Aula - Fernão Ramos

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OS ESTUDOS DE CINEMA NA UNIVERSIDADE BRASILEIRA Fernão Ramos

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Aula sobre ensaio do prof. Fernão Ramos a respeito do campo do cinema na universidade brasileira

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  • OS ESTUDOS DE CINEMA NA UNIVERSIDADE BRASILEIRA

    Ferno Ramos

  • O desejo do reconhecimento

    Estudos de Cinema ainda uma rea acadmica em busca de reconhecimento.

    Algumas questes metodolgicas devem ser mencionadas ao traarmos a insero institucional dos Estudos de Cinema na universidade brasileira. O campo coloca-se de forma abrangente dentro de Departamentos de Artes e Comunicaes, possuindo a particularidade da demanda de formao prtica.

    A maior parte dos cursos de graduao, no Brasil e no mundo, encontra-se predominantemente voltada para este pblico (alunos interessados em fazer cinema), sendo ministrada por professores com carreira profissional na produo cinematogrfica. No currculo, acessoriamente, est presente uma srie de disciplinas envolvendo histria e teoria do cinema.

    Predominantemente, os cursos em Estudos de Cinema (onde no costuma haver nfase na parte prtica) encontram-se voltados para a ps-graduao.

    A rea de Estudos de Cinema envolve um conjunto de expresses audiovisuais, mais ou menos articuladas em dimenso narrativa, a partir de uma mirade de estilos.

  • O que Cinema?

    Cinema antes de tudo uma forma narrativa (em seus primeiros tempos, e em alguns trabalhos de vanguarda, tambm espetacular) que envolve imagens em movimento (em sua maioria conformadas pela forma da cmera) e sons. (Pergunta: ela abarca tambm tipos de narrativa como o videoclipe?)

    A narrativa com imagens e sons pode ter um corte ficcional (quando entretemos o espectador com hipteses sobre personagens e tramas fictcias) ou documentrio (quando entretemos asseres, postulados, sobre o mundo histrico ou pessoal).

    Estudos cruzados, interdisciplinares, entre Literatura e Cinema, Pintura e Cinema, Teatro e Cinema, Histria e Cinema, Imagem Digital e Cinema, etc., possuem ampla bibliografia. Estudos de Cinema, portanto, no o ensino prtico de como fazer cinema (embora possa e deva interagir com esta dimenso) e tambm no o estudo das mdias (televiso, internet), nem das humanidades (antropologia e histria), das artes plsticas, da literatura, ou do teatro. tudo isso, trazendo em seu centro irradiador a forma narrativa cinematogrfica em sua unidade, os filmes, interagindo com seus autores.

    No ncleo dos Estudos de Cinema vislumbramos trs disciplinas diversas: Histria do Cinema, Teoria do Cinema e Anlise Flmica.

  • Histria X Teoria

    Em Histria do Cinema trabalhamos a dimenso diacrnica da arte cinematogrfica, seus diferentes perodos e movimentos. Analisamos tambm as produes nacionais (Histria do Cinema Brasileiro, Chins, Francs, etc.). Neste campo cabem estudos autorais, centrados em personalidades da Histria do Cinema.

    Temas que envolvem a prpria noo de histria e a possibilidade de sua periodizao so trabalhados pela bibliografia em Teoria do Cinema. Noes essenciais para o estabelecimento desta histria, como a noo de Autor, so aprofundadas.

    Outro ponto que tem chamado a ateno na Teoria do Cinema o questionamento da noo de nacionalidade na definio dos diversos cinemas nacionais (o Cinema Brasileiro, Francs, Americano, Portugus, Chins, Indiano, etc.).

    Temas caros ao universo dos estudos culturais (feminismo, minorias tnicas, estudos de gnero, a questo do sujeito) percorreram de modo intenso o campo dos estudos de cinema nos ltimos 10 anos. Tambm o horizonte da filosofia analtica e do cognitivismo foi mapeado de modo polmico.

  • Anlise Flmica

    Nos anos 1960/70/80, o conceitual do estruturalismo francs, a semiologia (Metz) e depois o ps-estruturalismo de Deleuze, Lacan, Derrida e outros, tiveram forte influncia.

    A teoria clssica do cinema tambm compe este campo de estudo, atravs da influncia do impressionismo (Epstein, Dulac, Balazs), do construtivismo (Vertov, Eisenstein), da fenomenologia (Bazin, Zavatttini), do realismo (Kracauer). A reflexo recente sobre cinema documentrio mostra-se densa, acompanhando um aprofundamento da tendncia analtica/cognitivista na contraposio aos estudos culturais. A Teoria do Cinema , portanto, uma disciplina dos Estudos de Cinema que fundamenta estudos histricos e autorais.

    Um terceiro horizonte dos Estudos de Cinema pode ser delimitado na Anlise Flmica. Definimos assim a pesquisa que se debrua sobre o filme propriamente e suas unidades (fotogramas, planos, sequncias, cenas, etc.). A anlise flmica detalha a dimenso estilstica do cinema, servindo de substrato para a pesquisa histrica/ autoral.

  • Cinema X Mdia

    Elementos estilsticos como profundidade-de-campo, plano-sequncia, entrada e sada de campo, espao fora-de-campo, mise-en-scne, raccord, falso raccord, olhar, interpretao de atores, msica, falas, roteiro, fotografia, cenografia, etc., compem os tijolos sobre os quais se constri a estilstica cinematogrfica.

    A anlise flmica fornece substncia concreta para o trabalho com a teoria do cinema, embasando a reflexo. Olhar o estilo o ltimo degrau que se consegue percorrer no corpo-a-corpo com o filme. Em funo do movimento contnuo, e da ampla quantidade de elementos que marcam a estilstica cinematogrfica, analisar exige uma verdadeira educao do olhar. O objetivo desta educao deve ser o abandono dos nveis mais imediatos de contedo, conseguindo o leitor elevar-se at a dimenso da mise-en-scne.

    Pensar o cinema como forma de comunicao miditica empobrecer seu campo referencial. Forando a comparao, e fechando a equao, digamos que o cinema est para a mdia que o veicula, assim como a literatura est para a mdia livro.

  • Mdia e forma narrativa

    importante no confundir mdia e forma narrativa veiculada nesta mdia. Algumas formas narrativas, ou espetaculares, so particulares mdia televisiva, outras no. O cinema deve ser entendido enquanto forma narrativa que pode ser veiculado por mdias diversas: pela televisiva, pela mdia sala de cinema ou, mais recentemente, pela internet ou outras mdias digitais.

    A televiso, como mdia de pleno direito, possui uma realidade prpria que vai bem alm da forma narrativa com imagens em movimento e sons que encontramos em mini-sries e telenovelas.

    Do mesmo modo, os campos da mdia digital so amplos e podem ser explorados nas mais diversas direes. Mas cabe cautela para no querer flexibilizar tudo e todos a qualquer custo. Podemos desembocar numa espcie de futurologia, fetiche da tecnologia e vazia de contedo.

    Na medida em que a arte cinematogrfica sofre, desde sua origem, a mediao da tcnica, comum o discurso que nega sua especificidade histrica. Ao sobredeterminar a questo tecnolgica, transforma Estudos de Cinema em estudos de mdia.

  • Concluso

    A viso tecnolgica evolucionista, que possui forte presena na universidade brasileira, tem dificuldades em lidar com a evidncia da simultaneidade entre novas e antigas mdias, que no convergem. Para lidar com esta dificuldade criou-se o conceito de audiovisual que expressa, entre outros aspectos mais interessantes, o desejo da reduo cinema/mdia.

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