Atualidades - Zika Vírus

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ATUALIDADES – DOSSIÊ 02 Vírus Zika e o grande surto de microcefalia O vírus Zika e o grande surto de microcefalia apresentam relação direta, sendo fundamental, portanto, o controle do mosquito que transmite o vírus. Por Vanessa Sardinha dos Santos Uma doença recém-chegada no Brasil está deixando todos em alerta, em especial as grávidas: a Febre por vírus Zika . Essa doença, causada pelo vírus Zika, apesar de, até então, não estar relacionada com danos graves à saúde, foi relacionada recentemente com um grave surto de microcefalia no Brasil. O vírus Zika é um arbovírus da família Flaviviridae, que assim como a dengue e a chikungunya , é transmitido pelos mosquitos do gênero Aedes, como o Aedes aegypti. Além dessa forma de contaminação, estudos indicam que a transmissão pode ocorrer de forma perinatal, sexual e até mesmo transfusional. O vírus foi descoberto em 1947 em um macaco que vivia na Floresta de Zika, em Uganda (daí a origem do nome). No Brasil, o vírus foi introduzido em 2014, e as hipóteses mais aceitas é que ele tenha chegado ao território brasileiro durante a Copa do Mundo desse mesmo ano. Após a introdução, o vírus espalhou-se rapidamente por grande parte do Brasil, e a transmissão autóctone foi confirmada em abril de 2015. Segundo o Boletim Epidemiológico nº36 de 2015, até a semana epidemiológica 45, autóctone Unidades da Federação já haviam confirmado a doença com transmissão autóctone. Ao se contaminar com o vírus Zika, o paciente pode apresentar febre, vômitos, tosse, dores no corpo, de cabeça, musculares e nas articulações, mal-estar, irritação nos olhos e manchas no corpo. A doença normalmente tem duração de três a sete dias e pode ser assintomática em alguns casos. 1

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Dossiê sobre Zika Vírus e Microcefalia. Atualidades 2015.

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ATUALIDADES – DOSSIÊ 02

Vírus Zika e o grande surto de microcefalia

O vírus Zika e o grande surto de microcefalia apresentam relação direta, sendo fundamental, portanto, o controle do mosquito que transmite o vírus.

Por Vanessa Sardinha dos Santos

Uma doença recém-chegada no Brasil está deixando todos em alerta, em especial as grávidas: a Febre por vírus Zika. Essa doença, causada pelo vírus Zika, apesar de, até então, não estar relacionada com danos graves à saúde, foi relacionada recentemente com um grave surto de microcefalia no Brasil.

O vírus Zika é um arbovírus da família Flaviviridae, que assim como a dengue e a chikungunya, é transmitido pelos mosquitos do gênero Aedes, como o Aedes aegypti. Além dessa forma de contaminação, estudos indicam que a transmissão pode ocorrer de forma perinatal, sexual e até mesmo transfusional.

O vírus foi descoberto em 1947 em um macaco que vivia na Floresta de Zika, em Uganda (daí a origem do nome). No Brasil, o vírus foi introduzido em 2014, e as hipóteses mais aceitas é que ele tenha chegado ao território brasileiro durante a Copa do Mundo desse mesmo ano.

Após a introdução, o vírus espalhou-se rapidamente por grande parte do Brasil, e a transmissão autóctone foi confirmada em abril de 2015. Segundo o Boletim Epidemiológico nº36 de 2015, até a semana epidemiológica 45, autóctone Unidades da Federação já haviam confirmado a doença com transmissão autóctone.

Ao se contaminar com o vírus Zika, o paciente pode apresentar febre, vômitos, tosse, dores no corpo, de cabeça, musculares e nas articulações, mal-estar, irritação nos olhos e manchas no corpo. A doença normalmente tem duração de três a sete dias e pode ser assintomática em alguns casos.

De uma maneira geral, considera-se que a febre por vírus Zika não causa grandes complicações, mas, recentemente, observou-se o comprometimento do sistema nervoso central em alguns casos. Além disso, a infecção pelo vírus Zika foi associada ao desenvolvimento de microcefalia, uma malformação em que recém-nascidos possuem perímetro cefálico menor que o normal (menor que 33 cm). Essa malformação está relacionada com retardo mental em 90% dos casos, além de desencadear comprometimento da fala, audição e visão, baixo peso e episódios de convulsão.

Apesar de a microcefalia também ser causada por infecções, problemas genéticos, contato com produtos radioativos e utilização de substâncias químicas, observou-se uma relação direta entre o vírus Zika e o grande surto em 2015. A suspeita foi levantada após mães de bebês com microcefalia relatarem que, durante a gestação, apresentaram sintomas da contaminação por vírus Zika. Em razão do grande

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número de casos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta em 1º de dezembro de 2015 para que todos os países ficassem atentos aos casos de febre por vírus Zika em seu território.

Assim como a dengue, a febre por vírus Zika não possui tratamento específico, sendo recomendado apenas o tratamento de sintomas. O uso de paracetamol ou dipirona pode ajudar o paciente a diminuir a dor e, em casos de coceiras, pode ser recomendado o uso de anti-histamínicos. Não se recomenda o uso de ácido acetilsalicílico, uma vez que aumenta os riscos de hemorragias.

Por não ter tratamento nem vacina, a melhor maneira de evitar complicações é protegendo-se do mosquito que transmite o vírus. As medidas de prevenção da febre por vírus Zika são as mesmas utilizadas na prevenção contra a dengue e a chikungunya, isto é, voltam-se para a eliminação de criadouros do mosquito. Além do combate ao mosquito, as pessoas podem desenvolver algumas proteções individuais, como usar roupas de manga comprida, telas nas janelas e portas e mosquiteiros. O uso de repelente também é indicado, mas grávidas podem utilizar apenas repelentes com DEET na concentração de 10% a 30%.

http://vestibular.brasilescola.uol.com.br/atualidades/virus-zika-grande-surto-microcefalia.htm

Perguntas e respostas – Microcefalia (Ministério da Saúde)

- O que é a microcefalia?

A microcefalia não é um agravo novo. Trata-se de uma malformação congênita, em que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada. Neste caso, os bebês nascem com perímetro cefálico (PC) menor que o normal, que habitualmente é superior a 32 cm.

- Quais as causas desta condição?

Essa malformação congênita pode ser efeito de uma série de fatores de diferentes origens, como substâncias químicas e agentes biológicos (infecciosos), como bactérias, vírus e radiação.

- O que é o vírus Zika?

O vírus Zika é um arbovírus (grande família de vírus), transmitido pela picada do mesmo vetor da dengue, o Aedes aegypti.

- Já há confirmação que o aumento de casos de microcefalia no Brasil é causado pelo vírus Zika?

O Ministério da Saúde confirmou no sábado (28/11) a relação entre o vírus Zika e o surto de microcefalia na região Nordeste. O Instituto Evandro Chagas, órgão do ministério em Belém (PA), encaminhou o resultado de exames realizados em um bebê, nascida no Ceará, com microcefalia e outras malformações congênitas. Em amostras de sangue e tecidos, foi identificada a presença do vírus Zika.

A partir desse achado do bebê que veio à óbito, o Ministério da Saúde considera confirmada a relação entre o vírus e a ocorrência de microcefalia. Essa é uma situação inédita na pesquisa científica mundial.

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As investigações sobre o tema devem continuar para esclarecer questões como a transmissão desse agente, a sua atuação no organismo humano, a infecção do feto e período de maior vulnerabilidade para a gestante. Em análise inicial, o risco está associado aos primeiros três meses de gravidez.

O achado reforça o chamado para uma mobilização nacional para conter o mosquito transmissor, o Aedes aegypti, responsável pela disseminação doença.

- A microcefalia pode levar a óbito ou deixar sequelas?

Cerca de 90% das microcefalias estão associadas com retardo mental, exceto nas de origem familiar, que podem ter o desenvolvimento cognitivo normal. O tipo e o nível de gravidade da sequela vão variar caso a caso. Tratamentos realizados desde os primeiros anos melhoram o desenvolvimento e a qualidade de vida.

- Como é feito o diagnóstico?

Após o nascimento do recém-nascido, o primeiro exame físico é rotina nos berçários e deve ser feito em até 24 horas do nascimento. Este período é um dos principais momentos para se realizar busca ativa de possíveis anomalias congênitas. Por isso, é importante que os profissionais de saúde fiquem sensíveis para notificar os casos de microcefalia no registro da doença no Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc).

- É possível detectar a microcefalia no pré-natal? Apenas a ultrassonografia é suficiente?

Sim. No entanto, somente o médico que está acompanhando a grávida poderá indicar o método de imagem mais adequado.

- Qual o tratamento para a microcefalia?

Não há tratamento específico para a microcefalia. Existem ações de suporte que podem auxiliar no desenvolvimento do bebê e da criança, e este acompanhamento é preconizado pelo Sistema Único da Saúde (SUS). Como cada criança desenvolve complicações diferentes - entre elas respiratórias, neurológicas e motoras – o acompanhamento por diferentes especialistas vai depender de suas funções que ficarem comprometidas.

Estão disponíveis serviços de atenção básica, serviços especializados de reabilitação, os serviços de exame e diagnóstico e serviços hospitalares, além de órteses e próteses aos casos em que se aplicar.

Com aumento de casos que ocorre neste momento, o Ministério da Saúde, decidiu elaborar, em parceria com as secretarias municipais e estaduais de saúde, um protocolo de atendimento voltado a essas crianças. Este protocolo vai servir como base de orientação aos gestores locais para que possam identificar e estabelecer os serviços de saúde de referência no tratamento dos pacientes, além de determinar o fluxo desse atendimento.

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Há um tipo de microcefalia, a Sinostose craniana, que não é a que está tendo aumento do número de casos, por não ser de causa infecciosa, que pode ser corrigida por meio de cirurgia. Neste caso, geralmente, as crianças precisam de acompanhamento após o primeiro ano de vida.

- Quais estados estão apontando crescimento de casos de microcefalia acima da média?

Até o dia 28 de novembro, foram notificados à Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde 1.248 casos suspeitos de microcefalia, identificados em 311 municípios de 14 estados do Brasil. O estado de Pernambuco mantem-se com o maior número de casos (646), sendo o primeiro a identificar aumento de microcefalia em sua região e que conta com o acompanhamento de equipe do Ministério da Saúde desde o dia 22 de outubro. Em seguida, estão os estados de Paraíba (248), Rio Grande do Norte (79), Sergipe (77), Alagoas (59), Bahia (37), Piauí (36), Ceará (25), Maranhão (12), Rio de Janeiro (12), Tocantins (12), Goiás (02), Distrito Federal (1) e Mato Grosso do Sul (1).

- Há registro de ‘surtos’ de microcefalia em outros países?

O Zika é considerado endêmico no Leste e Oeste do continente Africano. Evidências sorológicas em humanos sugerem que a partir do ano de 1966 o vírus tenha se disseminado para o continente asiático. Atualmente há registro de circulação esporádica na África (Nigéria, Tanzânia, Egito, África Central, Serra Leoa, Gabão, Senegal, Costa do Marfim, Camarões, Etiópia, Quénia, Somália e Burkina Faso) e Ásia (Malásia, Índia, Paquistão, Filipinas, Tailândia, Vietnã, Camboja, Índia, Indonésia) e Oceania (Micronésia, Polinésia Francesa, Nova Caledônia/França e Ilhas Cook).

Casos importados de Zika vírus foram descritos no Canadá, Alemanha, Itália, Japão, Estados Unidos e Austrália. O Brasil está entre os países que apresentaram circulação autóctone (natural do lugar em que se encontra) em 2015, juntamente com outros países da América do Sul (Paraguai, Colômbia e Suriname) e Central (Guatemala).

- Quais exames estão sendo realizados nas crianças e nas gestantes dos estados que já notificaram o Ministério da Saúde?

A partir dos casos identificados em Pernambuco, estão sendo realizadas investigações epidemiológicas de campo, tais como: revisão de prontuários e outros registros de atendimento médico da gestante e do recém-nascido.

Também estão sendo feitas entrevistas com as mães por meio de questionário. Os casos seguem para investigação laboratorial e exames de imagem como a tomografia computadorizada de crânio.

- Qual período da gestação é mais suscetível à ação do vírus?

Pelo relatado dos casos até o momento, as gestantes cujos bebês desenvolveram a microcefalia tiveram sintomas do vírus Zika no primeiro trimestre da gravidez. Mas o cuidado para não entrar em contato com o mosquito Aedes aegypti é para todo o período da gestação.

- Neste momento, qual é a recomendação do Ministério da Saúde para as gestantes?

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Neste momento, o Ministério da Saúde reforça às gestantes que não usem medicamentos não prescritos pelos profissionais de saúde e que façam um pré-natal qualificado e todos os exames previstos nesta fase, além de relatarem aos profissionais de saúde qualquer alteração que perceberem durante a gestação. Também é importante que elas reforcem as medidas de prevenção ao mosquito Aedes aegypti, com o uso de repelentes indicados para o período de gestação, uso de roupas de manga comprida e todas as outras medidas para evitar o contato com mosquitos, além de evitar o acúmulo de água parada em casa ou no trabalho.

Independente do destino ou motivo, toda grávida deve consultar o seu médico antes de viajar.

- Neste momento, qual é a recomendação do Ministério da Saúde para gestores e profissionais de saúde?

É importante que os profissionais de saúde estejam atentos à avaliação cuidadosa do perímetro cerebral e à idade gestacional, assim como à notificação de casos suspeitos de microcefalia no registro de nascimento no Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC). Por ser uma fonte de contato direto com a população, os profissionais também devem reforçar o alerta sobre os cuidados para evitar a proliferação do mosquito da dengue, e orientar as gestantes sobre as medidas individuais de proteção contra o Aedes aegypti. Além da notificação noSinasc, o Ministério da Saúde enviou orientação para que seja feito o registro em uma ficha específica, adotada de maneira excepcional, que trás mais detalhes dos casos que serão investigados.

http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/leia-mais-o-ministerio/197-secretaria-svs/20799-microcefalia

Zika vírus e microcefalia: no que acreditar?

Suzy Scarton

O Brasil registra 1.761 casos suspeitos de microcefalia em 422 cidades de 14 estados, conforme o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde. As informações desencontradas sobre a influência do zika vírus no organismo, difundidas principalmente por redes sociais, têm provocado temor na população, principalmente em gestantes e mães que têm filhos pequenos. Na semana passada, um áudio que circulou por WhatsApp indicava que a picada pelo mosquito Aedes aegypti contaminado poderia atingir, além de bebês no ventre, crianças e idosos, causando problemas neurológicos. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), citada no áudio, se apressou em desmentir o boato. Para esclarecer possíveis consequências da contaminação pelo zika, o Jornal do Comércio conversou com quatro especialistas.

Origem do zika vírus no Brasil

Existem duas teorias. O que se sabe é que, até a metade do ano passado, o Brasil (e o continente americano) não tinha casos da doença. É possível que o vírus tenha chegado ao País junto com turistas

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africanos, que vieram para a Copa do Mundo de 2014. Outra possibilidade é de que a delegação da Polinésia Francesa (Oceania), que participou de uma competição de remo no Rio de Janeiro, tenha trazido a doença. Basta que uma pessoa infectada seja picada pelo mosquito para que surjam casos autóctones. No entanto, não há como identificar quem é o "caso zero".

Transmissão

A contaminação do zika se dá pela picada do mosquito contaminado. No Brasil, o principal vetor é o Aedes aegypti, mas o Aedes albopictus também pode transmitir a doença. Quanto a outras vias, existem apenas suspeitas. Houve, nos Estados Unidos, um caso de um homem que viajou à África do Sul e voltou contaminado. Pouco tempo depois, a esposa dele, que nunca saiu dos EUA, apresentou sintomas da doença. Surgiu, então, a ideia de que o vírus possa ser transmitido pelo sêmen. Se for possível, a transmissão via sexual é raríssima. Mesmo assim, os especialistas consultados pela reportagem recomendam o uso de preservativos. Quanto ao leite materno, a presença do vírus ainda não foi identificada, uma vez que existem poucas mulheres contaminadas em fase de amamentação. Os médicos afirmam que será preciso esperar por conclusões definitivas. No entanto, não são unânimes sobre a transmissão pelo leite e pelo sêmen. Como o vírus HIV, por exemplo, passa pelo leite, há uma possibilidade de que o mesmo ocorra com o zika.

Alterações neurológicas em crianças e adultos

O quadro comum do zika provoca febre mediana, erupções cutâneas vermelhas e dor articular por cerca de cinco a oito dias. Os médicos afirmam que não existe, na literatura médica, estudos que comprovem a relação entre o zika e alterações neurológicas em crianças ou adultos, mas admitem a possibilidade de que casos possam ser registrados.

Tratamento, prevenção e erradicação do zika

Os sintomas são muito parecidos com os da dengue. Para tratá--los, é recomendado o uso de antitérmicos e muita hidratação. Não há tratamento antiviral. Recentemente, o México autorizou a produção de uma vacina tetravalente contra a dengue, mas contra o zika ainda não existe. Uma vez que não há como se prevenir via medicamentos, o uso de repelentes é altamente indicado. Porém, o produto não deve ser usados em menores de dois anos; recomenda-se que os pais apliquem-no por cima da roupa da criança. De acordo com os médicos, a maioria das pessoas contaminadas não apresenta sintomas, mas o vírus fica no sangue. Isso é bastante prejudicial, uma vez que as pessoas, mesmo sem saber, podem transmitir a doença ao mosquito. Assim, a melhor forma de erradicação é conter a reprodução do Aedes aegypti. Para isso, é recomendável eliminar os criadouros, não manter água parada e deixar tampas, vasinhos e pneus virados para baixo.

O zika no Rio Grande do Sul

A tendência é de que o vírus chegue ao Estado, já que o Aedes aegypti está presente em todo o Rio Grande do Sul. Os casos autóctones ocorrem quando a doença é originária do próprio município, diferentemente dos importados, quando a pessoa é contaminada em outra localidade. Entre os estados,

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apenas Rio Grande do Sul e Santa Catarina ainda não têm registros de zika. Ou seja, a doença, que surgiu no Nordeste, está se alastrando.

O vírus em gestantes

O primeiro trimestre da gestação é o que apresenta mais risco de complicações. No entanto, ainda não há certezas sobre de que maneira o vírus atinge o bebê. Se duas mulheres tiverem a doença, não é garantido que ambas as crianças nasçam com má-formação. Não se sabe ainda qual é a proporção de gestantes que terão filhos com microcefalia, nem quais são as características genéticas que podem influenciar a má-formação. É provável que, se contaminadas durante o segundo e o terceiro trimestres, as consequências para a criança sejam menos severas. Agora, todas as gestantes com suspeita de zika serão avaliadas, então será possível elaborar estatísticas. Vale ressaltar que ainda não se sabe se o vírus atua como o da rubéola, que se contrai apenas uma vez, ou como o da gripe, que pode ser contraído inúmeras vezes. Se a mulher já estiver curada da doença e, posteriormente, engravidar, não há riscos para o bebê.

Zika e microcefalia em outros países

Não há estudos sobre casos no continente africano. Lá, a mortalidade infantil é alta e, por falta de documentação, não existem registros de má-formação. Também houve um surto de zika na Polinésia Francesa, mas a interrupção da gestação é permitida no país. Portanto, se as anomalias foram identificadas durante o pré-natal, pode ser que tenha havido interrupção.

O que é a microcefalia?

A microcefalia é um sinal de que o cérebro não se desenvolveu corretamente dentro do crânio. A medida padrão da Organização Mundial de Saúde (OMS) é de 32 centímetros para a triagem de bebês suspeitos. Com 33, o tamanho do crânio é considerado normal. A má-formação pode se desenvolver devido a causas genéticas ou não genéticas, como o consumo de álcool durante a gestação. No entanto, a frequência de casos recentes fez com que outra causa passasse a ser investigada, e assim cresceu a suspeita sobre o zika vírus. As imagens radiológicas do cérebro das crianças afetadas mostravam traços padronizados de calcificações característicos de infecções. Foi encontrado, em seguida, o vírus no líquido amniótico de grávidas e depois nos tecidos e no sangue de uma criança com microcefalia que veio a óbito.

Limitações damicrocefalia

A criança geralmente sobrevive ao parto e pode até mesmo chegar à vida adulta. Como não se sabe qual a gravidade da infecção pelo zika, os médicos esperam que as consequências sejam severas, mas tudo depende do comprometimento do cérebro. As crianças podem apresentar retardo mental, problemas na fala, na audição e na condição motora. Não há cura nem medicamentos para a microcefalia. As crianças precisam de acompanhamento constante com fisioterapeutas, fonoaudiólogos e diversos especialistas. As limitações só serão identificadas com o desenvolvimento da criança.

Interrupção da gravidez

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No Brasil, a lei permite que uma gestação seja interrompida em casos de risco extremo à saúde da mãe, de estupro e de anencefalia. A anencefalia se difere da microcefalia, porque não há possibilidade de sobrevivência do bebê, que morre depois de algumas horas, dias ou, no máximo, semanas. A microcefalia, no entanto, é compatível com a vida; portanto, a interrupção gestacional não é autorizada.

Especialistas consultados

Fernando Gatti: Infectologista do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Albert Einstein, especialista em Clínica Médica e Infectologia

Jorge Bizzi: Responsável pelo Serviço de Neurocirurgia Pediátrica do Hospital da Criança Santo Antônio e presidente eleito da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia Pediátrica

Lavínia Faccini: Geneticista do Hospital de Clínicas, participou da elaboração do Protocolo de Vigilância e Resposta à Ocorrência de Microcefalia Relacionada à Infecção pelo Vírus Zika do governo federal

Paulo Ernesto Gewer Filho: Infectologista do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre

http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2015/12/geral/471966-virus-zika-e-microcefalia-em-que-confiar.html

Zika vírus: entenda a transmissão, os sintomas e a relação com microcefalia

Vírus foi identificado pela primeira vez no Brasil em abril de 2015.Além de microcefalia, governo estuda possível relação com Guillain-Barré.

Mariana Lenharo

Identificado pela primeira vez no país em abril, o zika vírus tem provocado intensa mobilização das autoridades de saúde no país. Enquanto a doença costuma evoluir de forma benigna – com sintomas como febre, coceira e dores musculares – o que mais preocupa é a associação do vírus com outras doenças. O Ministério da Saúde já confirmou a relação do zika com a microcefalia e investiga uma possível relação com a síndrome de Guillain-Barré. Veja o que já se sabe sobre o vírus:

Como ocorre a transmissão?Assim como os vírus da dengue e do chikungunya, o zika também é transmitido pelo mosquitoAedes aegypti.

Quais são os sintomas?Os principais sintomas da doença provocada pelo zika vírus são febre intermitente, erupções na pele, coceira e dor muscular. A evolução da doença costuma ser benigna e os sintomas geralmente desaparecem espontaneamente em um período de 3 até 7 dias. O quadro de zika é muito menos agressivo que o da dengue, por exemplo.

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Como é o tratamento?Não há vacina nem tratamento específico para a doença. Segundo informações do Ministério da Saúde, os casos devem ser tratados com o uso de paracetamol ou dipirona para controle da febre e da dor. Assim como na dengue, o uso de ácido acetilsalicílico (aspirina) deve ser evitado por causa do risco aumentado de hemorragias.

Qual é a relação entre o zika e a microcefalia?A relação entre zika e microcefalia foi confirmada pela primeira vez no mundo no fim de novembro pelo Ministério da Saúde brasileiro. A investigação ocorreu depois da constatação de um número muito elevado de casos em regiões que também tinham sido acometidas por casos de zika.

A evidência crucial para determinar essa ligação foi um teste feito no Instituto Evandro Chagas, órgão vinculado ao Ministério da Saúde no Pará, que detectou a presença do vírus zika em amostras de sangue coletadas de um bebê que nasceu com microcefalia no Ceará e acabou morrendo.

Como a situação é muito recente, ainda não se sabe como o vírus atua no organismo humano, quais mecanismos levam à microcefalia e qual o período de maior vulnerabilidade para a gestante. Segundo o Ministério da Saúde, as investigações sobre o tema devem continuar para esclarecer essas questões.

Quais são as recomendações para mulheres grávidas?O Ministério da Saúde orienta algumas medidas para mulheres grávidas ou com possibilidade de engravidar tendo em vista a ocorrência de casos de microcefalia relacionados ao zika vírus.

Uma delas é a proteção contra picadas de insetos: evitar horários e lugares com presença de mosquitos, usar roupas que protejam a maior parte do corpo, usar repelentes e permanecer em locais com barreiras para entrada de insetos como telas de proteção ou mosquiteiros.

É importante informar o médico sobre qualquer alteração em seu estado de saúde, principalmente no período até o quarto mês de gestação. Um bom acompanhamento pré-natal é essencial e também pode ajudar a diminuir o risco de microcefalia.

Há risco de microcefalia se a mulher engravidar depois de se curar do zika?Segundo o médico Érico Arruda, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, o que se conhece sobre a relação entre o zika e a microcefalia é insuficiente para determinar se há risco de engravidar logo depois de se curar de uma infecção pelo zika vírus.

“O que se pode dizer, baseado em contextos gerais, é que parece que a viremia do zika é curta, ou seja, a pessoa infectada fica pouco tempo com o vírus circulando na corrente sanguínea.” Caso isso seja confirmado, é possível que não haja risco de gravidez logo após o fim da infecção, porém ainda é cedo para ter certeza.

Qual é a relação entre o zika e a síndrome de Guillain-Barré?Alguns estados do Nordeste que tiveram a ocorrência do vírus zika têm observado um aumento incomum dos casos da síndrome de Guillain-Barré, como Pernambuco, Bahia, Piauí, Sergipe,Rio Grande do Norte e Maranhão.

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Trata-se de uma doença rara que afeta o sistema nervoso e que pode provocar fraqueza muscular e paralisia de braços, pernas, face e musculatura respiratória. Em 85% dos casos, há recuperação total da força muscular e sensibilidade. Ela pode afetar pessoas de qualquer idade, mas é mais comum entre adultos mais velhos.

O Ministério da Saúde está investigando esses casos, mas até o momento não confirma a correlação. A pasta deve divulgar as conclusões desse estudo nas próximas semanas.

Especialistas afirmam que é muito provável que exista uma conexão. “Neste momento, temos que encarar que existe um indício forte de relação entre o zika e a síndrome de Guillain-Barré, mas para ter certeza absoluta precisamos de mais elementos e avaliar com mais profundidade os pacientes que desenvolveram a síndrome”, diz o médico Marcondes Cavalcante França Junior, coordenador do Departamento Científico de Neurogenética da Academia Brasileira de Neurologia.

Há suspeita de associação do zika com outras doenças?Até o momento, não há evidências de que o zika possa estar relacionado a outras doenças além da microcefalia e da possibilidade de conexão com a síndrome de Guillain-Barré.

O zika já provocou mortes no Brasil?Até o momento, o Ministério da Saúde confirma três mortes relacionadas ao vírus zika. Um dos casos é o do bebê do Ceará que nasceu com microcefalia, cujas amostras de sangue serviram como evidência da relação entre o zika e a microcefalia. Outro caso é de um homem do Maranhão que também tinha lúpus. Houve ainda o caso de uma menina de 16 anos no Pará.

Como é feito o diagnóstico de zika?Ainda não há um teste padrão para diagnosticar a doença. “Como o zika é novo, não temos uma padronização nos testes. Para se ter certeza do diagnóstico, é preciso usar a técnica de PCR, que é complexa e não está disponível no mercado”, diz Rodrigo Stabeli, vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

No Brasil, somente três unidades da Fiocruz, além do Instituto Evandro Chagas, órgão vinculado ao Ministério da Saúde, têm a capacidade de fazer esse exame. “Esses laboratórios têm a missão de desenvolver um método melhor de diagnóstico para suprir esse problema epidemiológico”, diz Stabeli.

Enquanto não existe um teste padrão, o diagnóstico nas regiões em que já se constatou a presença do vírus vem sendo feito por critérios clínicos.

Quais são as medidas de prevenção conhecidas?Como o zika é transmitido pelo Aedes aegypti, mesmo mosquito que transmite a dengue e o chikungunya, a prevenção segue as mesmas regras aplicadas a essas doenças. Evitar a água parada, que os mosquitos usam para se reproduzir, é a principal medida.

Em casa, é preciso eliminar a água parada em vasos, garrafas, pneus e outros objetos que possam acumular líquido. Colocar telas de proteção nas janelas e instalar mosquiteiros na cama também são medidas preventivas. Vale também usar repelentes e escolher roupas que diminuam a exposição da

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pele. Em caso da detecção de focos de mosquito que o morador não possa eliminar, é importante acionar a Secretaria Municipal de Saúde do município.

Por enquanto, não existe vacina capaz de prevenir a infecção pelo vírus zika.

Qual é a diferença entre dengue, chikungunya e zika?Os vírus da dengue, chikungunya e zika são transmitidos pelo mesmo vetor, o Aedes aegypti, e levam a sintomas parecidos, como febre e dores musculares. Zika e dengue são do gênero Flavivirus, já o chikunguna é do gênero Alphavirus.

As doenças têm gravidades diferentes. A dengue, que pode ser provocada por quatro sorotipos diferentes do vírus, é caracterizada por febre repentina, dores musculares, falta de ar e moleza. A forma mais grave da doença é caracterizada por hemorragias e pode levar à morte.

O chikungunya caracteriza-se principalmente pelas intensas dores nas articulações. Os sintomas duram entre 10 e 15 dias, mas as dores articulares podem permanecer por meses e até anos. Complicações sérias e morte são muito raras.

Já a febre por zika vírus leva a sintomas que se limitam a no máximo 7 dias. Apesar de os sintomas serem mais leves do que os de dengue e chikungunya, a relação do vírus com a microcefalia e a possível ligação com a síndrome de Guillain-Barré tem trazido preocupação.

O Aedes aegypti pode transmitir mais de uma doença ao mesmo tempo?Segundo estudos conduzidos pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), é possível que um mosquito transmita dengue e chikungunya ao mesmo tempo a um paciente. Ainda não há estudos, porém, que avaliem a possibilidade de o zika vírus ser transmitido simultaneamente aos outros dois vírus

A Organização Mundial da Saúde (OMS) está monitorando a situação do zika?Sim. A Organização Mundial de Saúde e a Organização Pan-Americana de Saúde emitiram um alerta mundial sobre a epidemia de zika vírus. Segundo a OMS, somente neste ano foram confirmados casos de zika em nove países das Américas. Brasil, Chile - na ilha de Páscoa -, Colômbia, El Salvador, Guatemala, México, Paraguai, Suriname e Venezuela.

Quando o zika foi identificado pela primeira vez?O vírus foi identificado pela primeira vez em 1947 em um macaco rhesus na floresta Zika, da Uganda. No Brasil, ele foi identificado pela primeira vez em abril de 2015.

http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2015/12/zika-virus-entenda-transmissao-os-sintomas-e-relacao-com-microcefalia.html

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