ATLAS ESCOLAR: UM OLHAR SOBRE DEFINIÇÕES, DIVERSIDADES, CONCEPÇÕES E FINALIDADES.

12

Click here to load reader

description

II Seminário Internacional em Educação e VI Jornada do PPGE – 20101Eixo temático: Ensino e metodologia de disciplinas específicas. Categoria: Comunicação oral. ATLAS ESCOLAR: UM OLHAR SOBRE DEFINIÇÕES, DIVERSIDADES, CONCEPÇÕES E FINALIDADES. Daniel Bueno Junta; Andrea Coelho Lastória; Antonio Vitor Rosa. Universidade de São Paulo / Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto/SP Resumo Este trabalho apresenta uma pesquisa de iniciação científica, desenvolvida como monografia j

Transcript of ATLAS ESCOLAR: UM OLHAR SOBRE DEFINIÇÕES, DIVERSIDADES, CONCEPÇÕES E FINALIDADES.

Page 1: ATLAS ESCOLAR: UM OLHAR SOBRE DEFINIÇÕES, DIVERSIDADES, CONCEPÇÕES E FINALIDADES.

II Seminário Internacional em Educação e VI Jornada do PPGE – 2010

1

Eixo temático: Ensino e metodologia de disciplinas específicas. Categoria: Comunicação oral.

ATLAS ESCOLAR: UM OLHAR SOBRE DEFINIÇÕES, DIVERSIDADES, CONCEPÇÕES E FINALIDADES.

Daniel Bueno Junta;

Andrea Coelho Lastória; Antonio Vitor Rosa.

Universidade de São Paulo / Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto/SP

Resumo Este trabalho apresenta uma pesquisa de iniciação científica, desenvolvida como monografia junto ao curso de Pedagogia da FFCLRP / USP. Pautada no levantamento e estudo bibliográfico referente ao tema Cartografia Escolar, o trabalho aborda a história da Cartografia e a trajetória de desenvolvimento dos mapas desde a pré-história os dias atuais. As variadas definições de Atlas foram apontadas tendo em vista sua diversidade temática em áreas específicas do conhecimento. Reflexões sobre as possibilidades de utilização dos Atlas escolares na sala de aula foram tecidas enfatizando o potencial pedagógico e interdisciplinar dos mesmos, principalmente para os anos iniciais do ensino fundamental. A pesquisa é do tipo descritivo-analítico com abordagem qualitativa. A coleta de dados ocorreu por meio da utilização de um questionário junto às professoras atuantes nas séries iniciais do ensino fundamental de escolas da rede pública e privada do município paulista de Ribeirão Preto-SP. O intuito deste questionário foi investigar como ou de que maneira estão sendo usados mapas e/ou atlas no ensino dos anos iniciais. Dentre os resultados obtidos foi possível considerarmos que 80% das professoras afirmam usar mapas ou Atlas escolares apenas para localização de países e territórios e 20% delas não responderam como os utilizam em suas práticas escolares. Tais resultados parecem indicar que tais práticas pedagógicas ainda são permeadas por uma abordagem tradicional de ensino. A concepção de Atlas Escolar mais evidenciada é a de que se trata de um “conjunto” de mapas que serve como ferramenta para a simples localização dos países ou outros lugares. Tal concepção distancia-se da idéia de que a leitura e a construção de mapas nas séries iniciais do ensino fundamental contribuem com o raciocínio espacial e com o desenvolvimento de um pensamento mais crítico a respeito de sua própria localidade e do mundo em que vivemos.

Palavras-chave: Atlas escolar; cartografia escolar; mapas; ensino de geografia, práticas pedagógicas.

Introdução

A partir do segundo ano do curso de Pedagogia na Faculdade de Filosofia,

Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, percebemos uma

crescente desvalorização do ensino da Geografia nos anos iniciais. Tal percepção

ancora-se nas práticas de estágio que se iniciaram no segundo ano do curso, nas

Page 2: ATLAS ESCOLAR: UM OLHAR SOBRE DEFINIÇÕES, DIVERSIDADES, CONCEPÇÕES E FINALIDADES.

II Seminário Internacional em Educação e VI Jornada do PPGE – 2010

2

disciplinas de Psicologia da Educação e Políticas Educacionais. Os focos de tais

estágios assentavam-se na observação das relações professor-aluno e no entorno da

escola, entretanto, não podemos deixar de notar o contexto do ensino de Geografia.

Desde então, observamos diretamente em todos os estágios e ações escolares, uma

precariedade na Geografia Escolar dos anos iniciais do ensino fundamental.

A partir deste olhar, desenvolvemos este trabalho com vistas a contribuir com a

melhoria do ensino da Cartografia Escolar dos anos iniciais, dos quais consideramos

como o período em que a Cartografia deveria contribuir para que o sujeito pudesse

compreender melhor o espaço onde vive e as relações Sociedade-Natureza, relações

complexas que envolvem o local e o global. A noção espacial, portanto, vai muito além

da simples localização e orientação nos mapas. Ela envolve também o chamado

raciocínio espacial, constituição cognitiva fundamental para permitir que a criticidade

seja desenvolvida na escola.

Além das disciplinas de Metodologia do Ensino de História e Geografia

desenvolvidas no curso de Pedagogia, o referencial teórico e metodológico deste

trabalho também foi propiciado a partir do meu ingresso, em 2009, no grupo de

pesquisa denominado por grupo de Estudo da Localidade - ELO. Tal grupo está

vinculado ao Laife (Laboratório Interdisciplinar de Formação do Educador) da

FFCLRP/USP e é constituído de alunos e professores pedagogos, de História e de

Geografia do ensino público e privado. Num momento inicial este grupo investigou a

localidade e o cotidiano de Ribeirão Preto – SP por meio de estudos na interface das

áreas de Educação, História, Geografia e Cartografia Escolar. Já tendo constituído

coletivamente um Atlas Histórico, Geográfico e Ambiental para o referido município.

Atualmente o grupo vem desenvolvendo uma pesquisa coletiva que prioriza a

construção de práticas escolares para comporem uma coletânea. O intuito é apresentar

trabalhos diferenciados de ensino e aprendizagem. Neste contexto, tivemos como

objetivo valorizar a Cartografia Escolar por meio de reflexões sobre as diversas

possibilidades de utilização do Atlas nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

O presente trabalho envolve cinco partes sobre os seguintes assuntos:

metodologia de pesquisa, História da Cartografia, a definição do termo e vários

exemplos de Atlas, reflexões teóricas sobre o ensino da Cartografia Escolar, práticas e a

interdisciplinaridade com o uso de mapas na sala de aula, analise dos dados levantados

pela pesquisa e as considerações finais.

Page 3: ATLAS ESCOLAR: UM OLHAR SOBRE DEFINIÇÕES, DIVERSIDADES, CONCEPÇÕES E FINALIDADES.

II Seminário Internacional em Educação e VI Jornada do PPGE – 2010

3

1. METODOLOGIA

Desenvolvemos uma pesquisa do tipo descritivo-analítico com abordagem

qualitativa. Inicialmente nos ocupamos em realizar um levantamento bibliográfico com

os devidos fichamentos e sínteses dos textos mais relevantes sobre o assunto. Após o

levantamento bibliográfico, desenvolvemos a parte que trata da história da Cartografia.

Após esta parte trouxemos à luz a definição de Atlas a partir da bibliografia pesquisada,

exemplificando com diversos tipos de materiais que usam este mesmo termo. Em

seguida fizemos a coleta de dados com o auxílio de um questionário que foi respondido

por professoras atuantes tanto em escolas públicas (municipais e estatuais) como em

escolas privadas localizadas no município paulista de Ribeirão Preto. O intuito deste

questionário foi investigar como ou de que maneira estão sendo usados mapas e/ou

Atlas no ensino dos anos iniciais.

Em todas as instituições em que visitamos, não encontramos nenhum homem

lecionando, ou seja, todas as profissionais entrevistadas são do sexo feminino. Quanto à

escolha dessas docentes, mantivemos o foco naquelas que ministravam aulas de terceira

e quarta série (ou quarto e quinto ano)i, por considerar estas séries ou os anos compostas

por crianças com um mínimo de desenvolvimento cognitivo que permita a ela

compreender a linguagem dos mapas. É preciso considerar, também, o fato de não

entrevistamos quaisquer membros do ELO, pois este grupo já valoriza a citada

linguagem cartográfica desde os anos iniciais.

Foram dez professoras, das quais 2 de uma escola municipal, 8 de uma escola

Estadual e 1 de uma escola privada, totalizando 11 professoras. Dos dados coletados em

todos os questionários, fizemos agrupamentos de respostas, que foram organizadas em

tabelas exibindo o valor percentual de acordo com a freqüência em que elas apareciam

objetivando explicitar a concepção e o uso do Atlas nas práticas pedagógicas.

Destacamos que o foco desta pesquisa recai sobre a prática do ensino da

Cartografia e algumas das múltiplas possibilidades de utilização dos mapas e Atlas. Ao

mesmo tempo se distancia de uma tentativa de se criar uma receita de como utilizar um

Atlas em sala de aula. Salientamos ainda que não se trata de uma crítica ao profissional

da educação, longe disso, o trabalho aponta para a necessidade de se desenvolverem

práticas renovadas com o uso de mapas e/ou Atlas Escolares e para uma sólida

formação (inicial e continuada) do professor dos anos iniciais. Este trabalho também

Page 4: ATLAS ESCOLAR: UM OLHAR SOBRE DEFINIÇÕES, DIVERSIDADES, CONCEPÇÕES E FINALIDADES.

II Seminário Internacional em Educação e VI Jornada do PPGE – 2010

4

visa contribuir com o reconhecimento e valorização do ensino da Cartografia como área

de grande importância para o desenvolvimento dos sujeitos em idade escolar.

2. A MARCA DO CONTEXTO HISTÓRICO NA ELABORAÇÃO DE

MAPAS: BREVE HISTÓRIA DA CARTOGRAFIA

A definição de mapa e a sua utilidade eram concebidas de maneiras diversas na

chamada Pré-História, na Idade Média e atualmente. O que se entende por mapa varia

de acordo com o contexto e o lugar e ainda mais, eles “são igualmente um tipo de

espelho que reflete as visões religiosas e filosóficas, os interesses e os conhecimentos

da época de sua confecção.” (DREYER-EIMBCKE, 1992, p.17). De uma maneira

geral, pode-se definir mapa como sendo a representação no plano bidimensional de uma

superfície que se encontra no plano tridimensional e além do mais, “o mapa não é

apenas uma simples ilustração, ele descreve uma porção do espaço com suas

características qualitativas e quantitativas.” (PINHEIRO, 2008, p.2).

Os primeiros mapas foram feitos antes mesmo da escrita da criação da escrita,

ou seja, ainda na Pré-História. As comunidades nômades se instalavam em determinado

lugar e quando os recursos se esgotavam, elas se deslocavam para outra área, sempre em

busca de melhores condições para a sua sobrevivência. É provável que algumas destas

comunidades passaram a registrar seus recursos e sua trajetória durante os seus

deslocamentos. Estes registros eram como mapas mentais, sendo assim, da mesma

forma que os desenhos precederam à escrita, diz-se que a elaboração de mapas, mesmo

que rústicos, “precedeu o registro da história.” (Abril Cultural).

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas - IBGE:

Os primeiros mapas aparecem junto a desenhos registrados pelos povos primitivos em cavernas [...]. Há figuras rupestres encontradas no Vale do Pó, norte da Itália, na cidade de Bedolina, onde há um mapa representando toda uma organização camponesa, mostrando detalhes de atividades agropastoris ali desenvolvidas por volta de 2400 anos antes de Cristo. (BRASIL, IBGE, 2009).

Os mapas, em sua origem, tinham uma utilidade imediatamente prática (ainda

muito longe de ser tratado como um conhecimento restrito que envolvia estratégia,

poder e dominação, como ocorreria na época das Grandes Navegações e no século XX

com as guerras). O mapa “primitivo” era como uma ferramenta de auxilio à

sobrevivência, na qual se registravam dados sobre os recursos da comunidade, as cheias

Page 5: ATLAS ESCOLAR: UM OLHAR SOBRE DEFINIÇÕES, DIVERSIDADES, CONCEPÇÕES E FINALIDADES.

II Seminário Internacional em Educação e VI Jornada do PPGE – 2010

5

de um rio, um caminho percorrido, entre outros. Com o tempo, a elaboração de mapas

foi ganhado outros significados, como por exemplo ao “apresentar os conhecimentos

sobre determinada região, embutiam um valor simbólico, representando o poder e o

domínio de determinados grupos.” (IBGE, 2009).

No decorrer da história da humanidade, foram criados mapas com outros

intuitos. Cláudio Ptolomeu, nascido em Alexandria no ano 100 d.C., foi um grande

estudioso de várias ciências e tinha à sua disposição a grande biblioteca de Alexandria e

o conhecimento de antigos “pensadores” o que provavelmente contribuiu para que ele

sistematizasse um amplo conhecimento em Matemática, Astronomia como também em

Geografia, realizando estudos e escrevendo sobre todas essas áreas. A sua obra

intitulada Geografia “se compunha de um total de oito livros. Para Ptolomeu, a

geografia era a representação gráfica de toda a superfície terrestre conhecida.”

(DREYER-EIMBCKE, 1992, p.44). Pelo menos dois desses oito volumes, Ptolomeu se

dedicou ao estudo “da construção de globos, projeções e mapas.” (Mapas Históricos

Brasileiros).

Na Idade Média, os cartógrafos (detentores do conhecimento acadêmico)

desenvolviam mapas com representações alegóricas, junto com um forte simbolismo

religioso e patriótico “os mapas podiam ter formas de rosto humano ou de animais e

neles podiam-se encontrar elementos fantasiosos” (DREYER-EIMBCKE, 1992, p.20).

Somente em 1570, foi confeccionado o primeiro conjunto de mapas de

todo o globo. Feito por Ortelius (1527-1598) recebeu o nome de “Theatrum Orbis

Terrarum” (IBGE, 2009). Mas, apesar desta obra ser tipicamente um Altas, foi

Mercartor (1512-1594) que empregou pela primeira vez tal palavra para intitular um

conjunto de mapas. Mercator também desenvolveu uma projeção Cilíndrica do mapa

mundi com o objetivo de auxiliar a navegação, “oferecendo uma representação do

mundo, onde uma linha reta na carta correspondesse a uma reta de igual rumo no

oceano”. (IBGE, 2009).

Entre as décadas de 1910 e 1940, a Cartografia ganhou um forte peso ideológico

por causa de interesses políticos. O mundo estava em guerra e os mapas, nesse período

“tornaram–se objetos decisórios por excelência, na definição de fronteiras, dando

assim, poder a seus autores – os geógrafos.” (MARTINELLI, 2007, p.58).

No final do século XX e agora no século XXI, o acesso a mapas se tornou

incomparavelmente mais amplo. Na atualidade “presencia-se uma época em que os

Page 6: ATLAS ESCOLAR: UM OLHAR SOBRE DEFINIÇÕES, DIVERSIDADES, CONCEPÇÕES E FINALIDADES.

II Seminário Internacional em Educação e VI Jornada do PPGE – 2010

6

Atlas impressos estão sendo substituídos pelos eletrônicos” (MARTINELLI, 2007,

p.58) os quais trazem possibilidades, como a interatividade, a capacidade de alteração

dos componentes do mapa, a mudança de escala, enfim todo um conjunto de

ferramentas que são incomparáveis aos limites do Atlas de papel.

3. ATLAS: palavra polissêmica

Atualmente a palavra Atlas não se refere somente a uma coleção de mapas.

Sendo polissêmica ela adquire outros sentidos, dependendo de sua aplicação. Desta

forma, esta palavra também se refere aos diversos outros tipos de conjunto de dados

dentro de uma área específica da Ciência.

A definição de Atlas, de acordo o IBGE é a seguinte:

Um atlas, por definição, é um conjunto de mapas ou cartas geográficas. Porém o termo também se aplica a um conjunto de dados sistematicamente organizados sobre determinado assunto e que servem de referência para a construção de informações de acordo com a necessidade do usuário. (BRASIL, IBGE, 2007, p.8).

Sendo assim, esta palavra pode ser definida com o sentido de conjunto de

informações gerais sobre determinado lugar ou assunto. Existem vários tipos de Atlas

de inúmeras áreas do conhecimento. Dentro de um tema específico, como o da

Medicina, tem-se, por exemplo o Atlas do corpo humano. No campo da Biologia,

encontramos o Atlas de Biologia. No estudo dos minerais há o Atlas de Mineralogia. Há

ainda Atlas histórico que auxilia o aprendizado de História no ensino fundamental e no

ensino médio. Atlas Ambientais trazem diversas informações sobre várias áreas

territoriais, as quais de alguma forma são de interesse de preservação ambiental.

Promovem a divulgação sobre a importância do patrimônio natural. Dentro da categoria

de Atlas territorial, temos os Atlas Universal que apresentam os territórios: continentes,

oceanos e países do mundo todo. Nesta mesma categoria enquadram-se os Atlas

Municipais, que “são concebidos como materiais didáticos que focalizam os temas mais

importantes de um município” (LASTÓRIA, 2007, p.118).

Também podemos encontrar os Atlas digitais, os quais incorporam uma nova

tecnologia e nos oferecem uma ferramenta para ensinar Cartografia. Trazendo, muitas

vezes, a vantagem da interatividade com o usuário, permitindo que este faça

modificações na estrutura dos mapas além da possibilidade de explorar os dados de

Page 7: ATLAS ESCOLAR: UM OLHAR SOBRE DEFINIÇÕES, DIVERSIDADES, CONCEPÇÕES E FINALIDADES.

II Seminário Internacional em Educação e VI Jornada do PPGE – 2010

7

forma dinâmica. Em termos práticos, isso quer dizer que o usuário pode mudar a escala

de observação, retirar ou acrescentar nomes dos países, dos rios, das cidades etc.

4. ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS.

Pelo que pudemos constatar com a aplicação do questionário para o

levantamento de dados, 80% das professoras responderam que usam mapas como o

mapa-múndi ou Atlas, como material de apoio para simples localização. Para completar

este quadro, 20% das entrevistadas não responderam como utilizam o Atlas ou mesmo

os mapas.

Neste sentido, a concepção de Atlas Escolar mais evidenciada é a de que

se trata de um “conjunto” de mapas que serve como ferramenta para a simples

localização dos países ou outros lugares. Tal concepção distancia-se, portanto, da idéia

de que a leitura e a construção de mapas nas séries iniciais do ensino fundamental

contribuem com o raciocínio espacial dos alunos e pode permitir o desenvolvimento de

um pensamento mais crítico a respeito de sua própria localidade e do mundo em que

vivemos.

Na questão que pede à professora para definir Atlas, 40% responderam que se

trata de um conjunto de mapas; outras 40% se referiram ao Atlas como uma ferramenta

para localização; 10% numa resposta mais generalizada consideram o Atlas como um

simples material pedagógico de apoio; por fim, apenas 10% das respostas não foram

satisfatórias para se definir Atlas. Além disso, apesar de todas as entrevistadas

afirmarem que suas escolas possuem atlas, apenas 30% delas deram, pelo menos, uma

referência deste material.

Sabemos que o trabalho docente com os novos Atlas escolares (que não possuem

apenas mapas, mas também, textos, imagens de satélite, fotografias, desenhos, poemas,

músicas etc) busca romper com as práticas escolares tradicionais, abrindo para uma

diversidade de temas o que cria possibilita o trabalho multidisciplinar. Estas novas

potencialidades associam o uso de Atlas não só ao ensino de Geografia, mas também,

permitem o desenvolvimento de um aluno leitor e construtor de mapas significativos

para a observação, a descrição, a análise e a transformação da sociedade. Habilidades

essenciais para uma educação escolar realmente transformadora.

Todas as escolas estaduais e municipais de Ribeirão Preto - SP receberam, pelo

menos, uma cópia do Atlas Escolar, Histórico, Geográfico e Ambiental de Ribeirão

Page 8: ATLAS ESCOLAR: UM OLHAR SOBRE DEFINIÇÕES, DIVERSIDADES, CONCEPÇÕES E FINALIDADES.

II Seminário Internacional em Educação e VI Jornada do PPGE – 2010

8

Preto (CDROM). Tal material, no entanto, foi citado por apenas uma das professoras

entrevistadas. Este aspecto permite uma série de questionamentos a serem investigadas

em pesquisas futuras.

Por fim, consideramos que pouco adianta elaborarmos práticas no ensino

pautadas na simples memorização ou classificação de lugares, pois tais práticas não têm

relação com o que é vivido pelo aluno, ou seja, o seu cotidiano e sua localidade.

Consideramos que o sentido que tradicionalmente se dá ao Atlas e seu uso nas escolas é

uma prática escolar que empobrece o potencial que um ensino de Cartografia pode

oferecer.

5. A TEORIA COMO BASE DA PRÁTICA.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais de História e Geografia nos diz que a

Geografia Escolar deve trabalhar com diversas noções espaciais e temporais. Além

disso, deve trabalhar também com “os fenômenos sociais, culturais e naturais que são

característicos de cada paisagem, para permitir uma compreensão processual e

dinâmica de sua constituição” (BRASIL, 2007, p.109) oferecendo também

“instrumentos essenciais para compreensão e intervenção na realidade social”

(BRASIL, 1997, p.99).

Entendemos que o ensino da Cartografia Escolar, auxiliado pelo uso de Atlas,

são instrumentos oferecidos pela Geografia e, também, por outras disciplinas escolares.

O Atlas dá suporte à prática educativa, que possibilita inclusive a interdisciplinaridade

dialogando com todas as outras disciplinas escolares, ação que é enriquecedora para o

aluno, pois este poderá ver a articulação entre as diferentes matérias escolares, o que

teria mais significativo para o sue aprendizado.

Sobre isso, PENIN (2001) nos diz que:

As sugestões vão no sentido de que as escolas organizem diferentes formas de interdisciplinaridade (por exemplo: via métodos e procedimentos, objeto de conhecimento, tipo de habilidades que mobilizam), propondo estudo comum de problemas concretos ou o desenvolvimento de projetos de ação ou investigação. O estímulo também vai na direção de que as disciplinas escolares se tornem didaticamente solidárias para que a escola atinja o objetivo de desenvolvimento e aprendizagem dos alunos.” (PENIN, 2001, p.44).

Para exemplificar o potencial interdisciplinar da Cartografia, no ensino da

Língua Portuguesa é possível trabalhar por meio das linguagens dos textos contidos nos

Page 9: ATLAS ESCOLAR: UM OLHAR SOBRE DEFINIÇÕES, DIVERSIDADES, CONCEPÇÕES E FINALIDADES.

II Seminário Internacional em Educação e VI Jornada do PPGE – 2010

9

Atlas, por exemplo. Na Matemática, podemos trabalhar com escalas. Na disciplina de

Ciências, podemos falar sobre biodiversidade de determinada área localizada com o

auxilio do mapa. Em História, podemos falar das alterações ocorridas no mapa na

passagem do tempo, possibilitando um trabalho sobre a temporalidade. Em Artes

podemos apontar no mapa, ou na imagem de satélite, ou em fotografia aérea, o lugar

onde se localiza o museu que será visitado, mostrando também fotos do local,

enriquecendo e complementando o saber do aluno antes de ir a campo. Em Geografia,

podemos trabalhar, com exercícios de percepção espacial, por meio de visualização do

bidimensional para o tridimensional, para isso é possível usarmos uma simples maquete

que pode ser, até mesmo, da própria sala de aula.

Distanciando-se destas possibilidades, sabemos que o escopo educacional da

escola, de uma maneira geral, transmite um conhecimento “de enciclopédia” sem

relacionar essa carga de informação, com a vivência do aluno. Não é por menos que os

alunos logo percebendo esta contradição, nos questionaram: para que aprender isso se

eu nunca vou usar? Ou seja, ele não consegue enxergar uma relação daquilo que

ensinamos na escola com a sua vida, com o seu cotidiano.

Todos nós sabemos que a educação deveria influenciar mais sobre o meio

em que seus alunos vivem, dando significado para aquilo que lhes é ensinado. John

Dewey (1974) esclarece que de nada adianta aprender a ler, a escrever e adquirir

informações acerca das disciplinas escolares se tais aprendizados não se relacionam

com a vida prática e cotidiana dos alunos.

Maria Lima e Elza Passini (2001), que pesquisam sobre a importância da

representação cartográfica na aprendizagem do espaço geográfico para as séries iniciais

do ensino fundamental, deixam claro que para haver a possibilidade de construção de

um pensamento mais crítico sobre a realidade que nos cerca, é preciso usar a própria

realidade do aluno, ou seja, é preciso explorar o conhecimento prévio do mesmo, do que

ele vivencia, daquilo que está no seu cotidiano e a partir daí fazer as relações com o

científico dentro da sala de aula. Seguindo esta idéia, Penin (2001) nos fala que “na raiz

da questão encontra-se o fato de que a escola, para cumprir sua tarefa de ensinar,

precisa considerar todos os outros espaços de conhecimento disponível aos alunos”

(PENIN, 2001, p.37).

Uma vez que “a produção do espaço é o resultado de múltiplas determinações,

cuja origem se situa em níveis diferentes e em escalas variáveis, indo do simples lugar

Page 10: ATLAS ESCOLAR: UM OLHAR SOBRE DEFINIÇÕES, DIVERSIDADES, CONCEPÇÕES E FINALIDADES.

II Seminário Internacional em Educação e VI Jornada do PPGE – 2010

10

à dimensão internacional” (SANTOS, 2009, p.58-59). Com um aprendizado que

levassem em consideração estas relações o aluno perceberia, também e entenderia que o

espaço é dinâmico e não estático e que tais relações estão em constante transformação.

Assim sendo, não é possível ignorar a “bagagem” de conhecimentos que o aluno trás

consigo a partir da sua própria realidade, do seu próprio espaço de vivencia enfim, do

seu cotidiano e da relação deste com o resto do mundo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nosso trabalho identificou que existem ainda em Ribeirão Preto - SP práticas

educativas apoiadas em atividades mecânicas e de simples memorização. Estas são

permeadas pelas próprias concepções das docentes a respeito da Cartografia Escolar e

das definições de Atlas que possuem. A Cartografia Escolar configurada neste cenário

pode ser apontada pela existência de uma abordagem de ensino marcadamente

tradicional. A partir do referencial teórico estudado, pudemos entender que as atividades

meramente mecânicas desenvolvidas nas práticas pedagógicas com mapas e atlas são

vazias de significado, ou seja, não tem potencial para despertar o interesse do aluno.

Neste quadro, o mapa como instrumento comunicativo, não se completa, não “permite

que o aluno obtenha maior compreensão e apreensão do espaço geográfico” o qual

contribui para que ele “realize análises, correlações e sínteses do referido espaço”.

(DANIEL e BOM JARDIM, 2009).

Notamos também, que apesar de todas as escolas da rede municipal e estadual

terem recebido exemplares gratuitos do Atlas Escolar, Histórico, Geográfico e

Ambiental de Ribeirão Preto, nenhuma das professoras consultadas usavam o material.

E, segundo o relato de uma dessas professoras, existe uma dificuldade prática para a

utilização do Atlas, pois é preciso deslocar os alunos até a sala de informática da escola.

Neste sentido, o atlas impresso poderia ser melhor recebido, apesar de suas limitações

tecnológicas. Entendemos que mesmo que haja tal dificuldade na sala de aula ainda

seria possível para o professor, usá-lo como material de pesquisa, o que também não foi

citado.

As práticas educativas embasadas nas premissas discutidas neste trabalho

permitem o desenvolvimento de um pensamento mais reflexivo dos sujeitos do ensino e

da aprendizagem, reciprocamente: professores e alunos. Sendo assim, o ensino da

Cartografia Escolar não deveria se deter ao simples ensino de localização e orientação,

Page 11: ATLAS ESCOLAR: UM OLHAR SOBRE DEFINIÇÕES, DIVERSIDADES, CONCEPÇÕES E FINALIDADES.

II Seminário Internacional em Educação e VI Jornada do PPGE – 2010

11

como se fosse o mundo algo acabado ou estático, no qual o sujeito parece não ter

qualquer relação com o mesmo. Por exemplo, ao estudar as diversas paisagens que

compõem um território, o aluno deve ser ensinado a perceber que estamos em um

mundo complexo, dinâmico e em constante transformação (onde há uma diversidade

étnica, cultural, com crenças e tradições distintas). Além dessa diversidade, o próprio

processo de produção humana é algo que provoca modificações no espaço social. O

aluno, ao perceber que sua posição neste mundo complexo tem significado e que suas

ações, enquanto indivíduo tem conseqüências para si e para o coletivo, pode identificar

o conjunto das relações sociais, desde a localidade até a escala global. Entendemos que

a Cartografia Escolar possui papel central nessas colocações.

Referências:

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: História e Geografia. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.

BRASIL, IBGE. Atlas Geográfico Escolar. 4ª Ed. Rio de Janeiro, 2007.

DANIEL, N. S.; BOM JARDIM, R. P. Alfabetização cartográfica nos primeiros anos do ensino fundamental. In: Anais....VI Colóquio de Cartografia para crianças e escolares; II Fórum Latinoamericano de Cartografia para Escolares. Instituto de Ciências Humanas, Juiz de Fora, Minas Gerais – Brasil, 17, 18 e 19 de junho de 2009.

DEWEY, J. Democracia e educação: introdução à filosofia da educação. Companhia editora nacional – São Paulo, 1959a.

_________. Vida e educação: introdução à filosofia da educação. 5ª ed. 1959b. Companhia Editora Nacional. São Paulo.

__________. Experiência e educação. 3ª ed. – São Paulo: Ed. Nacional, 1979.

DREYER- EIMBCKE, O. O descobrimento da terra: História e histórias da aventura cartográfica. São Paulo. Melhoramentos: Editora da Universidade de São Paulo, 1992.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 36ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007.

__________ Pedagogia do Oprimido. 47ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2008.

IBGE. Site: http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/atlasescolar/apresntacoes/historia.swf

(acessado em 10/08/2009).

Page 12: ATLAS ESCOLAR: UM OLHAR SOBRE DEFINIÇÕES, DIVERSIDADES, CONCEPÇÕES E FINALIDADES.

II Seminário Internacional em Educação e VI Jornada do PPGE – 2010

12

LASTÓRIA, A. C. (org.) Atlas escolar histórico, geográfico e ambiental de Ribeirão

Preto – SP. Ribeirão Preto: Universidade de São Paulo, 2008.

LASTÓRIA, A. C. A cartografia escolar e a concepção de Atlas escolar municipal. Dialogus. Ribeirão Preto, v3, n1, 2007.

LIMA, M. L. de; PASSINI, E. Y. A representação cartográfica na aprendizagem do espaço geográfico paranaense para as séries iniciais do ensino fundamental. Boletim de

Geografia. Universidade Estadual de Maringá, departamento de Geografia. Ano 19 – nº2, 2001.

MARTINELLI, M. A Cartografia dos Atlas geográficos para escolares. In: Anais...VI Colóquio de Cartografia para crianças e escolares; II Fórum Latinoamericano de Cartografia para Escolares. Instituto de Ciências Humanas, Juiz de Fora, Minas Gerais – Brasil, 17, 18 e 19 de junho de 2009.

_________________. O Atlas do estado de São Paulo. Boletim Goiano de Geografia. Instituto de Estudos Sócio-ambientais. UFG, v.27, n.2, jan./jun. 2007.

PENIN, S. T. S. de Didática e cultura: o ensino comprometido com o social e a contemporaneidade. In: CASTRO, A. D. de; CARVALHO, A. M. P. de Ensinar a

ensinar. São Paulo: Pioneira, 2001. pp. 33-52.

PINHEIRO, P. R. B. Materiais cartográficos e informação: História e Ideologia. Monografia. USP, 2008.

SANTOS, M. Pensando o Espaço do Homem. 2ª.ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2009.

___________. Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da Geografia. 6ª ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008.

VYGOTSKY, L.S. Manuscrito de 1929. Educação & Sociedade. São Paulo: CEDES, n.71, jul., 2000, p.21-44.

________________A formação social da mente. Martins Fontes. São Paulo, 2007.

i Nova denominação atribuída pelo PARECER CNE/CEB Nº22/2009 DE 9/12/2009.