ATLAS ESCOLAR: UM OLHAR SOBRE DEFINIÇÕES, DIVERSIDADES, CONCEPÇÕES E FINALIDADES.
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II Seminário Internacional em Educação e VI Jornada do PPGE – 2010
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Eixo temático: Ensino e metodologia de disciplinas específicas. Categoria: Comunicação oral.
ATLAS ESCOLAR: UM OLHAR SOBRE DEFINIÇÕES, DIVERSIDADES, CONCEPÇÕES E FINALIDADES.
Daniel Bueno Junta;
Andrea Coelho Lastória; Antonio Vitor Rosa.
Universidade de São Paulo / Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto/SP
Resumo Este trabalho apresenta uma pesquisa de iniciação científica, desenvolvida como monografia junto ao curso de Pedagogia da FFCLRP / USP. Pautada no levantamento e estudo bibliográfico referente ao tema Cartografia Escolar, o trabalho aborda a história da Cartografia e a trajetória de desenvolvimento dos mapas desde a pré-história os dias atuais. As variadas definições de Atlas foram apontadas tendo em vista sua diversidade temática em áreas específicas do conhecimento. Reflexões sobre as possibilidades de utilização dos Atlas escolares na sala de aula foram tecidas enfatizando o potencial pedagógico e interdisciplinar dos mesmos, principalmente para os anos iniciais do ensino fundamental. A pesquisa é do tipo descritivo-analítico com abordagem qualitativa. A coleta de dados ocorreu por meio da utilização de um questionário junto às professoras atuantes nas séries iniciais do ensino fundamental de escolas da rede pública e privada do município paulista de Ribeirão Preto-SP. O intuito deste questionário foi investigar como ou de que maneira estão sendo usados mapas e/ou atlas no ensino dos anos iniciais. Dentre os resultados obtidos foi possível considerarmos que 80% das professoras afirmam usar mapas ou Atlas escolares apenas para localização de países e territórios e 20% delas não responderam como os utilizam em suas práticas escolares. Tais resultados parecem indicar que tais práticas pedagógicas ainda são permeadas por uma abordagem tradicional de ensino. A concepção de Atlas Escolar mais evidenciada é a de que se trata de um “conjunto” de mapas que serve como ferramenta para a simples localização dos países ou outros lugares. Tal concepção distancia-se da idéia de que a leitura e a construção de mapas nas séries iniciais do ensino fundamental contribuem com o raciocínio espacial e com o desenvolvimento de um pensamento mais crítico a respeito de sua própria localidade e do mundo em que vivemos.
Palavras-chave: Atlas escolar; cartografia escolar; mapas; ensino de geografia, práticas pedagógicas.
Introdução
A partir do segundo ano do curso de Pedagogia na Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, percebemos uma
crescente desvalorização do ensino da Geografia nos anos iniciais. Tal percepção
ancora-se nas práticas de estágio que se iniciaram no segundo ano do curso, nas
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disciplinas de Psicologia da Educação e Políticas Educacionais. Os focos de tais
estágios assentavam-se na observação das relações professor-aluno e no entorno da
escola, entretanto, não podemos deixar de notar o contexto do ensino de Geografia.
Desde então, observamos diretamente em todos os estágios e ações escolares, uma
precariedade na Geografia Escolar dos anos iniciais do ensino fundamental.
A partir deste olhar, desenvolvemos este trabalho com vistas a contribuir com a
melhoria do ensino da Cartografia Escolar dos anos iniciais, dos quais consideramos
como o período em que a Cartografia deveria contribuir para que o sujeito pudesse
compreender melhor o espaço onde vive e as relações Sociedade-Natureza, relações
complexas que envolvem o local e o global. A noção espacial, portanto, vai muito além
da simples localização e orientação nos mapas. Ela envolve também o chamado
raciocínio espacial, constituição cognitiva fundamental para permitir que a criticidade
seja desenvolvida na escola.
Além das disciplinas de Metodologia do Ensino de História e Geografia
desenvolvidas no curso de Pedagogia, o referencial teórico e metodológico deste
trabalho também foi propiciado a partir do meu ingresso, em 2009, no grupo de
pesquisa denominado por grupo de Estudo da Localidade - ELO. Tal grupo está
vinculado ao Laife (Laboratório Interdisciplinar de Formação do Educador) da
FFCLRP/USP e é constituído de alunos e professores pedagogos, de História e de
Geografia do ensino público e privado. Num momento inicial este grupo investigou a
localidade e o cotidiano de Ribeirão Preto – SP por meio de estudos na interface das
áreas de Educação, História, Geografia e Cartografia Escolar. Já tendo constituído
coletivamente um Atlas Histórico, Geográfico e Ambiental para o referido município.
Atualmente o grupo vem desenvolvendo uma pesquisa coletiva que prioriza a
construção de práticas escolares para comporem uma coletânea. O intuito é apresentar
trabalhos diferenciados de ensino e aprendizagem. Neste contexto, tivemos como
objetivo valorizar a Cartografia Escolar por meio de reflexões sobre as diversas
possibilidades de utilização do Atlas nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
O presente trabalho envolve cinco partes sobre os seguintes assuntos:
metodologia de pesquisa, História da Cartografia, a definição do termo e vários
exemplos de Atlas, reflexões teóricas sobre o ensino da Cartografia Escolar, práticas e a
interdisciplinaridade com o uso de mapas na sala de aula, analise dos dados levantados
pela pesquisa e as considerações finais.
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1. METODOLOGIA
Desenvolvemos uma pesquisa do tipo descritivo-analítico com abordagem
qualitativa. Inicialmente nos ocupamos em realizar um levantamento bibliográfico com
os devidos fichamentos e sínteses dos textos mais relevantes sobre o assunto. Após o
levantamento bibliográfico, desenvolvemos a parte que trata da história da Cartografia.
Após esta parte trouxemos à luz a definição de Atlas a partir da bibliografia pesquisada,
exemplificando com diversos tipos de materiais que usam este mesmo termo. Em
seguida fizemos a coleta de dados com o auxílio de um questionário que foi respondido
por professoras atuantes tanto em escolas públicas (municipais e estatuais) como em
escolas privadas localizadas no município paulista de Ribeirão Preto. O intuito deste
questionário foi investigar como ou de que maneira estão sendo usados mapas e/ou
Atlas no ensino dos anos iniciais.
Em todas as instituições em que visitamos, não encontramos nenhum homem
lecionando, ou seja, todas as profissionais entrevistadas são do sexo feminino. Quanto à
escolha dessas docentes, mantivemos o foco naquelas que ministravam aulas de terceira
e quarta série (ou quarto e quinto ano)i, por considerar estas séries ou os anos compostas
por crianças com um mínimo de desenvolvimento cognitivo que permita a ela
compreender a linguagem dos mapas. É preciso considerar, também, o fato de não
entrevistamos quaisquer membros do ELO, pois este grupo já valoriza a citada
linguagem cartográfica desde os anos iniciais.
Foram dez professoras, das quais 2 de uma escola municipal, 8 de uma escola
Estadual e 1 de uma escola privada, totalizando 11 professoras. Dos dados coletados em
todos os questionários, fizemos agrupamentos de respostas, que foram organizadas em
tabelas exibindo o valor percentual de acordo com a freqüência em que elas apareciam
objetivando explicitar a concepção e o uso do Atlas nas práticas pedagógicas.
Destacamos que o foco desta pesquisa recai sobre a prática do ensino da
Cartografia e algumas das múltiplas possibilidades de utilização dos mapas e Atlas. Ao
mesmo tempo se distancia de uma tentativa de se criar uma receita de como utilizar um
Atlas em sala de aula. Salientamos ainda que não se trata de uma crítica ao profissional
da educação, longe disso, o trabalho aponta para a necessidade de se desenvolverem
práticas renovadas com o uso de mapas e/ou Atlas Escolares e para uma sólida
formação (inicial e continuada) do professor dos anos iniciais. Este trabalho também
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visa contribuir com o reconhecimento e valorização do ensino da Cartografia como área
de grande importância para o desenvolvimento dos sujeitos em idade escolar.
2. A MARCA DO CONTEXTO HISTÓRICO NA ELABORAÇÃO DE
MAPAS: BREVE HISTÓRIA DA CARTOGRAFIA
A definição de mapa e a sua utilidade eram concebidas de maneiras diversas na
chamada Pré-História, na Idade Média e atualmente. O que se entende por mapa varia
de acordo com o contexto e o lugar e ainda mais, eles “são igualmente um tipo de
espelho que reflete as visões religiosas e filosóficas, os interesses e os conhecimentos
da época de sua confecção.” (DREYER-EIMBCKE, 1992, p.17). De uma maneira
geral, pode-se definir mapa como sendo a representação no plano bidimensional de uma
superfície que se encontra no plano tridimensional e além do mais, “o mapa não é
apenas uma simples ilustração, ele descreve uma porção do espaço com suas
características qualitativas e quantitativas.” (PINHEIRO, 2008, p.2).
Os primeiros mapas foram feitos antes mesmo da escrita da criação da escrita,
ou seja, ainda na Pré-História. As comunidades nômades se instalavam em determinado
lugar e quando os recursos se esgotavam, elas se deslocavam para outra área, sempre em
busca de melhores condições para a sua sobrevivência. É provável que algumas destas
comunidades passaram a registrar seus recursos e sua trajetória durante os seus
deslocamentos. Estes registros eram como mapas mentais, sendo assim, da mesma
forma que os desenhos precederam à escrita, diz-se que a elaboração de mapas, mesmo
que rústicos, “precedeu o registro da história.” (Abril Cultural).
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas - IBGE:
Os primeiros mapas aparecem junto a desenhos registrados pelos povos primitivos em cavernas [...]. Há figuras rupestres encontradas no Vale do Pó, norte da Itália, na cidade de Bedolina, onde há um mapa representando toda uma organização camponesa, mostrando detalhes de atividades agropastoris ali desenvolvidas por volta de 2400 anos antes de Cristo. (BRASIL, IBGE, 2009).
Os mapas, em sua origem, tinham uma utilidade imediatamente prática (ainda
muito longe de ser tratado como um conhecimento restrito que envolvia estratégia,
poder e dominação, como ocorreria na época das Grandes Navegações e no século XX
com as guerras). O mapa “primitivo” era como uma ferramenta de auxilio à
sobrevivência, na qual se registravam dados sobre os recursos da comunidade, as cheias
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de um rio, um caminho percorrido, entre outros. Com o tempo, a elaboração de mapas
foi ganhado outros significados, como por exemplo ao “apresentar os conhecimentos
sobre determinada região, embutiam um valor simbólico, representando o poder e o
domínio de determinados grupos.” (IBGE, 2009).
No decorrer da história da humanidade, foram criados mapas com outros
intuitos. Cláudio Ptolomeu, nascido em Alexandria no ano 100 d.C., foi um grande
estudioso de várias ciências e tinha à sua disposição a grande biblioteca de Alexandria e
o conhecimento de antigos “pensadores” o que provavelmente contribuiu para que ele
sistematizasse um amplo conhecimento em Matemática, Astronomia como também em
Geografia, realizando estudos e escrevendo sobre todas essas áreas. A sua obra
intitulada Geografia “se compunha de um total de oito livros. Para Ptolomeu, a
geografia era a representação gráfica de toda a superfície terrestre conhecida.”
(DREYER-EIMBCKE, 1992, p.44). Pelo menos dois desses oito volumes, Ptolomeu se
dedicou ao estudo “da construção de globos, projeções e mapas.” (Mapas Históricos
Brasileiros).
Na Idade Média, os cartógrafos (detentores do conhecimento acadêmico)
desenvolviam mapas com representações alegóricas, junto com um forte simbolismo
religioso e patriótico “os mapas podiam ter formas de rosto humano ou de animais e
neles podiam-se encontrar elementos fantasiosos” (DREYER-EIMBCKE, 1992, p.20).
Somente em 1570, foi confeccionado o primeiro conjunto de mapas de
todo o globo. Feito por Ortelius (1527-1598) recebeu o nome de “Theatrum Orbis
Terrarum” (IBGE, 2009). Mas, apesar desta obra ser tipicamente um Altas, foi
Mercartor (1512-1594) que empregou pela primeira vez tal palavra para intitular um
conjunto de mapas. Mercator também desenvolveu uma projeção Cilíndrica do mapa
mundi com o objetivo de auxiliar a navegação, “oferecendo uma representação do
mundo, onde uma linha reta na carta correspondesse a uma reta de igual rumo no
oceano”. (IBGE, 2009).
Entre as décadas de 1910 e 1940, a Cartografia ganhou um forte peso ideológico
por causa de interesses políticos. O mundo estava em guerra e os mapas, nesse período
“tornaram–se objetos decisórios por excelência, na definição de fronteiras, dando
assim, poder a seus autores – os geógrafos.” (MARTINELLI, 2007, p.58).
No final do século XX e agora no século XXI, o acesso a mapas se tornou
incomparavelmente mais amplo. Na atualidade “presencia-se uma época em que os
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Atlas impressos estão sendo substituídos pelos eletrônicos” (MARTINELLI, 2007,
p.58) os quais trazem possibilidades, como a interatividade, a capacidade de alteração
dos componentes do mapa, a mudança de escala, enfim todo um conjunto de
ferramentas que são incomparáveis aos limites do Atlas de papel.
3. ATLAS: palavra polissêmica
Atualmente a palavra Atlas não se refere somente a uma coleção de mapas.
Sendo polissêmica ela adquire outros sentidos, dependendo de sua aplicação. Desta
forma, esta palavra também se refere aos diversos outros tipos de conjunto de dados
dentro de uma área específica da Ciência.
A definição de Atlas, de acordo o IBGE é a seguinte:
Um atlas, por definição, é um conjunto de mapas ou cartas geográficas. Porém o termo também se aplica a um conjunto de dados sistematicamente organizados sobre determinado assunto e que servem de referência para a construção de informações de acordo com a necessidade do usuário. (BRASIL, IBGE, 2007, p.8).
Sendo assim, esta palavra pode ser definida com o sentido de conjunto de
informações gerais sobre determinado lugar ou assunto. Existem vários tipos de Atlas
de inúmeras áreas do conhecimento. Dentro de um tema específico, como o da
Medicina, tem-se, por exemplo o Atlas do corpo humano. No campo da Biologia,
encontramos o Atlas de Biologia. No estudo dos minerais há o Atlas de Mineralogia. Há
ainda Atlas histórico que auxilia o aprendizado de História no ensino fundamental e no
ensino médio. Atlas Ambientais trazem diversas informações sobre várias áreas
territoriais, as quais de alguma forma são de interesse de preservação ambiental.
Promovem a divulgação sobre a importância do patrimônio natural. Dentro da categoria
de Atlas territorial, temos os Atlas Universal que apresentam os territórios: continentes,
oceanos e países do mundo todo. Nesta mesma categoria enquadram-se os Atlas
Municipais, que “são concebidos como materiais didáticos que focalizam os temas mais
importantes de um município” (LASTÓRIA, 2007, p.118).
Também podemos encontrar os Atlas digitais, os quais incorporam uma nova
tecnologia e nos oferecem uma ferramenta para ensinar Cartografia. Trazendo, muitas
vezes, a vantagem da interatividade com o usuário, permitindo que este faça
modificações na estrutura dos mapas além da possibilidade de explorar os dados de
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forma dinâmica. Em termos práticos, isso quer dizer que o usuário pode mudar a escala
de observação, retirar ou acrescentar nomes dos países, dos rios, das cidades etc.
4. ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS.
Pelo que pudemos constatar com a aplicação do questionário para o
levantamento de dados, 80% das professoras responderam que usam mapas como o
mapa-múndi ou Atlas, como material de apoio para simples localização. Para completar
este quadro, 20% das entrevistadas não responderam como utilizam o Atlas ou mesmo
os mapas.
Neste sentido, a concepção de Atlas Escolar mais evidenciada é a de que
se trata de um “conjunto” de mapas que serve como ferramenta para a simples
localização dos países ou outros lugares. Tal concepção distancia-se, portanto, da idéia
de que a leitura e a construção de mapas nas séries iniciais do ensino fundamental
contribuem com o raciocínio espacial dos alunos e pode permitir o desenvolvimento de
um pensamento mais crítico a respeito de sua própria localidade e do mundo em que
vivemos.
Na questão que pede à professora para definir Atlas, 40% responderam que se
trata de um conjunto de mapas; outras 40% se referiram ao Atlas como uma ferramenta
para localização; 10% numa resposta mais generalizada consideram o Atlas como um
simples material pedagógico de apoio; por fim, apenas 10% das respostas não foram
satisfatórias para se definir Atlas. Além disso, apesar de todas as entrevistadas
afirmarem que suas escolas possuem atlas, apenas 30% delas deram, pelo menos, uma
referência deste material.
Sabemos que o trabalho docente com os novos Atlas escolares (que não possuem
apenas mapas, mas também, textos, imagens de satélite, fotografias, desenhos, poemas,
músicas etc) busca romper com as práticas escolares tradicionais, abrindo para uma
diversidade de temas o que cria possibilita o trabalho multidisciplinar. Estas novas
potencialidades associam o uso de Atlas não só ao ensino de Geografia, mas também,
permitem o desenvolvimento de um aluno leitor e construtor de mapas significativos
para a observação, a descrição, a análise e a transformação da sociedade. Habilidades
essenciais para uma educação escolar realmente transformadora.
Todas as escolas estaduais e municipais de Ribeirão Preto - SP receberam, pelo
menos, uma cópia do Atlas Escolar, Histórico, Geográfico e Ambiental de Ribeirão
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Preto (CDROM). Tal material, no entanto, foi citado por apenas uma das professoras
entrevistadas. Este aspecto permite uma série de questionamentos a serem investigadas
em pesquisas futuras.
Por fim, consideramos que pouco adianta elaborarmos práticas no ensino
pautadas na simples memorização ou classificação de lugares, pois tais práticas não têm
relação com o que é vivido pelo aluno, ou seja, o seu cotidiano e sua localidade.
Consideramos que o sentido que tradicionalmente se dá ao Atlas e seu uso nas escolas é
uma prática escolar que empobrece o potencial que um ensino de Cartografia pode
oferecer.
5. A TEORIA COMO BASE DA PRÁTICA.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais de História e Geografia nos diz que a
Geografia Escolar deve trabalhar com diversas noções espaciais e temporais. Além
disso, deve trabalhar também com “os fenômenos sociais, culturais e naturais que são
característicos de cada paisagem, para permitir uma compreensão processual e
dinâmica de sua constituição” (BRASIL, 2007, p.109) oferecendo também
“instrumentos essenciais para compreensão e intervenção na realidade social”
(BRASIL, 1997, p.99).
Entendemos que o ensino da Cartografia Escolar, auxiliado pelo uso de Atlas,
são instrumentos oferecidos pela Geografia e, também, por outras disciplinas escolares.
O Atlas dá suporte à prática educativa, que possibilita inclusive a interdisciplinaridade
dialogando com todas as outras disciplinas escolares, ação que é enriquecedora para o
aluno, pois este poderá ver a articulação entre as diferentes matérias escolares, o que
teria mais significativo para o sue aprendizado.
Sobre isso, PENIN (2001) nos diz que:
As sugestões vão no sentido de que as escolas organizem diferentes formas de interdisciplinaridade (por exemplo: via métodos e procedimentos, objeto de conhecimento, tipo de habilidades que mobilizam), propondo estudo comum de problemas concretos ou o desenvolvimento de projetos de ação ou investigação. O estímulo também vai na direção de que as disciplinas escolares se tornem didaticamente solidárias para que a escola atinja o objetivo de desenvolvimento e aprendizagem dos alunos.” (PENIN, 2001, p.44).
Para exemplificar o potencial interdisciplinar da Cartografia, no ensino da
Língua Portuguesa é possível trabalhar por meio das linguagens dos textos contidos nos
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Atlas, por exemplo. Na Matemática, podemos trabalhar com escalas. Na disciplina de
Ciências, podemos falar sobre biodiversidade de determinada área localizada com o
auxilio do mapa. Em História, podemos falar das alterações ocorridas no mapa na
passagem do tempo, possibilitando um trabalho sobre a temporalidade. Em Artes
podemos apontar no mapa, ou na imagem de satélite, ou em fotografia aérea, o lugar
onde se localiza o museu que será visitado, mostrando também fotos do local,
enriquecendo e complementando o saber do aluno antes de ir a campo. Em Geografia,
podemos trabalhar, com exercícios de percepção espacial, por meio de visualização do
bidimensional para o tridimensional, para isso é possível usarmos uma simples maquete
que pode ser, até mesmo, da própria sala de aula.
Distanciando-se destas possibilidades, sabemos que o escopo educacional da
escola, de uma maneira geral, transmite um conhecimento “de enciclopédia” sem
relacionar essa carga de informação, com a vivência do aluno. Não é por menos que os
alunos logo percebendo esta contradição, nos questionaram: para que aprender isso se
eu nunca vou usar? Ou seja, ele não consegue enxergar uma relação daquilo que
ensinamos na escola com a sua vida, com o seu cotidiano.
Todos nós sabemos que a educação deveria influenciar mais sobre o meio
em que seus alunos vivem, dando significado para aquilo que lhes é ensinado. John
Dewey (1974) esclarece que de nada adianta aprender a ler, a escrever e adquirir
informações acerca das disciplinas escolares se tais aprendizados não se relacionam
com a vida prática e cotidiana dos alunos.
Maria Lima e Elza Passini (2001), que pesquisam sobre a importância da
representação cartográfica na aprendizagem do espaço geográfico para as séries iniciais
do ensino fundamental, deixam claro que para haver a possibilidade de construção de
um pensamento mais crítico sobre a realidade que nos cerca, é preciso usar a própria
realidade do aluno, ou seja, é preciso explorar o conhecimento prévio do mesmo, do que
ele vivencia, daquilo que está no seu cotidiano e a partir daí fazer as relações com o
científico dentro da sala de aula. Seguindo esta idéia, Penin (2001) nos fala que “na raiz
da questão encontra-se o fato de que a escola, para cumprir sua tarefa de ensinar,
precisa considerar todos os outros espaços de conhecimento disponível aos alunos”
(PENIN, 2001, p.37).
Uma vez que “a produção do espaço é o resultado de múltiplas determinações,
cuja origem se situa em níveis diferentes e em escalas variáveis, indo do simples lugar
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à dimensão internacional” (SANTOS, 2009, p.58-59). Com um aprendizado que
levassem em consideração estas relações o aluno perceberia, também e entenderia que o
espaço é dinâmico e não estático e que tais relações estão em constante transformação.
Assim sendo, não é possível ignorar a “bagagem” de conhecimentos que o aluno trás
consigo a partir da sua própria realidade, do seu próprio espaço de vivencia enfim, do
seu cotidiano e da relação deste com o resto do mundo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nosso trabalho identificou que existem ainda em Ribeirão Preto - SP práticas
educativas apoiadas em atividades mecânicas e de simples memorização. Estas são
permeadas pelas próprias concepções das docentes a respeito da Cartografia Escolar e
das definições de Atlas que possuem. A Cartografia Escolar configurada neste cenário
pode ser apontada pela existência de uma abordagem de ensino marcadamente
tradicional. A partir do referencial teórico estudado, pudemos entender que as atividades
meramente mecânicas desenvolvidas nas práticas pedagógicas com mapas e atlas são
vazias de significado, ou seja, não tem potencial para despertar o interesse do aluno.
Neste quadro, o mapa como instrumento comunicativo, não se completa, não “permite
que o aluno obtenha maior compreensão e apreensão do espaço geográfico” o qual
contribui para que ele “realize análises, correlações e sínteses do referido espaço”.
(DANIEL e BOM JARDIM, 2009).
Notamos também, que apesar de todas as escolas da rede municipal e estadual
terem recebido exemplares gratuitos do Atlas Escolar, Histórico, Geográfico e
Ambiental de Ribeirão Preto, nenhuma das professoras consultadas usavam o material.
E, segundo o relato de uma dessas professoras, existe uma dificuldade prática para a
utilização do Atlas, pois é preciso deslocar os alunos até a sala de informática da escola.
Neste sentido, o atlas impresso poderia ser melhor recebido, apesar de suas limitações
tecnológicas. Entendemos que mesmo que haja tal dificuldade na sala de aula ainda
seria possível para o professor, usá-lo como material de pesquisa, o que também não foi
citado.
As práticas educativas embasadas nas premissas discutidas neste trabalho
permitem o desenvolvimento de um pensamento mais reflexivo dos sujeitos do ensino e
da aprendizagem, reciprocamente: professores e alunos. Sendo assim, o ensino da
Cartografia Escolar não deveria se deter ao simples ensino de localização e orientação,
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como se fosse o mundo algo acabado ou estático, no qual o sujeito parece não ter
qualquer relação com o mesmo. Por exemplo, ao estudar as diversas paisagens que
compõem um território, o aluno deve ser ensinado a perceber que estamos em um
mundo complexo, dinâmico e em constante transformação (onde há uma diversidade
étnica, cultural, com crenças e tradições distintas). Além dessa diversidade, o próprio
processo de produção humana é algo que provoca modificações no espaço social. O
aluno, ao perceber que sua posição neste mundo complexo tem significado e que suas
ações, enquanto indivíduo tem conseqüências para si e para o coletivo, pode identificar
o conjunto das relações sociais, desde a localidade até a escala global. Entendemos que
a Cartografia Escolar possui papel central nessas colocações.
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(acessado em 10/08/2009).
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i Nova denominação atribuída pelo PARECER CNE/CEB Nº22/2009 DE 9/12/2009.