Aula 1 - Filosofia e Literatura na Grécia Antiga

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e Literatur a A contribuição da Grécia Antiga

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Filosofia e LiteraturaA contribuição da

Grécia Antiga

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Contexto Histórico Divisão em cidade-estado (pólis); Diversos períodos históricos:

Pré-homérico (sécs. XX aXII a. C.), cujo fim ocorre com a invasão dórica.

Homérico (sécs. XII a VIII a. C.), que leva esse nome por causa das obras do grande poeta Homero, que nos conta, por meio da Ilíada e Odisseia, como foi essa época.

Período arcaico (sécs. VIII a VI a.C.), começa após a segunda diáspora.

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Ilíada e Odisseia A Ilíada e a Odisseia descrevem vários aspectos da cultura e as

diversas formas de relacionamento social dessa época, e mais importante, influenciaram muito as várias gerações gregas que tiveram o guerreiro bom e belo como um ideal de formação a ser alcançado.

Ambas as obras pertencem ao gênero Épico que foi bastante tradicional na antiguidade. Ao lado dele estão o Drama (Tragédia/Comédia) e a Lírica.

São exemplares da tradição oral. Homero viveu por volta do século VIII a.c. e foi um renomado aedo

(poeta que cantava poemas e feitos heroicos na Grécia antiga). Apesar de a própria existência de Homero ser contestada devido à grande inexatidão com que é mencionado durante a história (as vezes como indivíduo, as vezes como várias pessoas), Homero fez uma grande contribuição histórica com a Ilíada e a Odisseia pois ambas são a fonte de vários conhecimentos que temos sobre as tradições e costumes da Grécia antiga após a invasão das tribos Dóricas.

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Ilíada O termo ‘Ilíada’ é um aportuguesamento da expressão grega ílion,

o nome grego para a cidade de Tróia. Ela descreve parte dos acontecimentos que marcaram a Guerra de

Tróia, especialmente cinquenta dias deste combate, no décimo e último ano deste conflito.

Sua linguagem não é a comumente falada entre os gregos antigos, mas sim um amálgama de vários dialetos, entre eles o grego jônico, o eólico e outros, resultando em uma variante artificial do idioma grego daquela época. Futuramente o poema seria organizado em 24 cantos, modelo preservado até nossos dias.

A Ilíada aborda um episódio da Guerra conhecido como a Ira de Aquiles, referindo-se apenas a alguns mitos e acontecimentos ligados à história de Tróia, já incorporados ao conhecimento dos gregos. O leitor, portanto, deve ter algum domínio sobre a Guerra de Tróia para melhor compreender este poema. Ela foi deflagrada pelo sequestro de Helena, consorte de Menelau, rei de Esparta, por Páris, filho do rei troiano, Príamo.

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Os combates são comandados por Agamêmnon, soberano de Micenas, irmão do rei ultrajado. Os gregos avançam contra Tróia e sitiam a cidade, exigindo a devolução de Helena. A Guerra, porém, é apenas o cenário escolhido para retratar um confronto ainda mais doloroso e sério, o que se desenrola na alma humana, aqui representada pelas paixões conturbadas de Aquiles.

O herói grego enfrenta Agamêmnon por causa de uma escrava troiana, a qual integrava o espólio de guerra. Na divisão destes bens, a serva cabe a Aquiles, mas o rei a toma para si. Este episódio provoca a ira de Aquiles, que se recusa a combater. Esta decisão enfraquece o exército grego e os troianos adquirem vantagens. O melhor amigo do herói, Pároclo, decide então seguir no comando de um destacamento, mas é morto por Heitor, o líder dos adversários. Inconformado e dominado pelo furor, Aquiles volta a guerrear, elimina Heitor, e depois, movido pela compaixão, devolve o corpo ao pai do herói troiano para que ele seja sepultado.

O famoso evento conhecido como ‘Cavalo de Tróia’ também é representado na Ilíada, culminando com a destruição da cidade de Príamo. Homero trata de forma brilhante as contradições humanas, as terríveis decisões tomadas em momentos culminantes, a liberdade de escolha, as intervenções dos deuses e os resultados de suas orientações. A verdadeira guerra, aqui, tem como palco a esfera íntima do Homem.

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Odisseia Vem do nome do seu personagem principal, Odisseu – ou, como

ficou conhecido pela tradução latina, Ulisses. Diferentemente do primeiro livro, não narra feitos bélicos nem se

restringe a um local isolado, mas trata de viagens e aventuras desse que foi um dos heróis da guerra de Troia.

Após a guerra, inicia-se a volta de Odisseu e seus companheiros para seu reino, em Ítaca. Odisseu é obrigado a ir à guerra de Troia e deixa para trás sua esposa e seu filho de um mês de idade, Telêmaco. A guerra dura 10 anos e seu regresso mais 17. A esposa Penélope, que acreditava na volta do seu rei e marido, estava sendo pressionada por um grupo de pessoas que queria tomar o poder. Esse grupo dizia que Odisseu estava morto e que ela deveria se casar com um dos “pretendentes” ao cargo de rei.

Com tamanha pressão, Telêmaco sai à procura do pai com alguns companheiros e estes vão para Esparta e outras cidades, em busca de notícias que pudessem ajudar a rastrear os passos de Odisseu. Este, por uma série de peripécias, tem seu regresso muitas vezes retardado.

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Odisseu chega à ilha da ninfa Calypso, onde fica preso por muito tempo em razão dos encantos e promessas que uma região cheia de mulheres promove aos marinheiros;

O aprisionamento do deus Éolo, deus do vento em um saco, que ulteriormente é aberto e lança a nau para lugares ainda mais distantes;

O lugar para onde foi arremessada a nau era a ilha da bruxa Circe, que transformou os marinheiros em porcos;

O aprisionamento dos viajantes pelo ciclope Polifemo e sua estratégia para sair da prisão na caverna;

O tapar dos ouvidos com cera para não serem atraídos pelos cantos das sereias, devoradoras de homens.

Dentre muitas outras peripécias que foram utilizadas para evidenciar a necessidade de expressão da maior das características de Odisseu: a astúcia.

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Enquanto isso, em Ítaca, a rainha Penélope continuava sofrendo forte pressão dos pretendentes, já que Odisseu e seu filho Telêmaco não retornavam. Assim, ela prometeu cozer um tapete: se o rei não retornasse antes do seu acabamento, ela escolheria um pretendente. Mas decerto em razão do convívio com seu marido, o astuto Odisseu, Penélope cosia o tapete durante o dia; e à noite o descosia, para poder ganhar mais tempo, na esperança de que o rei retornasse.

Depois de uma jornada com muitas aventuras e revezes, Odisseu encontra Telêmaco e seu grupo e juntos retornam a Ítaca. Avisado pelo filho sobre os pretendentes, Odisseu encontra a deusa Atena, que lhe diz que se ele retornasse, seria morto pelos pretendentes, que não o reconheceriam. Assim, a deusa o transforma em mendigo, disfarçando-o para que pudesse adentrar ao palácio sem ser visto. Quando deste episódio, a trama de Penélope é descoberta e exige-se que faça a escolha de um pretendente. Ela, novamente astuta, diz que escolherá aquele que conseguir retesar o arco do seu marido – mas ninguém obteve sucesso.

Por fim, chega Odisseu disfarçado e consegue o feito. Ele é logo reconhecido por sua esposa, que o aceita como pretendente, para a revolta dos outros, que promovem uma verdadeira rebelião. Mas, tendo seu arco em mãos, Odisseu consegue reprimir a revolta e retomar o seu lugar de rei depois de longa jornada.

Assim, com o restabelecimento da ordem, desvendamos o significado principal da Odisseia: o ideal de belo e bom guerreiro, antes atribuído a Aquiles, também tem como modelo Odisseu, por sua destreza, astúcia, esperteza, inteligência e habilidade, tanto na guerra quanto no governo, sendo capaz de ordenar. Os mitos homéricos tinham como intenção que esse modelo fosse imitado pelo grego de seu tempo.

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O mito Antes mesmo do advento da Filosofia o homem já possuía a curiosidade de

saber sobre a origem das coisas, e mesmo sem ter a tecnologia de que dispomos hoje, eles tinham a imaginação trabalhando a todo vapor.

Com ela criaram diversas histórias que foram passadas de forma oral por várias gerações. A palavra grega mythos significa contar, narrar, conversar. O mito é uma narrativa fantasiosa que visa dar uma explicação para a origem de determinada coisa, seja ela o homem, o amor, a doença, o mundo, os deuses, etc.

Mas além disso, é também uma forma de justificação da estrutura social da época. Dito de outro jeito, o mito é uma forma de ver não só o mundo natural, como também de entender e aceitar a divisão e funcionamento da sociedade.

Tanto é que os mitos se sustentam apenas na autoridade de quem os conta. O poeta-rapsodo, tem autoridade inquestionável, seja porque recebeu a narrativa de uma tradição oral respeitada, seja porque é considerado alguém escolhido pelos deuses para receber uma revelação e passá-la aos outros. Esses devem receber a informação como verdade inquestionável. Desse modo, os mitos não dão espaço para questionamentos e nem reflexão, perpetuando a forma de ver e entender tanto o mundo natural quanto o social.

Os mitos sobre a origem do mundo são as cosmogonias, já os que narram a origem dos deuses são as teogonias. Admitem incoerências, contradições e são muito limitados deixando vários questionamentos em aberto.

No entanto, sucessivos acontecimentos acabaram derrubando muitas dessas explicações e uma nova forma de ver o mundo (incluindo a sociedade) precisava ser criada.

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O que é um filósofo? É alguém que pratica a filosofia, em outras palavras, que se serve da razão para tentar pensar o mundo e sua própria vida, a fim de se aproximar da sabedoria ou da felicidade. E isso se aprende na escola? Tem de ser aprendido, já que a filosofia é, antes de mais nada, um trabalho. Tanto melhor, se ele começar na escola. O importante é começar, e não parar mais. Nunca é cedo demais nem tarde demais para filosofar, dizia Epicuro [...]. Digamos que só é tarde demais quando já não é possível pensar de modo algum. Pode acontecer. Mias um motivo para filosofar sem mais tardar.

COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário filosófico. São Paulo: Marins Fontes, 2003. p.251-252.

Não se pode pensar em nenhum homem que não seja também filósofo, que não pense, precisamente porque o pensar é próprio do homem como tal.

GRAMSCI, Antonio. Obras escolhidas. São Paulo: Marins Fontes, 1978. p. 45.

Desde que há Estado – da cidade grega às burocracias contemporâneas –, a ideia de verdade sempre se voltou, finalmente, para o lado dos poderes [...]. Por conseguinte, a contribuição específica da filosofia que se coloca a serviço da liberdade, de todas as liberdades, é a de minar, pelas análises que ela opera e pelas ações que desencadeia, as instituições repressivas e simplificadoras: quer se trate da ciência, do ensino, da tradução, da pesquisa, da medicina, da família, da polícia, do fato carcerário, dos sistemas burocráticos, o que importa é fazer aparecer a máscara, deslocá-la, arrancá-la...

CHÂTELET, François. História da filosofia: ideias, doutrinas. V. VIII. Rio de Janeiro: Zahar, s. d. p. 309.

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Os filósofos na Grécia Antiga

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Pré-Socráticos Esses primeiros filósofos se preocuparam em tentar explicar

a physis (natureza/mundo/universo) de uma forma racional (cosmologia), dando uma explicação diferente da dos mitos, que recorriam aos deuses.

Diferentemente da explicação mítica que dizia que o universo havia sido criado do nada, para eles o universo havia sido gerado de um princípio universal. E descobrir essa arché seria a chave para entender todas as coisas.

Eles acreditavam que a physis apesar de estar em constante movimento (devir) possuía um elemento de permanência e que este seria o seu princípio originador, seu fundamento, e explicaria a causa da mudança.

Dentre esses filósofos haviam os que acreditavam que a arché era um único elemento, estes eram os monistas. Mais tardiamente, outros pré-socráticos começaram a defender que eram vários, e ficaram conhecidos como pluralistas.

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Tales de Mileto (640-546 a. C.), que talvez tenha sido o primeiro filósofo, e estava na lista dos sete sábios da Grécia, acreditava que a água era a origem de tudo.

Anaximandro (610-547 a. C.) dizia que o princípio criador não poderia ser conhecido pelos sentidos, mas somente pelo intelecto já que ele é o apeiron (indeterminado).

Anaxímenis (588-524 a. C.) argumentava que o ar seria esse princípio originador de tudo.

Pitágoras de Samos (570-490 a. C.) creditava aos números a origem de tudo, mas desde que entendidos como harmonia e proporção. Ou seja, tudo na natureza é proporcional e harmônico.

Heráclito de Éfeso (535-475 a. C.), um dos filósofos mais importantes desse período, atribuía ao fogo. Autor da famosa frase que caracteriza bem o seu pensamento: “Um homem não pode se banhar duas vezes no mesmo rio, porque na segunda vez o rio e o homem não serão os mesmos.” Para ele, o universo está em constante mudança, tudo flui, tudo está em transformação constante. E isso é assim porque todas as coisas possuem os oposto em constante guerra. O real é a mudança e a permanência é ilusória.

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Empédocles (490-430 a. C.) acreditava que os elementos água, terra, ar e fogo eram os princípios criadores, que formavam as coisas pela união e repulsão, pelo amor e ódio.

Demócrito (460-370 a. C.) era contemporâneo de Sócrates, mas como o objeto de sua investigação ainda era a physis, ele é considerado um pré-socrático.

Segundo ele, o mundo é formado por partículas invisíveis e indivisíveis chamadas átomos, que se chocavam ao acaso no vazio para formar os corpos percebidos pelos nossos sentidos.

Havia agora uma nova visão do mundo, seja ele físico ou social, e em ambos não havia mais o predomínio de uma arché que a tudo governava, mas, a relação entre vários elementos que regidos por leis constituíam o cosmos.

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Parmênides (510-470 a. C.) de Eleia, rompe com os filósofos que o precederam na maneira de pensar o mundo. E por isso não se adequa a classificação de monista ou pluralista. Ele afirmava que o elemento de permanência, de origem, de fundamento, das coisas/mundo (physis) não pode ser encontrado na sua mutabilidade constante. Melhor dizendo, não se pode encontrar o princípio (arché) imutável do universo na sua própria mudança, ainda mais quando a investigação é conduzida pelos sentidos.

Para ele a mudança seria apenas uma ilusão dos sentidos, e o que é essencial nas coisas só pode ser captado pelo pensamento. Por esse motivo, é que haviam tantas opiniões contrárias sobre o Ser das coisas, porque os filósofos estavam trilhando um caminho errado que só os levava à ilusão.A mudança (devir) não existe, é uma ilusão dos sentidos, Heráclito estava errado. “O Ser é e o não ser não é”. O Ser é o Logos (razão), a permanência, é imutável e sem contradições

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Sofistas É nesse contexto de

valorização do humano, da palavra, de se expressar bem e de convencer o público por meio da oratória para se sair bem no cenário político, que surgiram os sofistas, um conjunto de sábios que ensinavam retórica (arte de falar bem e persuadir o público).

Protágoras (480-410 a. C.) foi o primeiro e mais ilustre dos sofistas. Defendia que não havia um conhecimento e uma verdade absolutas sobre as coisas, e que o mundo era relativo ao que os homens percebiam dele. Daí sua famosa frase: “o homem é a medida de todas as coisas”.

O maior crédito que se deve atribuir aos sofistas foi o de ter voltado o debate filosófico da cosmologia, para a área do humano, da pólis, da ética, da política. Pois foi por se contrapor a eles que Sócrates deu início ao conhecimento filosófico herdado pelo ocidente.