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1 ATALIBA, O VAQUEIRO, Francisco Gil C. Branco www.literapiaui.com.br  1 RESUMO BIOGRÁFICO Francisco Gil Castello Branco (Nasceu em 1848, Livramento, atual município de José de Freitas (PI); Bacharel em Letras, formou- se na França, onde morreu, em 1891, na cidade de Marselha). Viveu a maior parte da vida no Rio de Janeiro, onde foi funcionário público,  jornalista, escritor; foi cônsul do Brasil no Paraguai e na França. Foi colaborador de vários periódicos da época, entre os quais Revista Lux, Gazeta Universal e Diário de Notícias. Foi essencialmente um autor de folhetins para leitores cariocas. Um piauiense de destaque  juntamente com outros nordestinos na corte. Pontuou amizade com intelectuais de grande destaque, principalmente com regionalistas como o polêmico Franklin Távora.  2 OBRAS: • A pérola do Lodo (1874). • Um figurino (1874). • O Dr. Julião Alexandre Batista Cabral (1874) • Contos a esmo (1876). Ataliba, o vaqueiro (Folhetim. Diário de Notícias, RJ, 1878) Ataliba, o vaqueiro. Hermione e Abelardo. A mulher de ouro, Rio de Janeiro, Tipografia Cosmopolita, (1880). • Pobreza não é vício (1884) • Os gansos sociais (1884)

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1 RESUMO BIOGRÁFICO

Francisco Gil Castello Branco (Nasceu em 1848, Livramento,atual município de José de Freitas (PI); Bacharel em Letras, formou-se na França, onde morreu, em 1891, na cidade de Marselha). Viveu amaior parte da vida no Rio de Janeiro, onde foi funcionário público,

 jornalista, escritor; foi cônsul do Brasil no Paraguai e na França. Foicolaborador de vários periódicos da época, entre os quais RevistaLux, Gazeta Universal e Diário de Notícias. Foi essencialmente umautor de folhetins para leitores cariocas. Um piauiense de destaque

 juntamente com outros nordestinos na corte. Pontuou amizade com

intelectuais de grande destaque, principalmente com regionalistas comoo polêmico Franklin Távora.

 2 OBRAS:

• A pérola do Lodo (1874).• Um figurino (1874).• O Dr. Julião Alexandre Batista Cabral (1874)• Contos a esmo (1876).• Ataliba, o vaqueiro (Folhetim. Diário de Notícias, RJ, 1878)• Ataliba, o vaqueiro. Hermione e Abelardo. A mulher de ouro,

Rio de Janeiro, Tipografia Cosmopolita, (1880).• Pobreza não é vício (1884)• Os gansos sociais (1884)

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 3. CONTEXTO:

Final do século XIX, uma das mais devastadoras secas do Nor-deste. O Piauí foi duramente castigado com levas de retirantes esfo-meados rumo ao Maranhão e Pará. A fronteira do Piauí com o Cearáfoi palco de sofrimento, dor, fome de milhares de pessoas sem a assis-tência do poder público.

 4. ATALIBA, O VAQUEIRO

sucesso de público, depois de cem anos:

Ataliba, o Vaqueiro, (Episódio da Secano Norte) obra em prosa, foi publicada durante oano de 1878, em forma de folhetim e, como tal,apresenta características folhetinescas. Foipublicada no Jornal Diário de Notícias, Rio deJaneiro. Em 1880, por ocasião do tricentenárioda morte de Camões (10 de junho), foi lançadaa primeira edição pela Tipografia Cosmopolita,do Rio de Janeiro, com apresentação de umescritor regionalista famoso - Franklin Távora -o defensor da “Literatura do Norte”. Digno denota, neste despretensioso trabalho paravestibulandos, é um dos textos introdutórios a2ª. edição – Convênio APL/UFPI, 1994, das pes-quisadoras Maria do Socorro Rios Magalhães e

Maria do P. Socorro N. N. do Rego:  Ataliba, o Vaqueiro, folhetim da

Seca. Esse artigo é bastante esclarecedor quanto à maneira como ofolhetim e, depois, romance, viria ganhar espaço na imprensa do Sul.

Ataliba, o vaqueiro é um romance bom de público: a obra, empoucos anos de público piauiense, está na 6ª edição (2003), somentepela Editora Corisco. O pequeno romance atrai pela identificação detodos nós com o tema da seca no Piauí. Os costumes dos sertanejos,as ações do vaqueiro na fazenda, o movimento do gado, a sobrevi-vência dos retirantes, o misticismo do sertanejo, são momentos (ima-

gens) nossos. O leitor carioca, certamente, não assimilou bem essasimagens. Mas o leitor piauiense encontra nelas sua identificação. Ébom lembrar que a obra não é um conto. A estrutura não é de conto, éde um romance, ainda que pequeno.

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Digno de nota, ainda, é o artigo da eminente Professora MariaGomes Figueiredo dos Reis, que apresenta o pequeno romance comopioneiro quanto ao assunto da seca. “Ataliba, O Vaqueiro: Precursor 

do romance da seca”, argumentando: “Desconhecido da crítica e dopúblico brasileiro é mister destacarmos aqui um livro que apontamoscomo o primeiro romance de fundo essencialmente regionalista, quefocaliza de forma realista o drama da seca no sertão do Piauí.”

1. Enredo:

Este Episódio da Seca no Norte começa com a morena e vir-

gem Teresinha à beira de um riacho com uma grande cabaça e umarodilha, cantando as “ânsias do coração”. O vaqueiro Ataliba, paracortejá-la, presenteia-a com um filhote de veado. Ataliba declara seuamor e pede Teresinha em casamento à Tia Deodata. Cassange, oafricano e ajudante do vaqueiro, retorna e traz notícias e encomendasda vila. Informa também que os “cabeças-chatas” começam a enfren-tar a seca. Cassange recebe a notícia que o seu amo e Teresinhaestão comprometidos, e por onde passa, vai espalhando a notícia.Avelha Deodata recebe a visita de Dionísio, o caçador, um sujeitogalhofeiro, dançador e bebedor que lhe traz uma paca. O caçador ad-verte-a para a proximidade da seca. Mostra-se temeroso, juntamentecom Ataliba, dos perigos da seca.Deodata faz uma festa de noivadopara a vizinhança. Vinte dias depois da festa, a seca dá sinais fortes.

 Ataliba e Cassange estão em intensas atividades na fazenda do Mor-ro. Deodata reza. Ataliba insiste para Deodata e Teresinha partirem. Aseca está avançada. Deodata recebe Dionísio que vem à frente de umgrupo de retirantes. O caçador suplica para que Deodata e Teresinhasigam com ele e o grupo. Deodata não aceita o pedido. Promete partir só depois de mais uma semana.

 Ataliba, Cassange, Dionísio e outros homens cavam um poço.Dionísio parte, deixando pólvora e chumbo para Ataliba e espeta aesteira de Deodata no último galho da cajazeira, indicando o cami-nho. A seca é um flagelo. O gado da fazenda morria; o riacho seca-ra, a cacimba estava no fim. Deodata adoece e morre vítima deuma congestão cerebral, motivada por uma terrível febre maligna.

 Ataliba prepara a viagem: vai à cacimba e depara-se com uma fe-roz onça. Ambos lutam e o vaqueiro, embora ferido, mata a onça.Teresinha, acidentalmente, provoca um incêndio na velha casa dafamília.

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Finalmente, Ataliba, Teresinha (também seu veadinho) e Cassangesão retirantes, depois de quinze dias da partida do caçador e o seugrupo. Os três estão em marcha para alcançar a estrada geral, rumo aoMarvão. Teresinha vinha febril desde a morte de sua mãe. Agrava-se asaúde da moça que vem a falecer próximo à estrada geral. Uma cobracascavel ataca o vaqueiro e pica-o. Ataliba morre abraçado ao cadáver de sua noiva. Agora, vejamos a parte final da cena dramaática: “ Depois,o vaqueiro fitou o caminho, esperando Cassange para lhe dizer adeus! –mas a cegueira cobre-lhe a vista, e deitando sangue pelos ouvidos, reco-nheceu que soava a sua hora final; abraçou Teresinha, colando os seuslábios nos lábios de sua noiva e deu-lhe um beijo, amplo, eterno como odos sepulcros!” (ob. cit. p.85, 7ª edição). A cena é descrita de forma

tipicamente romântica.

2. Personagens

 As personagens são simples e planas; não apresentam comple-xidade psicológica, são tipicamente folhetinescas e, ainda,marcadamente românticas. Nelas não há conflitos interiores, estão ape-gadas à terra e à honra. Não compreendem a extensão dos problemassociais e políticos do contexto.

2.1 Personagens principais

a) Ataliba

“... era moço, tinha a figura atlética e a fisionomia cheia defranqueza.” Era o vaqueiro da fazenda do Morro, próximo aoMarvão. Na ausência do fazendeiro, fazia negócios e dividiatudo como se fosse o próprio fazendeiro. Era um trabalhador livre. “Os seus olhos de carbúnculo chamejavam; um ar deventura animava o seu rosto acaboclado e o seu porte esbel-to, em harmonia com o seu vestuário, dava-lhe o aspecto demagnífica estátua fundida em bronze.” (p.32)

b) Teresinha“... era uma morena sedutora. As suas formas, delineando-seem modesta saia de chita, e os seios arfando sob alva camisaorlada de rendas, ofereciam à escultura um modelo de perfei-ções. (...) alma inocente.”

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2.2 Personagens secundárias

a) Deodata

“Tia Deodata” para todos, viúva, mãe de Teresinha e agrega-da da fazenda do Morro. Mulher tenaz e teimosa. Morre defebre.

b) Cassange, o africano

“Fora importado da África ainda moleque e conservava o nomeda sua terra natal”. Era o escravo ajudante do vaqueiro Ataliba. Era

octogenário. Ocupava o lugar de “fábrica”. (p.42)c) Dionísio, o caçador 

Sua profissão era caçar, dançar, beber... Mas foi o condutor dosretirantes da região. “Era conhecedor dos caminhos rumo ao Marvão eà capital da Província.” Fez as mais sérias advertências sobre a seca.Deixou o sinal de retirada para Deodata. Depois de pôr a salvo o grupoque conduzira, retornou para prestar socorro ao vaqueiro.

3. Tempo

Narrativa de tempo cronológico. Acompanha a ordem naturaldo tempo: antes da seca, a seca e suas conseqüências.

4. Espaço / ambiente

É o Nordeste. Fazenda do Morro, na região do Marvão (atualmunicípio de Castelo do Piauí); fronteira com o Estado do Ceará.

5. Narrador 

Narrado em 3ª pessoa por um narrador observador e passivo. Exa-

gera na descrição de aspectos geográficos e pitorescos, revelando a secae suas conseqüências ( o êxodo rural ), a miséria, o fracasso do amor emtempos difíceis,a constante presença da morte,a forte religiosidade e avisão fatalista da existência. Enfoca o papel do vaqueiro nas fazendas.

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6. Linguagem / estilo

 A linguagem evidencia os costumes locais em vocabulário regio-nal e, às vezes, com vestígios lusitanos. Estilo repetitivo, enfadonho,marcadamente romântico; de comparações exageradas. É um romancede estrutura folhetinesca, embora com o falecimento do par romântico,no final, à Shakespeare. Utiliza-se do discurso em 3ª pessoa, mas excedenos diálogos curtos. O autor se esforça para que as imagens retratem, damelhor maneira, a paisagem física e humana. A linguagem é marcadapela espontaneidade; de forte oralidade e rica em regionalismo de épo-ca que reflete a dura vida do sertanejo: o agregado e o vaqueiro.