioterapia da Escola

Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia

de Vitória – EMESCAM como requisito parcial para

obtenção do grau de Bacharel em Fisioterapia.

Orientadora: Profª. Ma. Roberta Ribeiro Batista

Barbosa

Coorientadora: Dra. Maristela Dalbello-Araujo

VITÓRIA

2018

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BRUNA MARCELLE DE MIRANDA SOUZA

JESSICA DEOLINDO DE SANTANA

MARIANA LIMA FERREIRA ESTEVES

ASSISTÊNCIA FISIOTERAPÊUTICA NA DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE

NO ÂMBITO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em fisioterapia

da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória – EMESCAM

como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Fisioterapia. Aprovada

em: ___/___/______

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________

Mestre. Roberta Ribeiro Batista Barbosa Graduação de Fisioterapia Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória – EMESCAM Orientadora

________________________________________________

Dra. Maristela Dalbello-Araujo Pós-Graduação Stricto Sensu em Políticas Públicas Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória – EMESCAM Coorientadora

__________________________________________________

Dra. Luciana Carrupt Machado Sogame Pós-Graduação em Políticas Públicas Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória – EMESCAM _________________________________________________ Mestre. Mariangela Braga Pereira Nielsen Graduação de Fisioterapia Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória – EMESCAM

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Com carinho e respeito a todos os

familiares e pacientes que

participaram deste estudo...

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, gostaríamos de agradecer a Deus e a todos os nossos familiares que

acreditaram, torceram e vibraram conosco a cada vitória dessa jornada, em especial

a Dinaura e Daniela Lima, Janete Deolindo, Edmara Santana, Maria Luiza, Nina e

Joyce Miranda, por nos ensinarem valores aos quais levaremos por todos os dias de

nossas vidas.

Agradecemos também aos nossos companheiros da vida Ricardo Vaccari, Vitor Pires

e Ricardo Oliveira por escutarem sempre atentos nossos desabafos e estresses (que

foram constantes) e permanecerem leais ao nosso lado.

Às nossas queridas amigas, especialmente a Bruna Ribeiro, Daniela Ceciliotti, Marília

Barboza, Larissa dos Reis, Beatriz Costa, Lívia Avellar, Renata Gaparini e Janaine

Henriques, o nosso muito obrigado pelo apoio e por fazerem com que caminhos

difíceis se tornassem mais fáceis de percorrer.

Nossos sinceros agradecimentos aos funcionários desta instituição, destacando

porteiros, zeladores e auxiliares de serviços gerais, que sempre nos receberam de

forma educada e acolhedora.

Gostaríamos de agradecer aos nossos mestres, ressaltando Giovana Simões, Dalger

Melotti e Edmar Miranda, por nos ensinarem disciplinas e lições que levaremos não

só para o meio profissional, como também para o convívio social.

Nosso obrigado, também, a nossa orientadora, Roberta Ribeiro Batista Barbosa, e

nossa coorientadora, Maristela Dalbello-Araujo, pela paciência e ajuda nesse projeto.

E por fim, gostaríamos de agradecer aos pacientes e familiares que de certa forma

fizeram parte, não só da pesquisa como de nossas vidas. Em especial, a Tássia

Vasconcellos e sua família, todo nosso respeito e admiração.

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RESUMO

A Distrofia muscular de Duchenne (DMD) é uma doença muscular determinada com

herança genética de origem materna. Uma das complicações é a fraqueza progressiva

do músculo respiratório que causa doenças respiratórias restritivas, depuração da

secreção das vias aéreas, infecções pulmonares recorrentes por tosse ineficaz,

hipoventilação e insuficiência respiratória. A fisioterapia traça seu tratamento com

condutas baseadas em objetivo para retardar a fraqueza muscular, as deformidades,

contraturas e complicações, promovendo qualidade de vida. O Sistema Único de

Saúde (SUS) dispõe de diversas portarias e programas que visam a promoção,

proteção e recuperação da saúde dos pacientes com distrofia. Neste contexto, os

objetivos desta pesquisa foram verificar as limitações ao acesso aos serviços de

fisioterapia na Grande Vitória, conhecer a trajetória de tratamento fisioterapêutico, as

técnicas fisioterapêuticas utilizadas e o acesso aos programas do SUS e aos

dispositivos fornecidos por estes. A pesquisa de campo se caracterizou por um estudo

transversal de abordagem qualitativa e descritiva, em que familiares dos pacientes

com diagnóstico de DMD cadastrados no Hospital Universitário Cassiano Antonio de

Moraes (HUCAM) foram entrevistados. A entrevista era constituída por questões

relacionadas a aspectos sociodemográficos do responsável e da criança e/ou

adolescente e aspectos clínicos, tais como: idade, grau de parentesco, escolaridade,

raça, renda e local de residência. Em relação a assistência fisioterapêutica a entrevista

continha os seguintes dados: início do tratamento, periodicidade, se não realizava, o

motivo da interrupção, locais de tratamento, tipo de assistência fisioterapêutica e se

recebeu orientações; exames já realizados, principalmente cardíacos e respiratórios.

Além disso, a partir de outras questões foi possível traçar o itinerário fisioterapêutico

dos pacientes com DMD, identificando as barreiras e facilidades do acesso à

fisioterapia na rede pública, analisando o funcionamento das políticas públicas de

pessoas com deficiência na região da Grande Vitória. Foram encontradas dificuldades

de acesso e assistência à fisioterapia no SUS, devido à burocracia para conseguir

atendimento, além de uma lista de espera expansiva, alta precoce por parte do Centro

de Reabilitação do Estado, interrompendo abruptamente o tratamento, além da falta

de conhecimento dos familiares sobre a importância da fisioterapia, impactando

diretamente na desistência do tratamento. Conclui-se que na região da Grande Vitória

- ES ainda há dificuldades no acesso aos serviços de fisioterapia, bem como o tipo de

assistência e orientações oferecidos pelo SUS para estes pacientes e seus

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responsáveis, desde o início tardio ao atendimento fisioterapêutico até a interrupção

do mesmo. No entanto, devido ao número reduzido da amostra, sugere-se que mais

estudos sejam realizados para elucidar melhor esse itinerário fisioterapêutico e assim

propor medidas de melhorias e aperfeiçoamento no âmbito do SUS.

Palavras-Chave: Distrofia Muscular de Duchenne, DMD, Terapia DMD, Fisioterapia.

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ABSTRACT

Duchenne muscular dystrophy (DMD) is a determined muscular disease with genetic

inheritance of maternal origin. One of the complications is progressive weakness of

the respiratory muscle causing restrictive respiratory diseases, clearance of airway

secretion, recurrent lung infections due to ineffective coughing, hypoventilation, and

respiratory failure. Physical therapy traces your treatment with goal objective to slow

muscle weakness, deformities, contractures and complications, promoting quality of

life. The Sistema Único de Saúde (SUS) has several directives and programs aimed

at promoting, protecting and recovering the health of patients with dystrophy. In this

context, the objectives of this research were to verify the limitations to the access to

physiotherapy services in Greater Vitória - ES, to know the physiotherapeutic treatment

trajectory, the physiotherapeutic techniques used and the access to the SUS programs

and the devices provided by them. The field research was characterized by a cross-

sectional qualitative and descriptive study, in which family members of the patients with

DMD registered at the Hospital Universitário Cassiano Antonio de Moraes (HUCAM)

were interviewed by the researchers. The interview consisted of questions related to

the socio-demographic aspects of the responsible and the child and/or adolescent and

clinical aspects, such as: age, kinship, education, race, family income and place of

residence. About to the physiotherapeutic assistance, an interview contains the

following data: beginning of treatment, periodicity, fault of accomplishment, reason for

discontinuation, care situation, type of physiotherapeutic assistance and withdrawal;

exams already realized, mainly cardiac and respiratory. Besides, from the selection of

strategies for the physical therapy treatment of DMD patients, identifying the

restrictions to physical therapy treatment in the public network, analyzing the

functioning of the public policies of people with disabilities in the Greater Vitória region.

There were difficulties in accessing and assisting physiotherapy in the SUS, due to the

bureaucracy in order to obtain care, in addition to an expansive waiting list, early

discharge by CREFES, abruptly interrupting treatment, and the lack of familiar

knowledge about the importance of physiotherapy, directly impacting the quitting of

treatment. It is concluded that in the region of Greater Vitória - ES there are still

difficulties in accessing physiotherapy services, as well as the type of assistance and

guidelines offered by the SUS for these patients and their caregivers, from the late

onset to the physiotherapeutic care until the interruption of it. However, due to the small

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number of the sample, it is suggested that more studies be performed to better

elucidate this physiotherapeutic itinerary and thus propose measures of improvement

and improvement within the SUS.

Keywords: Duchenne Muscular Dystrophy, DMD, DMD Theraphy, Physical Therapy.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ADM Amplitude de Movimento

AFO Ankle-Foot Orthosis

APAE

BiPAP

Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais

BI-level Positive Airway Pressure

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

CPAP Continuous Positive Airway Pressure

CREFES

DMD

Centro de Reabilitação Física do Espirito Santo

Distrofia Muscular de Duchenne

DNA Deoxyribonucleic Acid

ECG

EMESCAM

Eletrocardiograma

Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória

HUCAM Hospital Universitário Cassiano Antonio de Moraes

KAFO

RAS

Knee-Ankle-Foot Orthosis

Rede de Atenção à Saúde

SUS Sistema Único de Saúde

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

VNI Ventilação Não-Invasiva

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SUMÁRIO

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS................................................................................. 11

2 DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE: SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

FISIOTERAPIA ......................................................................................................... 14

3 ARTIGO ORIGINAL .............................................................................................. 23

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 35

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 36

APÊNDICES ............................................................................................................. 39

APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ........................... 39

APÊNDICE B – Roteiro da Entrevista Semi-Estruturada ..................................... 41

ANEXOS ................................................................................................................... 42

ANEXO A – Carta de Anuência do Hospital Universitário Cassiano Antonio de

Moraes - ES .......................................................................................................... 42

ANEXO B – Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa ................................... 43

ANEXO C – Capa da Revista Fisioterapia Brasil .................................................. 47

ANEXO D – Normas da Revista Fisioterapia Brasil .............................................. 48

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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A Distrofia Muscular de Duchenne (DMD) é uma forma grave de distrofia muscular,

caracterizada por fraqueza muscular rapidamente progressiva, causando assim, a

degeneração dos músculos esqueléticos e cardíacos. Os sintomas se iniciam na

primeira fase da infância, entre 3 e 5 anos, e incluem atraso motor, anormalidades

na marcha, dificuldades de transferência, além da perda da capacidade de correr ou

pular, tendo dificuldades em subir e/ou descer escadas, ocorrendo quedas

frequentes (ANGELINI, 2014).

Ocorre fraqueza proximal dos membros inferiores e troncos, progredindo para os

membros superiores. As características de exame incluem pseudo-hipertrofia da

panturrilha e sinal de Gowers. A maioria dos meninos ganha força e habilidades

motoras até cerca de 6 anos de idade, após este estágio ocorre uma deterioração

progressiva da força. As patologias cardíacas incluem cardiomiopatia dilatada e

arritmias, manifestando-se antes dos 10 anos de idade e afetando um terço dos

pacientes no início da adolescência e sendo predominante nos indivíduos acometidos

com mais de 18 anos de idade. Apesar da alta frequência de cardiomiopatias, a

maioria dos meninos é relativamente assintomática devido à inatividade física. A

insuficiência respiratória crônica é secundária à doença pulmonar restritiva, sendo a

apneia obstrutiva do sono a principal causa de respiração descompensada do sono

na primeira década, enquanto a hipoventilação ocorre a partir da segunda década de

vida (YIU; KORNBERG, 2015).

Com o avanço das pesquisas e da tecnologia, a expectativa de vida tem sido

significativamente estendida devido ao uso do tratamento com corticosteroide,

fisioterapia e uso de respiradores artificiais (FALZARANO, 2015).

Contudo, Fisioterapia traça seu tratamento com condutas baseadas em objetivos, que

visam capacitar a criança a adquirir domínio sobre seus movimentos possíveis,

equilíbrio e coordenação geral, retardar a fraqueza da musculatura da cintura pélvica

e escapular, corrigir o alinhamento postural, equilibrar o trabalho muscular, evitar a

fadiga, desenvolver a força contrátil dos músculos respiratórios e o controle da

respiração pelo uso correto do diafragma, além de prevenir o encurtamento muscular

precoce (FREZZA; SILVA; FAGUNDES, 2005).

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O Sistema Único de Saúde (SUS) dispõe de diversas portarias e programas que visam

a promoção, proteção e recuperação da saúde dos pacientes com distrofia, dentre os

quais podemos destacar: Portaria Nº 370, de 04 de julho de 2008, que institui o

Programa de Assistência Ventilatória Não-Invasiva aos Portadores de Doenças

Neuromusculares e viabiliza a manutenção e acompanhamento domiciliar dos

pacientes, a Portaria N° 199 de 30 de janeiro de 2014, que institui a Política Nacional

de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras e aprova as Diretrizes para

Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras e a Lei Nº 13.146, de 06 de julho de

2015, que institui o Estatuto da Pessoa Com Deficiência. (BRASIL, 2008, 2014, 2015).

Portanto, o SUS, por lei, deve possuir programas e serviços de saúde individuais e

coletivos onde este paciente irá encontrar uma equipe multidisciplinar para tratar suas

necessidades em todos os níveis de atenção. É dever do estado fornecer suporte

Ventilatório Não-Invasivo (VNI), cuidados paliativos, órteses e próteses, cadeiras de

rodas, acessibilidade em todos os ambientes e serviços (BRASIL, 2014, 2015).

Neste contexto, mediante o contato dos pesquisadores com pacientes de distrofia e

seus familiares, percebendo as frequentes queixas de dificuldade de acesso ao

tratamento fisioterapêutico, bem como o desconhecimento dos familiares quanto aos

programas do SUS, surgiu o interesse de verificar quais as limitações ao acesso aos

serviços de fisioterapia na Grande Vitória, conhecer a trajetória de tratamento

fisioterapêutico, as técnicas fisioterapêuticas utilizadas e o acesso aos programas do

SUS e aos dispositivos fornecidos por estes.

Para o desenvolvimento deste estudo, foi realizado primeiramente um levantamento

bibliográfico sobre o assunto, e posteriormente foi feita uma entrevista com

responsáveis de pacientes com distrofia atendidos no Centro de Referência do

Hospital Cassiano Antônio de Moraes – HUCAM, descritos nos capítulos 2 e 3

respecitivamente.

O capítulo 2 é composto pelo referencial teórico intitulado “Distrofia Muscular de

Duchenne: Sistema Único de Saúde e Fisioterapia”, onde foram abordadas as

questões de epidemiologia, fisiopatologia e suas consequências, bem como as

opções de tratamento, especialmente o tratamento fisioterapêutico, e os principais

programas do SUS voltados a este tipo de doença.

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O capítulo 3 traz o artigo científico elaborado pelas autoras, intitulado em “Distrofia

Muscular de Duchenne: Assistência e Acesso aos Serviços de Fisioterapia na Grande

Vitória”, cujo objetivo foi verificar o perfil de pacientes com Distrofia Muscular de

Duchenne atendidos em um Centro de Referência, conhecer a trajetória de tratamento

fisioterapêutico, as técnicas fisioterapêuticas utilizadas e o acesso aos programas do

SUS e aos dispositivos fornecidos por estes.

Por fim, no último capítulo, serão descritas as considerações finais deste estudo,

seguido das referências bibliográficas, apêndices e anexos pertinentes ao trabalho.

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2 DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE: FISIOTERAPIA E SISTEMA ÚNICO DE

SAÚDE

A Distrofia muscular de Duchenne (DMD) é uma doença muscular determinada com

herança genética de origem materna, sendo o tipo mais comum de distrofia muscular

na infância. É uma doença neuromuscular que afeta o sistema nervoso periférico,

causada por mutações no gene que codifica a distrofina (DMD,locus Xp21.2-p21.1).

A distrofina é uma grande proteína estrutural, cuja função é conectar o citoesqueleto

interno da fibra esquelética com as proteínas de matriz extracelular, estabilizando a

contração muscular. Na DMD, a proteína encontra-se ausente ou com sua função

alterada, resultando em um desequilíbrio progressivo na integridade da bicamada

lipídica da membrana, com influxo de cálcio e necrose celular (HOR et al, 2011; MAH,

2016; ARCHER et al, 2016; NARDES; ARAÚJO; RIBEIRO, 2012; ESCOBAR, 2016).

De acordo com Freitas et al (2013), no Brasil, ocorrem por ano, cerca de 700 novos

casos de Distrofia Muscular de Duchenne. Embora em algumas situações possa

afetar o gênero feminino na frequência de 1 para cada 2.500 nascimentos, a mulher

possui dois cromossomos X, se um deles estiver afetado pelo erro genético, o outro

compensa com a alteração e a doença não apresenta manifestações, sendo assim,

assintomática.

Nessa concepção, Bushby et al (2010) diz que, a suspeita do diagnóstico de DMD

deve ser considerada independentemente da história familiar e geralmente é

desencadeada de uma das três maneiras, são elas: (1) mais comumente, a

observação da função muscular anormal em um filho do sexo masculino; (2) a

detecção de um aumento da creatina quinase sérica testado para indícios não

relacionados; ou (3) após a descoberta de transaminases aumentadas (aspartato

aminotransferase e alanina aminotransferase, que são produzidas pelo músculo, bem

como células do fígado).

O diagnóstico deve ser feito por um especialista neuromuscular que pode avaliar a

criança clinicamente e pode acessar e interpretar rapidamente investigações no

contexto da apresentação clínica. O acompanhamento familiar e apoio após o

diagnóstico, muitas vezes é continuado por geneticistas. (BUSHBY et al, 2010).

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O objetivo do cuidado em torno do diagnóstico é fornecer uma precisão e diagnóstico

imediato, permitindo o início de intervenções, apoio contínuo e educação,

minimizando o comprometimento e os impacto negativos de um diagnóstico

prolongado (BUSHBY et al, 2010).

O diagnóstico diferencial da DMD para outras doenças pertencentes ao grupo das

distrofias musculares e das doenças pseudomiopáticas pode não ser complexo. Nos

casos duvidosos, a eletromiografia, dosagens enzimáticas e biópsia muscular

permitem fazer o diagnóstico correto. Clinicamente, o diagnóstico é confirmado depois

de se considerar a história, os achados físicos e um nível elevado de creatino-quinase,

sendo confirmado por alguma anormalidade encontrada no gene da distrofina através

da análise de mutação do DNA dos leucócitos sanguíneos (FREZZA; SILVA;

FAGUNDES, 2005).

Em aproximadamente 1/3 dos pacientes, a análise de DNA encontra-se inalterada e

o diagnóstico deveria ser confirmado pela ausência ou não de distrofina anormal,

usando imuno-histologia ou análise de proteína do tecido muscular. Além disso, onde

existe uma incerteza diagnóstica entre a Distrofia Muscular Becker e DMD (por

exemplo, em crianças que apresentam uma idade jovem com boas habilidades

motoras) a análise genética permite aconselhamento adequado e a consideração de

terapias específicas de mutação (ARCHER et al, 2016; FREZZA; SILVA; FAGUNDES,

2005).

Embora DMD seja tipicamente diagnosticado em torno de 5 anos de idade, o

diagnóstico pode ser suspeitado muito mais cedo devido a atrasos na realização de

marcos de desenvolvimento, como caminhada ou linguagem independente. A

presença do sinal de Gowers em uma criança do sexo masculino deve desencadear

o diagnóstico de investigação de DMD (BUSHBY et al, 2010).

Sendo assim, uma criança com menos de 5 anos de idade que apresenta como

resultado um normal exame muscular não deve se excluir por completo as chances

de se ter a doença, pois com o aumento da idade e o progresso da doença o

diagnóstico se torna cada vez mais evidente. Um menino mais velho do que 10 anos

de idade com função muscular normal é, portanto, altamente improvável que tenha

DMD (BUSHBY et al, 2010).

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16

As manifestações clínicas apresentadas pelas crianças com DMD são o atraso no

desenvolvimento motor, pseudo-hipertrofia da panturrilha, contraturas articulares,

fraqueza muscular progressiva nos meninos afetados e o clássico sinal de Gowers

pelo qual os pacientes precisam para se sustentar com as mãos nas coxas para ajudá-

los a subir do chão. Além disso, os meninos com Duchenne podem ter um grau

variável de atraso na fala, dificuldade de aprendizagem e/ou comprometimento

cognitivo, degeneração muscular progressiva, levando à perda de deambulação

independente no início da adolescência, escoliose, cardiomiopatia, insuficiência

respiratória, reduzindo assim a expectativa de vida, podendo levar ao óbito antes da

terceira ou quarta década de vida devido a complicações cardiorrespiratórias

(MACHADO et al, 2012; MAH, 2016; MARKHAM et al, 2015; RALL, 2012; WU et al,

2017; ARCHER et al, 2016).

A medida que a criança cresce, sua capacidade de caminhar se deteriora e realizar

tarefas simples, como subir e descer escadas, se torna cada vez mais difícil, além da

ocorrência de quedas frequentes. Outra alteração muito marcante é a marcha

lordótica, pois o caminhar é realizado com a ponta dos pés. Por se tratar de uma

doença degenerativa e progressiva, as limitações acompanham a progressão até a

perda completa de suas funções (BUSHBY et al, 2010; ARCHER et al, 2016).

Segundo Archer et al (2016) a deambulação é perdida entre as idades de 6 e 12 anos

com uma mediana de 9,5 anos. Durante os estágios iniciais da perda da marcha, os

pacientes podem manter a postura e autopropulsar sua cadeira de rodas. No entanto,

à medida que o tempo avança, essa habilidade também é perdida.

Nesses pacientes, a progressão da escoliose é rápida, além de desenvolverem,

também, cifose toracolombar. À medida que a criança desenvolve escoliose

progressiva, eles começam a demonstrar dificuldade de posicionamento e conforto

em suas cadeiras de rodas devido à mudança na postura e ao desenvolvimento da

obliquidade pélvica. Em última análise, os ajustes para a cadeira, por causa do

conforto, deixam de ser suficientes para evitar a degradação da pele na concavidade

da escoliose ou nas nádegas devido à transferência de peso desigual (ARCHER et al,

2016).

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Além disso, com a progressão da fraqueza, o músculo respiratório é comprometido,

causando uma doença respiratória restritiva, dificuldade de depuração da secreção

das vias aéreas, infecções pulmonares recorrentes por tosse ineficaz, hipoventilação

e insuficiência respiratória crônica (MEIER et al, 2017).

Segundo Stoller et al (2017), a função cardíaca em crianças e adolescentes com DMD

pode ser variável, uma vez que a perda de distrofina nos cardiomiócitos resulta na

morte celular, levando à fibrose cardíaca e a uma diminuição da função cardíaca,

reduzindo-a globalmente entre 12-14 anos de idade. Embora a insuficiência

respiratória continue a ser a principal causa de mortalidade, a morte cardíaca ocorre

em aproximadamente 15% das crianças.

Como ainda não há cura específica e seu início é precoce, de evolução rápida e

caráter imutável, a base do tratamento da DMD consiste no retardo da sua evolução,

reduzindo as incapacidades, prevenindo complicações, prolongando a mobilidade e

melhorando a qualidade de vida, com o objetivo de aumentar a longevidade dos

pacientes acometidos. Estes tratamentos podem ser medicamentoso, cirúrgico e

fisioterapêutico (RAMACCIOTTI; NASCIMENTO, 2009; MARTIN; MARTOS 2008).

O tratamento medicamentoso inclui glicocorticóides, medicamento esse de efeito

imunopressor e antiflamatório. Seu mecanismo de ação na doença ainda é

desconhecido, mas há diversas teorias para explicar sua ação, tais como efeitos

anabólicos positivos, consequentemente, aumentando a massa muscular;

estabilização da membrana da fibra muscular; aumento da expressão da distrofina;

redução do processo inflamatório no músculo; aumento dos níveis de creatina;

interferência na transmissão neuromuscular, entre outros (FEDER; LANGER, 2005).

De acordo com Caromano (1999), a idade ideal para iniciar o tratamento com

corticoides, ainda não foi determinada. Acredita-se que o uso dos corticóides devem

ser iniciados logo que foi feito o diagnóstico, porém alguns profissionais preferem

esperar até que paciente apresente dificuldades na deambulação. Antes de iniciar o

tratamento com corticóides, o médico e a família devem ter uma discussão equilibrada

sobre os benefícios esperados e possíveis efeitos colaterais.

Os objetivos da utilização desse medicamento consistem em aumentar a força

muscular, prolongar da deambulação, reduzir a escoliose; reduzir doenças cardíacas

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e aumentar a capacidade pulmonar. Os efeitos colaterais mais frequentes desses

corticóides são aumento de apetite, ganho de peso significativo, retenção de liquido,

osteoporose e catarata, podendo esses, em sua maioria, serem minimizados com a

utilização de dietas balanceadas, hipocalóricas e redução da dose caso os efeitos se

tornem excessivos. Suplementos de cálcio e vitamina D são frequentemente

prescritos com corticóides para contrabalançar os efeitos sobre os ossos. Contudo, a

monitorização de perto dos efeitos positivos e colaterais, junto a orientações

oferecidas aos pacientes e familiares contribuem para uma resposta terapêutica eficaz

(FEDER; LANGER, 2005).

O tratamento cirúrgico na DMD inclui cirurgia na coluna vertebral afim de minimizar a

escoliose e a cifose dos indivíduos que possuem essas deformidades. São inseridas,

então, hastes de metal com ganchos na coluna vertebral, para que haja o alinhamento,

diminuindo os riscos de doenças pulmonares restritivas e aumentando a área cardíaca

e pulmonar, sendo essa cirurgia realizada normalmente na adolescência. Outro

procedimento cirúrgico realizado em pacientes com essa doença é a cirurgia para a

liberação do tendão é realizada para tratar contraturas no tornozelo, enquanto a

criança ainda está caminhando (CAROMANO, 1999; FLORENCE, 2002).

A Fisioterapia traça seu tratamento com condutas baseadas em objetivo, visando

capacitar a criança a adquirir domínio sobre seus movimentos, equilíbrio e

coordenação geral, retardar a fraqueza muscular da cintura pélvica e escapular,

corrigir o alinhamento postural (em posição ortostática, sentado, deitado ou durante

os movimentos), equilibrar o trabalho muscular, prevenir o encurtamento muscular

precoce, evitar a fadiga, controle da respiração pelo uso correto do diafragma,

promover conforto respiratório, evitar complicações respiratórias, infecções

pulmonares e internações (FREZZA; SILVA; FAGUNDES, 2005).

As condutas fisioterapêuticas devem ser adaptadas de acordo com a faixa etária e

evolução da doença visando, principalmente, retardar a evolução clínica e prevenir

complicações secundárias. Além da cinesioterapia motora ativa livre, a resistida

também pode ser utilizada de forma cautelosa para não fadigar a criança. O exercício

resistido visa capacitar a criança a adquirir domínio sobre seus movimentos possíveis,

equilíbrio e coordenação, retardar a fraqueza muscular, além de corrigir posturas

incorretas, prevenir encurtamentos precoces, além de maximizar o sistema

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cardiorrespiratório. Esses exercícios devem ser realizados com poucas repetições

com intenção de manter a funcionalidade, evitar fadiga e retardar as deformidades

físicas (RAMACCIOTTI; NASCIMENTO, 2009).

A utilização de órteses nos membros inferiores é comumente instituída como uma

maneira de prolongar a independência funcional, através do ortostatismo, prevenir e

minimizar deformidades e contraturas do indivíduo com DMD, sendo a órtese Knee-

Ankle-Foot (KAFO) a mais utilizada. Sua utilização deve ser iniciada a partir do

momento em que ocorre o decréscimo da deambulação devido à combinação da

fraqueza da musculatura proximal de membros inferiores com a contratura do tendão

calcâneo (FERNANDES, 2012).

As atividades em bolas terapêuticas favorecem alinhamento e flexibilidade da coluna

vertebral, estimula mecanoreceptores e proprioceptores articulares, melhorando o

tônus, a força muscular, coordenação e equilíbrio. Outros recursos, como a

hidroterapia, devem ser somados à cinesioterapia em terra, com a finalidade de

melhorar a força muscular, a capacidade respiratória, as amplitudes articulares e

evitar os encurtamentos musculares (FREZZA; SILVA; FAGUNDES, 2005).

A fisioterapia respiratória deve ser planejada contemplando objetivos e condutas a

médio e longo prazos. Se o paciente já se encontra na cadeira de rodas, é muito

importante realizar alguma forma de treino da musculatura respiratória, visto que ele

começará a perder capacidades e volumes pulmonares e aumentar o volume residual.

Além disso, posteriormente, irá perder a eficácia da tosse (o que promoverá retenção

de secreções, predispondo o aparecimento de pneumonias), podendo desenvolver

insuficiência respiratória. Deve ser promovido, então, exercícios respiratórios

específicos e formas de promover higiene brônquica (FREZZA; SILVA; FAGUNDES,

2005).

Alguma forma de suporte ventilatório também deve ser utilizado, como ventilação com

2 níveis de pressão por via nasal (BiPAP), pois a redução da força muscular, causa a

redução dos movimentos mecânicos dos pulmões levando a necessidade de suporte

ventilatório. O uso do BiPAP durante o sono reduz as complicações das desordens

respiratórias do sono, especialmente das apneias e hipopneias obstrutivas, que são

comuns nestes indivíduos. Isso pode gerar um impacto positivo no aumento da

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sobrevida, melhora da qualidade do sono, redução da sonolência excessiva diurna,

melhora das trocas gasosas diurnas e menos reduções da frequência de declínio na

função pulmonar, quando comparado com o não uso da ventilação não invasiva

(FREZZA; SILVA; FAGUNDES, 2005).

O Congresso Nacional, através da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, é regula,

em todo o território nacional, ações e serviços de saúde, executados isolada ou

conjuntamente, em caráter permanente ou eventual, por pessoas naturais ou jurídicas

de direito público ou privado. Sendo assim, a saúde é um direito fundamental do ser

humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno

exercício. Por isso, é dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e

execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças

e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso

universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e

recuperação.

Segundo o Sistema Único de Saúde (SUS) pode ser encontrado na Rede de Atenção

à Saúde uma extensa gama de estabelecimentos de saúde que prestam serviços de

promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento, gestão de casos e cuidados paliativos.

O SUS, também, deve possuir programas focalizados em doenças, riscos e

populações específicas, serviços de saúde individuais e coletivos onde este paciente

irá encontrar uma equipe multidisciplinar para tratar todas suas necessidades

(BRASIL, 2014, 2015).

É dever do SUS realizar ações de promoção da saúde afim de reduzir os danos

relacionados a patologias raras como a DMD, ampliar a autonomia dos pacientes e

seus familiares, realizar o cuidado domiciliar de forma integrada com as equipes de

atenção domiciliar e com os serviços de atenção especializada e serviços de

referência locais. Além disso, os cuidadores e familiares tem direito a

instrumentalização e orientação, para que assim, contribuam com a qualidade de vida

da pessoa com doença rara (BRASIL, 2014).

Dentre os objetivos voltados à Pessoas com Doenças Raras, podemos destacar:

[...] Art. 5º [...]: garantir a universalidade, integralidade e a equidade das

ações e serviços de saúde em relação às pessoas com doenças raras,

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com consequente redução da morbidade e mortalidade; estabelecer as

diretrizes de cuidado às pessoas com doenças raras em todos os

níveis de atenção do SUS; proporcionar a atenção integral à saúde das

pessoas com doença rara na Rede de Atenção à Saúde (RAS); ampliar

o acesso universal e regulado das pessoas com doenças raras na

RAS; garantir às pessoas com doenças raras, em tempo oportuno,

acesso aos meios diagnósticos e terapêuticos disponíveis conforme

suas necessidades; qualificar a atenção às pessoas com doenças

raras. (2014).

A pessoa com deficiência tem direito a receber atendimento prioritário, sobretudo com

a finalidade de atendimento em todas as instituições e serviços de atendimento ao

público, disponibilização de recursos, tanto humanos quanto tecnológicos, que

garantam atendimento em igualdade de condições com as demais pessoas. Além de,

adoção de medidas para compensar perda ou limitação funcional, buscando o

desenvolvimento de aptidões, prestação de serviços próximo ao domicílio da pessoa

com deficiência, inclusive na zona rural (BRASIL, 2015). Sendo assim devem ser

fornecidos a estes indivíduos:

[...] Art. 18o § 4o [...]: diagnóstico e intervenção precoces, realizados por

equipe multidisciplinar; serviços de habilitação e de reabilitação sempre

que necessários, para qualquer tipo de deficiência, inclusive para a

manutenção da melhor condição de saúde e qualidade de vida;

atendimento domiciliar multidisciplinar, tratamento ambulatorial e

internação; [...] informação adequada e acessível à pessoa com

deficiência e a seus familiares sobre sua condição de saúde; serviços

projetados para prevenir a ocorrência e o desenvolvimento de

deficiências e agravos adicionais; promoção de estratégias de

capacitação permanente das equipes que atuam no SUS, em todos os

níveis de atenção, no atendimento à pessoa com deficiência, bem

como orientação a seus atendentes pessoais; oferta de órteses,

próteses, meios auxiliares de locomoção, medicamentos, insumos e

fórmulas nutricionais, conforme as normas vigentes do Ministério da

Saúde. (2015).

A Portaria nº 370 de 4 de julho de 2008, consiste no direito à

disponibilização/manutenção domiciliar do ventilador volumétrico tipo bilevel, apto a

realizar ventilação nasal intermitente de pressão positiva indicada para paciente com

doença neuromuscular. Os estabelecimentos de saúde devem disponibilizar

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assistência ventilatória domiciliar às pessoas com Distrofia Muscular, sendo esta

realizada pelo enfermeiro (a) e/ou fisioterapeuta que darão orientação aos pacientes

com doença neuromuscular quanto ao uso correto do ventilador Bilevel, havendo

assim, avaliação mensal realizada pelo médico. Dessa forma, destaca-se, que o SUS

deve:

[...] Art. 3º [...]: cadastrar os pacientes portadores de doenças

neuromusculares [...] ; identificar aqueles pacientes em que a utilização

de ventilação nasal intermitente de pressão positiva esteja indicada;

identificar e cadastrar serviços de saúde aptos a realizar a manutenção

e acompanhamento domiciliar destes pacientes; viabilizar a

manutenção e acompanhamento domiciliar dos pacientes; estabelecer

fluxos e mecanismos de referência e contrareferência; zelar pela

adequada utilização das Indicações Clínicas para a utilização de

ventilação não invasiva em pacientes portadores de doenças

neuromusculares [...] e efetuar o acompanhamento, controle, avaliação

e auditoria que permitam garantir o adequado desenvolvimento das

atividades previstas no Programa. (2008).

Diante das três principais portarias que acercam pacientes com DMD, pode-se

observar que há pontos cruciais que devem ser cumpridos de forma eficaz, como o

direito integral e universal à saúde para que haja redução de mortalidade, além de

reabilitação e do direito ao suporte ventilatório não-invasivo (BRASIL, 2008, 2014,

2015).

Sendo assim, tendo vista todas as alterações que ocorrem na Distrofia Muscular de

Duchenne, podendo ser tratada de forma conservadora, como o tratamento

fisioterapêutico, ou através de terapias medicamentosas e cirúrgicas, esse trabalho

tem-se como objetivo verificar se os direitos desses pacientes estão sendo

assegurados de forma eficaz e eficiente, uma vez que há escassez de estudos no

ramo das políticas públicas na área de fisioterapia para esses pacientes. Dessa forma

com o objetivo agregar conhecimento científico foi realizado o estudo intitulado

“Distrofia Muscular de Duchenne: Assistência e Acesso aos Serviços de Fisioterapia

na Grande Vitória”, que será descrito a seguir.

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3 ARTIGO ORIGINAL

Distrofia Muscular de Duchenne: Assistência e Acesso aos Serviços de Fisioterapia na

Grande Vitória

Duchenne Muscular Dystrophy: Assistance and access to physical therapy services in Grande

Vitória

Bruna Marcelle de Miranda Souza*; Jessica Deolindo de Santana*; Mariana Lima Ferreira

Esteves*; Maristela Dalbello-Araujo**; Roberta Ribeiro Batista Barbosa***

*Discentes do curso de Fisioterapia da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de

Misericórdia de Vitória (EMESCAM),

**Docente do curso de Pós-Graduação Stricto Sensu em Políticas Públicas Escola Superior

de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM),

***Docente do curso de Fisioterapia da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de

Misericórdia de Vitória (EMESCAM)

Endereço para correspondência: Mariana Lima Ferreira Esteves, Rua Saudade, 7, Maria

Ortiz, 29070-441, Vitória ES, Tel:(27) 99570-3279, Email: [email protected]

Resumo

Introdução: A Distrofia Muscular de Duchenne é uma doença progressiva caracterizada

pela fraqueza muscular. A fisioterapia visa minimizar seus agravos e prolongar a qualidade de

vida dos indivíduos acometidos. Objetivo: Verificar o acesso e assistência aos serviços de

fisioterapia da Grande Vitória - ES, no âmbito do SUS. Métodos: Trata-se de um estudo

qualitativo, caracterizado por uma série de casos com coleta de dados transversal, sendo esta

realizada através uma entrevista semiestruturada dirigida aos responsáveis, totalizando 12

pacientes cadastrados no HUCAM. Resultados: Foram encontradas dificuldades de acesso e

assistência à fisioterapia no SUS, devido à burocracia para conseguir atendimento, além de uma

lista de espera expansiva, alta precoce por parte do Centro de Reabilitação do Estado,

interrompendo abruptamente o tratamento, além da falta de conhecimento dos familiares sobre

a importância da fisioterapia, impactando diretamente na desistência do tratamento. Conclusão:

Houve barreiras para a realização do tratamento adequado, déficit na educação continuada por

parte dos profissionais de saúde e, consequentemente, a falta de orientação dos familiares da

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criança em relação aos agravos da doença. Além disso, a escassez de um centro especializado

contribui para um itinerário fisioterapêutico exaustivo fazendo com que o paciente se abstenha

do tratamento.

Palavras chave: Distrofia Muscular de Duchenne; Modalidades de Fisioterapia; Doenças

Neuromusculares

Abstract

Introduction: Duchenne Muscular Dystrophy is a progressive disease characterized by

muscle weakness. Physical therapy works to minimize their injuries and prolong the quality of

life of the individuals affected. Objective: To verify the access and assistance to the physical

therapy services of Greater Vitória - ES, under SUS. Methods: This is a qualitative study,

characterized by a case series with cross-sectional data collection, which is performed through

a semi-structured interview addressed to the persons responsible, totaling 12 patients registered

in HUCAM. Results: There were difficulties in accessing and assisting physiotherapy in the

SUS, due to the bureaucracy in order to obtain care, in addition to an expansive waiting list,

early discharge by CREFES, abruptly interrupting treatment, and the lack of familiar knowledge

about the importance of physiotherapy, directly impacting the quitting of treatment.

Conclusion: There were barriers to the adequate treatment, deficits in continuing education by

health professionals and, consequently, the lack of orientation of the family members of the

child in relation to the diseases. Besides, the absence of a specialized center contributes to an

exhaustive physiotherapeutic itinerary causing the patient to quitting from treatment.

Keywords: Muscular Dystrophy Duchenne; Physical Therapy Modalities; Neuromuscular

Diseases

Introdução

A Distrofia Muscular de Duchenne (DMD) é uma doença rara genética de herança materna, em

que ocorre uma alteração na distrofina, proteína responsável por estabilizar a contração

muscular. Dentre as manifestações clínicas da DMD encontram-se fraqueza muscular,

contraturas articulares, hiperlordose e perda da capacidade de deambular. Além disso, ocorre

também, a pseudo-hipertrofia da panturrilha e a manobra de Gowers, sendo esses sinais

patognomônicos da doença. [1, 2].

Uma das principais causas de morte precoce desses pacientes, é a fraqueza progressiva do

músculo respiratório que leva a doenças respiratórias restritivas, gerando secreção das vias

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aéreas, infecções pulmonares recorrentes por tosse ineficaz, hipoventilação e, eventualmente,

insuficiência respiratória. Além disso, a função cardíaca pode ser variável, sendo a causa de

morte de aproximadamente 15% dessas crianças e adolescentes [3, 4].

O tratamento deve ser iniciado precocemente e visa reduzir sua rápida progressão e engloba:

cirurgias corretoras, corticoides e principalmente a fisioterapia, que tem o intuito de melhorar

volumes e capacidades pulmonares, atrasar a fraqueza muscular progressiva, diminuir

contraturas articulares e melhorar a qualidade de vida. Além disso, alguma forma de suporte

ventilatório deve ser utilizada, podendo gerar impactos positivos no aumento da sobrevida,

melhora da qualidade do sono, redução da sonolência excessiva diurna, melhora das trocas

gasosas diurnas e menos reduções da frequência de declínio na função pulmonar. Sendo assim,

a fisioterapia, quando somada a uma abordagem multidisciplinar, demonstra grande

participação na diminuição da taxa de mortalidade precoce [5,6,7]

O Sistema Único de Saúde (SUS), perante a lei, oferece a pacientes com Duchenne,

enquadrados em portarias direcionadas a pessoa com deficiência e doenças neuromusculares,

garantia de acesso aos serviços, disponibilizando cuidado integral e assistência

multiprofissional, oferta de órteses, prótese e meios auxiliares de locomoção, além de produzir

e conceder informações sobre seus direitos [8].

Nesse contexto, o SUS tem o dever de promover a identificação precoce das deficiências, por

meio da qualificação do pré-natal e da atenção na primeira infância. Além de disponibilizar um

atendimento de qualidade através de centros especializados em múltiplas deficiências a nível

de reabilitação, atenção hospitalar e de urgência e emergência [8].

Além disso, segundo a portaria n° 370 de 4 julho de 2008 9, pacientes com a Distrofia Muscular

de Duchenne têm direito a assistência Ventilatória Não-Invasiva (VNI) fora do âmbito

hospitalar, sendo necessário que este paciente passe por uma avaliação onde é definido se essa

indicação é necessária. A evidência atual sobre o benefício terapêutico da VNI para portadores

de doenças neuromusculares é consistente, pois sugere alívio do desconforto respiratório,

realizando a manutenção das trocas gasosas, diminuindo o trabalho respiratório e, por fim,

aumentando a sobrevida destes pacientes.

Diante do benefício da fisioterapia e dos direitos assegurados perante a lei, o objetivo desse

estudo foi verificar assistência e o acesso aos serviços de fisioterapia aos pacientes com

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Distrofia Muscular de Duchenne de pacientes atendidos em um Centro de Referência da Grande

Vitória.

Material e métodos

Trata-se de um estudo aplicado, explicativo, qualitativo, caracterizado por uma série de casos

com coleta de dados transversal. A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em

Pesquisa (CEP) do Hospital Universitário Cassiano Antonio de Moraes (HUCAM) e foram

respeitadas todas as diretrizes da resolução 466/12. Foram incluídos nesse estudo crianças e

adolescentes com diagnóstico clínico de Distrofia Muscular de Duchenne, que estavam em

tratamento no HUCAM, localizado em Vitória – ES, com idade superior a 10 anos e que

aceitaram assinar o Termo De Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram excluídos

pacientes que não tinham disponibilidade de tempo para a entrevista.

No primeiro momento foi realizado um levantamento dos pacientes cadastrados no HUCAM,

que estivessem em acompanhamento. Logo em seguida, as pesquisadoras entraram em contato

para o agendamento da entrevista.

A coleta de dados foi realizada através de uma abordagem que continha uma entrevista

semiestruturada dirigida aos responsáveis, sendo gravada através de um áudio com intuito de

permitir uma conversa mais tranquila. A entrevista era constituída por questões relacionadas a

aspectos sociodemográficos da família ou responsável e da criança com distrofia muscular e

aspectos clínicos. Os dados registrados referentes aos responsáveis ou familiares foram: idade,

gênero, escolaridade, raça, renda e local de residência.

Para avaliar a assistência fisioterapêutica a entrevista continha os seguintes dados: início do

tratamento, periodicidade, se não realizava, o motivo da interrupção, locais de tratamento, tipo

de assistência fisioterapêutica e se recebeu orientações; exames já realizados, principalmente

cardíacos e respiratórios. Para verificar o acesso aos serviços de saúde foi coletado dados para

traçar o itinerário fisioterapêutico dos indivíduos com Distrofia Muscular de Duchenne;

identificando as barreiras e facilidades do acesso à fisioterapia na rede pública; analisando o

funcionamento das políticas públicas de pessoas com deficiência na região da Grande Vitória.

Para análise dos dados de forma descritiva foi utilizado o método de análise de conteúdo de

Bardin.

Resultados e Discussão

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Dos 44 pacientes cadastrados, 35 tinham idade superior a 10 anos, porém 20 não foram

localizados, 3 não tinham disponibilidade de tempo para participar da pesquisa, totalizando 12

entrevistas.

O quadro 1 sintetiza os aspectos sociodemográficos e econômico das famílias. Para preservar o

anonimato dos participantes, eles foram nomeados como P e o número correspondente a ordem

em que as entrevistas foram realizadas.

Quadro 1 – Aspectos sociodemográficos e econômico das famílias entrevistadas.

*SM – Salário Mínimo incluindo benefício do governo.

** Mais de um filho com DMD.

Fonte: Elaborado pelas autoras.

Pode se observar que a idade entre os pacientes varia de 11 a 19, tendo uma média de 15.75

2,37 anos e a maioria se encontra em nível de escolaridade inadequados quando comparados a

idade. Nota-se que os grupos familiares entrevistados, em sua grande maioria, são formados

por mulheres, ressalvo apenas um homem, sendo a média das idades 41.75 7.16 anos

(variando entre 28 e 48 anos). A respeito da escolaridade dos responsáveis, quatro não

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concluíram o ensino fundamental e a maioria recebe até 2 salários mínimos, incluindo

benefícios do governo. Em relação a etnia, a maioria dos responsáveis considera a si da raça

parda, exceto uma branca, uma amarela e uma negra. No que diz a cidade, a maioria das famílias

reside em Cariacica, além de duas em Vitória, uma em Vila Velha e uma família em Pinheiros,

sendo esta localizada no interior norte do estado.

Após o diagnóstico, os familiares foram instruídos a procurar tratamento fisioterapêutico.

Alguns procuraram a fisioterapia particular, porém, a grande maioria procurou pelo Centro de

Reabilitação Física do Espírito Santo (CREFES), e realizou em algum momento os serviços de

fisioterapia, pois este é o local de referência estadual para este tipo de atendimento. Foi possível

reconhecer que houve atraso no início da fisioterapia de alguns pacientes, o que é alarmante,

pois segundo Frezza, Da Silva e Fagundes7, a fisioterapia deve ser iniciada precocemente

devido a evolução natural da patologia.

Atualmente, apenas quatro pacientes realizam fisioterapia regularmente, com uma frequência

de duas vezes por semana, sendo que dois pacientes são atendidos na Associação de Pais e

Amigos dos Excepcionais (APAE) de Pinheiros, cidade onde os mesmos residem. Por outro

lado, os outros dois pacientes são atendidos em escolas de ensino superior que disponibilizam

serviço fisioterapêutico para usuários da rede pública, porém estas instituições interrompem

suas atividades em alguns momentos do ano devido as férias e o ideal seria que esses pacientes

tivessem acompanhamento durante todo ano. Vale ressaltar que todos os outros pacientes não

realizam fisioterapia em nenhum centro especializado, incluindo rede pública ou privada. Este

é um dado alarmante, pois é de direito da pessoa com deficiência física serviços de reabilitação

sempre que necessários, para qualquer tipo de deficiência, inclusive para a manutenção da

melhor condição de saúde e qualidade de vida, informação adequada e acessível à pessoa com

deficiência e a seus familiares sobre sua condição de saúde. Além de oferecer, serviços

planejados para prevenir a ocorrência e a progressão de deficiências e agravos adicionais,

promoção de estratégias de capacitação continuada das equipes que atuam no SUS, em todos

os níveis de atenção, no atendimento à pessoa com deficiência, bem como orientação a seus

atendentes pessoais [8]

A partir de relatos dos responsáveis, fica claro que o tratamento no CREFES foi interrompido

devido a barreiras encontradas, tais como: dificuldades ao acesso contínuo aos serviços de

fisioterapia do CREFES pois este estabelecimento aparentemente possui uma alta precoce dos

pacientes que excedem uma certa idade pré-estipulada pela instituição. Outros entrevistados

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descrevem que no âmbito da rede pública há burocracia, lista de espera e escassez de vagas, o

que gera o atraso no tratamento adequado. O que não corrobora com a Portaria n° 793, de 24

de abril de 2012, na qual assegura a esses pacientes, acompanhamento e cuidado à saúde em

âmbitos públicos e na atenção domiciliar, apoio e orientação às famílias e aos acompanhantes

de pessoas com deficiência, estabelecimentos de saúde habilitados em Serviços de Reabilitação

e Centros Especializados em Reabilitação (CER) [8].

Houve, ainda, um relato em que a fisioterapia foi suspensa por recomendação médica, o

profissional alegou que seria prudente interromper a fisioterapia motora devido a um quadro de

osteopenia, prevenindo assim uma possível fratura proveniente do estímulo motor. De acordo

com Jandt, Gerzson e Almeida11, a aplicação de forças mecânicas estimula a formação e o

crescimento ósseo e a inatividade, predispõe a absorção. Estudos realizados com crianças e

adultos sugerem que a realização de programas de exercícios regulares, promovem melhor

mineralização óssea e tem sido utilizado como prevenção e parte do tratamento da osteopenia

em diferentes fases da vida, por induzir os osteoblastos a aumentar sua atividade em resposta

ao estímulo mecânico, ou seja, a fisioterapia é benéfica para esses pacientes. Além disso, vale

lembrar, que a fisioterapia não é apenas motora, e que a fisioterapia respiratória é de suma

importância para esta população, uma vez que as complicações respiratórias são as principais

causas de internação e de mortalidade [10].

Alguns pacientes não realizam a fisioterapia pois seus responsáveis não procuram os serviços

oferecidos. Provavelmente, devido a um baixo poder aquisitivo, nível escolar básico incompleto

ou o difícil acesso devido a dois deles saírem de sua cidade para buscar o tratamento na Grande

Vitória.

Quando questionados sobre os tipos de fisioterapia realizados, a hidroterapia foi a técnica mais

citada, sendo realizada por todos os pacientes em algum momento da sua vida. Estes foram

atendidos, na maioria dos casos, pelo CREFES e alguns em instituições de ensino superior

privadas, que oferecem este serviço gratuitamente.

Todos os pacientes já realizaram fisioterapia respiratória e, supreendentemente, apenas dois

permanecem no tratamento, um dado preocupante, pois a causa de óbito mais frequente nesta

população ocorre por insuficiência respiratória. Sendo assim, a fisioterapia é fundamental, pois

o treinamento muscular respiratório pode proporcionar grandes benefícios para estes pacientes,

tais como, ganho de força muscular respiratória, manutenção da capacidade vital, maior

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qualidade da atividade toraco-abdominal e aumento o pico de fluxo expiratório, levando, assim,

a uma maior independência funcional e qualidade de vida, proporcionando que o mesmo realize

suas atividades cotidianas com menor cansaço e melhorando sua autonomia física [12,13].

A avaliação regular da função pulmonar a partir do final da primeira década de vida deve fazer

parte do padrão de atendimento à pacientes com DMD. Esse monitoramento incluiu avaliações

anuais do volume pulmonar, pico do fluxo e medidas da força muscular respiratória. Vale

ressaltar que a fraqueza muscular respiratória gera hipoventilação sintomática do sono,

geralmente no final da adolescência, além de, infecções do trato inferior, atelectasias e

secreções retida. Por isso, deve ser realizada, também, uma polissonografia completa afim de

avaliar a hipoventilação noturna para, assim, iniciar o suporte ventilatório [14,15].

A partir dos relatos desta pesquisa, foi observado que a maioria dos pacientes nunca realizou o

exame para avaliar o pico de fluxo e nem a polissonografia. Já em relação a espirometria, três

familiares relatam que seus filhos nunca a realizaram. Além disso, devido a alterações

cardíacas, o eletrocardiograma (ECG) apresenta algumas alterações típicas na DMD, fato que

o torna um exame útil na avaliação da função cardíaca dessa patologia e houve apenas um relato

de uma mãe que alega que seu filho nunca realizou. Diante disso, apesar da grande importância

da avaliação da função cardiopulmonar na evolução da doença, pode-se detectar que essas

alterações não vêm sendo acompanhada e reconhecida como uma das prioridades no

tratamento, possivelmente devido ao baixo nível de informação de sua necessidade ou também

pelo baixo nível socioeconômico, o que agrava as dificuldades no percurso realizado [16].

Pacientes com doenças pulmonares restritivas, como doenças neuromusculares, são os que mais

se beneficiam com a manobra de empilhamento de ar, sendo este um método de insuflação

pulmonar que requer o uso de um insuflador manual para fornecer volumes de ar superiores à

capacidade inspiratória. Nesta população, o aumento do volume pulmonar está fortemente

correlacionado com o aumento do pico de fluxo da tosse. Além disso, quanto maior a expansão

pulmonar, melhor a otimização da pressão de recuo pulmonar, a tosse e, consequentemente, a

extração de secreções. Diante de sua importância, o que chama a atenção é que metade dos

pacientes nunca sequer viram o empilhador de ar, um outro grupo relata ter este equipamento

em casa, pois ganharam através de doações, porém não faz uso regular por falta de segurança

durante o manuseio [9,17].

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Os incentivadores da inspiração, seja a fluxo ou a volume, têm como objetivos de encorajar a

respiração profunda e sua sustentação, gerando altas pressões transpulmonares, melhorando

reexpansão de áreas previamente colapsadas e sua estabilização. Foi relatado que apenas um

paciente não possui nenhum tipo de inspirômetro de incentivo, os demais, apesar de possuírem

não fazem uso regular, salvo apenas um paciente que utiliza o incentivador a volume

diariamente. Já o Bilevel, dispositivo este que auxilia na apneia noturna, é desconhecido pela

maioria, e mesmo o que os conhecem não o possui. Apenas um paciente o possui e utiliza

sistematicamente, porém o dispositivo foi conquistado judicialmente. Esse dado é agravante,

pois segundo a Portaria de nº 370, de 4 de julho de 2008, estes pacientes tem o direito de receber

VNI fora do âmbito hospitalar, pois a ventilação, com o auxílio de ventiladores volumétricos

Bilevel, não apenas retarda a queda da capacidade funcional como pode retardar ou impedir a

progressão da insuficiência respiratória, melhorando assim a qualidade e a expectativa de vida.

Os benefícios do suporte ventilatório são extremamente importantes, determinando, a mudança

para melhor da qualidade de vida dos portadores de doenças neuromusculares [18,9].

O agravamento das condições respiratórias é revelado por sintomas de hipoventilação alveolar,

tais como fadiga, dispneia e cefaleia matinal. Outros sinais e sintomas também são sugestivos

de uma possível necessidade de suporte ventilatório: perda de peso excessiva, despertares

frequentes, sonolência excessiva diurna, pesadelos de sufocamento, controle inadequado de

secreção de vias aéreas superiores, pneumonias de repetição, depressão, perda de memória,

irritabilidade, ansiedade, prejuízo intelectual, dor muscular e nocturia frequente [9].

O uso de Ventilação Noturna Não-Invasiva como tratamento das insuficiências ventilatórias

graves é uma tendência mundial. As indicações de Ventilação Noturna Não-Invasiva incluem

adultos e crianças, e os diferentes tipos de tecnologia devem ser aplicados de acordo com as

características dos pacientes, estes agrupados conforme as necessidades decorrentes da faixa

etária, da etiologia e outros [9].

Contudo, o cuidado respiratório inclui o monitoramento adequado da função respiratória para

lidar com complicações respiratórias de forma mais precoce, técnicas de recrutamento de

volume pulmonar, uso da técnica de empilhamento de ar, gerando assim, a tosse assistida para

melhorar a desobstrução das vias aéreas e ventilação não invasiva. Quando o paciente com

DMD é adequadamente acompanhado, a expectativa de vida pode se estender até a quarta

década [17].

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Apesar das dificuldades encontradas na assistência e acesso aos serviços de fisioterapia na

Grande Vitória - ES, é necessário que haja mais estudos com um número maior de pacientes de

diferentes regiões para elucidar melhor esse itinerário fisioterapêutico e assim propor medidas

de melhorias e aperfeiçoamento no âmbito do Sistema Único de Saúde.

Conclusão

Observamos que na região da Grande Vitória - ES ainda há dificuldades no acesso aos serviços

de fisioterapia, bem como o tipo de assistência e orientações oferecidos pelo Sistema Único de

Saúde para estes pacientes e seus responsáveis, desde o início tardio ao atendimento

fisioterapêutico até a interrupção do mesmo, sendo que, este tipo de tratamento traria inúmeros

benefícios.

É importante salientar que deve haver a conscientização da rede pública de saúde, para

desenvolvimento de ações que contribuam com os programas existentes e aprimorem seu

funcionamento para garantir a promoção, proteção, e recuperação da saúde dos indivíduos com

distrofia muscular.

Além disso, observa-se a necessidade da criação de mais centros especializados com

atendimento multiprofissional para que se cumpram todos os direitos voltados a esses pacientes.

E que, também, sejam divulgadas informações aos familiares, tais como, orientações sobre os

agravos da doença e o tipo de tratamento que devem ser realizados.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista todos os agravos progressivos dessa patologia, a fisioterapia,

associada ao tratamento farmacológico e cirúrgico, tem um papel crucial para

proporcionar uma melhor qualidade de vida, diminuindo, assim, a taxa de mortalidade

precoce desses indivíduos.

Com a realização deste estudo, observou-se que a maioria dos responsáveis é

composta por mães da raça parda com baixo poder aquisitivo e nível de escolaridade

incompleto. Pode-se verificar, também, que a lei não está se cumprindo de forma

assídua e eficaz, visto que há falta de informação e orientação oferecida pela rede

pública de saúde para os familiares e pacientes com Distrofia Muscular Duchenne,

sobre seus direitos em relação as políticas de saúde, sobre qual profissional procurar

e qual o tipo de tratamento adequado.

Além disso, é possível notar que o Sistema Único de Saúde carece da presença de

mais centros especializados em reabilitação com atendimento multiprofissional e

continuado, pois houveram muitos relatos de alta precoce por parte da rede pública.

No entanto, observamos a necessidade de novos estudos, maior divulgação e

conscientização da sociedade, dos profissionais e da rede pública em relação a essa

doença, levando ao diagnóstico precoce e preciso, para que, assim, os tratamentos

se iniciem de forma mais ágil e eficaz, permitindo uma melhora na qualidade de vida

e a longevidade desses indivíduos.

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REFERÊNCIAS

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APÊNDICES

APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre Esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado(a) como voluntário(a) a participar da pesquisa:

DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE: ASSISTÊNCIA E ACESSO AOS

SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA NA GRANDE VITÓRIA, a ser realizada no Hospital

Universitário Cassiano Antonio de Moraes – HUCAM, pelas acadêmicas Bruna

Marcelle de Miranda Souza, Jessica Deolindo de Santana e Mariana Lima Ferreira

Esteves, do curso de Fisioterapia da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de

Misericórdia de Vitória – EMESCAM, sob responsabilidade da professora orientadora

Roberta Ribeiro Batista Barbosa.

A pesquisa tem como objetivo verificar a assistência e o acesso ao serviço de

fisioterapia pelo Sistema Único de Saúde de pacientes com Distrofia Muscular de

Duchenne na região da Grande Vitória, Espírito Santo. A pesquisa será utilizada em

programa de iniciação científica e trabalho de conclusão de curso.

Você será entrevistado (a), onde você contará toda sua trajetória fisioterapêutica até

o presente momento e informações relacionadas ao tema da pesquisa.

BENEFÍCIO: a identificação das fragilidades e facilidades, possibilitará traçar

estratégias que visem a otimização do acesso e assistência nesta população,

reduzindo complicações e melhorando a qualidade de vida.

RISCOS: os riscos serão minimizados com a garantia de acesso ao serviço de

fisioterapia da clínica da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia

de Vitória – EMESCAM, através de vagas destinadas para assistência fisioterapêutica,

independente de aceitar participar ou não da pesquisa.

_______________________________________

Assinatura do participante

_______________________________________

Assinatura do pesquisador responsável

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GARANTIA DE ESCLARECIMENTO, LIBERDADE DE RECUSA E GARANTIA DE

SIGILO: Você será esclarecido de qualquer dúvida antes, durante e após a pesquisa

em qualquer aspecto que desejar. Você é livre para recusar-se a participar, retirar seu

consentimento ou interromper a participação a qualquer momento. A sua participação

é voluntária e a recusa em participar não irá acarretar qualquer penalidade ou perda

de benefícios.

O(s) pesquisador(es) irá(ão) tratar a sua identidade com padrões profissionais de

sigilo. Os resultados permanecerão confidenciais e o termo de consentimento livre e

esclarecido seguirá as normas estabelecidas nas Diretrizes e Normas

Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da resolução 466/12.

CUSTOS DA PARTICIPAÇÃO: A participação no estudo não acarretará custos para

você e não será disponível nenhuma compensação financeira adicional. Para

qualquer outra informação, o (a) Sr. (a) poderá entrar em contato com o pesquisador

Roberta Ribeiro Batista Barbosa no endereço Avenida Nossa Senhora da Penha,

2190, Santa Luiza Vitória, Vitória - ES ou pelo número (27) 99316-3919 como também,

poderá entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da HUCAM no

endereço Avenida Marechal Campos, 1355, bairro Santos Dumont, CEP 29.043-900,

Vitória – ES, ou e-mail [email protected] ou pelo telefone (27) 3335-7326.

DECLARAÇÃO DO PARTICIPANTE.

Eu, _______________________________________ fui informado dos objetivos,

riscos e benefícios da pesquisa. A professora orientadora Roberta Ribeiro Batista

certificou-me de que todos os dados desta pesquisa serão confidenciais.

Vitória, ___ de ______________________ de 2018.

_______________________________________

Assinatura do participante

_______________________________________

Assinatura do pesquisador responsável

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APÊNDICE B – Roteiro da Entrevista Semi-Estruturada

Data da entrevista: _____/ ______ / _______.

Dados do Entrevistado(a):

Identificação: ________________________________________________________

Idade: ________________________________ Raça: ________________________

Escolaridade: ___________________________ Renda Familiar: _______________

Local de Residência: __________________________________________________

1. Qual idade você suspeitou (percebeu) de algum sinal e/ou sintoma? Qual foi o

sinal e/ou sintoma?

2. Qual o primeiro profissional que procurou? Onde foi feito o diagnóstico clínico?

3. Por quantos profissionais e lugares você percorreu para fechar o diagnóstico?

4. Conte-me como foi a trajetória multiprofissional desde a suspeita de alguma

sinal e/ou sintoma até hoje.

5. Quais foram as dificuldades encontradas desde do diagnóstico?

6. Como é acessibilidade social, ambiental e outros?

7. Foi orientada (o) uso de órteses e cadeira de rodas? Com qual idade começou

a utilizá-la (o)? Como conseguiu? Qual o tempo de espera?

8. Já realizou ou realiza algum tratamento fisioterapêutico? Com qual frequência?

Se deixou de fazer, por que? Quais os tipos de tratamentos fisioterapêuticos já

realizados? Conte-me sua trajetória fisioterapêutica (locais percorridos,

frequência, facilidades e dificuldades)

9. Quais os exames já realizaram? (Espirometria, manovacuômetro,

polisssonografia e ecocardiograma). Quantos? Quando?

Filhos Idade do

diagnóstico

Idade Escolaridade Cadeira de

rodas

Órtese

1 S ( ) N ( ) S ( ) N ( )

2 S ( ) N ( ) S ( ) N ( )

3 S ( ) N ( ) S ( ) N ( )

4 S ( ) N ( ) S ( ) N ( )

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ANEXOS

ANEXO A – Carta de Anuência do Hospital Universitário Cassiano Antonio de

Moraes - ES

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ANEXO B – Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa

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ANEXO C – Capa da Revista Fisioterapia Brasil

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ANEXO D – Normas da Revista Fisioterapia Brasil