Augusto Viegas Sao Joao Primordios

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CAPíTULO I A REGIÃO - TOMÉ PORrES DEL-REI - OS PRIMEIROS NÚCLEOS DE POVOAÇÃO - O OURO - DISCÓRDIAS E LUTAS - PAULI,STAS E EMBOABAS - GALHARDA EXPEDIÇÃO - PROGRESSO DO POVOADO - INSTALAÇÃO DA VILA - PRI- MEIRO QUARTEL - PRIMEIRAS IGREJAS - CASA DA CÂMARA - CADEIA A REGIÃO - TOMÉ PORTES DEL-REI - OS PRIMEIROS NúCLEOS DE POVOAÇÃO - Predestinados para uma grande povoação. os sítios em que se assenta S. João deI-Rei e os que os circundam, bem mereceram de insigne observa- dor na mais remota éra de sua história, a desvanecedora referência de ser a região do "Rio das Mortes, lugar muito alegre e capaz de se fazer nele morada estavel, si não fosse tão longe do mar". (1) Realmente, os montes aqui se levantam como em perene anseio para o céu, os vales se rasgam para a abundância das aguas que neles cachoeiram em preciosas quedas ou mansa- mente se espraiam nos amplos vargedos, as matas orlam gra- ciosamente o sopé das eminências e a verde pelúcia dos cam- pos veste as extensas lombadas de terras. O) André João Antonil - "Cultura e Opulência do Brasil por suas Dro- gas e Minas".

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Historia de Sao Joao Del Rey.

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  • CAPTULO I

    A REGIO - TOM PORrES DEL-REI - OS PRIMEIROS

    NCLEOS DE POVOAO - O OURO - DISCRDIAS E LUTAS

    - PAULI,STAS E EMBOABAS - GALHARDA EXPEDIO -

    PROGRESSO DO POVOADO - INSTALAO DA VILA - PRI-

    MEIRO QUARTEL - PRIMEIRAS IGREJAS - CASA DA

    CMARA - CADEIA

    A REGIO - TOM PORTES DEL-REI - OS PRIMEIROSNCLEOS DE POVOAO - Predestinados para umagrande povoao. os stios em que se assenta S. Joo deI-Reie os que os circundam, bem mereceram de insigne observa-dor na mais remota ra de sua histria, a desvanecedorareferncia de ser a regio do "Rio das Mortes, lugar muitoalegre e capaz de se fazer nele morada estavel, si no fosseto longe do mar". (1)

    Realmente, os montes aqui se levantam como em pereneanseio para o cu, os vales se rasgam para a abundncia dasaguas que neles cachoeiram em preciosas quedas ou mansa-mente se espraiam nos amplos vargedos, as matas orlam gra-ciosamente o sop das eminncias e a verde pelcia dos cam-pos veste as extensas lombadas de terras.

    O) Andr Joo Antonil - "Cultura e Opulncia do Brasil por suas Dro-gas e Minas".

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    Nem s pelo aprazivel do local, sobre que se desenrolaestupendo panorama a quanlos, de qualquer parte, o deman-dem, nem ainda pela fertilidade do vale ameno, em que, corrionarra esse. escritor, "os passageiros se refaziam, por che-garem j muito faltos de mantimentos", atravs de longasjornadas, teria este abenoado rinco de conquistar as fidal-gas prerrogativas que lhe assegurassem no futuro os forosde cidade. Altos desgnios j haviam delineado na histriada formao desle pedao da Terra a de sua vida social. Nosureos files das rochas que nele alteiam, nos leitos dos rios enas margens dos regatos que a rolam e serpeiam, como nadisposio de seus terrenos e em sua prpria situao geogr-fica, j houvera traado o Supremo Artfice os lineamentosda urbe e a legenda de seu formoso destino.

    Como a expedio de Ferno Dias Pais, cuja bssola - osonho das esmeraldas, apontando sempre a grimpa das serras,assinalava seu ousado roteiro com o marco milenrio dasmontanhas, asss verossmil, seno certo, que o arrojadosertanista, depois de haver demorado nas f eracssimas terrasda Serra Negra, onde, em 1674, fundou Ibituruna, "o pri-meiro lar da ptria mineira", no dizer de Diogo de Vascon-celos (2), para ganhar em seguida, a Serra da Borda, tivessepassado por este vale e o houvesse feito, orientado pelas cul-minncias que vieram a denominar-se depois Cabur, Le-nheiro e Ponta do Morro, mais tarde, S. Jos del-Rei, e hoje

    (2) Embora os reparos que. a ele ope o eminente Alfonso de E. Taunay,parece que continua a ser o mais provavel roteiro da famosa expedio do Go-vernador das Esmeraldas o que se faz pelo vale do P.araiba e atinge Minaspela garganta do Emba.

    Ibituruna, que dista 12 lguas desta cidade de S. Joo del-Rel, at 1922pertenceu a este muncpo ,

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    Tiradentes, que so as mais destacadas elevaes entre aque..les dois pontos (3).

    Os cascalhos aurferos da bacia do Rio das Mortes, taiscomo os das aluvies do riacho das Congonhas, iguais aosdos ribeiros conhecidos no Carmo, "assoalhavarn o caminhotrilhado pelo bandeirante". Entanto; no ha cabal certezade quando se fixaram neste lugar seus primeiros habitantes.Nenhuma dvida tenho, contudo, de que aqu se estabelece-ram antes dos descobrimentos dos grandes depsitos de ouroda regio do Rio das Mortes.

    Assentado com Tom Portes del-Rei (4), ao findar dosculo XVII, nas margens deste rio, no local a que chamaram"Porto Real da.Passagem", porque a, de um e do outro lado,aportando, o atravessavam pequenas embarcaes, o primi-tivo ncleo do arraial surgiu nesse local, ainda hoje denomi-nado "Podo Real", como reflexo da vida com que o alenta-vam seus passageiros.

    J o taubateano Joo de Siqueira Afonso gozava a hos-pitalidade de Portes del-Rei, a quem, desde 1701, fra con-ferido o direito de cobrana da passagem no Rio das Mortesa, quando aquele o informou da natureza aurfera dos ter-renos dessa paragem (5).

    (5) Baslio de Magalhes - Na "Revist.ado Arquivo Pblico Mineiro", de1933, 1. o vol., fls. 430 e no Almanaque de S. Joo del-Rei, organizado porHorcio Carvalho em 1924.

    (3) "Passada a estao das chuvas, em Marei do ano seguinte (1675), di-rigiram-se os bandeirantes em direitura serra da' Borda e atravessaram a re-gio do campo, entrando na do Paraopeba., onde fundaram Sant'Anna" (Diogode Vasconcelos - "Histria Antiga das Minas Gerais", pg . 35).

    (4) Foi varo ilustre o fundador de S. Joo del-Rei. De seu consrciocom d. Juliana de Oliveira, que lhe sobreviveu vinte e seis anos, deixou dis-tinta famlia em Taubat, sua terra natal.

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    No logrou, contudo, o feliz fundador do auspiciosopovoado lhe testemunhar a prosperidade, pois que faleceulogo, em 1702, cabendo a seu genro e sucessor Antnio Gar-cia da Cunha, a sorte de acompanhar seu desenvolvimento em'lugar prximo, onde est hoje a cidade.

    Pode-se, pois, afirmar que esse embrio de povoado re-sultou, antes da situao decorrente da importncia do cami-nho pelo qual j tinham sido penetrados os sertes do' Caete por onde haviam de transitar quantos, da Terra das ban-deiras, por essa regio, depois atingiam as famosas minas doCarmo, de Ouro Preto e de Sabar, do que da explorao dosureos depsitos que lhe recheiavam o prprio solo.

    Esta, com efeito, s mais tarde aqu se fez. Foi de 1703a 1704, quando o portugus Manoel Joo de Barcelos desco-briu pelos campos das fraldas dos montes ricas manchas deouro e os paulistas Pedro do Rosrio e Loureno da Costa,com grandes vantagens, comearam a faiscar neste local esuas proximidades, que vizinhos e forasteiros, atrados pelasnotcias dos sucessos dessa explorao, afluiram ao stio ondeo 'ambicionado metal, facil e fartamente aparecia na superf-cie da terra. A, ento, nas encostas das serras hoje deno-minadas "Senhor do Monte" e "Mercs", onde, .ainda agora.possantes depsitos aurferos se exploram, formaram essese outros mineradores o arraial de que resultou S. Joo del-Rei (6).

    (6) Entre outros, como se infere do livro de registros de escravos, dapoca, se contam tambem como primeiros povoadores do arraial, ManoeI daSilva Leme, Manoel Bicudo, Fernando Bicudo de Andrade, Joo da 'Cunha Gago,Pe. Gregrio de Souza, Luiz Pinheiro Pays, Antnio Hodrigues de Mranda,Pascoal de Macedo, em 1711 arrematante da passagem do Rio das Mortes,Joo Machado Castanho, Joo Antunes Maciel e Pedro de Morais Raposo, que,segundo consta do L, o de Registros de Ordens Rgias de 1762, fls. 58 v, e 59,construiu o trecho do Caminho Novo desde a Borda do Campo at Paraibuna,

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    Como por toda a parte onde demoravam, os sertanistaslevantavam logo unia capela, radioso marco com que o fer-vor de sua crena, temperando de suave misticismo as aspe-rezas da jornada, concretizava doce realidade e grandes es-peranas, tambem aqu, nessa poca, como informam Millietde Saint-Adolphe e Monsenhor Pizarro, erigiram os paulis-tas a primeira igreja da povoao nascente, no local hojedenominado "Morro da FOl'La", no ponto em que se acha a"Caxad'Agua Velha": (7). ;

    Assim, por sua posio geogrfica, ao influxo do ouro esob a proteo da excelsa Virgem, surgiu, ento, para sua ele-vada misso histrica, o arraial do Rio das Mortes, depois,vila de Nossa Senhora do Pilar de S. Joo del-Rei. '

    OURO, DISCRDIAS E LUTAS - Centro de convergn-cia pelo refulgir das riquezas de seu solo, bem como por sua,privilegiada posio geogrfica, o territrio do Rio das Mortesrapidamente se adensou da aturdida populao que o invadiuna fascinante paixo pelo ouro.

    Com indcscritivel estouvamento, tudo ela devassa em bus-ca do fulvo metal. A terra abre na cascalheira dos extensostaboleiros como nas gupiras das encostas; as rochas fende em. .aprumados talhos a cu aberto e em fundas galerias subter-rneas, do mesmo modo que as areias das correntes revolve

    (7) A determinao exata desse lugar, como sendo o em que existiu aprimeira Igreja, se faz pelo. il:erI)1ode fIs. 20 a 22 do L". 3. de "Registros de Ti-tulas e de Posse" do Senado da Cmara, passado em 23 de Maio de 1752. Deleconsta que, para a fundao da Ordem de S. Francisco de Assis na 'ento vilade S. Joo del-Rei, em 1742, foi requeri da ao Senado da Cmara, que s a de-feriu em 1751, concesso das, terras em que (antes desse despacho) foi ergdoo grandioso templo do Serfico Patriarca, as quais "em uma rea de 165 braasde comprimento por 28,5, de frente", se estendem, como se verifica da demar-cao respectiva, "pelo campo acima, at entestarcom 'a Igreja de' Nossa Se-nhora do Pilar", no alto.

  • -14-fia precipitao da insatisfeita tarefa, como testemunham ina-pagaveis vestgios subsistentes. ,

    Incontida cubia ateia a fogueira da discrdia, que degene-ra em lamentaveis consequncias. ,

    Aqu, entretanto, si no foi a nsia dessa sedutora rique-za a causa determinante do incio do primitivo ncleo do ar-raial do Rio das Mortes, felizmente ela no constituiu tambemabsorvente preocupao das atividades da povoao, paracujo desenvolvimento, todavia, muito concorreu.

    O trabalho sob outras manifestaes lhe entreteve, atravsde todos o~ tempos, o progresso a que fatais intermitncias te-riam sacrificado, si se houvesse entregado exclusivamente vria sorte das minas.

    Entretanto, no havendo perdido o brilho o metal quetanto ofusca, com .alguma diferena em favor da cultura de hoje entre ns, o fenmeno mais ou menos se reproduz e suahistria neste municpio, dessarte, se repete. l

    A ambio ainda a velha bssola, que desordenadamen-te oscila sob a inevitavel influncia do poderoso iman. Feiasdepresses outra vez, desvairadamente se rebuscam; centen-rias cicatrizes impressas no dorso da montanha por onde a ci-dade sobe, de novo se rasgam em extensas f eridas, sangrando

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    a seiva paradoxalmente querida e maldita, que faz a tremen-da agitao entre os homens e entre os povos.

    Confortador contraste, entanto, est ~m que, madrasta, ametrpole, outrora, fintando loucamente por quintos e por ca-bea, arrecadava, para as esbanjar, milhares de arrbas doterrivel metal, ao passo que hoje, liberalssima, a lei vedaqualquer tributao aos que se entregam a to spero traba-lho. Confortador contraste est finalmente em que, naque-le tempo, o vulto forte e varonil de uma raa em formaose acrisolava na rudeza da sorte que a compelia a arrancar s

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    entranhas de sua prpria e am.ada Terra, na quasi nica ocu-pao nela permitida, montanhas de ouro para fartar a mr-bida cupidez de perdulrias Crtes insaciveis, enquanto que,hoje, acumula nas arcas do prprio tesouro a riqueza comque, em ingente esfro, procura a independncia econmicada Ptria.

    PAULISTAS E EMBOABAS - Em 1708, quando mais in-tensa ardia a discrdia entre os paulistas, que pretendiam odomnio das minas e dos lavradios, com dendo e sacrifcio,por eles conquistados e a aventureira multido dos forastei-ros, que, em desenfreiada cupidez, investiam contra esses te-souros; quando avalanches dessas faces, em duros comba-tes, se feriam no extenso campo de seus dissdios, teve esta po-voao que, ento, mal principiava a formar-se, a desdita detestemunhar o tremendo crime que se consumou no local,depois chamado "capo da traio".

    A bandeira branca da paz, que as bravas hostes paulistascomandadas por Gabriel de Gis, no dia 15 de Fevereiro da-quele ano, desfraldaram em frente de Bento do Amaral Cou-tinho, profanou-a o traidor, que, aceitando simuladamentea nobre proposta; chacinou quase trezentos adversrios, de-pois de lhe haverem entregado, confiantes, as armas! Estarre-cida diante to grande brutalidade, deps no tribunal da his-tria esta Terra, que amaldiou o infame, e, at agora, hamais de dois sculos, a povoao, como num perene pregocondenatrio, ainda brada contra tanta hediondez.

    Sacudido mais de perto e diretamente por essa terrivellu-a, o arraial do Rio das Mortes sofreu irreparaveis revsescom o morticnio e com o afastamento em massa, dos paulis-tas, aos quais, sob o pretexto de comisso, foi usurpada a pro-priedade das minas.

    GALHARDAEXPEDIO - No teatro dessa lula, que s

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    terminou em 1710, graas inteligente atuao de AntnioAlbuquerque Coelho de Carvalho no governo da Capitania;nesse ambiente cheio ainda de ressentimentos e de desconfi-anas, nobremente aparece esta, como as demais populaesdas Minas, que, todas, sinceramente se congraam em face doinvasor estrangeiro.

    Com efeito, quando, em 1711, sob os estmulos frios ecalculados de Luiz XIV, a esquadra de Duguay-Troin foravaa encantadora baa do Rio de Janeiro, vingando o justo mal-gro da ousada expedio corsria de Duclerc um ano antes,daqu, como de outros pontos das Minas, para a defesa da be-la cidade e da Ptria" que, radiosa, amanhecia, sob o coman-do desse grande General e Governador, avanara, intrpida-mente, com a preciso e com a rapidez de um exrcito de ho-je, briosa e galharda tropa da valorosa gente da comarca doRio das Mortes, que "assim contribuiu para manter a integri-dade e a unidade do Brasil, asseguradas pela religio e pelalngua" (8).

    PROGRESSO DO POVOADO- INSTALAODA VILA-- Mau grado as graves consequncias daquela luta, a povoa-o vertiginosamente prosperou.

    Ante o rpido progresso que, em virtude de sua magn-fica situao e da abundncia do ouro de seu 'Solo,experimen-tou o arraial, a 8 de Julho de 1713 conquistou ele os foros devila, em que, a 8 de Dezembro do mesmo ano, solenemente oinvestiu Dom Braz Baltazar elaSilveira, Governador de Minase de S. Paulo, que a "apelidou com o nome de S. Joodel-Bei e mandou que com este titulo fosse de todos nomea-da, em memoria do nome de EI-Rei Nosso Senhor, por ser aprimeira villa que nestas Minas, elle Governador levantava".

    (8) Aureliano Pereira Corra PimenteI - "Apontamentos sobre o Muni-cpio de S. Joo deI-Rei" .

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    Assistiram cerimnia nobreza e povo bem como o De-sembargador Gonalo de .Freitas Baracho, que viera para Ou-vidor Geral. No dia' seguinte, constituindo-se a Cmara, seelegeram primeiros juizes Pedro de Morais Raposo e o Sar-gento-Mr Ambrsio Caldeira Brant e bem assim os verea-dores Francisco Pereira da Costa, Silvestre Marcos da Cunha,Pedro da Silva Chaves e Jos Alves de Oliveira, procura-dor (9).

    Desde ento, o Senado da Cmara realizou suas sesses,durante seis anos, em casas particulares de diversos Juizes

    IOrdinrios e principalmente no solar de Ambrsio CaldeiraBrant, lugar em que se encontra hoje o quartel do 11.Regi-mento de Infantaria. Arrematando a casa que pertenceu aAntnio de Oliveira Leto, }quefoi aqu arrecadador dosquintos, para ela transferiu sua sede em 1719, passando apraa em que, ento, situava a denominar-se "Largo da C-mara". Nesse prdio, em cujo terreno se achava ultimamen-te o "Hospital do Rosrio", e em que vai ser construido odas Mercs, esteve a Cmara at 1849, data em que se mudou

    r rpara seu atual edifcio. , ,

    Entre as solenidades necessrias imponncia do ato severificou tambem a do levantamento do pelourinho, smboloda autoridade da vila e aparelho, nesses ominosos tempos,julgado imprescindivel para a manuteno da ordem. Esseemblema de jurisdio municipal, erigido "na chapada domorro que fica do outro lado do crrego, para a parte nascen-te do arraial", segundo reza a ata da instalao da wla, pare-

    (9) "A' Cmara desta Vila,em 17 de Agosto de 1714., fi concedida, emsesmaria, com pio no centro d-ela, a merc de duas lguas de terras em qua-dro, atim de que pudesse fazer aforamentos de que tirasse convenincias parasuas despesas" (,Lo 2.0 de Registros do Senado da Cmara, fls. 57.). A provi-so rgia de 28 de Dezembro de 1754 confirma a concesso da sesmara dessasterras, "no se ac-hando elas ocupadas".

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    ce, assim, poder situar-se no local chamado "Matola", bairroem que .se encontrava a aludida casa de Caldeira Brant e noqual residia Jos Mafol, aqu, ento, de grande destaque e quelhe deu o nome (10).

    Em 1812, em substituio ao primeiro, foi levantado noLargo da Cmara artstico pelourinho condizente com a au-toridade e poder que representava. Obra do escultor sanjoa-nense Alferes Aniceto de Souza Lopes, que, a 25 de Janeirodaquele ano, lhe arrematou a construo por 170$000, consti-.tuia-se ele de trabalhado pedestal, que atualmente serve debase ao chafariz da "Prainha" (Praa Visconde de Ibituruna)e de bem esculpida figura da Justia, em pedra, com balana ecutelo de bronze, que a Prefeitura guarda. Marco de ignom-nia com que a histria de todos os povos assinalou etapas elehorror e de vergonha, sua maerialidade serve para despertare .manter em ns a mais viva condenao s barbaridades querelembra.

    o PRIMEIRO QUARTEL E AS PRIMEIRAS IGREJAS -Ante a doentia obcesso pelo ouro, que a fantstica Colniaexcitara na Crte metropolitana, era perfeitamente explicavelque a representao de 1719, do Senado da Cmara de S. JoodeI-Rei, solicitando auxlio de trs mil oitavas de ouro para aconstruo da cadeia e da Casa da Cmara, tivesse como ver-dadeira resposta a estrepitosa proclamao com que o bandode 30 de Agosto desse ano, nas ruas e nas praas, em altasvozes, recitava os ditos com que Sua. Majestade, ao en-

    (10) Supem alguns que este instrumento de suplcio fra primltlvamentecolocado no "Morr'o da Forca". Argumentam com prpria denominao dolocal, que revela certa afinidade com a desse horrendo aparelho, bem comocom o fato de haver existido a a primeira igreja, o que mostra tratar-sedeponto" ento, principal. Entretanto, este lugar no "fica para a parte do nas-cente" e estava "fora do corpo da]Vila".

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    vs, determinara construir na Igreja Velha "na Vargem destaVila, junto ao Prto dela", os quartis para seus soldados.Realmente, o Senado da Cmara, por ordem do Conde de As-sumar, Governador da CapitaniaL,."faz a todos saber que a 6 deSetembro se ha de rematar os qartis para! as tropas de sol-. ,dados que EI-Rei Nosso Senhor manda para esta comarca, aqual obra se ha de fazer na Vargem desta Vila, nas paredesque se haviam comeado para a Igreja Matriz, no mesmo com-primento e forma da dita Igreja" (11).

    Conquanto no haja cabal certeza de que no arcabouo dainiciada edificao religiosa houvessem os mandatrios doReino feito adaptar as acomodaes para os drages de El-Rei, , contudo, verossmil que a se tivessem executado, de vezque nenhuma informao mais se encontra relativamente aessa obra em outro lugar.

    Demais, a pressa que mostrava D. Pedro de Almeida ePortugal em acomodar a soldadesca que - como dizia em car-ta de 24 de Abril de 1720 ao Senado da Cmara - "em brevesdias marchar para esse quartel ,e se poder alojar por casasdos moradores, enquanto no estiver ele concludo", fls. 67 docitado L" 2., no deixa dvida de que, entre. Setembro de 1719e Abril de 1720, houvesse sido pretendida' .outra construopara alojar a gente com que D. Joo V montava guarda asbocas das minas de ouro da opulenta Colnia.

    Pediam-se-lhe meios conducentes imediata administra-o da justia e mandava sua Alteza o formidvelaparelhoarrecadador constituido da casa da fundio (12) e do quar-

    J / ,

    tel dos drages.

    (11) L" 2.0, de Registros, .ctado, fls. 29 e 57.

    (12) Creadas por lei de 11 de Fevereiro de 1719, as casas da fundio, de-vido intranquilidade em que se encontrava a regio das Minas, motivada pe-las revoltas dos negros no Rio das Mortes, em Ouro Branco e S. Bartolomeu,

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    E' claro, pois, que, em seguida primitiva capelinha eri-gda pelos pau listas no local em que se acha a "Caixa dagua

    I ',

    Velha", houve em construo no Porto uma igreja que nofoi concluida. '

    Mas, ento, a f que tangera de bonanosos ventos asnaus de Cabral e plantara neste quadrante da terra a cruz, quedo Cu, pela mo de Deus, aqui se projetara, j promovia olevantamento de nova matriz, em torno da qual, bem comodos santos princpios, prosperassem a vila e a comarca.

    Em verdade, foi a 12 de Setembro de 1721, que o CnegoGaspar Ribeiro Pereira passou "proviso ao Provedor e maisIrmos do Santssimo Sacramento da Vila de S. Joo del-Rei,para construirem nova Igreja que esteja' dentro do corpo daV ila e no to fora como a antiga e para demolirem a primi-tiva e usarem alguns dos seus materiais eIll ajuda da ditaobra".

    Esta, construindo-se por partes e atravs dos tempos, comacrscimos e modificaes, se transformou na magnfica Ma-triz adiante descrita.

    Assim, a robusta crena daquela gente que j houvera"comeado a levantar na Vargem da Vila, junto ao Porto, se-gunda Igreja para Matriz", no prosseguiu nesta construo,que ficou nas paredes, porque, progredindo a povoao nolugar' em que hoje se acha a cidade, lambem aquele local fi-cara "fora do corpo da vila" .

    Ento, certo como que, a esse tempo, na primitiva igreja- ,a que erigiram os paulistas, ainda se celebravam todas ascerimnias religiosas, como se sabe pelo ofcio de 22 de Maio

    bem como s graves perturbaes da ordem 'em Pitangu e em Vila-Rica, scomearam a funcionar em 1.0 de Fevereiro de 1725 (Histria da Descoberta,lavagem e extrao do ouro na Provncia de Minas Gerais - W. L. Eschweg- Traduo de Rodolfo Jacob, na Coletnea de Cientistas Estrangeir-os -r-r- Pu-blicao do Centenrio de Minas Gerais, VoI. V, fls. 184 e 186).

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    de. 1720, do Senado da Cmara ao Revdmo. dr. Manuel CabralCamelo, Vigrio da Vara, providenciando para as solenidadesoficiais do dia de "Corpus Cbristi" na Matriz, evidente quedaquela - a primitiva, se pSSS0Upara a atual Matriz, sem queessa outra no Porto se tivesse concluido.

    A CASADA CMARA- A CADEIA - Alem daquele ins-trumento de suplcio - o pelourinho, impunha-se "nesta vi-la, cabea decomarca, para r nde vinham os presos de todaela como tambem muitos' de passagem, remetidos da cidade edas vilas de S. Paulo, a construo de uma cadeia".

    Conquanto, em 1719, houvesse o Senado da Cmara soli-citado ao Governo da Capitania auxlio para tal fim, s em1743 o conseguiu, "pagando ele ento a Cristovam de FariaS33 oi'nvas de ouro, correspondentes a dois mil cruzados, pelafatura da cadeia no Largo do Rosrio" (13), justamente emfrente capelinha de Nossa Senhora da Piedade, onde os reclu-sos, dentro das prprias enxovias, assistiam s missas.

    Inaugurado em 1849 o edifcio municipal (hoje Prefei-tura e Forum), cujo andar trreo se destinara a prises, paraestas foram, a 23 de Maro de 1853, transferidos os presi-dirios.

    Este edifcio, que se' levanta em dois pavimentos de li-nhas singelas e de estilo sbrio, , todavia, de imponente as-pecto (14) .

    (13) U 2. de despesas, fls , 127.

    (14) Para a construo deste prdio, comea-do por iniciativa particular,feito pela municipalidade e para a qual muito concorreu o Governo provincial,prestaram grandes servios, entre outros, Francisco Jos Teixeira Leite, Barode Itamh e Batista Caetano de Almeida, que dou para esse fim o respectivoterreno. Foi construido sob o risco de Jesuino Jos Ferreira, que, por essetrabalho, recebeu 4$800. Este artista, que, alis, era tarnbem ferreiro, em 1836.projetou e executou o ibelssimo porto do cemitrio: d~ Carmo.

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    Slido e bem proporcionado, rasgam-se-lhe na frente, deboa alvenaria, ampla portada de pedra, que faz a entrada,as janelas da parte baixa em nmero de quatro e cinco ou-tras que, no alto, quelas correspondem.

    Do estas para elegante varanda com gradil de ferro, quese estende por toda a frente, em cuja fachada relevos de sen-tido colonial se desenham, pelos cunhais, pela platibanda epor sobre as padieiras.

    O espaoso prdio tem no andar trreo oito comparti-mentos, outrora tristes enxovias e hoje alegres salas da biblio-teca municipal e dos auditrios da Justia. No pavimentosuperior se 'dispem, em toda a .frente 'vasto e aristocrticosalo em que funcionam as sesses do juri e na parte poste-rior timas salas-onde se encontram as instalaes da Pre-feitura.

    Em '1925, por isso que em' nosso Estado j se vinha modificando o regimen penitencirio, afim de submeter o delin-quente aum tratamento racional e cientfico, para substituiresse velho presdio, foi nesta cidade construida a pequena ca-deia do "Largo do Carmo", hoje muito melhorada e que sse destina a detentos e a reclusos de penas leves.