Autor: Deniza Inês Giongo Colferai NRE: Pato Branco Escola ... · 3 propriedades, o trabalho...

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Autor: Deniza Inês Giongo Colferai NRE: Pato Branco Escola: Colégio Estadual Arnaldo Busato Disciplina: Geografia ( ) Ensino Fundamental ( x ) Ensino Médio Disciplina da relação Interdisciplinar 1: História Disciplina da relação Interdisciplinar 2: Português Conteúdo estruturante: Dimensão Cultural Demográfica do Espaço Geográfico Conteúdo específico: Os Movimentos Sociais, Urbano e Rurais e a Apropriação do Espaço. Figura 1 Colheita de café Fonte: Estadão, 2008, p.1. Você já parou para pensar como é vida do homem do campo?Como é o seu dia-a-dia? Você a conhece pessoalmente ou leu em algum lugar? 1. A VIDA NO CAMPO Durante muito tempo o que se caracterizava como sociedade brasileira era a que identificava seu meio rural, justamente por ter sido neste espaço, as primeiras relações entre os grupos que formavam nossas populações e também foi onde se encontraram as raízes da nossa organização social. Hoje o Brasil é considerado um AINDA HÁ ESPAÇO PARA O HOMEM DO CAMPO?

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Autor: Deniza Inês Giongo Colferai NRE: Pato Branco Escola: Colégio Estadual Arnaldo Busato Disciplina: Geografia ( ) Ensino Fundamental ( x ) Ensino

Médio Disciplina da relação Interdisciplinar 1: História Disciplina da relação Interdisciplinar 2: Português Conteúdo estruturante: Dimensão Cultural Demográfica do Espaço Geográfico Conteúdo específico: Os Movimentos Sociais, Urbano e Rurais e a Apropriação do Espaço.

Figura 1 Colheita de café Fonte: Estadão, 2008, p.1.

Você já parou para pensar como é vida do homem do campo?Como é o seu

dia-a-dia? Você a conhece pessoalmente ou leu em algum lugar?

1. A VIDA NO CAMPO

Durante muito tempo o que se caracterizava como sociedade brasileira era a

que identificava seu meio rural, justamente por ter sido neste espaço, as primeiras

relações entre os grupos que formavam nossas populações e também foi onde se

encontraram as raízes da nossa organização social. Hoje o Brasil é considerado um

AINDA HÁ ESPAÇO PARA O HOMEM DO CAMPO?

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país urbano, embora ainda haja quem diga que boa parte das cidades existentes

não pode ser considerada como tal, uma vez que suas relações ainda carregam a

ruralidade. Digamos que o Brasil do século XXI não é o mesmo, já que o campo e a

cidade não mantêm as mesmas relações anteriores aos meados do século XX.

Contudo, não há como negar a importância do campo e de interdependência

com a cidade. Embora ainda é predominante a forte o discurso da separação, entre

campo e cidade, dando a entender o campo como espaço selvagem, atrasado e a

cidade o lugar do civilizado e adiantado. Apresenta-se uma abordagem muito

economicista e estatística do campo, o modo de vida do camponês, pouco é

abordado.

Como você percebe essa associação do homem do campo como selvagem

e o homem urbano civilizado? De onde vem isso?

Para buscar elementos para compreender esta questão acesse:

URL:http://www.scielo.br/scielo.php

Vivemos uma época na qual é fundamental discutir o papel do campo e, por

conseqüência do camponês, principalmente, para que as pessoas do campo

possam pensar a sua realidade, visando desconstruir pré-conceitos quanto ao seu

modo de viver, muitas vezes concebido com inferior ao do urbano, ao invés de

concebê-lo apenas como uma especificidade.

E para as pessoas da cidade destacar a importância dos habitantes do

campo, para a manutenção da alimentação do brasileiro e para a economia do país.

Também são assuntos de extrema relevância a existência das pequenas

Camponês é o indivíduo que vive e ou trabalha no campo, aquele que pertence a um grupo social formado por pequenos fazendeiros e trabalhadores rurais de baixa renda (WIKIPÉDIA, 2008)

⇒⇒ Geralmente se destaca um lado da vida do campo, relacionada apenas a produção de alimentos e seu vínculo a questão econômica.

⇒⇒ Mas, é fundamental entendermos o outro lado da vida no campo, a complexidade do mesmo, bem como a vida do camponês, e sua importância.

⇒⇒ Isso, tanto para os alunos do campo como para os da cidade.

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propriedades, o trabalho desenvolvido nas mesmas, que, muitas vezes, não tem o

reconhecimento e a valorização da população urbana.

Escute a música “Obrigado ao Homem do Campo”, composta por Dom e

Ravel e converse com seus colegas sobre a letra da mesma. Segue um trecho

desta:

“[...]

Obrigado ao homem do campo Pelo leite o café e o pão

Deus abençoe os frascos que fazem O suado cultivo do chão [...]”.

Fonte: http://letras.terra.com.br/dom-ravel

Como estes compositores percebem o trabalho do campo?

O modo de vida do homem do campo associada a pouca instrução escolar,

as dificuldades que perpassam essa parcela da população, ainda é muito presente

em várias regiões do país. Ler esta realidade é algo fundamental. Muitas são as

formas de expressá-las, tanto em jornais, revistas, fotografias, documentários quanto

em obras literárias. Nestas últimas, particularmente, essas especificidades são

retratadas em clássicos da literatura brasileira, um exemplo, são as obras de

Graciliano Ramos, como Vidas Secas (veja o quadro 01).

Quadro 01. Recorte do texto de Vidas secas

Esta obra tem início com a fuga de uma família da seca do sertão nordestino:

Fabiano, o pai, Sinhá-Vitória, a mãe, os dois filhos e a cachorra Baleia. Fabiano é um vaqueiro, homem rude, que se sente um bicho e age como tal, e se portando como um selvagem. Homem de poucas esperanças, e não aceita o mundo em que vive. A Sinhá-Vitória, esposa, melhor em pensamentos e diálogos, apesar de limitados. Sonha em ter uma cama de couro, pois a sua é de ripas.

O filho mais velho só quer ter um amigo, sendo difícil pela forma como vivem,

conforma-se com a sua cachorra Baleia. O filho mais novo tem como modelo Fabiano, seu pai, o vaqueiro. A cachorra Baleia não se porta só como um bicho, mas companheira que segue as péssimas condições de sua gente. O desenrolar da história se dá com a chegada da família numa fazenda e a contratação de Fabiano como vaqueiro. Fabiano certo dia vai até a venda comprar mantimentos e se põe a beber. Chega um policial, que o chama para jogar baralho com outros. Numa desavença com o Policial, Fabiano acaba sendo preso, maltratado e humilhado. Aumentando sua insatisfação com o mundo, com seu jeito rude de ser e o desprezo que vê das outras pessoas.

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Na fazenda Sinhá-Vitória começa a achar que o patrão está roubando nos acertos de conta com Fabiano. Mas, não entende as contas e pouco consegue conversar. Fabiano resolve argumentar, mas é ameaçado de despejo, então, cala-se. Tem a festa de natal na cidade, sentem-se diferentes, inferiores, desprezados e humilhados por "patrões" e "soldados amarelos". Baleia adoece e Fabiano precisa sacrificá-la, fere o bicho com um tiro, que vem a falecer durante a noite, sonhando com um mundo cheio de lebres. Na volta da venda após ter tomado alguns goles, o policial do jogo do baralho que o chama de Soldado Amarelo, estava perdido no mato. Fabiano percebe o seu medo, e tem a idéia de matá-lo, descontar toda a sua raiva. Mas, resolve deixar quieto, e ensina o caminho de volta para a cidade. Como não bastasse a seca atinge a fazenda e toda a família foge novamente, só que para o sul, em busca da cidade grande. Fonte: Graciliano Ramos , Vidas Secas

Na Obra Literária Vidas Secas, Graciliano Ramos trata o sertão como

impossibilidade. Por isso, podemos observar temas como: a marginalização do

sertanejo; a submissão ao trabalho; a dificuldade em falar com os opressores; a

impotência do homem na improbabilidade da natureza; a miséria; a solidão dos

homens; a dificuldade em compreender as coisas; o sentimento de ser sempre o

injustiçado.

Faça a leitura do livro ou parte dele. Num grupo de colegas, busquem

estabelecer a relação da história desta família, com a que vocês conhecem na

região que moram. Onde há semelhanças e particularidades da sua região?

Há êxodo do campo para cidade? Quais as causas? Como se dá a relação

de vida no campo em sua região? Como é a relação patrão e empregado nas

fazendas?

2. ORGANIZAÇÃO NO CAMPO

Fazendas: Grande propriedade rural, de lavoura ou de criação de gado. Sítios: Estabelecimento agrícola de pequena lavoura. Chácaras: Pequena propriedade campestre, em geral perto da cidade, com casa de habitação.

A) Atividade

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É interessante que aparece a fazenda como elemento na vida no campo

daquela família. Isto, de certa forma pode ser relacionada com a organização do

campo no Brasil desde o período colonial. A fazenda, no Brasil colônia, por exemplo,

foi, como base física, o núcleo da ocupação humana e do povoamento, mais

importante que as sedes de vila, mais influente que os governos, mais poderosa que

os governadores ou capitães-gerais.

Foi núcleo demográfico como foco de relações étnicas; núcleo social como

ambiente em que se desenvolveram as relações sociais, com base na unidade

familiar; centro político como originário dos chefes de grupo ou de clãs, de líderes

político e tantos outros grupos.

No desenvolvimento do processo de ocupação humana na terra brasileira, a

fazenda foi tomando características próprias, antes de tudo, peculiares à função

econômica, dependendo de cada região que se constituía, e isso sem prejuízo do

sentido social que fundamentava.

A existência das grandes propriedades no país é histórica. Sabe-se que

desde o Brasil-Colônia a concentração de terras nas mãos de poucos é uma

realidade muito presente. Novamente recorremos aos clássicos literários para fazer

um contraponto da leitura indicada anteriormente.

Acima, citávamos um clássico que mostrava a difícil vida de uma família de

camponeses, neste momento, também podemos sugerir a obra São Bernardo, do

mesmo autor, onde se retrata uma nova forma de ocupação da terra (veja quadro

02).

Quadro 02. A conquista da terra pela violência, desmando e imposição de vontade –

OBRA SÃO BERNARDO

Abandonado pelo pai, criado por uma negra, a doceira Margarida, Paulo Honório,

aos dezoito anos, tem a primeira experiência sexual, de que decorre a primeira violência:

esfaqueia João Fagundes, quando este se engraça com Germana, a "cabritinha sarará" que

possuiu.

Neste tempo, já pensava em ganhar dinheiro, sendo que trabalhos na enxada até

então, dentre outros lugares em São Bernardo, onde permanecera no eito e de que

desejava se tornar senhor.

Emprestando dinheiro a juros, negociando no sertão, passando fome e sede, Paulo

Honório acumula algum capital e com ele volta à sua terra, município de Viçosa, Alagoas.

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Aí ficava a fazenda de São Bernardo, cujo novo dono, Luis Padilha - filho do falecido patrão

de Paulo, Salustiano Padilha - é beberrão, mulherengo e incompetente.

Aproxima-se então de Padilha com o propósito calculado de tirar-lhe a propriedade.

Consegue ter êxito fazendo-se seu amigo, emprestando-lhe dinheiro, dando-lhe maus

conselhos sobre o cultivo da fazenda. Quando vence a ultima letra que Padilha devia a

Paulo, dirige-se a São Bernardo (fazenda) e praticamente rouba a propriedade de Padilha,

que, arruinado, acaba por vendê-la a preço irrisório.

Com violência e determinação, Paulo Honório, começa a reconstruir a fazenda.

Através do Capanga Casemiro Lopes, assassina o velho Mendonça, da propriedade

vizinha. Invade os domínios vizinhos, compra máquinas, empresta dinheiro de bancos,

comete grandes e pequenas violências, ganha causas no fórum graças a trapaças de João

Nogueira, o advogado que o protegia.

Além do capanga e do advogado, Paulo Honório contava com o jornalista Gondim,

com o Padre Silvestre e com os políticos da terra, que manejava de acordo com os seus

interesses, a fim de vencer. Reconstruída a casa, iniciada a pomicultura, a avicultura, a

plantação de algodão, e Paulo Honório resolve-se se casar.

Conhece Madalena, a professora da Vila, e simpatiza com ela. na mesma

determinação, no mesmo pragmatismo com que conseguiu a posse e o progresso de São

Bernardo, consegue desposá-la. Madalena muda-se para a fazenda em companhia da tia

Glória.

A vida de Paulo Honório modifica-se a partir dai num processo lento, mas fatal de

ruína: Madalena, humanitária e esclarecida, interfere em sua rotina de domínio e de

exploração. Ajuda os empregados e melhora a situação da escola que Paulo Honório

construíra na fazenda apenas para "agradar"o governador (cujo o professor era Luis

Padilha, o antigo dono da São Bernardo). Trabalha com o guarda-livros, o seu Ribeiro,

mostrando uma conduta que Paulo considerava inadequada às mulheres: comunista e

intelectual. As brigas entre Madalena e Paulo Honório continuam desde o casamento. Isso

por causa da generosidade de Madalena e da violência de Paulo Honório.

Madalena não resiste aos maus tratos do marido e suicida-se. Com a sua morte

Paulo Honório vai perdendo outras pessoas: D. Glória, seu Ribeiro, o Padilha, e também a

obsessão de produzir e ganhar dinheiro.

A revolução de 30 dificulta-lhe os negócios e ele não reage. São Bernardo fenece

sob os olhos indiferentes do proprietário, que começa então a sentir a derrota de sua

antiga imponência: a presença de Madalena perseguindo-o, denunciando a coisificação

estúpida que imprimiu em tudo de que se aproximou.

Através de lá, a quem a amava, sem conhecer esse sentimento, Paulo Honório

compreende o "aleijão" que se tornara. Deformado pela profissão, que o afastou das

pessoas e das relações humanas, substituindo-as por relações de posse, de domínio, de

poder. Ele reconhece a própria monstruosidade.

Impotente para se transformar, sem ter simpatia pelos infelizes que o rodeiam,

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inclusive pelo filho de três anos, desconfiado de tudo e de todos, Paulo Honório amarga a

solidão e isolamento escrevendo um romance e buscando, assim, o sentido da sua vida. FONTE: São Bernardo - Graciliano Ramos <http://geocities.yahoo.com.br/dariognjr69/resumo/bernardo.html>

Faça uma pesquisa da revolução de 1930, que teve como palco o cenário

brasileiro. Para isso ver: www.brasilescola.com/historiab/revolucao-30.htm

Agora que você leu os dois fragmentos das obras de Graciliano Ramos,

considerando que a época que foi escrito Vidas Secas coincide com o período

histórico indicado vivido da obra São Bernardo, busque estabelecer relações entre

elas.

Faça um quadro comparativo com as histórias lidas.

Quadro 03. Comparativa das histórias lidas

Situações Vidas Secas São Bernardo

Local

Personagens - descreva

Idéia principal

Semelhanças com a

nossa realidade....

Ao observar o campo percebemos que a família rural brasileira, estrutura-se

de modo muito simples, está muito ligada ao convívio com o grupo local. Envolvem-

se em atividades comunitárias, mantém uma relação muito forte com os parentes, e

B) Pesquisa

C) Atividade

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existe uma forte ligação de compadrio, ou seja, o amigo, o vizinho batiza seu filho e

a partir daí tem esta ligação de compadre.

Isto acontece nas Cidades? Como é na região onde você mora? Que

histórias teria para contar?

3. ALGUNS PERSONAGENS DO CAMPO

O campo envolve diferentes sujeitos sociais que possuem papéis específicos.

De norte a sul do país a função exercida por eles vai ganhando denominações que

muitas vezes se repetem em regiões diferentes e outras divergem. Veja no quadro

três algumas denominações para as pessoas que vivem no campo, conforme suas

atribuições.

Quadro 04. Denominações para as pessoas que vivem no campo

Posseiro: agricultor pobre que ocupa terras abandonadas; legalmente, pode

valer-se do usucapião para reclamar a posse definitiva das terras após ocupá-las

por certo tempo(quinze, dez ou cinco anos, dependendo dos casos estabelecidos

em lei).

Meeiro: trabalhador, geralmente desprovido de terras, que oferece sua mão-

de-obra e seus equipamentos em troca da metade da produção, conforme acordo

firmado com o proprietário da terra a ser trabalhada.

Grileiro: especulador de terras que se apropria de grandes glebas,

falsificando títulos de propriedade.

Gato: pessoa que arregimenta trabalhadores rurais para fazendas

longínquas. Suas promessas não costumam ser cumpridas, podendo gerar inclusive

trabalho escravo (JAMES e MENDES, 2005, p.184).

Bóia-fria, camaradas, peões: Dependendo da região, os nomes dados a

essas pessoas varia, mas o trabalho é o mesmo, ou muito parecido. Para saber

mais busque informações em livros e ou entrevistando agricultores, escute suas

histórias.

Encontramos hoje, em muitas áreas rurais do país, a população em idade

avançada que enfrenta graves problemas de sucessão nas propriedades, pois parte

expressiva da população jovem prefere se submeter ao desemprego ou ao

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recebimento de baixos salários nas cidades a permanecer na zona rural. Tal fato se

explica em razão da desvalorização social do agricultor, da baixa renda gerada pelas

atividades agropecuárias e do isolamento e dificuldade de acesso aos serviços

públicos básicos, inclusive de educação e saúde pela população no campo.

O que esta ideologia trás como conseqüência para o homem do campo?

No seu Município é possível identificar estas mudanças? Visite a

Emater e/ ou outro órgão agrícola para ver como isso está ocorrendo. Você pode

obter mais dados para pesquisa no Estado e no país para verificar essa situação.

Para isso veja o site: http://www.revistas.uepg.br/index.

Novas atividades estão sendo desenvolvidas no campo, para atender os

moradores da cidade, como pesque-pagues e turismo rural, sendo que tais

empreendimentos têm propiciado maior dinamismo econômico, causando alterações

no perfil econômico e sócio-cultural da população do campo.

Na figura 2, a seguir, são mostradas duas fotografias com características do

campo:

Figura 2 Fotografias de campo: (A) Pesque-pague; (B) Hotel Fazenda OnLine Hotel, 2008. Fonte: Dia a dia Educação, 2008; Fonte: <www.onlinehotel.com.br/>

D) Pesquisa

B A

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A elevação dos níveis de instrução da população do campo, a facilidade ao

transporte, a eletrificação tem contribuído para que uma parcela cada vez mais

significativa desenvolva atividades na cidade, mas resida no campo.

Os diferentes sujeitos sociais do campo, ou os povos do campo, de

diferentes comunidades camponesas, pesqueiras, ribeirinhas, de assalariados,

quilombolas, povos indígenas, são reconhecidos pelo movimento na categoria de

camponeses, para representar, segundo Caldart (2005, p.109 apud CADERNOS

TEMÁTICOS, 2005) “[...] grupos de trabalhadores do campo que se contrapõem às

relações capitalistas de produção”.

Na Literatura podemos analisar como os escritores captam acontecimentos

retratando aspectos do cotidiano das pessoas e dos lugares. Como podemos

identificar na fala de Monteiro (2002, p.94):

[...] Literatura é uma das estratégias para demonstrar que o ‘espaço geográfico’ não significa apenas territorialidade concreta como expressão da elaboração natural. Pela simples razão de que não é possível dissociar a idéia de espaço daquela de tempo, admitindo-se os lugares como espelho onde se encontram todas as imagens dessa magnífica dinâmica de associações e interações do homem com o seu habitat.

E são nesses lugares que podemos ver algumas características do meio

rural:

- habitações isoladas – isolamento geográfico e social;

- comunicações precárias;

- falta de informações corretas;

- certo descontentamento – há uma ocorrência contínua para centros

urbanos;

- credulidade, simplicidade, ingenuidade;

- abandono por parte da administração pública;

- os caminhos e vias públicas não são pavimentados;

- elevados índices de analfabetismo, baixo nível de distribuição de rendas;

- os lazeres e os trabalhos são muitos próximos do grupo de família;

- falta de serviços básicos – água, esgoto, postos de saúde;

- as ocupações principais são ligadas ao serviço da terra.

Como já vimos anteriormente, ao mesmo tempo em que em muitos lugares

possuem áreas prósperas de infra-estrutura, com meio de transporte acessível,

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grande centros de lazer: hotéis fazenda, pesque-pague entre outros. Há outros, que

carecem de estradas para escoarem suas produções, longe do que pode ser áreas

prósperas. Há uma diversidade no campo que impõe uma analise complexa

envolvendo várias dimensões.

Esta complexidade pode ser vista pela própria leitura das Obras Literárias

citadas anteriormente, como em Vidas Secas que mostra o sofrimento da família

castigada pela seca e a relação de trabalho a eles imposta, caracterizando um

trabalho escravo.

Você já ouviu falar em trabalho escravo? Sem dúvida, mas só do

século passado? Existe ainda este tipo de trabalho? Veja as considerações do

quadro 05.

Quadro 05. O trabalho escravo no campo

Leia o texto do quadro 05 é observe se é possível identificar este tipo de

situação na sua região? Pesquise para saber mais sobre o assunto e o que pode ser

feito para possíveis denúncias.

Veja também: www.oitbrasil.org.br/trabalho_forcado/brasil/projetos/documento.php

Embora a abolição formal no Brasil já tenha ocorrido há mais de um século, a escravidão ainda acontece devido ao baixo custo de mão-de-obra e há estimativas de possa atingir até 200 mil pessoas no país. Os trabalhadores escravos são aliciados pelos chamados “gatos” com promessas de bons salários e carteira assinada. São armadilhas. Quando chegam às fazendas são obrigados a comprar comida e roupa fornecidas pelo fazendeiro e ainda precisam pagar pela moradia e pelas ferramentas que usam, tudo a preços exorbitantes. Eles sempre devem mais do que ganham e acabam ficando amarrados à fazenda até que o dono queira se livrar deles (REVISTA ÉPOCA, 2004, p.33).

E) Pesquisa

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Na Obra Literária São Bernardo podemos ver a perda da propriedade, talvez

por descuido, por falta de perspectiva de alguns e esperteza de outros. Estar

consciente da força que é ter uma propriedade e saber que dela pode tirar seu

sustento. E que existe várias formas de progredir mesmo estando no campo. Não

apenas combater o latifúndio, mas valorizar a agricultura familiar.

Para Pensar:

O termo latifúndio deriva do latim latifundiu. Na Antigüidade, era o grande domínio privado da aristocracia, já no sentido moderno, é um regime de propriedade agrária caracterizado pela concentração desequilibrada de terras pertencentes a poucos proprietários com escasso ou inexistente aproveitamento físico destas. Ou seja, os latifúndios são extensas propriedades rurais onde existe uma grande proporção de terras não cultivadas e são exploradas com tecnologia obsoleta e de baixa produtividade (WIKIPÉDIA, 2008).

Aspectos do novo rural brasileiro

Pesquisas recentes têm constatado as transformações muito importantes que vêm ocorrendo nas áreas rurais do mundo e do Brasil. Alguns velhos mitos estão sendo derrubados, outros parecem estar surgindo; todavia, alguns traços futuros já podem ser percebidos com alguma clareza. De início, pode-se perceber que está cada vez mais difícil delimitar o que é rural e o que é urbano. Do ponto de vista espacial o rural hoje é uma continuação do urbano. Do ponto de vista das formas de organização econômica, as cidades não podem apenas ser identificadas apenas como os locais onde se desenvolvem as atividades industriais, nem os campos como as áreas onde apenas se praticam atividades ligadas à agricultura e à pecuária. Parcela significativa do espaço rural brasileiro foi gradativamente se urbanizando nas últimas décadas, como reflexo do processo de industrialização da agricultura e do transbordamento do mundo urbano para aquelas áreas que tradicionalmente eram definidas como rurais. Como resultado, a agricultura interligou-se fortemente ao restante da economia, a ponto de não mais poder ser separada dos setores que lhe fornecem insumos e/ou compram seus produtos. Essa integração pode ser percebida, por exemplo, nos chamados complexos agroindustriais, que passaram a dirigir a própria dinâmica das atividades agropecuárias a eles vinculadas. Assim, o rural não pode ser simplesmente considerado como sinônimo de atraso, já que nos dias atuais não se opõe ao urbano como símbolo da modernidade. [...] Nelson Bacic Olic. (2001, p.1).

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Sim, é possível verificarmos aspectos do novo rural brasileiro. Mas, como o

texto mesmo diz, “esse novo rural” não está avançando por todo o país. Observe o

mapa 1 - Brasil: uso da terra; que evidencia o uso da terra no Brasil.

Sabemos das inúmeras dificuldades enfrentadas por essa população para

poder tornar-se novo rural.

A leitura do livro de Del Grossi e Silva: O novo rural: uma abordagem

ilustrada, disponível no site: http://www.pr.gov.br/iapar, poderá auxiliar na aquisição

de informações sobre esse novo contexto no qual se insere o homem do campo.

4. BIBLIOGRAFIA

A LITERATURA KIT.NET. São Bernardo - Graciliano Ramos. Disponível em: <http://geocities.yahoo.com.br/dariognjr69/resumo/bernardo.html>. Acesso em: 17 nov. 2008.

CALDART, Roseli Salete. Elementos para construção do Projeto Político e Pedagógico da Educação do Campo. In: Cadernos Temáticos: educação no campo. Curitiba: SEED – PR, 2005, p.23-34.

DEL GROSSI, Mauro Eduardo; SILVA, José Graziano da. O novo rural: uma abordagem ilustrada. Londrina: Instituto Agronômico do Paraná, 2002.

DIA-A-DIA EDUCAÇÃO. Imagens Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/bancoimagem/frm> Acesso em: 17 nov. 2008.

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ESTADAO. Fotos de Sebastião Salgado. Disponível em: <www.estadao.com.br/fotos/sebastiaosalgado_div.jpg>. Acesso em: 17 nov. 2008.

GEOGRAFIA. Curitiba: SEED-PR, 2006.

MONTEIRO, Carlos A. de F.. O Mapa e a Trama – Ensaios sobre o Conteúdo Geográfico em criações romanescas. Florianópolis: Editora da UFSC, 2002.

OLIC, Nelson Baci. Aspectos do novo rural brasileiro. Revista Pangea: quinzenário de política, economia e cultura, 15 dez. 2001. Disponível em: <http://www.clubemundo.com.br/revistapangea/show_news.asp?n=100&ed=4>. Acesso em: 15 nov. 2008.

OLIVEIRA,Ariovaldo U. de.Agricultura brasileira.In:Ross, Jurandir,org. Geografia do Brasil. São Paulo, Edusp,1996.

ONLINE HOTEL. Hotel Fazenda. Disponível em: <www.onlinehotel.com.br/.../templo%205.jpg>. Acesso em: 18 nov. 2008.

RAMOS, Graciliano. São Bernardo. Ed. 61.Rio de Janeiro:Record, 1994.

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WIKIPÉDIA. Camponês. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Campon% C3%AAs>. Acesso em: 15 nov. 2008.