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Aula 07 Circuitos lógicos com transistor de passagem Uma estratégia relativamente simples para implementar funções lógicas emprega combinações em série e em paralelo de chaves que são controladas por variáveis lógicas de entrada para conectar nós de entrada a nós de saída, como mostra a figura A.7.1. Figura A.7.1 Portas conceituais empregando lógica por transistor de passagem: a) duas chaves contraoladas por B e C em série e uma variável de entrada A executa a função lógica Y = ABC. b) Quando ligadas em paralelo, a função implementada é Y = A(B+C). Cada uma das chaves pode ser implementada por um transistor NMOS simples (figura A.7.2 a)) ou por um par de transistor MOS complementar conectados em uma configuração de porta de transmissão CMOS (figura A.7.2 b)). O resultado é uma forma simples de circuito lógico que é particularmente interessante para algumas funções lógicas especiais.

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Aula 07 Circuitos lógicos com transistor de passagem Uma estratégia relativamente simples para implementar funções lógicas emprega combinações em série e em paralelo de chaves que são controladas por variáveis lógicas de entrada para conectar nós de entrada a nós de saída, como mostra a figura A.7.1.

Figura A.7.1 Portas conceituais empregando lógica por transistor de passagem: a) duas chaves contraoladas por B e C em série e uma

variável de entrada A executa a função lógica Y = ABC. b) Quando ligadas em paralelo, a função implementada é Y = A(B+C).

Cada uma das chaves pode ser implementada por um transistor NMOS simples (figura A.7.2 a)) ou por um par de transistor MOS complementar conectados em uma configuração de porta de transmissão CMOS (figura A.7.2 b)). O resultado é uma forma simples de circuito lógico que é particularmente interessante para algumas funções lógicas especiais.

Figura A.7.2 Duas formas possível de implementar as chaves: a) Um

simples transistor NMOS e b) Uma porta de transmissão CMOS.

Esse tipo de lógica é conhecido por lógica por transistor de passagem (pass-transistor logic – PTL) pelo fato de empregar transistores MOS em caminhos em série da entrada para saída a fim de transmitir ou bloquear a passagem de um dado sinal. Outro nome alternativo desta lógica é lógica por porta de transmissão. Embora simples, os circuitos lógicos por transistor de passagem têm de ser projetados com atenção. Adiante, estudaremos os princípios básicos de projetos desses circuitos e daremos alguns exemplos de aplicação.

Projeto de PTL Para projetar portas PTL um requisito essencial é necessário assegurar. Devemos garantir que todos os nós do circuito tenham a todo instante um caminho de baixa resistência, seja para VDD, seja para o terra. A figura A.7.3 a) mostra esta situação, onde se B estiver em nível lógico baixo o nó Y estará em alta impedância. A figura A.7.3 b) mostra como isso pode ser contornado, ao custo de adicionarmos mais uma chave comandada pela entrada B barrada.

Figura A.7.3 Um requisito básico em PTL é que qualquer nó deve a qualquer instante ter um caminho de baixa impedância. Tal situação

não existe em a) quando B está em nível baixo. Isto é resolvido em b) por meio da chave extra S2.

Operação do transistor NMOS como chave Como pode ser observado implementar circuito PTL apenas com transistor NMOS resulta em um boa economia de área e, assim, menores capacitâncias. Entretanto existe um preço no desempenho estático e dinâmico do circuito resultante. Considere a figura A.7.4 onde é mostrado o transistor NMOS Q utilizado como chave que conecta um nó de entrada com tensão vI ao um nó de saída. A capacitância total entre o nó de saída e o terra está representada por C. Desejamos analisar a operação do circuito a partir do instante (t=0) em que a tensão de entrada passa de 0 a VDD . Admitimos que inicialmente o capacitor está descarregado e, portanto, a tensão de saída seja zero. O substrato esta ligado ao terra e não mais a fonte.

Figura A.7.4 Operação do transistor NMOS como uma chave na implementação de circuitos PTL.

Quando vI estiver em nível lógico alto, o transistor operará no modo de saturação e fornecerá uma corrente iD para carregar o capacitor, dada por:

( )2

2

1TODDnD

VvVki −−= (A.7.1)

onde kn = k’n(W/L), e VT é determinado pelo efeito de corpo, uma vez que a fonte está em uma tensão vO que passa a ser a tensão de corpo, portanto, ( )

ffOTTvVV φφγ 22

0−++= (A.7.2)

onde VT0 é a tensão de limiar para VSB =0; é um parâmetro físico com (2φf) tipicamente de 0,6 V; e γ é um parâmetro de processo dado por

OX

sA

C

qN εγ

2= (A.7.3)

onde q é carga do elétron (1,6 x 10-19C), NA é a concentração de dopantes do substrato tipo p e εs é a permissividade do silício (11 x ε0 = 11,7 x 8,854 x 10-14 =1,04 x 10-12 F/cm). O parâmetro γ tem dimensões de √V e tipicamente vale 0,4 V1/2. Portanto, inicialmente (em t = 0), VT= VT0 e a corrente iD é relativamente grande. Entretanto, como C vai sendo carregado e vo vai crescendo, VT aumentará e iD diminuirá. Assim o processo de

carregamento será relativamente lento. Um fato mais grave ainda a ser observado na equação (A.7.2) é que iD se reduz a zero quando vO

alcança (VDD-VT). Dessa maneira, a tensão de saída não será igual a VDD; na verdade, ela será menor por uma parcela VT e, no pior caso, o valor de VT pode ser de 1,5 a 2 vezes VT0). O efeito de corpo além de reduzir a margem de ruído, tem outro efeito prejudicial: considere o caso quando o nó de saída esta conectado à entrada de um inversor CMOS complementar (ver figura A.7.3). O baixo valor de VOH pode fazer com o transistor Q4 do inversor de carga conduza e, conseqüentemente dissipando uma potência estática. A figura A.7.5 mostra a operação dinâmica da porta PTL. O atraso na propagação pode ser determinado como o tempo necessário para que vO alcance VDD/2. Este atraso pode ser determinado de forma semelhante ao inversor CMOS complementar e será ilustrado adiante em um exemplo. Na figura A.7.6 mostramos o circuito da chave NMOS quando vI

passa subitamente de VDD para 0 V. Supondo que, inicialmente, vO = VDD. Portanto, em t = 0+ , o transistor conduz e opera na região de saturação, e como agora a fonte e o dreno tem papeis trocado não haverá efeito de corpo e VT permanecerá constante. Como C descarrega, vO diminui e o transistor entra na região triodo em vO = VDD - VT. O capacitor é descarregado inteiramente dentro da região triodo. Portanto o transistor permite ter VOL = 0, ou seja, o transistor transmite bem o zero. O atraso pode ser determinado de forma semelhante ao inversor CMOS complementar e será ilustrado adiante em um exemplo.

Figura A.7.5 Operação do transistor NMOS como chave na

implementação de circuitos PTL circuitos. Esta análise é para o caso em que a chave esta fechada.

Figura A.7.6 Operação da chave NMOS quando a entrada está em nível baixo. Observe que o dreno e a fonte trocam de papeis.

Exemplo A.7.1

Considere o transistor NMOS como chave nos circuitos das figuras A.7.5 e A7.6 a serem fabricados em uma tecnologia com de µnCox = 50 µA/V 2, µpCox = 20, VTn0 = - VTp0 = VT0 = 1,0 V e VDD = 5 V. Considere que o transistor tenha a área mínima para essa tecnologia, ou seja, 4 µm/2 µm, e suponha que a capacitância total entre o nó de saída e o terra seja C = 50 fF.

a. Para o caso em que vI esteja em nível alto (figura A.7.5), obtenha

VOH.

b. Se a saída alimenta um inversor CMOS com (W/L)p = 2,5 (W/L)n

= 10 µm, obtenha a corrente estática do inversor e sua dissipação

de potência quando a sua entrada for o valor encontrado em a).

Também obtenha a tensão de saída do inversor.

c. Obtenha tPLH.

d. Para o caso em que vI subitamente chaveia de VDD para 0 V

(figura A.7.6), obtenha tPHL.

e. Obtenha tP.

Solução:

a. Para obter VOH, considere a figura A.7.7 VOH é o valor de vO em que Q para de conduzir,

TDDOHTOHDDVVVVVV −=⇒=−− 0

Figura A.7.7 Cálculo de VOH

Onde VT é o valor da tensão de limiar para uma polarização reversa do corpo igual a VOH. Utilizando a Equação (A.7.2), ( )

ffOTTvVV φφγ 22

0−++=

( )

ffOHTTVVV φφγ 22

0−++=

( )

ffTDDTTVVVV φφγ 22

0−+−+=

Substituindo VT0 = 1, γ = 0,5, VDD = 5 e 2φf =0,6, obtemos uma equação quadrática em VT cuja solução é VT = 1,6 V Portanto, VOH = 3,4 V

Observação: Uma perda razoável na amplitude e conseqüentemente, na margem de ruído.

b. O inversor de carga terá um sinal de entrada de 3,4 V. Logo, o transistor QP conduzirá uma corrente de

( )2

2

1TODDnDP

VvVki −−=

( ) AiDP

µ1814,352

1020

2

1 2 =−−××=

Note: A saída VOH precisaria ser no mínimo VT para que o Transistor QP não conduzisse. Assim, a dissipação de potência estática do inversor será PD = VDD x iDP = 5,0 V x 18 µA = 90 µµµµW A tensão de saída do inversor pode ser obtida notando-se que QN operará na região triodo. Equacionando de forma que sua corrente seja igual à de QP (18 µA) resulta,

( )

−−== 2

21

OOTInDPDNvvVvkii

Substituindo os valores de kn = k`n(W/L) = 50.(5/2,5) = 100 µA/V2, vI = VOH = 3,4 V e VT = 1,6 V e resolvendo a equação quadrática , resulta em uma tensão de saída (vO) de 0,08 V.

c. Para determinar tPLH, vamos usar o método em que o tempo de descarga até a tensão VDD/2 é aproximado supondo uma corrente média descarregando o capacitor C. Assim, precisamos encontrar a corrente iD em t = 0 (em que vO = 0 V, VT = VT0 = 1 V) e em t = tPHL como segue:

( )2

2

1)0(

TODDnDVvVki −−=

( ) AiD

µ8001052

450

2

1)0( 2 =−−××=

em t = tPHL o VT agora é dado por ( )

ffOTTvVV φφγ 22

0−++=

( ) VV

T49,16,06,05,25,01 =−++=

Portanto

( )[ ]2

2

1)(

TODDnPLHDVvVkti −−=

( )[ ] AtiPLHD

µ5049,15,252

450

2

1)( 2 =−−××=

Podemos agora calcular a corrente de descarga média como

AiAVD

µ4252

50800 =+=

e tPLH pode ser encontrado como

6

15

104255,21050)2/(

×××==

AVD

DD

PLH i

VCt

tPLH = 0,29 ns

d. Para determinação de tPHL considere o circuito da figura A.7.8. observe que, nesse caso, VT permanece constante em VT0. A corrente de dreno em t = 0 será dada por:

Figura A.7.8 Determinação de tPHL

( )2

2

1)0(

TODDnDVvVki −−=

( ) AiD

µ8001052

450

2

1)0( 2 =−−××=

Em t = tPHL, Q estará operando na região de triodo e, portanto,

( ) ( )

−−= 2

21

OOTInPHLDvvVvkti

( ) ( )

−−= 2

21

2 DD

DD

TDDnPHLDV

VVVkti

( ) ( ) ( ) AtiPHLD

µ6905,221

5,21524

50 2 =

−×−×=

Assim, a corrente de descarga média será dada por

AiAVD

µ7402

690800 =+=

e tPHL pode ser determinado por

6

15

107405,21050)2/(

×××==

AVD

DD

PLH i

VCt

tPLH = 0,17 ns

e. A determinação de tp é imediata tP = ½(tPLH+ tPHL) = ½(0,29+0,17) = 0,23ns

O exemplo acima mostra claramente o problema de perda de sinal e seu efeito prejudicial na operação do inversor que serve como carga. Algumas técnicas têm sido desenvolvidas para restaurar o nível da tensão de saída para VDD. Duas dessa técnicas são:

1. Baseada na construção do circuito;

2. Baseada na tecnológica de processamento.

1) Técnica baseada na construção do circuito

A figura A.7.9 a abordagem na forma da construção de circuito. Nesse caso, Q1 é um transistor de passagem controlado pela entrada B. O nó de saída da rede PTL está conectado à entrada de um inversor complementar formado por QN e QP. O transistor PMOS QR cujo terminal de porta é controlado pela tensão de saída do inversor, vO2, foi introduzido no circuito.

Figura A.7.9 O uso do transistor QR, conectado através de uma malha de realimentação em torno do inversor CMOS, para restaurar o nível

VOH, produzido por Q1, para VDD.

Vamos analisar esse circuito. Note que, quando a tensão vO1 estiver em nível lógico baixo (no terra), vO2 estará em nível igual a VDD e QR estará cortado. Entretanto, se vO1 estiver em nível alto, mas abaixo de VDD, a saída do inversor estará em nível baixo e QR estará conduzindo e fornecendo uma corrente para carregar C até VDD. Esse processo cessará quando vO1 = VDD, isto é, quando a tensão de saída estiver restaurada em seu nível adequado. Convém destacar que, apesar de a descrição da operação do circuito da figura A.7.9 ser relativamente direta, a presença do transistor QR acaba fechando uma malha de realimentação positiva a redor do inversor CMOS e, portanto, a operação é muito mais complicada do que parece, especialmente durante os transistórios. A análise detalhada não será feita já que foge ao escopo deste curso.

2) Técnica baseada no processo tecnológico A outra técnica para corrigir ou minimizar a perda no nível alto do sinal de saída da chave (VOH) está baseada em uma solução tecnológica. Lembrando que a perda no valor de VOH é igual a VTn. Portanto podemos reduzir a perda utilizando um valor menor de VTn para a chave NMOS. Podemos inclusive eliminar toda a perda utilizando-se dispositivos com VTn = 0 Esses dispositivos com tensão de limiar nula podem ser fabricado utilizando-se implantação iônica para controlar o valor de VTn e são conhecidos com dispositivos naturais. Exercício: Faça uma simulação utilizando um dispositivos com VTn reduzidos para observar que a perda no nível lógico alto pode ser aceitável.

Utilização da porta de transmissão como chave Um melhora substancial, do desempenho tanto estática como dinâmico é obtido quando utilizamos chaves de transmissão CMOS. A porta de transmissão utiliza um par de transistores conectados em paralelo. Atua como uma excelente chave, com possibilidade de fluxo de corrente bidirecional em toda excursão da alimentação e exibindo uma resistência que é quase constante para uma larga faixa de tensões de entrada. A figura A.7.10 mostra uma chave tipo porta de transmissão no uso de circuitos PTL.

Figura A.7.10 Operação da porta de transmissão como chave em circuitos PTL com a) vI alto e b) vI baixo.

Na próxima aula faremos uma análise de circuitos utilizando chave de transmissão.