AUDITORIA: ENSINO ACADÊMICO X TREINAMENTO … · ALVARO AUGUSTO RICARDINO FILHO Tese de Doutorado...

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade Departamento de Contabilidade e Atuária AUDITORIA: ENSINO ACADÊMICO X TREINAMENTO PROFISSIONAL Álvaro Augusto Ricardino Filho Orientador: Prof. Dr. L. Nelson Carvalho São Paulo 2002

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  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade

    Departamento de Contabilidade e Aturia

    AUDITORIA: ENSINO ACADMICO X TREINAMENTO PROFISSIONAL

    lvaro Augusto Ricardino Filho

    Orientador: Prof. Dr. L. Nelson Carvalho

    So Paulo 2002

  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade

    Departamento de Contabilidade e Aturia

    AUDITORIA: ENSINO ACADMICO X TREINAMENTO PROFISSIONAL

    ALVARO AUGUSTO RICARDINO FILHO

    Tese de Doutorado apresentada ao

    Departamento de Contabilidade e Aturia da

    Faculdade de Economia, Administrao e

    Contabilidade da Universidade de So Paulo

    para a obteno do ttulo de Doutor em

    Contabilidade.

    Orientador: Prof. Dr. L. NELSON CARVALHO

    So Paulo

    2002

  • REITOR DA UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    PROF. DR. ADOLPHO JOS MELFI

    DIRETOR DA FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAO E

    CONTABILIDADE.

    PROFa. Dra. MARIA TEREZA LEME FLEURY

    CHEFE DO DEPARTAMENTO DE CONTABILIDADE E ATURIA

    PROF. DR. ARIOVALDO DOS SANTOS

  • FICHA CATALOGRFICA

    Ricardino Filho, lvaro Augusto Auditoria : ensino acadmico x treinamento profissional / lvaro Augusto Ricardino Filho. -- So Paulo : FEA/USP, 2002. p.

    Tese - Doutorado Bibliografia Orientador: Prof. Dr. L. Nelson Carvalho 1. Auditoria Estudo e ensino 2. Padres e normas de auditoria 3. Treinamento profissional I. Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade da USP

    ,

    CDD 657.45007

  • memria de

    Luiz Fernando Ricardino Jarillo

    Administrao 2 FEA/USP

    Que ele esteja em um grande campo e possa jogar todos as partidas que lhe foram negadas.

  • Nos prximos anos, o escndalo da

    Enron, e no o 11 de setembro, ser

    visto como o grande divisor de guas na

    histria da sociedade dos Estados

    Unidos.

    Paul Krugman

    Economista do The New York Times

  • AGRADECIMENTOS

    Por ocasio da concluso de uma tese, o espao destinado aos

    agradecimentos sempre parece ser inversamente menor do que a soma dos

    esforos de todos que ajudaram na sua realizao.

    Meu primeiro agradecimento, mais do que justificvel, dirige-se ao Prof. Dr. L.

    Nelson Carvalho que, no obstante sua agenda sempre repleta de compromissos,

    sempre encontrou tempo para fornecer as orientaes necessrias. Privilegiou-me

    com a confiana depositada e por isso lhe sou imensamente grato.

    Especiais agradecimentos banca examinadora composta pelos srs. Prof. Dr.

    Gilberto Martins, cuja porta sempre esteve aberta amizade e ao apoio; Prof. Dr.

    Jorge Katsumi Niyama, a quem, infelizmente, s tive o prazer de conhecer quando

    da defesa deste trabalho; Jlio Srgio Cardozo, que me brindou com sugestes

    extraordinrias, quando do exame de qualificao, e Prof. Dr. Srgio de Iudcibus,

    eterno mestre de todos ns, que me honra pela segunda vez ao participar da banca.

    Agradeo a todos os professores da FEA-USP de cujas fontes sorvi os

    conhecimentos adquiridos ao longo do doutoramento.

    Aos colegas das turmas de mestrado e doutorado com os quais desfrutei

    tantos e to bons momentos.

    A Temstocles do Amaral Ribeiro, motivador involuntrio de meu retorno s

    salas de aula.

    A uma pliade de colaboradores que me forneceram informaes e sugestes

    para este trabalho. Mesmo correndo o risco de omitir alguns nomes, no posso me

    furtar a tentar elenc-los:

    Andersen: Francisco Papells Filho, William P. Pinto, Juarez Lopes de Arajo; PriceWaterhouse & Coopers: Edison Arisa Pereira; KPMG: Lino Campion, Carla Bellangero, Sidney Ito, Janaina P. Camargo; Trevisan: Mauro Akio Sakano; Ernst & Young: Charles B. Holland, Ricardo Jorge Oronzo, Wagner Petelin; BDO Directa: Clvis Ailton Madeira e Ernesto Gelbcke;

  • Deloitte: Carmen Sarilho Padre.

    Aos colegas da USP: Marco Plo Cordeiro, casal Sofie e Vincius A. Martins,

    Renato Theophillo.

    A alguns amigos de todas as horas: Amado Francisco da Silva, Norberto

    Giuntini, Profa. Snia Aparecida Ribeiro.

    Aos meus pais pelo eterno incentivo, tanto no passado quanto no presente.

    s duas Marcias: a primeira, minha esposa, por tudo. E tudo, neste caso, tem

    um sentido muito mais amplo do que simples palavras podem expressar. segunda,

    irm, pelas tradues e ajuda nos momentos mais inslitos.

    Georgia, minha filha, apenas por ser quem .

  • SUMRIO

    Resumo

    Abstract

    CAPTULO I ESTRUTURA METODOLGICA

    1. Gnesis da questo ..................................................................................................... 01

    2. Justificativa para a escolha do tema ............................................................................. 04

    2.1 Importncia ........................................................................................................... 04

    2.1.1 Obrigatoriedade da disciplina ....................................................................... 04

    2.1.2 Oportunidade de trabalho ............................................................................. 04

    2.1.3 Potencial econmico .................................................................................... 04

    2.2 Viabilidade ............................................................................................................ 05

    2.3 Originalidade ......................................................................................................... 05

    2.3.1 O ISAR e sua proposta ................................................................................. 06

    3. O problema ................................................................................................................... 07

    4. Hiptese ....................................................................................................................... 08

    5. Delimitaes da pesquisa ............................................................................................. 08

    6. Objetivos da pesquisa ................................................................................................... 09

    7. Desenvolvimento dos trabalhos ................................................................................... 10

    CAPTULO II BREVE RETROSPECTIVA DAS ATIVIDADES DE AUDITORIA NO

    BRASIL

    1. Influncia da Legislao viso inicial .......................................................................... 12

    2. Origens e desenvolvimento da auditoria no Brasil e legislao pertinente ................... 13

    3. Incio e desenvolvimento do ensino da disciplina auditoria nos cursos de graduao em cincias contbeis ................................................................................................... 21

    4. Primeiras publicaes sobre auditoria no Brasil ............................................................ 28

    CAPTULO III DISCIPLINA AUDITORIA: LEGISLAO VERSUS CONTEDO PRTICO

    1. Metodologia Aplicada Pesquisa ................................................................................. 37

    2. Sumrio das Questes de Pesquisa ....................... 383. Propsitos da Coleta de Dados 39

    3.1 Pblico Alvo ............................................................................................................ 39

    4. Tcnica da Coleta de Dados ......................................................................................... 39

    4.1 Restrio na Coleta de Dados ............................................................................... 40

    4.2 Critrios para Seleo da Amostra ........................................................................ 41

    4.3 Seleo da Amostra .............................................................................................. 44

    4.4 Distribuio da Amostra e da Seleo ................................................................... 47

    4.5 Indicadores de Validao da Amostra .................................................................. 48

    5. Anlise dos Dados ........................................................................................................ 50

    5.1 Sobre a Disciplina Auditoria .................................................................................. 50

    5.2 Sobre o Corpo Docente ......................................................................................... 51

    5.3 Sobre a Bibliografia Adotada ................................................................................. 52

    5.3.1 Comparao com a pesquisa de Madeira (2001) ......................................... 52

  • 5.4 Sobre a Forma como so Ministradas as Aulas .................................................... 53

    6. Resultado da Coleta de Dados .................................................................................... 53

    CAPTULO IV EMENTA ADOTADA PELAS EMPRESAS DE AUDITORIA

    INDEPENDENTE PARA O ENSINO DE SEUS AUDITORES APRENDIZES

    1. O Recrutamento de Auditores Aprendizes .................................................................... 56

    2. Critrios para a Seleo das Empresas Observadas .................................................... 57

    2.1 Resultado das Correspondncias Enviadas .......................................................... 58

    2.2 Entrevistas ............................................................................................................ 58

    3. Empresas Selecionadas ............................................................................................... 59

    3.1 Andersen ............................................................................................................... 60

    3.1.1 Processo Admissional 2000 ......................................................................... 60

    3.1.2 Ementa ......................................................................................................... 62

    3.1.3 Material Didtico ........................................................................................... 62

    3.2 Deloitte, Touche Tohmatsu ................................................................................... 63

    3.2.1 Processo Admissional 2000 ......................................................................... 63

    3.2.2 Ementa ......................................................................................................... 65

    3.2.3 Material Didtico .......................................................................................... 65

    3.3 Ernst & Young ....................................................................................................... 66

    3.3.1 Processo Admissional 2000 ......................................................................... 66

    3.3.2 Ementa ......................................................................................................... 67

    3.3.3 Material Didtico ........................................................................................... 68

    3.4 KPMG ................................................................................................................... 83

    3.4.1 Processo Admissional 2000 ......................................................................... 83

    3.4.2 Programa de Treinamento ............................................................................ 85

    3.4.3 Material Didtico ........................................................................................... 90

    3.5 PricewaterhouseCoopers ...................................................................................... 91

    3.5.1 Processo Admissional 2000 ......................................................................... 91

    3.5.2 Ementa ......................................................................................................... 92

    3.5.3 Material Didtico ........................................................................................... 93

    3.6 Boucinhas & Campos ............................................................................................ 94

    3.6.1 Processo Admissional .................................................................................. 94

    3.6.2 Ementa ......................................................................................................... 94

    3.6.3 Material Didtico ........................................................................................... 94

    3.7 BDO Directa .......................................................................................................... 95

    3.7.1 Processo Admissional 2000 ......................................................................... 95

    3.7.2 Ementa ......................................................................................................... 96

    3.7.3 Material Didtico ........................................................................................... 97

    3.8 Trevisan Auditores ................................................................................................ 98

    3.8.1 Processo Admissional 2000 ......................................................................... 98

    3.8.2 Ementa ......................................................................................................... 99

    3.8.3 Material Didtico ......................................................................................... 100

    4. Sntese ....................................................................................................................... 101

    4.1 Perfil dos auditores aprendizes e dos respectivos processos admissionais ........ 101

    4.1.1 Perfil ........................................................................................................... 101

    4.1.2 Cursos de origem ....................................................................................... 101

    4.1.3 Distribuio da Escolaridade nos Cursos de Cincias Contbeis ............... 102

  • 4.1.4 Processo Admissional ................................................................................ 102

    4.1.5 Carga Horria de Treinamento ................................................................... 103

    4.2 Ementa ................................................................................................................ 103

    4.2.1 Anlise ....................................................................................................... 104 CAPTULO V MTODOS DE AUDITORIA E FERRAMENTAS ELETRNICAS

    UTILIZADAS PELAS EMPRESAS DE AUDITORIA INDEPENDENTE CONSULTADAS

    1. Introduo Discusso metodolgica ......................................................................... 107

    2. Resultado da Coleta de Informaes .......................................................................... 108

    2.1 Andersen ............................................................................................................. 108

    2.1.1 Mtodo de Auditoria ................................................................................... 108

    2.1.2 Ferramentas Eletrnicas ............................................................................ 115

    2.2 Deloitte, Touche Tohmatsu ................................................................................. 123

    2.2.1 Mtodo de Auditoria ................................................................................... 123

    2.2.2 Ferramentas Eletrnicas ............................................................................ 123

    2.3 Ernst & Young .................................................................................................... 124

    2.3.1 Mtodo de Auditoria ................................................................................... 124

    2.3.2 Ferramentas Eletrnicas ............................................................................ 129

    2.4 KPMG ................................................................................................................. 134

    2.4.1 Mtodo de Auditoria ................................................................................... 134

    2.4.2 Ferramentas Eletrnicas ............................................................................ 136

    2.5 Pricewaterhouse Coopers ................................................................................... 137

    2.5.1 Mtodo de Auditoria ................................................................................... 137

    2.5.2 Ferramentas de Auditoria ........................................................................... 138

    2.6 Boucinhas & Campos .......................................................................................... 139

    2.6.1 Mtodo de Auditoria ................................................................................... 139

    2.6.2 Material Didtico ......................................................................................... 139

    2.7 BDO Directa ........................................................................................................ 140

    2.7.1 Mtodo de Auditoria ................................................................................... 140

    2.7.2 Ferramentas Eletrnicas ............................................................................ 144

    2.8 Trevisan Auditores .............................................................................................. 145

    2.8.1 Mtodo de Auditoria ................................................................................... 145

    2.8.2 Ferramentas Eletrnicas ............................................................................ 147

    3. Sntese ....................................................................................................................... 148

    3.1 Metodologia de Auditoria ..................................................................................... 148

    CAPTULO VI ANLISES COMPARATIVAS: LIVROS DE AUDITORIA, EMENTAS E

    ISAR. DIFERENAS ENTRE O ENSINO ACADMICO E O TREINAMENTO PROFISSIONAL

    1. Pesquisa antecedente ................................................................................................ 150

    2. Sumrio da Pesquisa de Madeira ............................................................................... 151

    3. O Contedo dos Livros indicados pelos Docentes da Disciplina Auditoria .................. 152

    3.1 ATTIE, William .................................................................................................... 152

    3.2 FRANCO, Hilrio e MARRA, Ernesto .................................................................. 153

    3.3 ALMEIDA, Marcelo Cavalcanti ............................................................................ 153

    3.4 Caractersticas Comuns s Obras ....................................................................... 154

    4. A Proposta do ISAR versus Ementas e Contedo Bibliogrfico ................................. 154

  • 4.1 Grfico Comparativo entre ISAR, Ementas e Bibliografia .................................... 163

    4.2 Mdia Percentual dos Itens Atendidos ................................................................ 164

    4.2.1 Anlise do Percentual Mdio de Cobertura ................................................ 164

    4.3 Anlise, por Tema ............................................................................................... 164

    4.3.1 Tema 1 Natureza, Finalidade e Extenso da Auditoria ............................ 164

    4.3.2 Tema 2 Normas de Auditoria e Padres Internacionais de Auditoria ....... 165

    4.3.3 Tema 3 Princpios e Conceitos Fundamentais de Auditoria ..................... 165

    4.3.4 Tema 4 Estrutura Bsica de Auditoria ..................................................... 166

    4.3.5 Tema 5 Avaliao e Planejamento de Auditoria ...................................... 166

    4.3.6 Tema 6 Obteno e Anlise das Evidncias............................................ 167

    4.3.7 Tema 7 Realizao da Auditoria .............................................................. 168

    4.3.8 Tema 8 Estrutura do Relatrio de Auditoria ............................................. 168

    4.3.9 Tema 9 Comunicao de Deficincias de Controle Interno ..................... 169

    4.3.10 Tema 10 Avaliao dos Sistemas Empresariais baseados em Computadores ........................................................................................ 169

    4.3.11 Tema 11 Riscos de Responsabilidade Profissional do Auditor .............. 170

    4.3.12 Tema 12 Auditoria Interna: Objetivos e Funes ................................... 170

    4.3.13 Tema 13 Organizao e Planejamento em Situaes Complexas de Auditoria, incluindo Auditoria de Grupos e Trabalhos Conjuntos com outros Auditores ...................................................................................... 170

    5. Anlise Global ............................................................................................................. 171

    6. Ensino Acadmico e Treinamento Profissional: diferenas e propsitos ..................... 172

    6.1 O Treinamento nas Empresas de Auditoria ........................................................... 174

    6.2 O Ensino Acadmico ............................................................................................. 175

    CAPTULO VII CONCLUSO

    1. Antecedente ............................................................................................................... 177

    2. Concluses ................................................................................................................. 179

    2.1 Sntese ................................................................................................................ 179

    2.2 Bases comparativas ............................................................................................ 180

    2.2.1 Ementas, Bibliografias e ISAR .................................................................... 180

    2.2.2 Ensino X Treinamento ................................................................................ 181

    APNDICE ..................................................................................................................... 184 BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................. 202 ANEXOS Anexo A Relao das Faculdades de Cincias Contbeis fornecidas pelo MEC ........... 1

    Anexo B Instituies de ensino selecionadas para teste amostral ................................. 7

    Anexo C Modelo de circular s Faculdades de Cincias Contbeis pesquisadas .......... 9

    Anexo D Tabulao dos dados pesquisados: informaes sobre a disciplina .............. 13

    Anexo E - Tabulao dos dados pesquisados: informaes sobre o corpo docente ...... 18

    Anexo F - Tabulao dos dados pesquisados: bibliografia utilizada na disciplina auditoria ......................................................................................................... 29

    Anexo F-1 Bibliografia indicada para a disciplina Auditoria ............................................. 31

    Anexo F-2 Tabulao da bibliografia adotada na disciplina Auditoria .............................. 32

    Anexo G Informaes sobre a metodologia de ensino ................................................. 33

  • Anexo H Modelo de circularizao enviado s empresas de auditoria independente selecionadas para teste. ................................................................................ 35

    Anexo I Questionrio sobre processo admissional ..................................................... 36

    Anexo J O currculo da disciplina auditoria ................................................... 37Anexo K - ISAR X Ementas ............................................................................................ 42

  • RESUMO

    Em 1999, por iniciativa do Grupo de Especialistas Internacionais em Padres Contbeis e de Relatrios Financeiros - ISAR , uma entidade formada sob os auspcios da UNCTAD ONU, foi completado um estudo voltado proposta de educao do chamado contador global. Tomando esse trabalho como parmetro, esta tese procura identificar se: o contedo dos livros sobre auditoria, mais comumente indicados pelos docentes da disciplina, em todo o pas, atende proposta daquele Grupo de Especialistas; e se as ementas dos cursos bsicos de auditoria, ministrados pelas principais empresas de auditoria independente em atividade no pas, atendem referida proposta. Tal comparao torna-se importante medida que os mais de quatrocentos aprendizes recrutados anualmente pelas empresas de auditoria pesquisadas so universitrios que cursaram a disciplina auditoria1 em suas respectivas faculdades. Essa duplicao de esforos leva percepo de que h diferenas substanciais tanto no contedo quanto no objetivo desses cursos. Tomando tal percepo como premissa e utilizando o programa do ISAR como base referencial, este trabalho admite a hiptese de que h diferenas substantivas entre ementas e contedos bibliogrficos, e que tais diferenas esto apoiadas nos objetivos que orientam a atividade acadmica e a profissional. Enquanto a primeira se dedica ao ensino, a segunda est voltada ao treinamento. Apoiado em informaes fornecidas tanto pelos docentes da disciplina quanto pelas empresas examinadas, este trabalho confirmou a hiptese enunciada e concluiu que h significativas diferenas entre as ementas e o contedo bibliogrfico utilizado. Adicionalmente, consubstanciado em definies tcnicas que caracterizam e diferenciam ensino e treinamento, esta tese pde comprovar que os objetivos profissionais e acadmicos so, de fato, diferentes e, em conseqncia, levam adoo de contedos programticos diferenciados.

    1 Como mnimo, aqueles provenientes dos cursos de graduao em Cincias Contbeis.

  • ABSTRACT

    In 1999, by initiative of the International Working Group of Experts on Standards of Accounting and Reporting ISAR, an entity formed under the auspices of UNCTAD United Nations, a study was completed regarding a proposed curriculum for the education of the so-called global accountant. Taking this study as a benchmark, this thesis intends to identify whether: the content of the books on auditing most recommended by the professors in Brazil comply with such proposal, and if the basic audit training programs of the main independent audit firms in Brazil also comply with the referred proposal. Assuming such perception as valid and using the ISAR proposal as a benchmark, this work accepts the hypothesis that there are substantive differences between the under-graduate programs, firms training activities and the related bibliographic contents, and that such differences result from the objectives that underlie the professional and the academic activities these aiming at education, whereas the former is devoted to pure training. Such a comparison becomes important due to the fact that the over four hundred trainees recruited every year by the audit firms included in this research come from universities in which basic audit is taught2. This duplication of efforts leads to the intuitive perception that there may be substantial differences both in the content and in the objectives of these courses and training programs. The research conducted and documented in the present work was based on information provided both by the professors and the by firms leads to the conclusion that there really are significant differences between the syllabus and the bibliography in use. In addition, based upon technical definition of education and training, it was also concluded that the academic objectives differ from those of the firms and this leads to different discipline contents.

    2 At least those coming from under-graduate programs in Accounting..

  • 1

    CAPTULO I

    ESTRUTURA METODOLGICA

    A cincia nunca resolve um problema sem

    criar pelo menos dez outros.

    George Bernard Shaw

    1. GNESIS DA QUESTO

    A histria da criao dos cursos superiores no Brasil nos remete chegada

    da Famlia Real, em 1808. At ento, temerosa de que quaisquer possibilidades de

    instruo servissem de alimento a ideais separatistas, a Coroa Portuguesa vetava

    terminantemente quaisquer iniciativas de carter cultural. O temor pela perda do

    status quo era tal que algumas proibies beiravam o ridculo, como a que, em 1795,

    solicitava a extino da cadeira de filosofia nos conventos, posto que no convinha

    abusar dos estudos superiores que s servem para nutrir o orgulho prprio aos habitantes...

    (FIALHO, 1938, p. 331).

    Tal embargo no se constitua em fato isolado:

    ... depois da paralisao dos colgios da Madre de Deus e do Carmo,

    que, pelos Avisos de 21 de outubro de 1790, ordenou-se Cmara de

    So Lus que enviasse ao Reino pessoas hbeis para, depois de

    aprenderem, voltarem para esta Capitania a fim de exercerem os

    empregos de topgrafos, hidrulicos, mdicos, contadores [grifo

    nosso] e cirurgies, s quais a Cmara devia estabelecer penses

    alimentares enquanto elas estudassem na Universidade de Coimbra e

    na Academia de Marinha de Lisboa, ao que no entanto se oporia o

    governador local, D. Fernando Antnio de Noronha (1792/98), porque

    estudos superiores s servem para nutrir o orgulho e destruir os laos

    de subordinao civil e poltica que devem ligar os habitantes da

    Metrpole, enquanto a Cmara, por sua vez, ponderava no poder

    assumir o compromisso exigido pela exigidade de recursos.

    (MEIRELES, 1994, p. 55)

    Criado, patrocinado e tutelado pelo Estado, o ensino acadmico brasileiro, at

    a segunda dcada do sculo XX, esteve limitado a poucas instituies, o que

  • 2

    colocava o pas em uma situao de inferioridade em relao aos demais pases sul-

    americanos. At 1920, apenas Brasil e Paraguai no contavam com uma

    universidade, sendo que pases como Mxico e o Peru, por exemplo, as mantinham

    desde o sculo XVI.3

    Foi somente em 07 de setembro de 1920, sob circunstncias bastante

    peculiares, que viria a ser criada a Universidade do Rio de Janeiro, integrada pelas

    faculdades de Medicina, Direito e Engenharia. Conquanto as trs instituies fossem

    mantidas pelo Governo Federal, possuam funcionamento tcnico e administrativo

    independentes, no tendo sido criados os instrumentos para sua unificao.

    Sobre os singulares motivos da instalao da Universidade do Rio de Janeiro,

    sabe-se que:

    ...foi criada, em 1920, em virtude da necessidade de ser outorgado o

    ttulo de Doutor Honoris Causa ao Rei Alberto I, da Blgica, como

    parte das homenagens que lhe deveriam ser prestadas,

    protocolarmente, por ocasio de sua visita oficial, dentro do quadro de

    comemoraes do Centenrio da Independncia.

    (ANTUNHA, apud PILETTI, 1997, p. 80)

    A bem da verdade, a primeira Universidade a funcionar no Brasil foi a

    Universidade de So Paulo, fundada em 25 de Janeiro de 1934. Sobre a magnitude

    e a motivao de tal empreendimento, um de seus fundadores, o jornalista Jlio de

    Mesquita Filho, assim se manifestou:

    Vencidos pelas armas, sabamos perfeitamente que s pela cincia e

    pela perseverana no esforo voltaramos a exercer a hegemonia que

    durante longas dcadas desfrutramos no seio da federao. Paulistas

    at a medula, herdramos da nossa ascendncia bandeirante o gosto

    pelos planos arrojados e a pacincia necessria execuo dos

    grandes empreendimentos. Ora, que maior monumento poderamos

    erguer aos que haviam consentido no sacrifcio supremo para

    preservar contra o vandalismo que acabava de aviltar a obra de nossos

    maiores, das bandeiras independncia e da Regncia Repblica, do

    que a Universidade?

    (MESQUITA FILHO, 1969, p. 199)

    No mbito especfico do ensino superior de Cincias Contbeis, este foi

    formalmente introduzido em nosso pas por fora do Decreto-Lei n 7.988, de 22 de

    setembro de 1945, que dispunha sobre o ensino superior de Cincias Econmicas e

    3 Outras informaes a respeito da evoluo do ensino universitrio brasileiro podem ser

    encontradas em Piletti (1997).

  • 3

    de Cincias Contbeis e Atuariais. A Universidade de So Paulo, em 26 de janeiro

    de 1946, seria a primeira instituio a implement-lo no Brasil.

    Sob a tutela do Estado, desde sua origem, com algumas variaes quanto ao

    grau de liberdade, o ensino brasileiro, especificamente aquele voltado s Cincias

    Contbeis e de forma subjacente disciplina Auditoria, tem sofrido poucas revises

    em sua estrutura curricular ao longo dos ltimos cinqenta anos. Distante da

    realidade das empresas de auditoria independente, o ensino acadmico brasileiro

    tem se distanciado, cada vez mais, das prticas de mercado, como ser

    demonstrado ao longo deste trabalho.

    Enquanto o ensino acadmico se isola, as empresas que compem a

    indstria vm investindo pesadamente em alternativas de carter tcnico e

    metodolgico com o objetivo de reduzir, a nveis aceitveis, o risco de emitir opinies

    inadequadas sobre as demonstraes contbeis sob exame. A elas no basta

    desenvolver ferramentas nem compreender as complexas relaes que permeiam

    as atividades comerciais do novo milnio. preciso disponibilizar permanentemente

    essa ampla gama de conhecimentos aos profissionais que iro conduzir os trabalhos

    de campo e esta transferncia de tecnologia, ministrada continuadamente, em todos

    os nveis, comea pelos auditores em incio de carreira que anualmente so

    recrutados junto s faculdades e que, em termos prticos, constituem a base da

    renovao profissional dessas empresas.

    Neste ponto surge um paradoxo. Se uma parte desses auditores iniciantes

    freqentou a disciplina auditoria4, por que submet-los, ao longo de vrios dias, a um

    curso bsico e intensivo dessa disciplina? Tal prtica leva suposio, ainda que

    intuitiva, de que deve haver razovel diferena entre o contedo programtico

    acadmico e o profissional.

    sobre essa provvel dicotomia que versa esta tese. Ao longo dos prximos

    captulos estaremos nos debruando sobre suas causas e efeitos.

    4 Como mnimo, aqueles que foram recrutados nos cursos superiores de Cincias Contbeis.

  • 4

    2. JUSTIFICATIVA PARA A ESCOLHA DO TEMA

    Segundo Castro (1978, p. 55), a escolha do tema de pesquisa deve obedecer

    a uma regrinha convencional que perfeitamente apropriada ... Uma tese deve ser original,

    importante e vivel. Atendendo a esta diretriz, embora subvertendo a seqncia

    indicada, este tpico se dedica a expor os motivos que justificam o tema focado.

    2. 1 Importncia

    Diversos so os ngulos pelos quais a importncia de um trabalho sobre o

    ensino de auditoria pode ser aquilatada. Trs exemplos ajudam compreenso:

    2.1.1 Obrigatoriedade da disciplina: por se tratar de uma disciplina classificada

    como obrigatria pela Resoluo n 3, de 05 de outubro de 1992, cabe

    identificar as condies gerais sob as quais ela vem sendo ministrada nas

    instituies que possuem curso superior em Cincias Contbeis, em todo o

    pas.

    2.1.2 Oportunidade de trabalho: conforme clculos estimativos, detalhados no

    incio do captulo IV deste trabalho, cerca de 800 universitrios so recrutados

    anualmente pelas empresas de auditoria em atividade no pas. As de maior

    porte lhes oferecem oportunidade de carreira, alm de atualizao profissional

    constante.

    2.1.3 Potencial econmico: segundo informaes extradas do jornal Gazeta

    Mercantil5, a atividade, ao longo do ano 2000, movimentou cifra prxima a

    US$ 60 bilhes, apenas para citar o faturamento mundial das cinco principais

    empresas do mercado (incluindo-se, neste montante, os servios de

    consultoria).

    Uma atividade que, sem ser uma profisso regulamentada, possui tais

    componentes merece, sem sombra de dvida, uma anlise mais profunda das

    condies pelas quais vem sendo ministrada, tanto nas instituies de ensino

    superior quanto nas empresas de auditoria independente.

    5 Publicado em 13/03/2002, p. C-4.

  • 5

    2.2 Viabilidade

    O projeto atende a este requisito, pois para sua consecuo necessria e

    possvel a coleta de dados em dois universos perfeitamente identificados e

    quantificados:

    a. Instituies Brasileiras de Ensino Superior que mantm curso superior de

    Auditoria ou Cincias Contbeis. A relao pode ser obtida junto ao

    Ministrio de Educao e Desportos;

    b. Empresas de auditoria independente, cuja relao pode ser obtida junto

    CVM Comisso de Valores Mobilirios.

    2.3 Originalidade

    O aspecto originalidade apresenta uma circunstncia que merece ser

    esclarecida. A escolha do tema e o incio da coleta de dados para esta tese tiveram

    incio por volta do segundo quarto de 2000. Em Junho de 2001, quando as

    pesquisas j haviam sido concludas, Madeira (2001) apresentou Faculdade de

    Cincias Econmicas da Fundao Armando lvares Penteado dissertao

    intitulada Avaliao do Ensino de Auditoria nos Cursos de Graduao de Cincias

    Contbeis: uma pesquisa exploratria. Embora o tema tratado por aquele autor

    apresente alguns aspectos similares ao deste trabalho, o quadro sintico abaixo

    demonstra o alcance de ambos para caracterizar tanto as diferenas quanto

    identificar o grau de originalidade contido em cada um:

    ELEMENTOS COMPARATIVOS MADEIRA RICARDINO ASPECTOS AMOSTRAIS:

    Delimitao da Populao Estado de So Paulo Brasil

    Instituies de Ensino Componentes da Amostra 113 450

    Clculo Amostral No Aplicvel 82

    Retorno dos Questionrios Remetidos 15 51

    % de Retorno 13% 62%

    OBJETIVO DA PESQUISA:

    Ementa Acadmica da Disciplina Auditoria Sim No

    Bibliografia Indicada pelos Docentes Sim Sim

    Ementa das Empresas de Auditoria No Sim

    Programa Sugerido pelo ISAR Sim Sim

  • 6

    Em linhas gerais, vale destacar, alm do alcance da pesquisa, que o objetivo

    de Madeira era identificar e avaliar o contedo dos livros didticos mais indicados

    pelos docentes da disciplina auditoria e comparar seu contedo com o programa de

    ensino sugerido pelo ISAR International Standards of Accounting and Reporting,

    enquanto que os objetivos desta tese encontram-se voltados comparao entre os

    programas de ensino acadmico e profissional, tendo por parmetro o j referido

    programa de ensino sugerido pelo ISAR.

    Considerando-se os objetivos de ambos os trabalhos, desde j vale destacar

    que Madeira (2001) concluiu que tanto o contedo programtico das aulas

    ministradas nos cursos de graduao em Cincias Contbeis, quanto o contedo

    dos trs livros mais indicados pelos docentes para apoio disciplina, esto muito

    aqum dos requisitos contidos na proposta efetuada pelo ISAR: A mdia geral dos

    itens contidos nos programas dos cursos versus o contedo sugerido [pela comisso]

    demonstra que apenas 28% dos requisitos esto sendo atendidos. Quanto aos livros, estes

    atendem apenas a 46% dos requisitos contidos na proposta. (grifo nosso), Madeira (op.

    cit., p. xi).

    2.3.1 O ISAR e sua proposta

    Criado em 1982, por uma resoluo do Conselho Econmico e Social das

    Naes Unidas (ECOSOC), o ISAR International Standards of Accounting and

    Reporting tem por objetivo promover a uniformizao internacional das prticas

    contbeis.

    Em 1999, o ISAR promoveu a 16 Reunio do Grupo de Trabalho

    Intergovernamental de Especialistas em Padres Internacionais de Contabilidade e

    de Relatrios Contbeis. Esta reunio foi particularmente importante, pois reuniu

    representantes de mais de cem naes para tratar, entre outros, dos seguintes

    assuntos:

    O currculo de referncia para os cursos de contabilidade voltados para a

    formao do profissional de nvel global e requerimentos para qualificao;

    O currculo global detalhado para a educao e formao profissional do

    contador, de um sistema global de certificao e reconhecimento, da

    proposta para a constituio da Organizao Internacional para a

    Qualificao do Profissional de Contabilidade IQO.

  • 7

    O currculo global foi estruturado a partir de trs componentes, subdivididos

    em mdulos:

    1. Conhecimento organizacional e de negcios

    5 mdulos

    2. Tecnologia da informao

    1 mdulo

    3. Conhecimentos de contabilidade e aspectos inerentes

    10 mdulos.

    Dos dez mdulos correspondentes ao terceiro item, aqueles que dizem

    respeito diretamente a este trabalho so os de nmero 8 e 9, respectivamente:

    3. 8 - Princpios Fundamentais de Auditoria

    3. 9 - Conceitos Avanados de Auditoria.

    Cada um desses mdulos subdividido em temas [7 temas para o mdulo 3.8

    e 6 temas para o mdulo 3.9] e esses temas, por sua vez, so subdivididos em

    assuntos. O mdulo 3.8 possui 67 assuntos, enquanto que o mdulo 3.9 possui 36.

    No conjunto, o programa bsico de ensino da disciplina Auditoria, sugerido pelo

    ISAR, composto de 103 assuntos. O contedo integral dos dois mdulos

    supracitados pode ser encontrado no Anexo J deste trabalho.

    Pela sua importncia, o programa serve de benchmark s comparaes que

    se pretende formular ao longo desta tese.

    3. O PROBLEMA

    Segundo Kerlinger (1980, pp. 35-6), Um problema uma questo que pergunta

    como as variveis esto relacionadas. ... A resposta questo procurada na pesquisa.

    Atendendo a este critrio metodolgico, os problemas que este trabalho

    procura responder so:

    a. Quais caractersticas cercam o ensino da disciplina Auditoria, nos cursos de

    graduao em Cincias Contbeis, em todo o territrio nacional?

    b. H diferenas substanciais entre o contedo da bibliografia adotada pelos

    docentes da disciplina Auditoria e o contedo programtico dos cursos de

  • 8

    formao de novos auditores ministrado pelas empresas de auditoria

    independente? Se houver, o que caracteriza tais diferenas?

    c. Qual o grau de conformidade dos citados contedos programticos proposta de

    ensino sobre Auditoria apresentada pelo ISAR na 16 Reunio do Grupo de

    Trabalho Intergovernamental de Especialistas em Padres Internacionais de

    Contabilidade e de Relatrios Contbeis?

    Espera-se que a obteno das respostas s questes acima possibilite aceitar

    ou rejeitar a hiptese formulada a seguir.

    4. HIPTESE

    Para Martins (1994, p. 33), assim como para o j citado Kerlinger (1980, p.

    38), hiptese um enunciado conjetural das relaes entre duas ou mais variveis.

    Procurando atender tal assertiva, este autor enuncia que:

    O contedo dos livros didticos sobre auditoria mais indicados pelos

    docentes que ministram esta disciplina nos cursos de graduao em Cincias

    Contbeis difere dos programas ministrados aos auditores em incio de

    carreira e ambos atendem apenas parcialmente proposta do ISAR. Tais

    diferenas esto consubstanciadas nos objetivos que orientam a atividade

    acadmica e a profissional, na medida em que enquanto a primeira se dedica

    ao ensino, a segunda est voltada ao treinamento.

    5. DELIMITAES DA PESQUISA

    As pesquisas sobre o estgio atual do ensino da disciplina Auditoria tomaram

    por base uma amostra, tecnicamente delimitada, constituda pelos cursos de

    graduao em Cincias Contbeis, distribudos em todo o pas, cuja relao foi

    fornecida pelo Ministrio de Educao e Desportos.

    A anlise do contedo do material bibliogrfico, assinalado pelos docentes da

    disciplina, restringir-se- s obras sobre auditoria mais indicadas durante a pesquisa.

  • 9

    As pesquisas junto s empresas de auditoria independente concentraram-se

    nas chamadas big five e em trs empresas de origem brasileira, selecionadas pelo

    autor, cujo porte e competncia detm o reconhecimento dos profissionais da rea.

    As informaes compiladas relativas aos assuntos descritos nos dois

    pargrafos anteriores sero comparadas com a proposta de ensino sobre Auditoria

    apresentada na 16 Reunio do Grupo de Trabalho Intergovernamental de

    Especialistas em Padres Internacionais de Contabilidade e de Relatrios Contbeis

    (ISAR), da Organizao das Naes Unidas.

    6. OBJETIVOS DA PESQUISA

    Martins (1994, p. 14) assevera que, ao elaborar uma tese, os objetivos podem

    ser subdivididos em especficos e gerais. Neste sentido, o objetivo especfico deste

    estudo analisar se h diferenas substanciais entre o ensino acadmico e o

    profissional e, caso se confirme a hiptese formulada, o que pode justificar tais

    diferenas. No que diz respeito aos objetivos gerais, a tese se prope a:

    1. Comparar o grau de conformidade do contedo dos livros didticos

    sobre auditoria mais indicados pelos docentes da disciplina com o contedo

    dos programas de treinamento ministrados pelas empresas de auditoria

    independentes;

    2. Identificar o atual estgio do ensino relativo disciplina Auditoria,

    ministrada aos estudantes de Cincias Contbeis, em todo o pas.

    Dentre os objetivos gerais deseja-se incluir um que, por no ser de cunho

    tcnico, no se encontra entre aqueles indicados por Martins (1994). Diz respeito

    satisfao que o tema propiciou ao autor. No obstante o carter pessoal e

    heterodoxo desse objetivo, solicita-se a condescendncia do leitor sua

    manuteno para que fique registrado que, em momento algum, o trabalho se

    constituiu em um fardo ou uma obrigao. Ao contrrio, propiciou conhecimentos e

    descortinou possibilidades, at ento inimaginveis. Parafraseando o Prof. Roberto

    Freire, sem motivao no h soluo.

  • 10

    7. DESENVOLVIMENTO DOS TRABALHOS

    Este trabalho foi desenvolvido em sete captulos cujos contedos respectivos

    encontram-se sintetizados a seguir:

    7.1 Captulo I contempla a introduo dos trabalhos e os componentes

    obrigatrios da estrutura metodolgica de uma tese, a saber: justificativa para a

    escolha do tema, problema, hiptese, delimitaes da pesquisa, objetivos da

    pesquisa e metodologia aplicada pesquisa;

    Captulo II elabora breve retrospectiva da origem e desenvolvimento das

    atividades de auditoria em nosso pas, aborda a legislao pertinente, cobre o incio

    e desenvolvimento do ensino da disciplina Auditoria nos cursos de graduao em

    Cincias Contbeis e, por ltimo, aponta as primeiras publicaes sobre auditoria no

    Brasil.

    Captulo III subdividido em dois blocos, demonstra, no primeiro, a influncia e

    alcance da legislao brasileira sobre o ensino da disciplina Auditoria. No

    segundo, realiza coleta de dados que tem como objetivo conhecer o atual

    estgio relativo ao ensino da citada disciplina nos cursos de graduao em

    Cincias Contbeis e, mais especificamente, quais os livros didticos sobre

    Auditoria usualmente adotados pelos docentes dessa disciplina. Os dados

    coletados, a partir de padres tcnico-estatsticos, registram a tipologia

    empregada, as tcnicas utilizadas para a referida coleta, limitaes do processo

    de coleta, critrios para seleo da amostra, seleo da amostra, indicadores de

    validade amostral e, finalmente, produz a anlise dos dados obtidos;

    Captulo IV aborda o outro lado da questo, qual seja, o material didtico

    adotado pelas empresas de auditoria independente para o ensino bsico de

    seus auditores em incio de carreira e respectivos contedos programticos.

    Para obter tais informaes, oito das principais empresas de auditoria

    independente em atividade no pas foram solicitadas a fornecer informaes a

    partir de questionrio especificamente formatado a esta finalidade. O nome das

    empresas, os critrios utilizados para sua escolha, a metodologia de coleta de

    dados e os resultados e concluses obtidos so abordados ao longo do captulo

    em tela;

  • 11

    Captulo V expe os mtodos de auditoria empregados pelas empresas

    contatadas e d noes sobre o contedo e aplicao das ferramentas

    eletrnicas voltadas a auxiliar o processo de auditoria, utilizado pelas empresas

    sob exame. Ao final do captulo efetuado um resumo comparativo das

    caractersticas metodolgicas e tecnolgicas entre as empresas;

    Captulo VI compara, entre si, os tpicos que compem as ementas

    ministradas pelas empresas de auditoria independente aos seus novos

    auditores, o contedo programtico recomendado pelo ISAR International

    Standards of Accounting and Report para a referida disciplina e o contedo das

    obras didticas de auditoria indicadas pelos docentes da disciplina. A partir de

    tais comparaes so elaboradas anlises que procuraram aceitar ou rejeitar a

    hiptese formulada. As anlises so ilustradas por quadros que compilam os

    resultados obtidos, auxiliados por grficos que facilitam sua visualizao. O final

    do captulo contm a anlise global das tabulaes;

    Captulo VII encerra o trabalho comentando as evidncias que respondem as

    questes formuladas e aceitam ou rejeitam a hiptese que se pretende provar.

    Adicionalmente, analisa e efetua breve comparao a respeito do contexto do

    ensino da disciplina em pauta, apontando suas diferenas ou similaridades;

    Apndice em funo dos acontecimentos que vieram a pblico a partir de 08

    de Novembro de 2001, quando foram reveladas as impropriedades das

    demonstraes contbeis da empresa de distribuio de energia eltrica

    ENRON, as quais levaram sua concordata e dissoluo da empresa de

    auditoria independente Andersen, includa na coleta de dados desta tese, fomos

    levados a elaborar um apndice para abordar os principais aspectos presentes

    a este e a outros casos que se lhe seguiram. As informaes contidas neste

    apndice tm por base notcias veiculadas em diversos meios de comunicao,

    principalmente jornais locais e internacionais.

  • 12

    CAPTULO II

    BREVE RETROSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES DE AUDITORIA NO BRASIL

    O que existe por pesquisar a respeito da histria da

    contabilidade no Brasil incomensurvel. A indiferena

    de nossos docentes, com relao a este assunto, tambm

    o .

    4. INFLUNCIA DA LEGISLAO VISO INICIAL

    Herdeiro de razes predominantemente latinas, onde vale aquilo que est

    escrito na lei6, o Brasil, desde o incio de sua colonizao pelos portugueses, por

    extenso, adotou o sistema jurdico denominado civil law (romano-cristo), o qual,

    conforme diviso7 proposta por David (1978, p.34), concebe o direito como regras

    gerais e abstratas de conduta previamente editadas, sistematizadas e racionalizadas

    em cdigos, em que a jurisprudncia no deve atuar como fonte criadora de regras

    de direito, limitando-se a interpretar as leis. Tal orientao transcende o campo

    jurdico e passa a influenciar diretamente a conduta poltico-social, servindo ainda

    como agente de restrio ou acelerao do desenvolvimento econmico, cientfico,

    cultural e tecnolgico, apenas para citar alguns.

    A contabilidade e a auditoria, disciplinas ligadas ao campo social, sofreram as

    mesmas influncias. No obstante haja um hiato de cento e cinqenta anos

    separando a formalizao do uso das partidas dobradas na Real Fazenda

    6 2 - Ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, se no em virtude de lei.

    Constituio da Repblica Federativa do Brasil, Captulo dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, art 5. 7 Segundo o autor, os subsistemas de direitos nacionais so: civil law, common law, filosfico-

    religioso e sovitico, este ltimo enfraquecido com a derrocada dos pases da cortina de ferro.

  • 13

    Portuguesa, atravs do Alvar de 28 de junho de 18088 e a introduo da

    obrigatoriedade do uso dos servios de Auditoria Independente, em 14 de junho de

    19659, em ambos os casos a regulamentao se fez atravs de diplomas legais.

    Importante destacar que os usos e costumes antecedem ambas as leis, uma

    vez que as partidas dobradas j eram utilizadas no Brasil poca da Inconfidncia

    Mineira, como demonstra Lopes de S em seu trabalho denominado Aspectos

    Contbeis no Perodo da Inconfidncia Mineira (S, 1980). No que diz respeito

    auditoria, a legalizao se deu aps anos de exerccio da atividade.

    Conquanto no seja propsito desta tese resgatar-lhe a histria, cabe

    recuperar alguns aspectos que marcaram seu incio e, paralelamente, o

    desenvolvimento do ensino da disciplina no pas, at porque, como nos ensina

    Castro (1978, p. 76), a cincia tem passado, tem histria; sem uma idia do que j

    aconteceu, do que j se sabe, perde-se a perspectiva.

    ORIGENS E DESENVOLVIMENTO DA AUDITORIA NO BRASIL E

    LEGISLAO PERTINENTE

    Difcil precisar a data do primeiro trabalho de auditoria no Brasil, mas h

    quase um sculo o balano da So Paulo Tramway Light & Power Co., relativo ao

    perodo compreendido entre junho de 1899 (data de fundao da empresa) e 31 de

    dezembro de 1902, foi certificado pelos auditores canadenses Clarkson & Cross -

    atual Ernst & Young - conforme cpia apresentada a seguir:

    8 I Para que o mtodo de escriturao e frmulas de contabilidade da minha Real Fazenda no

    fique arbitrrio e sujeito maneira de pensar de cada um dos Contadores Gerais, ..., ordeno que a escriturao seja mercantil por partidas dobradas, ... (Coleo Leis do Brasil, vol 1, p. 74). 9 Lei n 4.728, de 14 de junho de 1965.

  • 14

    (KANITZ, 1973)

    Este parecer, referente auditoria dos livros e das contas da filial brasileira de

    uma empresa multinacional, expe uma prtica incomum poca. Segundo Franco

    e Marra (2000, p. 43), quanto ao efetivo exerccio da atividade de Contador como

    profissional liberal, na qual se inclua a funo de auditor independente, pouca coisa existia

    no Brasil antes de 1931, a no ser os escritrios estrangeiros de auditores, todos de origem

    inglesa.

    Embora os autores no enumerem quais eram esses escritrios, segundo

    Mills (1996, p. v), a primeira empresa de auditoria independente a se instalar no

    Brasil foi a Price Waterhouse & Peat Marwick10, em 1915. Este pioneirismo

    contestado pelo departamento de comunicaes da Deloitte Touche Tohmatsu11 que

    assegura que a empresa instalou seu primeiro escritrio no Brasil, na cidade do Rio

    de Janeiro, em 1911, e o segundo, em Recife, em 1917. Anos mais tarde

    ingressariam no pas outras empresas de grande porte como a Arthur Andersen em

    10

    Em 1977, Price e Peat cindiram suas atividades. Em 1987, nasceu a KPMG, reunio das empresas Peat Marwick & Mitchell, a brasileira Robert Dreyfuss e a holandesa Klynveld Main Goerdeler. A respeito desse histrico vide site www.kpmg.com.br. 11

    Acesso pelo site www.deloitte.com.br.

  • 15

    1957, a Arthur & Young, antecessora da atual Ernest Young, em 1959, apenas para

    citar as datas de chegada das chamadas Big 512 ao Brasil.

    A experincia adquirida com as empresas estrangeiras levou alguns

    profissionais egressos delas a fundar as primeiras empresas brasileiras de auditoria.

    Exemplificam tais iniciativas a Robert Dreyfuss, fundada em 1943; Boucinhas e

    Campos, em 1947; a Directa, em 1976; e, mais recentemente, a Trevisan Auditores,

    em 1983. Outras, surgidas ao longo desse perodo, aps alguns anos de atividade,

    foram incorporadas por outras empresas, como a Campiglia Auditores, incorporada

    pela Bianchesi Auditores; ou a Revisora Nacional, incorporada pela Deloitte Touche

    Tohmatsu; Sotec Audit e Edmar Carneiro, incorporadas pela Ernst & Young; e

    Biedermann, pela Pricewaterhouse&Coopers.

    A instalao dessas empresas no pas teve o condo de difundir as prticas

    de auditoria em diversos setores, inclusive na administrao pblica, como

    demonstra um artigo publicado, em 1934, pela Revista Paulista de Contabilidade:

    obra prima contbil brasileira a organizao que deu ao Instituto de

    Previdncia dos Funccionarios Pblicos da Unio a esclarecida

    intelligencia do grande contabilista e administrador patrcio, o sr.

    Aristides Casado. Do schema de sua formidvel organizao contbil,

    destacam-se, ao centro, o contador Geral, commandando um batalho

    de sub-contadores; ao seu lado direito destaca-se a seco actuarial, ...,

    e ao lado esquerdo a seco de auditoria, ... .

    (SANTOS, 1934, p.176)

    Em termos legais, foi somente em 1965 que a Lei n 4.728, conhecida como

    Lei do Mercado de Capitais, viria a se constituir em importante marco na evoluo

    das prticas e da profisso contbil, posto que, pela primeira vez, introduzia em um

    texto legal a figura do Auditor Independente, como segue:

    Lei n 4.728:

    Art. 20. Compete ao Conselho Monetrio Nacional

    expedir normas a serem observadas pelas pessoas jurdicas referidas

    neste artigo, e relativas a:

    b) Organizao do balano e das demonstraes de resultados,

    padro de organizao contbil, relatrios e pareceres de auditores

    independentes registrados no Banco Central. (grifo nosso)

    12

    Denominao genrica reservada s cinco maiores empresas de auditoria independente em todo o mundo. As Big 5 so assim compostas: Andersen, Delloite Touche Tohmatzu, Ernst & Young, KPMG, Pricewaterhous&Coopers.

  • 16

    No mesmo ano, a Resoluo CMN n 7 regulamentaria as atividades da

    classe dos auditores. Posteriormente, outros dispositivos legais voltariam a

    mencionar a figura do auditor. Franco e Marra (op. cit., pp. 44-5)13 relacionaram tais

    dispositivos em ordem cronolgica e, dentre eles, extramos os seguintes:

    I. Conselho Monetrio Nacional Resoluo n 18, de 28-2-66. Estabelece que os Bancos de Investimentos ou Desenvolvimento devem

    manter disposio de sua diretoria servios de AUDITORIA;

    II. Conselho Monetrio Nacional Resoluo n 39, de 20-5-66. Estabelece a AUDITORIA obrigatria para as Bolsas de Valores e determina

    que estas fiscalizem seus associados atravs de AUDITORES;

    III. Decreto-lei n 200, de 25-2-67. Cria os servios de AUDITORIA e o sistema de CONTABILIDADE e AUDITORIA na

    Administrao Federal;

    IV. Banco Nacional de Habitao (BNH) Resoluo n 12/67, de 11-5-67. Torna obrigatria a AUDITORIA para as Associaes de Poupana e

    Emprstimo e estabelece condies para o exerccio profissional dos

    AUDITORES;

    a. Conselho Monetrio Nacional Resoluo n 76, de 22-11-67. Estabelece AUDITORIA obrigatria para as Sociedades Distribuidoras de Ttulos e

    Valores Mobilirios;

    V. Conselho Monetrio Nacional Resoluo n 88, de 30-1-68. Estabelece a necessidade de PARECER DE AUDITOR INDEPENDENTE

    como documento que deve acompanhar o pedido de registro de sociedades

    que pretendam negociar os ttulos por elas emitidos no mercado de capitais;

    VI. Conselho Monetrio Nacional Resoluo n 220, de 10-5-72. Institui AUDITORIA obrigatria para as sociedades annimas registradas no

    Banco Central que tenham suas aes cotadas no mercado de capitais.

    Disciplina o registro dos AUDITORES INDEPENDENTES.

    Ainda em 1972, tomando por base a redao do parecer recomendado pelo

    AICPA American Institute of Certified Public Accountants, elaborado em 1948,

    entraria em vigor o padro de redao para o primeiro parecer de auditoria adotado

    no Brasil por fora da resoluo CFC n 321, de 14 de abril de 1972, que vigorou at 31 de

    maio de 1991 (ERNST & YOUNG, SOTEC, 1996, p. 33).

    O modelo do referido parecer o que se segue:

    13

    Nota do Autor: Franco e Marra creditam ao Banco Central do Brasil as Resolues n 18, 39, 76, 88 e 220. Trata-se de um equvoco j que elas foram editadas pelo Conselho Monetrio Nacional.

  • 17

    PARECER DOS AUDITORES

    Destinatrio Data

    Examinamos o balano patrimonial, anexo, da Empresa X, levantado em ...... e a

    respectiva demonstrao de resultado econmico do exerccio findo naquela data. Nosso

    exame foi efetuado de acordo com as normas de auditoria geralmente aceitas e,

    conseqentemente, incluiu as provas nos registros contbeis e outros procedimentos de

    auditoria que julgamos necessrios nas circunstncias.

    Em nossa opinio, o balano patrimonial e as demonstraes do resultado econmico

    acima referidos representam, adequadamente, a posio patrimonial e financeira da Empresa

    X, em ........, e o resultado de suas operaes correspondentes ao exerccio findo naquela data,

    de acordo com os princpios de contabilidade geralmente aceitos, aplicados com uniformidade

    em relao ao exerccio anterior.

    (Assinatura e n de registro do auditor)

    Informaes adicionais sobre a evoluo do texto do Parecer dos Auditores, o

    significado das alteraes havidas desde ento e anlise das limitaes ao seu

    poder de comunicao, podem ser encontradas em Carvalho (1989).

    Ao final de 1972, foi criado o IAIB Instituto dos Auditores Independentes do

    Brasil. Segundo Toledo Filho (1980, p. 58), o IAIB foi criado em 02.11.72, pela fuso de

    duas entidades: Instituto dos Contadores Pblicos do Brasil e Instituto Brasileiro de Auditores

    Independentes do Rio de Janeiro.

    A formalizao legal das atividades dos auditores independentes,

    regulamentando o Registro de Auditores Independentes e baixando Normas Gerais

    de Auditoria e Princpios e Normas Gerais de Contabilidade veio junto com as

    Circulares 178 e 179, de 11-05-1972, editadas pelo BACEN Banco Central do

    Brasil, que viriam a estabelecer:

  • 18

    Os critrios de escriturao e contabilizao (grifo dos autores) das

    receitas, custos, despesas, bens destinados explorao do objeto

    social, depreciao, mercadorias, matrias-primas, bens destinados

    alienao, direitos e patentes industriais, direitos de utilizao de obra

    de autor, direitos de concesso e marcas de fbrica ou semelhantes,

    aes e os ttulos de renda fixa, crditos a receber e de liquidao

    duvidosa, Fundo de Comrcio, despesas diferidas, investimentos em

    empresas coligadas, subsidirias ou dependentes, direitos e

    responsabilidades contingentes ou eventuais tais como avais, fianas,

    demandas judiciais e contratos onerosos a serem cumpridos e os

    demais direitos, obrigaes e situaes que ainda no faam parte do

    patrimnio, mas que imediata ou remotamente possam vir a afet-lo

    positiva ou negativamente. Tambm foram determinados os critrios

    gerais para a Formao de Reservas e Provises, para classificao do

    Balano Patrimonial e para a apresentao grfica do Balano

    Patrimonial e Demonstrativo de Resultados.

    (ANDREZO E LIMA, 1999, p. 90)

    A reproduo desse extenso texto tem por objetivo trazer memria a

    insipincia dos padres e demonstrativos contbeis vigentes at ento, os quais,

    como conseqncia, faziam com que o exerccio das atividades de auditoria em

    nosso pas estivesse limitado a situaes mais ou menos pontuais. Vale lembrar

    que, naquela poca, somente as Sociedades Annimas de Capital Aberto estavam

    sujeitas obrigatoriamente ao exame dos auditores independentes e que, ao final de

    1971, pouco antes da edio da Resoluo 220, apenas 493 dessas Sociedades estavam

    registradas no Banco Central do Brasil (op. cit. p. 74).

    A partir dessas Resolues e Circulares, a Auditoria Independente

    institucionalizou-se no Brasil. O aumento do nmero de Sociedades Annimas que

    recorreram ao mercado de capitais expandiu as empresas de auditoria at ento

    existentes e fez surgir diversas outras de maior ou menor porte. Desde ento,

    diversos outros atos regulatrios ou diplomas legais foram editados, dos quais

    destacamos os seguintes:

    Banco Nacional de Habitao (BNH) Resoluo n 66/73, de 17-1-

    74. Dispe sobre a AUDITORIA obrigatria para as empresas que

    operem com recursos do Sistema Financeiro de Habitao e

    estabelece padres de procedimentos de contabilidade;

  • 19

    Banco Central do Brasil Resoluo n 323, de 8-5-75. Estabelece

    AUDITORIA obrigatria para as sociedades de investimento;

    Banco Central do Brasil Resoluo n 351, de 17-11-75. Estabelece

    AUDITORIA obrigatria para empresas de leasing ou arrendamento

    mercantil;

    Lei n 6.385, de 7-12-76. Cria a Comisso de Valores Mobilirios

    (CVM) e estabelece que cabe mesma registrar e fiscalizar os

    Auditores Independentes, habilitando-os a AUDITAR as companhias

    abertas e as sociedades integradas do sistema de distribuio e

    intermediao de valores mobilirios. Estabelece, ainda, a

    responsabilidade civil do Auditor Independente;

    Lei 6.404, de 15-12-76. (Lei das Sociedades Annimas). Estabelece a

    obrigatoriedade de Auditoria Independente para as Companhias

    Abertas e para as demonstraes contbeis de grupos de sociedades

    que inclua companhia aberta. Baixa normas contbeis e impe a

    obedincia aos princpios contbeis na escriturao das companhias;

    Resoluo n 607, de 2-4-80. Reitera a obrigatoriedade da auditoria

    independente para as instituies financeiras;

    Resoluo n 1.007, de 2-8-85, do Banco Central do Brasil. Determina

    a obrigatoriedade de auditoria semestral junho e dezembro para as

    demonstraes contbeis de Instituies Financeiras;

    Resoluo n 1.760, de 31-10-90, do Banco Central do Brasil.

    Estabelece que o Auditor Independente dever estar presente

    assemblia dos associados quando da apresentao das

    demonstraes contbeis do exerccio;

    Resoluo n 750, de 31.12.93, do Conselho Federal de

    Contabilidade. D origem edio dos Princpios Fundamentais de

    Contabilidade. Para narrar to importante evento se recorre s

    palavras do Coordenador do Grupo de Trabalho e do Grupo de

  • 20

    Estudos de Normas Brasileiras de Contabilidade, contador Ynel Alves

    de Camargo14:

    Em 20.10.81 (DOU de 26.01.82) era editada a Resoluo CFC n

    530/81, que Aprova Princpios Fundamentais de Contabilidade

    Norma NBC T 1.

    Em 05.02.86 era editada a Deliberao CVM n 29, que aprova o

    pronunciamento do Instituto Brasileiro de Contadores IBRACON,

    denominado Estrutura Conceitual Bsica de Contabilidade.

    Passaram a existir duas posies antagnicas, inconciliveis, isto ,

    duas verdades, o que no tinha o menor sentido.

    A oportunidade para corrigir o erro, retomando o caminho certo,

    abriu-se com a Resoluo CFC n 750, de 31.12.93, editando os

    Princpios Fundamentais de Contabilidade, no mais Norma, mas

    Princpios, revogando-se a Resoluo CFC n 530/81 e com ela a

    NBC T 1.15

    CRCSP (2000, p. 21)

    a. Resoluo n 829, de 17.12.97, do Conselho Federal de Contabilidade. Aprova a NBC T

    11 Normas de Auditoria Independente das Demonstraes Contbeis.

    Boa parte das normas oficiais anteriormente mencionadas foi atualizada

    posteriormente. Indic-las teve por objetivo resgatar-lhes a seqncia cronolgica.

    No obstante a caducidade de diversas delas, ainda segundo Franco e Marra (op.

    cit, pp. 51-2), at o ano de 2000, as seguintes atividades estavam sujeitas

    Auditoria Independente obrigatria:

    1. Bancos Comerciais;

    2. Bancos de Investimento;

    3. Fundos de Investimento em Condomnios;

    4. Sociedades Distribuidoras de Ttulos e Valores Mobilirios;

    5. Todas as demais entidades financeiras sujeitas fiscalizao do Banco Central do Brasil;

    6. Bolsas de Valores;

    7. Companhias Abertas e as que emitirem ttulos negociveis no mercado de capitais, includas suas demonstraes contbeis consolidadas;

    8. Sociedades Seguradoras;

    9. Empresas que operem com recursos do Sistema Financeiro de Habitao;

    10. Entidades de Previdncia Privada (Abertas e Fechadas);

    14

    O grupo especial que concluiu os trabalhos, participando desde sua primeira reunio, era constitudo pelos seguintes contadores: Antonio Carlos Nasi, Eliseu Martins, Luiz Carlos Vaini, Olvio Koliver, Srgio de Iudcibus e Ynael Alves de Camargo. 15

    Na verdade, ambos os conceitos continuam a coexistir j que nenhum deles foi revogado.

  • 21

    11. Empresas de leasing ou arrendamento mercantil;

    12. Administradoras de Consrcio;

    13. Operadoras de Planos de Assistncia Sade.

    a. INCIO E DESENVOLVIMENTO DO ENSINO DA DISCIPLINA

    AUDITORIA NOS CURSOS DE GRADUAO EM CINCIAS CONTBEIS

    Conforme compilao efetuada por Bueno (1964, pp. 135-6), o ensino dos

    conceitos e tcnicas de auditoria nos cursos superiores de cincias contbeis foi

    formalmente introduzido em nosso pas por fora do Decreto-Lei n 7.988, de 22 de

    setembro de 1945, que dispunha sobre o ensino superior de Cincias Econmicas e

    de Cincias Contbeis e Atuariais. O Artigo 3 continha a seguinte redao:

    O curso de cincias contbeis e atuariais ser de quatro anos, e

    ter a seguinte seriao de disciplinas:

    ...

    Quarta srie

    A. Organizao e contabilidade de seguros.

    B. Contabilidade pblica.

    C. Revises e percia contbil. (grifo nosso)

    D. Instituies do direito social.

    E. Legislao tributria e fiscal.

    F. Prtica de processo civil e comercial.

    Originalmente, a disciplina Auditoria denominava-se Revises e Percia

    Contbil, provavelmente em funo do elevado grau de xenofobia da poca,

    conforme pode ser depreendido do texto a seguir:

    A recente reforma do ensino comercial, que elevou ao grau

    universitrio o estudo das cincias contbeis e atuariais introduziu, no

    programa desse curso, uma ctedra de Reviso e Percia Contbil,

    destinada, praticamente ao estudo terico e prtico da Auditoria. Si os

    puristas consideram o uso desse termo um barbarismo indesculpvel, (grifo nosso) por outro lado somos forados ... a

    adaptar nossa lngua as expresses utilizadas por esses

    predecessores.

    (FRANZOLIM, 1946, p. 9)

  • 22

    Quando da instalao da Faculdade de Cincias Econmicas e

    Administrativas da Universidade de So Paulo, em 26 de janeiro de 1946, o curso de

    Contabilidade adotou o citado programa. quela poca o Chefe do Departamento de

    Organizao e Contabilidade e tambm titular de ambas as cadeiras era o ilustre

    Prof. Francisco DAuria, tendo como assistentes Laura Toledo Prado e Antnio

    Peres Rodrigues Filho16.

    O programa da Cadeira VII (2 parte), Revises e Percias Contbeis17,

    ministrado na Universidade de So Paulo, a partir do ano letivo de 1950, era assim

    composto:

    I PARTE PRELIMINAR

    Funes Contbeis

    14. Conceito de Contabilidade e suas Funes. 15. Reviso e Percia. Suas Distines. 16. Especializao Profissional.

    II PARTE FUNDAMENTAL

    a. Teoria 1 FUNO REVISORA

    Conceituao

    16. Autenticao, Certificao, Inspeo. 17. Exame, Crtica, Informao.

    Esquema Funcional

    19. Tcnica Profissional. 20. Finalidades da Reviso.

    Objeto, Mtodo, Efeitos

    1. Organizao de Contabilidade. Formas Expositivas. 2. Elementos Patrimoniais. Contas de Resultado. 3. Esquema de Trabalho. Fase Precatria, Fase Executiva. Concluses. 4. Efeitos Materiais e Morais.

    2 Funo Pericial

    Conceituao

    Exame Pericial. Vistoria. Louvao. Arbitragem.

    16

    Extrado do Anurio da Faculdade de Cincias Econmicas e Administrativas da Universidade de So Paulo, So Paulo, 1949-1950, p. 24. 17

    Idem, pp. 85-6.

  • 23

    Quesitos. Laudos. Relatrios.

    Esquema Funcional

    Tcnica Profissional. Finalidades Periciais.

    Objeto, Mtodo, Efeitos

    Classificao e estudo particularizados dos principais casos de percia. Esquemas de Trabalho. Fase Preparatria. Fase Executiva. Concluses. Efeitos Materiais e Morais, legais e Sociais.

    b. Seminrio

    1. Prtica de Reviso. 2. Prtica de Percia.

    A primeira reestruturao de porte no contedo programtico dos cursos de

    Cincias Contbeis deu-se em 1963, atravs da Resoluo S/N, de 08 de fevereiro

    de 1963, editada pelo presidente do Conselho Federal de Educao. A Resoluo

    tinha por objetivo fixar o currculo mnimo e a durao dos cursos de Cincias

    Atuariais, Cincias Contbeis e Cincias Econmicas. O currculo mnimo para os

    cursos de Cincias Contbeis foi assim definido:

    Ciclo Bsico:

    1. Matemtica.

    2. Estatstica.

    3. Direito.

    4. Economia.

    Ciclo de Formao Profissional:

    b. Contabilidade Geral.

    c. Contabilidade Comercial.

    d. Contabilidade de Custos.

    e. Auditoria e Anlise de Balanos. (grifo nosso)

    f. Administrao.

    g. Direito Tributrio.

  • 24

    Logo aps a edio da Resoluo de 1963, foi emitido o Parecer n 397,

    aprovado pelo Conselho Federal de Educao que, alm de validar o currculo

    mnimo, anteriormente mencionado, trazia em seu bojo uma exposio de motivos a

    respeito das variaes curriculares verificadas nos cursos de Economia e Cincias

    Contbeis:

    Algumas matrias so ensinadas em todas [faculdades], s vezes com

    diferentes nomes. Em certos casos a nomenclatura diversa ter sido

    utilizada com o possvel propsito de nfase a certos ngulos ou

    setores de conhecimento. So tambm numerosas as matrias

    lecionadas em uma ou duas escolas, apenas.

    (BUENO, op. cit., pp. 212-3)

    O conjunto de explanaes sobre a pluralidade curricular servia de pano de

    fundo para fornecer s Faculdades de Economia e Cincias Contbeis maior

    liberdade na elaborao de suas grades curriculares:

    Est visto que o currculo que estamos apresentando no enumera

    todas as matrias que podem ser ensinadas em um curso de formao

    de economistas 18

    . O Conselho Federal de Educao fixa apenas um

    mnimo, que ser o ncleo. s escolas caber integr-lo com as

    matrias que julgamos necessrias, em carter compulsrio ou

    eletivo...

    (BUENO, op. cit., p. 215)

    Apoiado no citado parecer, em 17 de janeiro de 1964, a Universidade de So

    Paulo promoveu a reestruturao didtica do currculo da Faculdade de Cincias

    Econmicas e Administrativas, atravs da Portaria GR n 8. Na exposio de

    motivos para as mudanas propostas, o ento Reitor da Universidade de So Paulo,

    Prof. Luiz Antnio da Gama e Silva, destacava que a reforma permitiu a adaptao da

    atual estrutura dos cursos das Faculdades de Cincias Econmicas s exigncias dos

    currculos mnimos federais... Tornou possvel, ainda, desdobrar os cursos nas seguintes

    especializaes: Cincias Econmicas, Cincias Contbeis, Cincias Atuariais, Administrao

    de Empresas.19

    18

    Embora mencione os cursos de economia, o Parecer extensivo aos cursos de Aturia e Cincias Contbeis. 19

    REESTRUTURAO DIDTICA da Faculdade de Cincias Econmicas e Administrativas, Universidade de So Paulo, Portaria GR n 8 de 17 de janeiro de 1964, p.7.

  • 25

    O Artigo 5 da referida Portaria indicava as disciplinas do Ciclo de Formao

    Profissional do Curso Normal de Graduao em Cincias Contbeis e, dentre as

    diversas alteraes havidas, introduzia a disciplina Auditoria em substituio

    disciplina Revises e Percias Contbeis, tal qual indicado pela Resoluo s/n de

    1963.

    Quase trinta anos depois, o Conselho Federal de Educao, atravs da

    Resoluo n 3, de 5 de outubro de 1992, voltaria a promover nova alterao no

    contedo mnimo e na durao do curso de graduao em Cincias Contbeis,

    conforme texto parcialmente reproduzido a seguir:

    Artigo 4:

    ... cada instituio de ensino superior dever elaborar o currculo pleno de acordo com

    o que especificado nas seguintes categorias de conhecimento:

    - Categoria I Conhecimentos de Formao Geral de natureza humanstica e social:

    - Categoria II Conhecimentos de Formao Profissional, compreendendo:

    a. Conhecimentos obrigatrios de formao profissional bsica;

    1. Conhecimentos obrigatrios de formao profissional especfica:

    Contabilidade Geral

    Teoria da Contabilidade

    Anlise das Demonstraes Contbeis

    Auditoria (grifo nosso)

    Percia Contbil

    Administrao Financeira e Oramento Empresarial

    Contabilidade Pblica

    Contabilidade e Anlise de Custos

    - Categoria III Conhecimentos ou Atividades de Formao Complementar, compreendendo:

    a) ...

    b) Atividades obrigatrias de natureza prtica, a critrio de cada instituio, escolhidas entre as seguintes:

    2 De acordo com o que julgarem mais conveniente para a formao de seus

    alunos, e para o atendimento dos interesses das respectivas regies, as

    instituies de ensino superior podero ofertar uma ou mais disciplinas de

    Contabilidade Aplicada, tais como:

  • 26

    Atividades agrcolas e pecurias

    Atividades de seguro

    Sociedades Cooperativas

    Sociedades de Previdncia Privada

    Instituies de Previdncia Privada

    Atividade imobiliria

    Sociedades em Cotas de Participao

    Outras

    Artigo 5 O curso de graduao em Cincias Contbeis ter uma durao mnima

    de 2.700 horas/aula que sero integralizadas em um mximo de 7 (sete) anos e um

    mnimo de 4 (quatro) anos no caso de curso que seja ministrado no turno diurno e de 5

    (cinco) anos no caso de curso ministrado no turno noturno 20

    .

    Artigo 6 ...

    Pargrafo nico. O presente currculo mnimo dever ser adotado para todos os alunos

    que ingressarem no ensino superior a partir do ano letivo de 1994 (...)

    Em 12 de abril de 1999, a Comisso de Especialistas de Ensino de Cincias

    Contbeis constituda por professores do Departamento de Polticas do Ensino

    Superior, rgo da Secretaria de Educao Superior SESu, ligada ao MEC

    Ministrio da Educao apresentou nova proposta de Diretrizes Curriculares.

    Segundo o item 3.1, CONTEDOS OBRIGATRIOS DE FORMAO BSICA E

    PROFISSIONAL (50% da carga horria total), estes contedos no representam nomes

    de disciplinas, mas reas de conhecimentos:

    3. ...

    4. ...

    a) CONTEDOS DE AUDITORIA

    I.Controles Internos

    II.Princpios, Normas e Procedimentos de Auditoria

    III.Planejamento de Auditoria

    IV.Papis de Trabalho.

    No que se refere aos demais 50%, relativos aos CONTEDOS OPTATIVOS

    PARA NFASE CURRICULAR, o item 3.2 indicou que as IES Instituies de

    Ensino Superior teriam a liberdade de definir livremente o currculo pleno. A este

    respeito, o item 4.3, SUGESTES PARA A CONFIGURAO DE UMA GRADE

    20

    A partir de 1999, o tempo mximo de durao dos cursos noturnos foi fixado em 4 anos.

  • 27

    CURRICULAR, propunha as seguintes disciplinas complementares para a cadeira

    de Auditoria:

    I. Auditoria interna

    II. Arbitragens

    III. Percias contbeis.

    Segundo depoimento informal do Presidente do grupo que elaborou a referida

    proposta, Prof. Dr. Masayuki Nakagawa, obtido em maro de 2001, at aquele

    momento, ela ainda no havia sido adotada pelo Ministrio da Educao.

    As mudanas viriam em 2002 atravs do Parecer CES/CNE N 0146/2002. Os

    aspectos mais substanciais das mudanas propostas dizem respeito liberdade de

    programao curricular atribuda s instituies de ensino e ao balizamento comum

    aos onze cursos abrangidos pelas Diretrizes Gerais que orientam: projeto

    pedaggico, organizao curricular, estgios e atividades complementares,

    acompanhamento e avaliao de monografia. Os onze cursos alcanados pelas

    novas Diretrizes curriculares so: Direito, Cincias Econmicas, Administrao,

    Cincias Contbeis, Turismo, Hotelaria, Secretariado Executivo, Msica, Dana,

    Teatro e Design.

    No que diz respeito especificamente ao Curso de Graduao em Cincias

    Contbeis, o Parecer N 0167/2002 declina: Perfil Desejado, Competncias e

    Habilidades e Contedos Curriculares. Este ltimo subdivide-se em trs itens:

    Contedos de Formao Bsica: mantm as disciplinas da Resoluo N 3

    de 05/10/92 acrescentando apenas Mtodos Quantitativos.

    Contedos de Formao profissional: altera a redao anterior indicando

    estudos especficos atinentes s Teorias da Contabilidade, alm de suas relaes

    com a Aturia, Auditoria, Controladoria e suas aplicaes peculiares ao setor

    pblico e privado.

    Contedos de Formao Terico-Prtica: relaciona diversas alternativas,

    tais como estgio curricular supervisionado, atividades complementares, estudos

    independentes, contedos optativos, prtica de laboratrios de informtica

    utilizando softwares atualizados para contabilidade.

  • 28

    PRIMEIRAS PUBLICAES SOBRE AUDITORIA NO BRASIL

    Segundo Toledo Filho (op. cit., p. 58), data de 1957 e denomina-se Curso de

    Auditoria, o primeiro livro editado no Brasil sobre o assunto. De autoria do Prof. Antnio

    Lopes de S, foi originalmente lanado em dois volumes sendo, tambm, o primeiro

    a utilizar o vocbulo auditoria j que, conforme foi assinalado anteriormente, at

    ento a disciplina era denominada Reviso e Percia Contbil.

    Conquanto seja esse o primeiro trabalho de peso sobre o assunto, o tema no

    era de todo desconhecido como pode ser comprovado atravs de um rpido exame

    dos artigos publicados na Revista Paulista de Contabilidade, conhecida como uma

    das mais antigas publicaes sobre contabilidade no pas21, desde 1922.

    Um dos primeiros artigos a incursionar pelo tema foi publicado em 1928 e

    tinha por ttulo A Contabilidade na Gr Bretanha. A matria, transcrita do anurio

    da Camara de Commercio Britannica de So Paulo & Sul do Brasil, discorria sobre

    a existncia de duas sociedades de contadores naquele pas: Institute of Chartered

    Accountants in England and Wales e a Society of Incorporated Accountants and

    Auditors, explicando as atividades dos profissionais filiados. Desse texto vale

    destacar um trecho com certeza revolucionrio para os nossos padres e cultura

    poca: Os auditores so nomeados pelos accionistas, independentemente da Directoria, e

    compete-lhes examinarem os actos da administrao e apresentarem o parecer diretamente aos

    primeiros (RPC, 1928, p. 273-6).

    Seis anos aps, na mesma revista, Furlanetto (1934, pp. 8-9), fazia meno

    sua rdua e no curta experincia de auditor e destacava, em artigo denominado So

    Necessrios os Auditores?, os benefcios que adviriam aos empresrios da poca

    se tomassem a iniciativa de apresentar aos bancos sem que lhes fosse solicitado,

    annualmente, o seu balano geral acompanhado de minudentes annexos, descriptivos de seu

    patrimnio, direitos, obrigaes e resultados colhidos, cuja exactido fosse conferida e

    attestada por auditores.

    Em 1940, vspera do Decreto-Lei 2627 - segunda norma legal a

    regulamentar as atividades das Sociedades Annimas no Brasil - podia ser

    identificada a inteno de alguns renomados contabilistas de fazer constar do

    21

    Ainda mais antigas so respectivamente: Revista do Grmio dos Guarda-Livros, do ltimo quarto do sculo XIX e a Revista Brasileira de Contabilidade, de 1912.

  • 29

    referido Decreto-Lei a obrigatoriedade do exame das Demonstraes Contbeis por

    contador independente.

    Reinach (1940, pp. 25-8), em artigo denominado A Reviso dos Balanos e o

    Ante-Projto de Lei de Sociedades Annimas, propunha, ao ento Ministro da

    Justia, alterar a redao do art. 128, pargrafo nico, pela redao sugerida pelo

    Instituto Paulista de Contabilidade:

    Redao original:

    Os fiscais podero escolher, para acompanhar no exame dos livros,

    inventrios, balano e contas, um perito-contador, contanto que

    profissional habilitado, cujos honorrios sero fixados pela assemblia

    geral. (grifo nosso)

    Redao formulada pelo Instituto Paulista de Contadores:

    Quando a sociedade no mantiver reviso da sua contabilidade, feita

    por profissionais estranhos ao quadro de pessoal, os fiscais devero

    obrigatoriamente escolher um contador ou organizao de peritos em

    contabilidade, para os acompanhar no exame dos livros, inventrios,

    balanos e contas. (grifo nosso)

    Tal forma de pensar no era isolada. Um dos maiores, se no o maior nome

    da contabilidade brasileira da poca, Herrmann Jr. (1946, p. 46), sobre o assunto,

    assim se manifestou: aconselhvel que na lei das sociedades annimas se inscreva um

    dispositivo tornando compulsria a verificao dos livros por peritos.

    A partir da metade dos anos 40 nota-se uma crescente produo literria

    sobre o assunto. O enfoque dos diversos artigos elaborados na poca22 confere aos

    leitores uma quase catequese em defesa da necessidade dos servios de auditoria,

    embora quase nada houvesse sido publicado a respeito das tcnicas de auditoria.

    No obstante, em 1947, em um artigo denominado Auditoria Independente,

    possvel encontrar uma breve meno de que os mtodos de auditoria estavam em

    fase de transio:

    Os antigos mtodos de auditoria esto hoje suplantados pelos

    processos de test e sampling cujo grau de aplicabilidade funo

    dos mtodos de controle contbil interno encontrado pelo auditor nas

    empresas por ele examinadas. Os mais recentes processos de auditoria

    22

    A este respeito vide (FRANZOLIN, 1946), (CAMPOS, set 1947), (CAMPOS, out 1947), (PFALTZGRAFF, 1948).

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