Atitudes dos médicos em relação ao tratamento da...

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Introdução A Hipertensão Arterial (HTA) é um importante problema de saúde pública em Portugal. 1 Perante um indivíduo hipertenso, o médico realiza um processo de decisão acerca do tratamento necessário para atingir o controlo da tensão arterial. Nesse processo de decisão, são vários os factores (Figura 1) que podem estar associados, nomeadamente um conjunto de atitudes desenvolvidas ao longo da sua prática clínica. 2, 3 Este estudo integra o projecto DIMATCH-HTA, e pretende ser uma primeira caracterização de atitudes do médico relacionadas com a decisão terapêutica na HTA, quanto à modificação de estilos de vida, início e mudança na medicação, e educação do hipertenso sobre a sua doença. Atitudes dos médicos em relação ao tratamento da Hipertensão, no contexto dos Cuidados de Saúde Primários Rodrigues, Joana ; Fernandes, Milene; Alarcão, Violeta; Nicola, Paulo; Rocha, Evangelista E-mail: [email protected] Projecto integrado no estudo DIMATCH-HTA - equipa de investigação: P Nicola, V Alarcão, P Nogueira, M Fernandes, M Godinho, E Rocha Unidade de Epidemiologia - Instituto de Medicina Preventiva - Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa Métodos 9 CS/USF 31 Médicos de MGF São incluídos no estudo os médicos: 1. de Medicina Geral e Familiar (MGF), 2. que pertençam aos Centros de Saúde / Unidades de Saúde Familiar da região de saúde de Lisboa e Vale do Tejo, 3. seleccionados para participar no estudo DIMATCH-HTA, e 4. que consintam em participar no estudo Análise Estatística Questionário - Iniciar Terapêutica Não-farmacológica - Iniciar Terapêutica Farmacológica - Mudança Terapêutica - Educação para a saúde Experiência ATITUDES Conhecimento Relação Médico-Doente Decisão Terapêutica Controlo da HTA (PA < 140/90mmHg) Serviços de Saúde MÉDICO Doente Adesão Terapêutica Avaliação de atitudes relativas ao tratamento da Hipertensão Arterial através do grau de concordância em relação a 10 afirmações (Tabela 1). Recorreu-se a análise de dados bivariada (testes χ² e teste t de student, com α= 0,05), para analisar a relação entre o grau de concordância com as afirmações e variáveis demográficas e da prática médica. Na minha experiência… 1) … modificações do estilo de vida (perda de peso, evitar alimentos com elevado teor de sal) são úteis para controlar a PA elevada. 2) … o uso de fármacos é necessário para controlar a PA da maioria dos meus doentes. 3) … é difícil modificar o estilo de vida nos doentes hipertensos. 4) … a maioria dos meus doentes consegue manter a TA controlada com apenas um medicamento anti-hipertensor. 5) … é frequente ter de mudar a medicação (aumentar dose, mudar ou adicionar anti-hipertensor) devido a falta de efectividade do(s) anti-hipertensor(es). 6) … é frequente ter de mudar a medicação (mudar anti-hipertensor) devido a reacções adversas do(s) anti-hipertensor(es). 7) … é grande dispêndio de tempo encontrar um esquema terapêutico eficaz e bem tolerado pelos meus doentes com hipertensão. 8) … é frequente ter de mudar a medicação (mudar anti-hipertensor) devido à não-adesão do doente à terapêutica anti-hipertensora. 9) … sinto que educar os hipertensos quanto à sua doença e ao seu tratamento, ajuda no controlo da sua hipertensão arterial. 10) … é frequente ensinar os hipertensos a realizarem a auto-vigilância dos seus níveis tensionais. Resultados Os 31 médicos participantes no estudo (18 indivíduos do sexo feminino) têm, em média, 51 ± 9,4 anos de idade, 20 ± 9,1 anos de prática e seguem 1719 ± 180 utentes. O Gráfico 1 apresenta a distribuição do acordo nas diferentes afirmações: 0% 20% 40% 60% 80% 100% Concordo totalmente Concordo muito Concordo pouco Discordo muito Discordo totalmente Não sabe/Não responde Gráfico 1. Respostas dos médicos participantes ao Questionário sobre atitudes perante um indivíduo hipertenso Da análise das respostas e da comparação destas com variáveis demográficas e da prática clínica resultam os seguintes dados: Na Questão 2 (“Na minha experiência, o uso de fármacos é necessário para controlar a PA da maioria dos meus doentes ”) parece haver maior concordância nos indivíduos mais velhos (p=0,023). Na Questão 3 (“Na minha experiência, é difícil modificar o estilo de vida nos doentes hipertensos”) parece haver maior concordância nos indivíduos mais novos, mas sem significância estatística. Figura 1. Modelo Conceptual proposto para avaliação de factores associados à Decisão Terapêutica na Hipertensão Conclusões Os dados preliminares indicam uma maior concordância quanto à necessidade de anti-hipertensores para o controlo tensional no grupo de indivíduos mais velhos. Por outro lado, os indivíduos mais novos parecem considerar a modificação de estilos de vida mais difícil. A confirmação destes dados, através da análise de uma amostra maior e da informação relacionada com outros factores descritos como associados à decisão terapêutica (Figura 1), permitirá caracterizar melhor este processo ao nível de uma doença crónica como a Hipertensão e no contexto dos cuidados de saúde primários. Agradecimentos Equipa de entrevistadores da Unidade de Epidemiologia, pela recolha dos questionários Fundação para a Ciência e Tecnologia, co-financiadora do estudo DIMATCH-HTA - Determinantes e impacto da adesão e da mudança terapêutica no controlo da hipertensão arterial, em coortes de hipertensos imigrantes e não imigrantes, nos cuidados de saúde primários (PTDC/SAU-ESA/103511/2008) 13º Programa “Educação pela Ciência”, GAPIC / FMUL, pelo financiamento deste projecto de investigação “Factores associados à Decisão Terapêutica na Hipertensão uma avaliação nos Cuidados de Saúde Primários, em Imigrantes e não-Imigrantes” (Ref. 2010044) Bibliografia 1. De Macedo M.E. et al. Prevalence, awareness, treatment and control of hypertension in Portugal. Rev Port Cardiologia, 26(1):21-39, 2007 2. Simões J.A. A consulta em Medicina Geral e Familiar. Revista Port uguesa de Clinica Geral; 25:197-8 3. Nicodème R et al. Poor blood pressure control in general practice: in search of explanations. Arch Card Disease, 102, 477-483, 2009

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Introdução

A Hipertensão Arterial (HTA) é um importante problema de saúde pública em Portugal.1 Perante um indivíduo hipertenso, o médico realiza um processo de decisão acerca do tratamento necessário para atingir o controlo da tensão

arterial. Nesse processo de decisão, são vários os factores (Figura 1) que podem estar associados, nomeadamente um conjunto de atitudes desenvolvidas ao longo da sua prática clínica.2, 3 Este estudo integra o projecto DIMATCH-HTA, e

pretende ser uma primeira caracterização de atitudes do médico relacionadas com a decisão terapêutica na HTA, quanto à modificação de estilos de vida, início e mudança na medicação, e educação do hipertenso sobre a sua doença.

Atitudes dos médicos em relação ao tratamento da Hipertensão, no contexto dos Cuidados de Saúde Primários

Rodrigues, Joana; Fernandes, Milene; Alarcão, Violeta; Nicola, Paulo; Rocha, Evangelista

E-mail: [email protected]

Projecto integrado no estudo DIMATCH-HTA - equipa de investigação: P Nicola, V Alarcão, P Nogueira, M Fernandes, M Godinho, E Rocha

Unidade de Epidemiologia - Instituto de Medicina Preventiva - Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa

Métodos

9 CS/USF

31 Médicos de MGF

• São incluídos no estudo os médicos:

1. de Medicina Geral e Familiar (MGF),

2. que pertençam aos Centros de Saúde / Unidades de Saúde Familiar da região de

saúde de Lisboa e Vale do Tejo,

3. seleccionados para participar no estudo DIMATCH-HTA, e

4. que consintam em participar no estudo

Análise Estatística

Questionário

- Iniciar Terapêutica Não-farmacológica

- Iniciar Terapêutica Farmacológica

- Mudança Terapêutica

- Educação para a saúde

Experiência ATITUDESConhecimento

Relação

Médico-Doente

Decisão Terapêutica

Controlo da HTA(PA < 140/90mmHg)

Serviços de

Saúde

MÉDICO

Doente

Adesão Terapêutica

• Avaliação de atitudes relativas ao tratamento da Hipertensão Arterial através do

grau de concordância em relação a 10 afirmações (Tabela 1).

• Recorreu-se a análise de dados bivariada (testes χ² e teste t de student,

com α= 0,05), para analisar a relação entre o grau de concordância com as afirmações

e variáveis demográficas e da prática médica.

Na minha experiência…

1) … modificações do estilo de vida (perda de peso, evitar alimentos com elevado teor de sal) são úteis para controlar a PA elevada.

2) … o uso de fármacos é necessário para controlar a PA da maioria dos meus doentes.

3) … é difícil modificar o estilo de vida nos doentes hipertensos.

4) … a maioria dos meus doentes consegue manter a TA controlada com apenas um medicamento anti-hipertensor.

5) … é frequente ter de mudar a medicação (aumentar dose, mudar ou adicionar anti-hipertensor) devido a falta de efectividade do(s) anti-hipertensor(es).

6) … é frequente ter de mudar a medicação (mudar anti-hipertensor) devido a reacções adversas do(s) anti-hipertensor(es).

7) … é grande dispêndio de tempo encontrar um esquema terapêutico eficaz e bem tolerado pelos meus doentes com hipertensão.

8) … é frequente ter de mudar a medicação (mudar anti-hipertensor) devido à não-adesão do doente à terapêutica anti-hipertensora.

9) … sinto que educar os hipertensos quanto à sua doença e ao seu tratamento, ajuda no controlo da sua hipertensão arterial.

10) … é frequente ensinar os hipertensos a realizarem a auto-vigilância dos seus níveis tensionais.

Resultados

Os 31 médicos participantes no estudo (18 indivíduos do sexo feminino) têm, em média, 51 ± 9,4 anos de idade, 20 ± 9,1 anos de prática e seguem 1719 ± 180 utentes.

O Gráfico 1 apresenta a distribuição do acordo nas diferentes afirmações:

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Concordo totalmente Concordo muito

Concordo pouco Discordo muito

Discordo totalmente Não sabe/Não responde

Gráfico 1. Respostas dos médicos participantes ao Questionário sobre atitudes perante um indivíduo hipertenso

Da análise das respostas e da comparação destas com variáveis demográficas e da prática clínica resultam os seguintes dados:

• Na Questão 2 (“Na minha experiência, o uso de fármacos é necessário para controlar a PA da maioria dos meus doentes”) parece haver maior concordância nos indivíduos mais velhos (p=0,023).

• Na Questão 3 (“Na minha experiência, é difícil modificar o estilo de vida nos doentes hipertensos”) parece haver maior concordância nos indivíduos mais novos, mas sem significância estatística.

Figura 1. Modelo Conceptual proposto para avaliação de factores associados à Decisão Terapêutica na Hipertensão

ConclusõesOs dados preliminares indicam uma maior concordância quanto à necessidade de anti-hipertensores para o controlo

tensional no grupo de indivíduos mais velhos. Por outro lado, os indivíduos mais novos parecem considerar a modificação de

estilos de vida mais difícil.

A confirmação destes dados, através da análise de uma amostra maior e da informação relacionada com outros factores

descritos como associados à decisão terapêutica (Figura 1), permitirá caracterizar melhor este processo ao nível de uma

doença crónica como a Hipertensão e no contexto dos cuidados de saúde primários.

Agradecimentos• Equipa de entrevistadores da Unidade de Epidemiologia, pela recolha dos questionários

• Fundação para a Ciência e Tecnologia, co-financiadora do estudo DIMATCH-HTA - Determinantes e impacto da adesão e da mudança terapêutica nocontrolo da hipertensão arterial, em coortes de hipertensos imigrantes e não imigrantes, nos cuidados de saúde primários (PTDC/SAU-ESA/103511/2008)

•13º Programa “Educação pela Ciência”, GAPIC / FMUL, pelo financiamento deste projecto de investigação “Factores associados à Decisão Terapêutica naHipertensão – uma avaliação nos Cuidados de Saúde Primários, em Imigrantes e não-Imigrantes” (Ref. 2010044)

Bibliografia1. De Macedo M.E. et al. Prevalence, awareness, treatment and control of hypertension in Portugal. Rev Port Cardiologia, 26(1):21-39, 2007

2. Simões J.A. A consulta em Medicina Geral e Familiar. Revista Port uguesa de Clinica Geral; 25:197-8

3. Nicodème R et al. Poor blood pressure control in general practice: in search of explanations. Arch Card Disease, 102, 477-483, 2009