Atividade física de adultos nas capitais brasileiras e no ... · sangue pela insuficiência...
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DARTEL FERARI DE LIMA
Atividade fsica de adultos nas capitais brasileiras e no
Distrito Federal: um estudo transversal
Tese apresentada Faculdade de Medicina
da Universidade de So Paulo para obteno
do ttulo de Doutor em Cincias
Programa de Medicina Preventiva
Orientadora: Profa. Dra. Olinda do Carmo Luiz
Coorientadora: Profa. Dra. Renata Bertazzi Levy
So Paulo, 2014
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Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)
Preparada pela Biblioteca da
Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo
reproduo autorizada pelo autor
Lima, Dartel Ferrari de
Atividade fsica de adultos nas capitais brasileiras e no Distrito Federal: um estudo
transversal / Dartel Ferrari de Lima. -- So Paulo, 2014.
Tese(doutorado)--Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo. Programa de Medicina Preventiva.
Orientador: Olinda do Carmo Luiz.
Coorientador: Renata Bertazzi Levy.
Descritores: 1.Estilo de vida sedentrio 2.Doena crnica 3.Vigilncia em sade
pblica 4.Promoo da sade 5.Inquritos epidemiolgicos 6.Exerccio
7.Condicionamento fsico humano 8.Atividade motora
USP/FM/DBD-225/14
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DEDICATRIA
Dedico este Trabalho a Rene e Lohran Anguera Lima, meus amados filhos e a meus
amados pais, Helena e Amlio (in memorian).
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AGRADECIMENTOS
Incansavelmente, reforo minha gratido Profa. Dra. Olinda do Carmo Luiz, pela
orientao deste trabalho, cuja beleza dos gestos amigveis representou o sim para
este Jogo que insiste dizer no.
Minha gratido Dra. Renata Bertazzi Levy, pela coorientao deste trabalho.
Aos professores e funcionrios do Programa de Ps-Graduao do Departamento de
Medicina Preventiva da USP, pela partilha das informaes, em especial, Lilian
Santos de Godoy Prado, pela amizade e a Miriam Regina de Souza pela
normatizao do texto.
Ao professor Dr. Joo Carlos Catellan pelo retoque do texto e adequao lingustica.
Universidade Estadual do Oeste do Paran, em especial ao campus de Marechal
Cndido Rondon pela liberao de minhas atividades acadmicas.
E a voc meu amado Golden Retriver, por todos nossos momentos. Eu sinto tanto a
sua falta.
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Este trabalho recebeu
Bolsa do Programa de Demanda Social da
Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES) do
Ministrio de Educao
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Houzz! Houzz! Houzz!
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LISTA DE DEFINIO DE TERMOS
Angina pectoris dor torcica ocasionada por isquemia transitria do miocrdio.
Aptido fsica capacidade de suportar de esforo fsico.
Aterosclerose acmulo de material gorduroso nas paredes das artrias.
Atividade moderada atividade fsica com gasto de energia > 6 MET.
Atividade vigorosa atividade fsia com gasto de energia entre 3 a 6 MET
Cinesioterapia terapia fsica realizada mediante a utilizao de movimentos
corporais
Diabete tipo 2 diabetes mellitus no insulino dependente ou diabetes tardia
distrbio metablico caracterizado pelo elevado nvel de glicose no
sangue pela insuficincia relativa de insulina.
Dieta hipocalrica regime alimentar para emagrecimento.
Dislipidemia alteraes metablicas lipdicas decorrentes de distrbios em
qualquer fase do metabolismo lipdico, que ocasionem
repercusses nos nveis sricos de lipoprotenas (LP).
Ergoespirometria teste que possibilita determinar variveis respiratrias, metablicas
e cardiovasculares pela medida das trocas gasosas pulmonares
durante o exerccio.
Esforo aerbio esforo sustentado pela oxidao (intramitocondral) dos
combustveis, geralmente de baixa intensidade e longa durao e
sem produo de cido ltico muscular.
Esforo anaerbio esforo sustentado pela produo de energia por via no oxidativa
(extramitocondral), geralmente de alta intensidade e curta durao
com a produo de cido ltico (quando por via ltica).
Frequncia semanal quantidade de vezes por semana que a atividade fsica realizada.
Hipertenso arterial presso igual ou maior que 90/140 mmHg, exercida
sistmica sistematicamente nas paredes das arterial.
Insulinopnico p com capacidade secretria residual de insulina inadequada para
suplantar a necessidade metablica.
Intensidade reflete a grandeza do esforo (moderado ou vigoroso).
Lipoprotenas composto orgnico constitudo por uma protena cuja molcula est
associada a lipdeos.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Erro_metab%C3%B3lico_heredit%C3%A1riohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Hiperglicemiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Insulinahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Prote%C3%ADnahttp://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADpido
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MET medida energtica que equivale ao consumo de 3,5 ml O2/kg/min
em repouso.
Osteoporose doena que reduz a densidade e a massa dos ossos, provocando
aumento da fragilidade ssea e maior risco de fraturas.
Pedometria contagem dos passos; indica a distncia percorrida.
Quilocaloria (kcal) quantidade de energia necessria para elevar 1 grau Celsius a
temperatura de 1 litro de gua.
Supercompensao fase da teoria do princpio da sobrecarga que ocorre durante o
perodo de recuperao ideal do esforo fsico, na qual a desgaste
orgnico recomposto com um ganho adicional.
Volume quantidade de AF resultante do produto da frequncia semanal pela
durao do esforo.
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LISTA DE ABREVIATURAS
ACSM Colgio Americano de Medicina Esportiva.
AF atividade fsica.
AHA Associao Americana de Cardiologia
APS Ateno Primria em Sade.
AVD Atividade de vida diria.
BHF Fundao Inglesa do Corao.
CDC Centro de Controle e Preveno de Doenas.
DCNT doena crnica no transmissvel.
DP desvio padro
EU Unio Europeia.
FC frequncia cardaca.
HAS hipertenso arterial sistmica.
HDL protenas de alta densidade
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica.
IF inatividade fsica.
kcal quilocaloria.
LDL protenas de baixa densidade
MET equivalente metablico.
NAF nvel de atividade fsica.
NUPENS Ncleo de Pesquisas Epidemiolgicas em Nutrio e Sade.
OMS Organizao Mundial da Sade.
PAS presso arterial sistmica.
PS Promoo da Sade.
RR risco relativo.
SUS Sistema nico de Sade.
USDHHS Departamento de Sade e Servios Sociais dos Estados Unidos.
USP Universidade de So Paulo.
VIGITEL Vigilncia de Fatores de Risco e Proteo para Doenas Crnicas por Inqurito
Telefnico.
VS Vigilncia em Sade.
WHA Assembleia Mundial da Sade.
WHO Organizao Mundial da Sade.
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LISTA DE QUADROS E FIGURAS
Quadro 1. Principais benefcios atribudos atividade fsica ................................ 4
Quadro 2. Classificao do nvel de atividade fsica ........................................... 47
Figura 1. O continuum da atividade fsica ............................................................ 9
Figura 2. Modelo de curva de dose-resposta para a intensidade do esforo e
benefcios para a sade ........................................................................ 12
Figura 3. Resposta linear inversa ao volume de AF e benefcios para a sade .. 12
Figura 4. Modelo de curva de dose-resposta para a intensidade crescente de
esforo e benefcios para a sade ........................................................ 13
Figura 5. Princpio da sobrecarga ....................................................................... 22
Figura 6. Classificao regional do nvel de AF por diferentes
recomendaes .................................................................................... 62
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Nmero de linhas telefnicas sorteadas, linhas telefnicas elegveis e
entrevistas realizadas nas capitais dos estados brasileiros e no Distrito
Federal. VIGITEL, 2006 (MS, 2007) ......................................................... 39
Tabela 2. Gasto energtico para cada modalidade de exerccio fsico ou esporte
expresso em MET.min, obtido pelo produto da durao do esforo (em
minutos) com a mdia do gasto energtico para cada modalidade,
segundo o Compndio de Atividade Fsica proposto por Ainsworth
et al. em 2000 ............................................................................................ 44
Tabela 3. Distribuio da populao adulta e porcentagem segundo o nvel de
AF e diferentes diretrizes de AF nas capitais brasileiras e Distrito
Federal 2006. ........................................................................................... 50
Tabela 4. Teste de Concordncia de Kappa para o cruzamento do nvel de AF
mediante diferentes diretrizes para a populao adulta com idade 18
anos nas capitais brasileiras e Distrito Federal 2006 ............................... 51
Tabela 5. Frequncia da populao adulta com idade 18 anos segundo o
nvel de AF coincidente para as recomendaes do UE, IOM, ACSM,
OMS, IPAQ nas capitais brasileiras e Distrito Federal 2006 ................. 52
Tabela 6. Percentual da populao adulta que alcanou a meta de AF segundo
a diretriz da UE1, por sexo nas capitais brasileiras e Distrito Federal
2006 ............................................................................................................ 53
Tabela 7. Percentual da populao adulta que alcanou a meta de AF segundo
diretriz do IOM, por sexo, nas capitais brasileiras e Distrito Federal
2006 ............................................................................................................ 55
Tabela 8. Percentual da populao adulta que alcanou a meta de AF segundo
diretriz do ACSM, por sexo, nas capitais brasileiras e Distrito Federal
2006 ............................................................................................................ 57
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Tabela 9. Percentual da populao adulta que alcanou a meta de AF segundo a
diretriz da OMS, por sexo, nas capitais brasileiras e Distrito Federal
2006. ........................................................................................................... 59
Tabela 10. Percentual da populao adulta que alcanou a meta de AF segundo a
diretriz do IPAQ, por sexo, nas capitais brasileiras e Distrito Federal
2006 ............................................................................................................ 61
Tabela 11. Nvel de AF da populao adulta segundo variveis sociodemogrficas
nas capitais brasileiras e Distrito Federal 2006 ....................................... 64
Tabela 12. Nvel de AF da populao adulta segundo caractersticas de
comportamento individual nas capitais brasileiras e Distrito Federal
2006 ............................................................................................................ 66
Tabela 13. Percentual da populao adulta com idade 18 anos com histrico de
diagnstico mdico de DCNT, por sexo, segundo o nvel de AF
determinado pela OMS, nas capitais dos estados brasileiros e Distrito
Federal, 2006 .............................................................................................. 67
Tabela 14. Percentual da populao adulta distribuda segundo modalidade de
exerccio fsico ou esporte, e nvel de AF, nas capitais dos estados
brasileiros e Distrito Federal, 2006 ............................................................ 69
Tabela 15. Percentual da populao adulta com diagnstico mdico de hipertenso
arterial sistmica segundo modalidade de exerccio fsico ou esporte, e
nvel de AF, nas capitais dos estados brasileiros e Distrito
Federal, 2006 .............................................................................................. 71
Tabela 16. Percentual da populao adulta com diagnstico mdico de diabetes
segundo modalidade de exerccio fsico ou esporte, e nvel de AF nas
capitais dos estados brasileiros e Distrito Federal, 2006 ............................ 73
Tabela 17. Percentual da populao adulta com IAM e/ou AVC segundo modalidade
de exerccio fsico ou esporte e nvel de AF nas capitais dos estados
brasileiros e Distrito Federal, 2006 ............................................................ 75
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Tabela 18. Percentual da populao adulta com dislipidemia segundo modalidade
de exerccio fsico ou esporte e nvel de AF, nas capitais dos estados
brasileiros e Distrito Federal, 2006 ............................................................ 77
Tabela 19. Percentual da populao adulta com osteoporose segundo modalidade
de exerccio fsico ou esporte e nvel de AF, nas capitais dos estados
brasileiros e Distrito Federal, 2006 ............................................................ 79
Tabela 20. Percentual da populao adulta segundo periodicidade e nvel de AF,
nas capitais dos estados brasileiros e Distrito Federal, 2006 ..................... 81
Tabela 21. Percentual da populao adulta segundo durao do esforo (minutos)
e nvel de AF, nas capitais dos estados brasileiros e Distrito
Federal, 2006 .............................................................................................. 84
Tabela 22. Distribuio da populao adulta insuficientemente ativa, antes e aps
a simulao de aumento da frequncia semanal e da durao do esforo,
nas capitais brasileiras e Distrito Federal 2006 ....................................... 86
Tabela 23. Percentual da populao adulta com idade 18 anos e diagnstico
mdico referido para DCNT, por sexo, para a periodicidade e durao
da AF, segundo a recomendao de AF determinada pela OMS, nas
capitais dos estados brasileiros e Distrito Federal, 2006 ............................ 88
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SUMRIO
LISTA DE DEFINIO DE TERMOS
LISTA DE ABREVIATURAS
LISTA DE QUADROS E FIGURAS
LISTA DE TABELAS
RESUMO
ABSTRACT
APRESENTAO
1. INTRODUO .................................................................................................................... 1
1.1 EFEITOS DA ATIVIDADE FSICA NA SADE ................................................. 2
1.1.1 Doena cardiovascular................................................................................. 5
1.1.2 Doena cerebrovascular. .............................................................................. 5
1.1.3 Dislipidemia ................................................................................................ 6
1.1.4 Hipertenso arterial sistmica ...................................................................... 6
1.1.5 Diabetes tipo 2 ............................................................................................. 7
1.1.6 Osteoporose ................................................................................................. 7
1.2 DEFINIO E CARACTERSTICAS DA ATIVIDADE FSICA ......................... 8
1.3 RELAO DOSE-RESPOSTA ............................................................................. 11
1.4 EFEITOS ADVERSOS DA ATIVIDADE FSICA .............................................. 14
1.5 CARACTERSTICAS SOCIODEMOGRFICAS DA ATIVIDADE FSICA .... 15
1.6 DIRETRIZES E RECOMENDAES DE ATIVIDADE FSICA ....................... 16
1.6.1. Recomendaes de atividade fsica pelo Colgio Americano de Medicina
Esportiva .................................................................................................. 17
1.6.2 Recomendaes de atividade fsica pelo Comit Executivo responsvel
pelo Questionrio Internacional de Atividade Fsica IPAQ .................. 18
1.6.3 Recomendaes de atividade fsica pelo Instituto de Medicina dos Estados
Unidos ...................................................................................................... 19
1.6.4 Recomendaes de atividade fsica pela Unio Europeia ......................... 19
1.6.5 Recomendaes de atividade fsica pela Organizao Mundial da Sade 20
1.7 CONTROVRSIAS E CONSENSOS NAS RECOMENDAES DE
ATIVIDADE FSICA ........................................................................................... 21
1.7.1 Frequencia semanal ................................................................................... 21
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1.7.2 Intensidade do esforo ............................................................................... 23
1.7.3 Durao do esforo .................................................................................... 24
1.7.4 Dose de atividade fsica ............................................................................ 24
1.7.5 Minorias populacionais ............................................................................. 27
1.7.6 Recomendaes crianas e jovens ............................................................. 28
1.7.7 Exerccios especficos ............................................................................... 29
1.7.7.1 Musculao .................................................................................. 29
1.7.7.2 Flexionamento .............................................................................. 30
1.7.7.3 Aquecimento e desaquecimento ................................................... 30
1.7.8 Eventos adversos nas recomendaes ....................................................... 31
1.7.9 Concordncias nas diretrizes ..................................................................... 31
1.7.10 Adeso atividade fsica ......................................................................... 32
1.8 PROMOO DA ATIVIDADE FSICA .............................................................. 33
1.9 SISTEMA VIGITEL .............................................................................................. 35
2. OBJETIVOS .................................................................................................................. 37
3. METODOLOGIA ............................................................................................................... 38
3.1 TIPO DE ESTUDO ................................................................................................ 38
3.2 AMOSTRAGEM E COLETA DE DADOS ........................................................... 38
3.3 DESCRIO DE VARIVEIS ............................................................................. 42
3.3.1 Domnios da atividade fsica ..................................................................... 42
3.3.2 Modalidades de exerccio fsico ou esporte ............................................... 42
3.3.3 Deslocamento ativo ................................................................................... 42
3.3.4 Durao e frequncia da atividade fsica ................................................... 43
3.3.5 Intensidade do esforo ............................................................................... 43
3.3.6 Variveis sociodemogrficas ..................................................................... 45
3.3.7 Variveis de comportamento individual .................................................... 45
3.3.8 Diagnstico de DCNT ............................................................................... 46
3.3.9 Determinao do nvel da atividade fsica ................................................. 46
3.3.10 Comparao entre as recomendaes ...................................................... 46
3.4. ANLISE DOS DADOS ...................................................................................... 47
3.5 QUESTES TICAS ............................................................................................. 48
4. RESULTADOS .................................................................................................................. 49
4.1 CARACTERSTICAS SOCIODEMOGRFICAS DA AMOSTRA .................... 49
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4.2 CLASSIFICAO DO NVEL DE ATIVIDADE FSICA ............................................. 49
4.2.1 Atividade fsica segundo a diretriz da Unio Europeia ............................. 52
4.2.2 Atividade fsica segundo a diretriz do Instituto de Medicina dos Estados
Unidos ...................................................................................................... 54
4.2.3 Atividade fsica segundo a diretriz do Colgio Americano de Medicina
Esportiva .................................................................................................. 56
4.2.4 Atividade fsica segundo a diretriz da Organizao Mundial da Sade .... 58
4.2.5 Atividade fsica segundo a diretriz do Comit Executivo responsvel pelo
Questionrio Internacional de Atividade Fsica ....................................... 60
4.3 ATIVIDADE FSICA SEGUNDO VARIVEIS SOCIODEMOGRFICAS ...... 62
4.4 ATIVIDADE FSICA SEGUNDO O COMPORTAMENTO INDIVIDUAL ...... 65
4.5 ATIVIDADE FSICA SEGUNDO DIAGNSTICO DE DOENAS CRNICAS
NO TRANSMISSVEIS .................................................................................... 66
4.6 MODALIDADES PREFERIDAS PARA A PRTICA DE ATIVIDADE
FSICA .................................................................................................................. 68
4.7 PERIODICIDADE SEMANAL DA ATIVIDADE FSICA ................................. 80
4.8 DURAO DA SESSO DE ATIVIDADE FSICA .......................................... 83
5. DISCUSSO .................................................................................................................. 89
5.1 SNTESE DOS RESULTADOS ............................................................................ 89
5.2 LIMITAO DO ESTUDO .................................................................................. 90
5.3 INTERPRETAO DOS RESULTADOS ............................................................ 92
5.3.1. Eixo I Diferentes formas de recomendar atividade fsica ...................... 92
5.3.2 Eixo II Variveis sociodemogrficas e comportamentais na prtica da
atividade fsica ......................................................................................... 94
5.3.2.1 Sexo .............................................................................................. 94
5.3.2.2 - Idade .......................................................................................... 95
5.3.2.3 Escolaridade ................................................................................. 97
5.3.2.4 Etnia/cor ....................................................................................... 99
5.3.2.5 Estado conjugal .......................................................................... 101
5.3.2.6 Conhecimento sobre local para atividade fsica ......................... 102
5.3.2.7 Variaes regionais .................................................................... 104
5.3.2.8 Consumo de tabaco .................................................................... 105
5.3.2.9 Consumo de bebida alcolica ..................................................... 106
5.3.2.10 Estado de sade ........................................................................ 107
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5.3.3 Eixo III Componentes da atividade fsica ................................................................. 108
5.3.3.1Durao do esforo ..................................................................... 109
5.3.3.2 Frequncia da atividade fsica .................................................... 109
5.3.3.3 Intensidade do esforo fsico ...................................................... 111
5.3.4 Eixo IV Atividade Fsica em portadores de Doenas Crnicas no
Transmissveis ........................................................................................ 113
5.3.4.1 Hipertenso arterial sistmica .................................................... 113
5.3.4.2 Dislipidemia ............................................................................... 115
5.3.4.3 Diabetes ...................................................................................... 116
5.3.4.4 Osteoporose ................................................................................ 119
5.3.4.5 Infarto agudo do miocrdio e/ou acidente vascular cerebral ...... 121
5.4 Consideraes finais ................................................................................... 122
6. BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................. 124
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RESUMO
Lima DF. Atividade fsica de adultos nas capitais brasileiras e no Distrito Federal:
um estudo transversal [tese]. So Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de
So Paulo; 2014.
INTRODUO: Existem dvidas em relao atividade fsica (AF) de adultos
residentes nas capitais brasileiras e no Distrito Federal no que tange organizao e
execuo desta prtica. Neste estudo avaliamos a prevalncia de AF segundo cada
uma das principais diretrizes internacionais que recomendam a AF para a promoo
da sade e exploramos as divergncias e consensos na classificao do nvel da AF.
Avaliamos tambm a associao entre caractersticas sociodemogrficas e
comportamentais com a prtica da AF, como os principais componentes da AF se
relacionam na determinao do nvel da AF individual e descrevemos o padro nos
portadores de doenas crnicas no transmissveis (DCNT). METODOLOGIA: Os
participantes foram selecionados a partir de dados prvios do Sistema de Vigilncia
de Fatores de Risco e Proteo para Doenas Crnicas por Inqurito Telefnico para
as estimativas sobre frequncia e distribuio sociodemogrfica de fatores de risco e
proteo para doenas crnicas nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito
Federal em 2006. RESULTADOS: Foram elegveis 54.369 participantes sendo
51,5% classificados como inativos. Houve divergncias importantes na graduao da
AF pelas principais diretrizes entre os ativos (Kappa = 0,4). A frequncia das sesses
de AF foi o aspecto que mais contribuiu para a determinao do grau de AF.
Recomendao que orienta a frequncia diria resultou em uma prevalncia menor
de AF suficiente. As que orientam volume semanal, sem determinar frequncia
mnima tiveram as maiores prevalncias de AF suficiente. Como decorrncia dessa
divergncia, a prevalncia de AF suficiente nas cidades abordadas variou,
distinguindo diferentes rankings conforme a recomendao adotada. Cerca de 90%
da populao ativa realizava sesses com durao entre 30 a 60 minutos e no houve
diferena significante entre o grupo que alcanou e o que no alcanou a meta da
recomendao. A quase totalidade (90%) dos participantes que alcanou a meta se
exercitava trs ou mais vezes na semana e 80% dos que no alcanaram a meta se
exercitavam entre 1 a 2 vezes na semana. A caminhada, o futebol e a musculao
foram as modalidades de exerccio fsico ou esporte mais frequentes. Encontramos
maior prevalncia de AF em homens. Negros e amarelos foram fisicamente mais
ativos, e a AF diminuiu com a idade, com menor escolaridade e com viuvez.
Aproximadamente 65% da populao consideraram a sua sade boa ou excelente e
entre os que a consideraram ruim, a maioria estava inativa. O deslocamento ativo e a
dieta hipocalrica so caractersticas predominantes dos participantes ativos. O
tabagismo foi mais frequente entre os inativos e o maior consumo de bebidas
alcolicas ocorreu entre os ativos. As pessoas fisicamente ativas mais
frequentemente conheciam instalaes prprias para a prtica de AF nas
proximidades de suas moradias. A inatividade fsica (62%) foi uma caracterstica
destacada entre os participantes portadores de DCNT. No conjunto 70% dos
portadores de alguma DCNT no alcanaram a recomendao mnima de AF.
-
CONCLUSES: O nvel de AF variou muito entre as diretrizes que recomendam a
AF. Para uma boa parte desta populao, a resposta para a pergunta: "estou fazendo
AF suficiente para a minha sade?" Pode ser simultaneamente sim e no,
dependendo do critrio da recomendao escolhida. Dentre os insuficientemente
ativos, a durao do esforo em cada sesso foi adequada na maioria dos relatos, o
que tornou a AF insuficiente foi a baixa frequncia. Pensar estratgias que aumentem
a frequncia semanal para 2 a 3 dias pode elevar o nvel de AF para 90% dos
insuficientemente ativos.
Descritores: estilo de vida sedentrio, doena crnica, vigilncia em sade pblica,
promoo da sade, inquritos epidemiolgicos, exerccio, condicionamento fsico
humano, atividade motora.
-
ABSTRACT
Lima DF. Physical activity in adults in the brazilian capitals and in the Federal
District: a cross-sectional study [these]. So Paulo: Faculdade de Medicina,
Universidade de So Paulo; 2014.
.
INTRODUCTION: In regards to the organization and implementation of physical
activity (PA), there are many doubts related to the PA in adults residing in the
capitals of the federation and in the Federal District. This study evaluated the
prevalence of PA according to each of the main international guidelines that
recommends the practice of PA for good health, explores its divergences, and also
the concordances of the PA level classification. We also evaluated the association
between the sociodemographic and behavioral characteristics to the practice of PA.
More specifically, we focused on how the main components of the PA relates to
themselves to determine the level of individual PA and which patterns are present in
patients with chronic non-communicable diseases (CNCD). METHODOLOGY:
Participants were selected from previous data that the System of Risk Factors
Surveillance and Chronic Diseases Protection Telephone Survey, which was used for
the estimation of frequency and sociodemographic distribution of risk and protective
factors for chronic diseases in the 26 Brazilian state capitals and in the Federal
District in 2006. RESULTS: There were 54,369 eligible participants of which 51.5%
classified as inactive. There were important divergences in the PA graduation by the
main guidelines among the active participants (Kappa = 0.4). The PA session
frequency was the main reason that most contributed to the determination of the PA
degree. The recommendation, which guides the daily frequency, resulted in the
lowest prevalence of enough PA. The recommendations that guide weekly volume
without determining minimum frequency had the highest prevalence of enough PA.
As a result of this divergence, the prevalence of enough PA in the addressed cities
ranged in different distinguishing rankings according to the adopted
recommendation. About 90% of the active population performed sessions which
lasted between 30 to 60 minutes. From this data, it was evident that there was no
significant difference between the group which achieved the recommended PA and
the the group which did not achieve the goal of the recommended PA level. Almost
all of the participants (90%) who achieved the goal of recommended PA levels
exercised three or more times a week and 80% of those who did not reach the goal
exercised between 1 to 2 times a week. Trekking, soccer and weightlifting were the
most frequent physical exercise modalities or sports performed. We found a higher
prevalence of PA in men than in women. Furthermore, the study showed that Blacks
and Yellows were more physically active. The amount PA level decreased with age,
decreased amongst those with less education and amongst those who were widowed.
Approximately 65% of the population considered their health good or excellent and
among those who considered it bad, the majority were inactive. Active commuting
and hypocaloric diets are predominant characteristics of the active participants.
Smoking was more common among the inactive participants but higher alcohol
consumption occurred among those that were active. Physically active people
-
frequently knew more suitable facilities for the PA practice near their homes.
Physical inactivity (62%) was a prominent characteristic among the participants
suffering from CNCD. Overall, 70% of the participants suffering from any CNCD
did not attain the minimum recommendations of PA. CONCLUSIONS: The PA
levels varied widely among the guidelines that recommend PA. For a large portion of
the population, the answer to the question of whether one is doing enough PA for
ones health can simultaneously be "yes" and "no", depending on the criterion of the
chosen recommendation. Among the insufficiently active population, the exercise
duration in each session was adequate enough in most reports but what made the PA
insufficient was the low frequency. Thinking about strategies to increase the weekly
frequency for 2 to 3 days can raise the level of PA for 90% of the insufficiently
active population.
Descriptors: sedentary lifestyle, chronic disease, public health surveillance, health
promotion, health surveys, exercise, physical conditioning human, motor activity.
-
APRESENTAO
A definio do termo sade mudou consideravelmente no decorrer da
histria. Hoje, seu entendimento mais do que somente ausncia de doena. A
Organizao Mundial de Sade props, a partir de 1946, uma definio abrangente
de sade, onde sade vista como um recurso para a vida e no como uma finalidade
da vida (WHO, 2010). Em outras palavras, a promoo da sade o processo que d ao
sujeito maneiras de garantir maior controle sobre sua prpria sade. Assim, este processo
procura propor mudanas para estilos de vida na promoo do bem-estar. nesta forma
de compreenso que a promoo dos nveis de atividade fsica (AF) e a diminuio das
taxas de inatividade fsica assumem um relevante papel para que tal processo possa ser
efetivado.
Nesta pauta, observa-se que diferentes organizaes e agncias
governamentais, muito embora persigam os mesmos objetivos, propem-se a
recomendar a prtica de AF de modos diferentes, ou seja, recomendam uma
quantidade mnima de AF que resulte em efeitos substanciais para a sade. Assim,
observaes informais sobre dados existentes da prtica de AF de adultos residentes
nas capitais dos Estados e no Distrito Federal despertaram o interesse de ampliar a
explorao das informaes sobre como esta populao organiza a prtica de AF e de
verificar indcios de causas que possam contribuir para o alcance ou no das metas
recomendadas.
com esta problemtica sendo transformada em objeto de estudo, ou
seja, sendo usada para a construo de uma Tese, que este estudo se constri e se
apresenta como um caminho a ser perseguido. Nela, a primeira seo desenvolve os
conceitos e as definies bsicas do tema central, objetivando relacionar a prtica da
AF com a sade pblica, destacar a promoo da AF e os riscos decorrentes da
inatividade fsica, as estratgias brasileiras para a orientao e a superviso da prtica
de AF e o sistema de monitoramento e acompanhamento destas estratgias. Em
seguida, apresenta a seleo das organizaes e agncias governamentais destacadas
e remete s suas recomendaes para a AF. Foram elas que serviram de base para a
-
concordncia (ou no) com a sua classificao do nvel de AF, para o destaque das
suas diferenas e semelhanas e para a procura de identificao das suas lacunas e
potencialidades.
A segunda seo apresenta os aspectos metodolgicos, destacando o uso
do banco de dados do Sistema de Vigilncia de Fatores de Risco e Proteo para
Doenas Crnicas por Inqurito Telefnico VIGITEL, de 2006, cuja anlise
permitiu verificar o padro de organizao da prtica de AF de uma amostra
probabilstica representativa da populao brasileira de adultos de 26 capitais e do
Distrito Federal.
A terceira seo apresenta a descrio dos resultados organizados em
tabelas. A quarta seo discute os resultados em quatro eixos: 1) variveis
sociodemogrficas e comportamentais; 2) componentes da atividade fsica; 3)
diferentes formas de recomendar AF e; 4) AF em portadores de doenas crnicas no
transmissveis (DCNT). Na quinta e ltima seo, apresentam-se as concluses e as
consideraes finais do estudo, com o objetivo de produzir mais informaes que
possam, de alguma forma, aumentar o dilogo em direo do crescimento dos nveis
de AF e da diminuio da inatividade fsica.
A verso apresentada nesta Tese no inclui as modificaes sugeridas
pela Banca Examinadora.
-
1
1. INTRODUO
As ltimas dcadas apresentaram uma inverso no perfil da
morbimortalidade global, com diminuio da prevalncia das doenas infecciosas e
aumento das doenas crnicas. Este novo perfil da sade fez crescer o interesse pelos
fatores associados s doenas crnicas. O baixo nvel populacional de atividade
fsica (AF) um desafio atual em sade pblica, considerando que: a inatividade
fsica um fator modificvel que tem se mostrado associado a uma maior frequncia
de doenas crnicas e degenerativas; a prtica regular de AF recomendada na
preveno e tratamento destas doenas e que a prevalncia da prtica de AF baixa
tanto em pases de economia central quanto naqueles de economia perifrica (Hallal,
2012).
Assim, numerosos estudos epidemiolgicos tm demonstrado que a
atividade fsica (AF) regular benfica para a promoo da sade (Morimoto et al.,
2006; USDHHS, 2008a; Boyle et al., 2010). Os dados que comprovam os seus
benefcios foram produzidos principalmente a partir de estudos independentes que
apresentam ndices consistentes e com pouca ou nenhuma evidncia contrria,
estabelecendo uma robusta solidez em termos de dose-resposta e reforando a
concluso de um nexo de causalidade convincente (CDC, 2008) entre os dois
campos, embora a natureza dessa associao no seja completamente compreendida
(McAuley et al., 2006; White, Warren et al., 2009).
Neste sentido, esta tese foi conduzida com o objetivo de identificar o
perfil da AF no cotidiano de brasileiros adultos residentes em grandes centros
urbanos e de responder a algumas questes: Qual o padro da AF na organizao
dos exerccios fsicos ou dos esportes praticados? Diferentes diretrizes podem
recomendar a prtica de AF e classificar diferentemente o nvel de um mesmo
participante diante das mesmas informaes? Quais so as caractersticas
sociodemogrficas da populao que ainda no alcanou a meta mnima de AF
recomendada? Onde residem os brasileiros mais e menos ativos? Quais so as
propriedades que diferenciam os praticantes de AF que alcanam a meta e os que no
-
2
alcanam? Como os portadores de doenas crnicas estruturam os exerccios fsicos
e qual o seu nvel de AF?
1.1 EFEITOS DA ATIVIDADE FSICA NA SADE
Ao mdico ingls Jeremy Morris, em 1953 creditado s primeiras
investigaes sobre os perigos de sade associados ao estilo de vida pouco ativo cujo
resultado foi o maior risco de doenas coronrias em profissionais que trabalhavam
em servios fisicamente menos exigentes, ao comparar motoristas com cobradores de
nibus no Reino Unido e escriturrios com carteiros nos Estados Unidos (Blair,
Monte e Nichaman, 2004). Desde ento, considervel volume de pesquisa confirmou
e ampliou a teoria de que a AF reduz significativamente o risco de doenas
cardiovasculares. Cite-se, por exemplo, o estudo de Kohl et al.,(2012).
Estes primeiros estudos foram importantes por levantarem trs questes
fundamentais: a primeira trata do desempenho fsico e da reduo da incidncia de
doenas cardiovasculares como eventos associados; a segunda indica a necessidade
de investigar a relao da prtica de AF como agente promotor de sade; e a terceira
busca determinar se os diferentes modos de organizar a AF afetam as respostas
encontradas. Como resultado desse movimento, os estudos tm demonstrado que as
oportunidades e as condies para ser fisicamente ativo tendem a diminuir a partir da
vida adulta. Em mbito mundial, trs explicaes justificam essa tendncia: o
envelhecimento da populao, a urbanizao no planejada e as mudanas sociais;
cada uma delas contribui com comportamentos que criam caminhos para a
inatividade fsica.
Segundo a Organizao Mundial da Sade, a inatividade fsica o quarto
fator de risco mais importante para a mortalidade por todas as causas (WHO, 2010).
Estima-se que a inatividade fsica seja responsvel por 6% da carga de doena de
doena cardaca coronria, 7% de diabetes do tipo 2; 10% de cncer de mama e 10%
de cncer de clon. A inatividade provocou 9% da mortalidade prematura (mais de
5,3 milhes) das 57 milhes de mortes ocorridas no mundo em 2008. Se inatividade
-
3
fsica fosse diminuda em 25%, mais de 1,3 milhes de mortes, poderiam ser evitadas
a cada ano no mundo.
No Brasil, cerca de 60 a 70% da populao se encontra abaixo das
recomendaes globais de AF. A prevalncia elevada da inatividade fsica ou da
prtica insuficiente de AF foi considerada responsvel por 53.673 mortes em 2008,
por 3 a 5% das principais doenas crnicas no transmissveis e por 5,31% das
mortes por todas as causas (Rezende et al., 2014).
A OMS e outras agncias governamentais, como exemplo, a Unio
Europeia, recomendam em suas diretrizes que a AF seja tratada com prioridade pelas
polticas de sade pblica, com abordagens amplas e sustentveis que garantam
maior visibilidade AF (Idesporto, 2009).
Por outro lado, os estudos tambm tm tematizado a inatividade fsica e
mostram seu impacto em algumas alteraes fisiolgicas, particularmente as de
natureza circulatria, como reduo do volume de sangue, hipotenso ortosttica e
reduo da absoro mxima de oxignio, dentre outras. A falta de AF provoca,
tambm, alteraes metablicas significativas, como a reduo da capacidade
oxidativa, a tolerncia diminuda da glicose, o desenvolvimento de lipidemias e o
aumento da excreo urinria de clcio. A atrofia muscular, por fim, detectvel
com certa facilidade. As mudanas relacionadas a ela so reprodutveis e podem ser
revertidas com a prtica de exerccios fsicos (CDC, 2010).
Outra influncia da AF muito tematizada na literatura cientfica sobre
as doenas crnicas no transmissveis (DCNT). As DCNT ameaam a qualidade de
vida de milhes de pessoas e apresentam grande impacto no financiamento da sade
pblica, principalmente nos pases de economia perifrica. A Organizao Mundial
da Sade (OMS) estima que o nmero total de mortes por doenas crnicas tender a
aumentar 17% na prxima dcada e que a taxa de mortalidade por DCNT ser duas
vezes maior (ou mais) que a taxa de mortalidade por doenas infecciosas (WHO,
2009).
Dado este cenrio, a OMS props aos Estados-Membros compromissos
para a reduo das taxas de morbimortalidade por DCNT, partindo da premissa de
que essas afeces so potencialmente evitveis. A 57 Assembleia Mundial da
-
4
Sade props, entre outras medidas, a adoo de estilo de vida ativo, por meio da
Resoluo WHA 57.17 Estratgia Global para a alimentao, atividade fsica e
sade (OMS, 2009).
No Quadro 1, apresentada uma sntese dos principais benefcios da AF
para a sade, juntamente com a respectiva fora das evidncias que os comprovam
(USDHHS, 2008b; Aoyagi et al., 2010).
Quadro 1. Principais benefcios atribudos atividade fsica
Doena / Condio Evidncias
Menor risco de doena cardiovascular
Menor risco de AVC
Menor risco de morte prematura
Menor risco de lipidemias
Controle do excesso de peso/obesidade (sem dieta
hipocalrica)
Perda de peso associada dieta hipocalrica
Menor risco de diabetes tipo 2
Menor risco de hipertenso arterial sistmica
Menor risco de cncer de clon
Menor risco de cncer de mama
Menor risco de cncer de pulmo
Menor risco de cncer endometrial
Menor risco de quedas nos idosos
Aumento da densidade ssea (idosos)
Preveno da osteoporose
Melhor funcionamento cardiopulmonar
Melhor bem-estar geral
Estado de sade (sensao subjetiva)
Digesto e regulao do trnsito intestinal
Manuteno das funes motoras
Melhora das funes cognitivas
Reduo da depresso e da demncia
Absentismo laboral (baixas por doena)
Nvel de estresse
Qualidade do sono, autoimagem e autoestima
Forte
Forte
Forte
Forte
Moderada
Forte
Forte
Forte
Forte
Forte
Moderada
Moderada
Forte
Moderada
Forte
Forte
Moderada a forte
Moderada a forte
Forte
Forte
Forte
Forte
Moderada
Moderada a forte
Moderada a forte
FONTE: USDHHS,1 2008b.
1 O Departamento Nacional de Sade e Servios Humanos dos EUA (USDHHS) a
principal agncia de sade do governo dos Estados Unidos. Em 2008 renovou as
orientaes e recomendaes sobre a importncia de ser fisicamente ativo, promover
a sade e reduzir o risco de doenas crnicas.
-
5
1.1.1 Doena cardiovascular
Os benefcios para a sade cardiovascular, mediante a realizao de AF
regular, tm sido documentados por vrios estudos. Resultados de metanlises
indicam que o risco de doenas cardaco-coronrias dobra em participantes menos
ativos, quando eles so comparados com participantes mais ativos. Os estudos
disponveis indicam que h uma relao dose-resposta inversa entre a prtica de AF
regular e o risco de morte e de eventos cardiovasculares em geral e, em particular,
daqueles causados por insuficincia coronria. O estudo de Schuler et al. (1992)
analisou aproximadamente 3 mil pacientes com relato de angina pectori duranter 12
meses. Em relao ao grupo de interveno, alm do tratamento clnico de rotina, foi
introduzido AF moderada de 30 minutos por dia. O controle angiogrfico mostrou
que, neste, houve a diminuio mdia de 32% no grau da insuficincia coronria,
quando comparado ao grupo de controle, que s recebeu o tratamento clnico.
Outro estudo, ainda, mostrou que os pacientes que realizaram AF
moderada apresentaram um risco 11% menor de desenvolver eventos cardacos
adversos, ao ser cotizado com grupo com AF de alta intensidade (Swain e Franklin,
2006).
Homens e mulheres japoneses fisicamente ativos que residiam no Japo e
homens mais velhos (japoneses) residentes no Hava apresentaram menores taxas de
mortalidade por doena cardiovascular do que as suas contrapartes menos ativas.
Resultados semelhantes foram relatados para mulheres chinesas que vivem em
Xangai e homens e mulheres chineses que vivem em Hong Kong (CDC, 2010).
1.1.2 Doena cerebrovascular
Os dados sobre doenas cerebrovasculares (AVC) e a sua associao com
a prtica de AF so menos numerosos e conclusivos, quando comparados s doenas
cardiovasculares. H, no entanto, evidncias que mostram o efeito protetor da AF
para as leses vasculares no crebro. Haskell et al. (2009) evidenciaram uma relao
inversa entre o grau do condicionamento fsico e a incidncia de AVC. A mesma
relao pode ser observada entre um grupo de interveno que se exercitava em um
-
6
nvel de esforo moderado em comparao com um grupo de pessoas sedentrias . A
AF com esforo de maior intensidade parece no trazer benefcios adicionais de
proteo quando comparado ao esforo moderado. A regularidade da AF moderada
parece ser o fator de maior proteo em relao ao risco de ocorrncia de AVC (Liao
et al., 2009).
1.1.3 Dislipidemia
A aterosclerose um dos principais fatores da mecnica obstrutiva dos
vasos coronarianos ao longo do tempo. Os nveis de colesterol e triglicerdios esto
fortemente associados gnese do ateroma na parede arterial. Nesta perspectiva, h
fortes evidncias de que a AF com gasto de energia entre 1.200 e 2.200 quilocalorias
(kcal) por semana pode contribuir para reduzir a taxa total de colesterol e o colesterol
de baixa densidade (LDL), assim como para aumentar a taxa de colesterol de alta
densidade (HDL) e diminuir a taxa srica de triglicerdios (Leon e Sanches, 2001).
1.1.4 Hipertenso arterial sistmica
A presso arterial sistmica, quando est elevada, representa um fator de
impacto fisiolgico sobre o sistema hemodinmico arterial. Durante o esforo
intenso, a presso arterial sistmica tende a aumentar, paralelamente ao aumento de
resultados adversos agudos por causas circulatrias (Churilla e Ford, 2010). De modo
contrrio, a AF regular, moderada e de longa durao parece se associar de modo
positivo reduo da presso arterial sistmica e, quase sempre, indicada como
terapia coadjuvante no controle da presso arterial sistmica. Estas concluses so
apoiadas por vrios estudos (Rafferty et al., 2002; Tully et al., 2007; Caban-Martinez
et al., 2010). No obstante, a metanlise realizada por Fagard (2001) (que reuniu
somente ensaios clnicos) mostrou uma diminuio significativa da presso arterial
sistlica e diastlica (3,4 e 2,4 mmHg, respectivamente, (p
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7
1.1.5 Diabetes tipo 2
O exerccio fsico tem efeito hipoglicmico agudo devido
potencializao da concentrao de insulina no plasma. Cauza et al. (2006)
mostraram que o exerccio fsico diminui a glicemia sangunea em jejum e aumenta a
sensibilidade insulina perifrica e heptica entre 12 e 16 horas aps o esforo.
Assim, o exerccio fsico pode ajudar no controle dos nveis de acar no sangue. O
mecanismo fisiolgico que suporta esta tese indica o aumento da sntese do
glicognio e o aumento e ativao do nmero de transportadores de glicose (Sigal et
al., 2007). No entanto, o tipo da diabete deve ser considerado. Os insulinopnicos
no respondem em proporo igual aos benefcios especficos da AF, postos em
contraste com os portadores de hiperglicemia moderada e com a fase inicial da
intolerncia aos carboidratos (Eriksson et al., 1997).
Outro fator a considerar a resposta intensidade do esforo. Exerccios
anaerbios produzem um efeito mnimo na melhora da tolerncia glicose. Parece
que os efeitos benficos da AF so atribudos essencialmente ao esforo aerbio e a
maior eficcia no controle glicmico enfatiza a necessidade de sesses repetidas pelo
menos 3 vezes por semana (Riddel e Burr, 2011).
Recentemente, Bull et al., (2010) mostraram que programas que
envolvem resistncia (pesos) ao esforo muscular reduzem significativamente os
nveis de glicose sangunea, desde que os processos oxidativos do metabolismo
energtico sejam tambm fortemente ativados.
1.1.6 Osteoporose
A osteoporose se caracteriza pela diminuio do clcio sseo e
deteriorao da massa estrutural do tecido sseo, levando fragilidade dos ossos e ao
aumento da susceptibilidade s fraturas. Ela afeta principalmente as pessoas idosas e
mais comum entre as mulheres, principalmente aps o climatrio (Vainionpaa,
2006).
A AF pode desempenhar um papel importante no desenvolvimento da
massa ssea durante a infncia e a adolescncia, na manuteno da massa esqueltica
-
8
na idade adulta e na desacelerao da reduo na densidade mineral ssea que
aparecem com o envelhecimento, o repouso ou a imobilidade (Koike, 2005;
Suominen, 2006).
De particular interesse para a sade pblica, a prtica de AF pode
prevenir ou retardar a perda de massa ssea ao longo da vida. A resistncia externa
imposta aos msculos e o grau do impacto sseo parecem ser fatores cruciais e
determinantes para estimular e manter a massa ssea saudvel. Assim, provvel
que exerccio com estas caractersticas possam ter efeitos mais pronunciados do que
outros. Porm, embora este princpio mostre uma forte aceitao pela comunidade
cientfica, ele ainda no est inequivocamente estabelecido (OMS, 2004; Pattersen e
Warburton, 2009).
Os principais benefcios da AF para a sade esto claramente delineados
pela literatura cientfica, no entanto, importante sublinhar que, muitas vezes, usa-se
a noo de AF como sinnimo de prtica de exerccios fsicos, assim como comum
usar a inatividade fsica para definir comportamento sedentrio. Embora estes
conceitos mantenham relaes de semelhana entre si, h nuances em suas
definies.
1.2 DEFINIO E CARACTERSTICAS DA ATIVIDADE FSICA
A AF um comportamento complexo e multidimensional que pode ser
entendido como "todo movimento corporal produzido pelo acionamento dos
msculos esquelticos resultando em aumento substancial do gasto energtico acima
do metabolismo de repouso" (Kenneth e Christenson, 1985).12
A AF pode ser dividida em diferentes domnios(USDHHS, 2010a):
1) Atividade desportiva (performance);
2) Atividade no tempo de lazer (tempo livre);
3) Atividades laborais (no trabalho formal e no lar);
4) Atividade no transporte ativo (deslocamento a p ou de bicicleta);
5) Atividade fsica para reabilitao (cinesioterapia).
1Esta definio de AF atualmente adotada pela Organizao Mundial da Sade.
-
9
O exerccio fsico um subconjunto da AF, especializado e organizado
de forma planejada, repetida e executada com objetivos especficos. Assim, embora
todo o exerccio fsico seja uma AF, nem toda AF necessariamente um exerccio
fsico (USDHHS, 2008b).
O exerccio fsico, de um modo geral, apresenta trs componentes que
descrevem a sua estrutura (Matvev, 2001):
a) Durao do esforo (minutos);
b) Frequncia semanal (dias);
c) Intensidade do esforo (expressa o gasto energtico).
A Intensidade do esforo costuma ser separada em trs categorias:
1) Leve (1,6 a 2,9 MET23);
2) Moderada (3 a 6 MET);
3) Vigorosa (> 6 MET).
O comportamento sedentrio, por seu turno, definido como uma
atividade que no aumenta substancialmente as despesas de energia acima do nvel
de repouso (equivalente a 1 MET x minuto).
Assim, a AF e o sedentarismo constituem duas dimenses
completamente opostas do comportamento do movimento.
Em sntese, a AF o avano continuado do aumento de despesas de
energia, que parte do comportamento sedentrio e ruma em direo AF vigorosa
(Figura 1).
FONTE: Blair SN, Monte MJ; Nichaman MZ, 2004.
Figura 1 - O continuum da atividade fsica
Outra dimenso da intensidade da AF medida pelo gasto de energia
(kcal). No entanto, o gasto demandado pela prtica de uma determinada AF como
reflexo da intensidade do esforo influenciado por determinantes como sexo, idade,
21 MET equivalente ao consumo de 3,5 ml de O2.kg.min.
-
10
composio corporal, gravidez e nvel de aptido fsica do praticante, aspectos no
relacionados ao tipo de exerccio fsico ou esporte, durao do esforo ou eficincia
mecnica (Ainsworth et al., 2000).
A mensurao do volume do esforo ainda um aspecto desafiador na
avaliao da AF. Um estudo clssico de LaPorte et al. (1985) apud Hallal (2005)
mostrou que - na metade dos anos 80 - existiam mais de 30 mtodos sendo utilizados
para avaliar a AF, onde no se define um ser superior ao outro. Habitualmente, os
mtodos so classificados como objetivos e subjetivos.
Mtodos objetivos: Eles se referem a medidas relativas ao resultado do
trabalho propriamente dito. Apresentam nveis considerados satisfatrios de validade
e reprodutibilidade, mas possuem limitaes em termos de logstica e custo. Podem
ser realizados por via direta p.ex. ergoespirometria, gasometria, acelermetria, etc.
ou por via indireta, utilizando tabelas de converso p.ex. pedometria,
monitoramento da frequncia cardaca e teste de corrida.
Mtodos subjetivos: Oriundos de inquritos, entrevistas ou
questionrios, em geral, eles so medidas que dependem da memria do avaliado.
Eles so prticas de baixo custo, prprias para avaliar populaes de grandes
magnitudes e permitem, com algumas variaes, mensurar a AF em mais de um
domnio e por diferentes perodos de tempo. A interpretao e a resposta do
entrevistado, no entanto, podem ser influenciadas por questes subjetivas (Shephard
e Vuillemin, 2003). Entretanto, Hallal et al. (2010) verificaram, em uma particular
situao, que apesar de no existir concordncia entre os escores contnuos oriundos
de questionrios e aqueles obtidos por medidas de acelermetro, a categorizao dos
participantes em grupos de atividade fsica apresenta concordncia entre moderada e
elevada, o que justifica a utilizao de questionrios em pesquisas representativas de
grandes populaes.
A mensurao da AF est diretamente relacionada a questo da
quantidade de AF (dose) e a sua consequncia para a sade (resposta), um dos
aspectos mais desafiadores no que se refere discusso da AF e sade.
-
11
1.3 RELAO DOSE-RESPOSTA
A relao entre a quantidade e a consequencia para a sade da AF pode
assumir muitas formas, sendo a mais comum a no-linear (Dietz, 1996; Kesaniemi et
al., 2010).
A questo crucial que se coloca quanta AF necessria para alcanar
benefcios substanciais para a sade? Esta a pergunta mais comum feita no
contexto da interrelao entre AF e sade e remete diretamente questo da dosagem
correta. fundamental que um estmulo de estresse fsico proporcione adaptaes
orgnicas com a menor agresso possvel (por segurana) e obtenha o maior efeito
possvel.
A influncia positiva da AF foi detectada em estudos epidemiolgicos
devido ocorrncia de menores taxas de morbidade ou mortalidade, tendo resultados
mistos em termos de dosagem. Dependendo do determinante da sade, o resultado
poder ser influenciado, num caso, por efeitos de esforo moderado e, no outro, s
ter sucesso com cargas mais vigorosas. Desta perspectiva, um modelo com trs
diferentes curvas resume as respectivas relaes de dose-resposta (Neilson e Lynch,
2010).
Um efeito positivo da carga de leve a moderada, comparada carga
elevada, ocorre, por exemplo, em relao presso arterial. Vrios estudos
evidenciam redues iguais ou at mesmo mais elevadas de presso arterial em
exerccios de intensidade moderada, quando comparados com os de alta intensidade
(que tendem a aumentar a tenso arterial). Isto de particular importncia, porque o
exerccio de alta intensidade aumenta ainda mais a tenso vascular arterial. Eles
tambm mostram que a curva o resultado das investigaes que sugerem que ganho
de sade so alcanados at mesmo com AF de baixa intensidade (Figura 2).
-
12
FONTE: Neilson e Lynch (2010).
Figura 2. Modelo de curva de dose-resposta para a intensidade do esforo e
benefcios para a sade
O grfico a seguir mostra os efeitos de proteo com relao linear
inversa entre o volume total de AF e os efeitos esperados, como a diminuio das
taxas de risco para mortalidade total e de doenas cardiovasculares, diabetes do tipo
2 e cnceres.
FONTE: Neilson e Lynch (2010)
Figura 3. Resposta linear inversa ao volume de AF e benefcios para a sade
-
13
A adaptao do sistema locomotor passivo (sistema sseo), por exemplo,
evidenciada em exerccios resistidos com intensidade elevada. Assim, presume-se
que uma possvel proteo contra a osteoporose conseguida com exerccio de
intensidade mais elevada (Figura 4).
FONTE: Neilson e Lynch (2010).
Figura 4. Modelo de curva de dose-resposta para a intensidade crescente de
esforo e benefcios para a sade
Nessa linha, ainda no h uma resposta conclusiva a respeito da
quantidade mnima necessria para alcanar benefcios substanciais para a sade
geral. No entanto, estudos mostram que participantes com gasto adicional de energia
de 73 - 143 kcal/dia em AF regular apresentam menores taxas de mortalidade
cardiovascular, se comparados com os participantes fisicamente inativos (Yoo e
Franke, 2010). Leon e colaboradores mostraram que o gasto de energia de 150
kcal/dia reduziu em 36% o risco de morrer de doena cardiovascular e em 27% o
risco de morte por qualquer causa (Leon et al., 2001). Alm disso, a AF moderada,
com gasto de energia entre 140 - 215 kcal/dia, foi associada reduo de 13% na
incidncia de diabetes de tipo 2. Quando a AF foi modificada de moderada para
vigorosa (mantendo o mesmo gasto energtico), a reduo da incidncia quase
dobrou (21%) (Helmrich et al., 1991).
-
14
Parece claro na literatura que os benefcios para a sade aumentam com o
aumento da quantidade de AF, a despeito da falta de consenso sobre o mnimo
necessrio. Mas ao mesmo tempo em que a prtica de AF promove benefcios para a
sade, alguns efeitos indesejveis podem ocorrer, especialmente como resultado do
esforo de alta intensidade.
1.4 EFEITOS ADVERSOS DA ATIVIDADE FSICA
De modo geral, o risco de ser envolvido em qualquer complicao fsico-
funcional pequeno para a maioria dos tipos de exerccios de baixa a moderada
intensidade e, de modo geral, os benefcios normalmente suplantam os riscos dos
efeitos adversos (Blair et al., 1989; Lee et al., 2000).
Os efeitos adversos mais comuns decorrentes da AF so as leses
msculo-esquelticas, principalmente as de origem inflamatria e degenerativa
causadas por esforo fsico demasiado (USDHHS, 2008a). Menos comuns so os
riscos de transtornos metablicos agudos (hipoglicemia, desidratao e
superaquecimento) e as alteraes hemodinmicas. O risco de uma pessoa sofrer
disfuno cardaca durante ou imediatamente aps o esforo deve ser considerado
nas pessoas com comprometimento cardaco prvio. Estudos conduzidos por Talbot e
colaboradores mostraram que a incidncia de morte sbita em corredores de 30 a 65
anos de idade, do sexo masculino, no perodo de um ano, foi de 13 mortes por
100.000 corredores. Metade dos corredores que morreram tinha doena
cardiovascular conhecida e, entre os mais jovens, os casos de morte sbita foram
quase sempre relacionados a anormalidades congnitas ou que tenham sido
adquiridas (Talbot et al., 2007).
Os benefcios da AF, portanto, superam marcadamente os efeitos
adversos na sade e no h dvida nos textos cientficos sobre a necessidade de
medidas de incentivo de sua prtica. Para tanto, um primeiro passo conhecer as
caractersticas da AF na populao.
-
15
1.5 CARACTERSTICAS SOCIODEMOGRFICAS DA ATIVIDADE
FSICA
A influncia de determinantes sociais diferentes, provavelmente, afeta a
escolha de estilos de vida distintos. Assim, a renda, a categoria profissional e o nvel
de educao, dentre outras caractersticas, so variveis frequentemente utilizadas
para definir o status econmico e a sua associao com a AF. Esta associao tem
apresentado resultados controversos. Por um lado, estudos como o de Nelson et al.
(2006) apontaram que adolescentes de reas rurais com menor condio
socioeconmica so mais ativos do que seus pares com maior condio. No outro
polo da controvrsia, estudo conduzido por Guedes et al. (2001) envolvendo
escolares adolescentes de um municpio do interior do Estado do Paran mostrou que
crianas de baixo nvel socioeconmico so menos ativas e mais sedentrias. Para
Lindstrom, Hanson e Ostergren (2001), famlias de renda baixa se envolvem menos
em esportes recreativos do que famlias com renda alta. Estudo transversal avaliou a
taxa de sedentarismo urbano em Portugal e mostrou que, de modo geral, o dispndio
de energia no tempo livre tendia a ser maior entre aqueles com maior renda anual
(Gal, Santos e Barros, 2005). O estudo conduzido por Burton e Turrell (2000)
associou, entre trabalhadores ativos dos Estados Unidos, as horas trabalhadas com o
tempo dedicado AF no lazer. Concluram que trabalhadores de maior renda
tenderam a ser mais ativos nas horas de lazer. Assim, o debate continua inconclusivo
no tocante temtica.
A associao da idade, do sexo, da etnia, da cor e do local da residncia
com a prtica de AF habitualmente apresenta menor discordncia. A maior parte dos
estudos aponta maior nvel de AF em habitantes de cidades de pequeno porte,
quando comparados com residentes de cidades de mdio e grande porte (Baretta,
Baretta e Peres, 2007). A prevalncia da AF maior entre homens e decresce com o
aumento da idade em ambos os sexos (Hallal et al., 2011).
So poucos os estudos que investigam a associao entre raa e cor com
o nvel de AF e seus resultados no apontam diferenas significativas entre as
categorias (USDHHS, 2008c).
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16
A literatura cientfica mostra que existem quantidades e formas diferentes
de praticar AF de acordo com as caractersticas sociodemogrficas, mas para a
proposta de aes de promoo da AF, ainda se faz necessrio compreender a
discusso sobre a quantidade mnima necessria para alcanar benefcios substanciais
para a sade geral.
1.6 DIRETRIZES E RECOMENDAES DE ATIVIDADE FSICA
Recomendaes para a prtica de AF na dcada de 60 foram associadas,
em grande parte, com o esporte de desempenho. As recomendaes da poca
destacavam a necessidade de cumprir um alto nvel de esforo para obter resultados
substanciais de aptido fsica. Dados crescentes de informaes apoiaram o valor de
ser fisicamente ativo, mas no havia consenso sobre quais seriam os programas mais
eficazes e seguros. Foi a combinao da necessidade de promover a prtica de AF e
de minimizar os riscos de eventos adversos que precipitou a elaborao das primeiras
recomendaes de AF para os profissionais da rea da sade e para o pblico em
geral.
O Colgio Americano de Medicina Esportiva (ACSM) foi um dos
pioneiros nas recomendaes de exerccios para a populao. A publicao em 1975
das Diretrizes para Teste de Esforo e Prescrio Graduada de Exerccio (Guidelines
for Graded Exercise Testing and Exercise Prescription) e as suas revises
posteriores tiveram grande influncia na prescrio de exerccios fsicos (Haskell et
al., 2007).
Em 1992, a Associao Americana de Cardiologia (AHA) sugeriu a
mudana de classificao do risco da inatividade fsica, passando-o de fator
secundrio para primrio1.4Isto reforou a mobilizao de outras organizaes que
tambm modificaram as suas recomendaes de AF para promover a sade
(USDHHS, 2008b).
1 Os fatores de risco primrios (presso arterial sistmica, tabagismo,
hipercolisteremia, sedentarismo) so potencialmente mais perigosos para
desenvolver doenas do que os secundrios (estresse, idade, hereditariedade, diabete
tipo II, obesidade e sexo) (AHA, 2010).
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17
Neste sentido, as recomendaes foram projetadas para informar e
orientar os profissionais que aconselham e prescrevem a prtica da AF e o pblico
em geral sobre os tipos e a quantidade mnima de exerccios que proporcionam
benefcios substanciais sade. O objetivo principal por detrs das orientaes que
a AF regular ao longo do tempo pode produzir benefcios para a sade ao longo da
vida e que eles suplantam os riscos.
Existem vrias recomendaes e primeira vista parece haver forte
semelhana entre elas. Inspeo mais acurada, no entanto, revela ambiguidades que
culminam na possibilidade de mais de um entendimento para um mesmo propsito.
Procurar-se-a a seguir comparar as principais diretrizes, destacando diferenas e
semelhanas e identificando suas lacunas e potencialidades.
1.6.1. Recomendaes de atividade fsica pelo Colgio Americano de Medicina
Esportiva.
O ACSM, fundado em 1954, com sede em Indianpolis (EUA) uma
organizao de medicina esportiva e de cincia do exerccio dedicada a incentivar
uma maior AF dos americanos de todas as idades, valendo-se, para tanto, da emisso
de uma recomendao de sade pblica sobre os tipos e quantidades de AF
necessrios para a promoo da sade e preveno de doenas.
O ACSM, acompanhado pela AHA, na ltima reviso, no ano de 2007,
passou a recomendar que adultos saudveis e em condies crnicas no
relacionadas AF acumulem 30 minutos ou mais de AF de intensidade moderada
(em geral, equivalente a uma caminhada rpida e com visvel acelerao do ritmo
cardaco), repetindo-a, pelo menos, em 5 dias da semana, ou 20 minutos de AF de
intensidade vigorosa, em pelo menos em 3 dias da semana, mantendo, alm disso, as
atividades de vida diria. Combinaes de atividades moderadas e vigorosas podem
ser realizadas para atender recomendao. O esforo pode, ainda, ser acumulado
minuto a minuto com sesses de, no mnimo, 10 minutos de durao (Haskell et al.,
2007).
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A incluso desta recomendao para esta anlise levou em conta o fato
de o ACSM ser uma das organizaes pioneiras no fornecimento de recomendaes
de exerccios especficos. A publicao em 1975 das Diretrizes para Teste de Esforo
e Prescrio de Exerccio e suas subsequentes edies revistas tiveram grande
influncia sobre os campos da cincia do exerccio, da clnica mdica e da medicina
de reabilitao no mbito global e avalizado pela Associao Americana de
Cardiologia (AHA, 2011).
1.6.2 Recomendaes de atividade fsica pelo Comit Executivo responsvel pelo
Questionrio Internacional de Atividade Fsica IPAQ.
Em face das dificuldades para obter medidas de AF internacionalmente
comparveis, a OMS, o CDC dos Estados Unidos e o Instituto Karolinska da Sucia
reuniram um Comit Executivo, com o objetivo de desenvolver e testar um
instrumento de medidas da AF para uso internacional. O comit props o IPAQ,
Questionrio Internacional de Atividades Fsicas (em diferentes verses), e, em 2005,
recomendou que, para atender classificao de ativa, a pessoa deve cumprir um dos
trs critrios: a) realizar, em 3 ou mais dias da semana, atividade de intensidade
vigorosa de, pelo menos, 20 minutos por dia; b) fazer, em 5 ou mais dias por semana,
atividade de intensidade moderada por, pelo menos, 30 minutos por dia; c) em 5 ou
mais dias por semana, efetuar qualquer combinao de intensidade de esforo, desde
que atinja o mnimo de 600 MET x minutos/semana. Os valores acima ou abaixo
desses critrios so classificados como muito ativo e pouco ativo,
respectivamente (IPAQ, 2005).
A incluso dessa recomendao na anlise levou em conta a sua
importncia no cenrio mundial, j que a referncia adotada pelo Observatrio de
Sade Global da OMS para a avaliao do nvel de AF da populao mundial (GHO,
2008).
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1.6.3 Recomendaes de atividade fsica pelo Instituto de Medicina dos Estados
Unidos
O Instituto de Medicina dos EUA (IOM) uma organizao no
governamental e independente que trabalha para aconselhar mdicos e gestores de
sade pblica. Fundado em 1970, o IOM uma das extenses da Academia Nacional
de Cincias dos Estados Unidos e, portanto, as suas recomendaes no constituem a
diretriz federal dos Estados Unidos.
A incluso desta recomendao na anlise levou em conta a sua
influncia no aconselhamento para a tomada de decises da comunidade mdica nos
pases da Amrica do Norte. Alm disso, foi o Comit Executivo do IOM que
preconizou a realizao de 60 minutos de AF moderada todos os dias da semana para
ambos os sexos e se posicionou contra recomendaes vigentes na poca (30 minutos
por dia). Esta posio contrria motivou a publicao de vrios estudos comparativos
entre as recomendaes vigentes e as do Instituto (IOM, 2005; CDC, 2010; AHA,
2010).
1.6.4 Recomendaes de atividade fsica pela Unio Europeia
Estabelecida em 1993, a Unio Europeia (UE) opera atravs de um
sistema de decises intergovernamentais feitas e negociadas pelos Estados-Membros
e abrange diversas reas, dentre elas, a sade. Nesta perspectiva, em 2007, foi criado
o Programa Juntos para a sade. Neste programa, uma das metas estabelecidas
foram as aes recomendadas para apoiar a prtica de AF visando promoo da
sade.
Em conformidade com o Comit de especialistas (22 membros)
constitudo pela Unidade do Desporto da Direo-Geral da Educao e da Cultura da
Comisso Europeia, em outubro de 2008, ficou estabelecido que os Estados-
Membros da UE devem recomendar, respectivamente, para as crianas e jovens de
ambos os sexos e para os adultos (incluindo os idosos) um mnimo de 60 e de 30
minutos dirios de AF de intensidade moderada (Idesporto, 2009).
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A incluso dessa recomendao na anlise considerou que a organizao
congrega 27 estados europeus independentes e abrange diretamente uma populao
de mais de 500 milhes de habitantes, o que representa 7,3% da populao mundial.
O documento se tornou a base para as diretrizes do Centro Nacional de Atividade
Fsica e Sade da Fundao Britnica do Corao (Bull, 2010) e para as diretrizes
para os pases Nrdicos (Kallings, 2010).
1.6.5 Recomendaes de atividade fsica da Organizao Mundial da Sade.
A Organizao Mundial da Sade (OMS), agncia internacional, foi
fundada em 1948, sendo subordinada Organizao das Naes Unidas, sediada em
Genebra, na Sua, e tem como principal objetivo desenvolver a sade no mbito
global.
As recomendaes da OMS para a promoo da AF foram atualizadas
em 2010 e tm reviso prevista para o ano de 2015. Elas indicam para os adultos
ainda jovens (18 a 64 anos de idade) a prtica de, pelo menos, 150 minutos por
semana de AF moderada ou 75 minutos por semana de AF vigorosa, em sesses de,
pelo menos, 10 minutos de durao. Para benefcios adicionais, os adultos devem
aumentar a durao das atividades moderadas para 300 minutos por semana ou das
atividades vigorosas para 150 minutos por semana ou, ainda, efetuarem uma
combinao equivalente de atividade moderada e vigorosa (WHO, 2010). Para
crianas e jovens (menores de 18 anos), a recomendao prev o dobro da
quantidade de tempo dos adultos.
A incluso dessa recomendao na anlise levou em conta a sua
influncia sobre 193 Estados-Membros filiados Organizao das Naes Unidas, a
consonncia com as atuais recomendaes do Departamento Nacional de Sade e
Servios Humanos dos Estados Unidos (USDHHS, 2008), o endosso do Centro de
Controle e Preveno de Doenas (CDC) dos Estados Unidos (CDC, 2008) e a sua
adoo pelo Ministrio da Sade do Brasil (MS, 2012).
http://pt.wikipedia.org/wiki/Estrutura_da_Organiza%C3%A7%C3%A3o_das_Na%C3%A7%C3%B5es_Unidashttp://pt.wikipedia.org/wiki/1948http://pt.wikipedia.org/wiki/Organiza%C3%A7%C3%A3o_das_Na%C3%A7%C3%B5es_Unidashttp://pt.wikipedia.org/wiki/Genebrahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Su%C3%AD%C3%A7ahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sa%C3%BAde
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1.7 CONTROVRSIAS E CONSENSOS NAS RECOMENDAES DE
ATIVIDADE FSICA
No conjunto, as diretrizes concordam que a AF componente importante
para uma vida saudvel e buscam mudanas para as altas taxas de inatividade fsica.
Assim, entendem que essencial informar os profissionais da sade e o pblico em
geral sobre a quantidade mnima de AF necessria para a obteno de efeitos
substanciais para a sade geral.
Os Estados Unidos lideraram o caminho para fornecer recomendaes
atualizadas. Antes, pelo ACSM, em 2007 (Haskell et al., 2007), e, mais
recentemente, pelo Departamento de Sade dos EUA (USDHHS, 2008). Ambos
foram posteriormente seguidos por outras organizaes, como a Organizao
Mundial da Sade (WHO, 2010), o Departamento de Sade do Reino Unido (Bull,
2010) e o Departamento Nacional de Sade do Canad (Kesaniemi et al., 2010),
dentre outras.
Destaca-se o fato de o Comit Consultivo do USDHHS, em 2008, ter
mudado o foco da instruo do volume total de AF,15
sem determinar a frequncia
semanal. Como resultado, essas novas orientaes permitem que uma pessoa alcance
a mesma meta de vrias maneiras.
A seguir ser apresentada a comparao segundo as categorias analticas
que emergiram na apreciao das recomendaes e que representam suas principais
caractersticas: elementos da AF (frequencia semanal, intensidade, durao e dose);
exerccios especficos; eventos adversos; populaes especficas, consideraes por
idade (crianas e jovens).
1.7.1 Frequencia semanal
Sobre este ponto, importante salientar que a maioria das mudanas
morfofuncionais do organismo ocorre mediada pelos processos de adaptao
1Recomendao atual: acumulao de 150 minutos de AF moderada ou 75 minutos
de AF vigorosa. por semana. Recomendao anterior: 30 minutos em 5 vezes por
semana de AF moderada ou 20 minutos em 3 vezes por semana para AF vigorosa.
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22
funcional em resposta ao exerccio fsico e a sua magnitude diminui ou se desfaz
medida que aumenta o intervalo entre os estmulos (cada sesso de esforo fsico)
(Aoyagi et al., 2010). A figura 5 esboa o princpio terico da sobrecarga. O seu
principal objetivo obter um ganho extra na compensao do esforo fsico
(supercompensao), para que se elevem os nveis de pr-esforo. O ideal para a
realizao de um novo esforo ocorre no pico mximo da supercompensao. Nota-
se que, quando o segmento B C alongado, ou seja, medida que um estmulo
(sesso de esforo) se distancia do outro, perde-se progressivamente o efeito da
supercompensao (Matvev, 2001).
A diretriz oficial dos EUA de 2008 fornece declarao sobre espalhar as
atividades por toda a semana sem especificar ou determinar um padro. Mesmo
aceitando grande parte dos estudos tendem a obterem melhor resultados com a
prtica de AF em trs dias na semana, aceita como alcance da meta a realizao de
uma nica sesso por semana, desde que se atinja a durao recomendada. Isto pode
induzir pessoas a se esforarem demasiadamente para alcanar a meta em uma nica
sesso, o que pode aumentar o risco de eventos adversos (USDHHS, 2008).
FONTE: Adaptado de Bompa TO e Haff G, (2009).
Figura 5. Princpio da sobrecarga
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23
1.7.2 Intensidade do esforo
Algumas atualizaes passam a recomendar tambm AF com intensidade
vigorosa. Isso contrasta com muitas diretrizes que at ento haviam indicado, na sua
mensagem principal, recomendao somente para esforo de intensidade moderada.
Esta atualizao foi seguida por diretrizes oficiais de diversos pases como as da
Rssia, Reino Unido, Canad, entre outros e adotada como recomendao pela
Organizao Mundial da Sade. Outras organizaes profissionais e agncias
governamentais, como a da Unio Europeia, Noruega, Dinamarca, Holanda,
Finlndia e Sucia, dentre outras se mantiveram conservadoras, mantendo a
orientao anterior (AF com intensidade moderada).
Vrias diretrizes dedicaram espao para definir a intensidade do esforo.
O USDHHS de 2008, por exemplo, utilizou escala subjetiva de esforo de 0 a 10, em
que 0 corresponde ausncia de atividade e 10 corresponde ao maior esforo
possvel de ser alcanado. Por seu turno, as atividades de intensidade moderada
equivalem escala entre o nvel 5 a 6 e as atividades de intensidade vigorosa, de 7 a
8. A este respeito, deve haver cuidado na interpretao dessa premissa, diante da
possibilidade de considerar (incorretamente) que atividade vigorosa tem o mesmo
significado de atividade anaerbia. Na diretriz, a intensidade vigorosa se refere s
atividades mais intensas ms que se conserve o predomno do metabolismo aerbio,
uma vez que, a maior parte dos benefcios para a sade so resultantes dos precessos
metablicos oxidativos (Riddell e Burr, 2011).
A atividade vigorosa tem a metade da durao da moderada, porque,
aproximadamente, produz o dobro do gasto de energia. Por isso, atividades vigorosas
e moderadas foram tomadas como equivalentes e a combinao entre as intensidades
podem ser somadas tendo em vista a meta. A maioria das diretrizes no aponta a
superioridade da combinao entre a AF vigorosa e a moderada. Tambm fica
subentendido que o aumento do esforo pela durao ou pela intensidade tem
significado equivalente (CDC, 2010).
Se, por um lado, as atividades de intensidade vigorosa representam
desafios de difcil alcance e adeso, principalmente entre pessoas de menor aptido
fsica, por outro, parte da populao pode preferir esta proposta por necessitar menor
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tempo de execuo. Deve-se destacar que o aumento progressivo da intensidade do
esforo (o vigor) est associado ao aumento progressivo de riscos de eventos
adversos (Murphy, Blair e Murtagh, 2009). Isto deveria estar explcito em todas as
recomendaes, para objetivar a segurana e mediar a escolha do tipo de modalidade
de exerccio ou esporte praticado.
1.7.3 Durao do esforo
As diretrizes para AF mostraram maior ateno sobre os benefcios para
sesses de curta durao. Sesses curtas so mais fceis para muitas pessoas, que
podem, assim, com o acumulo de esforo, ajudar a alcanar as metas estabelecidas. A
princpio, houve incertezas a respeito de quo curto os episdios poderiam ser.
Agora, de modo consistente e claro, estabeleceu-se o tempo mnimo de durao de
10 minutos (Haskell et al., 2007). Muito embora as diretrizes apresentem evidncias
para fundamentar esta posio, o conceito de acumulao de esforo ainda um tema
em debate.
Sobre isto, o Conselho Consultivo do IOM ps em dvida a eficincia de
sesses com 10 minutos de durao para promover alteraes morfofuncionais
substanciais e declarou, ainda, como inadequada a recomendao de 30 minutos de
AF por dia para atingir todos os benefcios de sade. O IOM recomenda como meta
mnima a realizao de 60 minutos de AF diria (IOM, 2005). Nestas
recomendaes, no explicitou tratamento diferenciado para esforo moderado e
vigoroso.
1.7.4 Dose de atividade fsica
Apesar do empenho das diretrizes para estipular a quantidade mnima de
AF substancial sade, a recomendao de doses ideais ou mximas carece de maior
detalhamento. Normalmente, elas se restringem a informar que efeitos adicionais
sade se incorporam com o aumento da dose mnima.
O ACSM de 2007 se adiantou neste sentido e props uma faixa ideal de
AF. Estabeleceu, para alm do gasto energtico cotidiano, como limite inferior, o
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gasto de 450 MET.min/sem e, superior, de 750 MET.min/sem, (Pollock et al., 1998).
Esta comunicao do ACSM no se apresentou de modo prtico ao pblico em geral,
devido necessidade do uso de tabelas de converso para conhecer o equivalente
metablico do tipo de esforo fsico realizado.
Para efetuar o clculo do equivalente metablico, a converso dos valores
normalmente reportada ao compndio de Ainsworth e colaboradores, elaborado no
ano 2000 (Ainsworth et al., 2000). O compndio tem sido muito til na atribuio
padronizada das despensas de energia e para nortear a intensidade (vigorosa e
moderada) do esforo, mas carece ser atualizado e expandido para ambos os sexos,
para as extremidades da faixa etria e para os portadores de limitaes crnicas.
A dose da AF recomendada pelas diretrizes sempre adicional quela
das atividades de vida diria (AVD). A no clareza do termo adicional pode
conduzir interpretao (equivocada) de que as diretrizes indicam um montante de
esforo a ser cumprido durante a semana. O engano pode levar indivduos com
funes laborais ativas a no praticarem AF adicional, por entenderem que j fazem
AF suficiente no trabalho. Para evitar essa consequncia (no intencional), as
diretrizes deveriam deixar claro como os critrios (tipo, durao, intensidade e
frequncia) atribudos ao trabalho formal e s atividades domsticas devem ser
somados para a obteno do cumprimento da meta mnima de AF. A converso do
esforo desempenhado no tempo livre (lazer) e no deslocamento ativo
(trabalho/estudo) j est estabelecido (USDHHS, 2008).
De modo geral, a desarmonia entre diferentes diretrizes de como a dose
de AF deve ser desenvolvida pode, em algum momento, gerar dbio entendimento e
afetar a interpretao do que efetivamente necessrio. Alguns pases so
submetidos a diversas recomendaes simultneas de AF. Como exemplo, os pases
que compem o Reino Unido (Inglaterra, Gales, Irlanda do Norte e Esccia) so
informados pelas recomendaes globais da OMS, pelas recomendaes da UE,
pelas recomendaes do Centro Nacional para Atividade Fsica e Sade da Fundao
Britnica do Corao (BHFNC) e pelas recomendaes nacionais de cada pas. Para
ilustrar, a diretriz da OMS no estipula frequncia semanal, a diretriz da UE
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recomenda AF diariamente, a diretriz do BHFNC recomenda 5 dias na semana e as
recomendaes nacionais da Esccia estipulam frequncia de 4 dias por semana.
Ainda sobre este aspecto, um dos fatores limitantes para a determinao
da dose-resposta repousa na quantidade e na qualidade das informaes disponveis.
Os Comits Cientficos das organizaes apontam escassez de estudos experimentais
que possuam dimenso global com amostra relativamente grande. A maior parte dos
estudos tem utilizado intervenes com doses iguais s recomendadas pelas atuais
diretrizes, limitando informaes que podem ser criadas pela variao do tipo,
intensidade, f