Autor: Terezinha Gonçalves de Arantes · O desenvolvimento do projeto propôs ressaltar os pontos...
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A VALORIZAÇÃO DA CIDADE DE PEQUENO PORTE
Autor: Terezinha Gonçalves de Arantes1
Orientador: Reinaldo Aparecido de Lima2
Resumo
A cidade de pequeno porte não é - a despeito do que intuitivamente possa sugerir esta expressão – uma simplificação das cidades brasileiras maiores, com maior número de habitantes e acesso rápido à informação, aos meios técnicos e científicos e de lazer disponíveis nas cidades grandes e médias. Seria prematuro afirmar que todas as pessoas que vivem em cidades de pequeno porte não têm acesso aos novos meios, ao mesmo tempo em que seria precipitado, considerar que todos os habitantes de cidades grandes e médias dispõem de acesso irrestrito a uma comunidade global. A partir dessas premissas, buscou-se refletir sobre os pontos positivos da cidade de pequeno porte, mas sem deixar de enfocar as dificuldades vivenciadas por moradores de uma cidade pequena no seu dia a dia. O objeto principal deste estudo foi valorizar a cidade de pequeno porte e ressaltar os pontos positivos da cidade de Assis Chateaubriand, possibilitando aos estudantes analisar como vivem os habitantes de uma cidade pequena. O trabalho pedagógico com o conteúdo estruturante “A formação, o crescimento das cidades, a dinâmica dos espaços urbanos e a urbanização recente” considerou recortes que enfocam o local e o global, sem negligenciar a categoria analítica espaço-temporal e a interpretação histórica das relações geopolítica em estudo. Por meio de estudos da geopolítica, pode-se entender como as relações de poder determinam fronteiras, possibilitando que o aluno compreenda o lugar onde vive a partir das relações estabelecidas entre os territórios institucionais e entre os territórios que a eles se sobrepõem como campos de forças sociais e políticas. O desenvolvimento deste tema teve como objetivo proporcionar ao aluno refletir sobre os aspectos positivos e negativos de uma cidade de pequeno porte. Após analisar os pontos positivos, os alunos tiveram oportunidades de entender e reconhecer valores do espaço em que habitam. Considerando que Assis Chateaubriand está entre as cidades de pequeno porte, o desafio foi comprovar, juntamente com os estudantes, a existência de pontos positivos dessa cidade como também perceber quais as dificuldades que encontram na cidade. O projeto foi desenvolvido com alunos de 6ª série da Escola Estadual Guimarães Rosa- Ensino Fundamental.
Palavras-chave: urbanização recente; cidade pequena; lugar; valorização da cidade
pequena.
1 Professora especialista da disciplina de Geografia, atuante na rede estadual do Estado do Paraná. 2 Bel. Pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), professor substituto na UNIOESTE (Universidade Estadual
do Paraná) e mestrando do curso de Geografia, da UNIOESTE – Campus de Marechal Cândido Rondon.
1 Introdução
O desenvolvimento do projeto propôs ressaltar os pontos positivos da cidade
de Assis Chateaubriand e, ao mesmo tempo, entender como vivem os habitantes de
uma cidade pequena.
Para compreender o espaço denominado cidade pequena necessita-se
discutir como são construídos, instituídos e produzidos pela sociedade. A
hierarquização de espaços geográficos no território nacional do Brasil é instituída de
formas políticas, culturais e econômicas. E esse espaço e suas inter-relações
compõem o objeto de estudo da Geografia
De acordo com as Diretrizes Curriculares de Geografia do Estado do Paraná
(DCE), o espaço geográfico é apresentado como objeto de estudo e entendido como
espaço produzido e transformado pela sociedade. A dimensão política do espaço
geográfico é apresentada como um dos conteúdos estruturantes e engloba os
interesses relativos aos territórios e às relações de poder que os envolvem. É o
conteúdo estruturante originalmente constitutivo de um dos principais campos do
conhecimento da Geografia e está relacionado diretamente ao conceito de território
(PARANÁ, 2008, p. 71).
O conceito de território, cidade, cidadão, estrutura, entre outros não deve ser
entendidos como atributos naturais de um espaço. São delimitações, definições,
prioridades e relação entre homem-natureza, homem-homem determinadas pelas
relações sociais instituídas política e culturalmente.
Por meio de estudos da geopolítica, pode-se entender como as relações de
poder determinam fronteiras (reais ou imaginárias), constroem e destroem a
materialidade e configuram as diversas parcelas do espaço geográfico nos
diferentes tempos históricos. O estudo da geopolítica deve possibilitar que o aluno
compreenda o espaço onde vive a partir das relações estabelecidas entre os
territórios institucionais e entre os territórios que a eles se sobrepõem como campos
de forças sociais e políticas. Os alunos devem entender as relações de poder que os
envolvem e que de alguma forma os determinam, sem que haja, necessariamente,
uma institucionalização estatal, como preconizado pela geografia política tradicional
(PARANÁ, 2008, p. 71).
A escola não pode ser considerada como “algo” isolado, separado da vida
de estudantes, professores, pais e comunidade, ao contrário trata-se de uma relação
indissociável quando a sociedade introduz na escola seu entendimento de mundo,
seu modo de produção do espaço e a escola é encarregada de perpetuar as
relações dominantes. Desta forma, temas atuais que garantem aos estudantes são
formas de introduzir debates atuais como globalização, espaço, tempo, urbanização
e suas diferentes formas de percepção ou implementação real.
O trabalho pedagógico com esse conteúdo estruturante deve considerar
recortes que enfoquem o local e o global, sem negligenciar a categoria analítica
espaço-temporal, ou seja, a interpretação histórica das relações geopolíticas em
estudo. O desenvolvimento deste tema teve como objetivo possibilitar o aluno
refletir sobre os aspectos positivos e negativos de uma cidade de pequeno porte.
Segundo Endlich e Rocha (2008), o urbano não se compõe apenas das
grandes aglomerações, pois há um amplo e diverso conjunto de pequenas
localidades cujos papéis talvez não se revelem isoladamente, mas na totalidade da
rede urbana. Para eles, estudar as pequenas cidades não corresponde a fazer
apologia a elas. Trata-se de analisá-las profundamente, focalizando tanto nos
processos que podem ser verificados em âmbito regional, e que nos fazem repensar
os papeis dessas localidades, quanto verificar a dinâmica local cotidiana.
Ao conversar com alguns moradores que fazem uso do transporte público na
área da saúde, foi possível constatar que uma das dificuldades vivenciadas pelos
que utilizam dos meios disponibilizados pela prefeitura municipal para se locomover
até as cidades que oferecem os serviços médicos especializados está relacionada
ao tempo e aos transtornos que esses pacientes enfrentam para ir em busca de
tratamento médico fora de seu município de origem. Como a cidade não oferece
serviços em todas as especialidades médicas, muitos pacientes são encaminhados
às cidades vizinhas (Toledo, Cascavel e Umuarama) ou até mesmo a Curitiba,
conforme indicação da Secretária Municipal da Saúde do município. O transporte de
pacientes é feito diariamente pela Secretaria de Saúde do município ou pelo uso de
veículo particular. Essas informações foram obtidas através da Secretaria de saúde
do município.
Além dos serviços na área de saúde, há também dificuldades referentes à
busca por educação de nível superior e por equipamentos mais especializados.
Quanto à educação de nível superior, é significativo o número de alunos que se
deslocam diariamente às cidades de Toledo, Cascavel e Palotina, onde frequentam
cursos de diferentes áreas de conhecimento. O município tem uma Faculdade, mas
é particular, o que impossibilita muitos alunos de cursarem aqui devido à falta de
recursos dessas famílias e/ou porque a Faculdade local não oferece o curso
escolhido pelo estudante.
Além das cidades mencionadas no parágrafo anterior, muitas famílias
chateaubriandense mantêm filhos nas cidades de Maringá, Londrina, Curitiba, ou em
outras cidades do Paraná, e até mesmo em outros estados da federação, a fim de
que eles possam cursar o ensino superior. Um detalhe importante é que a maioria
desses jovens, ao concluir os estudos, não retorna à cidade. Na conversa com
algumas famílias sobre o assunto foi possível obter esta informação; Poucos são os
que retornam após concluírem o curso superior e atuam no município como médico,
dentista, fisioterapeuta, engenheiro e outros. Um dos motivos pelos quais muitos não
retornam é a falta de espaço para desenvolver suas atividades, ou seja, a cidade
não comporta muitos profissionais do mesmo setor pelo número reduzido de
habitantes.
Áreas como saúde e educação não interferem somente na vida dos alunos,
mas também na vida de familiares. O deslocamento dos moradores, em busca
desses serviços, gera custo e também desconforto. Diante desses inconvenientes
algumas famílias migram para outras cidades, acreditando ser essa a solução. Para
as pessoas que fazem uso de serviços, mesmo que temporariamente, esses
deslocamentos podem ser considerados como pontos negativos ou desvantagens
encontradas nas cidades pequenas. Essa não é uma constatação em virtude do
trabalho realizado na implementação, e sim de relatos de moradores e de familiares
chateaubriandense. Assis Chateaubriand, mesmo não tendo todos os recursos
necessários na área da saúde, presta serviços aos moradores de municípios
vizinhos, municípios considerados menores e com menos estrutura que Assis,
portanto esses municípios também não dispõem dos serviços necessários à
população no próprio município.
Após analisar as vantagens de ser morador de uma cidade pequena, os
alunos podem valorizar mais o espaço em que habitam. Dessa forma, e possível
possibilitar ao aluno fazer uma reflexão mais profunda sobre a qualidade de vida na
cidade pequena como também proporcionar a comparação entre o que é positivo e o
que é negativo enquanto morador de uma cidade grande. A idéia de que os grandes
centros podem oferecer boa qualidade de vida e mais oportunidades de trabalho,
melhor saúde, lazer, esporte, educação, entre outros deve ser questionada e não
afirmada.
O desenvolvimento do projeto, junto aos alunos, possibilitou, também,
evidenciar aspectos negativos e/ou desvantagens para os moradores de Assis
Chateaubriand.
Ao discutir o desenvolvimento e a vida nas cidades, é possível perceber que,
entre moradores de cidades consideradas de pequeno porte, fica muito evidente a
percepção dos aspectos negativos delas, ou seja, o comentário fica restrito ao que a
cidade não oferece, enquanto os aspectos positivos nem sempre são destacados.
Assim, muitas vezes, o que se observa é a desvalorização desses espaços pelos
próprios moradores. Ao conversar com moradores foi possível perceber que os
mesmos gostariam de continuar morando nesta cidade, mas para isso, é preciso,
assim como em qualquer outro lugar que haja mais oferta de trabalho e também
possibilidades para estarem em contato com as demais localidades através dos
meios de comunicação como TV, telefones e Internet.
Considerando as diversas classificações de cidades – Assis Chateaubriand
está entre as cidades de pequeno porte3 – o estudo do tema teve como um dos
objetivos ressaltar os pontos positivos e o desafio de comprovar sua existência. Para
iniciar perguntamos: Como os moradores poderiam certificar-se e até mesmo
beneficiar-se do que é classificado e/ou considerado como positivo no município?
Como cada cidadão chateaubriandense poderia contribuir para que moradores de
Assis Chateaubriand percebam a importância da cidade onde vivem? De que
maneira cada morador poderia contribuir para que a imagem refletida pela cidade
seja positiva?
O espaço geográfico é simultaneamente organizado e dividido. A divisão
pode obedecer a critérios funcionais, traduzidos nas paisagens. Dessa forma, as
paisagens organizadas se dividem entre cidade e campo, entre espaço urbano e
espaço rural. Caracterizam-se cada um desses espaços por uma fisionomia própria,
por ritmos de atividades, por densidades humanas e por fluxos diferentes. Nas
3 Encontramos na Geografia Urbana expressões terminológicas que classificam ou conceituam
cidades por porte: grande, médio e pequeno. No entanto, a proposta com o projeto não foi conceituar somente, tampouco classificá-las em pequenas, médias ou grandes cidades, mas ressaltar e buscar entendimento sobre os possíveis pontos positivos e negativos que possam ser vivenciados no dia-a-dia de habitantes de cidades pequenas.
sociedades industriais, entretanto, as fronteiras entre o espaço rural e o espaço
urbano tendem a ir se formando cada vez menos precisas e mais flutuantes.
Imprecisas, pois é difícil fornecer definição exatas e completa de cada um dos
espaços, e movediças pois o espaço urbano vai crescendo às expensas do espaço
rural. O espaço urbano deixou de constituir uma pontual para estender-se em
manchas criadas pela urbanização, urbanização essa que, na medida em que vai
levando para os campos equipamentos e modalidades de consumo análogo aos da
cidade, vai-se estendendo pelas regiões rurais cujas condições de vida estão
sofrendo transformação profunda. (SANTOS, 1991, p. 69).
Para Santos (2004), ser cidadão de um país, sobretudo quando o território é
extenso e a sociedade muito desigual, pode constituir, apenas, uma perspectiva de
cidadania integral, a ser alcançada nas escalas subnacionais, a começar pelo nível
local. Esse é o caso brasileiro, em que a realização da cidadania reclama, nas
condições atuais, uma revalorização dos lugares e uma adequação de seu estatuto
político.
A multiplicidade de situações regionais e municipais, trazida com a
globalização, instala uma enorme variedade de quadros de vida, cuja realidade
preside o cotidiano de pessoas e deve ser a base para uma vida civilizada em
comum. Assim, a possibilidade de cidadania plena das pessoas depende de
soluções a serem buscadas localmente, desde que, dentro da nação, seja instituída
uma federação de lugares, uma nova estruturação político-territorial, com a
indispensável redistribuição de recursos, prerrogativas e obrigações.
Veiga afirma que:
Poucos se dão conta de que a opção por um rápido processo de inovação na indústria e nos serviços, sem piora das taxas de desemprego urbano, não é possível sem a adoção de uma estratégia de desenvolvimento rural que dê preferência à expansão e fortalecimento da agricultura familiar, em vez da promoção de reis do gado (VEIGA4, 2002, p.129).
4 A desigualdade é um osso duro de roer. Ela só diminui aos poucos, se for submetida a uma árdua, ferrenha,
incessante e paciente ofensiva social. Depende muito mais de uma infinidade de mudanças institucionais do que
do crescimento econômico, por mais forte que seja (VEIGA, 2002, p. 44).
A valorização e o fortalecimento da agricultura familiar é de grande relevância
para o tema desenvolvido nesta implementação pedagógica porque Assis
Chateaubriand é considerado um município agrícola, sendo possível o
desenvolvimento rural nesse setor de atividades agrícolas sendo necessárias
parcerias com a administração pública em todas as esferas.
2 Algumas considerações sobre o espaço urbano de Assis Chateaubriand
Ao analisar o mapa do município de Assis Chateaubriand, verifica-se que a
área urbana no início da colonização contava apenas com uma rua e conforme
novos moradores chegavam para desbravar as terras, esses iam fixando suas
residências nos arredores que mais tarde passou a ser o centro da cidade.
De acordo com o planejamento dos engenheiros responsáveis, os primeiros
moradores se instalaram em uma área bastante plana e segundo conta a história do
município ali deveria ser o centro da cidade. Conforme relato do Sr. Rudy Álvares,
um dos donos da colonizadora responsável pela venda das terras, nem mesmo os
primeiros moradores que aqui chegaram e os homens que faziam parte do grupo de
funcionários da colonizadora explicam porque algum tempo depois as famílias
passaram a ocupar a área onde hoje é a região central da cidade. O local onde os
funcionários da colonizadora se instalaram ao chegar com a comitiva responsável
pela venda das terras se transformou em uma vila, cujo nome, era Vila Progresso,
mais tarde a pedido de moradores a vila passou a se chamar Jardim Progresso.
Esse é um dos jardins em que sua população tem baixo poder aquisitivo e
consequentemente é uma das regiões que apresenta vários problemas sociais e
econômicos.
Atualmente, a área urbana está constituída com uma avenida principal no
centro e nos arredores, os bairros. Alguns bairros são totalmente residenciais,
enquanto outros são mistos, ou seja, além de residenciais há bairros que também
abrigam comércio e pequenas indústrias. Existem no município áreas específicas
para a instalação de indústrias que ainda são pouco utilizadas devido à falta de
procura de empresas para se instalarem no município. O município possui também
um mini parque industrial e um parque onde algumas empresas maiores já estão
instaladas, principalmente marmorarias, metalúrgicas e fábricas de móveis. Com o
loteamento de novos bairros residenciais, alguns deles estão próximos as áreas
onde estão as fábricas com a possibilidade de surgirem algumas reclamações em
relação principalmente a ruídos e poluição.
Uma das observações é que mesmo os bairros mais antigos não estão
totalmente povoados, nos últimos anos foram loteados e colocados à venda diversos
bairros e jardins. Para muitos moradores esse procedimento deveria ser contido,
visto que nos bairros mais antigos ainda tem diversos terrenos sem construção e
muitos desses terrenos têm causado problemas até mesmo para a administração
pública por falta de limpeza e conservação.
Alguns bairros loteados recentemente não têm toda a infraestrutura
necessária, é comum encontrar construções novas já à venda porque o morador não
se adaptou à situação de falta de infraestrutura básica que seria o asfalto e o
saneamento básico.
Outra observação importante em relação à ocupação do espaço urbano do
município é em relação ao tamanho dos terrenos (lotes). Tanto no centro da cidade
quanto nos bairros mais antigos predominam os lotes com 600 m², enquanto nos
loteamentos mais novos e nos conjuntos habitacionais os terrenos são menores. A
justificativa é o preço dos lotes. No início da colonização, a área rural era mais
procurada e, portanto mais valorizada que a área urbana. Com a saída das famílias
do campo para a cidade a situação mudou. A procura por lotes urbanos aumentou e
consequentemente a redução dos preços e da metragem dos lotes favoreceu os
compradores com baixo poder aquisitivo.
A cidade ainda se encontra em fase de muitas construções na área urbana e
esvaziamento dos patrimônios, distritos e área rural. Os moradores justificam a
mudança para a cidade pela falta de transporte coletivo, escola para os filhos e
principalmente pela dificuldade para tratamento de saúde para os idosos. Nos dias
chuvosos, algumas regiões rurais ainda ficam intransitáveis.
Para Santos (2009, p. 107), “a organização interna de nossas cidades,
grandes, pequenas e médias, revela um problema estrutural, cuja análise sistêmica
permite verificar como todos os fatores mutuamente se causam, perpetuando a
problemática.”
Segundo Callai:
O lugar não se explica por si mesmo, ou melhor, os fenômenos que acontecem no município, as relações entre os homens, o processo de organização do espaço local não têm as explicações a partir do próprio local apenas. É importante e necessário estabelecer as ligações, buscar as explicações em nível regional, nacional e internacional, inclusive. O estudo local, comumente chamado de estudo do meio, só será consistente se estabelecermos estas ligações com outros níveis. É o local onde vivemos que nos oportuniza as bases concretas para encaminharmos a compreensão das relações sociais, do acesso ao espaço para viver e das condições para tanto. Ao estudar o município, faz-se o estudo do processo de construção da sociedade, isto é, como os homens se relacionam entre si e de que forma estão organizados para prover a sua subsistência, seja em nível de trabalho, saúde, cultura, lazer (CALLAI, 1999, p. 76).
No desenvolvimento da implementação pedagógica foi possível verificar que
o município de pequeno porte mantém relações com municípios maiores para
atender as necessidades que os moradores têm na área da saúde, trabalho, estudo,
cultura e lazer.
3 Implementação do projeto de intervenção pedagógica
3.1 Relatórios do questionário aplicado com pessoas acima de 40 anos de idade
Por meio do questionário detectou-se que a maioria dos entrevistados
reside em Assis Chateaubriand há mais de 40 anos, ou seja, de 43 pessoas que
responderam o questionário, 24 estão na cidade há mais de 40 anos, e desses, 20
afirmaram que é bom morar aqui e 23 afirmaram que morar nesta cidade é ótimo.
A maioria dos entrevistados veio para Assis Chateaubriand para
acompanhar a família que no início da colonização desbravaram as terras e mesmo
não trabalhando mais na agricultura permaneceram na cidade. Muitos filhos dessas
famílias que estão aqui há mais de 40 anos não seguiram a profissão dos pais.
Poucos ficaram na lavoura, grande parte dos filhos de agricultores migrou para a
cidade à procura de outras atividades.
Para as 43 pessoas que responderam o questionário, a cidade poderia
melhorar se houvesse com mais investimentos na saúde, educação oferta de
empregos, melhorias no comércio, lazer, indústria, agricultura, ou seja, confirmando
o que foi questionado no projeto que esses são alguns dos pontos negativos desta
cidade.
Uma questão que surpreendeu foi que quando questionados se gostaria de
morar em outra cidade, dos 43 entrevistados, 36 responderam que não gostariam de
se mudar. Isso demonstra que independente da cidade não oferecer tudo que o
morador precisa, a maioria deles gosta do lugar onde mora.
Quando questionados que nota daria para Assis Chateaubriand, somente
duas pessoas atribuíram nota zero, as demais deram nota acima de quatro.
Das 43 pessoas que responderam o questionário somente duas não se
identificaram. O gráfico abaixo traz o resultado da entrevista com pessoas acima de
40 anos de idade.
Figura 1: gráfico das entrevistas feitas com pessoas acima de 40 anos de idade.
Os entrevistados que optaram pela alternativa “outros” na questão F,
justificaram da seguinte forma: 1 pessoa veio morar com a irmã mais velha devido o
falecimento do pai, 4 pessoas nasceram e cresceram nesta cidade, 2 pessoas se
casaram e vieram acompanhar o esposo, 1 pessoa veio para trabalhar na Educação
e 1 pessoa veio para cursar o Ensino Médio porque na cidade que morava
anteriormente esse nível de ensino não é ofertado.
Na questão H, perguntava se o senhor (a) gostaria de morar em outra
cidade, a alternativa seria sim ou não: 6 pessoas responderam sim, 36 responderam
não e 1 pessoa respondeu que talvez mudaria de Assis Chateaubriand. A pesquisa
foi feita com moradores de diferentes bairros da cidade: 17 moradores do Jardim
América, 1 do Jardim Primavera, 7 do Centro, 3 do Jardim Araçá, 3 do Jardim
Europa, 2 do Jardim Progresso, 1 do Jardim Panorama, 2 da Zona Rural, 1 do
Jardim Carolina e 4 do Jardim Paraná. Duas pessoas não colocaram endereço,
totalizando 43 pessoas que responderam o questionário. Dos bairros acima
mencionados, o Jardim América faz divisa com a Escola Estadual Guimarães Rosa –
Ensino Fundamental e Colégio Estadual Chateaubriandense – Ensino Médio. Os
demais bairros estão entre 2 a 3 quilômetros de distância da escola e outros são da
Zona Rural, o mais distante com aproximadamente 15 quilômetros da sede.
Em relação à profissão dos entrevistados, também variou bastante: 1
motorista, 27 professores, 1 auxiliar de serviços gerais, 1 agente educacional
estadual I, 2 agentes educacional estadual II, 2 agricultores, 1 cabeleireira, 1
tratorista, 1 aposentado, 1 advogado, 1 pedagoga, 1 não colocou profissão,
totalizando 43 pessoas que responderam o questionário.
Pelo fato do questionário ter sido aplicado na Escola Estadual Guimarães
Rosa -Ensino Fundamental, Escola Municipal Odila de Souza Teixeira e no Núcleo
Regional de Educação apresenta-se bastante elevado o número de professores e de
e outras pessoas com funções ligadas à educação e que possui Curso Superior.
3.2 Relatório do questionário aplicado com crianças e adolescentes de 10 a 14 anos
de idade.
Figura 2: gráfico das entrevistas feitas com jovens e adolescentes de 10 a 14 anos de idade.
Em relação à questão da letra (e), as respostas foram surpreendentes,
porque mesmo que as crianças e os adolescentes já tenham conhecimento de que a
cidade apresenta alguns pontos negativos, dos 153 entrevistados, 98 consideram a
cidade boa, 48 ótima e apenas 7 consideram ruim morar em Assis Chateaubriand.
Pelo fato dos entrevistados serem moradores de diferentes bairros da cidade, o que
justifica alguns terem optado pela alternativa ruim pode estar ligado à estrutura de
cada um dos bairros. Alguns alunos residem em bairros mais afastados onde a infra-
estrutura é bastante deficiente. Em alguns desses bairros ainda não tem nem o
básico como asfalto.
Quanto ao lazer preferido, 53 das 153 crianças e adolescentes
entrevistados, afirmaram que o lazer preferido é praticar esportes, 36 preferem
visitar os amigos, 16 assistir TV, 30 acessar a Internet e 18 optaram por outras
atividades.
Das 153 crianças e adolescentes entrevistados, 40 afirmaram que
costumam se divertir na companhia de seus pais, 118 na companhia de amigos, 18
se divertem na companhia de irmãos e 16 optaram pela alternativa outros.
Em relação à escola, dos 153 entrevistados, 26 afirmaram que estudar é
prazeroso, 105 que é necessário, 9 porque é obrigatório, 17 porque gostam de
encontrar os amigos e 3 optaram pela alternativa outros.
Quanto ao esporte preferido, houve certo equilíbrio entre as opções, ou
seja, dos 153 entrevistados, 32 preferem futebol de campo, 45 voleibol, 43 futsal, 7
basquetebol, 9 não gostam de esportes e 20 optaram pela alternativa outros.
Ao serem questionados sobre o meio de transporte que utilizam para ir até a
escola, dos 153 entrevistados, 61 utilizam a bicicleta, 27 o transporte escolar
público, 18 utilizam veículo particular e 56 costumam ir para a escola a pé. Os que
vão a pé são moradores dos bairros mais próximos à escola.
Pela idade das crianças e dos adolescentes entrevistados, as sugestões
dadas em relação ao que falta em Assis Chateaubriand, 82 responderam que faltam
parques de diversão, 13 que faltam escola, 70 que faltam clubes, 33 que é preciso
ter mais praças, 46 sugeriram mais quadras poliesportivas, 135 gostariam que a
cidade tivesse Shopping Center e 34 optaram pela alternativa outros.
É importante observar que quando o entrevistado coloca a falta de escolas,
ele está se referindo ao Ensino Superior Público. Conforme posto no projeto muitos
pais precisam manter filhos morando em outras cidades para cursarem o Ensino
Superior.
Dos 153 entrevistados, 19 pessoas não se identificaram e 4 delas não
colocaram o endereço residencial.
Na questão F, quando questionados sobre o lazer preferido dos 153
entrevistados, 18 optaram pela alternativa, outros e apresentaram as seguintes
justificativas: sair com a família, namorar, dançar, ler, fazer nada, tocar piano, andar
a cavalo, ficar em casa sozinha e em silêncio total, tocar violão, brincar, jogar vídeo
game.
Nesta questão confirma-se o que foi colocado no projeto de que a cidade não
oferece opção de lazer, independente da idade de seus moradores.
A questão de letra G, quando questionados com quem o entrevistado
costuma divertir-se, dos 153 entrevistados, 14 fez opção pela alternativa outros, e
disseram que costumam divertirem-se na companhia de namorado, namorada,
família, avós. Alguns apontaram que se diverte ficando em casa ou fazendo uma
pescaria.
A questão de letra H questionava o entrevistado do por que vai à escola, 3
optou pela alternativa outros e afirmaram que vai á escola para ser uma pessoa
melhor na vida, para ter um bom futuro e porque quer um futuro para a vida.
Já na questão de letra I, 14 dos 153 entrevistados optaram pela alternativa
outros e deram as seguintes sugestões: haly, handebol, basebol, dança, tocar sax,
jogar capoeira e karatê. A questão era sobre o esporte preferido do entrevistado,
portanto é possível afirmar que mesmo sendo moradores de uma cidade pequena a
criança e/ou o adolescente tem conhecimento de outros esportes e talvez
praticassem se houvesse oportunidade e condições para esta prática, além , de
outros esportes que são vistos como os mais praticados e/ou comuns.
A questão de letra K, quando questionados sobre o que falta em Assis
Chateaubriand, 03 dos 153 entrevistados optou pela alternativa outros e apontaram
que faltam hospitais bons e equipados, internet GVT, cinema, teatro, diversão para
jovens, indústrias, aeroporto, pista para prática de skaite, lugares de lazer para finais
de semana, shows.
As respostas obtidas na questão de letra K confirmam o apontamento feito
no projeto onde a professora coloca que é expressivo o número de moradores que
diariamente deslocam-se da cidade em busca de recursos nas cidades vizinhas.
Verificou-se também que os 153 entrevistados de 10 a 14 anos de idade que
responderam o questionário, são moradores de bairros diferentes da cidade e
também alguns deles são moradores da zona rural, conforme mostra a relação
abaixo:
Zona Rural 18 pessoas, Jardim Panorama 11, Jardim América 52, Jardim
Progresso 13, Centro 1, Jardim Sheila 05, Jardim Carolina 01, Jardim Araçá 14,
Jardim Paraná 01, Jardim Jussara 08, Jardim Europa 07, Distrito de Encantado do
Oeste 01, Conjunto Habitacional Morada do Sol 02, Vila Rural 01, Parques Industrial
01, Conjunto Habitacional Cristo Rei 01. Não colocaram o endereço residencial 06.
Total 153 entrevistados.
O número expressivo de moradores do Jardim América, justifica-se pelo fato
do questionário ter sido aplicado com os alunos da Escola Guimarães Rosa-Ensino
Fundamental que se localiza na divisa do Centro com O Jardim América, portanto a
maioria dos alunos que residem neste bairro opta por estudar nesta escola por ser a
mais próxima.
É importante ressaltar que a maioria dos entrevistados são crianças e
adolescentes moradores na área urbana. Dos 153 que responderam o questionário,
apenas 19 são moradores da área rural. O resultado com certeza apresentaria com
algumas diferenças, principalmente em relação ao lazer, prática de esportes e o que
gostariam que tivesse em Assis Chateaubriand.
3.3 Relatórios do questionário aplicado com pessoas de 25 a 40 anos de idade
Devido aos locais em que o questionário foi aplicado o número de pessoas
que possui curso superior apresentou-se bastante elevado. Das 48 pessoas que
responderam o questionário 33 possui curso superior. Isso se deve ao fato do
questionário ter sido aplicado com professores e funcionários de escola estadual e
municipal e Núcleo Regional de Educação.
Esta faixa etária apresentou um diferencial em relação aos entrevistados
com idade acima de 40 anos. Neste onde os entrevistados estão entre 25 e 40 anos
de idade, quando perguntados sobre a quanto tempo reside em Assis
Chateaubriand, somente 04 dos 48 entrevistados estão na cidade a mais de 40
anos. Enquanto os de idade acima de 40 anos de 43 entrevistados, 24 estão no
município a mais de 40 anos.
Quando perguntados por que mora em Assis Chateaubriand, dos 48
entrevistados, 27 responderam que estão na cidade porque tem trabalho fixo, 15
respondeu que a cidade é acolhedora, 5 porque se sente seguro, 1 porque a cidade
é bonita e 8 deles citaram outros motivos. Portanto mais uma vez percebe-se
através das respostas que as pessoas gostam de estar na cidade, porém, são
unânimes em afirmar e relatam o que faltam, ou seja, os pontos que são colocados
como negativos. Porém estes pontos negativos interferem muitas vezes na
qualidade de vida e/ou maior conforto que os moradores poderiam usufruírem, mas
não interferem quanto à preferência que muitos dos moradores têm pela cidade e o
quanto gostam do lugar onde vivem.
Em relação ao que poderia melhorar caso a cidade recebesse mais
investimentos as opiniões foram as mesmas das colocadas pelas pessoas acima de
40 anos de idade, ou seja, saúde, educação, empregos, indústria, segurança,
agricultura, comércio e lazer. É importante esclarecer que quando citam educação
esta se refere ao Ensino Superior e Público, pois o Ensino Fundamental e Médio
ainda não apresenta falta de vagas. Da mesma forma que ocorreu com o
questionário aplicado com pessoas acima de 40 anos de idade, onde um número
expressivo de entrevistados possui o curso superior na faixa etária de 25 a 40 o
resultado foi parecido. A justificativa é que o questionário foi aplicado em duas
escolas e no Núcleo Regional de Educação, abrangendo um número grande de
pessoas e foram entrevistadas poucas pessoas da comunidade. Vale também
observar que o questionário foi aplicado somente na área urbana. Não houve
trabalho de campo na zona rural.
Quando perguntados como classificariam a cidade de Assis Chateaubriand,
dos 48 entrevistados, 35 classificaria como uma cidade boa, 9 como ótima, 03
excelente e somente 1 como ruim.
É possível verificar também que varia muito de o que seria uma cidade boa,
principalmente para os entrevistados que têm mais idade estes já não sentem muito
a falta de áreas de lazer e também grande parte desses já estão estabilizados
profissionalmente a cidade de pequeno porte quase sempre atende suas
necessidades.
Dos 48 entrevistados, apenas 04 não se identificaram, mas puseram o
endereço residencial.
Das 08 pessoas entrevistadas que optou pela alternativa outros, somente
uma justificou dizendo que mora na cidade há apenas 03 anos, veio morar em Assis
por motivo do casamento e faz um elogio dizendo que aprendeu a gostar de Assis
Chateaubriand e atribui isso pelo ótimo acolhimento que recebeu dos colegas de
trabalho e de pessoas da comunidade chateaubriandense.
As 48 pessoas entrevistados residem em bairros diferentes, sendo 03
moradores no Jardim Jussara, 05 no Jardim Panorama, 08 no Jardim Paraná, 05 na
região central, 15 no Jardim América, 02 na zona rural, 02 no Jardim progresso, 07
no Jardim Europa e 01 no Jardim Araçá.
Quanto às profissões as respostas foram: 06 entrevistados são Agente
Educacional II, 02 funcionário público, 01 pedagoga, 22 professores, 01 agricultor,
01 massoterapeuta, 01 auxiliar de produção, 01 operador de máquina, 01 balconista
01 classificador de cereais, 01 mecânico, 03 Agentes Educacionais 01 policial, 02
comerciantes e 01 cozinheira.
Na questão F, o número não bate porque o entrevistado fez mais que uma
opção. O número maior de professores justifica-se pelo fato do questionário ter sido
aplicado com professores e funcionários da Escola Estadual Guimarães Rosa -
Ensino Fundamental. Abaixo, o gráfico do questionário aplicado com pessoas de 25
a 40 anos de idade.
Figura 3: gráfico das entrevistas feitas com pessoas de 25 a 40 anos de idade.
Na primeira atividade de implementação do projeto os alunos escreveram o
que sabiam sobre a cidade de Assis Chateaubriand e a partir dos conhecimentos
expressados no texto deu-se o encaminhamento no tema.
O estudo do município permite que o aluno constate a organização do espaço, que possa perceber nele a influência e/ou influências dos vários segmentos da sociedade, dos interesses políticos e econômicos ali existentes e também de decisões externas ao município, confrontando-se inclusive com interesses locais e da população que ali vive. Estudar o município tem pelo menos duas vantagens: o aluno tem condições de reconhecer-se como cidadão em uma realidade que é da sua vida concreta, apropriando-se das informações e compreendendo como se dão as relações sociais e a construção do espaço. (CALLAI, 1999, p. 79).
Os alunos que participaram dessa implementação pedagógica mostraram
através de textos escritos no decorrer dos encontros justamente o que está posto na
citação acima. Com as informações obtidas demonstram mais condições em
reconhecer-se como cidadão e compreender as relações construídas na sociedade
onde pertencem.
4. Produção dos alunos
Nos primeiros encontros que os alunos participaram, foi proposto que eles
escrevessem um texto sobre a cidade de Assis Chateaubriand. A seguir alguns
desses textos.
Assis Chateaubriand é uma cidade bonita, mas os administradores (prefeita) deveria se empenhar um pouco mais na administração (Aluna A). O horto florestal é um dos lugares importantes para os moradores e já ouvi algumas pessoas que residem em cidades maiores reclamarem (Aluna B). Desde o início ainda na época da colonização já faltava trabalho para algumas pessoas. A aluna afirma que esta fala é de sua avó que disse a ela que quando chegaram a cidade não tinha asfalto e o meio de transporte era a carroça puxada por cavalo ou a pé. A avó disse também que eles eram muito pobres e que viviam de maneira muito simples (Aluna C). Gosto muito dessa cidade. Diz o aluno, nunca mudei de Assis e nem pretendo mudar, quase todos os meus parentes moram aqui. É uma cidade nova. Dia 20 de agosto de 2011, a cidade fez 45 anos (Aluno D). Moro em Assis Chateaubriand há 12 anos. Moro com meus pais e meu irmão. A cidade é pequena, mas mesmo assim, acho ótimo morar aqui, porque mesmo a cidade sendo pequena tem muitas coisas maravilhosas que em outras cidades não tem. Às vezes morar em cidades grandes não tem nem como andar de bicicleta. Já em Assis Chateaubriand tem como fazer isso e outras atividades semelhantes.
Assis Chateaubriand é uma cidade pequena onde moram 33 mil habitantes, mas que com o tempo poderá crescer. Morar em Assis é muito bom, eu nasci aqui e pretendo morrer aqui também. Uma das atividades propostas na implementação foi a aula de campo. Realizamos um passeio pelas ruas da cidade explorando as partes mais antigas e principalmente a área central. Conforme íamos passando pelas ruas e na medida do possível explicava aos alunos como foi o início da ocupação e as transformações para chegar ao que a cidade é hoje. Os alunos demonstraram muito interesse e queriam saber mais não só em relação a localização mas também quanto ao funcionamento principalmente de alguns órgãos públicos como Fórum, Correios, Sindicatos, Agência do INSS e outros (Aluna E).
4.1 Textos escritos pelos alunos após aula de campo
Após a aula de campo todos os alunos relataram por escrito o que
observaram percorrendo algumas ruas da cidade. Abaixo alguns desses relatos.
No lugar da Igreja Nossa Senhora do Carmo atual, era mato, e a Igreja era no lugar da São Francisco de Assis. O fórum não existia, se tivesse um problema teria que resolver em Toledo. Fiquei sabendo que existem vários sindicatos em Assis Chateaubriand, hoje. Fica a casa de Bem Patrimonial estão guardados partes dos documentos que contam um pouco da história do município. O correio é importante na cidade porque é através dele que as pessoas mandam correspondências para outros lugares. O INSS, onde os aposentados recebem as aposentadorias, pensões, etc. Atrás da casa da cultura a futura faculdade, antiga prefeitura era um seminário de padres da Igreja Católica, hoje a OAB, Ordem dos Advogados e a APP, é o sindicato dos professores. A Rua do Bosque é uma das ruas mais velhas da cidade. A igreja Luterana é uma das primeiras igrejas evangélicas. A Rua Presidente Kennedy, as casas são ainda de madeira, nessa rua havia uma indústria de madeira que pegou fogo e nunca mais construíram nada no lugar. No lugar da Igreja Batista dois era uma torrefação de café o Velho Capitão que agora é na saída para Toledo. A Avenida Tupãssi continua depois da Igreja São Francisco de Assis. Perto da igreja tem um prédio que antes era um hospital, já foi o CETAC e agora está a venda. No Bazar Marissol era um ponto de ônibus (o primeiro) ele é o bazar mais velho de Assis. Na avenida tem um prédio que antes era um hotel, hoje, na parte de baixo é a panificadora Avenida. O hotel acabou porque a cidade ficou menor. Na loja Dupé Calçados era um cinema, e perto do posto Sol era a TELEPAR. Onde é a feira era uma rodoviária de madeira. (Aluna 01). O projeto para mim foi uma coisa muito importante porque eu nunca tinha aprendido tanto de Assis. Essa cidade que tem defeitos e qualidades. Aprendi que nessa cidade já moraram muitas pessoas e que hoje temos um número bastante reduzido de moradores. Fiquei sabendo que a prefeitura já foi queimada e que antes era tudo mata. A cidade evoluiu bastante, mas ainda precisa de recursos. Vi fotos das primeiras casas de Assis Chat., da tradição de como era o aniversário de Assis e o jeito que eles comemoravam. Em um passeio que saímos às 14 horas, nós percorremos parte do centro da cidade, eu soube muitas coisas que não sabia. Ex. como e para que serve o fórum e também a casa de Bem Patrimonial. Uma das primeiras ruas de Assis é a Rua do Bosque. Aprendi mais coisas como onde hoje é a Dupé, antes era um cinema, perto do Posto Sol era telefonia e onde era TELEPAR é a Brasil Telecom. Na Rua Presidente Kennedy tinha uma fábrica de madeira que foi queimada. Depois do lanche na sorveteria, fomos para a escola (aluna 02).
4.2 Textos escritos pelos alunos relatando como é o dia a dia de cada um na cidade
de Assis Chateaubriand
Conforme o item acima os alunos foram motivados a relatarem sua rotina
enquanto morador de Assis Chateaubriand. A seguir alguns desses relatos:
O meu dia a dia é assim: Segunda-feira vou à escola. Ao meio dia, volto para casa almoço e vou um pouco à casa da minha vizinha. Depois volto para casa lavo louça e vou para as aulas do projeto. Às dezessete horas volto para casa tomo café da tarde e faço a tarefa. Depois da tarefa tomo banho, janto e vou dormir. Terça-feira: venho para a escola e depois do almoço vou para a aula de espanhol. De volta para casa tomo café e vou à casa da vizinha. Quando volto da vizinha tomo banho e vou à Igreja, chego da igreja e vou dormir. Quarta-feira: de manhã vou à escola e quando retorno da escola almoço, lavo louça e vou passear na casa da vizinha. Às dezesseis horas, vou para a aula de catequese e no retorno para casa tomo o café da tarde, faço tarefa, tomo banho e vou dormir. Quinta-feira: de manhã vou para a escola e quando retorno para casa almoço, vou na casa de uma amiga e mais tarde vou para a aula de espanhol. No retorno para casa tomo café, faço a tarefa e quando anoitece tomo banho e vou dormir. Sexta-feira: de manhã vou para a escola. Ao meio dia retorno para casa e às quatorze horas tenho aulas do projeto, chego em casa às dezessete horas e tomo café. Mais tarde faço a tarefa da escola e à noite tomo banho e vou dormir. Sábado: Acordo mais tarde do que nos demais dias da semana, assisto desenho na TV, brinco um pouco e às vezes saio de casa para divertir, e à noite vou dormir. Domingo: Acordo mais tarde por que não tenho que ir à escola. Costumar brincar um pouco e à noite vou à missa. Depois da missa às vezes vou dar uma volta com minhas amigas. Esta é a minha rotina (Aluna A). Meu dia a dia, primeiro de tudo eu acordo às 06:00 horas, escovo os dentes, penteio os cabelos me visto, não tomo café, passo nas casas de minhas amigas e vamos de bicicleta para a escola. Estudo e depois vou para casa. Ao chegar na minha casa, almoço só um pouquinho, depois vou fazer o meu serviço que é um tédio. Eu odeio fazer serviço. Depois do serviço eu vou para o computador, assisto TV, ou eu saio. Sábado eu acordo me arrumo e vou para a aula de catequese. Eu odeio sábado de manhã por que faço faxina em casa e às vezes eu vou trabalhar com minha mãe, mas é só para não fazer serviço de tarde. Quase todos os dias eu saio. Sempre no sábado tem uma visita e às vezes brinco com meu galo. Jogo a bola de vôlei, e o galo chuta, é muito legal, o galo sempre cata a bola no gol. Meu galo é muito bravo, ele ganha a briga com meu cachorro que é um pinche. À noite assisto a um filme e depois vou dormir. No domingo saio, vou para a piscina. È uma piscina paga, de lá vou para outros lugares. Aos domingos, não paro em casa É de manhã até a noite. Bem é isso o meu dia a dia (Aluna B). De segunda a sexta-feira, acordo ás 06: horas e 30 minutos da manhã, tomo café sozinha e vou para a escola estudar. Segunda - feira à tarde quando chego da escola almoço, faço serviço, depois sento no sofá e assisto a um filme na TV. Enquanto assisto a um filme, como chocolate e mais tarde vou brincar de bola com meu irmão Guto. À noite janto com minha família, assisto a um filme e vou incomodar meu irmão. Terça - feira: Vou lanchar e à tarde vou incomodar minha prima Maria que vai fazer trabalho na escola. Quando retorno para casa, assisto malhação. Quarta-feira: é a mesma rotina de terça. Quinta-feira: vou jogar bets com a Maria, a Flávia e a Bia. Depois jogo futebol e à noite jogo esconde - esconde na rua com os meus amigos. Sexta – feira: Assisto TV, vou brincar e à tarde vou ao projeto de Geografia. À noite janto, leio um livro, esqueci o nome do livro (Aluna C).
Considerações Finais
Pelos relatos e pelas observações feitas no decorrer da implementação do
projeto, foi possível concluir que a maioria dos alunos tinha poucas informações
sobre a cidade de Assis Chateaubriand. Até os alunos nascidos no município de
Assis Chateaubriand, cujos pais residem aqui há mais tempo mostrou-se surpreso
com algumas informações. Um dos pontos positivos da implementação foi constatar
que o tema proposto agradou a maioria dos alunos participantes e no término de
cada encontro foi possível perceber que os alunos continuaram motivados para o
próximo encontro, demonstrando bastante interesse em obter informações sobre a
cidade.
Não parece lógico associar a cidade de pequeno porte com falta de
estrutura, acesso a informação, benefícios dos meios técnicos e científicos e
variadas formas de lazer, mas foi pensando no homem como cidadão do mundo que
procurou no decorrer do projeto destacar os pontos positivos e negativos da cidade
de Assis Chateaubriand. Negativo não para mostrar o lado ruim e sim alguns pontos
que precisam ser melhorados. Positivo não no sentido de tudo maravilhoso e sem
problemas, mas em relação ao mínimo necessário que cada cidadão necessita para
sua sobrevivência, mesmo que este resida em uma cidade pequena.
A pesquisa teve como objetivo levantar dados a respeito do que as pessoas
pensam em relação ao que vivenciam em cidade como Assis Chateaubriand.
Em alguns questionários foi possível observar que o entrevistado tem
sugestões e aponta principalmente o poder público como gerenciador e responsável
pelas mudanças que segundo o mesmo é possível ocorrer.
Devido à falta de estrutura, do consumismo pregado todos os dias pelos
meios de comunicação, da necessidade de acesso a informação e aos benefícios
dos novos meios técnicos e científicos e da conecção, mesmo que precária, da
cidade de Assis Chateaubriand com outras cidades maiores, não existem
dificuldades em entender o descontentamento dos moradores com o isolamento da
cidade quando se trata do acesso aos bens de consumo, do emprego, saúde de
qualidade e diversão.
Nesta perspectiva é que se podem entender as causas do isolamento dos
cidadãos e dos benefícios encontrados em cidades maiores e propor à integração
entre o que os moradores valorizam na cidade de Assis Chateaubriand e o acesso a
saúde gratuita e de qualidade, a educação, transporte, diversão e ao consumo de
produtos que desejam consumir.
O questionário aplicado possibilitou verificar que vários entrevistados
percebem o problema, sentem que é preciso mudar alguns aspectos, mas não
apresentam sugestões que contribuam para possíveis mudanças.
A cidade de pequeno porte não pode ser sinônimo da falta de estrutura,
acesso a informação, benefícios dos meios técnicos e científicos e variadas formas
de lazer, mas também não se pode negar que na maioria delas esses elementos
acabam contribuindo para o afastamento de algumas famílias do município que vão
à procura de outros lugares para se instalarem.
Os relatórios apontaram que muitos moradores de Assis Chateaubriand
residem aqui porque gostam e mesmo com a falta de estrutura em alguns setores,
afirmaram que não pretendem sair. Quando necessário vão a outras cidades em
busca de serviços que Assis Chateaubriand ainda não oferece.
Segundo Santos (2004), o papel do lugar é determinante. Ele não é apenas
um quadro de vida, mas um espaço vivido, isto é, de experiência sempre renovada,
o que permite, ao mesmo tempo, a reavaliação das heranças e indagação sobre o
presente e o futuro. A existência naquele espaço exerce um papel revelador sobre o
mundo.
As cidades locais se especializam tanto mais quanto na área respectiva há possibilidades para a divisão do trabalho, isso tanto do ponto de vista da materialidade quanto do ponto de vista da dinâmica interpessoal. Quanto mais intensa a divisão do trabalho numa área, tanto mais cidades surgem e tanto mais diferentes são umas das outras. (SANTOS, 2009, p. 57).
Referências
ANTONIO CARLOS CASTROGIOVANI; HELENA COPETTI CALLAI; NEIVA OTERO SCHAFFER; NESTOR ANDRÉ KAERCHER. Geografia em sala de aula práticas e reflexões. Porto Alegre – Editora da Universidade, 1999.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisado em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 16 abr 2012.
MAGNOLI, D. Livro Didático do Ensino Médio. vol. 2. São Paulo – SP: Saraiva, 2010.
MAIOR, SL. História do Município de Assis Chateaubriand. O encontro das correntes migratórias na última fronteira agrícola do Estado do Paraná. Maringá, Clichetec/Gráfica e Editora, 1996.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica: Geografia. Curitiba: SEED, 2008.
SANTOS, M. A Urbanização Brasileira. 5.ed. São Paulo – SP: Editora da Universidade, 2009.
SANTOS, M. O Espaço Geográfico. 5 edição. Rio de Janeiro – RJ. Editora Bertrand Brasil S.A. 1991
SANTOS, M. Por uma outra globalização. 11 ed. Rio de Janeiro – RJ. Editora Record, 2004.
VEIGA, J.E. da. Cidades imaginárias: o Brasil é menos urbano do que se calcula.2.ed. Campinas – SP: Autores Associados, 2003.