Aula Sapiencia ano 2015 UCM
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Aula de Sapiência Abertura Ano Lectivo 2015 UCM, FGTI Pemba
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“Nenhuma sociedade pode funcionar se os seus membros não mantêm uma atitude
ética. Nenhum país pode sair da crise se as condutas imorais dos seus cidadãos e
políticos abundam com impunidade… hoje, mais do que nunca precisamos a Ética”
(Adela Cortina, Para que serve realmente…? A Ética)
UM OLHAR ÉTICO À UNIVERSIDADE
Há já umas décadas que o pensamento moral consolidou a teoria das responsabilidades sociais
como a reflexão urgente que muitas das situações experimentadas pela humanidade, de modo
muito especial após a segunda grande Guerra, impunham necessária. Acontecimentos como os
conhecidos na Alemanha Nazista trouxeram à tona uma consciência nova: a capacidade
destruidora da espécie humana que se tornou um deus perante o qual a ciência e a técnica se
ajoelharam. O poder que o ser humano é capaz de gerir pode matar e dar vida. Durante
séculos os critérios para tomar decisões num ou noutro sentido tinham sido, por assim dizer,
herdados de geração em geração e poucas vezes eram questionados. A ciência, o
conhecimento que dela deriva, sua manifestação técnica, em todas as actividades humanas,
surgiram para estar ao serviço do homem e não para o submeterem. Assim pensaram os
grandes filósofos gregos o sentido da ética, da filosofia moral. Mas os resultados da história do
ser humano, muito apesar das suas vitórias, escureceram a esperança e levantaram
interrogantes nunca antes postos.
Experiências como o genocídio dos hebreus, os chamados Lager de Auschwitz-Birkenau, a
manipulação da energia atómica ao serviço da guerra, que deixou na história os pontos negros
das destruições de Hiroshima ou Nagasaki, a experimentação científica sobre seres humanos
como foi o experimento Tuskegge (Alabama), por mencionar algumas das mais significativas,
provocaram a reflexão dos chamados universos concentracionários: cômo produzir o máximo
mal no menor dos espaços.
Em 1936 Edmundo Husserl conferenciou umas lições de filosofia sob o título: crise das ciências
europeias e fenomenologia transcendental. Nestas advertia sobre o risco de permitir que a
ciência e a técnica continuassem seus jogos sem nenhum árbitro. Anos depois a fecundidade
de seu pensamento se deixaria ver em quase todos os grandes filósofos provocando a que se
tem chamado época ética do pensamento e na qual estamos inseridos.
Sobreviventes da Soah, da perseguição e do genocídio, os pensadores hebreus levantaram ao
mundo a voz da responsabilidade. Na declaração universal dos Direitos Humanos de 1948 se
deixa sentir a sua influência. Nesta perspectiva Hans Jonas publica uma obra intitulada “O
Principio da responsabilidade. Ensaio para uma ética da civilização tecnológica”. A ética não é
mais uma alternativa, simples eleição para alcançar uma vida boa ou feliz. Agora a ética se
torna numa urgência, pois está em jogo a possibilidade de ser humano e não desumano. A
categoria da responsabilidade passará a ser central na mesma compreensão daquilo que o ser
humano é. A Justiça, intimamente ligada à responsabilidade, ocupará o lugar mais elevado de
todos os valores (Jonas, 2008).
É assim que a ética se recupera para salvar ao ser humano de si mesmo, para salvar ao mundo
e à vida. Se o ser humano é responsável pelas suas decisões, se deve dar conta daquilo que faz
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desde a sua liberdade e consciência, então todos os âmbitos das actividades humanas se
tornam éticos. A ética não é, pois, mais uma disciplina, é a atmosfera em que todas as
disciplinas devem respirar, para que nenhuma das actividades humanas submeta, domine e
destrua ao ser humano. Não haverá saber que possa ser entendido devidamente sem a ética,
pois ela é, no dizer de Aristóteles, o saber prático do ser humano que se pergunta cada dia e a
cada momento: o que deve ser feito? E se torna responsável por isso.
De entre todas as éticas aplicadas às actividades humanas, afecta a nós, como comunidade
universitária, a ética da educação que descreve uma responsabilidade específica que deve ser
assumida por todos os que formamos parte da mesma. Para exprimir seu significado nesta
aula de sapiência vou seguir as pegadas dos grandes, ou como dizia Albertino Mussato no
século XIII, vou subir a ombros de gigantes.
1. Profissionalidade e não apenas técnica
Adela Cortina é uma filósofa espanhola que propõe uma ética para a cidadania da
razão cordial. Sua perspectiva pretende possibilitar uma ética para as sociedades de
pluralismo moral em que vivemos: delineia uma ética de mínimos de justiça que
possam ser exigidos por e para todos e uma ética de máximos de vida boa ou feliz que
possa ser oferecida e partilhada para quem quiser. Apenas uma virtude antropológica
a possibilita: a capacidade para o diálogo que pode e deve ser real desde quatro
princípios: a sinceridade dos interlocutores, a inclusão de todos os afectados, a
reciprocidade dos participantes e a simetria dos interesses. Seu mínimo antropológico
é a máxima moral kantiana que afirma o ser humano como um fim em si mesmo e
nunca como um meio.
Quando tentamos compreender a razão cordial de Cortina no âmbito da educação
universitária algumas coisas importantes exigem ser pensadas. Um país não pode
pretender educar a qualquer preço. Certo discurso de qualidade educacional define-se
como promoção da competitividade económica que influencia o nível de prosperidade
de um país (Cortina, 2014, 129). Procura-se ademais abrir portas a postos de trabalho
de alta qualificação, o que vai impulsionar o crescimento económico e melhorar a
competitividade no mercado global. Desde esta perspectiva apenas a competitividade
garante o futuro (e o não competitivo fica imediatamente excluído). Como pano de
fundo encontramos a defesa da cultura científico técnica como a única que se deve
potencializar, esquecendo frequentemente que uma cultura precisa de um marco de
fins e valores no qual pensar a ciência e a técnica.
Desde os mínimos de justiça afirma Cortina: educar com qualidade significa formar
cidadãos justos, capazes de compartilhar valores morais próprios em sociedades
pluralistas e democráticas. Entre estes mínimos estão a liberdade (independência,
autonomia e participação significativa), a igualdade (de oportunidades e capacidades
básicas), a solidariedade (voluntariedade não prescrita para o bem do outro), o diálogo
(para resolver os conflitos sem violência) e o respeito (à postura diferente da minha
que represente um ponto de vista moral) (Cortina, Ibíd. 130-131; E. González Esteban,
2004)
Mas a qualidade supõe também formar bons profissionais: aqueles que sabem que
uma profissão “não é um simples meio de vida nem apenas um exercício técnico, mas
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algo bastante mais”. Em situações de injustiça, pobreza ou vulnerabilidade, faz
diferença, e muito, encontrar um bom profissional e não apenas um técnico bom.
Patrício Vitorino Langa, ao comentar alguns desafios do ensino superior em
Moçambique, escreve esta frase que transcrevo aqui: quando deixada ao critério das
forças do mercado, ao invés da diferenciação funcional do ensino superior, podemos
ter uma diferenciação nominal que perpetua a concorrência desleal e maior assimetria
de informação, principalmente para os utentes – os estudantes (Langa, 2014, 374)
Formar bons profissionais significa orientar toda a educação para a consecução de
bens importantes para a vida social. A ética recorda-nos que são estes bens os que
legitimam as profissões e ao mesmo tempo responsabiliza aos que as exercem. Quem
se forma na universidade se compromete a proporcionar um bem à sociedade, quem
forma na Universidade deve transmitir este compromisso aos formandos, quem
trabalha na Universidade garante o bem que a comunidade universitária precisa para
que este compromisso seja efectivo.
O decisivo aqui é descobrir a ética: podemos formar ou ser formados para a
especialização técnica que persegue um fim que não se questiona procurando apenas
os meios mais eficazes que o permitam alcançar para assim ser competitivos, mas
podemos formar e ser formados como bons cidadãos e bons profissionais que sabem
pôr as técnicas aprendidas ao serviço dos bons fins, dos bens que temos o
compromisso de entregar à sociedade, sendo responsáveis pelos meios que
implementamos para os conseguir assim como pelas consequências (Cortina, Ibid. 134-
135).
No texto que referimos A. Cortina deixa claras as razões pelas quais as sociedades não
podem sobreviver sem atitudes éticas. Uma profissão legitima-se pelo bem que está
chamada a dar à sociedade. Se motivos alheios levam a assumir uma profissão
esquecendo o fim que dá sentido à mesma, uma sociedade assim de-formada está
condenada. Não pode o médico ser negligente nem o advogado mentir e justificarem
seus actos por motivos alheios (Cortina, ibíd. 137). Quem se profissionaliza sem
conhecer nem amar o bem que está chamado a dar acabará por enganar, per-verter e
corromper-se. A Universidade tem a missão urgente de revitalizar as profissões,
recordar seus fins legítimos e os hábitos ou virtudes (excelências) necessários para os
alcançar.
A ética universitária deverá concentrar seu esforço em formar profissionais
responsáveis e virtuosos (excelentes), cientes de seu dever para com as pessoas
concretas a quem servem com os seus bens1. A proposta ética para a universidade
consiste em “introduzir nela a aspiração à excelência” (Cortina, ibíd. 139). Interessa
neste sentido ajudar a descobrir que “na vida não sobrevivem os mais fortes, mas
aqueles que entendem a necessidade de se apoiar mutuamente, que sabem cooperar
e por isso procuram ser excelentes” (Ibíd. 141)2.
1 Evitará de este modo a tentação de formar técnicos especialistas (aqueles que nos discernem os fins e
para os alcançar qualquer meio é válido) e a tentação da burocratização das profissões (aqueles que se conformam com o mínimo legal). 2 Sobre a excelência cfr. Patrício Vitorino Langa. Alguns desafios do ensino superior em Moçambique: do
conhecimento experiencial à necessidade de produção de conhecimento científico. Em AAVV (2014) Desafios para Moçambique 2014. Maputo: IESE pp. 378-379
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2. Ética para a excelência
Acabamos de fazer uma afirmação que pode surpreender mas ela pode ser
comprovada: as organizações éticas são mais competitivas pois merecem credibilidade
e confiança (Zambrano van Beverhoudt, 2007). Uma escola que permite
comportamentos antiéticos, como a falta de responsabilidade, a negligência, o abuso
ou a fraude, perde aos poucos a credibilidade e a confiança e a sociedade civil acaba
por retirar o seu apoio. Aquelas escolas que se caracterizam por manterem atitudes
éticas são credíveis e bem faladas.
Também nos referimos à categoria de excelência, entendida como virtude (areté) que
definimos como hábitos necessários para se alcançar os fins. A universidade deverá
definir, proteger e orientar toda a sua actividade para a consecução dos fins ou bens
internos e ao mesmo tempo deverá educar nos hábitos ou excelências necessários
para os alcançar.
Isto é o que queremos significar quando falamos de introduzir na Universidade “uma
aspiração pela excelência”, em definitiva, dar à ética seu lugar. Já dissemos que neste
sentido se trata de promover uma gestão de qualidade da actividade universitária (ou
qualquer outra) que não é especialização técnica mas inclusão da ética em todos os
níveis da organização que procure a excelência.
Tudo isto vem à tona porque de facto os desafios éticos são reais e são importantes:
comportamentos antiéticos são a causa da ineficiência e da falta de qualidade que
põem em crise a sempre necessária competitividade. Por este motivo a universidade
deverá justificar seu espaço para garantir a sua permanência o que apenas poderá
fazer se a sua gestão for excelente.
Toda universidade é uma comunidade de interesses espirituais que reúne docentes e
estudantes na tarefa de procurar a verdade e alicerçar os valores transcendentais do
ser humano. Naquilo que tem a ver com a educação, a ciência e a cultura, a
universidade deve assumir uma função directora. Três valores fundamentam o ensino
superior: o espírito de democracia, a justiça social e a solidariedade humana. Cada
universidade enunciará seus valores específicos em sua missão e visão, propondo o
marco particular de referência que fundamente suas actividades.
Há, pelo menos, três aspectos que podem garantir o fazer ético da universidade que
procura excelência (Zambrano van Beverhoudt, 2007):
a. Valores irrenunciáveis a serem garantidos e trabalhados: disposição ao
diálogo, tolerância, liberdade, solidariedade, justiça e paz.
b. Gestão de qualidade, que deverá ter em conta: enfoque ao cliente (satisfazer
necessidades, dar um bom produto), participação total (todos os integrantes
da organização deverão tornar-se responsáveis pela qualidade); medição
(fazer o seguimento da qualidade, pois só se controla o que se mede); apoio
sistemático (coordenar esforços); melhoramento continuado (prevenir e
inovar, pois sempre se poderá fazer melhor). Trata-se de provocar uma
mudança progressiva e constante nas atitudes dos implicados orientada para o
melhoramento continuado até que fique assumido como um hábito
(excelência) de comportamento.
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c. Excelência desde as relações (Morris): toda excelência depende das relações e
não dos êxitos individuais; depende do que se faz com os outros e do que se é
para os outros. Segundo Morris a excelência corporativa sustentável depende
de garantir quatro bases que respondem a quatro dimensões da experiencia
humana; destas depende o sucesso e a excelência da universidade:
Dimensões da experiencia humana
Bases da excelência humana
Intelectual Verdade
Estética Beleza
Moral Bondade
Espiritual Unidade
Seguindo a Morris vê-se que à base de excelência da bondade corresponde a
dimensão moral da experiência humana, “em consequência para alcançar
excelência se deve ser ético” (Zambrano van Beverhoudt, 2007, 56). Aliás a
qualidade depende dos comportamentos éticos.
3. Uma proposta: a RSU
Epifânia Langa e Nelsa Massingue (2014)3 reconhecem a importância da
Responsabilidade Social Corporativa no âmbito do desenvolvimento local e em relação
com a indústria extractiva que nos últimos anos está a florescer em Moçambique. O
conceito de responsabilidade continua abrangendo os diferentes âmbitos das
actividades humanas, cada vez mais presente e vinculante.
No âmbito da universidade está possivelmente menos desenvolvido. Faz-se necessário
um esclarecimento prévio sobre o significado correcto da Responsabilidade Social.
A Responsabilidade Social (RS) não é filantropia ou caridade, nem se identifica com
expressões como sensibilidade social, solidariedade ou compromisso. Esta confusão
explica porquê muitas vezes a responsabilidade se esgota em declarações de princípios
e boas intenções sem nunca chegar a concretizações. Também não é assistencialismo
nem pertence apenas aos órgãos de gerência de uma organização. E por suposto não
depende de tomadas de posição ideológicas ou políticas.
Seguindo a Vallaeys (2007. 2008) podemos definir a RS em três pontos:
a. RS é acatamento de normas éticas universais para gerir um desenvolvimento
mais humano e sustentável (boas praticas reconhecidas internacionalmente).
A RS é um modo novo de gestão organizacional baseado em standards éticos
reconhecidos internacionalmente para as boas práticas de administração
interna (gestão laboral e meioambiental)4 e em relação com a sociedade. A RS
está ligada ao desenvolvimento mais justo e sustentável.
3 AAVV. (2014) Desafios para Moçambique 2014. Maputo: IESE
4 A Responsabilidade entende-se hoje não apenas no seu sentido social, mas também no económico e
meio-ambiental.
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b. RS é gestão de impactos provocados pelas decisões e pelas actividades das
organizações: procura-se diagnosticar, cuidar e prevenir o impacto negativo e
maximizar o positivo.
c. RS é participação de todos os grupos afectados (stakeholders): integrará a
todos os grupos de interesse afectados pela actividade da organização directa
ou indirectamente.
A RS é pois uma política de gestão de toda a organização, exige uma
estratégia, objectivos, fins, acções e avaliação. Neste sentido trata-se de uma
manifestação nova da possibilidade de organização social cada vez mais
importante em nosso mundo: põe em jogo “a inteligência social de conjunto”
de uma sociedade civil organizada (Vallaeys, 2008). A RS é um instrumento de
gestão dos desafios que a mundialização provoca em todas as organizações:
Lamentamos os problemas meio ambientais? Comecemos por instituir um
sistema de gestão e educação ambiental em nossa casa de estudos.
Lamentamos o racismo e a segregação racial? Não esqueçamos implementar
uma política de boas maneiras e clima laboral sadio entre o pessoal da
universidade, que permita o acesso a incapacitados e a integração de
estudantes de toda classe social e origem sócio cultural. (Vallaeys, 2008, p.5
tradução nossa)
Adiantemos agora uma definição da Responsabilidade Social que tem a ver com a
Universidade (RSU): uma politica de melhoramento continuado da Universidade que
visa o cumprimento efectivo de sua missão social através de quatro processos (gestão
ética e ambiental da instituição; formação de cidadãos conscientes e solidários;
produção e difusão de conhecimentos socialmente pertinentes; participação social na
promoção do desenvolvimento mais justo e sustentável) (Vallaeys, Ibíd.)
Parece fácil pensar nos impactos negativos das actividades das grandes empresas e se
calhar se torna mais complexo descobri-los na Universidade, no entanto podemos
descrever quatro influências ou grupos de impacto:
a. Impactos organizacionais: laborais, ambientais, hábitos de vida no campus…
trata-se de comportamentos que afectam pessoas e famílias. Que atitudes e
comportamentos devemos implementar na universidade para viver de modo
responsável?
b. Impactos educativos: relacionados com os processos de ensino aprendizagem,
a construção de currículos derivados do perfil do estudante. A que tipo de
profissionais e pessoas se está a formar? Pode-se estruturar a formação para
formar cidadãos responsáveis do desenvolvimento sustentável?
c. Impactos cognitivos: relacionados com as orientações epistemológicas e
deontológicas, os enfoques teóricos e as linhas de investigação, processos de
produção e difusão do saber… quais são os conhecimentos que devem ser
produzidos para responder às carências de desenvolvimento?
d. Impactos sociais: relacionados com os grupos externos em conexão com a
universidade, sua participação no desenvolvimento. Qual é o papel que a
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universidade assume perante a sociedade para seu desenvolvimento? Com
quem e para que?
É possível descobrir os riscos de impacto negativo no âmbito da universidade:
Fonte: Vallaeys, 2008 (tradução nossa)
Impactos Universidad
Organizacionais (laborais e
ambientais)
Cognitivos (investigação, epistemologia)
Sociais (Extensão,
transferência, projecção
social)
Educativos (formação acadêmica)
• assistencialismo/ paternalismo
• indiferença social
• mercantilizaçao da extensão
• hiperespecialização (Inteligência cega)
• falta de formação ética e cidadã
• reduçao da formação pelo afã de emprego
• desligação universidade-sociedade
• irre`ponsabilidade científica
• saber fragmentado
• não trans nem inter disciplinariedade
• maltrato laboral
• falta de democracia e transparencia
• maus habitos ambientais
• incoherencias ética da instituiçao
Impactos Organizacionais
Impactos Cognitivos
Impactos Sociais
Impactos Educativos
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Do mesmo modo, a gestão responsável dos impactos universitários poderia oferecer este
esquema de impactos positivos:
Fonte: Vallaeys, 2008 (Tradução nossa)
Para se atingir o objectivo da RSU podem ser implementadas quatro políticas:
a. Gestão de qualidade (vida institucional exemplar) laboral e meio ambiental
b. Formação integral de cidadãos responsáveis capazes para participar no
desenvolvimento sustentável
c. Gestão social do conhecimento procurando superar a inacessibilidade social ao
mesmo assim como as irresponsabilidades social da ciência
d. Participação social solidária e eficiente (processos participativos com
comunidades para solução de problemas urgentes de desenvolvimento)
De este modo a RSU tem como prioridade fazer do Campus Universitario um lugar de
responsabilidades e sustentabilidade. Vários temas deverão formar parte da agenda
universitária: qual é a pegada ecológica universitária? Funcionam os comités de ética?
E a transparência institucional? (Vallaeys, 2008, 11)
A RSU será pois uma estratégia da Universidade que coloca em primeira ordem as
provocações da coerência (entre acções e discursos), a transparência (diagnose do que
realmente acontece na instituição) e prestação de contas (comunicação de resultados
•redes de capital social
•comunidades incluentes de aprendizagem
•projectos de desenvolvimento sustentáveis
•formaçao para acidadania e para a profissao responsável
•aprendizagem social solidario
•currículos socialmente consensuados
•promoçao da inter e trans disciplinariedade
•pertinencia social da investigaçao
•responsabilidade social da ciencia
•boas práticas laborais
•sistema de gestao ético e transparente
•boas práticas ambientais
Impactos Organizacionais
Impactos Cognitivos
Impactos Sociais
Impactos Educativos
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aos interessados). A universidade passa então a formar parte activa da avaliação sobre
o impacto das suas actividades sem cair na tentação de culpar a outros actores sociais.
Além disso os actuais líderes sociais frequentaram a universidade e em grande medida
pensam e agem como nela foram ensinados. A autocrítica universitária torna-se pois
em elemento prioritário, pois antes de enfrentar quaisquer problemas ou situações
das sociedades injustas a universidade deverá procurar se transformar a si mesma. As
próprias incoerências reproduzem as injustiças sociais (Vallaeys, 2008, 12).
Por último salientamos aqui um possível itinerário a seguir para possibilitar a mudança
da universidade em perspectiva de RS. O modelo de RSU adoptado deverá ser
comunicado para que possa ser aceite, querido e praticado. Propõe-se a mudança de
paradigma da extensão Universitária para a Responsabilização social universitária, isso
exige forte sensibilização. A prática de três habilidades de modo permanente indicará
o caminho aos actores universitários:
a. Perguntar-se: ao fazer o que fazemos, o que fazemos realmente? (desenvolver
assim a habilidade de investigar e diagnosticar os efeitos colaterais das acções
institucionais)
b. Falar o que se faz: transparência institucional e prestação de contas
c. Fazer o que se fala: coerência com as declarações de princípios, missão e visão
universitárias.
Eis o esquema para este itinerário como propõe Vallaeys:
Desde o contraste entre o que diagnosticamos e o que declaramos (o discurso –
missão) pode-se planificar as áreas a serem melhoradas, com a participação de todos os
DIAGNOSE
auto-diagnose Missão e Visão
contraste
PLANIFICAÇÃO
selecção de áreas de melhoramento e formulação de plano de acção
EXECUÇÃO
AVALIAÇÃO
COMUNICAÇÃO
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interessados e com espírito de melhora continuada. Este caminho, no entanto, não se fará sem
dor. A exigência de sermos responsáveis é precisamente isso, uma exigência.
Conclusões
Nesta segunda década do novo século a configuração do mundo vê-se modificada pelas mais
díspares forças. Há por todo lado sensações de imprevisibilidade e não somos capazes de
antever o futuro. Para muitos, estes tempos convulsos apresentam características
amedrontadoras. Porém também nestes tempos é possível enxergar acontecimentos positivos.
A ética parece ter um papel decisivo e até soteriológico.
A sociedade civil acorda, os bens que o ser humano, ao longo da história descobriu para si
mesmo levantam-se em muitos corações e uma razão mais plena, mais completa, se abre
espaço derrubando os muros em que se tinha encerrado. São os tempos da mudança de
paradigma, do declive da razão científico técnica e a emergência da razão cordial. A
Responsabilidade define o coração preocupado da humanidade pela injustiça, a desigualdade,
a violência de todo tipo, a corrupção e a mentira. A Responsabilidade é o momento da ética, e
a ética é o momento de todas as actividades humanas, que ainda não se perderam.
A Universidade pode ser um berço para acolher esta razão cordial que nasce. Fica para o ser
humano o desafio de aceitar a exigência de responsabilizar-se, o desafio de proteger e
defender os valores de uma ética mínima: o diálogo, a liberdade, a solidariedade, a justiça, a
paz, o respeito.
A ética é a filosofia prática, sua dimensão mais visível. Não pode ficar em declarações de
princípios, em boas intenções. Ela implica uma nova estrutura da vida, das instituições que a
compõem, de cada uma das actividades que o ser humano realiza para dar vida. Ela é também
projecto, estratégia, caminho. Mas não poderá acontecer sem a encarnação que cada um de
nós deve fazer, desde a liberdade verdadeira, do espírito que acompanha a historia e que
procura sem cessar um mundo mais justo e humano, mais igual e fraterno.
Pe. Eduardo A. Roca Oliver
Departamento de Ética, Cidadania e Desenvolvimento (Pemba)
FCSP Quelimane (Moçambique)
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Bibliografia
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VALLAEYS, F. (2007) ¿Qué es la Responsabilidad Social Universitaria?
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