Associação de Mulheres Girassol experiência organizativa e produtiva em Modelo II

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Associação de Mulheres Girassol experiência organizativa e produtiva em Modelo II Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº 1945 João Câmara No Assentamento Modelo II, localizado no município de João Câmara, foi criada, em 2001, a Associação de Mulheres Girassol. Com 23 mulheres associadas, o grupo realiza um trabalho produtivo na área coletiva do assentamento, onde participam 8 mulheres. Maria do Céu, Rita, Nenê, Adriana, Simone, Luzia e Maria do Carmo se reúnem todas as quintas-feiras para conversar, trabalhar com as hortas e fruteiras agroecológicas, fazer o relato das atividades da semana e organizar o trabalho coletivo. Antes do surgimento da associação, as mulheres participaram ativamente de todo o processo de ocupação, luta e conquista da terra onde moram hoje. Foi no dia 29 de agosto de 1994 que seiscentas famílias ocuparam aquelas terras e montaram acampamento, que foi organizado e coordenado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, no qual as mulheres também estão organizadas. Depois de onze meses vivendo nas barracas de lona, conquistaram a emissão de posse no dia 29 de junho de 95. Agosto/2014 Elas lembram dos dias difíceis e de luta que enfrentaram. No início, elas trabalhavam em uma área coletiva de 3 Km de extensão, onde fizeram um plantio de mandioca. Mas, com a plantação já crescida, alguns homens do assentamento colocaram o gado dentro e destruíram toda a produção que as mulheres haviam iniciado. A associação surgiu por causa da dificuldade que as mulheres estavam enfrentando de participar dos espaços políticos juntamente com os homens. Elas dizem que enfrentavam muita discriminação e machismo, pois os homens diziam que aquele espaço não era para as mulheres. Por isso, se uniram para formar a associação de mulheres Girassol. Elas dizem que escolheram esse nome numa referência à flor que não para de girar em busca do sol, em busca de condições para sobreviver, sempre em movimento. Dona Rita, uma das componentes do grupo, diz que só assim, com a criação da associação, conseguiram mostrar que mulher também tem voz e vez. Com a formação da associação, as mulheres ficaram mais fortalecidas para enfrentar as dificuldades e conquistar vários benefícios para elas e para todo o assentamento. Conquistaram, junto ao INCRA, o espaço de 3 lotes que ainda não estavam cadastrados para fazerem o plantio, cuja autorização está no nome da associação. Retratos de uma caminhada Agricultoras da Associação de Mulheres Girassol, na área produtiva

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No Assentamento Modelo II,foi criada, em 2001, a Associação de Mulheres Girassol.A associação surgiu por causa da dificuldade que as mulheres estavam enfrentando de participar dos espaços políticos juntamente com os homens.Com a formação da associação, as mulheres ficaram mais fortalecidas para enfrentar as dificuldades e conquistar vários benefícios para elas e para todo o assentamento.

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Associação de Mulheres Girassolexperiência organizativa e produtiva em Modelo II

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº 1945

João Câmara

No Assentamento Modelo II, localizado no município de João Câmara, foi criada, em 2001, a Associação de Mulheres Girassol. Com 23 mulheres associadas, o grupo realiza um trabalho produtivo na área coletiva do assentamento, onde participam 8 mulheres. Maria do Céu, Rita, Nenê, Adriana, Simone, Luzia e Maria do Carmo se reúnem todas as quintas-feiras para conversar, trabalhar com as hortas e fruteiras agroecológicas, fazer o relato das atividades da semana e organizar o trabalho coletivo.

Antes do surgimento da associação, as mulheres participaram ativamente de todo o processo de ocupação, luta e conquista da terra onde moram hoje. Foi no dia 29 de agosto de 1994 que seiscentas famílias ocuparam aquelas terras e montaram acampamento, que foi organizado e coordenado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, no qual as mulheres também estão organizadas. Depois de onze meses vivendo nas barracas de lona, conquistaram a emissão de posse no dia 29 de junho de 95.

Agosto/2014

Elas lembram dos dias difíceis e de luta que enfrentaram. No início, elas trabalhavam em uma área coletiva de 3 Km de extensão, onde fizeram um plantio de mandioca. Mas, com a plantação já crescida, alguns homens do assentamento colocaram o gado dentro e destruíram toda a produção que as mulheres haviam iniciado.

A associação surgiu por causa da dificuldade que as mulheres estavam enfrentando de participar dos espaços políticos juntamente com os homens. Elas dizem que enfrentavam muita discriminação e machismo, pois os homens diziam que aquele espaço não era para as mulheres. Por isso, se uniram para formar a associação de mulheres Girassol. Elas dizem que escolheram esse nome numa referência à flor que não para de girar em busca do sol, em busca de condições para sobreviver, sempre em movimento.

Dona Rita, uma das componentes do grupo, diz que só assim, com a criação da associação, conseguiram mostrar que mulher também tem voz e vez. Com a formação da associação, as mulheres ficaram mais fortalecidas para enfrentar as dificuldades e conquistar vários benefícios para elas e para todo o assentamento. Conquistaram, junto ao INCRA, o espaço de 3 lotes que ainda não estavam cadastrados para fazerem o plantio, cuja autorização está no nome da associação.

Retratos de uma caminhada

Agricultoras da Associação de Mulheres Girassol, na área produtiva

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Rio Grande do Norte

Foi muito importante a parceria e contribuição que tiveram da irmã Ildegardis, uma freira que viveu no assentamento e que conseguiu, com a sua congregação, uma doação para a perfuração do poço de onde o grupo retira a água para a sua produção coletiva. Também conseguiram recursos para a construção de dois salões, sendo que um deles é usado por toda a comunidade. Com muito esforço, montaram uma unidade de beneficiamento de polpas de fruta, adquiriram uma despolpadeira e um equipamento para selar embalagens. No dia da inauguração, a sede foi roubada e todos os equipamentos foram levados. Ao invés de desanimar, as mulheres conseguiram adquirir outra despolpadeira e já planejam iniciar a produção.

Com uma caminhada que já dura 13 anos, elas produzem alimentos agroecológicos que são consumidos por suas famílias, porém sem espaços ou oportunidades de comercializar o excedente. Utilizando esterco de gado e chorume do minhocário para adubar as plantações, as mulheres produzem hortaliças (coentro, cebolinha, alface, couve, rúcula, pimentão, tomate), frutíferas (acerola, goiaba, graviola, pinha, limão, caju, banana, mamão, maracujá, melancia, etc), além de feijão, milho, capim, palma forrageira e outros cultivos. As agricultoras organizaram uma plantação em formato de quebra-vento, feito de bananeiras e capim, para proteger as hortas do forte vento no local.

Apesar dessa experiência organizativa e produtiva bem sucedida, elas ainda enfrentam algumas dificuldades com o acesso à água para a produção, pois a conta de energia para retirá-la do poço é muito alta e a bomba costuma dar defeitos de funcionamento. Outra dificuldade que enfrentam é com a falta de um espaço onde possam vender o excedente de sua produção, e por isso hoje participam do processo de construção da feira agroecológica e de economia solidária em João Câmara.

As mulheres da associação Girassol dizem que o machismo ainda é muito presente no assentamento, mas elas já conseguem participar ativamente da associação do assentamento, além da associação de mulheres, e conquistaram o reconhecimento de toda a comunidade. Muitos companheiros que antes as discriminavam, hoje fazem elogios e reconhecem a importância da participação delas para o assentamento.

Realização Apoio

Chorume produzido pelas minhocas

Em frente à sede, sob as árvores, as mulheres se reúnem todas as semanas

Milho e frutíferas na área coletiva

Sementeira de alface para a horta

Quebra-vento de bananeira e as hortas