Aula 16 ate 30

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Aula 16 - Custeio baseado em Atividades (ABC) Objetivos • Compreender o Custeio Baseado em Atividades. • Entender a metodologia de aplicação do ABC. • Estudar um exemplo de aplicação do Custeio ABC. Introdução Na última aula, aprendemos conceitos relacionados ao Custeio Baseado em Atividades - ABC. Vimos as razões para sua aplicação, vantagens e desvantagens e também um esquema básico de utilização, incluindo as etapas que devem compor o cálculo. Essas etapas são: 1. identificação das atividades e seus respectivos custos; 2. alocação do custo departamental ao custo da atividade; 3. identificação dos direcionadores de custo; 4. divisão do custo da atividade pelo direcionador. Na aula de hoje, usaremos um exemplo para ilustrar a aplicação do ABC. Aplicação do Custeio ABC Vamos inicialmente caracterizar a nossa empresa. É uma indústria de confecção, que produz camisas e calças para ambos os sexos. Utiliza, como insumos diretos, apenas matéria-prima e mão-de-obra, que são consumidos em 2 departamentos produtivos, denominados Departamento de Corte e Departamento de Costura, para a fabricação dos produtos mencionados. Os gastos indiretos são relativos a salários indiretos, nos quais já estão incluídos os encargos sociais e trabalhistas, materiais indiretos como materiais de escritório, materiais de higiene e limpeza, e ainda materiais diretos como aviamentos, mas classificados como indiretos pela dificuldade de alocação direta. Além desses, possui gastos indiretos relativos à depreciação dos equipamentos e das instalações. A empresa já está estruturada em 5 departamentos. Além dos 2 departamentos produtivos, o de Corte e o de Costura, conta também com um Departamento de Compras, um Departamento de Almoxarifado e um Departamento de Planejamento e Controle da Produção - PCP. Os custos diretos de produção, separados por produtos, estão apresentados na TAB. 1. TABELA 1 Custos diretos de produção Tipo de gasto Compras Almoxarifado PCP % camisa % calça

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Aula 16 - Custeio baseado em Atividades (ABC)

Objetivos

• Compreender o Custeio Baseado em Atividades.• Entender a metodologia de aplicação do ABC.• Estudar um exemplo de aplicação do Custeio ABC.

Introdução

Na última aula, aprendemos conceitos relacionados ao Custeio Baseado em Atividades - ABC.

Vimos as razões para sua aplicação, vantagens e desvantagens e também um esquema básico de utilização, incluindo as etapas que devem compor o cálculo. Essas etapas são:

1. identificação das atividades e seus respectivos custos;2. alocação do custo departamental ao custo da atividade;3. identificação dos direcionadores de custo;4. divisão do custo da atividade pelo direcionador.

Na aula de hoje, usaremos um exemplo para ilustrar a aplicação do ABC.

Aplicação do Custeio ABC

Vamos inicialmente caracterizar a nossa empresa. É uma indústria de confecção, que produz camisas e calças para ambos os sexos. Utiliza, como insumos diretos, apenas matéria-prima e mão-de-obra, que são consumidos em 2 departamentos produtivos, denominados Departamento de Corte e Departamento de Costura, para a fabricação dos produtos mencionados.

Os gastos indiretos são relativos a salários indiretos, nos quais já estão incluídos os encargos sociais e trabalhistas, materiais indiretos como materiais de escritório, materiais de higiene e limpeza, e ainda materiais diretos como aviamentos, mas classificados como indiretos pela dificuldade de alocação direta. Além desses, possui gastos indiretos relativos à depreciação dos equipamentos e das instalações.

A empresa já está estruturada em 5 departamentos. Além dos 2 departamentos produtivos, o de Corte e o de Costura, conta também com um Departamento de Compras, um Departamento de Almoxarifado e um Departamento de Planejamento e Controle da Produção - PCP.

Os custos diretos de produção, separados por produtos, estão apresentados na TAB. 1.

TABELA 1

Custos diretos de produção

Tipo de gasto Compras Almoxarifado PCP % camisa % calça

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Materiais diretos 80.000 120.000 200.000 0,4 0,6

Mão de obra direta 60.000 100.000 160.000 0,375 0,625

Total 140.000 220.000 360.000

Observamos que os custos diretos são divididos entre materiais diretos e mão-de obra-direta. Para a fabricação de camisas, são consumidos $80.000 de materiais diretos, o que equivale a 40%, e os restantes 60%, ou $120.000, são direcionados à produção de calças.

Com relação à mão-de-obra direta, a produção de camisas consome $60.000 e a de calças, $100.000, com proporções de 37,5% e 62,5%, respectivamente.

Os custos indiretos de fabricação estão apresentados na TAB. 2.

TABELA 2

Custos indiretos de fabricação

Tipo de gasto Compras Almoxarifado PCP Corte Costura Total

Salários indiretos 30000 20000 20000 80000 100000 250000

Materiais indiretos

30000 20000 30000 50000 70000 200000

Depreciação 10000 25000 15000 40000 60000 150000

Total 70000 65000 65000 170000 230000 600000

Observamos que são 3 custos indiretos, que já foram separados por departamentos, conforme registros da empresa.

Os custos dos departamentos produtivos, Corte e Costura, são responsáveis por aproximadamente 67% dos custos indiretos totais ($400.000/$600.000), restando os outros 33% para os departamentos auxiliares.

O total de custos indiretos supera o total de custos diretos – $600.000 contra $360.000, evidenciando a propriedade do Custeio Baseado em Atividades.

No entanto, a título de ilustração e para posterior comparação, realizaremos primeiro a apropriação de custos indiretos por meio de rateio.

Podemos nos basear em 3 critérios, a princípio: total de custos diretos, total de materiais diretos e total de mão-de-obra direta. Iremos proceder a 2 rateios, com base em materiais diretos e mão-de-obra direta, os quais estão apresentados nas TAB. 3 e 4.

TABELA 3

CIF- materiais diretos

CIF/MD Camisa Calça

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Salários indiretos 100.000,00 150.000,00

Materiais indiretos 80.000,00 120.000,00

Depreciação 60.000,00 90.000,00

Total 240.000,00 360.000,00

O cálculo foi feito da seguinte maneira: A proporção de salários indiretos direcionada à produção de camisas resultou da multiplicação da participação das camisas no consumo de materiais diretos igual a 40%; pelo total dos salários indiretos igual a $250.000, resultando em $100.000. Repetindo os passos para os outros itens, encontramos os valores de $80.000 e $60.000, totalizando $240.000 de custos indiretos aplicados à produção de camisas.

Para as calças, basta multiplicar a participação relativa de 60% pelos mesmos valores, para encontrarmos $150.000, $120.000 e $90.000, somando $360.000. A soma das duas alcança $600.000, valor dos custos indiretos de fabricação.

Quando utilizamos a participação da mão-de-obra direta para ratear custos indiretos, encontramos os valores mostrados na TAB. 4.

TABELA 4

CIF, mão de obra direta

CIF/MD Camisa Calça

Salários indiretos 93.750,00 156.250,00

Materiais indiretos 75.000,00 125.000,00

Depreciação 56.250,00 93.750,00

Total 225.000,00 375.000,00

Nesse caso, as participações relativas são diferentes, de 37,5% para camisas e 62,5% para calças.

Repetindo o raciocínio anterior, encontramos valores de $93.750, $75.000 e $56.250 para serem aplicados na fabricação de camisas, totalizando $225.000. Para a produção de calças, encontramos $156.250, $125.000 e $93.750, alcançando a soma de $375.000.

Por esses dois critérios, já são significativas as diferenças, variando entre $225.000 e $240.000 para camisas e entre $360.000 e $375.000 para calças. Qual deles seria mais realista e mais adequado?

Vamos agora iniciar a aplicação do Custeio ABC ao nosso exemplo. O primeiro passo deve ser identificar as atividades de cada departamento e de seus respectivos direcionadores. O QUADRO 1 ilustra essas informações.

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QUADRO 1

Departamentos, atividades e direcionadores de custo

Departamento Atividade Direcionador

Compras Comprar materiais Nº pedidos

Almoxarifado Entregar materiais Nº requisições

PCP Controle da produção Horas PCP

Corte Corte Horas corte

Costura Costura Horas costura

O Departamento de Compras executa a atividade de comprar materiais, e o seu direcionador de custos é o número de pedidos atendidos. O departamento de almoxarifado tem a entrega de materiais como atividade, e o número de requisições atendidas como direcionador.

O Planejamento e Controle da Produção detém a atividade de controlar a produção e as horas de PCP como direcionadores de custos. O Departamento de Corte executa a atividade de cortar tecidos, e o Departamento de Costura executa a costura como atividade, sendo horas de corte e horas de costura seus direcionadores, respectivamente.

Iremos agora alocar às atividades os custos dos departamentos, o que pode ser feito mediante análise dos apontamentos da empresa (essa etapa já foi realizada). Com base nesses apontamentos, encontramos os resultados mostrados na TAB. 2.

O próximo passo é definir os direcionadores de custos e seus valores. Os direcionadores apresentados e os seus valores, retirados também dos registros da empresa, são apresentados na TAB. 5.

TABELA 5

Direcionadores de custos

Direcionadores Camisa Calça Total % camisa % calça

Nº pedidos 60 90 150 0,40 0,60

Nº requisições 10 40 50 0,20 0,80

Horas PCP 40 60 100 0,40 0,60

Horas corte 150 50 200 0,75 0,25

Horas costura 70 30 100 0,70 0,30

Podemos finalmente aplicar os custos das atividades aos produtos, resultados apresentados na TAB. 6.

TABELA 6

Direcionadores de custos

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Custos por produto Camisa Calça

Comprar materiais 28.000,00 42.000,00

Entregar materiais 13.000,00 52.000,00

Controle produção 26.000,00 39.000,00

Corte 127.500,00 42.500,00

Costura 161.000,00 69.000,00

Total 355.500,00 244.500,00

Observamos que, de um total de 150 pedidos feitos pelo Departamento de Compras, 60 foram para a confecção de camisas e 90 para a de calças, 40% e 60% respectivamente.

Aplicando esses percentuais ao custo da atividade (0,4X$70.000 e 0,6X$70.000), encontramos $28.000 para camisas e $42.000 para calças.

Quanto ao número de requisições, 10 foram para a produção de camisas e 40 para a de calças, respectivamente 20% e 80%.

Fazendo os cálculos, teremos 0,2X$65.000 e 0,8X$65.000, alcançando $13.000 e $52.000, para camisas e calças, respectivamente.

Das horas de PCP, 40 foram distribuídas para a fabricação de camisas e 60 para a de calças, o que corresponde a proporções respectivas de 40% e 60%.

Aplicando os percentuais, encontramos $26.000 (0,4X$65.000) para camisas e $39.000 (0,6X$65.000) para calças.

A confecção de camisas consumiu 75% das horas de corte ou 150 horas, restando 25% para calças, ou 50 horas.

Os cálculos indicam custos de $127.500 para camisas (0,75X$170.000) e $42.500 para calças (0,25X$170.000)

A atividade costura foi dividida entre 70 horas para a produção de camisa e 30 para a de calças, 70% e 30% respectivamente.

Pelos cálculos encontramos $161.000 para camisas (0,7X$230.000) e $69.000 para calças (0,3X$230.000).

Os valores totais indicam que os custos indiretos aplicados à produção de camisas alcançam $355.500 e $244.500 para calças.

Fazendo um quadro comparativo com os outros dois critérios de rateio elaborados, encontramos os dados da TAB. 7.

TABELA 7

Custo total - ABC, rateio por materiais diretos e por mão-de-obra direta

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ItemABC Material direto Mão-de-obra direta

Camisa Calça Camisa Calça Camisa Calça

Custo direto 140.000,00 220.000,00 140.000 220.000 140.000,00 220.000,00

Custo indireto 355.500,00 244.500,00 240.000,00 360.000,00 225.000,00 375.000,00

Custo total 495.500,00 464.500,00 380.000,00 580.000,00 365.000,00 595.000,00

Produção 100.000,00 200.000,00 100.000,00 200.000,00 100.000,00 200.000,00

Custo unitário 4,96 2,32 3,80 2,90 3,65 2,98

Os resultados são bastante divergentes. Nos dois critérios de rateio, os custos indiretos tiveram maior peso na produção de calça, ao passo que no ABC a fabricação de camisas recebeu maior volume de recursos.

Dividindo o custo total pelo número de unidades produzidas (linha de produção), encontramos o custo unitário. Observamos então que o custo de fabricação de uma camisa é mais que o dobro do que o de uma calça, isso pelo método ABC.

Considerando os outros métodos, a produção de camisas é sempre mais dispendiosa, porém a diferença é significativamente reduzida.

Considerando que o Custeio Baseado em Atividades utiliza critérios mais racionais, na medida em que emprega direcionadores relacionados ás atividades desempenhadas, podemos imaginar que os dados deste são bem mais confiáveis que os demais.

Depois de vermos a aplicação do Custeio ABC, podemos encerrar a aula de hoje. No próximo encontro, teremos uma atividade prática de Custeio ABC.

Resumo

Vimos como se aplica o ABC. Primeiramente, identificamos as atividades e seus respectivos custos. Depois identificamos os direcionadores de custos e por fim aplicamos os custos indiretos aos produtos.

Atividade

Como eu já lhe disse, caro aluno, na próxima aula, desenvolveremos um exemplo da aplicação de Custeio ABC. Assim, hoje você está livre de trabalho. Pode descansar um pouco mais para enfrentar bem o desafio da aula que vem.

Também não temos referências, já que trabalhamos com um exemplo prático.

Até breve!

Aula 17 - Custeio Baseado em Atividades (ABC)

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Objetivos

• Rever os conceitos de Custeio Baseado em Atividades• Rever a metodologia de aplicação do ABC• Aplicar o Custeio ABC

Introdução

Hoje iremos desenvolver uma atividade voltada para a aplicação do Custeio ABC. Vamos inicialmente caracterizar a nossa empresa. É uma indústria que fabrica pré-moldados em concreto, especificamente mourões e postes, o primeiro de formato retangular e o segundo em formato tipo T. Utiliza como insumos diretos areia, brita, cimento, ferragem e mão-de-obra, os quais são consumidos em 2 departamentos produtivos, denominados Departamento de Mistura e Departamento de Prensagem.

Os gastos indiretos são relativos a salários indiretos, nos quais já estão incluídos os encargos sociais e trabalhistas, materiais indiretos, como materiais de escritório, materiais de higiene e limpeza, e ainda materiais diretos, como graxas e lubrificantes, energia elétrica, arame para armação, mas classificados como indiretos pela dificuldade de alocação direta. Além desses, há gastos indiretos relativos à depreciação dos equipamentos e das instalações.

A empresa já está estruturada em 5 departamentos. Além dos 2 departamentos produtivos, Mistura e Prensagem, conta também com um Departamento de Compras, um Departamento de Almoxarifado e um Departamento de Planejamento e Controle da Produção - PCP.

Os custos diretos de produção, separados por produtos, estão apresentados na TAB. 1.

TABELA 1

Custos Diretos de Produção

Tipo de gasto Mourão Poste

Materiais diretos 6.000 4.000

Mão de obra direta 5.000 3.000

Total 11.000 7.000

Os custos indiretos de fabricação estão apresentados na TAB. 2.

TABELA 2

Custos indiretos de fabricação

Tipo de gasto Compras Almoxarifado PCP Mistura Prensagem

Salários indiretos 800 1.400 1.400 1.200 1.200

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Materiais indiretos 400 600 1.000 3.000 5.000

Depreciação 200 400 1.000 3.000 4.000

Total 1.400 2.400 3.400 7.200 10.200

Sabendo que a empresa fabrica mensalmente 2.000 mourões e 1.000 postes, calcule o custo unitário por produto, segundo o Custeio ABC e os métodos de rateio baseados na mão-de-obra direta e materiais diretos.

Vou lhe fornecer a resposta, mas você deve fazer todos os cálculos para se certificar de que aprendeu realmente a fazer as projeções de custos. Isso é fundamental para você como futuro profissional competente.

Resposta

Item ABC Material direto Mão-de-obra direta

Mourão Poste Mourão Poste Mourão Poste

Custo direto 11.000,00 7.000,00 11.000,00 7.000,00 11.000,00 7.000,00

Custo indireto 13.430,00 11.170,00 14.760,00 9.840,00 15.375,00 9.225,00

Custo total 24.430,00 18.170,00 25.760,00 16.840,00 26.375,00 16.225,00

Produção 2.000,00 1.000,00 2.000,00 1.000,00 2.000,00 1.000,00

Custo unitário 12,22 18,17 12,88 16,84 13,19 16,23

Aula 18 - Custeio por ordem de produçãoObjetivos

• Conhecer o Custeio por Ordem de Produção.• Discutir a razões que justificam a sua implantação.• Entender a metodologia de aplicação do Custeio por Ordens de Produção

Introdução

Até o momento não fizemos nenhuma consideração específica sobre o sistema de produção. Implicitamente, estávamos considerando que a produção seria contínua e os produtos homogêneos.

Quando falamos de produção contínua, estamos nos referindo a produtos prontos para o consumo, tais como: automóveis, eletro-eletrônicos, alimentos industrializados, entre outros. Em todos eles, há uma linha de produção contínua, cada produto é fabricado com o mesmo número de componentes, respeitando-se as diferenças entre classes de produtos.

Porém, em muitos casos, cada produto tem uma configuração própria, de acordo com

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um pedido específico do cliente.

Caso o produto seja comercializado antes da sua elaboração, encontraremos uma situação de produção sob encomenda. É muito comum em algumas indústrias, tais como: siderúrgica, petroquímica e moveleira. Então precisamos aprender outras formas de calcular custos.

Custeio por Ordem de Produção

Para ilustrar nosso estudo, imagine a fabricação de uma mesa de jantar. O comprador, que pode ser o futuro proprietário do móvel ou um decorador, apresenta a configuração do produto que deseja, por exemplo, fornecendo um desenho, e especifica algumas características como o tipo de madeira, o design, o acabamento, entre outros.

O fabricante irá orçar o produto e, caso a negociação se concretize, a produção por encomenda terá início.

Na prestação de serviços, podemos encontrar mais exemplos ainda, aliás, a maioria dos serviços tem uma característica peculiar. Uma intervenção cirúrgica, um tratamento ortodôntico, uma consultoria tributária ou gerencial, todas elas têm características próprias, que diferenciam uma prestação de serviço de outra.

Para esses casos, a apuração do custo de produção se dará de forma individualizada, por meio de ordem de produção (OP), ou ordem de serviço (OS).

Pense na ocasião em que você leva um carro a uma oficina mecânica. Você relata o problema ao consultor; este encaminha o veículo ao mecânico, que realiza o diagnóstico.

Assim que o diagnóstico se encerra, um orçamento é preparado e, caso você o aceite, a oficina abrirá uma ordem de serviço, na qual serão anotados todos os itens substituídos, além do tempo em que os mecânicos estiverem ocupados com a reparação do seu carro.

Como a negociação ocorre antes da produção, devemos nos preocupar inicialmente em preparar o orçamento do produto a ser comercializado.

Etapas da Produção por Ordem

Conforme sugerido por Megliorini (2002), algumas etapas devem ser cumpridas para essa finalidade:

• 1ª etapa - refere-se ao desenho ou projeto. Se o cliente não o fornecer, o próprio fabricante providenciará um.

• 2ª etapa - lista de materiais - baseado no projeto e especificações indicadas pelo cliente, devemos fazer um levantamento dos materiais necessários, bem como de seus custos. (observar a necessidade de compra ou de produção dos materiais).

• 3ª etapa - a partir do projeto, das especificações e dos materiais necessários, devemos estimar as horas de fabricação em cada departamento.

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• 4ª etapa - devemos adicionar aos custos gastos relativos a embalagem, frete, seguro e outros itens pós-fabricação.

A FIG. 1 ilustra um orçamento de custos.

Orçamento de custos NúmeroCliente CódigoProduto Desenho

MateriaisCódigo Descrição Quantidade P. liquido P. bruto Custo unit. Custo mat.

Custo total dos materiais

Serviços executados externamenteDescrição do serviço Fornecedor Custo

Custo total dos serviços externos

Fabricação (mão-de-obra direta e CIF)Departamento Horas orçadas Custo/hora Custo

Custo total fabricaçãoEngenhariaAtividades Horas orçadas Custo/hora Custo Custo total engenharia

Demais custosDescrição Custo Custo total orçado Despesas de vendas Preço de venda ICMS Alíquota IPI Alíquota

FIGURA 1 - Orçamento de custosFonte: MEGLIORINI, 2002, p. 100.

Firmado o contrato, para cada produto a ser elaborado devemos abrir uma OP ou OS. Trata-se de um documento que autoriza a fabricação, e nele devem ser registrados mensalmente todos os gastos realizados para a fabricação do produto ou prestação do serviço.

A FIG. 2 representa uma ordem de produção.

Usina Siderúrgica ABC

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Ordem de produção NºData de abertura Data de entrega Descrição Cliente

Material direto consumidoData Descrição Referência Quantidade Valor

Mão de obra direta

Data Descrição Referência Quantidade Valor

Custos indiretos aplicadosData Descrição Referência Quantidade Valor

Custo total da ordem

FIGURA 2 - Ordem de produçãoFonte: BRUNI e FAMÁ, 2002, p. 148.

Com o recurso de uma ordem de produção, devemos anotar os gastos referentes a cada item consumido na produção.

Para os materiais diretos, a aplicação é razoavelmente simples, pois basta levantar os valores constantes das requisições emitidas pela Produção. Nessas requisições devem constar os dados necessários ao preenchimento da OP, como número, cliente e materiais requisitados.

Para a aplicação da mão-de-obra, devemos recorrer à folha de apontamentos. Com base nesses registros, podemos identificar o tempo despendido naquela OP e assim calcular quanto da mão–de-obra deve ser aplicado ao produto. Para tanto, basta multiplicar o número de horas pela taxa horária do custo de mão–de-obra.

Com relação aos custos indiretos de fabricação, a apropriação não é tão simples como nos 2 itens anteriores. Por se tratar de materiais indiretos, mão-de-obra indireta e demais gastos, algum critério de rateio deverá ser utilizado.

Pode ser usado o rateio com base nos custos diretos, mas, nesse caso, é bastante comum levantar os custos por departamentos, separando os produtivos dos auxiliares. Depois os custos serão apropriados aos departamentos produtivos para depois serem aplicados aos produtos, conforme metodologia já apresentada.

Para ilustrar, consideremos a fabricação de um Buffet em mogno, conforme pedido feito pelo cliente Fulano de Tal e sua digníssima esposa, Cicrana de Tal.

O proprietário da indústria Móveis Conforto Total levantou os preços dos materiais diretos, conforme descrito abaixo:

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Tábua de mogno (5mX0,4): $60/ml;Puxadores Veneza: $20 un.

O salário do marceneiro, incluindo encargos sociais e trabalhista é de $1.600,00 mensais. Como ele trabalha 160 hora /mês, o custo da hora de mão–de-obra direta é de $10,00.

Os custos indiretos são listados abaixo:

Materiais indiretos (lixa, verniz, cola): $1.500Mão-de-obra indireta: $1.500Depreciação: $1.000Total $4.000

De posse desses valores, pode-se abrir a OP, conforme ilustrado abaixo, na FIG. 3.

Móveis Conforto TotalOrdem de produção Nº 3.167Data de abertura 05/01/2009Data de entrega 23/01/2009Descrição Buffet em mogno maciço, 2X0,9X0,6, com 3 portas, duas

com uma prateleira e uma com 3 gavetas, puxadores Veneza.

Cliente Fulano de TalMaterial direto consumido

Data Descrição Referência Quantidade Valor23/01 Tábua mogno NF 136.235 06 36023/01 Puxador NF 25.632 03 60

Mão de obra diretaData Descrição Referência Quantidade Valor23/01 Mão de obra Apt. 228 120 1.200

Custos indiretos aplicadosData Descrição Referência Quantidade Valor23/01 CIF Doc. 52.341 120h 600

Custo total da ordem 2.220

FIGURA 3 – Orçamento de fabricação.Fonte: elaborada pelo autor.

Calcular os materiais diretos é bem simples. Basta multiplicar quantidade necessária pelo custo de aquisição: para a madeira, seriam 6 tábuas vezes $60, igual a $360; para os puxadores, 3 vezes $20, resultando em $60.

O cálculo da mão-de-obra direta também não é complexo. A hora trabalhada do marceneiro custa $10. Como ele vai dedicar 120 horas à fabricação do móvel, resulta

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em $1.200.

O rateio dos custos indiretos de fabricação pode ser feito com base em diversos critérios. Já que a empresa não possui departamentalização, devemos ratear com base em custos diretos.

Escolhemos o rateio baseado na mão-de-obra direta, porque esta representa o maior peso nos custos diretos.

Os valores para rateio são assim encontrados: como a empresa possui 5 marceneiros, estima-se um total de horas trabalhadas mensais de 800. Os custos indiretos devem ser então divididos por esse total, ou seja, $4.000/800, o que resulta em $5.

Portanto, a cada hora trabalhada por um marceneiro, devemos acrescentar $5 de CIF. No exemplo, os custos indiretos de fabricação serão de 5X120, o que resulta em $600.

O custo total de fabricação do móvel será de $2.220 ($420 + $1.200 + $600). Esse valor deverá ser levado aos registros contábeis da empresa.

Por hoje é só, vamos ficando por aqui. No próximo encontro, vamos falar do Custo-Padrão. Aguardo você, com muita disposição!

Resumo

Como algumas vezes as empresas realizam as vendas para depois fabricarem os produtos, é necessária outra metodologia para apropriação de custos. Essa necessidade deriva-se da especificidade de cada item fabricado sob encomenda.

Por atender a um pedido único, a apropriação dos custos diretos, especificamente aqueles relativos a materiais diretos e mão-de-obra direta, deve ser feita levando-se em consideração os itens efetivamente consumidos.

Essa apropriação é simples e direta, mas, para os custos indiretos de fabricação, algum critério de rateio será necessário. Os métodos tradicionais, como rateio baseado em custos diretos ou departamentalização, atendem bem a esse propósito.

Atividades

Imagine a fabricação de um móvel sob encomenda e monte a ordem de produção.

Repita o passo anterior, agora para a prestação de um serviço, como a pintura de uma residência ou restauração de um objeto de decoração antigo.

Aula 19 - Custo-PadrãoObjetivos

• Conhecer o Custeio Padrão.• Discutir a razões que justificam a sua implantação.

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• Compreender os critérios para definição dos padrões.• Conhecer a metodologia de aplicação do custo-padrão.

Introdução

Com a presente aula, daremos início à terceira parte do programa de nossa disciplina, relacionada ao gerenciamento baseado em análise de custos.

A apuração de custos, além de atender a exigências legais, também é muito utilizada para fins decisoriais, servindo a diversos objetivos das empresas.

Pode ser usada para se estabelecerem as políticas de preço, para a tomada de decisão sobre linhas de produtos, para a avaliação dos processos de produção, identificação de atividades relevantes, ou até mesmo para definição de padrões de custo ou desempenho a serem alcançados.

O Custo-Padrão

Neste último insere-se a apuração de custo padrão. De acordo com Dubois, Kulpa e Souza (2008, p. 143), “o custo-padrão tem como propósito prefixar um custo ‘meta’ e controlar os custos a priori, isto é, antes que sejam incorridos em produção”.

Nesse sentido, o custo-padrão não constitui uma nova metodologia para apuração de custos, mas sim uma técnica que vem a completar os outros métodos já analisados.

Ele deve ser usado como meta a ser alcançada e, portanto, constitui na verdade um poderoso subsídio à elaboração do orçamento. Depois de realizada a produção, o custo efetivo será comparado ao custo-padrão, e os possíveis desvios passarão por análise, para identificação de suas causas e consequências.

A definição de custo-padrão, entretanto, está sujeita, a princípio, a 2 tipos de classificação: ideal e corrente.

Conforme Martins (1998), por custo-padrão ideal devemos entender aquele estabelecido com base em padrões ótimos de utilização de fatores de produção. Portanto o custo-padrão ideal é firmado com base em uma estimativa de utilização dos melhores equipamentos possíveis, mão-de-obra e matéria-prima de primeira qualidade, sem qualquer tipo de ocorrência estranha que venha a paralisar ou interromper o processo produtivo.

Trata-se de um custo estabelecido em condições de laboratório, que na verdade distancia-se muito da realidade das linhas de produção.

Por outro lado, temos também o custo-padrão corrente, que se refere ao custo estabelecido com base nas reais condições de produção encontradas pela empresa, isto é, leva em consideração todas as possíveis falhas humanas, paralisações de maquinário e perdas de materiais comuns em qualquer linha de produção.

Em termos comparativos, enquanto o primeiro seria o custo estabelecido sem nenhuma ocorrência desfavorável, como um experimento de laboratório, o segundo leva em

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consideração todas as ineficiências passíveis de verificação pela empresa, exceto aquelas que podem ser facilmente eliminadas.

As situações nas quais se aplica o custo-padrão são aquelas em que há produção contínua de lotes ou produtos iguais ou no mínimo semelhantes. Em se tratando de produção por encomenda, ou por ordem, o custo-padrão obviamente não se aplica, devido às especificidades de cada item produzido.

Objetivos do custo-padrão

A implantação do custo-padrão deve servir a algum propósito maior e não pode simplesmente ter um fim em si mesmo. É necessário dotá-lo de algum sentido prático, senão torna-se um investimento inútil.

Podemos destacar alguns objetivos para a implantação do custo-padrão:

1. fixar uma base de comparação entre o ocorrido e o que deveria ter ocorrido;

2. fornecer informações para negociação de preços, em casos de entrega futura, especialmente;

3. fornecer bases para acompanhamento de níveis de estoques;

4. fornecer bases para monitorar operações, avaliar desempenho, identificar gargalos e pontos de ineficiência;

5. difundir hábitos relacionados ao registro e controle de gastos de insumos, tanto em termos físicos quanto em termos monetários;

6. criar instrumento de motivação para a equipe.

Com relação ao último objetivo, 2 pontos merecem especial atenção. Caso o padrão seja estabelecido em níveis demasiadamente elevados, como o custo ideal, podemos observar um efeito contrário, na medida em que metas praticamente impossíveis de serem alcançadas levam à desmotivação e a um certo descaso, já que se sabe de antemão que nunca serão alcançadas.

Por outro lado, caso as metas sejam estabelecidas em níveis razoáveis, baseadas no custo-padrão corrente, acrescido de algumas melhorias, torna-se um desafio, um componente motivacional que tende a potencializar o desempenho operacional.

Determinação dos padrões

A princípio, a determinação de padrões envolve 2 tipos de mensuração, uma de padrões físicos e outra de padrões monetários.

Os padrões físicos serão relacionados ao consumo de materiais diretos e indiretos, mão-de-obra direta, consumo de energia, consumo de água, entre outros. As unidades de medida serão definidas de acordo com o item em questão, podendo ser: unidades de materiais, quilogramas, litros, metros lineares, m2, m3, horas-homem, horas-máquina,

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kW/h, número de movimentos, etc. Esses indicadores serão de responsabilidade dos departamentos operacionais, como: produção, PCP, desenvolvimento de produtos, CQT, etc.

Os padrões monetários correspondem aos custos monetários dos recursos necessários. A responsabilidade de sua apuração recai sobre os departamentos administrativos, como: controladoria, compras, pessoal, etc.

Sendo assim, no caso de materiais, devemos definir a quantidade de matéria-prima necessária à fabricação de uma unidade do produto e avaliar o seu custo, ou seja, iremos realizar a seguinte aferição, por exemplo: para a fabricação de uma unidade do produto A são necessários 5 m da matéria-prima Y, com custo de $10/m, totalizando $50.

Para o caso de mão-de-obra, o mesmo raciocínio deve ser aplicado. Por exemplo, para a fabricação de uma unidade do produto A são necessárias 2 horas do funcionário Y, com custo de $6/m, totalizando $12.

A FIG.1 ilustra as responsabilidades funcionais para o cálculo do custo-padrão.

FIGURA 1 - Responsabilidade funcional pelo cálculo do custo-padrãoFonte: BRUNI e FAMÁ, 2002, p. 164.

No caso dos custos indiretos de fabricação, devemos lembrar que eles são assumidos para dotar a empresa de capacidade produtiva em sua maior parte, e somente uma

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pequena parcela é aplicada aos produtos. Sendo assim, a parcela fixa, que é preponderante na maioria dos casos, deve ser estabelecida com base em níveis usuais de utilização da capacidade, por exemplo, horas-máquina.

Para a fixação de padrões, o esforço da área técnica deve ser conjugado com o esforço da área administrativa no sentido de definir os valores iniciais, para o que um banco de dados assume importância relevada.

Após a determinação dos valores iniciais, ajustes devem ser feitos até que se consigam resultados satisfatórios, os quais precisam também ser revistos periodicamente, como forma de adaptação às mudanças tecnológicas e à própria dinâmica operacional.

Análise das variações

Sendo o custo-padrão útil primordialmente para a realização de controle, devemos sempre comparar o custo realizado com o custo estimado (custo-padrão).

Para tanto, devemos medir as possíveis variações, que podem ocorrer tanto em termos de materiais e mão-de-obra quanto em termos monetários, sendo também comum a conjugação de ambas.

Essas variações serão classificadas como favoráveis quando houver uma redução, ou desfavoráveis quando ocorrer uma elevação.

Por exemplo, caso tenhamos estimado um gasto de 1.000 unidades de uma matéria-prima, ao custo unitário de $5, prevíamos incorrer em custo total de $5.000. Caso tenhamos efetivamente consumido 1.050 unidades da matéria-prima e o custo tenha atingido $5,10, alcançaríamos um custo total de $5.355, com variação desfavorável de $355.

A FIG. 2 ilustra o caso de variações desfavoráveis.

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FIGURA 2 - Variações no custo-padrãoFonte: BRUNI e FAMÁ, 2002, p. 165.

A variação na quantidade pode ser decorrência de diversos fatores, entre os quais pode-se incluir a própria qualidade da matéria-prima, além de aspectos relacionados ao processo de produção.

Esse tipo de variação deve ser tido como normal, pois sua ocorrência pode se repetir e o mais importante é estabelecer limites de variação, dentro dos quais toda oscilação seria aceitável.

Para o caso de variação monetária, o controle é ainda mais difícil, pois está sujeita a condições externas à empresa, notadamente flutuações de mercado. Caso haja qualquer problema de abastecimento, flutuações de preço deverão ocorrer.

Por outro lado, a aquisição de grandes lotes tende a reduzir o custo da matéria-prima e também os custos de transporte, apesar de essa atitude poder também elevar os custos financeiros devido ao investimento em capital de giro e aos custos de estocagem.

Portanto, uma análise criteriosa das variações deve ser feita. Não se pode simplesmente culpar os responsáveis pelas respectivas áreas; mais importante é avaliar quais fatores causaram as variações.

Esse é um dos propósitos do custo-padrão. Simplesmente estabelecer metas não acarreta todos os benefícios possíveis. Muito mais do que isso, avaliar os desvios, analisar suas causas e conseqüências e identificar as medidas corretivas é que representam os reais benefícios do custo-padrão.

Vamos ficando por aqui. Vamos aprender a partir da próxima aula o Custeio Variável. Aguardo você.

Resumo

Em termos gerenciais, é muito importante comparar os custos com alguns padrões que seriam razoáveis para cada atividade.

Na aula de hoje estudamos o custo-padrão. Vimos que não se trata de uma nova metodologia para apuração de custos, mas sim, de uma técnica auxiliar, que estabelece uma meta a ser perseguida.

A definição dos padrões deve seguir critérios racionais, porque de nada adianta estabelecer metas impossíveis de se alcançar. As áreas técnicas ficam responsáveis pela determinação dos padrões em unidades físicas, e as áreas administrativas se responsabilizam pelos padrões monetários.

Vimos ainda que os padrões nem sempre são alcançados e é muito importante analisar os desvios, suas causas e consequências, como forma de implementar melhorias e corrigir distorções.

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Atividades

1. Explique a diferença entre custo-padrão ideal e custo-padrão corrente.

2. Dê exemplos de aplicações do custo-padrão.

3. Como devem ser definidos os padrões e a quem cabe essa atividade?

4. Explique a importância da análise das variações.

Aula 20 - Custeio Variável Objetivos

• Conhecer o Custeio Variável.• Discutir a razões que justificam a sua implantação.• Compreender a metodologia de aplicação do custeio variável.

Introdução

Até agora, aprendemos alguns métodos de custeio, os quais constituem uma categoria mais ampla denominada custeio por absorção. Em todos eles, os custos indiretos de fabricação eram apropriados aos produtos por meio de um critério de rateio previamente definido. Ou seja, quando se fala em custeio por absorção, está se falando na atribuição de todos os custos, diretos e indiretos, fixos e variáveis, aos produtos elaborados.

Custeio por absorção

Este sistema apresenta três problemas principais, conforme Martins (1998):

• Os custos fixos existem independentemente da fabricação ou não de algum produto. Portanto podem ser considerados como encargos para que a empresa tenha condições de produzir, ao invés de sacrifício para a fabricação de um item específico.

• Como não estão relacionados a um produto ou unidade especificamente, são distribuídos com base em algum tipo de rateio, que contém um grau maior ou menor de arbitrariedade. A apropriação é feita com base em algum fator, que na verdade não vincula o custo ao produto. Ao mudarmos o critério de rateio, podemos fazer um produto rentável tornar-se deficitário, ou vice-versa, o que nos leva a concluir que há uma debilidade no método, em termos gerenciais.

• O custo fixo unitário depende do volume de produção. Caso as decisões sejam tomadas com base no custo, o volume atual de produção deve ser considerado, tendo em vista que pode diferir do volume tomado como base. Ademais, ao se alterar o volume de fabricação de um produto, os outros terão seus custos alterados, ainda que não tenham sofrido nenhuma modificação.

Diante dessas considerações, temos que avaliar a problemática que os métodos de custeio por absorção podem acarretar em relação à apropriação de custos fixos.

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O exemplo apresentado na TAB. 1 ilustra a situação.

Tabela 1

Custo total e custo unitário

Níveis de produçãoCusto total Custo unitário

Fixo Variável Total Fixo Variável Total

500 un 30.000 5.000 35.000 60 10 70

1.000 un 30.000 10.000 40.000 30 10 40

1.500 un 30.000 15.000 45.000 20 10 30

Fonte: adaptado de MEGLIORINI, 2002, p. 133.

Supondo um custo fixo total de $30.000 e um custo unitário variável de $10, teríamos 3 custos totais unitários: $70, $40 e $30, de acordo com a quantidade produzida. Portanto a existência do custo fixo requer que seja definido a priori o volume de produção, para que as decisões gerenciais possam ser tomadas.

Caso o volume de produção efetivo seja diferente do volume previsto, equívocos podem ser cometidos. Por exemplo, ao prever vendas de 1.000 unidades, o preço pode ser fixado com base num custo unitário total de $40; porém, se a vendas não alcançarem o volume previsto, situando-se em 500 unidades, o custo unitário se elevaria para $70, o que pode induzir a empresa a operar deficitariamente.

Esse é apenas um dos problemas. Já vimos anteriormente que o critério de rateio induz a um problema semelhante.

Tendo-se em vista as considerações anteriores, justifica-se a forma de apropriação conhecida como Custeio Variável, que somente atribui aos produtos os custos variáveis, diretos e indiretos. Os custos fixos serão lançados diretamente nos resultados.

Muito embora seja de grande utilidade para fins decisoriais e gerenciais, os Princípios Contábeis (competência e confrontação) não aceitam a elaboração de Demonstração de Resultados do Exercício e Balanço Patrimonial com base no custeio variável. Isto se explica porque as receitas devem ser apropriadas e devem-se deduzir todos os sacrifícios envolvidos para sua obtenção. Portanto, os custos do período devem ser apropriados no próprio período. Como os custos fixos serão responsáveis pela produção futura, não é razoável lançá-los todos em um só momento.

Já dissemos anteriormente que a separação entre custos fixos e variáveis constitui uma tarefa muito simples em termos teóricos, mas a realidade apresenta situações um tanto quanto ambíguas.

Não é incomum encontrarmos contas que possuem uma parcela fixa e outra variável, que denominamos custos semivariáveis (reveja a aula 2 para se lembrar disso). Podem servir de exemplo as contas de água e energia elétrica, que possuem um custo mínimo,

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parcela fixa, e outra diretamente proporcional ao volume utilizado, parcela variável.

Cabe lembrar que custo semivariável é diferente de custo semifixo, o qual é fixo até um determinado volume de produção, a partir do qual ele sofre uma variação. Ilustra a situação a capacidade instalada de uma fábrica, que possui um limite que, para ser superado, exigiria novas instalações, por exemplo, conforme FIG. 1.

FIGURA 1 Custo semivariável e semifixoFonte: MEGLIORINI, 2002, p. 15 e 16.

Com relação aos custos semivariáveis, o procedimento correto é separar a parcela fixa da parcela variável, atribuindo a última aos produtos, e a primeira sendo lançada diretamente no resultado. Resta, no entanto, a grande indagação: como calcular a parte fixa e a variável?

Megliorini (2002) apresenta um método para tal separação, denominado método dos pontos máximos e mínimos ou pontos altos e baixos.

O método deve ser implementado da seguinte maneira: registra-se a produção de um determinado período de tempo, registrando-se simultaneamente os custos correspondentes.

Tomamos os 2 pontos extremos de produção, encontramos os custos correspondentes e, a partir dessas observações, podemos definir o menor valor como custo fixo e a diferença em relação ao maior valor como custo variável.

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O custo variável unitário será encontrado dividindo-se a diferença de custos pela diferença no volume produzido.

Para ilustrar, vamos imaginar um alto forno de uma usina siderúrgica, que deve estar permanentemente ligado, para manutenção da temperatura, mesmo que a produção seja suspensa temporariamente. Dado o início das operações, o consumo de energia elétrica aumenta proporcionalmente ao volume produzido. A TAB.2 apresenta os dados relativos à produção e consumo.

TABELA 2

Produção e consumo de energia elétrica

Meses Produção (t) Custo ($)

Janeiro 1.000 50.000

Fevereiro 1.100 56.000

Março 1.200 62.000

Abril 1.400 74.000

Maio 1.300 68.000

Junho 1.300 68.000

Fonte: elaborada pelo autor.

Encontramos o mínimo em janeiro, com produção de 1.000t e custo de $50.000, e o máximo em abril, produção de 1.400t e custo de $74.000.

A diferença de custo será de $24.000 ($74.000-$50.000), e a de produção será igual a 400t (1.400t- 1.000t). Portanto o custo variável unitário será igual a $60 ($24.000/400t).

Pelo que foi exposto, podemos verificar que o custeio variável tem muitas vantagens em relação ao custeio por absorção. Conforme dito, o método deve ser usado para fins gerenciais, pois a legislação tributária não admite a apuração de resultados com base nele.

Algumas das vantagens, conforme Dubois, Kulpa e Souza (2008) e Megliorini (2002), são as seguintes:

• o resultado líquido não é afetado por variações nas quantidades produzidas e comercializadas;

• há maior facilidade para calcular a contribuição de cada produto para o lucro da empresa;

• identificam-se os produtos rentáveis e os não rentáveis;

• são fornecidas informações realistas aos gerentes de produção, relacionadas aos custos de sua responsabilidade;

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• são fornecidas informações para tomada de decisões gerenciais, especialmente com relação ao preço;

• permite-se identificar o nível mínimo de atividade que torna o negócio rentável.

Apesar dessas vantagens, o custeio variável possui 2 aspectos frágeis, devido à dificuldade de separação entre custos fixos e variáveis e também pela impossibilidade de apuração dos resultados para fins legais.

Devemos agora ressaltar que, muito embora sejam tratados, às vezes, os dois conceitos como sinônimos, custeio variável é uma denominação mais adequada do que custeio direto. Vamos relembrar os conceitos:

Custo direto

Custo direto é aquele que pode ser diretamente aplicado ao produto, ou seja, é possível identificar exatamente quanto do custo de um elemento foi aplicado na produção de um bem. Um bom exemplo é o de matérias-primas. Se para construir uma mesa uma empresa gasta uma chapa de compensado, esse custo pode ser diretamente aplicado ao produto final.

Também a mão-de-obra direta ilustra o conceito de forma clara. Para construir essa mesa é necessário 1 dia de trabalho (8 horas) de um marceneiro. Portanto, o salário diário do funcionário constitui um custo direto, isto é, pode ser diretamente aplicado ao custo de produção da mesa.

Custo indireto

Custo indireto é aquele não passível de aplicação direta ao produto, necessitando, destarte, de um critério de rateio para que seja feita a alocação de custos. Como exemplo, podemos citar os salários da supervisão. Imagine que na fábrica de móveis haja um supervisor para dez marceneiros, cada qual produzindo um tipo de móvel. Sendo assim, o salário do supervisor não pode ser diretamente aplicado ao produto final (mesas, cadeiras, estantes, etc.), mas deve ser rateado entre esses produtos.

Custo variável

É aquele que varia de acordo com o nível de atividade, isto é, caso o volume de produção (ou de vendas) aumente, o custo também aumentará; caso a produção decresça, o custo também será reduzido.

O custo da matéria-prima ilustra com clareza esse conceito. Para aumentar o volume de produção, mais unidades de matéria-prima serão consumidas, portanto o custo irá aumentar. Também serve de exemplo a mão-de-obra direta.

Custo fixo

Ao contrário do anterior, o custo fixo é aquele que não guarda relação com o volume de atividades, isto é, independentemente do volume de produção o custo não se altera. Obviamente, essa manutenção do custo deve respeitar um certo limite de capacidade,

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uma vez que não se pode pensar em custo fixo para uma produção infinita.

Diversos itens são classificados como custos fixos. O aluguel de uma instalação, a prestação de uma máquina, conta de telefone da fábrica, salários do pessoal da administração, entre outros.

Por custeio variável, entendemos aquele em que somente os custos variáveis são aplicados aos produtos, incluindo custos diretos, custos indiretos e também as despesas variáveis.

Se falarmos em custeio direto, não estamos nos referindo à aplicação apenas de custos diretos, mas, devido ao nome, tal confusão pode surgir. Por essa razão, o nome custeio variável é preferível ao nome custeio direto.

Espero que esta aula tenha sido bem proveitosa para seus conhecimentos. Espero você para nosso próximo encontro. Trarei muitas novidades.

Resumo

Vimos, na presente aula, outro método de custeio, denominado custeio variável. Ao contrário dos métodos de absorção, o custeio variável não aplica aos produtos os custos fixos, mas tão somente os custos variáveis, diretos e indiretos.

As razões que justificam essa nova abordagem recaem sobre as fragilidades do custeio por absorção no que se refere à tomada de decisões. Equívocos podem ocorrer devido a variações no volume de produção e também ao critério utilizado para rateio dos custos fixos.

O custeio direto constitui, portanto, uma alternativa para reduzir as inconsistências anteriores, pois vai aplicar aos produtos somente o que foi diretamente consumido na sua produção.

Comentamos as principais vantagens do custeio variável, realçando seu aspecto gerencial e listamos também suas principais deficiências.

Fizemos posteriormente uma revisão dos conceitos de custos, muito necessária neste momento do aprendizado. Relembramos o que é custo direto, indireto, fixo, variável, semifixo e semivariável.

Atividades

1. Descreva as diferenças entre custeio variável e custeio por absorção. Ilustre sua resposta com exemplos.

2. Explique as razões que tornam o custeio por absorção inconsistente, em termos gerenciais.

3. Explique o tratamento que se deve dar aos custos semivariáveis.

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Aula 21 - Custeio Variável

Objetivos

• Entender os cálculos do custeio variável.• Perceber as diferenças entre o custeio por absorção e o custeio variável.• Conhecer o conceito de margem de contribuição.

Introdução

Na aula passada, vimos outra forma de cálculo de custos, denominada Custeio Variável. Sabemos que se trata de uma metodologia que não aplica os custos fixos aos produtos, mas somente os custos variáveis.

Vimos ainda que suas principais aplicações são gerenciais, até porque a legislação tributária não permite esse tipo de apropriação para fins de declarações legais.

Hoje, iremos apresentar um exemplo de aplicação do Custeio Variável. Vamos descrever a empresa em questão.

Aplicação do Custeio Variável

Vamos conhecer uma indústria de confecção que produz camisas e calças. Os dados relativos aos produtos são mostrados na TAB. 1

TABELA 1

Dados relativos aos produtos

Item Camisa Calça

Produção (unid) 10.000 20.000

Matéria-prima 25.000 100.000

Materiais auxiliares 15.000 20.000

Mão de obra direta 40.000 60.000

Total 80.000 180.000

Preço de Venda (unid) 20 20

Como podemos perceber, a produção de camisas é de 10.000 unidades e a de calças é de 20.000 unidades. O consumo de material direto na fabricação de camisas é de $25.000, ao passo que na de calças é de $100.000.

Em termos de materiais auxiliares, no caso, aviamentos, gastam-se $15.000 com camisas e $20.000 com calças. A mão-de-obra direta aplicada à produção de camisas atinge o valor de $40.000 e de $60.000 para calças.

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Somando tudo, o custo de produção de camisas é de $80.000 e o de calças é de $180.000. O preço de venda é idêntico, $20 a unidade, preço determinado pelas condições de mercado, que a empresa espera respeitar.

Os custos e despesas fixas incorridos pela empresa são mostrados na TAB. 2.

TABELA 2

Custos fixos

Custos fixos

Depreciação 40.000

Aluguel 60.000

Energia elétrica 50.000

Despesas administrativas 30.000

Despesas comerciais 20.000

Total 200.000

Dentre os custos fixos, apenas energia elétrica poderia ser tida como semivariável, mas vamos imaginar, para simplificar nosso raciocínio, que também caracterize um custo fixo.

Ao fazer a apuração de resultados, o empresário vai encontrar a situação relatada na TAB. 3.

TABELA 3

Demonstração de Resultados do Exercício

Resultado do exercício camisas calças total

Faturamento bruto 200000 400000 600000

Custo produção 80.000 180.000 260.000

Lucro bruto 340.000

CIF 200.000

Lucro operacional 140.000

O faturamento e o custo de produção foram apresentados por produto para detalhar o procedimento. Para camisas, temos 10.000 unidades X $20/un., resultando em $200.000; para calças, temos 20.000 unidades X $20, igual a $400.000, com faturamento total de $600.000.

O custo de produção, mostrado na TAB. 1, é de $80.000 para camisas e de $180.000 para calças, atingindo o valor de $260.000. O custo fixo é de $200.000, conforme TAB. 2.

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Fazendo os cálculos, encontramos um lucro operacional de $140.000 ($600.000 - $260.000 – 200.000).

Digamos agora que o empresário, no afã de melhorar o desempenho financeiro de seu empreendimento, procura identificar o custo de produção separado por produto.

Ele vislumbra a possibilidade de alterar o seu mix de produção e com isso confeccionar o produto mais rentável, já que a alteração de preços é por demais arriscada, dada a concorrência presente no setor.

Ele então utiliza um critério de rateio para mensurar o custo de cada produto com mais precisão, imagina ele. Considerando-se expert no assunto, ele analisa os dados sobre custo direto e escolhe o rateio com base na mão-de-obra direta. Essa decisão baseia-se na similaridade da mão-de-obra no custo direto dos dois produtos, o que aparentemente tem lógica, ou seja, já que ela é distribuída de forma mais equilibrada, o rateio nessa base será o que melhor representa a aplicação de custos fixos.

Sendo assim, ele calcula o custo de produção, resultado mostrado na TAB. 4.

TABELA 4

Custo total - Rateio baseadona proporção de mão-de-obra

CIF/MO Camisa Calça

Depreciação 16.000 24.000

Aluguel 24.000 36.000

Energia elétrica 20.000 30.000

Despesas administrativas

12.000 18.000

Despesas comerciais 8.000 12.000

Total CIF 80.000 120.000

Custo direto 80.000 140.000

Custo total 160.000 260.000

Custo unitário 16 13

O cálculo foi feito da seguinte maneira:

• A participação do material direto empregado na fabricação de camisas é de 40% (40.000/100.000) e de calças é de 60% (60.000/100.000).

• Multiplicando 0,4 por $40.000, encontramos $16.000, que corresponde à parcela de depreciação alocada no custo das camisas. Fazendo 0,6 por $40.000, encontramos $24.000, parcela de depreciação alocada no custo de produção da calças.

• Repetindo os passos para os demais itens do custo fixo, encontramos o total de $80.000 de custos fixos para camisas e $120.000 para calças.

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• Somando o total de CIF com o total de custo direto, encontramos para camisas o valor de $160.000 ($80.000 + $80.000) e de $260.000 para calças ($120.000 + $140.000).

• Dividindo o custo total pelo número de unidades produzidas, encontramos custo unitário de camisa igual a $16 ($160.000 / 10.000) e $13 para calça ($260.000 / 20.000).

Diante desses valores, o empresário toma uma “sábia” decisão imediatamente: “se o preço de todos os produtos é $20, a camisa me custa $16 e a calça me custa $13, vou optar pela fabricação de calças, apenas”.

Devemos ainda supor que não existam limitações à fabricação de apenas um produto. Nesse contexto, a decisão parece realmente racional, pois com isso o resultado da empresa iria melhorar.

Mas vejamos o que acontece se a produção for unicamente de calças. Os resultados são apresentados na TAB. 5.

TABELA 5

Demonstração de Resultadosdo Exercício - Fabricação de calças

Produção única Calças

Faturamento bruto 600000

Custo produção 270000

CIF 200000

Lucro operacional 130000

O faturamento bruto ainda é de $600.000 (30.000 unidades X $20/un.), o custo fixo não se altera, permanecendo em $200.000, porém o custo variável vai se modificar.

Como eram necessários $180.000 para a confecção de 20.000 calças, para a fabricação de 30.000 unidades serão necessários $270.000, valor que corresponde ao custo de produção lançado na TAB. 5.

Apurando o resultado, teremos lucro operacional de $130.000, valor inferior aos $140.000 conseguidos com a fabricação de camisas e calças.

O que devemos pensar? Uma decisão bem pensada e tomada com base em critérios técnicos acarreta resultados ruins para a empresa. Caso optasse por ratear os custos fixos com base no material direto, a situação seria diferente, conforme ilustrado na TAB. 6.

TABELA 6

Custo total - Rateio baseadona proporção de material direto

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CIF/MD Camisa Calça

Depreciação 8.000 32.000

Aluguel 12.000 48.000

Energia elétrica 10.000 40.000

Despesas administrativas

6.000 24.000

Despesas comerciais 4.000 16.000

Total CIF 40.000 160.000

Custo direto 80.000 140.000

Custo total 120.000 300.000

Custo unitário 12 15

O cálculo é semelhante ao anterior. A participação relativa no consumo de material direto referente à produção de camisas é de 20% (25.000/125.000) e a de calças é de 80% (100.000/125.000).

Multiplicando os valores referentes ao custo fixo por essas proporções, encontramos os totais de $40.000 para camisas e de $160.000 para calças.

Somando-se esses valores ao custo direto, chegamos a $120.000 e $300.000 para camisas e calças, respectivamente.

O custo unitário será de $12 para camisa ($120.000 / 10.000) e de $15 para calça ($300.000 / 20.000).

Esse critério levaria o empresário a tomar outra “sábia” decisão, qual seja, a de produzir apenas camisas. Caso optasse por essa linha, os resultados seriam diferentes, conforme mostrado na TAB. 7.

TABELA 7

Demonstração de Resultados do Exercício- Fabricação de camisas

Produção única camisas

Faturamento bruto 600000

Custo produção 240000

CIF 200000

Lucro operacional 160000

O lucro operacional, nessas condições, alcançaria $160.000, superior aos $140.000 conseguidos com a produção mista.

A explanação anterior só vem reforçar os comentários acerca da fragilidade do custeio por absorção para fins gerenciais. Por outro lado, realça a importância do custeio

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variável.

Observe você que cada unidade de camisa custa $8 ($80.000/10.000) em termos de custo variável, e cada unidade de calça custa $9 ($180.000/20.000), também de custo variável. Se cada peça é vendida por $20, cada camisa gera um “retorno” de $12 e cada calça um retorno de $11.

Se lembrarmos que os custos fixos independem do volume produzido, ou mais, que eles são encargos assumidos pela empresa para tornar possível a produção, vamos entender que eles não são afetados pela quantidade produzida de um ou de outro produto. Portanto, o mais importante é avaliar o quanto cada um deles contribui para a cobertura dos custos fixos.

Estamos diante do conceito de margem de contribuição. Segundo Martins (1998), é a diferença entre receita e custo variável. Para Megliorini (2002), é parte restante do preço de venda de um produto, deduzidas as despesas e custos por ele gerados.

Diante disso, podemos apresentar os resultados da empresa de uma forma um pouco diferente, conforme ilustra a TAB. 8.

TABELA 8

Margem de Contribuição

Resultado do exercício camisas calças total

Faturamento bruto 200000 400000 600000

Custo produção 80.000 180.000 260.000

Margem de contribuição 120.000 220.000 340.000

Custos fixos 200.000

Lucro operacional 140.000

Apresentado dessa forma, o resultado mostra uma outra visão. Os custos fixos não são relacionados à produção, mas sim, ao funcionamento da empresa, existentes independentemente de a empresa produzir ou não.

Portanto os custos provocados pelos produtos são somente os diretos, e por essa razão qualquer critério de rateio possui algum grau de arbitrariedade. Por conseguinte devemos avaliar o quanto cada produto contribui para o pagamento do custo fixo, ou seja, avaliar quanto sobra depois de deduzido do preço de venda o montante de custo necessário à produção.

Informações desse tipo são de extrema utilidade nas decisões gerenciais. Voltemos ao caso da modificação do mix de produção. Ao utilizar o critério de rateio, o empresário poderia ter tomado a pior decisão possível, ainda que lhe parecesse a mais racional do mundo.

Caso a decisão seja tomada com base na margem de contribuição, esse tipo de erro não aconteceria, ou seja, o produto menos rentável não seria nunca o escolhido.

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Ademais, a análise da margem de contribuição serve para definição da política de preços e para a avaliação dos custos de cada departamento.

Espero que você tenha compreendido muito bem tudo isso que estudamos hoje. São conhecimentos muito importantes para a sua formação geral.

Encontramo-nos na próxima aula. Até lá!

Resumo

Nesta aula, fizemos uma aplicação de custeio variável. Começamos estimando o resultado de uma empresa de confecção que fabrica calças e camisas.

Depois de apurado o resultado, fizemos alguns exercícios relativos à apropriação de custos fixos e tomamos decisões gerenciais baseados nelas. Vimos que uma decisão aparentemente racional poderia ter provocado a redução do lucro da empresa.

Posteriormente, aprendemos o conceito de margem de contribuição, que é a diferença entre o preço de venda e o custo variável. Ou seja, a margem de contribuição mostra exatamente com quanto cada produto contribui para o lucro da empresa.

Atividades

Faremos exercícios específicos sobre esse conteúdo na próxima aula. Hoje você vai descansar mais cedo.

Aula 22 - Custeio Variável Objetivos

• Rever conceitos de Custeio Variável.• Aplicar os cálculos do Custeio Variável.

Introdução

Vamos rever os conceitos de Custeio Variável na aula de hoje, praticando através de um exercício. Iremos estimar o custo variável, a margem de contribuição de cada produto e avaliar a possibilidade de fabricar apenas um dos produtos.

Atividade

Vamos inicialmente caracterizar a nossa empresa. É uma indústria que fabrica pré-moldados em concreto, especificamente mourões e postes, o primeiro em formato retangular e o segundo em formato tipo T. Utiliza como insumos diretos areia, brita, cimento, ferragem e mão-de-obra.

Os gastos fixos são relativos a: depreciação dos equipamentos e das instalações, aluguel de um galpão e escritório anexo, mão-de-obra indireta, despesas comerciais e despesas

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administrativas.

Os custos diretos de produção, separados por produtos, assim como o apontamento de unidades mensais produzidas, estão apresentados na TAB. 1.

TABELA 1

Custos Diretos de Produção

Item Mourão Poste

Produção (unid) 2.000 1.000

Matéria-prima 7.000 3.000

Materiais auxiliares 3.000 2.000

Mão-de-obra direta 5.000 5.000

Total 15.000 10.000

Preço de Venda (unid) 30 35

Os custos fixos estão apresentados na TAB. 2.

TABELA 2

Custos indiretos de fabricação

Custos fixos

Depreciação 8.000

Aluguel 6.000

Energia elétrica 6.000

Despesas administrativas 4.000

Despesas comerciais 6.000

Total 30.000

Com base nos dados apresentados,

• Calcule o resultado da empresa.

• Avalie os resultados caso a empresa optasse pela produção de um único produto.

• Calcule a margem de contribuição de cada produto e apure o resultado com base no Custeio Variável.

Faça tudo que se pede antes de verificar as respostas que lhe forneço em seguida. Isso é muito importante para o seu aprendizado.

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Respostas

Resultado do exercício Mourão Poste total

Faturamento bruto 60000 35000 95000

Custo produção 15.000 10.000 25.000

Lucro bruto 70.000

CIF 30.000

Lucro operacional 40.000

Produção única Mourão Poste

Faturamento bruto 90000 105000

Custo produção 22500 30000

CIF 30000 30000

Lucro operacional 37500 45000

Resultado do exercício Mourão Poste total

Faturamento bruto 60000 35000 95000

Custo produção 15.000 10.000 25000

Margem de contribuição 45.000 25.000 70.000

Custos fixos 30.000

Lucro operacional 40.000

Aula 23 - Aplicação da Margem de Contribuição Objetivos

• Relembrar os conceitos de Margem de Contribuição.• Aplicar cálculos de Margem de Contribuição.• Aprender a tomar decisões gerenciais baseadas na Margem de Contribuição.

Introdução

Na aula 18 aprendemos como se deve calcular o custeio variável e também como se calcula a margem de contribuição. Já sabemos que ela corresponde à diferença entre preço de venda e custo variável, isto é, representa a contribuição de cada produto ao lucro ou, dito de outra forma, a contribuição para a cobertura dos custos fixos.

Vimos alguns exemplos que mostraram que decisões baseadas em critérios de rateio podem acarretar resultados negativos, como por exemplo, a mudança do mix de

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produção baseada em custo total.

Hoje iremos avançar nesses tópicos relacionados a decisões gerenciais, mas utilizando o conceito de margem de contribuição.

Margem de Contribuição

Vamos imaginar uma empresa que possua 3 produtos em sua linha de produção, A, B e C, com as especificações relacionadas na TAB.1.

TABELA 1

Produtos, preços, custos e despesasvariáveis e margem de contribuição

Produtos Preço Custo+despesa variavelMargem contribuição

unitária

A 25 11,25 13,75

B 42 32,10 9,90

C 32 23,60 8,40

Podemos observar que o produto A tem a maior margem de contribuição, seguido do produto B e depois vem o produto C. A despeito de ser comercializado pelo menor preço, o produto A é o que mais contribui para o lucro da empresa.

Visando a uma possível melhoria na lucratividade, o empresário gostaria de avaliar uma modificação no mix de produção que lhe permitisse maiores ganhos. Desde que não haja nenhuma limitação à capacidade produtiva, a escolha deveria ser aumentar a produção daquele que tem a maior margem de contribuição, o produto A.

Porém, no presente caso, há uma limitação externa relativa ao fornecimento de matéria-prima. Dadas as especificações técnicas exigidas, o empresário somente consegue adquirir 120.000 quilogramas, volume insuficiente para atendimento da sua demanda, conforme mostra a TAB. 2.

TABELA 2

Demanda e matéria-prima consumida.

Produtos Demanda Consumo matéria-prima Quantidade materia-prima

A 2.000 40 80.000,00

B 800 20 16.000,00

C 3.000 10 30.000,00

Total 126.000,00

Para atender a toda a demanda, seriam necessários 126.000 kg, volume superior ao que a empresa consegue adquirir. Diante dessa restrição, devemos fazer uma opção por qual

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produto sacrificar.

Caso toda a demanda pudesse ser atendida, a margem de contribuição total seria de $60.620 ($13,75X2.000 + $9,9X800 + $8,4x3.000). Contudo esse valor ultrapassa a capacidade da empresa. Não se trata de uma restrição de capacidade instalada, portanto é mais difícil, senão impossível, conseguir uma solução interna.

A escolha mais óbvia recai sobre o produto C, que possui a menor margem de contribuição. Outro critério para justificar a decisão poderia se basear no volume de produção diante da quantidade de material necessário, ou seja, ao sacrificarmos o produto C, um número proporcionalmente menor de unidades deixaria de ser produzida.

Programando a produção para atender a esse novo mix, encontraremos 2.000 unidades do produto A, 800 do produto B e apenas 2.400 do produto C. Isso porque, descontando a matéria-prima dos 2 primeiros, sobrariam 24.000 kg, suficientes para produzir 2.400 unidades de C.

Os resultados com essa nova configuração estão na TAB. 3

TABELA 3

Resultados e margem de contribuição por produto

A B C Total

Vendas (un.) 2.000 800 2.400

Preço unitário 25 42 32

Receita 50.000 33.600 76.800 160.400

Custo variável unitário 10 30 22

Custo variável total 20.000 24.000 52.800

Despesas variáveis (5%) 2.500 1.680 3.840

Total variável 22.500 25.680 56.640 104.820

Margem de contribuição 27.500 7.920 20.160 55.580

Custos e despesas fixas 25.000

Lucro operacional 30.580

De imediato observamos que a margem de contribuição se reduziu, alcançando agora $55.580 ($13,75X2.000 + $9,9x800 + $8,4x2.400), abaixo do máximo possível de $60.620. Com isso, o lucro da empresa será menor, igual a $30.580, considerando o volume de custos fixos de $25.000.

As reduções tanto na margem de contribuição quanto no lucro operacional eram esperadas, já que a empresa não consegue produzir e atender toda a demanda disponível.

O resultado alcançado parece o melhor, tendo em vista que a fabricação dos produtos com maior margem foi mantida, reduzindo-se apenas a produção daquele com menor

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margem de contribuição.

Podemos questionar se essa seria a melhor alternativa. Se visualizarmos os volumes requeridos da matéria-prima por unidade produzida, conforme mostrado na TAB. 2, observaremos que o produto A requer 40 kg por unidade, o produto B requer 20 kg e o C, 10 kg.

Diante dessa informação, devemos analisar a situação mais uma vez. Ora, vejamos! Se há tal disparidade no consumo da matéria-prima, a manutenção de um produto na linha de produção exige um grande sacrifício de outro.

Talvez, a empresa esteja perdendo margens de contribuição, pois, ao maximizar a produção de um, ela limita a de outro.

Vamos avaliar outra alternativa. Iremos basear nossa análise na margem de contribuição em termos de matéria-prima consumida, conforme sugerido por Megliorini (2002). A TAB. 4 apresenta os valores.

TABELA 4

Margem de contribuição em matéria-prima

Produtos Mg cont. Consumo matéria-primaMg contribuição/mat.

prima

A 13,75 40 0,3438

B 9,90 20 0,4950

C 8,40 10 0,8400

Ao deixar de produzir uma unidade de A, a empresa pode fabricar duas unidades de B ou quatro unidades de C (40/20 ou 40/10).

De acordo com os dados, constatamos que, para cada unidade de matéria-prima aplicada ao produto A, resultará uma margem de contribuição de $0,3438 ($13,75 / 40 kg). Para o produto B, temos a margem de contribuição por unidade de matéria-prima de $0,4950 ($ 9,90 / 20 kg ) e para o C, $0,84 ($8,40 / 10 kg)

No resultado por produto, os termos de margens de contribuição seriam:

Produto A: 40 kg X 0,3438 = $13,75 (1X13,75 = 13,75)Produto B: 40 kg X 0,4950 = $19,80 (2X $9,9 = $19,80)Produto C: 40 kg X 0,8400 = $33,60 (4 X $8,4 = $33,60).

De acordo com os dados acima, observamos que o sacrifício de uma unidade de A, que consome um grande volume de matéria-prima, permite a produção de 2 unidades de B ou 4 unidades de C, resultando em uma margem de contribuição de B igual a $19,80 e de C igual a $33,60.

Portanto, quando houver restrições à capacidade produtiva, nem sempre a melhor alternativa irá recair sobre o produto com maior margem de contribuição.

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Vamos então analisar outra possibilidade, reduzindo a fabricação de A e mantendo a produção dos outros dois, B e C. Os dados apresentados na TAB. 5 ilustram a situação.

TABELA 5

Resultados e margem de contribuição por produto

A B C Total

Vendas (un.) 1.850,00 800,00 3.000,00

Preço unitário 25,00 42,00 32,00

Receita 46.250,00 33.600,00 96.000,00 175.850,00

Custo variável unitário 10,00 30,00 22,00

Custo variável total 18.500,00 24.000,00 66.000,00

Despesas variáveis (5%) 2.312,50 1.680,00 4.800,00

Total variável 20.812,50 25.680,00 70.800,00 117.292,50

Margem de contribuição 25.437,50 7.920,00 25.200,00 58.557,50

Custos e despesas fixas 25.000,00

Lucro operacional 33.557,50

Como os produtos B e C serão fabricados para atender completamente a demanda, o consumo de matéria-prima irá atingir 46.000 kg, restando 74.000 kg para a fabricação de A. Consequentemente, serão produzidas 1.850 unidades ou 74.000/40.

Refazendo os cálculos, encontramos uma margem de contribuição total de $58.557,50 ($13,75X1.850 + $9,9X800 + $8,4X3.000), e o lucro operacional de $33.557,50.

Esses resultados estão ainda abaixo do que seria alcançado com o atendimento pleno da demanda, mas, como a restrição é externa, a empresa pouco pode fazer, devendo adequar sua capacidade com vistas a alcançar o melhor desempenho operacional e financeiro.

Será que você entendeu tudo bem direitinho? Espero que sim. Refaça todos os cálculos se você ainda tiver alguma dúvida. Espero você para nossa próxima aula!

Resumo

Vimos hoje como pode ser aplicado o estudo das margens de contribuição para fins decisoriais.

Partindo de uma situação hipotética, em que uma empresa pode fabricar 3 produtos, com margens de contribuição diferentes, avaliamos quais efeitos teríamos caso houvesse alguma restrição relativa à produção.

Analisamos especificamente o caso em que a oferta de matéria-prima é restrita, ou seja, para atender toda a demanda, a empresa necessita de um volume maior do que o

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fornecedor pode oferecer.

Diante desse quadro, o mix de produção deve ser revisto, com a produção em menor escala de um dos 3 produtos. A escolha mais óbvia recairia sobre a redução na quantidade produzida daquele que tiver a menor margem de contribuição.

Porém, essa decisão, aparentemente racional, não produz o melhor resultado. Vimos que, sob condições de restrição, o fator limitante deve conduzir a decisão.

No exemplo, dado que a produção de A consumia um volume elevado de matéria-prima relativamente aos outros dois produtos, a redução daquele e o atendimento pleno dos outros 2 geraria melhores resultados.

Atividades

Mais adiante,faremos exercícios sobre restrições de capacidade produtiva. Por ora, imagine uma indústria de produtos alimentícios sujeita a restrições no fornecimento de matéria-prima, como por exemplo, uma fábrica de sucos de laranja. Se ela produz suco concentrado e refresco, gastando 5 vezes mais unidades de matéria-prima para a produção do primeiro e sendo a margem de contribuição do primeiro apenas o dobro, qual seria a melhor opção caso não consiga adquirir o volume de laranja suficiente para produzir a plena capacidade? Justifique sua resposta.

Aula 24 - Aplicação da Margem de Contribuição Objetivos

• Rever conceitos de Margem de Contribuição.• Aplicar cálculos de Margem de Contribuição.• Verificar como tomar decisões gerenciais baseadas na Margem de Contribuição.

Introdução

Vamos hoje avaliar outra situação em que o cálculo da margem de contribuição pode representar uma decisão vantajosa. Na última aula, fizemos algo dessa natureza, ao avaliar as possíveis combinações de produção de uma empresa sujeita à restrição na capacidade produtiva ditada por limitação de fornecimento de matéria-prima.

Somente para recordar, a decisão aparentemente mais racional – privilegiar a fabricação do produto que apresenta a maior margem de contribuição – não foi a mais sensata.

Tal fato deveu-se à grande utilização de matéria-prima pelo produto que tinha a maior margem. Sendo assim, a sua produção plena sacrificava a fabricação de muitas unidades de outros itens com margens unitárias menores que, no entanto, gerariam margem de contribuição total superior, em se considerando sua produção plena.

Nesta aula, avaliaremos outra situação, relacionada à existência de capacidade ociosa.

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Nesse caso, a fábrica não opera com sua capacidade plena, e a margem de contribuição pode ser de grande utilidade ao se tomar uma decisão relativa à negociação de uma encomenda, em condições especiais.

Aplicação da Margem de Contribuição

Vamos inicialmente caracterizar a nossa empresa. Trata-se de uma usina siderúrgica que fabrica um único produto, vendido primordialmente no mercado nacional, mas que possui capacidade de exportação.

Essa fábrica opera atualmente com elevada capacidade ociosa, pois produz e comercializa apenas 50.000 toneladas, volume muito abaixo do limite máximo de 70.000 toneladas.

As informações relativas a preço e custos são mostradas na TAB. 1.

TABELA1

Preço e custo de produção.

Item Valores

Custo fixo de produção 400.000

Custo variável de produção 15/t

Despesa fixa 100.000

Despesa variável (comissões) 1/t

Despesa variável (impostos) 2/t

Preço de venda 40/t

Como foi mostrado, o custo fixo é de $400.000 e a despesa fixa é de $100.000, ao passo que o custo variável é de $15/tonelada. A empresa incorre ainda em despesa variável de $1/tonelada relativa à comissão, e de $2/tonelada relativa aos impostos. O preço de venda é de $40, fixado como meta para alcançar o lucro estipulado pela diretoria.

Os resultados da empresa são apresentados na TAB. 2.

TABELA 2

Demonstração de resultados

Item Valores

Receita 2.000.000

Custo dos produtos vendidos 1.150.000

Custo variável 750.000

Custo fixo 400.000 250.000

Despesas

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Despesa fixa 100.000

Despesa variável (comissões) 50.000

Despesa variável (impostos) 100.000

Lucro líquido 600.000

A fixação do preço obedeceu ao seguinte critério: como o lucro-meta estipulado era de $600.000, seriam necessários $2.000.000 de receita, diante do total de custos e despesas da ordem de $1.400.000. Com a produção de 50.000 toneladas, o preço foi então fixado em $40. Tal preço também condiz com a realidade de mercado.

O custo variável de $750.000 resulta da multiplicação do custo variável unitário de $15 pelo volume produzido, 50.000 toneladas. As despesas variáveis de comissões são iguais a $50.000 ($1 X 50.000), e as de impostos são iguais a $100.000 ($2 X 50.000), alcançando $150.000.

Suponhamos agora que a empresa receba uma proposta para fabricar 20.000 toneladas, destinadas a um cliente de outro país. Porém a oferta do cliente externo, a princípio, não se mostra atrativa, pois o preço sugerido é de $25/tonelada.

A diretoria se reúne para avaliar a situação, e um dos membros sugere um levantamento para avaliação do real custo de produção. Recorrendo aos dados apresentados na TAB. 3, o custo é estimado.

TABELA 3

Custo de produção

Item Valor

Custo variável 750.000

Custo fixo 400.000

Despesa fixa 100.000

Despesa variável (comissões) 50.000

Despesa variável (impostos) 100.000

Custo total 1.400.000

Volume produzido 50.000

Custo unitário 28

Como era esperado, a negociação não se mostra atraente, pois o preço oferecido é inferior ao custo de produção – $25 e $28, respectivamente. A negativa era iminente, já que a produção levaria a empresa a incorrer em prejuízo.

Porém um dos diretores, responsável pela análise de custos, ponderou que seriam necessárias novas avaliações. Justificou sua posição alegando que o maior volume de produção iria reduzir o custo fixo unitário e, ademais, por ser o cliente do mercado externo, não haveria cobrança do imposto, devido à isenção tributária para esse tipo de operação.

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Com base nessa ponderação, o diretor financeiro apresentou um novo quadro de resultados, contendo o seu raciocínio sobre o assunto, conforme apresentado na TAB. 4.

TABELA 4

Demonstração de resultados

Item Valores

Receita 2.500.000

Vendas domésticas 2.000.000

Vendas externas 500.000

Custo dos produtos vendidos 1.450.000

Custo variável 1.050.000

Custo fixo 400.000

Despesas 270.000

Despesa fixa 100.000

Despesa variável (comissões) 70.000

Despesa variável (impostos) 100.000

Lucro líquido 780.000

A receita atingiria $2.500.000, fruto de $2.000.000 ($40 X 50.000) relativos a vendas internas e $500.000 de exportações ($25 X 20.000). Os custos variáveis agora seriam de $1.050.000, correspondendo à multiplicação de $15 por 70.000. Somando-se isso ao custo fixo de $400.000, atingiria o total de $1.450.000.

A despesa variável de comissões agora passaria a $70.000 ($1 X 70.000), a despesa com impostos permaneceria a mesma, $100.000 ($2 X 50.000), pois não haveria incidência tributária nas exportações. Adicionando a despesa fixa de $100.000, alcançamos o valor de $270.000.

O total de custos e despesas atinge $1.720.000, o que resulta num lucro operacional de $780.000. Esse valor é muito superior aos $600.000 da situação inicial.

Portanto a análise feita puramente com o preço comparado ao custo total de produção levaria a empresa a deixar de obter um volume substancial de lucro. Mas foi essa análise que permitiu a atitude competente do diretor financeiro ao apresentar uma nova forma de ver a situação.

Se avaliarmos o custo de produção na segunda demonstração, será que o preço proposto pelo cliente externo seria razoável? Vamos conferir, conforme a TAB. 5.

TABELA 5

Custo de produção

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Item Valor

Custo variável 1.050.000

Custo fixo 400.000

Despesa fixa 100.000

Despesa variável (comissões) 70.000

Despesa variável (impostos) 100.000

Custo total 1.720.000

Volume produzido 70.000

Custo unitário 24,57

Repetindo o raciocínio anterior, temos um custo total de $1.720.000, o que, dividido por 70.000 toneladas, resulta em $24,57/tonelada. Ainda assim, o preço mostra-se pouco atraente.

O que permite avaliar a atratividade da venda externa é simplesmente a análise da margem de contribuição, de acordo com a TAB. 6.

TABELA 6

Margem de contribuição

Item Valor

Preço de venda 40/t

Custo variável de produção 15/t

Despesa variável (comissões) 1/t

Despesa variável (impostos) 2/t

Margem de contribuição unitária

18/t

Ao avaliarmos as margens, observamos que cada produto para o mercado doméstico tem custo variável de $18, o que garante margem unitária de $22, dado o preço de $40.

Quando se trata do mercado externo, a margem ainda é um pouco menor, pois atinge $8, considerando o preço de $25, devido à não incidência de impostos.

Em suma, elaborando o quadro sintético apresentado na TAB. 7, podemos detalhar a aplicação das margens de contribuição para fins decisoriais.

TABELA 7

Margens de contribuição

Item Interno Externo Total

Page 43: Aula 16 ate 30

Vendas (un.) 50.000 20.000

Preço unitário 40 25

Receita 2.000.000 500.000 2.500.000

Custo variável unitário 15 15

Custo variável total 750.000 300.000

Comissões 50.000 20.000

Impostos 100.000 0

Total despesas variáveis 150.000 20.000

Variável total 900.000 320.000 1.220.000

Margem de contribuição 1.100.000 180.000 1.280.000

Custos e despesas fixas 500.000

Lucro operacional 780.000

Observamos que, a despeito do menor preço de venda, com custo praticamente igual ao preço de venda, como mostrado anteriormente, o produto destinado ao mercado externo ainda é capaz de gerar margem de contribuição de $180.000, o mesmo valor de incremento no lucro da empresa, comparando as duas situações.

Em síntese, o custo fixo já está completamente comprometido e não deve fazer parte desse tipo de análise. Não devemos desconsiderá-lo, porque ele deve ser avaliado no final, para sabermos se a soma das margens é suficiente para cobrir o total de custos e despesas fixas, mas a sua aplicação aos produtos muitas vezes leva a equívocos, especialmente em relação à política de preços.

Resumo

Nesta aula, avaliamos como a capacidade ociosa deve ser levada em consideração em determinadas situações. Por exemplo, caso a empresa esteja negociando uma encomenda, a utilização plena da capacidade poderá fazer com que o custo unitário se reduza, levando a empresa a aceitar um preço aparentemente inferior ao custo.

Atividades

Hoje você está livre de mais atividades. Na próxima aula vamos analisar um exemplo sobre aplicação de margem de contribuição. Reveja os conceitos e até breve.

Aula 25 - Aplicação da Margem de ContribuiçãoObjetivos

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• Rever conceitos de Margem de Contribuição• Aplicar cálculos de Margem de Contribuição• Verificar como tomar decisões gerenciais baseadas na Margem de Contribuição

Introdução

Olá, meu caro aluno. Tem estudado bastante? Espero que sim, pois, como prometemos na última aula, nesta desenvolveremos uma atividade prática. Resolva o exercício que lhe proponho com bastante atenção. Ele vai ajudá-lo em sua prática profissional. Vamos lá?!

Atividade

Uma churrascaria rodízio atende 15.000 clientes por mês, sendo 80% no horário de almoço e 20% no jantar, cobrando o preço unitário de $40,00. Os custos são os seguintes:

• custos operacionais fixos (aluguel, energia elétrica) $200.000

• despesas fixas com mão-de-obra $100.000

• custos variáveis / cliente $16,00

A gerência entende que a margem de lucro está baixa, porém não cogita a possibilidade de elevação do preço, fixado de acordo com as condições do mercado e preço dos concorrentes. Sabendo que a capacidade de atendimento no horário de almoço não é plenamente utilizada, a gerência analisa duas opções para aumentar a lucratividade:

• Redução no preço para $35,00, em todos os horários, com aumento previsto do número de clientes para 18.000, com a mesma distribuição proporcional;

• Manutenção do preço no almoço e promoção especial para jantares, ao preço de $30,00, com aumento de 100% do número de clientes nesse horário e manutenção nos outros.

Qual alternativa seria mais rentável para a empresa?

Vou lhe fornecer a resposta, mas você deve desenvolver todo o raciocínio e as contas para comprovar os resultados, ok?

Resposta

atual preço (35) promoção

Receita 600000 630000 660000

custo variável 240000 288000 288000

lucro bruto 360000 342000 372000

energia eletrica 120.000 120.000 120.000

aluguel 80.000 80.000 80.000

Page 45: Aula 16 ate 30

mão-de-obra (fixa) 100.000 100.000 100.000

lucro operacional 60.000 42.000 72.000

Aula 26 - Análise Custo-Volume-Lucro Objetivos

• Rever conceitos de Margem de Contribuição.• Entender o conceito de ponto de equilíbrio.• Avaliar os efeitos das variações de preço e quantidade no ponto de equilíbrio.

Introdução

Até o momento vimos diversos conceitos relacionados a receitas e custos. Já aprendemos como separar custos de despesas, como classificar custos em diretos e indiretos ou em fixos e variáveis. Estudamos ainda como podemos ratear os custos fixos, aplicando-os aos produtos. Posteriormente, vimos uma abordagem distinta, que envolve o cálculo dos custos variáveis, ficando todos os gastos fixos para lançamento nos resultados.

Nessa esteira, aprendemos também como aplicar o custeio variável para fins gerenciais, por meio do cálculo da margem de contribuição. Para tanto, estudamos possíveis limitações na capacidade produtiva e também a existência de capacidade ociosa.

Hoje iremos avançar um pouco mais nesta matéria, estudando qual a relação entre custos, receitas e lucro.

A relação entre custos e receitas

Vamos imaginar uma empresa que opera sob determinadas condições. Nós já sabemos que ela possui custos e despesas que são fixos, isto é, independem da quantidade produzida. Em se tratando de empresas comerciais, deveríamos nos referir à quantidade comercializada, porém iremos nos reportar a empresas industriais, por isso citaremos quantidade produzida, volume de produção, etc., aliás, como tem sido nas aulas anteriores.

Além dos custos e despesas fixas, a empresa arca também com custos e despesas variáveis, que são proporcionais ao volume produzido. Somando os dois tipos, encontramos o custo total.

Sendo parte desse custo independente do volume de produção, a margem de contribuição de certa quantidade de produto será destinada para que essa parcela fixa seja coberta. A partir desse ponto, o restante da produção começa a contribuir para a geração de lucro para a empresa.

Ponto de equilíbrio

Page 46: Aula 16 ate 30

Portanto o ponto de equilíbrio pode ser definido, segundo Megliorini (2002), como sendo aquele em que a empresa não obtém nem lucro nem prejuízo, ou seja, as receitas se igualam ao custo total.

Baseados nas informações listadas na TAB. 1, vamos desenvolver o conceito.

TABELA 1

Custo e receita totais

Quantidade Custo fixoCusto

variávelCusto total Rec. total saldo

0 20 0 20 0 -20

1 20 4 24 8 -16

2 20 8 28 16 -12

3 20 12 32 24 -8

4 20 16 36 32 -4

5 20 20 40 40 0

6 20 24 44 48 4

7 20 28 48 56 8

8 20 32 52 64 12

9 20 36 56 72 16

10 20 40 60 80 20

Fonte: adaptado de MEGLIORINI, 2002, p. 153.

Observamos que a quantidade produzida pode variar de 0 a 10, mas o custo fixo não se altera em todo esse intervalo, permanecendo igual a $20. O custo variável é de $4 por unidade produzida e vai aumentando proporcionalmente. Somando os dois valores, encontramos o custo total.

A receita cresce de acordo com as unidades comercializadas, sendo igual a $8 a receita unitária. Fazendo a subtração receita total menos custo total, encontramos o saldo. Podemos perceber que até certo ponto, o saldo é negativo, alcança o valor 0 e depois passa a apresentar valores positivos. O ponto de equilíbrio é encontrado exatamente quando o saldo torna-se 0, ou seja, quando as receitas são suficientes apenas para cobertura do custo total.

Podemos ver a representação do ponto de equilíbrio na FIG. 1

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FIGURA 1 - Ponto de equilíbrioFonte: MEGLIORINI, 2002, p. 154.

De acordo com os dados e com a representação gráfica, observamos que, até o volume de produção de 5 unidades, o custo supera a receita. Com produção de 0, a receita é 0 e o custo é de $20. Com uma unidade de produção, a receita atinge $8, o custo total atinge $24 e o saldo é negativo em $16. Até o nível de produção igual a 4 unidades, o saldo negativo se repete.

A partir do volume de produção de 5 unidades, a receita começa a superar o custo. Com 6, o custo total é $44 e a receita é de $48, restando um saldo positivo de $4. Volumes maiores de produção irão resultar em saldos positivos crescentes. Portanto o ponto de equilíbrio ocorre exatamente quando a produção atingir 5 unidades, com receita e custo totais equivalentes a $40.

Vamos agora definir matematicamente o ponto de equilíbrio. Já sabemos que ele será alcançado quando receita total menos custo total for igual a 0.

Podemos escrever PE = RT – CT = 0, ou seja, o ponto de equilíbrio ocorre quando o lucro operacional é igual a 0, ou LAJIR = 0.

Considerando:

• RT = p X Q• CT = CT + (v X Q);

em que

• RT = receita total;• CT = custo total• p = preço unitário de venda;

Page 48: Aula 16 ate 30

• Q = quantidade de venda;• F = custo operacional fixo por período;• v = custo operacional variável por unidade.

Fazendo lucro operacional igual a zero, teremos

• LAJIR = RT – CT • LAJIR = (p * Q) – F – (v * Q) • LAJIR = Q * (p – v) – F

desde que LAJIR = 0, temos:

• Q = F / (p – v), ou;

Portanto ponto de equilíbrio é igual à razão entre custo fixo total e margem de contribuição unitária.

No exemplo anterior, teríamos:

Portanto o ponto de equilíbrio ocorre quando a produção atingir 5 unidades, como já havíamos visto na TAB. 1 e na representação gráfica. Analisando sob a ótica da análise de margem de contribuição, teríamos os resultados apresentados na TAB. 2.

TABELA 2

Margem de Contribuição

Item / Volume produção 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Receita 0 8 16 24 32 40 48 56 64 72 80

Custos e despesas variáveis 0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40

Margem de contribuição 0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40

Custos e despesas fixas 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20

Lucro operacional -20 -16 -12 -8 -4 0 4 8 12 16 20

Podemos observar que o ponto de equilíbrio ocorre quando a margem de contribuição total for igual ao custo fixo total. No exemplo, quando a produção atinge 5 unidades, a margem de contribuição total é igual a $20 {5 X (8-4)}, valor idêntico ao custo fixo total.

Conceitos de ponto de equilíbrio

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Dependendo do tipo de análise a ser feita, mais de uma situação em que se verifica o equilíbrio pode existir, conforme Martins (1998) e Megliorini (2002). Usualmente, 3 tipos de equilíbrio são encontrados: contábil, econômico e financeiro.

Ponto de equilíbrio contábil: situação em que a margem de contribuição total é suficiente para cobrir todos os custos e despesas fixos. Corresponde ao ponto de equilíbrio estudado anteriormente.

Ponto de equilíbrio econômico: nesse caso, também será considerado como custo a ser coberto pelas receitas o custo de oportunidade do capital investido, que corresponde à remuneração da melhor alternativa de investimento. Ou seja, a receita deve ser capaz também de cobrir o rendimento do capital investido.

Ponto de equilíbrio financeiro: os gastos quem não geram desembolsos não devem ser incluídos no cálculo, ou seja, não levamos em consideração a depreciação embutida nos custos e despesas fixos. Porém os desembolsos não incluídos, como amortizações de empréstimos, devem ser incluídos neste cálculo.

Para ilustrar os 3 conceitos, vamos considerar os dados apresentados a seguir.

• Preço unitário de venda: $25

• Custos e despesas variáveis unitários: $15

• Custos e despesas fixos: $20.000

• Depreciação (incluída no item anterior): $2.000

• Patrimônio líquido: $40.000

• Rendimento esperado: 10% ($4.000)

• Amortização de empréstimos: $1.200

Os cálculos seriam os seguintes:

Ponto de equilíbrio contábil:

Ponto de equilíbrio econômico:

Ponto de equilíbrio financeiro:

Ponto de equilíbrio para múltiplos produtos

Page 50: Aula 16 ate 30

Em se tratando de um único produto, ou mais de um produto com margens de contribuição idênticas, o cálculo do ponto de equilíbrio torna-se uma tarefa bastante simples. Porém, se houver mais de um produto com margens diferentes, a determinação do ponto de equilíbrio torna-se mais complexa. Nesses casos, precisamos identificar as contribuições de cada produto, mas precisaremos também da participação dos produtos na venda, para então encontrarmos o ponto de equilíbrio.

Vamos ilustrar a situação com base no seguinte exemplo, conforme apresentado na TAB. 3.

TABELA 3

Ponto de equilíbrio para produtos múltiplos

ProdutoQuantidade

VendidaPreço

Unitário

Custos e despesas variáveis unitários

Margem de contribuição

unitária

A 100 15 10 5

B 180 22 15 7

C 120 30 18 12

Fonte: adaptado de MEGLIORINI, 2002, p. 158.

Caso os custos e despesas fixos mensais sejam da ordem de $1.600, qual será o ponto de equilíbrio.

O primeiro passo é calcular a participação relativa de cada produto no total de vendas, igual a 400 (100 + 180 + 120). Portanto:

Produto A: 100/400 = 0,25;Produto B: 180/400 = 0,45;Produto C: 120/400 = 0,30.

Após isso, devemos calcular a margem de contribuição ponderada, que representa a margem de contribuição relativa à participação de cada produto no total de vendas.

Produto A: 0,25 X 5 = 1,25;Produto B: 0,45 X 7 = 3,15;Produto C: 0,30 X 12 = 3,6.

A soma das margens de cada produto ponderadas pela participação nas vendas resulta em uma margem de contribuição ponderada de $8. Portanto, para atingir o ponto de equilíbrio, são necessárias vendas de duzentas unidades, ou:

PE: 1.600 / 8 = 200.

A participação relativa de cada produto será então de:

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Produto A: 0,25 X 200 = 50;Produto B: 0,45 X 200 = 90;Produto C: 0,30 X 200 = 60.

Com os dados de vendas atuais, o ponto de equilíbrio ocorrerá quando forem comercializadas 50 unidades de A, 90 de B e 60 unidades do produto C. Nessas condições a margem de contribuição total seria igual a $1.600, proveniente de: (50 X $5) + (90 X $7) + (60 X $12).

Devemos salientar que outras combinações de vendas gerariam outros pontos de equilíbrio. Portanto esse cálculo deve ser baseado em séries históricas confiáveis.

Bem, esta aula fica aqui encerrada. Espero você para a próxima. Bons estudos!

Resumo

Na aula de hoje aprendemos o significado de ponto de equilíbrio, que nada mais é do que o volume de produção, ou vendas, capaz de cobrir custos e despesas fixos.

Para encontrarmos o ponto de equilíbrio, devemos separar os custos e despesas fixos e dividir o resultado pela margem de contribuição unitária.

Caso exista mais de um produto no mix da empresa, a análise do ponto de equilíbrio é um pouco mais complexa, e devemos identificar a participação de cada um nas vendas e depois calcular a margem de contribuição ponderada. Posteriormente, devemos calcular o volume de cada produto na composição da quantidade de equilíbrio.

Vimos também que existem diversas óticas para análise do ponto de equilíbrio, entre elas, a contábil, a econômica e a financeira.

Atividades

1. Considere um estacionamento de veículos que tem despesas mensais de:

Aluguel: $35.000,Salários: $10.000,Energia Elétrica: $2.000,Prestações: $3.000

Se o preço cobrado por hora é de $5, e o custo variável unitário, relativo ao seguro do veículo, é de $1, qual o ponto de equilíbrio?

2. Uma loja comercializa por mês 6.000 calças, 10.000 camisas e 2.000 casacos. Os preços e custos variáveis unitários são, respectivamente, $30 e $20; $20 e $16; $100 e $50. Sabendo que os custos e despesas fixos são da ordem de $18.000 mensais, qual o mix de vendas que define o ponto de equilíbrio? Faça todos os cálculos para depois conferir com as respostas dadas a seguir.

Respostas:

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1. 12.500 horas

2. 540 calças, 900 camisas e 180 casacos.

Aula 27 - Margem de segurança e alavancagem operacional Objetivos

• Compreender o conceito de margem de segurança.• Entender o conceito de alavancagem operacional.• Aplicar os conceitos às decisões gerenciais.

Introdução

Na aula passada, aprendemos como se calcula o ponto de equilíbrio. Vimos que se trata do volume de produção que torna iguais receita e custos totais. Portanto mostra o nível mínimo de atividade para que uma empresa não incorra em prejuízo.

Hoje iremos abordar um assunto complementar, mostrando situações em que a empresa opera em tal volume que possibilita a ela perder receitas sem incorrer em prejuízo, o que se denomina margem de segurança.

Veremos também situações em que um aumento de vendas irá aumentar mais que proporcionalmente o lucro operacional, ao que se denomina alavancagem operacional. Bastante interessante, não lhe parece? Então vamos lá!!!

Margem de segurança

Já sabemos que o ponto de equilíbrio determina a quantidade que iguala o lucro operacional a 0, ou iguala receita e custo total. Portanto uma empresa que opera no ponto de equilíbrio, ou próxima a ele, não se encontra em uma posição muito confortável.

Por vezes, uma informação útil é saber até que ponto as vendas podem ser reduzidas, sem levar a empresa ao prejuízo. Esse é o conceito de margem de segurança, segundo Megliorini (2002), Martins (1998) e Dubois, Kulpa e Souza (2008).

A margem de segurança operacional pode ser calculada pelas fórmulas a seguir:

MSO (absoluta) = número de unidades vendidas – quantidade no ponto de equilíbrio;

Para ilustrar os 2 conceitos, vamos considerar os dados apresentados a seguir.

Page 53: Aula 16 ate 30

• Preço unitário de venda: $25

• Custos e despesas variáveis unitários: $15

• Custos e despesas fixos: $20.000

• Volume de vendas: 2.500 unidades

Para calcular a margem de segurança, teremos, inicialmente, que estimar o ponto de equilíbrio:

PE = 20.000 / (25 – 15) >>> PE = 2.000 unidades.

MSO (absoluta) = 2.500 – 2.000 = 500 unidades.

MSO (relativa) = 500 / 2.500 = 0,2 = 20%.

Concluímos que a empresa, ao produzir 2.500 unidades, possui margem de segurança absoluta de 500 unidades ou margem de segurança relativa de 20%.

Com isso, podemos dizer que a empresa pode sofrer uma redução de 20% nas vendas e ainda assim não incorrerá em prejuízo, ou o equivalente, pode perder 500 unidades de vendas.

A margem de segurança também pode ser calculada em termos de receita, o que resulta nas mesmas informações, porém em valores monetários. No exemplo anterior, teríamos:

MSO (absoluta) = $62.500 - $50.000 = $12.500

MSO (relativa) = ($62.500 - $50.000) / $62.500 = 0,20.

A margem absoluta de $12.500 corresponde à venda de 500 unidades ao preço unitário de $25. Da mesma forma, a margem de segurança relativa é de 20%.

Alavancagem Operacional

O conceito de alavancagem, segundo o Dicionário UOL Michaelis (www.michaelis.uol.com.br) é: “qualquer barra usada para levantar ou mover volumes pesados”. Trata-se de uma expressão originária da Física, que mostra a capacidade de se elevar um corpo muito pesado com a utilização da referida barra, isto é, melhorar o desempenho de quem deve elevar o corpo em questão.

Em termos financeiros e contábeis, alavancagem significa, segundo Gitman (1997), o uso de ativos ou recursos com custo fixo a fim de aumentar os retornos aos proprietários da empresa. Normalmente guarda relação direta com risco e retorno: quanto maior a alavancagem, maior será o risco e o retorno, e vice-versa.

Vamos imaginar uma empresa que opere com determinado volume de custos e despesas fixos. Nós já sabemos que, se houver um aumento de produção ou de vendas, esses gastos fixos não serão afetados, isto é, eles permanecerão com os mesmos valores, ao

Page 54: Aula 16 ate 30

passo que a receita irá se elevar.

Consequentemente, o lucro operacional, aquele que não considera despesas financeiras nem tributos, irá sofrer um aumento mais que proporcional. É este o sentido da alavancagem: aumentar os resultados da empresa com a máxima utilização dos recursos fixos.

Sendo assim, cabe à empresa avaliar qual o potencial de aumento de lucros diante da sua estrutura fixa.

Especificamente, a alavancagem operacional é o uso dos custos operacionais fixos para aumentar os efeitos das mudanças nas vendas sobre os lucros da empresa antes dos juros e impostos.

Vamos ilustrar com os dados mostrados na TAB. 1

TABELA 1

Demonstração de Resultados

Vendas (unidades) 5.000 10.000 15.000

Receita de vendas 50.000 100.000 150.000

(-) custo operacional variável

25.000 50.000 75.000

(-) custo operacional fixo 25.000 25.000 25.000

LAJIR (lucro operacional) 0 25.000 50.000

GAO -2,0 --- +2,0

Fonte: GITMAN, 1997, p. 422.

Partindo da situação representada por vendas de 10.000 unidades, temos receita de $100.000. O custo variável é de $50.000 e o custo fixo é de $25.000, o que resulta num lucro operacional de $25.000.

Podemos perceber que o aumento de vendas em 50% não provocará nenhuma alteração no custo fixo. Portanto o lucro operacional vai sofrer um aumento em maior proporção do que o aumento de vendas.

O cálculo do tamanho da variação no lucro operacional é feito pelo cálculo do grau de alavancagem operacional.

Segundo Gitman (1987), Megliorini (2002) e Martins (1998), grau de alavancagem operacional (GAO) é a medida numérica, calculado pela fórmula:

Com base nos dados apresentados, iremos calcular o GAO:

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Variação percentual no LAJIR:

Variação percentual nas vendas:

Grau de alavancagem operacional:

De acordo com o resultado, concluímos que um aumento de vendas irá gerar um aumento duas vezes maior no lucro operacional, ou seja, um aumento de 50% nas vendas provoca um aumento de 100% no lucro operacional (LAJIR).

O mesmo efeito existe em se tratando de uma redução de vendas, isto é, caso as vendas sejam reduzidas em 50%, o lucro operacional se reduzirá em 100%.

O GAO pode ser calculado diretamente pela fórmula:

Em que:

Q: quantidade vendida;p: preço de venda unitário;v: custo variável unitário.

Nesse caso, não é preciso calcular as variações proporcionais. De acordo com os dados, teremos:

Q: 10.000;p: (100.000 / 10.000) = 10;v: (50.000 / 10.000) = 5.

Grau de alavancagem operacional:

Portanto avaliar o grau de alavancagem operacional pode se traduzir na tomada de decisão que irá melhorar as atividades da empresa, isto é, alavancar seu desempenho. Ou seja, por meio da identificação do GAO, podem-se buscar alternativas que promovam aumento no nível de produção e vendas.

Devemos ressaltar, entretanto, que a análise refere-se a um nível de vendas específico e, caso a empresa aumente suas vendas, a partir da nova situação o GAO irá se reduzir.

Resumo

Page 56: Aula 16 ate 30

Nesta aula, aprendemos a fazer considerações acerca do ponto de equilíbrio, considerando que, para uma empresa, operar próximo ao equilíbrio caracteriza uma situação de elevado risco. Na medida em que uma pequena redução de vendas pode resultar na ocorrência de prejuízos, torna-se importante saber qual a margem de manobra disponível para a empresa.

Esse conceito é o de margem de segurança operacional, ou mais especificamente, quantas unidades a empresa pode deixar de vender e ainda assim continuar a auferir lucros.

Posteriormente, estudamos o conceito de alavancagem operacional, que mostra qual a variação no lucro operacional, dada uma variação no volume de vendas.

Considerando a existência de custos e despesas fixos, podemos observar que uma variação nas vendas produz variação proporcionalmente maior no lucro operacional, ou seja, podem-se utilizar mais intensamente os recursos fixos da empresa, melhorando assim o desempenho.

Atividades

1. Descreva a importância de se identificar a margem de segurança operacional.2. Como um aumento de vendas pode alavancar o lucro operacional de uma empresa?

Aula 28 - Margem de Contribuição e Formação de Preços Objetivos

• Rever o conceito de margem de contribuição.• Rever o conceito de ponto de equilíbrio.• Avaliar mudanças no ponto de equilíbrio em função de mudanças na margem de contribuição.

Introdução

Na última aula, aprendemos dois conceitos novos relativos à margem de contribuição: margem de segurança operacional e alavancagem operacional.

Vimos como devemos proceder para estimar o volume de venda que a empresa pode perder, sem incorrer em prejuízos e, posteriormente, como estimar a variação potencial no lucro operacional, caso as vendas sejam alteradas.

Pudemos constatar que a existência de recursos fixos permite o aumento mais que proporcional do lucro operacional, a partir de uma elevação no volume de vendas.

Em aulas anteriores, havíamos aprendido os conceitos de margem de contribuição e de ponto de equilíbrio.

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Relembrando, margem de contribuição é a parcela do preço que se acrescenta ao lucro, ou prejuízo, isto é, tudo aquilo acima da parcela necessária para cobrir o custo variável incremental da venda.

MSO (absoluta) = número de unidades vendidas – quantidade no ponto de equilíbrio;

Ponto de equilíbrio é a razão entre custos e despesas fixos pela margem de contribuição unitária. Representa a quantidade que a empresa deve produzir para não incorrer nem em prejuízo nem em lucro.

Vamos agora estudar como alterações no custo e despesas fixos, nos custos variáveis e no preço de venda podem alterar o ponto de equilíbrio.

Alterações de custos e despesas fixos

Caso ocorram variações nos custos e despesas fixos – por exemplo, um aumento –, o ponto de equilíbrio também deverá sofrer um aumento, isto é, para fazer frente a esse novo patamar de gastos fixos, a empresa deverá produzir algumas unidades adicionais.

Chamando de PE1 o ponto de equilíbrio inicial e de PE2 o novo ponto de equilíbrio, determinado por uma variação nos custos e despesas fixos, teríamos a seguinte situação, conforme Martins (1998):

PE2 = PE1 + (PE1 X DF)

Em que:

DF é a variação nos custos e despesas fixos.

Pela fórmula, podemos perceber que a alteração no ponto de equilíbrio será exatamente igual à variação nos custos e despesas fixos.

Vejamos um exemplo. Vamos supor uma empresa que opere com as seguintes condições:

Custo e despesas fixos: $20.000

Custo variável unitário: $10

Preço unitário: $20.

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O ponto de equilíbrio é:

Caso ocorra um aumento de 25% nos custos e despesas fixos, passando para $25.000, o novo ponto de equilíbrio seria:

O acréscimo de 500 unidades no ponto de equilíbrio é proporcionalmente idêntico ao acréscimo verificado nos custos e despesas fixos, comprovando a afirmativa inicial de que os aumentos são exatamente iguais.

Alterações de custos e despesas variáveis

Se a empresa enfrentar alterações nos custos e despesas variáveis, a margem de contribuição também sofrerá alterações e, consequentemente, o ponto de equilíbrio irá variar.

Imaginando um aumento de custos e despesas variáveis, iremos observar uma redução na margem de contribuição, e o ponto de equilíbrio sofrerá um aumento, ou seja, com menor margem de contribuição, mais unidades deverão ser produzidas para que a empresa alcance lucro operacional 0.

Chamando de PE1 o ponto de equilíbrio inicial e de PE2 o novo ponto de equilíbrio, determinado por uma variação nos custos e despesas variáveis, teríamos a seguinte situação, conforme Martins (1998):

Em que:

mgc1 é a margem de contribuição inicial;mgc2 é a margem de contribuição depois da alteração de custos e despesas variáveis.

Considerando o exemplo anterior, vamos supor um aumento de 20% no custo variável unitário, passando esse valor para $12.

O ponto de equilíbrio inicial era de 2.000 unidades. O novo ponto de equilíbrio será:

Ou seja, o aumento no ponto de equilíbrio será de 25% (de 2.000 para 2.500), idêntico ao quanto a margem de contribuição inicial era superior à final, respectivamente {(10/8)-1}.

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Alterações de preço de venda

Caso o preço de venda seja alterado, o efeito será do mesmo tipo daquele observado na alteração de custos e despesas fixos. Por exemplo, caso o preço seja elevado, a margem de contribuição também aumentará, provocando redução no ponto de equilíbrio.

Suponhamos que o preço, considerando os valores do exemplo anterior, tenha se elevado em 50%, passando para $30.

O ponto de equilíbrio nessas condições será:

Portanto a redução no ponto de equilíbrio (50%) será idêntica à diferença entre a margem final e inicial, respectivamente (de $20 para $10).

Dos exemplos anteriores, podemos observar que, quanto maior for a margem de contribuição de um produto, menor será a mudança no ponto de equilíbrio, dada uma variação de preços, conforme ilustrado na TAB. 1.

TABELA 1

Margem de contribuição emudanças no preço e no ponto de equilíbrio

Produto A Produto B

Percentual da fixação de preço respondido por:

Custos variáveis 80 20

Custos fixos 10 70

Margem de lucro líquido 10 10

Margem de contribuição 20 80

Mudança no volume do ponto de equilíbrio (%) para:

5% de redução no preço +33,3 +6,7

10% de redução no preço +100,0 +14,3

20% de redução no preço ¥ +33,3

5% de aumento no preço -20,0 -5,9

10% de aumento no preço -33,3 -11,1

20% de aumento no preço -50,0 -20,0

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Fonte: NAGLE e HOLDEN, 2003, p. 16.

Os dois produtos possuem o mesmo lucro líquido sobre as vendas, 10%, porém margens de contribuição diferentes, 20% e 80%, respectivamente.

Mudanças de preços produzirão efeitos diferentes no ponto de equilíbrio para os dois produtos, devido à diferença nas margens de contribuição.

Para o produto A, uma redução de preços de $5 acarretaria uma queda na margem de contribuição para $15. Sendo assim, para alcançar $20 de margem de contribuição, seria necessário um aumento de 33,34% nas vendas ((20-15)/15).

Em se tratando do produto B, uma redução de 5% no preço reduziria a margem de contribuição para $75. Para se alcançar 80, seria necessário um aumento de vendas da ordem de 6,67% ((80-75)/75).

Em síntese, no caso do produto A, com baixa margem de contribuição, seria necessário um aumento de 33% nas vendas para compensar uma redução de 5% no preço, ao passo que, em relação ao produto B, seria necessário um crescimento de apenas 6,7% das vendas, para a mesma variação de preço.

Repetindo o raciocínio para as demais variações de preço sugeridas, encontramos os dados apresentados na TAB. 1. Devido à maior margem de contribuição, o aumento de vendas necessário ao produto B será sempre bastante inferior ao necessitado pelo produto A, para os casos de redução de preço. Porém, caso os preços aumentem, o inverso ocorre, e a redução de vendas para se retornar à margem de contribuição antiga será menor para o produto B do que para o A.

Resumindo, margens de contribuição elevadas favorecem a política de redução de preços, ao permitir a conquista do ponto de equilíbrio mais facilmente.

Análise financeira

A análise do ponto de equilíbrio incremental mostra-se útil para avaliar as consequências de uma mudança de preços, levando em consideração possíveis mudanças de custos.

Exemplo: Westside Manufacturing (NAGLE e HOLDEN, 2003)

Vendas 4.000 unidadesPreços no atacado $10,00 / unidadeReceita total $40.000Custos variáveis $5,50 / unidadeCustos fixos $15.000Margem de contribuição unitária $4,50Margem de contribuição total $18.000

1 Redução de preço de 5%

Com o preço caindo para $9,50, a mudança no ponto de equilíbrio será:

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Observamos que uma redução de 5% no preço de venda determinou uma variação positiva de 12,5% no ponto de equilíbrio, o que é igual à diferença entre a margem final e a margem inicial, ou seja, de $4 para $4,5 {(4-4,5)/4.

2 Elevação do custo fixo

Caso os custos fixos se elevem para $18.000, teremos um aumento no ponto de equilíbrio de:

A variação no ponto de equilíbrio é de 20% (de 3.333,34 para 4.000), igual à variação no custo fixo (de 15.000 para 18.000).

Como mudanças no preço, nos custos e despesas variáveis e nos custos e despesas fixos poderão causar diversos impactos no ponto de equilíbrio, torna-se útil estimar cenários com possíveis variações no lucro.

Resumo

Vimos hoje cálculos relacionados a variações de preços, custos e despesas, fixos e variáveis, sobre o ponto de equilíbrio. As variações de custos e despesas fixos provocam variações de mesma magnitude no ponto de equilíbrio. As variações de preço ou de custos e despesas variáveis provocam variações na margem de contribuição, causando o mesmo tipo de impacto no ponto de equilíbrio.

Caso a margem de contribuição aumente, haverá redução no ponto de equilíbrio; caso se reduza, haverá aumento nesse ponto. A proporção das possíveis variações do ponto de equilíbrio será definida pela relação entre a margem de contribuição inicial e a final.

Atividades

1. Explique como variações de custos e despesas fixos influenciam o ponto de equilíbrio.

2. Explique como variações de custos e despesas variáveis influenciam o ponto de equilíbrio.

3. Explique como variações de preço influenciam o ponto de equilíbrio.

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4. Explique qual a relação entre a magnitude da margem de contribuição e alterações no ponto de equilíbrio.

Aula 29 - Tributos e formação de preços Objetivos

• Classificar tributos quanto à incidência e cumulatividade.• Conhecer tributos incidentes sobre vendas.• Analisar como os tributos devem ser incorporados aos preços.

Introdução

A análise de custos fornece informações de elevada importância para a política de formação de preços de uma empresa. Vimos várias alternativas de apuração do custo ao longo das nossas aulas.

A decisão de fixar preço com base na política do custo mais adicional (cost plus) é bastante comum porque sugere uma atitude de prudência, na medida em que todos os custos seriam cobertos. Porém a determinação de custos unitários depende da determinação do preço e, consequentemente, da quantidade a ser vendida, já que muitos custos são fixos e, portanto, variam de acordo com o volume produzido. Dessa maneira, o preço deve ser determinado com base numa quantidade pré-estabelecida, que vai causar impactos no custo, ou seja, parte-se de uma situação definida, que pode não ocorrer. Sendo assim, o preço causa impactos na quantidade, que por sua vez causa impactos no custo, invalidando completamente a suposta prudência.

Mas não somente os custos merecem atenção quando da escolha do preço de venda de um produto. Devemos levar em consideração aspectos relacionados à demanda de mercado e também ao posicionamento dos concorrentes.

Aspectos da fixação de preços

A fixação de preços orientada para o consumidor, apesar de dirigida para o mercado, também gera enganos, na medida em que visa maximizar vendas, quando deveria determinar o preço que maximiza o lucro. O problema surge porque consumidores muitas vezes não conseguem avaliar corretamente o valor que dão a cada produto, já que tentam esconder suas reais intenções ou desconhecem o produto, provocando o estabelecimento de preços que não refletem precisamente o valor dado à mercadoria. Outra situação bastante comum é a de fixação de preços com descontos, visando simplesmente aumentar o volume de vendas, o que muitas vezes é confundido com aumento de lucros.

A determinação de preços baseada na concorrência também acarreta enganos, porque a empresa muitas vezes procura estabelecer preços nos mesmos níveis dos competidores, deixando de lado a percepção de valor, com o único intuito de aumentar a sua participação no mercado. Essa medida costuma produzir resultados somente no curto

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prazo, sendo insustentável no longo prazo, já que a reação dos concorrentes será direcionada para o mesmo sentido.

Portanto, a estratégia de preços baseada no valor deve procurar maximizar a diferença entre o valor criado para o consumidor e o custo do produto para a firma. O objetivo é agregar ao lucro parte considerável do valor criado.

Essas duas avaliações ultrapassam o escopo do nosso trabalho, por isso não serão abordados, mas sua importância fica aqui registrada.

Outro aspecto que requer especial atenção refere-se à incidência de tributos sobre as vendas. Vamos tecer alguns comentários a esse respeito inicialmente.

O Brasil é um país que possui uma das mais altas cargas tributárias do mundo, em torno de 38% do PIB, segundo diversas fontes, entre mídia impressa, televisiva, analistas do setor, estudos setoriais e agências governamentais. Dados desse tipo podem ser consultados em “Conjuntura Econômica” e no site www.ipeadata.gov.br, entre outros.

Por ser muito elevada e também pelo excessivo número de tributos incidentes sobre a produção, a formação de preços deve ser feita com a inclusão dos valores que deverão ser recolhidos aos cofres públicos, pois, caso contrário, corremos o risco de inviabilizar uma atividade econômica, ainda que do ponto de vista operacional ela apresente padrões de eficiência adequados para o setor em que atua.

Vamos inicialmente apresentar algumas distinções relevantes sobre tributos.

• Tributos diretos: o responsável pelo pagamento é também responsável pelo recolhimento.

• Tributos indiretos: o responsável pelo pagamento não o é pelo recolhimento.

• Tributos cumulativos: não gera crédito tributário, isto é, aquilo que foi pago numa operação (por exemplo, aquisição de matéria-prima) não dá direito a dedução na operação de venda.

• Tributos não-cumulativos: gera crédito tributário - o que foi pago em uma operação permite dedução na operação subseqüente.

Vejamos como ocorre a cumulatividade dos tributos, conforme mostrado na FIG. 1.

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FIGURA 1- Cumulatividade de Impostos.Fonte: BRUNI e FAMÁ, 2002, p. 291. No painel superior, impostos cumulativos, observamos que a cada operação os impostos são cobrados e não geram créditos, resultando em um total de 31,5% sobre o preço de venda. No painel inferior, impostos não-cumulativos, os tributos geram créditos, portanto o que foi recolhido em uma operação poderá ser descontado na operação seguinte, resultando num valor menor sobre o preço final.

Descreveremos a seguir os principais impostos incidentes sobre as operações de vendas no país. São todos eles indiretos, pois quem arca com o pagamento é o consumidor, mas quem é responsável pelo recolhimento é o vendedor. Obviamente, estamos considerando que as empresas incluem tais tributos nos seus respectivos preços de venda.

Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI): imposto federal, cujo fato gerador é a saída de produto do estabelecimento industrial. Incide sobre o preço de venda, por fora, incluindo outros tributos. Por exemplo, se o preço de um produto, incluindo ICMS, é de $100, e a alíquota do IPI de 10%, o IPI será $10, e o preço final $110.

Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação. (ICMS): imposto estadual que tem como fato gerador, entre outros, a venda de mercadorias. É não cumulativo e incide sobre o preço de venda, por dentro. Por exemplo, com alíquota de 18%, se o preço sem ICMS for igual a $100, o preço com ICMS deverá ser de $121,95, ou seja, $100 / (1-0,18) = $121,95. O ICMS devido será de $21,95, ou $121,95 X 18%.

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Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS): tributo federal que incide sobre o preço de venda, excluído o IPI. Não gera créditos. Parte do tributo deverá ser recolhida antecipadamente e depois compensada. A empresa recolherá no mês subseqüente 1% e posteriormente mais 2%, sobre o preço de venda.

Programa de Integração Social (PIS): tributo federal que incide sobre o faturamento, também não gera crédito. A empresa recolherá 0,65% do valor faturado no mês.

Diante dessas informações, devemos avaliar com especial atenção a política de preços da empresa.

Suponhamos que o preço sem tributos deva ser de $10, conforme apontam os registros de custos e metas de lucratividade. Não iremos verificar se o custo foi apurado por absorção ou custeio variável; não nos interessa esse aspecto. Por ora queremos apenas descrever o tratamento tributário aplicado ao preço.

As alíquotas são as seguintes:

IPI: 10%ICMS: 18%COFINS: 3%PIS: 0,65%

Para efetivamente receber $10 pelo produto, a empresa deve fazer o seguinte raciocínio:

O preço de venda deveria ser o mostrado na TAB.1.

TABELA 1

Formação de preço de vendas - Tributos

Item Valor ($)

Custo dos produtos 10

Valor do ICMS 2,20

Valor com ICMS ($10/0,82) 12,20

Valor do IPI (0,1 X $12,20) 1,22

Valor do PIS (0,0065 X $12,20 0,08

Valor da COFINS (0,03 X 12,20) 0,37

Valor total da operação 13,87

Fonte: adaptado de Bruni e FAMÁ, 2002, p. 296.

Se $10 constituem o valor monetário que a empresa deseja receber, considerando que ele inclui os custos e também sua margem de lucro, o preço final deverá ser igual a $13,87, conforme descrito a seguir:

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O ICMS será de $2,20, pois corresponde a 18% de $12,20;O valor do IPI será de $1,22, ou 10% de $12,20.O valor do PIS será de $0,08, igual a 0,65% de $12,20.O valor da COFINS será de $0,37, ou 3% de $12,20.

O cálculo é um pouco complexo, pois o ICMS é cobrado por dentro, isto é, o valor final já o contempla, ao passo que o IPI, PIS e COFINS são cobrados por fora, isto é, são acrescidos ao valor. Além disso, todos eles incidem sobre o valor com ICMS.

De qualquer maneira, ao avaliar os resultados, devemos considerar o faturamento líquido, e não o faturamento bruto, aquele que será alcançado com o valor total da operação.

No exemplo anterior, a empresa receberia $13,87 por unidade vendida de produto, mas para seus cofres restariam apenas $10, pois os valores recolhidos ao fisco seriam de $3,87.

Por estarmos falando em tributos, não podemos nos esquecer de outros, que não incidem sobre vendas, mas provocam impactos nos resultados das empresas.

Imposto de Renda sobre Pessoa Jurídica (IRPJ): tributo federal, incidente sobre o lucro das empresas. É um imposto direto.

Contribuição Social sobre o Lucro (CSSL): tributo federal, incidente sobre o lucro das empresas. É um imposto direto.

Imposto sobre Propriedade Territorial Urbana (IPTU): imposto municipal que incide sobre a propriedade de imóveis urbanos. É um imposto direto.

Todos esses tributos, além de diversos outros incidentes sobre propriedade, consumo, importação, exportação, transações financeiras, caracterizam desembolsos que as empresas deverão fazer, portanto reduzem seus ganhos.

Assim, ao fixar o preço, além de descontar diretamente aqueles que incidem sobre vendas, toda essa vasta gama de tributos deve ser levada em consideração, respeitando-se os preceitos legais.

Além das considerações tributárias, a empresa, ao definir seu preço, deve também avaliar qual o lucro desejado.

Partindo-se dessa premissa, temos condições de avaliar qual o preço mais adequado para cada produto, respeitando ainda outros aspectos, quais sejam, demanda de mercado e posicionamento dos concorrentes.

Já vimos que a aplicação dos custos indiretos de fabricação aos produtos pode induzir à tomada de decisões equivocada, pelo grau de arbitrariedade contido no rateio. Porém, em certos casos, o custeio por absorção pode fornecer informações confiáveis para a formação de preços. O que devemos fazer é avaliar, por meio de simulações, qual a confiabilidade do método.

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Por outro lado, o custeio direto é bem útil para essa finalidade, pois não considera os custos fixos, mas sim, avalia quanto cada produto consumiu diretamente na sua produção. O custo fixo será relevante para averiguar se a margem de contribuição total é suficiente para cobrir o total de custos e despesas, fixos e variáveis.

Em síntese, é muito importante avaliar a incidência de tributos para fins de precificação, pois, caso contrário, corremos o risco de fazer a projeção com base apenas no custo da produção, sem considerarmos que parte do valor recebido não será apropriada pela empresa.

Bem, por hoje, chega de estudos desta matéria.

Encontramo-nos na próxima aula. Até breve.

Resumo

Hoje estudamos questões voltadas para a tributação incidente sobre vendas e sobre resultados das empresas. Vimos inicialmente algumas classificações relativas aos tributos e também quais são os tributos incidentes sobre as vendas.

Depois, aprendemos como os tributos devem ser incorporados aos preços, ilustrando aqueles que têm seu valor acrescido ao preço e aqueles que têm seu valor calculado no preço final.

Posteriormente, apresentamos outros impostos que deverão ser recolhidos pela empresa, os quais devem ser considerados, especialmente quando do planejamento e determinação do lucro esperado.

Atividades

1. Descreva as diferenças entre tributos diretos e indiretos.

2. Explique a cumulatividade de tributos.

3. Explique a maneira como os tributos sobre vendas devem ser incorporados ao preço dos produtos.

Aula 30 - Estudos de caso Objetivos

• Rever os conceitos de Análise de Custos• Analisar a aplicação de custos em contextos gerenciais

Introdução

Durante algum tempo estivemos envolvidos com Análise de Custos. Aprendemos qual a importância da disciplina, suas origens e os termos mais comuns.

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Posteriormente, vimos alguns critérios de rateio, as suas respectivas metodologias de cálculo e suas vantagens e limitações.

Mais adiante, estudamos aplicações gerenciais da Análise de Custo, as quais são de extrema relevância para as empresas por sua contribuição na tomada de decisões.

Hoje você irá rever todo o conteúdo estudado por meio de estudo de caso. Para tanto, você deve ler atenciosamente as duas reportagens transcritas logo a seguir. Ao final, serão apresentadas questões para compreensão dos textos. Boa leitura.

Estudos de Caso

ESPADACHINS DOS CUSTOSAs armas dos consultores para aumentar ainda mais o lucro dos bancosGeraldo Magella - Isto É Dinheiro 312 - Quarta-feira, 20 de Agosto de 2003

Disponível em <www.istoedinheiro.com.br>

A espada era a arma usada pelos mosqueteiros Athos, Porthos, Aramis e D’Artagnan, personagens criados pelo escritor francês Alexandre Dumas, para cumprir as ordens do rei. Hoje, na guerra corporativa, as armas são outras. Em São Paulo, quatro mosqueteiros modernos travam diariamente uma batalha contra números, planilhas e balanços. O objetivo dessa turma é aumentar, ainda mais, os lucros dos bancos brasileiros, um setor tido como modelo de eficiência e rentabilidade.

Para levar a missão adiante, esses profissionais duelam contra custos desnecessários. Os inimigos em questão são os gastos exagerados acumulados pelas instituições financeiras durante décadas de inflação. Não é raro, por exemplo, encontrar bancos com gráficas próprias e uma enorme rede de prédios e agências. São despesas como essas que os espadachins da Solving International, consultoria francesa há quatro anos radicada no Brasil, procuram cortar. “Não faz nenhum sentido banco ter gráfica, padaria ou agência própria”, defende o belga Martin Bernard, responsável pelo escritório da Solving no Brasil. “É bem mais lucrativo aplicar esses recursos no mercado, seja comprando títulos públicos ou emprestando aos clientes.”

Foi com esse argumento que os consultores da Solving convenceram executivos de bancos a vender suas redes de agências. A fórmula escolhida por eles foi o leilão de imóveis. Para atrair investidores, o banco garante um aluguel por uma parcela do valor do imóvel e prazos de locação de até dez anos. Bons de conta, os executivos do sistema financeiro logo perceberam que se tratava de um negócio lucrativo. “O custo do aluguel médio é de 11,5% sobre o valor do imóvel. Se investisse esse dinheiro em papel do governo, que paga a taxa básica, o ganho já seria de cerca de 13%”, calcula Antonio Bento Mendonça Neto, vice-presidente da Solving. Resultado: de junho do ano passado, quando o Bradesco realizou a primeira operação, até o mês passado, foram 1.238 agências vendidas no País. Itaú, Unibanco, Santander-Banespa, Real ABN-Amro e Mercantil do Brasil também fizeram seus leilões. No total, foi arrecadado mais de R$ 1,5 bilhão.

Agora, a Solving trabalha para convencer os bancos a vender sua rede de caixas automáticos, os chamados ATMs. Diferentemente de outros países, a maioria dos bancos brasileiros tem a sua própria rede, não compartilhando equipamentos. Somente o

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Banco do Brasil tem 34.131 ATMs. “Só esse número é maior que o total de máquinas em operação em toda Alemanha”, compara Sérgio Reis, diretor da Solving. Isso acaba gerando custos desnecessários, como instalação e manutenção dos equipamentos. A idéia da Solving é que os bancos vendam essas estruturas para terceiros, que administrariam as redes como um novo negócio. Até o momento, nenhuma instituição financeira ofereceu sua rede no mercado. Mas já há interessados. “Quando algum banco anunciar que está vendendo a sua rede, não faltarão compradores”, diz um executivo do setor.

Sem agências ou redes próprias, o que mais virá de novidade no sistema financeiro? “No futuro teremos as agências sem marca, que atenderão a clientes de vários bancos”, responde Luiz Felipe Ferlauto, diretor da Solving. Segundo o consultor, essa nova fórmula de atendimento bancário poderá ser implantada com a unificação de serviços comuns aos bancos, o chamado back office. Com isso, serviços como pagamento e processamento de contas em geral ficariam de fora da estrutura principal dos bancos, que concentrariam seus esforços e funcionários na venda de produtos e na prestação de serviços financeiros aos clientes, segmentos bem mais lucrativos. Pelos cálculos da Solving, uma unificação como essa geraria uma redução de até 30% dos custos dos bancos. Seria a prova de que o famoso lema dos Três Mosqueteiros – “Um por todos e todos por um” – também é válido no mercado financeiro.

O novo brinde da AMBEVA cervejaria brasileira lança ADRs no mercado americano e parte definitivamente

para se tornar uma multinacional verde-amarelaJoaquim Castanheira - Isto É Dinheiro 160 - 15/09/2000

Disponível em <www.istoedinheiro.com.br>

Sexta-feira, 15 de setembro de 2000, 16h30. O co-presidente do Conselho de Administração da Ambev, Marcel Telles, atravessa o salão principal da Bolsa de Valores de Nova York e toca um sino, o tradicional e centenário marco de encerramento do pregão. As badaladas também sinalizavam a conclusão do lançamento de American Depositary Receipts (ADRs), no valor de R$ 3,8 bilhões. A Brahma já havia colocado esses papéis no mercado e, com a fusão, era necessário substituí-los pelos da Ambev.

Foi um dia inesquecível para Telles por pelo menos duas razões. Primeira: ao seu lado, durante a cerimônia na Bolsa de Nova York, estava Giselle Bündchen, a supertop model brasileira, uma das mais belas mulheres do mundo. Segunda: com o lançamento, a Ambev dava o passo decisivo para concretizar aquele que foi o principal argumento para a união dos dois antigos adversários, a criação da maior multinacional verde-amarela. “Em uma economia cada vez mais globalizada, o grande trunfo das empresas encontra-se na presença e no posicionamento global”, diz Telles.

Wall Street, centro financeiro do capitalismo mundial, viveu um dia brasileiro. A rua estava decorada com plantas naturais representando a floresta amazônica. Desde as 11h30, analistas, operadores e financistas foram agraciados com cerca de 6 mil latinhas do Guaraná Antarctica. Longe dali, da sede da Ambev, no sétimo andar do Centro Empresarial de São Paulo, Magim Rodriguez, o presidente da empresa, acompanhava atenciosamente o desenrolar do evento. Afinal, enquanto Telles atirava-se aos contatos com autoridades, analistas, jornalistas, Rodriguez cumpria um rigoroso dever de casa.

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Cabia a ele forjar a união em prazo recorde e manter a Ambev como exemplo de empresa eficiente. Os dois objetivos parecem ter sido atingidos. Seis meses após a aprovação pelo Cade, em 30 de março, todos os processos administrativos e industriais da Brahma e da Antarctica estão unificados. Das linhas de produção das 50 fábricas, sairão produtos de todas as marcas comercializadas pela Ambev. A linha de refrigerantes e cervejas da empresa será drasticamente reduzida. Se você não conhece marcas como Kass e Pop, não se preocupe: em breve, elas deixarão de existir. O número de fábricas de refrigerantes também passará pela tesoura. A “limpeza”, como diz Rodriguez, é necessária para que a Ambev não perca a posição conquistada pela Brahma. “Apenas uma cervejaria no mundo, a South Africa Brewery, tem custos menores do que os nossos”, diz Rodriguez. “Somos mais eficientes do que Budweiser e Heineken. Em 2001, seremos os primeiros”, afirma ele.

Esse é um terreno no qual Rodriguez movimenta-se com facilidade e satisfação. “Sou fanático por custos.” O raciocínio é simples, segundo ele. Das variáveis que afetam o resultado final, apenas os custos estão inteiramente sob controle da empresa. As receitas dependem do humor (e do bolso) dos consumidores. Os ganhos financeiros estão ligados ao comportamento dos juros. “Por isso, nossa maior vantagem são os custos”, diz ele. No caso da Brahma, o sinal amarelo acendeu-se em 1998. Na ocasião, depois de 8 anos consecutivos recebendo bônus, os funcionários não viram a cor do dinheiro, pois o lucro da companhia ficou abaixo da meta preestabelecida. Uma análise feita pelos executivos da companhia revelou que os custos fixos eram o grande ralo pelo qual o dinheiro escorria. “Não sabíamos exatamente como eram compostas nossos gastos”, diz Daniela D’ippolito, especialista em orçamento da Ambev. “Durante anos, simplesmente aplicávamos um índice de redução no orçamento do ano anterior, sem saber se o valor de cada despesa correspondia à realidade.”

A solução seria começar tudo a partir do zero, ou seja, estudar as despesas uma por uma, para identificar os possíveis excessos (ou carências) nos gastos de cada item. Só então o orçamento era elaborado. Essa metodologia foi batizada de Orçamento Base Zero, ou OBZ. É verdade que a idéia foi recebida internamente com algum ceticismo ou ironia – os funcionários traduziam OBZ como Outro Bônus Zero. As brincadeiras acabaram assim que o orçamento de 1999 saiu do papel. A economia nos custos fixos atingiu R$ 152 milhões em relação a 1998. O desafio, então, foi manter a tendência de queda livre nos gastos. “Investimos em duas frentes, a motivacional e a técnica”, diz Rodriguez.

Um ingrediente fundamental na motivação é o programa de remuneração variável. Todos os funcionários da companhia têm metas a cumprir. Caso sejam atingidas recebem uma bolada extra no final de cada ano. Em 1999, o pessoal administrativo, por exemplo, recebeu bônus anuais de 7 a 14 salários. “Sem a perspectiva de ganho financeiro, não há redução de custos que seja bem-sucedida”, diz Rodriguez. Ao mesmo tempo, Rodriguez e sua equipe criaram um sistema para controle dos custos fixos. As despesas foram divididas em 10 grandes “pacotes”: manutenção, gente, informática, etc.

Cada um desses grupos foi entregue a um “dono”, sempre um diretor corporativo. Além de suas atividades normais, ele seria o responsável, ao longo do ano, pelo controle, acompanhamento e principalmente redução nos valores de cada pacote. Para ajudá-lo na tarefa, cada unidade da empresa (industrial, comercial ou de distribuição) elegia um

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dono local de pacote. “São os xerifes dos custos fixos” diz Daniela. Há resultados surpreendentes. Na fábrica de Jacareí, em São Paulo, os gastos fixos caíram de R$ 29 milhões em 1999 para menos de R$ 19 milhões este ano. “Desenvolvemos dezenas de projetos para reduzir custos”, diz Olavo Alff, gerente da unidade (veja exemplos abaixo).

NOVO EQUIPAMENTOAutor: Adriano Leite

Solução: encontrou fornecedor local brasileiro para substituir a importação da peça Came.

Economia anual: R$ 48.850,00

GASTOS COM CAFÉAutor: Eduardo Noronha

Solução: comprar o pó de café diretamente do fornecedor, e não da empresa terceirizadaEconomia anual: R$ 28.800,00

Essa revolução aconteceu em um momento crucial na vida da Brahma – justamente quando a empresa estava incorporando sua histórica rival, a Antarctica. “Não podíamos deixar a companhia cair na paralisia enquanto trabalhávamos na fusão”, diz Adílson Miguel, responsável pela união das duas companhias. Por isso, apenas um grupo reduzido de funcionários das antigas concorrentes foi designado para construir a ponte em direção à Ambev.

Reunidos em uma grande sala na sede da Antarctica, um antigo prédio no bairro paulistano da Moóca, cerca de 60 profissionais estudaram 300 processos administrativos, comerciais e industriais das duas companhias. Em cada grupo de trabalho havia um representante da Antarctica e um da Brahma. “A Antarctica tinha grande vantagem, pois, ao contrário da Brahma, era usuária do SAP, o software de gestão adotado pela Ambev”, diz ele. Não se pode falar o mesmo sobre o comando da nova companhia. Nele predomina claramente a herança da Brahma – dos 14 diretores corporativos, 13 pertenciam aos seus quadros. O outro foi recrutado no mercado. Nas demais funções gerenciais, houve mais equilíbrio. Cerca de 40% são remanescentes da Antarctica. O sigilo foi absoluto. Havia um crachá especial para o ingresso na War Room, como foi batizada a sala da Moóca. Todos os participantes utilizavam uma única impressora e uma só copiadora, ambas instaladas na sala dos quatro coordenadores da fusão. O papel utilizado nos equipamentos e nas reuniões era cor de rosa. “Assim era mais difícil que atas e documentos referentes ao trabalho circulassem fora da sala”, diz Miguel. Com lição de casa feita, a Ambev estava pronta para ir a Nova York, promover a troca de ADRs e desencadear o processo de internacionalização. As próximas ações estão definidas:

• Até o final do ano, a empresa lançará um bônus de cerca de US$ 300 milhões nos Estados Unidos e na Europa. O dinheiro servirá principalmente para reduzir a dívida de curto prazo;

• Em alguns meses, uma cidade “tipicamente americana”, nas palavras de Rodriguez, será o laboratório de testes para o lançamento do guaraná Antarctica no mercado americano. Até 2001, a Ambev espera colocar o refrigerante em bares e supermercados de 175 países. Para isso, contará com a rede de distribuição da Pepsi;

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• Aquisições de empresas em outros países devem se concretizar. A mais eminente é a compra da segunda cervejaria do Uruguai em parceria com o grupo Danone. Outros mercados, como o Chile, estão sendo analisados com carinho.

São os planos mais ambiciosos desde que Antarctica e Brahma nasceram no século 19. Nos 100 anos seguintes, as duas consumiram suas forças se digladiando no mercado. Agora, juntas, procuram garantir a sobrevivência em uma economia cuja tônica é a globalização. O lançamento das ADRs parece ter sido o um decisivo e bem-sucedido início de trabalhos.

Atividades

1. Por que os executivos da Solving International sugeriram a venda de agências próprias dos Bancos? Que tipo de custos procuravam reduzir?

2. Explique, sob a ótica do Custeio Variável, a estratégia de vender ativos fixos, arcar com despesas de aluguel e investir no mercado financeiro.

3. Caso ocorra a venda de caixas automáticos, que tipo de custo poderia sofrer redução?

4. Por que razão o Presidente da AMBEV preocupa-se tanto com controle de custos?

5. Descreva a estratégia de redução de custos que foi adotada pela AMBEV.

6. Como a fusão Antarctica-Brahma influenciou a redução de custos?

Espero que você tenha aprendido bastante com a matéria. Nunca se esqueça de avaliar criteriosamente os custos e lembre-se também de considerar situações alternativas, que podem gerar melhores resultados, ainda que à primeira vista a decisão pareça inadequada.

Boa sorte em seus estudos.José Marcos.

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