Avaliação da Aprendizagem Escolar_Um ato Amoroso

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    CAPITULO IX

    Avaliacao da Aprendizagem Escolar:urn ato amoroso

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    Durante muitos anos de trabalho com a avaliacao daaprendizagem escolar, dediquei-me a desvendar as tramas nasquais essa pratica se constitui e vern sendo exercitada emnossas escolas: uma pratica arneacadora, autoritaria e seletiva .Portanto, ao longo desse tempo, vim denunciando 0 processode exclusdo que a pratica da avaliacao da aprcndizagern escolarexercita, .neihor dizendo, tern exercitado em relacao aos edu-candos, no passado e no presente.

    Ainda que em todas as minhas falas e escritos tenha mepreocupado tanto com a demincia da situacao escolar concretaquanto com 0 arnincio de possibilidades de acao, parece quetenho ressaltado mais 0 aspecto negativo da avaliacao daaprendizagem escolar. Desejo, nesta oportunidade, essencial-mente, abordar as seus aspectos positives. Quero clarificarcomo 0 ato de avaliar a aprendizagem, por si, e urn ateamoroso. Entendo que a ato de -avaliar e, constitutivamente,amoroso. Convido 0 leitor a viajar cormgo nesta meditacao.

    Provas/exames e avaliacao da aprendizagem escolarA pratica escolar usualmente denorninada de avaliacao da

    aprendizagem pouco tern a ver com avaliacao. Ela constitui-se168

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    muito mais de provas/exames do que de avaliacao. Provas/exa-mes tern por finalidade, no caso da aprendizagem escolar..verificar 0 nfvel de desempenho do educando em determinadocontetido (entendendo por conteiido 0conjunto de informacoes,habilidades motoras, habilidades rnentais, conviccoes, criativi-dade etc.) e classifica-lo em termos de aprovacao/reprov=cao(para tanto, podendo utilizar-se de nfveis variados, tais como:superior, medio-superior, rnedio, medic-inferior, inferior, sern-rendimento; ou notas que variarn de 0 a 10, ou coisa semelhante).Desse modo, provas/exames , separam es "eleitos" dos "nao-eleitos". Assim sendo, essa pratica excIui uma parte dos alunose admite, como "aceitos", urna outra. Manifesta-se, pais, comourna pratica seletiva.

    Essa caracteristica das provas/exames nao e graciosa. Elaesia comprometida, como tenho denunciado em textos e falas,com 0 modelo de pratica educativa e, consequentemente, coma modelo de sociedade, ao qual serve. A pratica de provas/exa-mes escolares que conhecemos tern sua origem na escolarnoderna, que se sisternatizou a partir dos seculos XVI e XVII,com a cristalizacao da sociedade burguesa. As pedagogiasjesuuica (sec. XVI), comeniana (sec. XVII), lassalista (fins doseculo XVII e infcios do XVIII) sao expressoes das experienciaspedagogicas desse periodo e sistematizadoras do modo de agircom provas/exames. A pratica que conhecemos e herdeira dessaepoca, do momento historico da cristalizacao da sociedadeburguesa, que se constitui pela exclusao e rnarginalizacao degrande parte dos elementos da sociedade. A sociedade burgvesae uma sociedade marcada pela exclusao e rnarginalizacao degrande parte de seus membros. Ela nao se constitui numrnodelo amoroso de sociedade. Seria sua negacao. Basta observarque os slogans da Revolucao Francesa (revolucao burguesapor excelencia), por si, eram amorosos, mas nenhum delespode ser traduzido em pratica historica conc reta dentro des sasociedade. A liberdade e a igualdade foram definidas no limiteda lei; evidentemente, no limite da lei burguesa. E a fraternidade _permaneceu como palavra que 0 vento levou. Praticar a fra-ternidade seria negar as possibilidades da sociedade burguesa,que [em por base a exploracao do outro pela apropriacao doexcedente do seu trabalho, ou seja, pela apropriacao da parte

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    nao-paga do trabalho alheio'. Neste eontexto, 0 ato pedag6gieoe, ainda menos, 0 ato das provas/exames poderiam ser urn atoamoroso. Para serem amorosos esses atos opor-se-iam aomodelo de soeiedade do qual emergem e [)I) qual se sustentam.Para servir a sociedade burguesa, como servem, deveriarn ser,como tern sido, atos antagonicos, autoritarios, seletivos; e, porvezes, rancorosos-.

    A denorninacao avaliacao da aprendizagem e recente. Elae atribufda a Ralph Tyler", que, a cunhou em 1930. 0 pr6prioTyler reivindica para si essa autoria em texto recentementepubli-.ado e os pesquisadores norte-american os da area deavaliacao da aprendizagem reconhecem a Tyler 0 direito dessapatemidade, definindo 0 periodo de 1930 a 1945 como 0periodo "tyleriano" da avaliacao da aprendizagem.

    Mudou-se a denorninacao, mas a pratica continuou sendoa mesrna, de provas e exames. Tyler inventou a denorninacaode avaliacao da aprendizagem e militou na pratica educativadefendendo a ideia de que a avaliacao poderia e deveriasubsidiar urn modo eficiente de fazer 0 ensino. Outros, nomundo todo, ao seu lado ou urn poueo depois, rnilitaram narnesma perspeetiva. Porern, no geral, a pratica escolar deacompanhamento do processo de crescimento do educandocontinuou sendo de provas e exames. Libaneo, em seu estudosobre a pratica pedag6giea dos professores das eseolas piiblicas

    I. A obra de Marx e urna profunda analise da sociedade capitalista e noprirneiro livro de 0 capital os estudos sobre a rnais-valia absoluta e relativa naodeixam diividas sobre os fundamentos da constituicao da sociedade burguesa; arnais-valia nada rnais representa do que a exploracao do hornern pelo hornernpara garantir 0 capital, que e a base da sociedade burguesa.2. A experiencia educacional escolar, genericamente falandc, da-se como seo pn ..r:ssor tivesse todos os alunos como seus inirnigos e os alunos tivessern,previarnente, 0 professor como seu inirnigo. Esse antagonisrno se rnostra na suaintegralidade, quando 0 lema sao provas e exames. 0professor deseja "pegaros alunos pelo p e n e os alunos desejarn rnanobrar 0 professor. Os sujeitoseducador e educando nao se colocam como aliados da construcao bem-sucedidada aprendizagern - 0 que seria 0 ideal.

    3. Ralph Tyler e urn educador norte-arnericano, que se dedicou a questaode urn ensino que tossc eficiente -. No Brasil. de e conhecido pclo seu livrePrincipios bdsicos de curricula e ensino, traduzido e publicado pela editoraGlobo, Port> ,:.;egre. 1974.

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    de Sao Paulo, reconhece que a avaliacao da aprendizagem eo ambito da acao pedag6gica em que os professores sao maisresistentes a mudanca".

    Essa pratica e diffcil.ide ser mudada devido ao fato deque a avaliacao, por si, e um ate amoroso e a sociedade naqual esta sendo pratieada nao e . amorosa e, dar, vence asociedade e nao a avaliacao, Em nossa pratica escolar, hoje,usamos a denorninacao de avaliacao e praticamos provas eexames, uma vez que esta e mais compatfvel com 0 sen socomum exigido pela sociedade burguesa e, por isso, mais facile costumeira de ser executada, Provas e. exarnes implicamjulgamento, com conseqiiente exclusao; avaliacao pressupoeacolhimento, tendo em vista a transforrnacao. As finalidades efuncoes da avaliacao da a=rendizagern sao diversas das fina-iidades e fUDC;6eS das provas e exames. Enquanto as finalidadese funcoes das pro vas e exames sao compativeis com a sociedadeburguesa, as da avaliacao a questicnam; por isso, torna-sediffcil realizar a avaliacao na integralidade do seu conceito,no exercicio de atividades educacionais, sejam individuais oucolerivas.

    Avaliacao da aprendizagem escolar como urn atoamoroso

    o ate amoroso e aquele que acolhe a situacao, na suaverdade (como ela e). Assim, manifesta-se 0 ate amorosoconsigo mesmo e com os outros. 0 mandamento "ama 0 teuproximo como a ti mesmo" implica 0 ato amoroso que, emprimeiro lugar, inclui a si mesmo e, nessa medida, pode incluiros outros. 0 ato amoroso e um ato que acolhe atos, acoes,alegrias e dores como eles sao; acolhe para permitir que cadacoisa seja 0 que e , neste mornento. Por acolher a situacaocomo ela e, 0 ate amoroso tem a caracterfstica de nao julgar.Julgamentos aparecerao, mas, evidenternente, para dar curso avida (a acao) e nao para' exclui-Ia, Na passag~m de Maria

    4. jose Carlos Libanco, Tendencias pedagogicas dDS professores das escolaspublicas de Sao Paulo. Tesc de Mcstrado. puc-sr. 1982.

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    Madalena, Jesus Cristo incluiu-a no seio dos seres humanoscomuns, enfrentando os fariseus com a frase: "Atire a primeirapedra, quem nao tiver pecado". Com essa expressao, ele aacolheu; e, norque acolhida, Madalena foi curada no corpo ena alma. 0 acolhimento integra, 0 julgarnento afasta. Todosnecessitamos do acolhimento por parte de nos mesmos e dosoutros. S6quando acolhidos, nos curamos. 0 primeiro passopara a cura e a adrnissao da situacao como ela e . Quandonao nos acolhemos e/ou nao somos acolhidos, gastamos nossaenergia nos defendendo e, ao longo da existencia, nos acos-tumamos a s nossas defesas, transformando-as em nosso modopermanente de vi ver", Em sfntese, 0 ate amoroso e acolhedor,integrative, inclusive.

    Defino a avaliacao da aprendizagem como urn ato amoroso,no sentido de que a avaliacao, por si, e urn ato acolhedor,integrative, inclusive. Para cornpreender isso, importa distinguiravaliacao de julgarnento. 0 julgamento e um ate que distingue certo do errado, incluindo 0 primeiro e excluindo 0 segundo.A avaliacao tern por base acolher uma situacao, para., entao(e so entao), ajuizar a sua qualidade, tendo em vista dar-Ihe'suporte de rnudanca, se necessario". A avaliacao, como ato

    5. 0 acolhimento e condicao da cura. N6s criarnos nossos mecanismos dedefesa como estrategias de sobrevivencia. No decorrer da vida. necessitavamossobreviver e tivernos nos defender das "intemperies". A nossa defesa, por vezes,tornou-se cronic, perdendo a flexibilidade de expandir e contrair, criando, destemodo, urn mecanisme de defesa cronico (necessitamos ter mecanismos de defesapara garantir a nossa sobrevivencia, porem eles podern e devem ser flexfveis;nao cronicos). Vivendo e sobrevivendo 1i3 defesa, nem nos mesrnos somos maiscapazes de nos acolhennos. Entao, nao h 3 . carninho para a cura. 0 ponte departida para toda cura e 0 reconhecimento acolhedor do que existe. Nossosrnecanismos de defesa nos prendem ao passado e, muitas vezes, nos obrigam aassumir atitudes regressivas (que nao sao adultas). 0 ato amoroso e urn ato"adulto": c urn ato de quem esta reagindo em conformidad~ com os dados dareali ..ade presente en;"'] ern conformidade corn experiencias regressivas. VerWilhelm Reich. A funciio do orgasmo, Sao Paulo. Brasiliense, 1984.

    6. Estou fazendo uma distincao entre julgamento e avaliacao, no sentido deque 0 julgarnento define uma situacao, do ponto de vista do sim c do nao, docerto e do errado; a avaliacao acolhe alguma coisa, ato, pessoa ou situacao e.entao, reconhcce-a como e (diagnostico), para uma tornada de decisao sobre apossibilidade de uma melhoria de sua qualidade; para a avaliacao n50 h a umaseparacao entre 0 ccrto C0 errado; M. Q que existe e esta situacao que existee acolhida, para ser rnodificada. Na avaliacao. nao ht exclusao.

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    diagn6stico, tern por objetivo a inclusao e nao a exclusao; ainclusao e nao a selecao (que obrigatoriarnente conduz aexclusao). 0 diagn6stico tern por objetivo aquilatar coisas, atos,situacoes, pessoas, tendo em vista tomar decisoes no sentidode criar condicoes para a obtencao de uma maior satisfatoriedadedaquilo que se esteja buscando ou construindo.

    Transportando essa cornpreensao para a aprendizagem,podemos entender a avaliacao da aprendizagem escolar comoum ate amoroso, na rnedida ern que a avaliacao tern porobjetivo diagnosticar e mcluir 0 educando, pel os mais variadosrneios, no curso da aprendizagem satisfaioria, que integre todasas suas experiencias de vida.

    A pratica de provas e exames exclui parte dos alunos,por basear-se no julgamento, a avaliacao pode inclui-los devidoao fato de proceder por diagn6stico e, por isso, pode oferecer-lhescondicoes de eucontrar 0carni.mo para obter rnelhores resultadosna aprendizagern".

    Simbolicamente, podemos dizer que a avaliacao, por si,e acolhcdora e harmonica, como 0 cfrculo e acolhedor eharmonico. Quando chamamos alguern para dentro do nossocirculo de arnigos, estamos acolhendo-o, Avaliar urn aluno comdificuldades e criar a base do modo de como inclui-lo dentrodo cfrculo da aprendizagern; 0 diagn6stico permite a decisaode direcionar ou redirecionar aquilo ou aquele que esta preci-sande de ajuda.

    7. Talvez urn exemplo ajr .Ie a cornpreender 0 que esta sendo exposto. 0exarne vestibular (nao vamos entrar aqui na discussao de sua validade educacionalou social) scleciona, ou seja, dcntre os muitos dernandantes, eie seleciona umapane. Ai nos Lemos seleciio; alguns sao acolhidos, outros sao exclufdos, Os alunosque forcrn acolhidos ingressarn na Universidade e varnos dizer que urn grupode trinta alunos compoe uma turma: no percurso da atividade de ensino, essesalunos nao deveriarn rnais ser selecionados, mas sirn avaliados, 0 que significaque elcs deveriam ser cuidados para que viessem a aprcnder ease desenvolvcr.Assirn sendo, 0 vstibular nao pratica n.aliacdo educacional, como estamoscompreendendo, mas sim selecdo; a sala de aula nao pode praticar selecao, massim avaliacao. se esta de fato, voltada para 0 crescimcnto do educando.

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    acatando certificados e diplomas escolares. Sempre desejamossaber se 0 profissional que utilizamos e formado e como eformado. Esse testemunho e dado pela escola.

    Assim sendo, a avaliacao da aprendizagem escolar auxiliao educador e 0educando na sua viagem comum de crescirneato,e a escola na sua responsabilidade social. Educador e educando,aliados, constroem a aprendizagem, testemunhando-a a escola,e esta a sociedade. A avaliacao da aprendizagem neste contextee urn ate amoroso, na medida em que inc1ui 0 educando noseu curso de aprendizagem, cada vez com qualidade maissatisfatoria, assim como na medida em que 0 inclui entre osbem-sucedidos, devido ao fato de que esse sucesso foi construidoao longo do processo de ensino-aprendizagem (0 sucesso naovern de graca), A construcao, para efetivamente ser construcao,necessita incluir, seja do ponto de vista individual, integrandoa aprendizagem e 0 desenvolvimento do educando, seja doponto de vista coletivo, integrando 0 educando num grupo deiguais, 0 todo da sociedade.

    Alguns cuidados necessaries com a pratica da avalia~oda aprendizagem escolar

    No que se refere a s funcoes da avaliacao da aprendizagem,importa ter presente que ela permite 0julgamento e a consequenteclassificacao, mas essa nao e a sua funcao constitutiva. E importanteestar atento a sua fun~o ontc!:5gica (constitutiva), que e , dediagn6stico, e, por isso mesmo, a avaliacao cria a b a s e para atomada de decisao, que e 0 meio de encaminhar os atos subse-quentes, na perspectiva da busca de maior satisfatoriedade nosresultados", Articuladas com esta funcao basica estao:

    8. As observacoes que se seguem, especialmente no que se refere a s funcoesda avaliacao e aos elementos necessaries da construcao de instrumentos deavaliacao da aprendizagem, foram inspiradas no capftulo "Testes como auxilio aaprendizagem", de Norman Grounlund, do seu livro Elaboraciio de testes deaproveitamento escolar, Sao Paulo, EPU, 1974. Grounlund e urn tecnopedagogo,mas, neste texto, manifesta-se sutil e sensfveI as questoes basicas da avaliacaocomo subsidi3ria de decisoes fundamentais para 0 ensino,

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    a) a funcao de propicrar a autocompreensao, tanto doeducando quanto do educador. Educando e educador,' por meiodos atos de avaliacao, como aliados na construcao de resultadossatisfatorios da aprendizagem, podem se autocompreender noDive! e nas condicoes em que se encontram, para dar urn saltoa frente. S6 se autocompreendendo e que esses sujeitos doprocesso educativo podem encontrar 0 suporte para 0 desen-

    .volvirnento. Em primeiro lugar, e necessario ter conscienciade . mde se esta, tendo em vista escolher para onde ir. Pormeio dos instrumentos de avaliacao da aprendizagem, 0 edu-cando podera se autocompreender com a ajuda do professor,mas este tam bern podera se autocompreender no seu papelpessoal de educador, no que se refere ao seu modo de ser,a s suas habilidades para a profissao, seus metodos, seus recursosdidaticos etc. Como aliados do processo ensino-aprendizagem,educador c educando podem se autocompreender a partir daavaliacao da aprendizagem, 0 que trara ganhospara ambos epara 0 sistema de ensino;

    . b) a funcao de motivar 0 crescimento. Na medida emque ocorre 0reconhecimento do limite e da amplitude -de ondese esta, descortina-se uma motivacao para 0 prosseguimentono percurso de vida ou de estudo que se esteja realizando. A .avaliacao motiva na medida mesmo em que diagnostica e criao desejo de obter resultados mais satisfatorios. TradicionaImente,a avaliacao da aprendizagem tern side desmotivadora. Oseducandos se sentem mal com os . comentarios desabonadoresfeitos pelos educadores no momento de devolver-lhes os re -sultados de seus trabalhos. Muitas vezcs sao comentarios ne-gativos e desqualificadores. Assim se desmotivam.Contudo,avaliacao pode e deve ser motivadora para 0 educando, peloreconhecimento de onde esta e pela conseqiiente visualizacao.de .possibilidades;

    c) a funcao de aprofundamento da aprendizagem. Quandose faz urn exercfcio para que a aprendizagem seja manifestada,esse mesmo exercfcio ja e uma oportunidade de aprender 0contetido de- U~l'cl forma mais aprofundada, de fixa-lo de modomais adequado na memoria, de aplica-lo etc. 0 exercfcio daavaliacao apresenta-se, neste caso, como uma das rmiltiplas

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    articular 0 instrumento com os conteiidos planejados,ensinados e aprendidos pelos educandos, no decorrer do perfodoescolar que; se toma para avaliar. Nao se pode querer que 0educando manifeste uma aprendizagem que nao foi propostanem realizada;

    .' cobrir uma amostra significativa de todos os contetidosensinados e aprendidos de fato. Caso os conteudos sejamessenciais, todos devem ser avaliados; conteiidos que nao saoessenciais nao devem nem mesmo ir para 0 planejamento,quanto mais para 0 ensino e, menos ainda, para a avaliacao .

    compatibilizar as habilidades (motoras, mentais, imagi-nativas ...) do instrurnento de avaliacao com as habilidadestrabalhadas e desenvolvidas na pratica do ensino-aprendizagern.Nao se pode admitir que certas habilidades sejam utilizadasnos instrumentos de avaliacao caso nao tenham side praticadasno ensino;

    compatibilizar os nfveis de dificuldade do que estasendo a , aliadc com os nfveis de dificuldade do que foi ensinadoe aprendido. Urn instrumento de avaliacao: da aprendizagernnao tern que ser nem mais facil nem mais dificil do que aquiloque foi ensinado e aprendido. 0 instrumento de avaliacao deveser compatfvel, em termos de dificuldade, com 0ensinado;

    usar uma linguagem clara: e compreensfvel, para salientaro que se deseja pedir. Sem confundir a compreensao doeducando no instrumento de avaliacao. Para responder ao quepedimos, 0 educando necessita saber com clareza 0 que estamossolicitando. Ninguem responde uma pergunta, caso nao a corn-preenda;

    por ultimo, construir instrumentos que auxiliem a apren-dizagem dos educandos, seja pela demonsiracao da essencia-lidade dos conteiidos, seja pelos exercfcios inteligentes, oupelos aprofundamentos cognitivos propostos.

    Caso 0 educador tenha 0 desejo de verificar se oseducandos sao capazes de saltos rnaiores do que aquilo quefoi ensinado, podera construir algumas quest6es, itens ou sr-tuacoes-problemas "!ue exijam para alem do ensinado e doaprendido, porern nao devera considerar 0 desempenho do

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    educando nesses elementos para efeito de aprovacao/reprovacao(caso se esteja trabalhando com tais parametros), mas tao-so-mente como diagn6stico do desenvolvimento possfvel dos edu-candos'".

    Por ultimo, entre os cuidados no processo de avaliacaoda aprendizagern, e preciso estarmos atentos ao processo decorrecao e devolucao dos instrumentos de avaliacao da apren-dizagern escolar aos educandos:

    a) quanto it correcao: nao fazer urn espalhafato com coresberrantes. Nao tenho nada contra 0 vermelho, considero-o umacor forte. Por isso mesmo ~ ..rilizado para chamar a atencao,Ela e carregada de expressoes negativas do cotidiano: "estouoperando no verrnelho"; "obtive uma nota em verrnelho", "0boletim do meu filho, neste mes, teve tres notas em vermelho" ...Pode-se usar urn _lapis; nao e necessario borrar 0 trabalho doaluno, desqualificando-o. Tendo urn afeto positivo, cada pro-fessor sabera a melhor forma de cuidar da correcao dostrabalhos dos seus educandos 11;

    b) quanto a devolucao dos resultados: penso que 0professordeve, pessoalrnente, devolver os instrumentos de avaliacao deaprendizagem aos educandos, comentando-os, auxiliando 0edu-cando a se autocompreender em seu processo pessoal de estudo,aprendizagem e desenvolvimento. Creio que nao devemos man-dar alguem entregar os instrumentos ap6s a correcao. N6srecebemos das maos d;:- cada aluno; qual seria a razao paranao entregarmos de volta a s maos de cada urn? Mandar entregare uma forma de suprimir a possibilidade de urn. processodial6gico e construtivo entre 0 educador e 0 educando.

    10. Norman Grounlund, tratando desta questao em seu livre Elaboraeiio deUSJeS para 0 ensino, Sao Paulo, Pioneira, 1979 sugere que urn mesmo testetrabalhe com 0 dominio e com 0 desenvrtvimento; para a avaliacao do primeiro,utiiiza-se a avaliacao por criterio, e, para a do segundo. a avaliacao por norma.

    ~--Neste processo s6 se levaria em consideracao, para a prornocao do educando, aparte do teste relativa ao dominio. A parte relativa li norma seria utilizada paradiagnosticar as possibilidades de avances dos educandos para alern do mfnirnonecessario. Nesta perspectiva, vaie a pena ver esse texto.

    11. Adriana de Oliveira Lima, em seu livro Avaliactio escolar: julgamentox construcdo, Petropolis, Vozes, 1994, oferece consideracoes interessantes sobrea pratica escolar de correcao dos instrumentos de avaliacao da aprendizagem.

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    Concluindo

    o ato de aValiar,por sua constituicao mesma, nao sedestina a urn julgamento "definitive" sobre alguma coisa, pessoaou situacao, pois que nao e urn ate seletivo. A avaliacao sedestina ao diagnostico e, por isso mesmo, a inclusao; destina-sea melhoria do cicIo de vida. Deste modo, por si, e urn atoamoroso. Infelizrnente, por nossas experiencias historico-sociaise pessoais, temos dificuldades em assirn cornpreende-la epratica-la. Mas ... fica 0 convite a todos nos. E uma meta aser trabalhada, que, com 0 tempo, se transformara em realidade,por meio de nossa acao. Somos responsaveis por esse processo.

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