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Atividades Experimentais: Buscando a Construção do Conhecimento Sobre o Solo
TURATTI, Nilza Volpato1
MOREIRA, Ana Lúcia Olivo Rosas²
RESUMOEste artigo relata os resultados do Projeto de Implementação Pedagógica realizado como conclusão do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, do Estado do Paraná no ano de 2009, com uma turma de 5ª série do Ensino Fundamental, na disciplina de Ciências do Colégio Estadual Marechal Costa e Silva, do núcleo regional de Cianorte. Seu objetivo principal foi conhecer a importância das aulas práticas no processo ensino e aprendizagem. Este trabalho busca desenvolver no aluno o conhecimento básico sobre o tema solo, realizando atividades experimentais e de campo, numa abordagem motivadora, com a consideração do conhecimento prévio do aluno com questões problematizadoras e contextualizadas. As práticas foram abordadas seguindo uma sequência de conteúdos e realizadas em grupos, como forma de socialização do conhecimento e, em diversos ambientes como na sala de aula, no pátio da escola e na zona rural, utilizando materiais alternativos para a sua execução. Embora muitas dificuldades tenham surgido no decorrer do processo, a motivação, o envolvimento, a aprendizagem de conceitos e a compreensão de fenômenos demonstrados pelos alunos, confirmam a importância dessa modalidade de ensino.
Palavras-chave: Atividades experimentais. Processos ensino e aprendizagem. Atividades sobre solos. Metodologia de ensino.
RESUMENEste artigo relata los resultados del proyecto de implementación pedagógica realizado como conclusión del Programa de Desenvolvimiento Educacional – PDE, del Estado del Paraná en el año de 2009, con una pandilla de 5ª serie del Enseñanza Fundamental, en la disciplina de Ciencias del Colegio Estadual Marechal Costa y Silva, del núcleo regional de Cianorte. Su objetivo principal fue conocer la importancia de las clases prácticas en el proceso enseñanza y aprendizaje. Este trabajo busca desenvolver en el alumno el conocimiento básico sobre el tema suelo, realizando actividades experimentáis y de campo, en una abordaje motivadora, con la consideración del conocimiento previo del alumno con cuestión problematiza doras y contextualizadas. Las prácticas fueron abordadas siguiendo una secuencia de contenidos y realizadas en grupo, como forma de socialización del conocimiento y, en diversos ambientes como en la clase de aula, en el patio de la escuela y en la zona rural, utilizando materiales alternativos para su ejecución. Aunque muchas 1 Professora de Ciências da Rede Estadual de Ensino do Paraná[email protected]² Professora Orientadora do Projeto, Departamento de Biologia – [email protected]
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dificultades tengan surgido en el decorrer del proceso, la motivación, el envolvimiento, el aprendizaje de conceptos y la comprensión de fenómenosdemostrados por los alumnos, confirman la importancia de esa modalidad de enseñanza.
Palabras-llave: Actividades experimentales. Proceso enseñanza y aprendizaje. Actividades sobre suelos. Metodología de enseñanza.
INTRODUÇÃO
O modelo atual de ensino nas nossas escolas, tem se caracterizado, muitas
vezes, por atividades pedagógicas desarticuladas e distanciadas da realidade do
educando e, principalmente, baseado na memorização das informações. Saber este,
que se torna abstrato, caracterizando um aluno como ser receptivo e passivo,
realizando tarefas sem questionamentos (BEHRENS, 2000). Este contexto favorece
que o aluno apresente dificuldades em relacionar a teoria desenvolvida na sala de
aula com a realidade a sua volta, impedindo uma aproximação mais efetiva com a
aprendizagem das Ciências. De acordo com Krasilchik (1987), para muitos alunos,
aprender Ciências, é decorar nomes, fórmulas, descrições de instrumentos ou
substâncias, enunciados de leis, resultando num processo doloroso que chega até
causar aversão.
Na interpretação de Moura e Vale (2001) o estudante recebe a ciência pronta
e acabada, ficando a dimensão investigativa eliminada do ensino e o aluno torna-se
passivo e reprodutor de um sistema cristalizado, desfavorecendo qualquer tentativa
de formar um ser crítico, pensante e atuante na sociedade.
Os professores de Ciências, assim como os de outras disciplinas, vivem no
dilema entre quantidade e qualidade de informação, que o aluno também, tem
acesso. Diante deste cenário, cabe ao professor selecionar conteúdos específicos
para o ensino de Ciências e metodologias adequadas ao desenvolvimento cognitivo
dos estudantes, para que estes se apropriem dos conhecimentos científicos de
forma mais significativa.
A inserção de atividades experimentais na prática docente apresenta-se como
uma importante estratégia de ensino e aprendizagem, quando mediada pelo
professor de forma a desenvolver o interesse nos estudantes e criar situações de
investigação para a formação de conceitos. Tais atividades não têm como único
espaço possível, o laboratório escolar, visto que podem ser realizadas em outros
espaços pedagógicos, como a sala de aula, o pátio da escola e outros ambientes
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urbanos e rurais, utilizando materiais alternativos aos convencionais. No entanto,
muitas escolas dispõem de laboratório e alguns equipamentos que, por várias
razões raramente são utilizados como, falta de recursos para aquisição e
manutenção de materiais; a grande quantidade de alunos por turma; falta de um
professor auxiliar, durante a realização de atividades práticas no laboratório, para
atender a outra metade da turma em sala de aula e falta de um laboratorista para a
preparação de materiais e limpeza dos mesmos. O laboratório não é um espaço
onde só acontecem coisas mágicas, com experimentos que provocam determinados
efeitos especiais. Ele é considerado como um recurso para estimular o aluno na
atividade prática, que segundo Gonçalves e Galiazzi (2004) apud PARANÁ (2008),
cabe ao professor aproveitar esse momento para problematizar e transcender na
direção da construção de conhecimentos mais consistentes. No entanto, o professor
deve estar atento para que a atividade prática não perca a sua essência, correndo o
risco de ser muito mais atraente do que necessariamente deveria ser ensinado
(CAMPOS; NIGRO, 1999). Entretanto, é importante que essas práticas
proporcionem discussões, interpretações e se coadunem com os conteúdos
trabalhados em sala, não sendo realizadas apenas, como comprovação de leis e
teorias, ou meras ilustrações das aulas teóricas (PARANÁ, 2008).
As atividades experimentais podem contribuir para a superação de obstáculos
na aprendizagem de conceitos científicos, não somente por propiciar interpretações,
discussões e confrontos de idéias entre os estudantes, mas também pela natureza
investigativa. Nesse sentido, utilizar atividades investigativas como ponto de partida
para desenvolver a compreensão de conceitos é uma forma de levar o aluno a
participar de seu processo de aprendizagem, sair de uma postura passiva, deixar de
ser apenas um observador de aulas, muitas vezes expositivas, passando a ter
grande influência sobre ela, precisando argumentar, pensar, agir, interferir,
questionar, fazer parte da construção de seu conhecimento. Com isso, deixa de ser
apenas um conhecedor de conteúdos, passando, também a desenvolver atitudes e
habilidades como argumentação, interpretação, análise, entre outras (CARVALHO,
2006). É importante ressaltar que, os experimentos investigativos são atividades
práticas que exigem muito do aluno durante a sua execução. Cabe ao professor
propor desafios aos alunos, ou seja, situações problemáticas com nível de
dificuldade adequado, fazendo com que estes deixem de encará-las apenas pelo
senso comum. Considerando o ensino de ciências, essas questões quando
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encaminhadas pelo método científico, possibilitam aos alunos a elaboração de
hipóteses, sua experimentação com a organização dos resultados obtidos, a
reflexão sobre o significado dos mesmos, sejam os esperados e, sobretudo, dos
inesperados. Assim, com a construção do conceito científico trabalhado, chega a
uma conclusão e aplicação em demais situações ligadas à realidade do educando.
Nestes termos, para uma atividade experimental a contextualização do
conteúdo específico de Ciências e das possíveis relações conceituais e
interdisciplinares, são importantes estarem presentes na proposta pedagógica do
professor.
O solo, por ser um tema do contexto do aluno e do currículo escolar,
apresenta uma importância significativa ao processo educativo, além de caracterizar
um problema ambiental do município de Cidade Gaúcha da região Noroeste do
Paraná, local de desenvolvimento do presente trabalho, cujo objetivo principal foi
utilizar atividades experimentais e de campo, buscando tornar o estudante um ser
mais crítico e participativo, sendo capaz de relacionar a teoria desenvolvida na sala
de aula com a realidade a sua volta.
METODOLOGIA
A importância da experimentação e investigação na sala de aula faz com que
muitas questões sejam formuladas, quanto ao modo de inseri-la, na prática docente.
É preciso restringir conteúdos e embasar com teoria para que o aluno consiga
analisar e formular suas conclusões. Para o desenvolvimento do presente trabalho,
realizado no município de Cidade Gaúcha, da região noroeste do Paraná, foi
selecionado o tema solo, conteúdo desenvolvido com uma turma de 5ª série do
Ensino Fundamental com 36 alunos durante o período de abril a junho, totalizando
30 horas/aulas.
A abordagem adotada para o desenvolvimento desse trabalho foi qualitativa,
seguindo os referenciais de Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (1999), utilizando
como instrumento de pesquisa e trabalho uma experimentoteca sobre solos,
constituída de roteiros de atividades experimentais construídos por questões
planejadas e interligadas, de maneira que favoreça a construção do conhecimento.
Foram aplicadas metodologias, de acordo com a Teoria Histórico-Cultural, cuja
apropriação de conhecimentos se dá pela interação do sujeito com o meio, além da
caracterização da zona de desenvolvimento proximal, na qual a criança não
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consegue realizar tarefas, necessitando da ajuda de adultos ou de companheiros
mais capazes para fazê-las (Vygotsky, 2001). Destacam-se, assim, atividades
desenvolvidas nesse trabalho como, o intercâmbio entre os alunos com trocas de
saberes, realização de experiências em grupos, pesquisa de campo, registros dos
dados e socialização de conclusões.
Os resultados qualitativos foram analisados conforme os significados dos
conceitos trabalhados, iniciados pela aplicação de um pré-teste, realização das
atividades práticas e finalizados com um pós-teste.
O pré-teste constituiu por questões abertas relacionadas ao tema solo, com o
objetivo de obter o conhecimento prévio sobre a temática específica e de despertar o
interesse do aluno, além de possibilitar ao docente, reflexões sobre ações mais
efetivas em relação ao desenvolvimento do trabalho. Gasparin (2007) caracteriza
essa etapa como uma preparação e mobilização do aluno para a construção do
conhecimento escolar. Enquanto, Bizzo (2001) relata que a facilidade de acesso ao
conhecimento do cotidiano pelos alunos, por serem informações provenientes de
fatos históricos, religião, cultura, mitos, lendas, saberes populares, ou mesmo de
experiência de vida. Estes conhecimentos continuam presentes, mesmo quando o
aluno freqüenta a escola, porém essa instituição possibilita o acesso a outras formas
de conhecimento, como o artístico, o cultural e o científico.
As atividades práticas seguiram roteiros, conforme a temática abordada,
partindo de uma questão problematizadora e cotidiana, provocando no aluno
reflexões, pesquisa e soluções das questões levantadas. Enquanto que, o pós-teste
permitiu avaliar a apropriação do conteúdo científico desenvolvido.
Foram priorizados experimentação com trabalhos em grupo compostos por
seis elementos ficando sob a responsabilidade do professor o preparo e a
organização dos materiais. Porém, em algumas atividades foram realizadas
demonstrações práticas, pela indisponibilidade de material para todos.
Totalizaram-se seis atividades práticas sobre solo, desenvolvidas na sala de
aula, no pátio da escola e no ambiente rural, intituladas: observação e descrição de
diferentes tipos de solos; separando os componentes dos solos e a sua
classificação; testando a permeabilidade do solo arenoso e argiloso; relação da
vegetação com a erosão do solo; tipos de solos e desenvolvimento de rabanetes e
trabalho de campo: observação de uma erosão rural.
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RESULTADOS E DISCUSSÕES
1º- Analisando o Pré-Teste:
Conforme a metodologia descrita, aplicou-se um pré-teste, onde os alunos
responderam as questões sobre o solo baseado em seus conhecimentos cotidianos
os quais são construídos durante o convívio social.
Destacam-se, as seguintes questões:
1. A discussão sobre as culturas agrícolas destaca a importância do solo. O
que você entende por solo, ou seja, o que é o solo para você?
2. Existem diferentes tipos de solo? Justifique sua resposta.
3. O solo pode apresentar problemas? Que tipos de problemas?
Após análise das respostas apresentadas para as questões acima, foram
elaboradas categorias com a finalidade de organizar a multiplicidade de idéias
apresentadas.
O aluno demonstrou ter conhecimento superficial sobre o solo:
- É um objeto que se dá para plantar frutos, verduras, etc.- Solo é o que faz parte do vulcanismo.- Solo para mim é uma coisa que a gente fica pisando e se acabar nós não vamos ter lugar para pisar.- Um monte de coisas que antes era rochas.- O solo é a terra onde andamos, plantamos coisas.- Sim, tem três tipos de solos diferentes. - Sim, de várias cores, de vários tipos como duro, úmido, seco.- Sim, o solo tem terra, barro, argila e pequenas pedras.- Sim, existem solos arenosos, duros.- Sim, porque em muitos lugares o solo é muito arenoso e não dápara plantar nada. - Sim, desmoronamento.- Pode causar erosão, contaminação.- Sim. Quando, por exemplo, um gato vai e faz cocô no solo e, as crianças vão e brincam, podem ficar doentes.- Sim, rachaduras, buracos, etc.- Sim, o solo pode ter rachaduras, não ser fértil, estar doente, etc.
O aluno associou a palavra solo com conceitos astronômicos:
- Solo para mim é uma luz feita pelo Sol.- Sim. Porque existe bastante planeta. - Queimar algumas coisas ou aquecer demais o planeta.- Não, faz tanto tempo que o Sol está dando raios solares para nós.- Sim, o câncer de pele.- Não, porque o Sol ilumina as plantas.
O aluno relacionou a palavra solo com gás e poeira:
- Solo para mim é um vapor.
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- É uma bola de ar. - O solo é poeira que nela existem nutrientes, então nele hápossibilidade de nascerem coisas e plantas. - Pode ter fraquezas de gases, os gases vão sumindo e o solo vai enfraquecendo.- Sim, pode faltar camada de ozônio.
Ao analisar os resultados, observou-se que, na maioria das vezes, o aluno
demonstrou ter um conhecimento superficial sobre o conceito de solo, seus
diferentes tipos e sua degradação. Provavelmente, este conhecimento foi adquirido
na escola em anos anteriores, na família, com os amigos ou através da mídia, ou
seja, pelo convívio social, demonstrando que “essa construção não é realizada a
partir do zero” (MIRAS, 1996, p.58). Alguns, porém, associaram a palavra “solo” com
conceitos astronômicos, como por exemplo, o Sol e outros com nuvem de gás e
poeira. Estas concepções podem estar ligadas as similaridades da ortografia e a
proximidade temporal com o conteúdo sobre astronomia trabalhado em sala de aula,
além de uma falta de integração com significados de conceitos científicos,
apresentando apenas palavras desconexas. O Sincretismo aparece em algumas
respostas que definem o conceito pela palavra em si, não apresentando associações
com outros aspectos, sendo apenas palavras soltas (VYGOTSKY, 2001). De acordo
com Salvador (1994), constroem-se significados integrando ou assimilando o
material de aprendizagem aos esquemas que já se possui de compreensão da
realidade, ou seja, integrando o conhecimento cientifico adquirido na escola, ao
conhecimento prévio adquirido no cotidiano.
Segundo Vygotsky (2001), o conhecimento científico repousa em sistemas
culturais que são transmitidos através da escolaridade formal. Em contraste, os
conceitos de todos os dias adquirem-se através da participação em atividades da
vida cotidiana, e começam por ser uma compreensão concreta de eventos e de
fenômenos, que vão tornando cada vez mais abstratos à medida que vão sendo
integrados em sistemas do conhecimento formal. Os conceitos científicos, por sua
vez, adquirem-se por exposição verbal, e vão se tornando mais significativos à
medida que entram em contato com os objetos e eventos de todos os dias.
2º- Experimentoteca de solos
Os experimentos foram trabalhados conforme a seqüência dos conteúdos,
tais como: observação e descrição de diferentes tipos de solos; separando os
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componentes dos solos e a sua classificação; testando a permeabilidade do solo
arenoso e argiloso; relação da vegetação com a erosão do solo; tipos de solos e
desenvolvimento de rabanetes.
Os experimentos foram realizados tanto no pátio da escola, como em classe,
pois o laboratório estava sendo utilizado como sala de aula para atender a demanda
escolar. Os alunos realizaram os experimentos em grupos seguindo um roteiro de
atividades que valorizavam a sua contextualização a partir de uma questão
problematizadora. As atividades propostas não foram realizadas para comprovar
uma teoria, mas para que os alunos pudessem construir os conhecimentos
científicos de maneira significativa, e que desenvolvessem uma capacidade crítica e
participativa em relação ao seu contexto social.
A- Observação e descrição de diferentes tipos de solos
A atividade prática abordou diferentes tipos de solos coletados pelos alunos
em diferentes locais como, solo da beira do rio, do interior da mata e de um local
sem cobertura vegetal. Em grupos, durante a etapa de observação, os alunos foram
estimulados a fazerem uma análise a olho nu, com auxílio de uma lupa e através do
tato, levando em consideração à textura, o cheiro, a coloração, a umidade, a
presença de matéria orgânica decomposta, seres vivos, entre outros. Nesta etapa,
os estudantes identificavam e registravam as características de cada amostra, tais
como: “O solo sem cobertura vegetal é mais seco e solto, tem bastante areia e não
tem seres vivos”; “O solo da mata é úmido e ajuda os seres vivos a pisar num solo
muito macio. Outro aluno utilizando uma lupa relatou: “Eu vi um grão brilhante”.
Houve, nesse momento, intervenção do professor, após questionamento a respeito
da origem do grão observado, o quartzo, que é um dos componentes resultante da
decomposição das rochas. Portanto, é papel do docente provocar avanços nos
alunos e isso se torna possível com sua interferência na zona proximal (VYGOTSKY,
2001). Enquanto manuseavam o solo da mata, os alunos perceberam que o cheiro
era agradável “cheiro de mato”, também notaram a presença de matéria orgânica
em grande quantidade “tem bichinho morto”; “pedaço de pau”; “muitas raízes e
folhas” e a presença de seres vivos “tem muitas minhocas”, “achei formigas”. Quanto
à coloração perceberam as diferenças entre o solo da mata “cor marrom escuro” e
sem cobertura vegetal “a cor dele é marrom bem claro”. Após esse primeiro contato
com os tipos de solo, realizou-se uma discussão das respostas de cada grupo e,
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finalmente, uma sistematização coletiva da classe. Esse momento foi importante
para confrontar as diferenças em relação às amostras de solo e as novas
descobertas dos alunos. A seguir, os estudantes montaram um painel, colocando as
amostras de solos em saquinhos de plástico transparente, com as descrições das
respectivas características encontradas. Este recurso ficou em exposição na classe
para maior divulgação e utilização nas atividades posteriores.
Essa atividade foi considerada como suporte para as demais propostas por
este trabalho, pois a partir do diagnóstico das amostras de solo, novos
conhecimentos foram trabalhados pelo método investigativo e participativo entre os
grupos formados.
Os resultados foram valorosos e surpreendentes, pois despertaram interesse
e curiosidade sobre o assunto, principalmente quando utilizaram a lupa, pela
observação mais rica em detalhes. A curiosidade é um sentimento fundamental para
que os alunos tenham interesse e vontade de aprender coisas diferentes. Para
Harlan e Rivkin (2002, p. 22), “a maior parte das teorias que existem sobre
curiosidade apresentam-na não como uma emoção em si, mas como um afeto:
estado mental que influencia as emoções.”
B: Separando os componentes do solo / Classificação dos solos
Iniciou-se a prática com uma problematizaçao: “O solo da mata tem os
mesmos componentes que o solo sem cobertura vegetal ou da beira do rio?” As
primeiras hipóteses que os alunos formularam foram: “Não tem os mesmos
componentes, porque um solo é diferente do outro”. Essa primeira concepção
baseou-se nas observações que fizeram na prática anterior, relacionaram a palavra
“componente” com as diferentes características dos tipos de solos analisados. Para
o teste das hipóteses, cada grupo recebeu três vidros transparentes, que foram
preenchidos com um copo de cada amostra de solo, ou seja, o solo da mata, da
beira do rio e sem cobertura vegetal. Depois, completaram com água e misturaram
todos os elementos. Anotaram as primeiras observações, que nas amostras
formavam camadas, mas sem defini-las. Os experimentos ficaram em repouso
durante sete dias, período em que ocorreu a separação de seus constituintes. Após
esse período, notaram que as camadas ficaram mais nítidas e a partir de uma
interação discursiva os alunos relatavam sua observação, auxiliado pelas
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indagações do professor, como: “O que há de semelhança e diferença entre as três
amostras?”. Citam-se algumas anotações dos alunos:
Nos três vidros têm areia, barro e sujeira contendo ciscos, raízes e folhas; têm água barrenta e divisões em camadas. A diferença é que o solo da mata tem mais restos de folhas e raízes que os outros dois, o solo da beira do rio tem bastante barro e pouco cisco e o solo sem cobertura vegetal tem mais areia do que nos outros dois vidros.A cor da água também é diferente, do solo da mata é marrom escuro, da beira do rio é barrenta e do solo sem cobertura vegetal é mais clarinha.
Assim, por meio da observação, cada grupo complementava o que o outro
não havia relatado como a espessura das camadas, diferenças na coloração da
água, tipo de material depositado e após vários questionamentos possibilitou-se a
elaboração dos conceitos científicos. Referem, por exemplo, que o barro é formado
principalmente de argila, componente do solo resultante da fragmentação das
rochas, a sujeira contendo restos de vegetais é formada pela matéria orgânica
decomposta pela ação dos microrganismos, chamada húmus, que tem importante
função no desenvolvimento vegetal. Esse experimento oportunizou-se trabalhar o
conceito de densidade, pois os grãos de areia por serem maiores e mais pesados
decantaram formando a camada inferior; os grãos de argila por serem menores que
os da areia, são menos densos, portanto, desceram mais lentamente formando uma
segunda camada e, finalmente, as partículas de húmus, por terem densidade menor
que a areia e argila, uma parte ficou em suspensão na água e a outra foi depositada
por cima da argila formando uma terceira camada. Neste sentido, o professor deixa
de ser um mero transmissor de conhecimento, passa a ser um mediador do
processo de ensino, agindo como um guia. Ainda, ele precisa ter o cuidado de não
utilizar respostas definitivas ou sugerir um conhecimento pronto ou elaborado aos
alunos (CARVALHO, 2006).
Finalizando-se a atividade, retornaram a questão problematizadora e
concluíram que os solos, apesar de possuírem diferentes características,
apresentam os mesmos componentes, como: areia, argila e húmus, porém, em
proporções diferentes, podendo ser classificados em arenoso, argiloso e humífero.
Dessa forma, os alunos construíram os conceitos científicos de maneira significativa,
não recebendo um conhecimento pronto e acabado para decorar e depois esquecer,
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pois, na maioria das vezes, estas palavras não possuem significado algum para os
alunos, ou seja, não possui ligação com o real, com a sua realidade.
Em Vygotsky (2001) é possível compreender a importância da significação
dos conceitos, visto que é na interação, mediada pela linguagem, que se formam os
conceitos do cotidiano, que reelaborados na mente dos indivíduos irão refletir as
vivências do meio cultural. Nesse caso, o aluno não é simples receptor, mas faz
parte de um processo de construção dos conceitos que, inclusive, valoriza os
conhecimentos do cotidiano e parte deles para a construção de saberes mais
sistematizados. Logo, saber Ciências corresponde, a saber, empregar instrumentos
conceituais para dialogar com o mundo em vários níveis do seu contexto. A leitura
permite a compreensão do processo do conhecimento, principalmente pela relação
dialética da constituição da consciência pelos conceitos cotidianos e os conceitos
que são sistematizados pela escola (VYGOTSKY, 2001). A estrutura é reconstruída
através da prática social dialógica (mediada pela palavra) e pedagógica (mediada
pelo outro). O significado da palavra transforma-se ao longo do desenvolvimento do
sujeito que, por sua vez, busca novos sentidos e novas compreensões.
C: Testando a permeabilidade dos diferentes tipos de solos
A atividade prática iniciou-se com uma questão problematizadora não muito
específica, para gerar uma ampla discussão. “Por que após uma chuva, muitos
terrenos secam rapidamente e outros formam poças de água?” Seguem algumas
das primeiras hipóteses dos alunos:
O primeiro terreno é um solo arenoso e o segundo é barrento. O solo seco absorve melhor a água e o outro tipo de solo que já é úmido não absorve tão bem.
Analisando as primeiras hipóteses os alunos demonstraram ter como
conhecimento prévio que um tipo de solo é muito seco, no caso o arenoso, e o outro,
por conter barro, está sempre molhado. Mesmo após vários questionamentos eles
ainda não tinham a percepção dos espaços entre as partículas do solo, nem do
tamanho das mesmas. Para testarem as hipóteses, cada grupo recebeu o material
necessário para desenvolver a atividade, como dois equipos formados por potes
acoplados com funis contendo solo arenoso e o argiloso, previamente seco e
triturado, livre de torrões que poderiam interferir nos resultados. Despejou-se a
mesma quantidade de água nos dois funis ao mesmo tempo e, observaram a
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drenagem. Nessa fase do trabalho o professor percorre os grupos, verificando a
execução do experimento. Em relação à drenagem observaram que no solo
arenoso, sendo “a areia mais solta a água passou mais rápida” e, no solo argiloso
“demorou mais para passar porque formou um bolo ou uma pelota”, nesse momento
os alunos não possuíam, ainda, um conceito formado sobre a porosidade. Após
vários questionamentos, perceberam que os grãos de areia por serem maiores que
os da argila “deixam maior espaço entre eles”, e devido a estes espaços,
denominados poros, que a água pode “passar com certa facilidade ou não”. Além
disso, notaram que a argila funciona como um filtro, pois apesar da cor avermelhada
do solo argiloso, neste experimento, a água recolhida nos potes após a drenagem,
estava mais clara do que a do arenoso.
Para finalizar, retornaram a questão problematizadora, e concluíram que o
solo não é um meio maciço, é extremamente poroso, que a sua composição pode
influir na capacidade de infiltração e retenção da água. Os poros são necessários
para o crescimento das raízes e outros organismos do solo, além de servir para o
movimento de água e ar. Também relacionaram este fenômeno com a formação do
lençol freático. Portanto na conclusão, “deve-se formalizar uma resposta ao
problema inicial discutindo a validade ou não das hipóteses iniciais e as
conseqüências delas derivadas” (AZEVEDO, 2006, p. 29).
Segundo Freire (1997), para compreender a teoria é preciso experienciá-la. A
realização de experimentos, em Ciências, representa uma excelente forma para que
o aluno faça a experimentação do conteúdo e possa estabelecer a dinâmica
indissociável entre teoria e prática. Para isso, é fundamental que o professor
apresente um problema sobre o que está sendo estudado, para que o aluno possa
refletir, buscar explicações e participar das etapas de um processo que leve à
resolução do problema proposto. No entanto, é necessário desafiá-los com proble-
mas reais; motivá-los e ajudá-los a superar aqueles que parecem intransponíveis;
permitir a cooperação e o trabalho em grupo; avaliar não numa perspectiva de
apenas dar uma nota, mas na intenção de criar ações que intervenham na
aprendizagem (HOFFMANN, 2001; PERRENOUD, 1999; LUCKESI, 2003).
D: Relação da vegetação com a erosão do solo
Essa atividade prática foi demonstrativa. O material necessário foi preparado
pelo professor com quinze dias de antecedência, formado por duas garrafas tipo
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PET cortadas no sentido longitudinal contendo o mesmo tipo de solo. Em uma
garrafa deixou o solo sem vegetação, enquanto que em outra, semeou-se alpiste, e
aguardou o tempo determinado para o seu crescimento. As demonstrações, de
maneira geral, sempre iniciam de um problema, que por meio de questões procura
detectarem que tipo de pensamento os alunos possuem sobre o assunto, seja ele
intuitivo ou de senso comum. Como por exemplo, “Imaginem dois terrenos inclinados
um está com vegetação e o outro nu, após uma chuva qual dos dois perderá mais
solo pela força da enxurrada?” As primeiras hipóteses foram realizadas por alunos
que residem ou que têm família com propriedade na área rural:
O terreno que está sem vegetação, porque no outro com vegetação as raízes vão deixar a terra mais firme.As raízes seguram mais a terra.
Para alguns alunos, muitas vezes a solução para o problema proposto
parece ser simples, isso porque se trabalha diretamente com questões relacionadas
ao seu cotidiano. O papel do professor é o de provocar em seus alunos a construção
do conhecimento marcada pela passagem do saber cotidiano para o saber cientifico,
por meio da investigação e do próprio questionamento feito acerca do fenômeno. A
partir da formulação do problema e de uma discussão com a classe, a demonstração
foi realizada, sendo que um grupo de alunos derramou água simulando uma chuva
sobre cada garrafa levemente inclinada, uma com a planta já crescida e a outra sem
vegetação. A água escorrida foi coletada em potes para comparação e análise da
quantidade de material removido de cada amostra. Iniciava-se, então, uma
discussão sobre o que havia sido observado e também sobre quais seriam as
explicações científicas acerca do fenômeno. Como por exemplo: “Após regar com
água as amostras do experimento, compare as características da água escorrida.
Tente explicar o que houve. Qual a relação entre a cobertura vegetal e o processo
de erosão?” A diferença da quantidade do material removido das garrafas ficou
evidente e os alunos não tiveram dificuldades para relatar o ocorrido, tais como:
O pote que coletou a água que escorreu da garrafa sem vegetação tem maior quantidade de solo removido do que da outra garrafa. As raízes das plantas são importantes para segurar as partículas do solo.No solo sem vegetação formaram buracos.
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Porém, nenhum aluno associou as partes aéreas do vegetal como folhas e
galhos na interferência do resultado, que amortecem o impacto das gotas da chuva,
evitando que o solo seja desagregado e carregado pelas águas superficiais. Houve a
intervenção do professor para esse detalhe, “Será que é somente as raízes das
plantas que diminuem a remoção do solo pela força da enxurrada? E as partes
aéreas, como galhos e folhas, também não interferiram nos resultados?” Após as
discussões e as reflexões, o professor sistematizou as explicações dadas ao
fenômeno.
Uma das atividades investigativas, que o professor pode fazer uso é a
demonstração prática, que apresenta vantagens em certas circunstâncias, como por
exemplo, quando o material não é suficiente para o trabalho individual ou em grupo,
por requerer apenas o material do demonstrador, como no experimento
apresentado.
E: Desenvolvimento de rabanetes em solo arenoso e solo humífero
Iniciou-se a prática com a semeadura das sementes de rabanete em potes de
plástico contendo os tipos de solo, arenoso e humífero. O problema foi proposto
para que estimulasse a curiosidade científica dos alunos. A resposta a questão
inicial será o objetivo principal do experimento. Por exemplo: “Como vocês acham
que o rabanete irá se desenvolver nos diferentes tipos de solo?” Os alunos
levantaram as primeiras hipóteses, como:
Eu acho que no solo humífero o crescimento será maior, porque contém restos orgânicos e é um pouco úmido e o solo arenoso tem poucos nutrientes para a planta crescer.No solo humífero a planta desenvolverá mais rápido e no solo arenoso eu acho que as sementes vão morrer.
Pelos registros dos alunos nota-se que eles têm um conhecimento sobre a
importância da matéria orgânica para o desenvolvimento das plantas, que foi
adquirido provavelmente nas práticas anteriores. Levantadas as hipóteses, discuti-se
como será encaminhado o experimento, portanto, após a semeadura levaram os
potes para casa e ficaram cuidando durante três semanas. Nesse intervalo de
tempo, acompanharam o experimento fazendo observações e registrando o
crescimento e desenvolvimento das plantas colocando os dados numa tabela. Após
esse período levaram os experimentos à escola para finalizar o trabalho, ou seja,
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fazer uma análise dos dados, fornecendo informações sobre a questão-problema.
Os alunos observaram os diferentes resultados do desenvolvimento dos rabanetes
nos dois tipos de solos, conforme relatos:
Eu observei que no solo humífero se desenvolveu melhor, cresceu mais, têm mais folhas, o talo é mais grosso e no solo arenoso nasceu, mas não se desenvolveu como o outro. Eu pude observar que no solo humífero o desenvolvimento foi melhor, pois este contém mais nutriente que o solo arenoso.
Alguns deram até nomes as plantinhas “O nome da minha planta é Sol”; “A
história da Lua”; também verificaram que alguns experimentos pelo fato de ficarem
num local com muita sombra “as plantas não desenvolveram muito bem, as folhas
ficaram finas, tortas e amareladas” e aqueles que deixaram os experimentos sob a
luz do Sol “as folhas ficaram com uma coloração verde mais escura”, concluíram,
assim, que a luz solar é de extrema importância para o desenvolvimento das
plantas. Alguns experimentos, porém, foram atacados pelas formigas e outros
insetos “a minha planta foi crescendo e eu fui ficando alegre até que um dia eu vi
que a lagarta mordeu a folha”. Essa atividade prática forneceu muitas informações
aos alunos, que além da matéria orgânica as plantas necessitam de água, luz e de
certos cuidados, principalmente contra os predadores e, que não existe experimento
que não dê certo, os resultados é que podem ser diferentes. Assim, a experiência
não é uma atividade monolítica, mas uma atividade que envolve muitas idéias,
muitos tipos de compreensão, bem como muitas capacidades, tem vida própria
(HACKING, 1992).
F: Atividade de campo- Observação de uma erosão rural
As atividades de campo podem ser utilizadas como importante estratégia de
ensino, uma vez que o contato com o ambiente permite a sensibilização acerca dos
problemas ambientais. Além disso, surgem oportunidades de reflexão sobre valores,
imprescindíveis às mudanças comportamentais e, sobretudo, atitudinais
(CARVALHO, 1998). Para Sato (2004), o processo de sensibilização das pessoas
ocorre, sobretudo, pela observação, contato e “imersão” na natureza. As aulas de
campo favorecem também uma abordagem ao mesmo tempo mais complexa e
menos abstrata dos fenômenos estudados.
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Para realizar esta atividade, primeiramente fez-se o reconhecimento do local,
pois é importante que o professor conheça o ambiente a ser visitado, para que este
não seja limitado, no sentido espacial e físico, de forma que possa atender os
objetivos da aula. Como a turma era numerosa e, para segurança de todos, além do
professor, duas pessoas adultas acompanharam a visita, sendo uma delas, técnico
do meio ambiente, para atender as possíveis dúvidas dos alunos no local
determinado. Segundo SANTOS (2002), as contribuições da aula de campo podem
ser positivas na aprendizagem dos conceitos à medida que é um estímulo para os
professores, que veem uma possibilidade de inovação para seus trabalhos e
empenhando-se mais na orientação dos alunos.
No local determinado fizeram as observações e registros de acordo com o
roteiro preparado previamente pelo professor, tais como:
Observe a topografia do terreno próximo à erosão e a descreva,
conforme suas características, como: se o terreno é muito inclinado,
com ou sem cobertura vegetal, tipo de vegetação, técnicas de
conservação como curvas de nível, entre outros.
Aponte as possíveis causas do surgimento da erosão do terreno.
Observe a erosão quanto ao comprimento e profundidade. Utilize
como instrumento de medida um barbante com pedaço de madeira
preso nas suas extremidades. Anote a profundidade estimada da
erosão, pelo comprimento do barbante.
Descreva o que você pode observar dentro da erosão.
Localize na erosão se em algum ponto pode observar o perfil do solo.
Escreva as características de cada camada (horizonte) observada.
Verifique que tipos de medidas de controle da erosão estão sendo
realizadas. Em sua opinião, a medida é viável ou não?
Para você, onde foi parar o material erodido? Observe e descreva.
Quais as conseqüências da erosão ao meio ambiente?
Para desvendar algum fenômeno, não basta olhar despretensiosamente, sem
procurar nada, como costumamos fazer. É necessário olhar com atenção, com
curiosidade, com olhos críticos, procurando os detalhes e o que pode ser mais
importante. Diante disso, os alunos foram instigados durante toda a caminhada do
local de estudo, a observar a paisagem identificando os aspectos relacionados ao
solo.
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Em relação à topografia do terreno, relataram de acordo com suas
características: “Eu vi pasto, capim, o terreno era inclinado, observei curvas de nível
para segurar a enxurrada, solo muito solto e arenoso”. Apontaram as possíveis
causas do surgimento da erosão do terreno e observaram a sua extensão. Seguem
alguns comentários feitos por alunos:
Tudo começou com a água da chuva que carregou parte do solo, hoje ela tem mais ou menos seis metros de profundidade e aproximadamente um quilômetro de extensão.O nosso solo por ser derivado do Arenito Caiuá é bastante solto e fácil de ser carregado pela água da chuva, outra causa, é que parte da água coletada da cidade cai nesse ponto.
Enquanto caminhavam ao lado da erosão, faziam observações e relavam o
que viam dentro dela, como apontam os alunos:
Observando o perfil do solo vimos o horizonte A, que é a camada mais escura por causa da matéria orgânica e com muitas raízes e abaixo o horizonte B que é menos escuro e com menos raízes.Dentro dela tem muito lixo.Eu vi a rocha-mãe.
Por ser uma erosão antiga havia vários braços em toda a sua extensão em
alguns pontos verificaram até o surgimento do lençol freático de tão profundo que
era, conforme o relato de um aluno: ”Andamos cada vez mais passando por pastos,
lixos até que chegamos a um ponto que tinha água que saía do lençol freático”.
Quanto às medidas de controle relataram que “Havia cerca em algumas partes em
torno da erosão para que naturalmente a vegetação pudesse crescer e não ser
comida ou pisoteada pelos animais, as raízes das plantas seguram para não
desbarrancar”; “colocaram tubulações no seu interior para canalizar a água, mas
essa medida não deu certo”. Finalizando-se as atividades de observação relataram
as conseqüências para o meio ambiente:
A erosão tem conseqüências graves para o meio ambiente, solo pobre, buracos, rachaduras, vegetação pobre.Todo material erodido foi parar no córrego Ipiranga, provocando seu assoreamento e prejudicando a vida aquática.
Após a visita, realizou-se em classe o trabalho de organização dos dados em
forma de relatório. Nesta atividade alguns alunos tiveram dificuldades em organizar
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as informações, pois não responderam devidamente o roteiro durante a visita.
Apesar de o professor estar sempre atento e tomando cuidado para que prestassem
atenção nas explicações e principalmente, com o ambiente que era perigoso, alguns
se dispersaram. Outros, porém, escreveram textos bem elaborados e com
informações ricas em detalhes do ambiente visitado, conforme alguns relatos feitos
anteriormente.
Na pesquisa de campo o contato direto com o ambiente tornou o aprendizado
mais fácil, uma vez que o estudante envolveu-se em situações reais, e estes
compreenderam, de maneira mais rápida, à medida que visualizavam o conteúdo
que estava sendo tratado (FRACALANZA; AMARAL; GOUVEIA, 1986). Fizeram
muitos questionamentos, principalmente em relação ao tamanho da erosão e as
suas conseqüências ao meio ambiente.
Das atividades propostas durante o projeto, essa foi a que mais gostaram,
conforme depoimentos de alguns alunos da turma:
Os experimentos revelam curiosidades legais e o trabalho de campo deu conhecimento e novas descobertas, pois desde que nasci moro nesse município e nunca tinha visitado esse local.Das atividades práticas realizadas, eu gostei mais do trabalho de campo por causa da erosão, do lençol freático, também os horizontes A, B e C e a rocha-mãe que virou solo.O trabalho de campo porque eu não sabia o que era erosão e eu conheci.Eu achei mais interessante o tamanho da erosão.
A aula de campo possibilitou aos alunos observarem os fenômenos como eles
ocorrem na natureza e, portanto, na realidade, além de permitir a elaboração de
conhecimentos mais complexos e o confronto entre a teoria e a prática (SENICIATO,
2002).
3º: Aplicação do pós-teste
Finalizando-se as atividades práticas os alunos realizaram os mesmos
questionamentos do pré-teste feito no início do projeto, como forma de avaliação do
conteúdo desenvolvido. Responderam as questões aplicando os conhecimentos
sobre o solo que adquiriram no decorrer do processo ou que complementaram
baseados em seus conhecimentos cotidianos, porém, de forma mais sistematizada,
como segue alguns relatos:
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O solo para mim é formado por matéria, tanto orgânica quanto inorgânica. É a parte da superfície terrestre formada pela decomposição das rochas.É a camada superficial da Terra, composta de materiais orgânicos (fezes, restos de animais e plantas) e materiais inorgânicos (areia, silte e argila). Existem muitos tipos de solos como o arenoso, argiloso e o humífero.O solo para mim é muito importante porque quando plantamos alguma fruta ou verdura, elas crescem e a gente pode comer.O solo pode apresentar problemas, se não tiver cobertura vegetal a água da chuva pode levar parte dele e, ainda faz buracos que podem virar erosões enormes.
Porém, nenhum aluno associou a palavra solo com conceitos astronômicos
ou com nuvem de gás e poeira, como no início de pré-teste. De acordo com
Vygotsky (2001), na interação entre professor e aluno dá-se o confronto entre os
conceitos espontâneos e os conceitos científicos. Enquanto que, os conceitos
científicos descem à realidade empírica, os espontâneos ascendem buscando
sistematização, abstração, generalização. Conforme descrito anteriormente, alguns
alunos relacionaram a palavra solo com conceitos astronômicos, eis o relato de uma
aluna “Antes eu entendia que o solo era o sistema solar e agora eu entendo que é o
lugar onde pisamos”. Dessa forma, a apropriação dos conceitos científicos no
ambiente escolar, implica na reconstrução dos conceitos espontâneos numa
articulação e transformação recíprocas, mediados pela ação pedagógica do
professor.
CONCLUSÃO
Com a realização desse trabalho, pude constatar que a experimentação é
uma estratégia eficiente no ensino de ciências para a criação e reflexão de
problemas reais que permitam a sua contextualização e, que realmente é possível,
ministrar aulas mais significativas e agradáveis, em que o aluno possa participar e
expor opiniões sem repressão e sem precisar decorar conceitos. Também, a falta de
um laboratório não pode ser considerada empecilho para o desenvolvimento de tais
atividades. Pode-se fazer uso de materiais de sucata, construídos junto com os
alunos, como também explorar o meio, como aula de campo ou extraclasse.
No entanto, a metodologia de aulas experimentais não deve ser pautada no
tipo “receita de bolo”, em que os aprendizes recebem um roteiro para seguir e obter
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os resultados que o professor espera tampouco almejar que o conhecimento seja
construído pela mera observação. Ao ensinar ciência, no âmbito escolar, deve-se
levar em consideração que toda observação não é feita num vazio conceitual, mas a
partir de um corpo teórico que orienta a observação (GUIMARÃES, 2009).
Em todas as etapas do projeto houve um acompanhamento do
desenvolvimento dos trabalhos dos alunos, mediando por questionamento,
auxiliando nas suas dificuldades, verificando como concluíram os experimentos,
promovendo a socialização de conhecimentos, complementando ideias, motivando-
os.
Dentre as dificuldades encontradas destacam a falta de responsabilidade na
entrega dos relatórios por alguns alunos, a dificuldade na escrita com erros
ortográficos e de concordância, que em momento oportuno contavam com o auxílio
do professor, e a excitação, por parte de certos alunos, nas atividades
experimentais. Em relação ao trabalho em grupo, apesar da agitação que é própria
neste tipo de atividade, permitiu a troca de informações, o confronto de idéias, o
desenvolvimento no aluno do espírito de equipe e atitude colaborativa, o que
enriqueceu ainda mais o trabalho, principalmente daqueles com maiores
dificuldades, por receberem ajuda de seus colegas.
Para que as atividades experimentais tenham um resultado satisfatório,
necessita de uma organização por parte do professor, principalmente quando a
escola não possui um laboratorista para auxiliar nas atividades, como no preparo e
limpeza dos materiais. Para execução de algumas atividades, o tempo planejado,
não foi suficiente, necessitando priorizar aquelas consideradas mais relevantes para
o processo ensino e aprendizagem, pois não é a quantidade de conteúdos que
garante a aprendizagem do aluno e sim a qualidade como estes são desenvolvidos.
Contudo, os resultados alcançados foram relevantes. As experiências e
demonstrações desenvolvidas revelaram-se uma ferramenta útil, permitindo abordar
a temática solo de maneira didática e interessante, além de vinculá-la à questão
ambiental e ao cotidiano do aluno do ensino fundamental. O estudo científico do
solo, a aquisição e disseminação de informações sobre o seu papel e sua
importância na vida do homem são condições primordiais para sua proteção e
conservação e a garantia da manutenção de um ambiente sadio e sustentável
(LIMA; LIMA, 2004).
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Portanto, através da experimentação, ou seja, de um ensino que leve o aluno
a participar ativamente, permitindo-lhe fazer reflexões e conclusões e mais ainda,
que leve em consideração o seu cotidiano, poderia ser a solução para um dos
problemas enfrentados na educação como o predomínio de um ensino tradicional,
fundamentado na transmissão, recepção e memorização de informações. Dessa
forma, com a experimentação possibilitaria o desenvolvimento de um aluno
autônomo, capaz de compreender e atuar no mundo, visando às transformações
para o seu próprio meio.
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