Aula 3 proust

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PROST, Antoine. Doze lições sobre a história. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. Os tempos da história Profa. Viviane Borges

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PROST, Antoine. Doze lições sobre a história. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

Os tempos da história

Profa. Viviane Borges

A diacronia histórica se apresenta no momento de se estabelecerem os processos de mudanças estruturais, pois se a estrutura muda, de uma situação anterior para a atual, o tempo não pode ser ignorado, por isso a estrutura é também diacrônica.

Idéia de evolução da história no tempo.

O que distingue o trabalho do historiador: sua dimensão diacrônica

Claude Lévi-Strauss – importância das datas para a história.

“Não há história das datas”

Método maçante

Sem datas a história deixa de existir “já que sua verdadeira originalidade e especificidade encontram-se na apreensão da relação entre um antes e um depois, a qual seria votada a se dissolver-se se – pelo menos virtualmente – seus termos não pudessem ser datados”.

A questão do historiador é formulada do presente em relação ao passado.

A história faz-se a partir do tempo: um tempo complexo, construído e multifacetado.

Pergunta:“O que é esse tempo caracterizado pelo fato de que, ao servir-se dele, a história simultaneamente o constrói, além de constituir uma de suas particularidades fundamentais?

2)Um tempo social3) A unificação do tempo: a era cristã4) Um tempo orientado5) Tempo, história e memória6) O trabalho sobre o tempo. A periodização7) A pluralidade do tempo

Um tempo social

Tempo das história

das coletividades, sociedades, Estados e

civilizações.

Serve de referência comum aos membros de um grupo.

Não é o tempo físico, nem o psicológico, nem o dos

astros ou relógios...

Não é formado por uma infinidade

de fatos dispostos numa

linha reta

O tempo da história está incorporado, de alguma forma, às questões, aos documentos e aos fatos; é a própria substância da história.

Ao estudar os homens que vivem em sociedade a história se serve de um tempo social, ou seja, de referências temporais que são comuns aos membros da mesma sociedade.

Mas devemos ficar atentos:“o tempo não é o mesmo para todas as sociedades: para os historiadores atuais, é o de nossa sociedade ocidental contemporânea”.

O tempo de nossa história está ordenado, ou seja, tem uma origem e um sentido.

Sua primeira função – colocar em ordem os fatos, permitindo classificá-los de maneira corrente, comum.

Permite localizá-los nos tempo.

Unificação de nosso tempo – um acontecimento fundador – o nascimento de Cristo – independentemente das críticas à ocorrência de tal acontecimento.

Cristianismo – predominante somente a partir do séc. XI

Imposta ao mundo como referência comum, pela expansão dos impérios coloniais – espanhol, holandês, frances, britânico.

Conquista lenta e incompleta.

Com a generalização – abandono de uma concepção circular de tempo.

Razões para a unificação do tempo cristão:

3)Vontade de encontrar um concordância entre os diversos tempos – lenta tomada de consciência da unidade da humanidade, emergência de uma história universal.

Papel decisivo dos historiadores: necessidade de historiadores para fazer emergir a idéia de comunidade formada por toda a humanidade.

2) Necessidade de fazer coincidir o calendário solar, herdado dos Romanos, com o calendário lunar, oriundo do judaísmo, e que organizava a vida litúrgica.

“ERA” – fornece sentido, uma moldura indispensável.

Mas ainda continua sendo o tempo de Deus e não dos homens.

A noção de história como narrativa trazida pelo cristianismo, é fundamental à narrativa causal da história.

2) Um tempo orientado

- Cristandade, até o Renascimento – o tempo dos homens era o da expectativa do retorno de Deus.

Deus era o único senhor do tempo.

Tempo sem transformações

-Tempo moderno – pleno de novidades, que nuca se repete

Com a Rev. Francesa temos a aceleração do tempo – a percepção moderna do tempo passa a ser uma evidência.

O futuro estava diferente – melhor.

2ª parte – A construção do tempo pela história

4) TEMPO, HISTÓRIA E MEMÓRIA

Para identificar as particularidades do tempo dos historiadores, é esclarecedor confrontá-las com o tempo de nossos contemporâneos.

O tempo da história e a temporalidade moderna constituem produtos da história.

A comparação entre passado e presente supõe que o tempo da história seja objetivado.

Visto do presente é um tempo já decorrido que pode ser percorrido ao sabor da investigação.

O vaivém permanente entre presente e passado, assim como os diferentes momentos do passado, é a operação peculiar da história.

História – modela uma temporalidade própria, um itinerário a ser percorrido.

Tempo objetivado – duas características

3)Exclui a perspectiva teleológica – que no “depois” procura a razão do “antes”; pois o que se passa depois não pode ser causa do que se produziu antes.

Na construção dos historiadores – o tempo é fator de novidade, criador de surpresas. Ele é dotado de movimento e tem um sentido.

2) O tempo permite prognósticos

Avança do presente para o futuro e se apóia em diagnóstico respaldado no passado para tentar prever possíveis evoluções e avaliar probabilidades.

p. 106 – “Objetivado, colocado à distância e orientado para um futuro que não o domina retroativamente, mas cujas linhas prováveis de evolução podem ser discernidas, o tempo dos historiadores compartilha essas características com a da biografia individual: cada qual pode reconstituir sua história pessoal, objetivá-la até certo ponto, como remontar, relatando suas lembranças, do momento presente até a infância até o começo da vida profissional, etc”.

A memória, a exemplo da história, serve-se de um tempo já decorrido.

Diferença – tempo da memória não pode nunca ser inteiramente objetivado – carga afetiva.

Tempo da história – constrói-se contra o da memória.

- Memória e história dependem de registros diferentes.

Fazer história é construir um objeto científico – historicizá-lo – construindo sua estrutura temporal, espaçada, manipulável.

O tempo não é dado ao historiador como algo preexistente a sua pesquisa, mas é construído por um trabalho próprio ao ofício de historiador.

5) O trabalho sobre o tempo. A periodização

1ª tarefa do historiador – classificar os acontecimentos na ordem do tempo

Acontecimentos que se sobrepõem e se imbricam.

2ª tarefa – periodização – é impossível abranger a totalidade sem dividi-la – a história recorta o tempo em períodos.

P. 107 - “O historiador é que deve encontrar as articulações pertinentes para recortar a história em períodos, ou seja, substituir a continuidade imperceptível do tempo por uma estrutura significante”.

A periodização permite pensar, a um só tempo, a continuidade e a ruptura.

P. 107 – “Os períodos se sucedem e não se parecem; periodizar é, portanto, identificar rupturas, tomar partido em relação ao variável, datar a mudança e fornecer-lhe uma primeira definição”.

Periodização – identifica continuidades e rupturas, abre caminho para a interpretação

A história não pode evitar a periodização.

Contudo, a periodização não é bem vista – Paul Veyne fala em estudar problemas e não

períodos.

Em cada pesquisa não há necessidade de reconstruir a totalidade do tempo: o pesquisador recebe um tempo que já foi trabalhado e periodizado por outros historiadores.

O tempo dos historiadores é algo já articulado

Vantagens:- Facilidade de acesso às fontes porque a escrita, os diferentes gêneros de documentos e os lugares de conservação obedecem quase sempre, a um recorte periódico.

- Inconvenientes: 7)O confinamento do período em si mesmo impede de apreender sua originalidade;8) Critica-se o período por criar uma unidade fictícia entre elementos heterogêneos - a temporalidade moderna é também a descoberta da não-simultaneidade – nem todos os elementos contemporâneos são contemporâneos.

6) A pluralidade do tempo

-Cada objeto histórico tem sua própria periodização

-3 tempos de Braudel – continuam a seduzir tanto por sua pertinência, quanto por sua elegância.

O tempo do acontecimento breve é aquele que representa a duração de um fato de dimensão breve, correspondendo a um momento preciso, marcado por uma data.

http://www.slideshare.net/nilafaisca/o-que-histria

• O tempo da conjuntura é aquele que se prolonga e pode ser apreendido durante uma vida, como o período de uma crise econômica, a duração de uma guerra, a permanência de um regime político, o desenrolar de um movimento cultural, etc.

http://www.slideshare.net/nilafaisca/o-que-histria

O tempo da estrutura que é aquele que parece imutável, pois as mudanças que ocorrem na sua extensão são quase imperceptíveis nas vivências contemporâneas das pessoas.

http://www.slideshare.net/nilafaisca/o-que-histria

Braudel vai do mais amplo e mais geral ao mais particular.

Devemos pensar a intenção e iniciativa de Braudel.

LER p. 113

Nem mesmo mudanças lentas significam estabilidade absoluta, o tempo imóvel é perpassado por oscilações, ou seja, não é de fato imóvel

P. 114 – “O tempo da história não é uma reta, nem mesmo uma linha quebrada feita por uma sucessão de períodos, nem mesmo um plano: as linhas entrecruzadas por ele compõem um relevo. Ele tem espessura e profundidade”.

Além de se fazer a partir do tempo, a história é uma reflexão sobre ele e sua fecundidade própria.