Atividade - Vou me embora para Parságada

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Leia os textos que seguem e compare-os: Texto 1 Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconseqüente Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive E como farei ginástica Andarei de bicicleta Montarei em burro brabo Subirei no pau-de-sebo Tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado Deito na beira do rio Mando chamar a mãe-d’água Pra me contar as histórias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar Vou-me embora pra Pasárgada Em Pasárgada tem tudo É outra civilização Tem um processo seguro De impedir a concepção Tem telefone automático Tem alcalóide à vontade Tem prostitutas bonitas Para a gente namorar - E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar — Lá sou amigo do rei — Terei a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada. (Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira. 2. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1970. 9. 127.) Texto II Que Manuel Bandeira me perdoe, mas vou-me embora de Passárgada Vou-me embora de Pasárgada Sou inimigo do Rei Não tenho nada que quero Não tenho e nunca terei Vou-me embora de Pasárgada Aqui eu não sou feliz A existência é tão dura As elites tão senis Que Joana, a louca da Espanha, Ainda é mais coerente Do que os donos do país. (Millôr Fernandes. Folha de S. Paulo, março 2001) 01) “Vou-me embora pra Pasárgada” é um dos mais conhecidos poemas de Manuel Bandeira. Segundo o poeta, o poema nasceu como uma espécie de desabafo, num dos momentos em que ele estava entediado com a doença que o atormentava (leia o boxe acima). Espécie de “paraíso perdido” ou “país de delícias”, Pasárgada encarna o lugar ideal que todos nós imaginamos, onde haveria liberdade e felicidade para todos. a) De acordo com o poema, como é a vida em Pasárgada? b) Que vantagem há em ser amigo do rei? c) Com base no texto I e também no boxe acima, responda: Por que o eu lírico manifesta o desejo de fazer coisas simples, como andar de bicicleta, tomar banhos de mar, etc.? 02) Manuel Bandeira publicou “Vou-me embora pra Pasárgada” em 1930. Cerca de setenta anos depois, Millôr estabelece um diálogo com esse poema. Que elementos do poema de Millôr evidenciam esse diálogo? 03) Compare os dois poemas. a) Qual deles apresenta um teor mais pessoal e emotivo e, ao mesmo tempo, mais reflexivo e universal? b) E qual deles apresenta um teor mais político e social, relacionado ‘com a situação específica do país? 04) Para Manuel Bandeira, Pasárgada é um lugar imaginário, um “país de delícias” que habita a fantasia humana. a) O que é Pasárgada para Millôr? b) Qual é a situação dessa Pasárgada no momento em que Millôr escreve o poema? 05) Manuel Bandeira publicou seu poema num livro de poesia. Millôr, que é escritor e jornalista, publicou seu poema num grande jornal paulista. Cada um dos autores, quando escreve, tem em mente certo perfil de público leitor. a) Para Bandeira, quem supostamente seriam os leitores de seu poema? b) E Millôr, que tipo de leitor ele possivelmente tinha em mente quando escreveu o seu texto? c) Millôr provavelmente supôs que seu leitor conhecesse o poema de Manuel Bandeira ou não?

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Leia os textos que seguem e compare-os:Texto 1Vou-me embora pra PasárgadaLá sou amigo do reiLá tenho a mulher que eu queroNa cama que escolhereiVou-me embora pra PasárgadaVou-me embora pra PasárgadaAqui eu não sou felizLá a existência é uma aventuraDe tal modo inconseqüenteQue Joana a Louca de EspanhaRainha e falsa dementeVem a ser contraparenteDa nora que nunca tiveE como farei ginásticaAndarei de bicicletaMontarei em burro braboSubirei no pau-de-seboTomarei banhos de mar!E quando estiver cansadoDeito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d’águaPra me contar as históriasQue no tempo de eu meninoRosa vinha me contarVou-me embora pra PasárgadaEm Pasárgada tem tudoÉ outra civilizaçãoTem um processo seguroDe impedir a concepçãoTem telefone automáticoTem alcalóide à vontadeTem prostitutas bonitasPara a gente namorar -E quando eu estiver mais tristeMas triste de não ter jeitoQuando de noite me derVontade de me matar— Lá sou amigo do rei — Terei a mulher que euqueroNa cama que escolhereiVou-me embora pra Pasárgada.

(Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira. 2. ed.Rio de Janeiro: J. Olympio, 1970. 9. 127.)

Texto IIQue Manuel Bandeira me perdoe, mas vou-me embora de PassárgadaVou-me embora de PasárgadaSou inimigo do ReiNão tenho nada que queroNão tenho e nunca tereiVou-me embora de PasárgadaAqui eu não sou felizA existência é tão duraAs elites tão senisQue Joana, a louca da Espanha,Ainda é mais coerenteDo que os donos do país.

(Millôr Fernandes. Folha de S. Paulo, março 2001)

01) “Vou-me embora pra Pasárgada” é um dos mais conhecidos poemas de Manuel Bandeira. Segundo o poeta, o poema nasceu como uma espécie de desabafo, num dos momentos em que ele estava entediado com a doença que o atormentava (leia o boxe acima). Espécie de “paraíso perdido” ou “país de delícias”, Pasárgada encarna o lugar ideal que todos nós imaginamos, onde haveria liberdade e felicidade para todos.a) De acordo com o poema, como é a vida em Pasárgada?b) Que vantagem há em ser amigo do rei?c) Com base no texto I e também no boxe acima, responda: Por que o eu lírico manifesta o desejo de fazer coisas simples, como andar de bicicleta, tomar banhos de mar, etc.?02) Manuel Bandeira publicou “Vou-me embora pra Pasárgada” em 1930. Cerca de setenta anos depois, Millôr estabelece um diálogo com esse poema. Que elementos do poema de Millôr evidenciam esse diálogo?03) Compare os dois poemas.a) Qual deles apresenta um teor mais pessoal e emotivo e, ao mesmo tempo, mais reflexivo e universal?b) E qual deles apresenta um teor mais político e social, relacionado ‘com a situação específica do país?04) Para Manuel Bandeira, Pasárgada é um lugar imaginário, um “país de delícias” que habita a fantasia humana.a) O que é Pasárgada para Millôr?b) Qual é a situação dessa Pasárgada no momento em que Millôr escreve o poema?05) Manuel Bandeira publicou seu poema num livro de poesia. Millôr, que é escritor e jornalista, publicou seu poema num grande jornal paulista. Cada um dos autores, quando escreve, tem em mente certo perfil de público leitor.a) Para Bandeira, quem supostamente seriam os leitores de seu poema?b) E Millôr, que tipo de leitor ele possivelmente tinha em mente quando escreveu o seu texto?c) Millôr provavelmente supôs que seu leitor conhecesse o poema de Manuel Bandeira ou não?06) Os dois poemas podem ser tomados como discursos, isto é, textos produzidos por um locutor como vistas a criar certos sentidos, a atingir determinados interlocutores, criados numa determinada situação histórica, num determinado gênero, etc.Levando em conta que todo discurso traduz uma ideologia, isto é, um conjunto de idéias e uma forma particular de ver e pensar o mundo, responda:a) O discurso de Millôr confirma, aplaude ou nega o discurso de Bandeira?b) Que efeito o discurso de Millôr causa sobre o leitor do texto?