Auto Clave

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Programa geral de saúde e segurança do trabalhador - PGSST AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ESTERILIZAÇÃO POR AUTOCLAVAGEM UTILIZANDO INDICADORES BIOLÓGICO E QUÍMICO Josiane M.M. Canaan Kelly Chrystina Pestana Maria Inês da Silva Orientadora: Profa. Dra. Maria Stella Gonçalves Raddi Araraquara – SP 2010

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

Programa geral de saúde e segurança do trabalhador - PGSST

AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ESTERILIZAÇÃO POR AUTOCLAV AGEM

UTILIZANDO INDICADORES BIOLÓGICO E QUÍMICO

Josiane M.M. Canaan

Kelly Chrystina Pestana

Maria Inês da Silva

Orientadora: Profa. Dra. Maria Stella Gonçalves Raddi

Araraquara – SP

2010

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

Programa geral de saúde e segurança do trabalhador - PGSST

AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ESTERILIZAÇÃO POR AUTOCLAV AGEM

UTILIZANDO INDICADORES BIOLÓGICO E QUÍMICO

Josiane M.M. Canaan

Kelly Chrystina Pestana

Maria Inês da Silva

Trabalho de conclusão de curso de extensão em

Higiene Ocupacional, promovido pela Pró-Reitoria de

Administração, apresentado no “Seminário Anual do

PGSST-UNESP”

Araraquara – SP

2010

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Agradecimentos

AGRADECIMENTOS

A Deus, que nos permitiu a realização deste trabalho e colocou pessoas muito especiais

que nos ajudaram nesta jornada.

À Profa. Dra. Maria Stella Gonçalves Raddi pela oportunidade, confiança e amizade.

Ao Prof. Dr. Paulo Inácio da Costa pelo apoio no desenvolvimento deste trabalho.

À Dra. Janaína Conrado Lyra da Fonseca, pela coordenação do evento e colaboração.

Ao setor de esterilização da Faculdade de Odontologia de Araraquara, pelo auxilio.

À Pro Reitoria de Administração da Unesp, pelo Curso de Extensão em Higiene

Ocupacional.

Aos nossos colegas de trabalho, que nos substituíram nas nossas ausências.

A todos os servidores que colaboraram na realização deste trabalho.

“Tudo é loucura ou sonho no começo. Nada do que o homem fez no mundo teve início de outra maneira. Mas já tantos sonhos se

realizaram que não temos o direito de duvidar de nenhum”

Monteiro Lobato

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Resumo

RESUMO

O controle de processos de esterilização por vapor sobre pressão é, muitas

vezes, negligenciado. Este estudo visou determinar a eficácia da esterilização por

autoclavagem, para temperatura ≥ 121ºC, em laboratórios de unidades universitárias da

UNESP. Foram avaliadas 15 autoclaves, utilizando-se indicador químico interno (fita de

autoclave EurocelTM) e biológico (AttestTM 1292, 3M). Os dois testes foram realizados

em um mesmo equipamento simultaneamente, sendo o indicador químico colocado em

todas as embalagens e o indicador biológico posicionado em local de menor acesso do

vapor. O indicador químico apontou que todas as cargas passaram pelo processo, porem

não garantindo a esterilização, entretanto o indicador biológico evidenciou falha em um

dos equipamentos (6,7%). A esterilização foi eficaz em 93,3% das autoclaves,

entretanto o comprometimento do processo em um dos equipamentos demonstra a

necessidade da verificação periódica do funcionamento das unidades para assegurar a

eficiência do processo.

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Abstract

ABSTRACT

The sterilizing process control by steam under pressure is neglected many times. This

study aimed to determine its sterilization efficacy by process for the temperature ≥

121ºC, at UNESP laboratory university units. Fifteen autoclaves were evaluated, by

using an internal chemical indicator (autoclave streamer EUROCELTM) and a biological

one (ATTESTTM 1292, 3M). Both tests were carried out on the same piece of equipment

simultaneously; the chemical indicator was put in the all packages and the biological

indicator was stood on a place with less steam access. The chemical indicator showed

that all loads got through the process, therefore it did not guaranteed the sterilization;

however, the biological indicator made evident the failure in one of the pieces of

equipment (6,7%). The sterilization was accurate in 93,3% of the autoclaves; however

the process undertake in one of the pieces of equipment has demonstrated the need of

periodical check of unit operation to reassure its process efficiency.

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Sumário

Sumário

1 Introdução....................................................................... 01

1.1 Autoclaves........................................................................ 02

1.1.1 Autoclave vertical........................................................... 03

1.1.2 Autoclave horizontal........................................................ 03

1.2 Eficiência do processo de autoclavagem ........................ 03

1.3 Falhas no processo de autoclavagem............................... 04

1.4 Testes de validação da esterilização: indicadores

químico e biológico..........................................................

05

1.5 Validação do processo de autoclavagem......................... 07

1.6 Resíduos de serviço de saúde........................................... 07

2 Objetivo........................................................................... 09

3 Material e Métodos........................................................ 10

4 Resultados....................................................................... 15

5 Discussão.......................................................................... 18

6 Conclusão......................................................................... 20

7 Referências Bibliográficas.............................................. 21

8 Anexo.............................................................................. 24

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Lista de Figuras

Lista de Figuras

pg

Figura 1 - Autoclave vertical (A), autoclave horizontal (B)............................... 02

Figura 2 - A) Indicador biológico, B) Indicador químico................................... 06

Figura 3 - Exemplos de cargas submetidas ao processo de autoclavagem......... 12

Figura 4 - Procedência e ano de fabricação de algumas autoclaves: A)

Phoenix, modelo AV 100, fabricado em2002; B) Fabbe Primar,

modelo 103, fabricado em 2001; C) Fabbe Primar, modelo 103,

fabricado em 1986; D) Phoenix, modelo AV 75, fabricado em

1988....................................................................................................

13

Figura 5 - Incubadora do Indicador Biológico Attest 1292 – 3M Brasil............ 14

Figura 6 - Indicadores biológicos após incubação............................................. 16

Figura 7 - Indicador Biológico com resultado positivo ..................................... 16

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Introdução

1

1 INTRODUÇÃO

Esterilização é o processo que promove completa eliminação ou destruição

de todas as formas de microrganismos presentes: vírus, bactérias, fungos, protozoários,

esporos, para um aceitável nível de segurança. O processo de esterilização pode ser

físico, químico ou físico-químico (RUTALA, 1997). As formas microbianas

consideradas mais resistentes aos processos físicos e químicos, que podem ser

manuseadas laboratorialmente, são os esporos (NIEHEUS, 2004).

A Farmacopéia Brasileira define esterilização como sendo um processo que

tem por finalidade destruir todas as formas de vida animal ou vegetal, macroscópicas ou

microscópicas, saprófitas ou não, presente no produto considerado, sem garantir a

inativação de toxinas ou enzimas celulares. Um dos processos físicos de esterilização

mais utilizados é a esterilização por vapor saturado sobre pressão, sendo considerado

eficiente para a morte térmica das bactérias (NBR 9804).

Em um breve histórico do processo de esterilização a vapor, Luqueta (2008)

cita que o vapor, como agente esterilizante ou em processo de esterilização, tem sido

utilizado a muito tempo, antes mesmo de ter tido sua eficácia comprovada; mas foi a

partir do século XIX que esse procedimento difundiu-se, sendo utilizado para a

esterilização de materiais, alimentos, etc. A mais famosa autoclave recebeu o nome de

seu idealizador, físico e biólogo, Charles Chamberland (1851-1908). Neste tipo de

esterilizador, ocorre a formação de vapor de água no seu interior e à medida que o vapor

vai sendo gerado e misturando-se ao ar (mistura ar-vapor), o mesmo vai sendo retirado

através de uma válvula mecânica, até que se tenha o máximo de vapor saturado dentro

do equipamento. Ao término do processo, descarrega-se o vapor da câmara e retira-se o

material.

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Introdução

2

1.1 AUTOCLAVES

Autoclaves são equipamentos que mediante a aplicação do vapor, sob

pressão superior à atmosférica, tem por finalidade obter a esterilização (NBR 9804). As

vantagens na esterilização a vapor são: alto grau de eficiência; equipamento simples de

operar e de baixo custo. Entretanto, algumas desvantagens: não reduzir o volume dos

resíduos tratados; poder produzir maus odores; gerar aerossóis não patogênicos; utilizar

recipientes ou bolsas termo-resistente que têm custos relativamente elevados; não ser

conveniente para resíduos anatômicos, pois continuam sendo reconhecíveis depois do

tratamento (a legislação prevê outra forma de tratamento para peças anatômicas).

Existem dois modelos básicos de autoclaves: vertical e horizontal (Figura

1), podendo ser equipadas com comandos automáticos.

Figura 1 - Autoclave vertical (A) e horizontal (B)

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Introdução

3

1.1.1 AUTOCLAVE VERTICAL

Na autoclave vertical, o ar é removido por gravidade. Assim, quando o vapor

é admitido na câmara, o ar no seu interior, que é mais frio (mais denso), sai por uma

válvula de drenagem. A principal limitação para seu uso é o longo tempo necessário

para esterilização e a não completa secagem do material após o ciclo de esterilização.

1.1.2 AUTOCLAVE HORIZONTAL

Na autoclave horizontal o ar é removido previamente, com formação de

vácuo por meio de uma bomba de vácuo, antes da entrada do vapor. O alto vácuo reduz

o tempo necessário para processamento e penetração mais rápida do vapor nos materiais

a esterilizar (COSTA, 1990). Uma desvantagem deste modelo é a possibilidade de mau

funcionamento na bomba de vácuo, o que pode causar bolsas de ar, impedindo que o

vapor penetre em toda a carga. A autoclave horizontal possui custo elevado em relação

à vertical.

1.2 EFICIÊNCIA DO PROCESSO DE AUTOCLAVAGEM

As autoclaves convencionais devem funcionar sob pressão efetiva de vapor

saturado de 110 kPa a 150 kPa (quilopascal) na câmara de esterilização, a qual induz a

uma temperatura do vapor de 121ºC a 127ºC e as autoclaves rápidas, com sistema

mecânico ou remoção de ar, de 200 kPa a 220 kPa correspondendo de 133ºC a 135ºC. O

tempo de exposição, que depende do material e da temperatura escolhida para

esterilização, deve ser contado após a câmara de esterilização atingir tal temperatura na

parte mais fria. Geralmente, utiliza-se exposição por 30 (trinta) minutos a uma

temperatura de 121ºC em autoclaves convencionais (uma atmosfera de pressão);

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Introdução

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exposição por 15 (quinze) minutos a uma temperatura de 132ºC em autoclaves

convencionais (uma atmosfera de pressão) e exposição por 04 (quatro) minutos a uma

temperatura de 132ºC em autoclave de alto vácuo.

Para garantir a eficiência dos processos de esterilização deve-se realizar o

monitoramento para controle de qualidade. O monitoramento mecânico consiste no

controle e registro de parâmetros tempo, temperatura e pressão durante a esterilização e

na manutenção do equipamento e aparelhos de registro (manômetros e termômetros). A

eficiência da operação depende da temperatura e duração à qual à carga é submetida

(GUÍA, 1996).

1.3 FALHAS NO PROCESSO DE AUTOCLAVAGEM

As causas de falhas na esterilização são decorrentes de eventuais problemas

no funcionamento do esterilizador ou erros na técnica de esterilização. As falhas no

processo requerem um exame minucioso em todas as partes do esterilizador,

procedimentos de empacotamento, carga ou técnicas utilizadas (NIEHEUS, 2004).

Alguns problemas mais comuns que podem levar a ineficiência do processo são listados

abaixo:

• Carga Incorreta: os materiais nunca devem ser empilhados um sobre o

outro e não devem tocar quaisquer das paredes da câmara. Como regra geral, todos os

pacotes devem ser colocados de maneira que, caso contenham água, ela escorra para

fora permitindo que o vapor possa circular entre eles.

• Ar: considerando que a carga a ser autoclavada é aquecida pela penetração

do vapor, é necessário que todo o ar seja eliminado, para que o vapor possa facilmente

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Introdução

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penetrar no interior do conteúdo geral do lote (carga). A presença de ar na câmara

interna retarda a penetração do vapor nos pacotes.

• Falhas Humanas: tempo e temperatura são fatores críticos no processo de

esterilização, controlados pelo operador em equipamentos não equipados com

comandos automáticos. Ciclos com duração abaixo do recomendado por normas

técnicas implicam em uma esterilização ineficiente, enquanto que ciclos com duração

acima podem danificar os materiais esterilizados.

1.4 TESTES DE VALIDAÇÃO DA ESTERILIZAÇÃO: INDICADOR ES

BIOLÓGICO E QUÍMICO

Para verificar a eficiência do ciclo da autoclave, utilizam-se, habitualmente,

indicadores químicos (IQ) ou biológicos (IB) (Figura 2). Recomenda-se que

esterilizadores a vapor devam ser avaliados semanalmente com indicadores biológicos e

os indicadores químicos devam ser usados, em todos os ciclos, em cada embalagem a

ser esterilizada (NBR 9804).

O indicador biológico é um microrganismo específico, resistente a um

determinado processo de esterilização. A utilização de indicadores biológicos permite a

comprovação da eficiência da esterilização, uma vez que o crescimento de

microrganismos após a aplicação do processo é diretamente testado. Estes indicadores

consistem em uma preparação padronizada de esporos bacterianos de resistência

conhecida ao processo de esterilização especificado. Esporos de Geobacillus

stearothermophilus ATCC 7953, anteriormente designado Bacillus stearothermophilus,

são recomendados para esterilização por calor úmido à temperatura ≥ 121ºC. Esporos de

Bacillus atrophaeus ATCC 9372, anteriormente denominado Bacillus subtilis var.

Page 13: Auto Clave

Introdução

6

niger ATCC 9372, são recomendados para a esterilização por óxido de etileno e por

calor úmido à temperatura inferior a 121ºC (APECIH, 1998).

Após o processamento, os indicadores biológicos devem ser incubados para

verificar se a cepa ainda está viável. As condições de incubação e o meio em que os

indicadores devem ser incubados são fornecidos pelo fabricante das preparações. O

indicador processado é incubado, juntamente com outro que não tenha passado pelo

processo de esterilização, nas mesmas condições, a fim de verificar a viabilidade das

cepas e se as condições de incubação favoreceram o crescimento bacteriano. A

realização de testes biológicos deve ser, no mínimo, semanal e após cada manutenção

ou suspeita de mau funcionamento.

Figura 2 - A) Indicador biológico, B) Indicador químico

Existem várias categorias de indicadores químicos, desde os mais simples,

designados de indicadores de passagem, até os que respondem a todos os parâmetros de

esterilização a vapor. Assim, eles podem indicar apenas a exposição ao procedimento de

autoclavagem, sem garantir a sua esterilidade (indicadores de processo de esterilização)

ou ainda a ação de diferentes parâmetros críticos de esterilização (indicadores

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Introdução

7

multiparamétricos e integradores). Devem ser colocados indicadores externos e internos

em todos os pacotes a serem esterilizados (NIEHEUS, 2004).

1.5 VALIDAÇÃO DO PROCESSO DE AUTOCLAVAGEM

Para que haja coerência no processo de esterilização, planos de validação

devem ser estabelecidos, incluindo os seguintes aspectos: qualificação do esterilizador,

validação do produto e validação do processo (PINTO, 2000). Requalificações deverão

ser executadas periodicamente para detectar qualquer alteração do processo. Uma

requalificação simples deve ser executada anualmente. Uma alteração significante no

produto, embalagem ou no processo exige revalidação.

O INMETRO não prevê nenhuma validação de autoclaves, sendo a única

norma disponível, a NBR ISO 11134/2001, não havendo lei que torne compulsória a

conformidade a esta norma nem mesmo ao se lançar a autoclave no mercado

consumidor. As autoclaves necessitam também de avaliação ao longo de sua vida útil

(GUÍA, 1996).

1.6 RESÍDUOS DE SERVIÇO DE SAÚDE (RSS)

Nos últimos tempos, as questões relacionadas ao meio ambiente e ao

descarte de materiais biologicamente contaminados fizeram com que os órgãos federais,

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e Conselho Nacional do Meio

Ambiente (CONAMA) exigissem dos prestadores de serviços de saúde um pré-

tratamento dos resíduos gerados antes da sua disposição final (RDC nº 306 de 2004;

CONAMA nº 358 de 2005; RDC nº 302 de 2005). De acordo com a RDC ANVISA nº

306/04 e Resolução CONAMA nº 358/05, os RSS são classificados em cinco grupos

(A, B, C, D e E), pertencendo ao grupo A os resíduos com a possível presença de

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Introdução

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agentes biológicos que por suas características, podem apresentar risco de infecção. O

tratamento, através de processo de autoclavagem, visa reduzir ou eliminar o risco de

contaminação, de acidentes ocupacionais ou de dano ao meio ambiente.

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Objetivo

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2 OBJETIVO

O objetivo deste trabalho foi avaliar o processo de autoclavagem, em

autoclaves, em alguns laboratórios de unidades da UNESP, utilizando indicador

biológico para temperatura ≥ 121ºC e indicador químico, visando à prática de métodos

para a qualidade desse procedimento.

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Material e Métodos

10

3 MATERIAL E MÉTODOS

Esse trabalho iniciou com a aplicação de um questionário (Anexo 01), onde

os responsáveis pelos procedimentos técnicos responderam questões relativas ao

processo de esterilização por vapor saturado para a descontaminação de resíduos

biológicos ou esterilização de artigos e/ou meios de cultura. Posteriormente, o processo

de esterilização foi monitorado utilizando-se indicador biológico e químico em um ciclo

de esterilização.

O Indicador Biológico Attest™ 1292 - Leitura Rápida (Lote: 03DY,

Validade: 2012) utilizado, é indicado para verificar a eficiência do processo de

esterilização a vapor saturado em autoclaves equipadas com pré-vacuo ou gravitacionais

Esse indicador é composto por uma tira de papel contendo uma população microbiana

mínima de 100.000 (cem mil) esporos secos de Geobacillus stearothermophillus

(ATCC 7953), com certificado de qualidade assegurada. A tira é acondicionada em uma

ampola plástica, que contém em seu interior uma ampola de vidro com caldo nutriente,

fechada por uma tampa marrom com aberturas laterais e protegida por papel

hidrofóbico. Cada ampola possui um rótulo externo que informa o lote e a data de

fabricação do produto, contendo campos para identificação da ampola e um indicador

químico externo que diferencia as ampolas processadas das não processadas (3M-

Brasil). O indicador foi colocado em um dos pacotes no centro da autoclave, juntamente

com a carga, em local de difícil acesso do vapor. Após o ciclo de esterilização, o

indicador foi incubado em incubadora específica por 3 horas.

No monitoramento com indicador químico (fita de autoclave para processo

de esterilização à vapor EurocelTM , Classe 1), as fitas foram posicionadas na parte

externa da embalagem dos materiais, em vários pontos, conforme dispostos na

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Material e Métodos

11

autoclave. A indicação da passagem pelo processo de esterilização ocorreu quando as

fitas apresentaram as listras na cor marrom, conforme instruções do fabricante.

O processo de autoclavagem de diferentes tipos de carga foi realizado de

maneira rotineira pela equipe responsável, seguindo a seqüência: verificação do nível de

água; acondicionamento do material; colocação da carga no cesto da autoclave; controle

da emissão de saída de vapor e ar; fechamento da válvula; elevação da pressão, indicada

no manômetro, na temperatura ≥ 121ºC e tempo de exposição conforme rotina de cada

laboratório.

As cargas que passaram pelo processo de autoclavagem, nos diferentes

laboratórios, estão exemplificadas na Figura 3 (frasco de vidro, caixa de ponteiras,

tubos, resíduos de material biológico, seringas, agulhas, placas e tubos com culturas

microbianas).

As autoclaves avaliadas eram de diversas marcas, com diferentes tempos de

uso. A Figura 4 ilustra alguns modelos e fabricantes.

Após o processo de autoclavagem, o indicador biológico de leitura rápida,

Attest da 3M, foi incubado em incubadora específica (Figura 5), por 3 horas. A

incubadora foi idealizada para leitura de fluorescência, produzida pelos esporos, que

permite a medição da atividade enzimática no início do crescimento bacteriano. A

detecção de fluorescência indica falha no processo de esterilização.

Page 19: Auto Clave

Material e Métodos

12

Figura 3 – Exemplos de cargas submetidas ao processo de autoclavagem

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Material e Métodos

13

A

B

C

D

Figura 4 – Procedência e ano de fabricação de algumas autoclaves: A) Phoenix, modelo

AV 100, fabricado em 2002; B) Fabbe Primar, modelo 103, fabricado em 2001; C)

Fabbe Primar, modelo 103, fabricado em 1986; D) Phoenix, modelo AV 75, fabricado

em 1988.

Page 21: Auto Clave

Material e Métodos

14

Figura 5 - Incubadora do Indicador Biológico Attest 1292 – 3M Brasil

Page 22: Auto Clave

Resultados

15

4 RESULTADOS

A eficácia do procedimento de esterilização foi avaliada em 15

autoclaves locadas em laboratórios da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF),

Faculdade de Odontologia (FOAr), Instituto de Química (IQ) do campus de Araraquara

e Faculdade de Odontologia de São José dos Campos (FOSJC), bem como as condições

físicas dos equipamentos, existência de padronização e monitoramento do processo

através de indicador biológico e químico, manutenção preventiva, calibração do

equipamento. O Quadro 1 apresenta informações fornecidas pelos responsáveis no

questionário de avaliação do processo.

O indicador biológico mostrou que em uma das autoclaves avaliadas a

esterilização não foi atingida naquele ciclo, pois possibilitou crescimento do

microrganismo após o processo de autoclavagem. Todavia, o indicador químico

apontou que todas as cargas passaram pelo processo, porem não garantindo a

esterilização.

As Figuras 6 mostra os indicadores biológicos após incubação e a Figura 7, o

indicador do equipamento que apresentou positividade para esse teste, respectivamente.

Figura 6 - Indicadores biológicos após incubação

Page 23: Auto Clave

Resultados

16

Figura 7 - Indicador biológico com resultado positivo

Dos laboratórios investigados que fazem uso de autoclave, em três foi

constatada padronização de cargas, monitoramento ou validação do processo com

registro e documentação.

.

Page 24: Auto Clave

Resultados

17

Quadro 1 – Respostas obtidas no questionário aplicado aos usuários de autoclaves em Unidades da UNESP

*1-Meio cultura, vidrarias, soluções; 2 – Resíduos biológicos e perfurocortantes; 3 - Instrumentais; **1 – Pacote; 2 - Lata; 3- Cesto; 4 – Caixa; 5- Balde; 6-Vidro; 7- Embalagem própria para autoclave (saco)

Laboratório

Autoclave Quantidade

Cargas* Acondicionamento da carga**

Monitoramento ou validação do processo através de Indicadores

Evidência ou prova da

eficácia do processo

Manutenção preventiva

Químico Biológico Outros

1 2 3 1 2 3 4 5 6 7

1 2 X X X Não Não 2 1 X X Não Não 3 1 X X X Não Não 4 1 X X X X X X X X Sim Sim 5 2 X X X X X Não Não 6 2 X X X Não Não 7 2 X X X Não Não 8 1 X X Não Não 9 2 X X X X X X Sim Sim 10 1 X X X X Sim Sim

Page 25: Auto Clave

Discussão

18

5 DISCUSSÃO

A esterilização permite a descontaminação de materiais através da eliminação ou

destruição de todas as formas de vida microbiana viáveis, podendo ocorrer por meio de

processos físicos ou químicos. Um dos processos físicos de esterilização mais utilizados

e que fornece segurança é a esterilização a vapor, podendo ser realizada utilizando

autoclaves verticais e horizontais. Nestes equipamentos, os microrganismos são

destruídos pela ação combinada da temperatura e umidade, que promovem a

termocoagulação e a desnaturação das proteínas da estrutura genética celular.

As principais causas de insucesso na esterilização em autoclave são: uso de

carga maior que 80% da capacidade; volume de água em excesso, provocando umidade

nas embalagens, ou escassez de água, que causa danos (queima) nas embalagens;

abertura das autoclaves antes da eliminação da pressão, favorecendo a condensação de

vapor d’água, umedecendo as embalagens; despressurização da autoclave pelo

acionamento da válvula de escape, favorecendo a condensação de vapor; rompimento

das embalagens durante o acondicionamento ou retirada da autoclave; queda da energia

elétrica durante o ciclo de esterilização; falta de limpeza e manutenção do aparelho;

embalagens inadequadas para a esterilização em autoclave (NETO et al., 2004).

Este estudo foi conduzido objetivando verificar a eficácia do processo de

autoclavagem utilizado em alguns laboratórios, visando a implantação de um programa

de procedimentos operacionais da qualidade de esterilização, com calor úmido à alta

pressão, conforme recomendado pelo Manual de Qualificação de Esterilização em

Autoclaves (CCI, 2009), bem como a conscientização do profissional que atua nessa

área quanto aos procedimentos, tais como: volume da carga, tipo de carga, tipo de

embalagem, temperatura, tempo, vapor, indicadores biológicos e químicos,

periodicidade de realização dos testes e sistema de registro. Este trabalho permitiu

Page 26: Auto Clave

Discussão

19

verificar a eficácia do processo de esterilização, e em se tratando de materiais

biológicos, se o mesmo assegurava que pudessem ser encaminhados ao destino final,

sem disseminar contaminação microbiológica (vírus, bactérias, parasitas) aos

manipuladores, meio ambiente e à comunidade.

Durante esse estudo observou-se muitas autoclaves em estado deteriorado, com

vários pontos de ferrugem e evidenciou-se que, na maioria das rotinas, embalagens

próprias para acondicionar a carga e proteger a autoclave de possíveis derramamentos

não eram utilizadas. Embalagens descartáveis para esterilização, que permitem a

adequada penetração e saída do vapor, atuam na conservação do equipamento e

otimizam o descarte quando se trata de resíduos, ficando a carga a ser descartada sem

ser manipulada pelo operador. Alguns funcionários desconheciam a existência desses

produtos, entretanto o seu uso deve ser avaliado para os diferentes tipos de carga.

Verificou-se também que os usuários dos laboratórios desconhecem a legislação

vigente (RDC nº 306 de 2004) que normatiza os requisitos para o processo de

autoclavagem. Observou-se que algumas autoclaves são utilizadas por vários

laboratórios (uso coletivo), havendo, portanto, a necessidade da descrição dos

procedimentos. Normas padrão para utilização das autoclaves qualificam o processo e

asseguram a eficácia do procedimento. A uniformização de práticas, volume, tipo e

embalagem da carga, temperatura, tempo, vapor, indicadores biológicos e químicos,

periodicidade de realização dos testes e sistema de registro para elaboração de

documento legal mostram as condições do equipamento, não justificando a utilização do

indicador biológico em todos os ciclos. A freqüência recomendada para a utilização do

indicador biológico pode variar com o tipo de carga a ser autoclavada.

Page 27: Auto Clave

Conclusão

20

6 CONCLUSÃO

Apesar da comprovação da eficácia no processo em 93,3% das autoclaves

avaliadas, observou-se que há necessidade de um programa de manutenção e

monitoração desses equipamentos. O treinamento dos usuários para que sejam seguidos

os procedimentos operacionais padrão visa não só a eficiência do processo, como

também a preservação e melhor aproveitamento do equipamento, otimização do tempo e

economia de energia. Cabe salientar que o desempenho e a eficácia do processo de

autoclavagem também são decorrentes da aplicação de rotinas e metodologias dos

profissionais, que são responsáveis pelo empacotamento, processamento e

monitorização dos procedimentos efetuados.

Page 28: Auto Clave

Referências

21

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Associação Paulista de Estudos e Controle de Infecção Hospitalar. Esterilização de

Artigos em Unidades de Saúde. São Paulo: APECIH. 1998.

COSTA, A. O.; CRUZ, M. S. S.; MASSA, N. G. Esterilização e desinfecção:

fundamentos básicos, processos e controles. São Paulo: Cortez, 1990.

GUÍA de capacitación: gestión y manejo de desechos sólidos hospitalarios. Programa

Regional de Desechos Sólidos Hospitalários. América Central, 1996. Convenio ALA

91/33.

LUQUETA, G. R. Princípios da esterilização por calor úmido. Como funciona uma

autoclave. Controle de Contaminação. v. 113, p. 25-29, 2008.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7500: Símbolos de

risco e manuseio para o transporte e armazenagem de materiais, Simbologia. Rio de

Janeiro, 1987.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9804: Autoclave

Hospitalar. Disponível em:

http://www.rsdata.com.br/forum/viewtopic.php?f=24&t=1783. Acesso em: 17 set 2010.

NETO, J.L., KERNEL, R. MDOS SANTOS, E.B. Controle de esterilização em

autoclave por meio de métodos químicos e biológicos. UEPG Ci. Biol. Saúde, v.10,

n.3/4, p. 43-48, 2004.

Page 29: Auto Clave

Referências

22

NIEHEUS, R. C. Autoclaves verticais: uma proposta de sistema para garantia do

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Page 30: Auto Clave

Referências

23

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1997. p. 539-594.

Page 31: Auto Clave

Anexo

24

8 ANEXO

Questionário de avaliação do processo de autoclavação Nome da Instituição: Local: Características das atividades desenvolvidas: Tipo de autoclave: Marca: Modelo: Capacidade ( Kg/Litros):

Processo de autoclavação: ( ) Esterilização ( ) Descontaminação Tipo de carga autoclavada ( ) Resíduo – Especificação: ( ) Material limpo – Especificação: ( ) outros – Especificação: Quantidade de material submetido ao processo: ( ) pacote ( ) Kg ( ) latas ( ) outros

O material é acondicionado em sacos para autoclave?

( ) Sim ( ) Não

Existe algum tipo de monitoramento ou validação do processo: ( ) Sim ( ) Indicador químico - Especificação ( ) Indicador biológico - Especificação Local do indicador na carga: Outro: ( ) Não Periodicidade do monitoramento ou validação do processo ( ) diário ( ) semanal ( ) mensal

Page 32: Auto Clave

Anexo

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( ) semestral ( ) anual Existe alguma evidência ou prova da eficácia do processo de autoclavação em toda a carga? ( ) Sim ( ) Não Tempo de autoclavação (minutos): Temperatura: O equipamento passa por manutenção preventiva? Periodicidade: Gostaria de receber as informações pertinentes a este estudo? Data: Características (classe) do indicador Biológico: Lote: Vencimento: Resultado do indicador biológico: Caracterísitcas do indicador químico: Lote: Vencimento: Observações: