AVALIAÇÃO DA CÁRIE DENTÁRIA, ESTADO NUTRICIONAL E … · autorizo a reproduÇÃo e divulgaÇÃo...

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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DOUTORADO EM ODONTOLOGIA AVALIAÇÃO DA CÁRIE DENTÁRIA, ESTADO NUTRICIONAL E HÁBITOS ALIMENTARES EM CRIANÇAS DE 5 ANOS DE IDADE DO MUNICÍPIO DE PATOS/PB LUCIANA ELLEN DANTAS COSTA Orientadora: Profa. Dra. Eliete Rodrigues de Almeida Tese apresentada ao Doutorado em Odontologia, da Universidade Cruzeiro do Sul, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutora em Odontologia. SÃO PAULO 2014

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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

DOUTORADO EM ODONTOLOGIA

AVALIAÇÃO DA CÁRIE DENTÁRIA, ESTADO

NUTRICIONAL E HÁBITOS ALIMENTARES EM CRIANÇAS

DE 5 ANOS DE IDADE DO MUNICÍPIO DE PATOS/PB

LUCIANA ELLEN DANTAS COSTA

Orientadora: Profa. Dra. Eliete Rodrigues de Almeida

Tese apresentada ao Doutorado em Odontologia, da Universidade Cruzeiro do Sul, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutora em Odontologia.

SÃO PAULO

2014

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL DA

UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

C873a

Costa, Luciana Ellen Dantas. Avaliação da cárie dentária, estado nutricional e hábitos

alimentares em crianças de 5 anos de idade do município de Patos/PB / Luciana Ellen Dantas Costa. -- São Paulo; SP: [s.n], 2014.

110 p. : il. ; 30 cm. Orientadora: Eliete Rodrigues de Almeida. Tese (doutorado) - Programa de Pós-Graduação em

Odontologia, Universidade Cruzeiro do Sul. 1. Cárie dentária - Pré-escolar 2. Hábito alimentar - Criança 3.

Saúde bucal - Criança 4. Saúde pública – Patos (PB). I. Almeida, Eliete Rodrigues de. II. Universidade Cruzeiro do Sul. Programa de Pós-Graduação em Odontologia. III. Título.

CDU: 616.314-002-053.4(043.2)

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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

Avaliação da cárie dentária, estado nutricional e hábitos

alimentares em crianças de 5 anos de idade no Município

de Patos/PB.

Luciana Ellen Dantas Costa

Tese de doutorado defendida e aprovada

pela Banca Examinadora em 25/10/2014.

BANCA EXAMINADORA:

Profa. Dra. Eliete Rodrigues de Almeida

Universidade Cruzeiro do Sul

Presidente

Profa. Dra. Adriana Furtado de Macedo

Universidade Cruzeiro do Sul

Profa. Dra. Giselle Rodrigues de Sant’Anna

Universidade Cruzeiro do Sul

Profa. Dra. Mariane Emi Sanabe

Universidade Camilo Castelo Branco

Prof. Dr. José Eduardo Pelizon Pelino

Faculdades Metropolitanas Unidas

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DEDICATÓRIA

À DEUS e NOSSA SENHORA, pelas infinitas graças concedidas, pelo conforto,

amparo e proteção, sempre presentes em minha vida,

À minha amada filha Lara, quanto amor e felicidade você trouxe para minha vida...

Foi para você e por você que fiz e faria tudo novamente....Você é a minha vida, te

amo minha filha,

Aos meus queridos pais, Agenor e Edna, pela oportunidade da vida, dos estudos –

maior presente, meus grandes mestres na vida, pelo amor, carinho, e atenção em

todas as horas da minha vida,

Às minhas queridas irmãs, Liliane e Larissa, que estavam prontas para me ajudar

em todos os momentos desta trajetória,

Aos meus amados sobrinhos Ana Beatriz, Abraão Filho e Alice, faltam palavras....,

meus filhos..... nos momentos mais difíceis foram o meu refúgio, com o sorriso e

alegria no rosto me fortaleceram, ajudando-me na realização deste sonho,

Ao meu amado esposo, Waguinho, pela compreensão e aceitação das minhas

ausências, sempre ao meu lado, me fortalecendo, obrigada pelo incentivo e amor...

Com carinho e a compreensão de vocês cumpro mais esta etapa em minha vida....

Amo Vocês !!!

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AGRADECIMENTO AOS PROFESSORES

A Profa. Dra. Eliete Rodrigues de Almeida, pela orientação, acompanhamento

e auxílio durante a realização desta pesquisa e pela confiança em mim

depositada;

Aos Professores Dra. Giselle Rodrigues e Dr. Eduardo Pelino, pela valiosa

colaboração com sugestões que enriqueceram meu trabalho;

Aos professores do programa de Pós-Graduação em Odontologia, em

especial aos Professores Dr. Danilo Duarte e Dra. Michele, pelos

ensinamentos e pela confiança depositada, sempre buscando a ascensão do

programa, trabalhando em prol deste;

Aos estatísticos, Edmilsom Mazza e Rômulo auxílio na elaboração da fase

estatística deste

trabalho, sempre atencioso e solícito;

À todos os professores e funcionários que direta ou indiretamente me

ajudaram na realização deste trabalho, alguns que, mesmo por e-mail, foram

extremamente prestativos e solícitos sempre que precisei;

Aos mestres, o meu mais sincero e fraterno muito obrigado...

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AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

“Costumo dizer por onde passo que Deus com sua bondade infinita, colocou

pessoas maravilhosas em minha vida, talvez para tornar meu caminho mais

suave, feliz ou para que com elas, eu pudesse dar mais valor a tudo que

conquistei, agradeço à ELE por tudo, e acima de tudo, pela presença constante

em minha vida, por me conduzir até aqui, pela sabedoria, e dedicação que

desprendi na minha trajetória, por jamais me deixar desistir e pela confiança

em saber que tudo posso, agradeço à Deus, Nossa Mãe Maria e a Jesus, pela

dádiva da vida.”

À Universidade Cruzeiro do Sul – Unicsul e Coesp – Centro de Especialidades

Odontológicas, pela oportunidade concedida para a realização do curso de

doutorado.

À UFCG – Universidade Federal de Campina Grande, em especial aos alunos

pela compreensão e ajuda em todos os momentos desta jornada,

As minhas queridas colegas do doutorado, em especial a Faldryene de Sousa

Queiroz, minha grande amiga.... pelo companheirismo, dias e dias de coleta de

dados, enfrentando sol e chuva, obrigada pela ajuda e apoio em todos os

momentos, pelas palavras de estímulo e compreensão.

À todos os pais e crianças que participaram deste estudo, meu muito obrigada, sem

vocês este estudo não seria possível,

À secretaria de educação de Patos-PB, aos diretores, professores, monitores e

merendeiras das creches públicas e privadas que permitiram a realização deste

estudo, sempre prestativos e solícitos,

Aos secretários da Pós-Graduação e todos os funcionários pela atenção,

respeito e consideração.

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A toda minha família, pelo apoio, dedicação, confiança em mim depositada...

À Edila e Larissa por estarem presentes neste momento, meu muito obrigada,

À todos que direta ou indiretamente me ajudaram na realização deste trabalho.

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“Posso, tudo posso, naquele que me fortalece, nada e ninguém no mundo vai me fazer desistir...

vou cantando minha história profetizando, Que eu posso, tudo posso....

....EM JESUS”.

(Pe. Fábio de Melo)

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Costa LED. Avaliação da cárie dentária, estado nutricional e hábitos alimentares em crianças de 5 anos de idade do município de Patos/PB [tese]. São Paulo: Universidade Cruzeiro do Sul; 2014.

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo investigar a associação entre a presença de

cárie dentária, fatores demográficos, estado nutricional e hábitos alimentares em

crianças de 5 anos no município de Patos/PB. O estudo do tipo transversal analítico

foi realizado com 216 crianças, de ambos os sexos, regularmente matriculadas em

creches públicas e privadas. Para a coleta dos dados foi adotado o índice ceo-d para

diagnóstico da cárie dentária e obtidas medições antropométricas de peso e

estatura, para avaliação do estado nutricional. Aos pais/responsáveis foram

aplicados questionários sobre fatores demográficos, hábitos alimentares e cuidados

com a saúde bucal dos pré-escolares. Para avaliação da frequência total de

consumo de açúcar pelas crianças, um diário alimentar institucionalizado

complementado com um diário individual de três dias foi utilizado. A coleta de dados

foi realizada por um único examinador e um anotador previamente calibrados (Teste

Kappa inter e intra-examinadores 0,81-0,91, 0,83-0,90, respectivamente). Os dados

foram processados por meio dos softwares SPSS (v.21.0) e STATA, e a análise

estatística envolveu procedimentos descritivos, análises univariadas (ou razão de

prevalência bruta) e multivariadas no modelo de Regressão de Poisson. A

prevalência de cárie na amostra foi de 67,6% e o índice ceo-d médio foi de 3,74 (dp

= 4,031), cujo componente “cariado” correspondeu a 93,9%. Houve associação

significativa entre a cárie e a renda mensal familiar (p= 0,045), o tipo de instituição

de ensino (p=0,001). Crianças de baixo peso apresentaram significativamente maior

prevalência de cárie (p=0,003) quando comparada às eutroficas. Após inserção no

modelo multivariado, a prevalência de cárie foi maior em crianças que estudam em

creche pública (p=0,01), que apresentaram consumo de açúcar superior a 3 vezes

ao dia (p=0,045) e alta ingestão diária de açúcar na dieta (p<0,001). O impacto das

condições demográficas e da dieta na condição de saúde bucal das crianças em

idade pré-escolar podem nortear novas práticas em saúde bucal.

Palavras-chave: Cárie dentária, Estado nutricional, Hábitos alimentares.

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Costa LED. Assessment of dental caries, nutritional status and food habits in children 5 years of age in the municipality of Patos / PB [tese]. São Paulo: Universidade Cruzeiro do Sul; 2014.

ABSTRACT

This study aims to investigate the association between dental caries, demographic

factors, dietary habits and nutritional status in children 5 years in the city of Patos /

PB. The cross-sectional study was conducted with 216 children of both sexes,

regularly enrolled in public and private kindergartens. To collect the data of the

children was adopted DMFT for diagnosis of dental caries and obtained

anthropometric measurements of weight and height for assessment of nutritional

status. Parents / guardians questionnaires about demographic factors, dietary habits

and oral health care of preschoolers were applied. To assess the overall frequency of

sugar consumption by children, institutionalized food diary complemented with an

individual diary three days was used. Data collection was performed by a single

examiner and recorder calibrated (Kappa test inter-and intra-examiner 0.81-0.91,

0.83-0.90, respectively). The study was approved by the Ethics Committee in

Research of Unicsul (protocol n ° 027/2014). The data were processed by means of

SPSS software (v.21.0) and STATA, and statistical analysis involved descriptive

procedures, univariate analyzes (or ratio of gross prevalence) and in the multivariate

Poisson regression model. Caries prevalence in the sample was 67.6% and the

mean DMFT was 3.74 (SD 4.031), whose component "decayed" accounted for

93.9% of the index value. After inclusion in the multivariate model, caries prevalence

was higher in children who attend day-care (p = 0.01), have higher consumption of

added sugar to three times per day (p = 0.045) and have high daily intake sugar in

the diet (p <0.001). The impact of demographic conditions and diet on oral health

status of children of preschool age can guide new practices in order to reduce oral

health inequalities in the distribution of dental caries in the population.

Keywords: Dental caries, Nutritional status, Food habits.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Posicionamento para aferição do peso da criança. ............................ 50

Figura 2 Posicionamento para aferição da estatura da criança. ....................... 51

Figura 3 Tela inicial do software AnthroPlus, v. 1.0.4. Fonte: Who, 2007. ....... 52

Figura 4 Calculadora antropométrica para preenchimento dos dados e

obtenção dos resultados em percentis e z-escores, segundo os

indicadores peso para idade, estatura para idade e IMC para idade . 46

Figura 5 Distribuição do número de dentes cariados, com extração indicada e

obturados por creches públicas e privadas. Patos, 2014. .................. 59

Quadro 1 Relação de instituições por número de alunos sorteados para o

estudo. Patos, 2014. ............................................................................... 43

Quadro 2 Avaliação do estado nutricional de crianças segundo os indicadores

peso para idade, estatura para idade e IMC por idade. Fonte: Who,

2007. ........................................................................................................ 53

Quadro 3 Relação das variáveis independentes com categorização. ................ 55

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Caracterização amostral, Patos-PB, 2014 ............................................ 60

Tabela 2 Distribuição dos dados referentes aos hábitos alimentares e de

higiene bucal por instituição de ensino, Patos-PB, 2014 ................... 62

Tabela 3 Prevalência de cárie em função de fatores demográficos e estado

nutricional, Patos, 2014 ......................................................................... 64

Tabela 4 Prevalência de cárie em função dos hábitos alimentares, Patos, 2014 .

................................................................................................................. 66

Tabela 5 Prevalência de cárie em função dos hábitos de higiene bucal. Patos,

2014 ......................................................................................................... 67

Tabela 6 Modelo multivariado das razões de prevalência de cárie, Patos, 2014 .

................................................................................................................. 69

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 15

2 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................ 17

2.1 Perfil Epidemiológico Da Cárie Dentária No Brasil .................................. 17

2.2 Fatores Associados à Doença Cárie ......................................................... 20

2.2.1 Fatores Demográficos ................................................................................ 20

2.2.2 Hábitos alimentares .................................................................................... 25

2.2.3 Estado Nutricional ...................................................................................... 29

2.2.3.1 Desnutrição ................................................................................................. 30

2.2.3.2 Obesidade ................................................................................................... 33

2.2.4 Higiene bucal .............................................................................................. 37

3 OBJETIVOS ................................................................................................. 40

3.1 Objetivo Geral ............................................................................................. 40

3.2 Objetivos Específicos ................................................................................ 40

4 SUJEITOS, MATERIAL E MÉTODOS ......................................................... 41

4.1 Aspectos Éticos .......................................................................................... 41

4.2 Tipo de Estudo ............................................................................................ 41

4.3 População e Amostra ................................................................................. 41

4.3.1 Critérios de inclusão .................................................................................. 44

4.3.2 Critérios de exclusão ................................................................................. 44

4.4 Delineamento do Estudo ............................................................................ 44

4.4.1 Fluxograma ................................................................................................. 44

4.4.2 Processo de calibração .............................................................................. 45

4.4.3 Aplicação do questionário e diários alimentares .................................... 47

4.4.4 Exame clínico e avaliação da cárie dentária ............................................ 48

4.4.5 Medidas antropométricas e avaliação do estado nutricional ................. 49

4.4.5.1 Peso ............................................................................................................. 49

4.4.5.2 Estatura ....................................................................................................... 50

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4.4.5.3 Padrão de referência .................................................................................. 51

4.4.5 Avaliação dos hábitos alimentares ........................................................... 53

4.5 Estudo-Piloto .............................................................................................. 54

4.6 Encaminhamentos dos Pré-Escolares ...................................................... 55

4.7 Elenco de Variáveis .................................................................................... 55

4.8 Análise e Interpretação dos Dados ........................................................... 56

5 RESULTADOS ............................................................................................. 58

5.1 Caracterização da Amostra ....................................................................... 58

5.3 Análise Bivariada ........................................................................................ 63

5.4 Análise Multivariada ................................................................................... 68

6 DISCUSSÃO ................................................................................................ 70

6.1 Perfil Epidemiológico da Cárie Dentária ................................................... 70

6.2 Fatores Associados à Doença Cárie ......................................................... 72

6.2.1 Fatores Demográficos ................................................................................ 72

6.2.2 Hábitos alimentares .................................................................................... 75

6.2.3 Estado nutricional ...................................................................................... 78

6.2.4 Higiene bucal .............................................................................................. 81

7 CONCLUSÕES ............................................................................................ 84

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 85

APÊNDICE ................................................................................................................ 94

APENDICE A ............................................................................................................ 94

APENDICE B ............................................................................................................ 98

APENDICE C .......................................................................................................... 100

APENDICE D .......................................................................................................... 101

ANEXOS ................................................................................................................. 103

ANEXO A ................................................................................................................ 103

ANEXO B ................................................................................................................ 104

ANEXO C ................................................................................................................ 105

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ANEXO D ................................................................................................................ 106

ANEXO E ................................................................................................................ 107

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1 INTRODUÇÃO

A cárie dentária é considerada uma doença infecciosa, de etiologia

multifatorial, biofilme-dependente, resultante de um desequilíbrio entre os processos

des-remineralização (SEOW et al., 2009; THYLSTRUP; FEJERSKOV, 2001). Na

etiologia da cárie podem estar inter-relacionados fatores demográficos e

socioeconômicos, fatores dietéticos, comportamentais e psicológicos (KIDD;

FEJERSKOV, 2011).

Estudos tem revelado expressiva redução dos índices de cárie dentária na

população brasileira. No entanto a doença ainda é considerada um problema de

saúde pública, por apresentar alta prevalência na população infantil, como

apresentado no levantamento epidemiológico nacional. Aos 5 anos de idade uma

criança brasileira possui em média 2,43 dentes com experiência de cárie, com

predomínio de mais de 80% do componente cariado (BRASIL, 2010).

Desigualdades em saúde bucal têm emergido como um importante problema

de saúde pública. Estudos tem mostrado que as condições socioeconômicas da

população influenciam diretamente na prevalência de cárie (CDC, 2013). Grupos

sociais com baixa renda e escolaridade apresentaram elevados índices de cárie,

enquanto que nos países desenvolvidos, tem-se observado diminuição nos valores

de prevalência e severidade da doença, devido principalmente ao aumento da

exposição ao flúor, a modificações no padrão alimentar, maior acesso ao serviço

odontológico e educação em saúde (LEVIN; CURRIE, 2010).

Outro fator que tem sido considerado relevante nos estudos epidemiológicos

da cárie dentária é o estado nutricional do indivíduo (MACEK; MITOLA, 2006, PINTO

et al., 2007; WILLERHAUSEN et al., 2009). A possível associação do estado

nutricional com a cárie dentária tem sido investigada, devido a esta doença afetar o

crescimento da criança, especificamente o peso e a altura de maneira adversa

(THOMAS; PRIMOSCH, 2002). No entanto, não há um consenso na literatura sobre

essa associação, sobretudo em crianças, mais estudos são necessários na tentativa

de melhor elucidar essa relação (ALKAMIRI et al., 2014; FOSCHINI; CAMPOS,

2012).

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Os fatores dietéticos variam consideravelmente entre diferentes culturas,

religiões e grupos étnicos. Pode-se considerar uma evidência científica a associação

positiva entre frequência do consumo de açúcar, especialmente a sacarose, e

aumento do ataque de cárie (FREIRE et al., 2012; SHEIHAN; 2001; MEURMAN;

PIENIHAKKINEN, 2010). Esse aspecto pode se tornar ainda mais preocupante se

uma população exposta a uma dieta com alta concentração de sacarose, por

exemplo, for prejudicada pela ausência de acesso ao fluoreto (FREIRE et al., 2012).

Há certa concordância em que o estado nutricional, alta frequência e

consumo de açúcar e a condição de saúde bucal estão inter-relacionadas

(SHEIHAM et al., 2001). Não se pode excluir a possibilidade de um estado

nutricional inadequado causar um deficiência de fatores protetores contra a cárie

dentária e, assim sendo, a ação de carboidratos da dieta poderia ter um papel mais

deletério (BATISTA; MOREIRA; CORSO, 2007).

A relação entre alimentação, estado nutricional e a condição de saúde bucal

não esta bem estabelecida, necessitando de um melhor acompanhamento e análise

(VALENTE; HECKTHEUER; BRASIL, 2010; CAMPOS et al., 2011). Conhecer as

condições de saúde de grupos populacionais específicos e os fatores associados é

uma fase indispensável no planejamento da oferta de serviços e da avaliação do

impacto das ações de saúde. Os problemas bucais podem desencadear não só

repercussões fisiológicas, mas também comportamentais no indivíduo, afetando sua

vida social, alimentação, exercício de atividades diárias e bem-estar . Diante do

contexto, busca-se avaliar a condição de saúde bucal dos pré-escolares do

município de Patos/PB, município este que não conta com fluoretação das águas de

abastecimento público, assim como se os fatores demográficos, os hábitos

alimentares e de higiene bucal das crianças influenciam na sua condição de saúde

bucal.

A escassez de respostas com adequada validade científica para esta

população motivou a realização deste estudo, cujo objetivo foi de investigar a

relação entre a experiência de cárie, fatores demográficos, o estado nutricional e

hábitos alimentares em pré-escolares da rede pública e privada de ensino do

Município de Patos/PB.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

Neste capítulo serão abordados estudos sobre a cárie dentária e a sua

prevalência entre pré-escolares de 5 anos, considerando o panorama nacional.

Serão revisados, os determinantes sociais envolvidos no processo saúde-doença e

relacionados com a cárie dentária e estudos que investigaram a associação entre

cárie dentária, estado nutricional, hábitos alimentares e cuidados em saúde bucal.

2.1 Perfil Epidemiológico da Cárie Dentária no Brasil

A cárie dentária é uma doença crônica, infecciosa e transmissível, que resulta

da perda localizada e progressiva de tecido mineralizado dos dentes afetados. É

causada pela ação de ácidos produzidos pela fermentação microbiana de

carboidratos da dieta (NEWBRUN, 1982).

Conforme a explicação biológica para a etiologia da cárie, os fatores que

contribuem para o desenvolvimento da doença são a composição do biofilme

bacteriano, composição e taxa de fluxo salivar, presença de carboidratos

fermentáveis e as concentrações de flúor, cálcio e fosfato nos fluídos bucais.

(FEJERSKOV; KIDD, 2005). No que diz respeito aos carboidratos, o açúcar -

particularmente a sacarose - é a mais importante causa de cárie (SHEIHAM, 2001).

Além desses fatores, Holst et al. (2001) emprega um modelo de estrutura

causal de cárie em populações, considerando a estrutura e contexto sociais (cultura

política, políticas de saúde, condições econômicas), passando pelo nível individual

(reações psicológicas, comportamento relacionado à saúde, fatores materiais) até

chegar ao nível biológico (cérebro, ecologia bucal, cárie). Contudo, ressaltam que

para compreender a etiologia da cárie nas populações, os aspectos individuais e

coletivos dentro do modelo proposto devem ser analisados de forma combinada.

O processo saúde-doença cárie tem inicio com a desmineralização

submicroscópica do esmalte podendo chegar à perda de substância dentária com

formação de cavidade até a destruição total do dente (MALTZ et al., 2002).

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Pode-se observar que, as crianças que apresentam lesões significativas de

cárie na infância tornam-se adultos mais propensos à ocorrência de problemas

odontológicos. Além disso, a saúde bucal compromete substancialmente, o

crescimento e o desenvolvimento cognitivo da criança, interferindo na concentração

e aprendizado das atividades escolares, por resultar em dor, capacidade reduzida de

sono, constrangimentos social, baixa autoestima, diminuição da capacidade de

comer determinados tipos de alimentos, infecção sistêmica e abscessos (GUSSY et

al., 2006; PAHEL; ROZIER; SLADE, 2007).

Cada vez mais, a cárie quando não tratada é reconhecida como parte do

fenômeno de negligência infantil, uma vez que psicossocialmente a ausência de

saúde bucal além de afetar a fala, a comunicação e a auto-estima, compromete

também o funcionamento perfeito do indivíduo (SIMRATVIR et al., 2009), levando a

diminuição da qualidade de vida de crianças e suas famílias (NCCDPHP, 2006).

Nas últimas décadas, o fenômeno de polarização da doença cárie tem

ocorrido com o declínio da experiência de cárie nos países desenvolvidos,

proporcionando uma elevada prevalência de doença em algumas minorias. As

desigualdades observadas relacionam-se à experiência e distribuição da cárie entre

os diferentes grupos populacionais (WHO, 2003a; ANTUNES; NARVAI; NUGENT,

2004). Em crianças em idade pré-escolar, há um padrão pré-definido da doença - a

cárie precoce de infância – que devido a sua elevada prevalência na maioria em

população socioeconomicamente desfavorecida, é reconhecida como um

significativo problema de saúde publica.

Segundo Bonecker, Marcenes e Sheinam (2002) há um aumento do número

de crianças totalmente livres de cárie, e declínio da experiência de cárie

provavelmente como consequência da efetividade das estratégias populacionais

para o controle doença e melhorias na qualidade de vida.

No Brasil, desde a década de 1980, levantamentos epidemiológicos têm sido

realizados em âmbito nacional buscando avaliar as condições de saúde bucal da

população. O mais recente levantamento epidemiológico realizado no Brasil, o

SBBrasil (2010), no qual foram investigados os mais completos diagnósticos de

saúde bucal dos brasileiros, avaliou 7.217 crianças de cinco anos de idade e

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apontou uma prevalência de cárie não tratada de 48,2% e um ceo-d de 2,41 para

crianças de 5 anos de idade, menor que no ano de 2003, que havia sido de 2,8. O

componente “cariado” do ceo-d correspondeu a 84,3% do valor total do índice, ou

seja, a cada 100 dentes com sinais de experiência atual ou pregressa da doença,

cerca de 85 não estão restaurados (BRASIL, 2010).

Bonanato et al. (2010) avaliaram as doenças bucais e a condição social em

551 pré-escolares de 5 anos em Belo Horizonte-MG, e verificaram a prevalência de

cárie de 36,1%, com média de ceo-d de 1,56, sem associação significativa entre

sexo e ceo-d (p>0,05). Para os autores esses resultados são importantes para

definir políticas publicas de saúde, principalmente à saúde bucal infantil.

Em um estudo transversal com 455 crianças de um a cinco anos de idade na

cidade Santa Maria-RS, Piovesan et al. (2010) avaliaram a distribuição da cárie e as

desigualdades socioeconômicas. Verificaram que a prevalência de cárie foi de

23,4%, mais entre crianças do sexo masculino (24,1%, p=0,85).

Melo et al. (2011) avaliaram a doença cárie e seus fatores associados em um

estudo do tipo caso-controle em 1.690 crianças de 18-36 meses e cinco anos na

cidade de Recife-PB. A prevalência de cárie dentária aos 5 anos foi de 62,84%,

sendo as do sexo masculino mais acometidas pela doença, e foi verificado que

pertencer a faixa etária mais elevada corresponde a um fator de risco (p=0,003) para

o desenvolvimento da cárie.

Com o objetivo de verificar a associação da cárie dentária com o estado

nutricional, Foshini e Campos (2012) avaliaram 602 pré-escolares da rede pública de

ensino do município de Araraquara/SP, com idade média de 5 anos e verificaram o

ceo-d médio de 1,22±2,23, com valores variando de 0 a 14. Pelo índice de Knutson

observaram que 222 (36,88%) pré-escolares apresentaram algum sinal atual ou

passado de ataque pela cárie até o momento do exame.

Berti et al. (2013) realizaram um levantamento epidemiológico de cárie

dentária em 699 escolares de 5 anos de idade do município de Cascavel, PR,

utilizando-se para tal o índice ceo-d. Os componentes “cariado” e “restaurado”

representaram respectivamente 9,92% (1.346 dentes) e 2,43% (330 dentes)

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enquanto que os hígidos somaram 87,65% (11.830) do total de dentes examinados.

O valor do ceo-d médio para esta população foi de 2,42.

2.2 Fatores Associados à Doença Cárie

2.2.1 Fatores Demográficos

As desigualdades sociais e demográficas e seu impacto nas condições de

saúde da população estão sendo bastante discutidos na literatura científica. A

relação existente entre as condições sociais e econômicas e os diferenciais de risco

para muitas doenças, bem como de acesso a serviços de saúde, coloca em foco

conceito de Determinantes Sociais de Saúde (DSS) para que seja possível

identificar e eliminar os fatores prejudiciais à saúde da população (CSDH, 2010). A

OMS adota uma breve definição sobre os DSS, sendo a relação direta das

condições sociais com o modo de viver e trabalhar (CSDH, 2010).

Os estudos sobre as relações entre os determinantes sociais em saúde

apresentam alguns desafios, como relacionar hierarquicamente os fatores mais

gerais associados à saúde (sociais, econômicos, políticos) e as mediações de como

tais fatores influenciam a situação de saúde de pessoas ou grupos, já que essa

relação não se constitui, diretamente, como causa-efeito (BUSS; PELLEGRINI

FILHO, 2007). Os fatores que influenciam a saúde em âmbito individual não são os

mesmos a influenciar coletivamente, na medida em que para a epidemiologia social,

as causas de adoecimento da sociedade devem ser priorizadas em relação às

individuais (ABREU; MODENA; PORDEUS, 2004).

A condição social tem sido, nos últimos tempos, enfatizada como importante

na determinação da situação de saúde bucal. O estudo das condições sociais como

produtora das doenças bucais vem crescendo intensamente nas duas últimas

décadas (LANDIN et al., 2013).

Diversos estudos acerca da doença cárie investigam a sua distribuição de

acordo com o sexo dos indivíduos. Desta maneira, tem-se observado

frequentemente que crianças do sexo masculino mostram-se mais acometidas pela

doença, como verificado nos estudos de: Oliveira, Sheiham e Bönecker (2008),

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Feldens et al. (2010), Piovesan et al. (2010), D’Mello et al. (2011) e Piovesan et al.

(2011). Outros estudos porém, apresentam o sexo feminino como mais acometidos,

como o de Heredia e Alva (2005) e Bonanato et al. (2010). Apesar dessa divergência

de resultados, ainda não se sabe a verdadeira influencia do sexo na ocorrência da

cárie dentária.

Para análise dos fatores sóciodemográficos associados à doença cárie deve

ser considerada etiologia das desigualdades sociais, como a má distribuição de

renda, a ausência de participação da riqueza nacional, o desemprego, o atraso

tecnológico em alguns setores e os elevados índices de analfabetismo, além das

dificuldades de acesso aos serviços odontológicos, onde a população com

diferenças marcantes de renda estão em desvantagem quanto à ocorrência de

problemas de saúde bucal (BALDANI; NARVAI; ANTUNES, 2002).

Para Bastos et al. (2008) crianças de famílias de baixa condição

socioeconômica no inicio da vida podem ter acesso restrito e, consequentemente,

menor utilização dos serviços odontológicos, estando mais propensas a desenvolver

problemas de saúde bucal, como a cárie dentária.

Desigualdades na saúde bucal têm sido observadas tanto na experiência de

cárie quanto na distribuição entre os grupos populacionais, tal fenômeno de

polarização da doença esta associado à exposição intensa aos fatores de riscos

sociais (SHEIHAM et al., 2011). Crianças submetidas a contextos de privação social

e sanitária apresentam concentrações mais elevadas de cárie dentária, afirmando a

importância dos determinantes sociais no processo saúde-doença. Ressalta-se em

alguns estudos que a prevalência de cárie diminui na medida em que o nível

socioeconômico aumenta, mesmo em áreas sem a adição de flúor na água de

abastecimento público (BALDANI; NARVAI; ANTUNES, 2002).

O nível de escolaridade dos pais também revela grande importância no

processo de ocorrência da doença cárie. Para Scavuzzi et al. (2003) o nível

educacional mais elevado dos pais significaria o menor consumo de alimentos ricos

em açúcar, maior frequência de escovação dentária e visitas ao cirurgião-dentista,

adicionada a uma maior capacidade de executar os conhecimentos adquiridos sobre

saúde bucal.

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A constituição familiar com elevado número de pessoas pode também atuar

como uma característica predisponente à ocorrência de cárie dentária pelo fato de

que a existência de arranjos familiares numerosos representa obstáculos aos

cuidados da saúde bucal das crianças, sendo negligenciados, a partir dos primeiros

anos de vida (MELO et al., 2011).

A localização espacial da moradia apresenta um efeito independente sobre a

saúde da população, superior ao que os efeitos socioeconômicos individuais

exercem (PICKETT; PEARL, 2001). Para Maserejian et al. (2008), áreas rurais tanto

em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento, apresentam menor número

de cirurgiões-dentistas em exercício e mais pobreza, afetando o acesso aos serviços

odontológicos para as crianças que vivem nesta área. Outras variáveis relacionadas

a condição de habitação como a situação da moradia, infra-estrutura, condição de

posse e de propriedade parecem estar relacionadas a saúde da população.

A associação entre fatores socioeconômicos e a prevalência de cárie dentária

em crianças pré-escolares tem sido constantemente demonstrada (PIOVESAN et al.,

2010). No entanto, a maioria dos estudos utilizam dados socioeconômicos

individuais como renda, profissão do chefe de família, crianças estudando em

creches públicas ou privadas, ou mesmo morando em cidades ou zona rural, não

havendo uma padronização de classificação das pessoas em classes sociais, e não

considerando que a classificação dos indivíduos em diferentes condições sociais

exige a não fixação de um único critério para sua categorização e sim da utilização

simultânea de um conjunto de indicadores expressivos (MENEGHIM et al., 2007).

No fenômeno de polarização da cárie, se verifica maior prevalência da doença

entre os grupos populacionais menos favorecidos socioeconomicamente,

fortalecendo as preocupações no controle e prevenção da cárie em comunidades

carentes, bem como nas repercussões da cárie na vida do paciente infantil

(FEITOSA; COLARES, 2004).

Oliveira, Sheiham e Bönecker em 2008 exploraram a associação entre a cárie

dentária, fatores sociais e o estado nutricional de 1018 crianças pré-escolares

brasileiras com idade entre 12 – 59 meses. Para investigar a condição de saúde

bucal das crianças foi utilizado o índice ceo-d e coletadas informações acerca da

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condição socioeconômica e demográfica das famílias. Cárie estava presente em

23,4% da amostra. Crianças cujas mães tinham menos de 8 anos de estudo e eram

de famílias de baixa renda apresentaram um maior risco de desenvolver cárie

dentária. Houve uma associação significativa entre a cárie dentária e os fatores

sócio-econômicos, como renda mensal familiar (p<0,009) e escolaridade materna

(p<0,0018) e paterna (p<0,005), onde crianças com condições socioeconômicas

desfavoráveis foram mais propensos a ter cárie.

Em 2010, Bonanato et al. observaram a relação entre cárie e condição

socioeconômica. Salientou-se que embora o componente cariado do índice ceo-d

apresentou-se elevado em todas as classes sociais, a ocorrência de perda dentária

por cárie, as lesões com envolvimento pulpar e os dentes com destruição cariosa

extensa foram mais frequentes nas classes sociais mais baixas. Verificou-se ainda

associação estatística entre as doenças bucais e a classe social (p<0,001),

entretanto apenas os dentes obturados não apresentaram esta associação (p>0,05).

Para os autores as doenças bucais na dentição decídua e o acesso a tratamento

odontológico são afetados por fatores sociais e culturais.

Em estudo de coorte, com 340 crianças em São Leopoldo, Brasil, Feldens et

al. (2010) investigaram a relação entre as práticas alimentares no primeiro ano de

vida(aos 6 e 12 meses) e re-examinadas aos 4 anos de idade, buscando verificar a

ocorrência de cárie na infância idade. O modelo multivariado mostrou um risco

ajustado de cárie dentária para as seguintes práticas alimentares aos 12 meses: a

amamentação várias vezes por dia, alta quantidade de açúcar, uso de mamadeira

no caso de leite com líquidos. Escolaridade da mãe com < 8 anos de estudo também

foi associada com o resultado (p<0,05), entretanto em relação a renda mensal

familiar esta associação foi observada apenas na análise bivariada (p< 0,05).

Julgando dever ser, as ações sociais, voltadas para essa população menos

beneficiada socioeconomicamente, a fim de minimizar a ocorrência das doenças

bucais na infância.

Piovesan et al. (2010) avaliaram as desigualdades socioeconômicas na

distribuição da cárie dentária em pré-escolares brasileiros, assim como a associação

entre os indicadores socioeconômicos e a cárie dentária. Por meio de um estudo

transversal, com uma amostra de 455 crianças de 1 a 5 anos de idade, na cidade de

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Santa Maria-RS. Os dados foram analisados por meio da análise de regressão de

Poisson. A prevalência de cárie foi de 23,5%. Analisando isoladamente as variáveis

com a cárie dentária observou-se associação com idade (p<0,0010, raça (p=0,02) e

nível de escolaridade do pai (p=0,02) e da mãe (p<0,01). Nenhuma associação foi

encontrada em relação ao sexo, renda familiar e nível ocupacional do pai e da mãe.

A escolaridade paterna (p=0,02), perdeu força na análise multivariada. Crianças

mais velhas, não brancas, com mães com baixo nível de escolaridade apresentaram

maior prevalência de cárie. Para os autores os fatores socioeconômicos são fortes

preditores para a distribuição desigual da cárie dentaria entre pré-escolares do

Brasil.

Os resultados observados no SBBrasil (2010) mostraram que a renda familiar

mostrou associação significativa com a prevalência de cárie dentária (ceo-d ≥1) e

também com a prevalência de cárie não-tratada (c ≥ 1). Na análise multivariável,

também se observou gradiente de prevalência de cárie segundo a renda familiar,

com crianças mais pobres (renda familiar até R$ 500,00) apresentando prevalência

de cárie não tratada 2,45 (IC 95%, 2,07;2,93) vezes mais elevada que as crianças

mais ricas (renda familiar acima de R$ 2.500,00) (BRASIL, 2010).

Para Ardenghi, Piovesan e Antunes (2013) os resultados do SBBrasil 2010

reforçam a premissa de que desigualdades de ordem contextual continuam

influenciando a prevalência de cárie em crianças pré-escolares no Brasil, e ainda

que a redução das desigualdades em saúde bucal deve ser considerada como meta

no planejamento de programas preventivo que visem promover, concomitantemente,

a saúde e a justiça social.

Ainda estudando a cárie dentária e os aspectos demográficos, agora na

cidade de Catalão-MG, Piovesan et al. (2011) avaliaram o tipo de escola como

indicador de condição socioeconômica em estudos de cárie dentária. Por meio de

um estudo transversal com 411 crianças de 1 a 5 anos, os autores verificaram

associação entre a doença e o tipo de escola – pública ou privada (p=0,008), sendo

esta associação significativa quando se analisou isoladamente a variável, uma vez

incluída outras variáveis da condição socioeconômica essa variável perdeu a

significância. Concluíram ainda que crianças de escolas públicas apresentaram

significativamente maior prevalência de cárie dentária do que as das escolas

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privadas. Assim, o tipo de escola usado como um indicador alternativo para o nível

socioeconômico é um preditor viável para a experiência de cárie em estudos

epidemiológicos de cárie dentária envolvendo crianças pré-escolares no contexto

brasileiro.

Mantonanaki et al. (2013) estudaram a prevalência de cárie dentária em 605

crianças com 5 anos de idade, de escolas públicas na Grécia, avaliando a influencia

de alguns fatores socioeconômicos, comportamentais e condições de vida. A

prevalência de cárie foi de 16,5%. As crianças com maior nível socioeconômico

estavam relacionadas a menor valor de ceo-d. A idade da mãe (35-39 anos) e a alta

classe social estavam relacionados com níveis mais elevados de utilização de

serviços odontológicos. Os autores sugerem que existem diferenças na experiência

de cárie dentária e utilização de serviços odontológicos entre crianças pré-escolares,

que estão relacionados a fatores socioeconômicos, demográficos e condições de

vida. Políticas públicas em saúde bucal devem se concentrar em grupos com

características específicas, a fim de melhorar os níveis de saúde oral das

populações suscetíveis a doenças.

2.2.2 Hábitos Alimentares

A cárie dentária pode ser um dos sinais clínicos que caracterizam a presença

de hábitos alimentares inadequados, podendo participar, no contexto do

aconselhamento dietético que contribuirá, não somente para a prevenção de lesões

de cárie, mas de outras doenças como a obesidade e anemia (MOYNIHAN; AUAD,

2006; MOBLEY, 2003).

A dieta pode exercer influência local e direta sobre os dentes, e diz respeito à

escolha dos alimentos a serem consumidos, independente de seu valor nutricional,

enquanto que a nutrição, implica, na ingestão e absorção de nutrientes e seus

efeitos sobre os processos metabólicos do organismo (MOBLEY, 2003; TOUGER;

VAN, 2003) . Assim, a nutrição e a dieta, podem afetar a dentição de três formas:

por sua influência na estrutura do dente, na erosão dental e no processo

cariogênico.

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A alimentação pode ser analisada sob várias perspectivas, ao mesmo tempo,

independentes e complementares: a perspectiva econômica (relação entre a oferta e

a demanda, o abastecimento, os preços dos alimentos e a renda das famílias);

nutricional (com enfoque nos alimentos, indispensáveis à saúde e ao bem-estar do

indivíduo, como proteínas, lipídeos, carboidratos, vitaminas, minerais e fibra, e nas

carências e nas relações entre dieta e doença); social (voltada para as associações

entre a alimentação e a organização social do trabalho, a diferenciação social do

consumo, os ritmos e estilos de vida); e cultural (interessada nos gostos, hábitos,

tradições culinárias, representações, práticas, preferências, repulsões, ritos e tabus,

isto é, no aspecto simbólico da alimentação). Estas perspectivas, reunidas, revelam

a importância na determinação do tipo de consumo alimentar da população

(HORNICK, 2002; MOBLEY, 2003).

Briefel e Jhonson (2004) relataram a existência de um padrão diferente de

alimentação nos EUAs, dependente da renda familiar: indivíduos com renda inferior

à linha de pobreza consomem mais frequentemente batata frita, salgadinhos, leite

integral, sucos de frutas, enquanto que aqueles que apresentam renda superior

consomem mais salgadinhos de grãos, frutas, leite desnatado, refrigerantes, café e

chá. E que mudanças nos padrões dietéticos tem contribuído com o crescimento de

doenças endêmica como o diabetes tipo 2, obesidade e cárie dentária.

Na população infantil, cerca de um terço do valor calórico consumido pelas

crianças diariamente é proveniente de alimentos pouco nutritivos, comprados e

consumidos fora de casa. Existe um marketing agressivo para doces, lanches,

cereais açucarados e fast food, voltados para crianças e adolescentes (MOBLEY et

al., 2003).

Atualmente, as crianças permanecem grande parte do dia, nas escolas, onde

fazem as suas principais refeições, portanto sua alimentação deve ser elaborada,

utilizando alimentos saudáveis como carnes, verduras, legumes, cereais e frutas. A

disponibilidade de frutas e verduras em programas de merenda escolar tem sido

correlacionada com o aumento do consumo desses alimentos pelos escolares

(GLANZ et al., 2005).

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Segundo estudo realizado pela Faculdade de Saúde Pública da USP, os

brasileiros consumiam em 2004, quase duas vezes mais açúcar do que deveriam.

Os achocolatados, as bebidas açucaradas, as bebidas ácidas, os salgadinhos, as

bolachas, os alimentos pastosos, as balas entre outros tantos, que entram na

alimentação diária, podem causar distúrbios à saúde bucal. Outro fator importante,

observado por alguns pesquisadores, o “mastigar bem e devagar, é o começo de

uma boa digestão”; mas, para isto ocorrer, é necessário que a dentição esteja

completa e em condições plenas de saúde. Outro aspecto a se considerar, é que o

indivíduo com dor de dente não consegue se alimentar adequadamente,

prejudicando a sua saúde sistêmica.

A OMS indica a orientação dietética como um dos grandes desafios para a

redução da obesidade e de outras patologias, como doenças coronarianas,

derrames, diabetes, câncer e cárie dentária (WHO, 2000). A educação e a

reeducação alimentar, são fatores importantes para a odontologia, na manutenção

da saúde e na prevenção de doenças bucais uma vez que, inúmeras pesquisas

apontam que a dieta e os hábitos alimentares incorretos, prejudicam de maneira

significativa, a saúde bucal.

A fim de averiguar a associação entre o aleitamento materno e a presença de

cárie precoce na infância Iida et al. (2007) desenvolveram um estudo com 1576

crianças americanas de 2 a 5 anos de idade. Para tal utilizaram os dados do

levantamento epidemiológico (National Health and Nutrition Examination Survey –

NHANES) de 1999-2002. Os autores puderam observar que aproximadamente 60%

das crianças já tinham sido amamentadas e que estas apresentavam menores taxas

de cárie precoce na infância, quando comparada com aquelas que nunca foram

amamentadas. As crianças que receberam aleitamento materno por período superior

a um ano se mostraram mais propensas a desenvolver a doença, quando

comparadas com aquelas que mamaram até um ano de idade (p=0,01). Entretanto,

após análise multivariada o fato de nunca ter sido amamentado não apresentou

significância estatística (p=0,89) com a presença de cárie. Os autores conjecturaram

que não houve nenhuma evidência que sugerissem que a amamentação e sua

duração são fatores de risco para a ocorrência da cárie dentária na dentição

decídua. Entretanto, corroboram que crianças que vivem em situação de pobreza

estão em maior risco de ter má saúde bucal.

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No estudo de Palmer et al. (2010), acerca dos hábitos alimentares, observou-

se que quando o consumo de alimentos é igual ou superior a seis vezes/dia o

número de crianças com cárie dentária supera o de crianças livres da doença

(p=0,002). Deduziram ainda que para o tratamento e prevenção da cárie dentária

deve-se incluir atenção para a frequência alimentar, cariogenicidade dos alimentos e

supressão de bactérias cariogênicas.

Dando continuidade às investigações sobre esta temática, Feldens et al.

(2010) em estudo em São Leopoldo, SP observaram, em relação às práticas

alimentares, associação estatisticamente significativa entre a prevalência de cárie e

as seguintes variáveis: duração do aleitamento materno (p=0,001); consumo elevado

de açúcar em 12 meses (p=0,010). Entretanto não foi constatado significância

estatística entre prevalência de cárie e número de refeições e lanches no período

estudado (p=0,175). Em conclusão, os autores afirmaram que programas de

promoção de saúde dirigidos às crianças devem enfatizar a necessidade de

evitar/reduzir o consumo de alimentos com elevada quantidade de açúcar e manter

o intervalo entre as refeições.

Slabsinskiene et al. (2010) em estudo desenvolvido na Lituânia constataram

que 25% das crianças com cárie severa foram amamentadas por um período

superior a 1 ano de idade de modo que, esta prevalência entre as crianças livres de

cárie foi de apenas 2,5%. Os autores atentaram que hábitos alimentares impróprios

com a mamadeira atuam fortemente no desenvolvimento da cárie dentária.

Em 2011, Melo et al. investigaram a cárie dentária e os hábitos alimentares

em crianças na cidade do Recife-PE, e observaram que a ingestão diária de doces

entre as refeições esteve associada à presença da cárie dentária, de maneira que

houve associação estatística entre estas variáveis (aos cinco anos, p<0,0001),

reafirmando a hipótese de que o consumo diário de alimentos ricos em sacarose

apresenta associação com o desenvolvimento da doença cárie.

Buscando verificar a associação entre fatores sócio-demográficos e hábitos

alimentares com cárie precoce da infância, Sankeshwari et al. (2013) realizaram um

estudo com 1.250 crianças de 3-5 anos de idade, por meio de questionário sócio-

demográfico, diário alimentar de três dias e exame clínico ceo-d. A taxa de

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prevalência da ECC foi 63,17 %. Associações significativas foram obtidas entre cárie

e idade da criança, número de irmãos na família, escolaridade materna, exposição à

sacarose entre as refeições, exposição à sacarose nas refeições, frequência total de

exposição à sacarose, e pontuação doce total. Para os autores, seria adequado

planejar estratégias de educação em saúde para pais e cuidadores incluindo fatores

sócio-demográficos, com ênfase na redução da ingestão de sacarose.

Examinando a prevalência e gravidade da cárie dentaria em 158 crianças com

idade média de 5,3 anos na República Democrática do Congo, e verificando

possíveis associações com fatores comportamentais, Songo et al. (2013)

observaram uma prevalência de cárie dentária de 50,6% estando associada ao

sexo, a frequência das refeições, consumo de bebidas durante as refeições e o

consumo de bebidas contendo açúcar; o tipo de alimentação infantil e adição de

açúcar na última refeição da noite. Lanches e bebidas entre as refeições foi relatada

por 78% e 65%; 35% tinham bebidas contendo açúcar. A maior parte (81%)

escovava uma vez /dia, no turno da manhã (82 %). Para os autores, estes

resultados confirmam a importância de intervenções preventivas nos hábitos

alimentares das crianças nos países em desenvolvimento.

Com o objetivo de explorar a relação entre as práticas parentais, interação

pais e filhos e cárie dentária, Jong-Lenters et al. (2014) realizaram um estudo caso-

controle utilizando uma amostra de crianças holandesas de cinco a oito anos de

idade. Avaliaram 28 crianças com 4 ou mais dentes cariados, perdidos e/ou

obturados (caso) e 26 crianças livres de cárie (controle). Houve associação

estatisticamente significativa após ajuste para o nível de escolaridade materno

(p<0,001), a frequência de escovação (p=0,07) e a frequência de consumo de

alimentos (p<0,001) e bebidas açucarados (p=0,03). Para os autores houve uma

significância entre as práticas parentais e a cárie dentária, sendo um fator importante

a considerar nos programas de prevenção à carie na infância.

2.2.3 Estado Nutricional

Desde a segunda metade do século XX o mundo vem passando por

mudanças socioeconômicas, ambientais, na saúde e alimentação. Na saúde, uma

menor incidência de doenças infecciosas e mortalidade infantil estão associadas a

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um aumento na prevalência das doenças crônicas e maior expectativa de vida ao

nascer (OMRAN, 1996).

A transformação que tem ocorrido nos padrões dietéticos e nutricionais das

populações vem sendo analisadas como parte de um processo designado de

transição nutricional. No Brasil, esse processo de transição se caracteriza por

redução nas prevalências de desnutrição e aumento nas taxas de sobrepeso e

obesidade.

O estado nutricional de uma população é resultante da disponibilidade dos

alimentos no domicilio, das condições ambientais e econômicas, podendo sofrer

influencia da qualidade de assistência á saúde e de políticas compensatórias

(MONTEIRO; CONDE, 2000).

Nos países em desenvolvimento, a maioria dos problemas de saúde e

nutrição na população infantil está relacionada ao inadequado consumo alimentar e

quadros de infecções, estando intimamente associadas ao padrão de vida, a

alimentação, moradia e assistência à saúde (SIGULEM; DEVINCENZI; LESSA,

2000).

Na literatura odontológica achados sobre a prevalência de cárie na dentição

decídua foram associados com indicadores relacionados ao estado nutricional de

crianças, tais como altura e proporções corporais. Dessa forma, a avaliação de

crescimento infantil é também uma medida indireta de qualidade de vida da

população.

2.2.3.1 Desnutrição

A desnutrição caracteriza-se pelo desequilíbrio celular entre o fornecimento

de nutrientes e de energia e demanda do corpo por eles para garantir o crescimento,

a manutenção e funções específicas (EHIZELE; OJEHANON; AKHIONBARE, 2009).

É uma condição que se desenvolve quando o corpo não recebe a quantidade certa

de vitaminas, minerais e outros nutrientes que ele precisa para manter os tecidos

saudáveis e funções do órgão (SHEETAL et al., 2013).

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Na infância, a desnutrição é um problema de saúde pública, principalmente no

que concerne ao papel desempenhado pelos nutrientes no crescimento,

desenvolvimento e sobrevivência das crianças. De acordo com a UNICEF em 2006,

5,6 milhões de crianças menores de 5 anos, contribuem para a taxa de mortalidade

infantil dos países em desenvolvimento, por causa da alta prevalência de

desnutrição, isso ocorre em cada 10 crianças/minuto (SHEETAL et al., 2013).

Segundo Ramachandran e Golapan (2009) a desnutrição está associada com

a função imunitária e consequente aumento da suscetibilidade às infecções, que por

outro lado agravam o estado nutricional deficitário, gerando um círculo vicioso,

complexo que pode levar ao óbito da criança. Os autores enfatizaram ainda que, as

crianças em fase pré-escolar estão nutricionalmente vulneráveis e mais susceptíveis

a morbidade, devido a infecções.

O Brasil apresentou nas ultimas décadas uma das quedas mais evidentes no

cenário de desnutrição infantil em relação aos países em desenvolvimento, as

formas mais graves de desnutrição foram praticamente eliminadas de todo país,

inclusive da região Nordeste que apresentava maiores índices (MONTEIRO, 2009).

Uma pesquisa realizada pelo IBGE e Ministério da Saúde/MS em 2009, mostrou que

o déficit de altura (importante indicador de desnutrição) caiu de 29,3% (1974-75)

para 7,2% (2008-09) entre os meninos e de 26,7% para 6,3% entre as meninas, nos

primeiros anos de vida (MONTEIRO, 2009).

Alguns estudos sugerem que a desnutrição na infância pode predispor a

criança a desenvolver problemas de saúde bucal como, cárie dentária, defeitos de

desenvolvimento de esmalte, hipoplasia e periodontopatias (SHEETAL et al., 2013),

ainda lesões em tecidos moles e malformação dentária (GORDON, 2007).

A nutrição e dieta podem promover efeitos pré e pós-eruptivo, por meio de um

efeito local direto podendo resultar em: defeitos na estrutura dentária, erosão

dentária e cárie dentária (FREIRE, 2004).

A desnutrição durante o período de desenvolvimento dos dentes pode induzir

ao aumento da susceptibilidade à cárie por três prováveis mecanismos: defeitos na

formação dentária (odontogênese); retardo na erupção e esfoliação dos dentes e

alterações nas glândulas salivares (BATISTA; MOREIRA; CORSO, 2007).

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Poucos são os estudos que se propõem a verificar a associação entre

desnutrição infantil e cárie dentária, mesmo com a extrema importância sobre o tema

e a sua influencia na saúde bucal das crianças.

De acordo com a revisão realizada por Psoter, Katz e Reid (2005), um déficit

nutricional na infância tem influencia na ocorrência de cárie dentária em dentes

decíduos.

Heredia e Alva (2005) estudando a relação entre cárie dentária e desnutrição

crônica em crianças peruanas de 5 a 12 anos de idade observaram que a

prevalência de cárie dentária entre as crianças de 5 anos de idade com desnutrição

crônica foi de 80,0% enquanto que entre aquelas com estado nutricional normal foi

de 85,76%. A prevalência de déficit nutricional entre as crianças da amostra foi de

11,6%, não observando, no entanto, relação estatisticamente significativa entre o

estado nutricional e a presença de cárie (p>0,05).

No Brasil, um estudo realizado em Diadema-SP por Oliveira, Sheiham e

Bonecker (2008), verificou uma associação significativa entre o estado nutricional e

a experiência de cárie, com o aumento do risco de desenvolver a doença na

presença de baixos indicadores de IMC/idade (50,0% nas crianças com escore Z< -

2, p =0,01), peso/altura (55,6%, com escore Z< - 2) e peso/idade (46,7% nas

crianças com escore Z< - 2), assim, as crianças de baixo peso/idade tiveram maior

probabilidade de desenvolver cárie precoce de infância (33,3%), tendo mais chances

de desenvolver a doença.

Sheetal et al. (2013) após extensa revisão de literatura afirmaram que a

desnutrição afeta a saúde bucal e uma saúde bucal deficiente, por sua vez, pode

levar à desnutrição. Considera uma como uma relação de interdependência, onde

uma boa saúde nutricional, promove uma boa saúde bucal e vice-versa. Para os

autores, a má nutrição pode alterar a homeostase, o que pode levar à progressão da

doença na cavidade oral, reduzir a resistência do biofilme microbiano e reduzir a

capacidade de cicatrização do tecido. Estudos têm sugerido que a hipoplasia do

esmalte, hipofunção das glândulas salivares e mudanças na composição salivar

podem ser os mecanismos através dos quais a desnutrição está associada à cárie

dentária.

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Alkamiri et al. (2014) realizaram um estudo transversal relacionando à carie

dentária a medidas antropométricas, em 417 escolares da Arábia Saudita de 6-8

anos de idade, que apresentavam alta prevalência de cárie dentária. A

antropometria foi avaliada por meio de escores z para altura/idade (HAZ),

peso/idade (WAZ) e IMC/idade (BAZ), com padrão de referência da OMS. O índice

ceo-d médio das crianças foi de 5,7 ± 4,2. Os autores observaram que houve uma

relação linear inversa entre a cárie e as medidas HAZ infantil, WAZ e BAZ e

resultados significantes nas medidas antropométricos menores para as crianças em

cada grupo consecutivo, com níveis mais elevados de cárie. As associações

permaneceram significativas após ajuste para as variáveis dentárias, sociais e

demográficas. A associação linear inversa entre cárie dentária e todos os resultados

antropométricos sugerem que níveis mais elevados de cárie não tratada estão

associados significativamente com menor peso e estatura do que aqueles com

níveis mais baixos de cárie. Para os autores, estudos longitudinais podem ajudar a

determinar se existe uma relação entre causa e efeito entre os níveis de cárie e o

crescimento deficiente em escolares sauditas.

2.2.3.2 Obesidade

Estudos da Organização Mundial de Saúde mostraram que nas três ultimas

décadas, a prevalência de obesidade infantil apresentou alarmante aumento, sendo

caracterizada como uma verdadeira epidemia mundial. A estimativa mundial da

International Obesity Task Force (IOTF, 2005) é de que haja, atualmente, 155

milhões de escolares com excesso de peso (sobrepeso/obesidade). A prevalência é

maior nos países industrializados e em desenvolvimento, chegando a 40% na

maioria dos países europeus.

No Brasil, de acordo com dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF

2008-2009), realizada pelo IBGE/MS, os índices de prevalência de sobrepeso e

obesidade chegaram a 34,8% e 16,6%, respectivamente, em crianças de cinco a

nove anos de idade e, denotando relevância deste problema para a saúde pública

brasileira.

Sendo considerada uma doença crônica, a obesidade é caracterizada pelo

excesso de gordura corporal relacionada a massa magra, e o sobrepeso por uma

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proporção relativa de peso maior que a desejável para a altura (MARGAREY et al.,

2001). A multicausalidade desta doença reflete uma complexa interação entre

fatores genéticos, metabólicos, culturais, ambientais, socioeconômicos e

comportamental (MALIK; SCHULZE; HU, 2006).

A obesidade infantil é um fator de risco bastante conhecido para as condições

de saúde, devido a sua associação com alterações metabólicas e doenças

cardiovasculares, e tende a perpetuar sua ocorrência na idade adulta

(WILLERSHAUSEN et al., 2009).

As mudanças dos hábitos de vida, como o aumento do sedentarismo,

proporcionado pelo uso de computares, videogames e tablets e as mudanças nos

hábitos alimentares, com a substituição do aleitamento materno pelos formulados

infantis; e de alimentos ricos em fibras e nutrientes por alimentos industrializados

ricos em gorduras, açúcares e outros carboidratos de maior densidade energética,

são fatores que colaboram para o crescimento da obesidade na infância

(ESCOBAR; VALENTE, 2007)

A cárie dentária e a obesidade compartilham fatores de risco comuns, como

hábitos alimentares e condições socioeconômicas. Hábitos alimentares inadequados

colaboram para a progressão mais rápida da obesidade do que da cárie dentária,

sendo considerado um preditor para o desenvolvimento e progressão desta doença

(OLIVEIRA; SHEIHAM; BONECKER, 2008).

A importância do tema despertou o interesse de Oliveira, Sheiham, e

Bönecker em 2008, a exploraram a associação da cárie dentária com o estado

nutricional de 1018 crianças brasileira urbanas de 12 a 59 meses de idade. A

prevalência e o ataque de cárie foram medidos utilizando o índice ceo-d e para

avaliar o estado nutricional os valores padrões de referencia da OMS, apresentados

em z-escores. A cárie dentária estava presente em 23,4% das crianças, com maior

prevalência de cárie no grupo de 48-59 meses de idade. As crianças com escore z<

- 2, nos índices (IMC/idade) e Peso/altura tiveram um risco aumentado de ter cárie

(OR=3.2 e OR=4.06, respectivamente). Houve uma associação significativa entre o

estado nutricional e experiência de cárie, onde crianças com baixo peso e aqueles

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com condições sócio-econômicas adversas eram mais propensos a ter experiência

de cárie.

Em outro estudo sobre cárie dentária e obesidade em 2010, Vázquez-Nava et

al. verificaram em seu trabalho uma média de IMC de 17,1, e uma prevalência de

53,7% de crianças eutróficas, 14,2% com risco de sobrepeso e 32,1% com

sobrepeso. Após análise multivariada, os autores constataram associação

significativa entre crianças com situação de risco de sobrepeso (OR=1,94) e

crianças com sobrepeso (OR=1,95) e cárie dentária (p<0,01). Alertaram para o fato

da obesidade parecer estar associada à ocorrência de cárie dentária, havendo a

necessidade de desenvolver programas de saúde para identificar e limitar os fatores

de risco associados a estas condições.

Em 2011, Trikalionts et al. estudaram a associação entre cárie dentária e o

índice de massa corporal (IMC) por categorias, em 361 crianças gregas de três a

cinco anos e meio de idade. Os autores observaram que 20,2% da amostra

apresentou ceo-d ≥ 1,0, e as demais livre de cárie. Analisando a prevalência das

categorias de IMC e o ceo-d médio das crianças, 77,8% amostra estava com peso

normal e ceo-d médio de 0,74, 12,2% com baixo peso e ceo-d 1,02, 7,2% com

sobrepeso e ceo-d 1,88, e 2,8% obesas com ceo-d 0,8. Observou-se associação

significativa entre as categorias de IMC e cárie dentária (P<0,001), onde crianças

com sobrepeso apresentaram ceo-d maior significativamente quando comparada às

eutróficas (p<0,01) e àquelas com baixo peso (p=0,015). Não foi significativa a

diferença entre obesas e cárie. Os autores concluíram que as crianças pré-escolares

com sobrepeso na Grécia tem maior risco de cárie dentária.

D´Melo et al. (2011) nesta mesma linha de pesquisa, investigou a cárie

dentária e a obesidade em 200 crianças de três a oito anos de idade atendidas na

Universidade de Otago e verificaram que a prevalência de crianças com o ceo-d

igual ou superior a oito foi de 35,4% entre as eutróficas, 37,5% entre as com

sobrepeso e 24% entre as crianças obesas. Os autores observaram ainda que não

houve correlação significativa entre carie dentária e IMC (p=0,41) e peso (p=0,87) na

infância e que a cárie dentária e obesidade têm fatores de risco comuns que

persistem até a idade adulta, sendo necessárias intervenções que busquem reduzir

a incidência dessas doenças na população. Ressaltam ainda que intervenções

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destinadas à melhoria da saúde bucal (como aconselhamento dietético) também

podem alterar os fatores de risco para sobrepeso e obesidade.

Verificando a associação da cárie dentária com o estado nutricional em pré-

escolares de 5 anos do município de Araraquara/SP, Foshini e Campos (2012)

relataram que em relação à distribuição do estado nutricional dos pré-escolares

segundo os indicadores antropométricos, expressos em escores z, observaram uma

prevalência de 8,64% de déficit de peso/altura (ZPA), 1,66% de baixo peso (ZPI),

1,00% de déficit de altura para idade (ZAI), independente do grau de acometimento,

e pelo IMC, uma alta prevalência de escolares obesos (15,78%). Porém, ao analisar

estatisticamente, os autores observaram que não houve diferença significativa no

índice ceo-d segundo o estado nutricional das crianças e a probabilidade do pré-

escolar apresentar acometimento pela cárie dentária independe do seu estado

nutricional.

Um estudo recente de Chiu, Dimarco e Prokop (2013) buscou determinar a

relação entre o IMC e a cárie dentária em crianças que vivem abaixo do nível da

pobreza. Os autores realizaram um estudo com 157 crianças de rua de 2 a 17 anos

de idade, recrutados a partir de um abrigo na cidade de Midwest nos Estados

Unidos. Observou-se 50,3% das crianças tinham cárie dentária e mais da metade

estavam com sobrepeso (19,7%) ou obesas (30,6%). A maior prevalência de cárie

se deu entre os 6-12 anos de idade (66,7%), assim como a obesidade (33,3%). O

coeficiente de correção de Pearson foi utilizado para explorar a relação entre idade,

IMC e cárie. Foi observada relação significativa entre idade e cárie (p=0,003), idade

e IMC (p=0,03), e não significativa entre cárie e obesidade (p=0,08), apesar de se ter

observado correlação positiva. Uma conclusão definitiva entre a relação obesidade

e cárie dentária não pôde ser tirada com os resultados deste estudo.

Silva et al. (2013) analisaram por meio de um estudo de revisão sistemática

as evidências da associação entre obesidade e cárie dentária, por meio de artigos

indexados nas bases de dados Medline/PubMed, Web of Sciences e LILACS, no

período entre 2005 e janeiro de 2012. Foram selecionados 27 artigos para leitura

completa. Destes, dez avaliaram dentição decídua e/ou permanente e observaram

uma associação positiva entre obesidade e cárie dentária, sendo que um estudo

encontrou uma associação inversa. Segundo a classificação de Downs & Black,

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treze artigos foram considerados com boa evidência científica. Para os autores a

presente revisão não encontrou evidências suficientes quanto à associação entre

obesidade e cárie, assim como não esclareceu o possível papel da dieta e de outros

possíveis modificadores de efeito nessa associação.

2.2.4 Higiene bucal

A principal preocupação do sistema de saúde no Brasil é evitar o

estabelecimento da doença ou detectá-la o mais cedo possível, de forma que o

problema possa ser resolvido em níveis de cuidados primários, e que apenas uma

proporção pequena de casos precise ser encaminhada para o nível de atenção

secundária (MALTZ; JARDIM; ALVES, 2010).

No Brasil, o Ministério da Saúde vem implantando políticas públicas de saúde

bucal , centradas no cuidado integral à saúde para todas as idades. A Estratégia de

Saúde da Família (ESF) em processo de expansão continua desde 2001, busca a

promoção da equidade em saúde e a melhora da qualidade de vida da população.

As Equipes de Saúde bucal vem trabalhando as ações de promoção, prevenção e

recuperação da saúde bucal na atenção básica. Entretanto, as dificuldades em

adotar uma atenção à saúde bucal ampla e efetivamente universal ainda são

verificadas no cenário nacional (ANTUNES; NARVAI, 2010).

A Academia Americana de Odontologia Pediátrica (AAPD) recomenda que as

crianças devam ir ao dentista no primeiro ano de idade (ou quando da erupção do

primeiro dente) e que uma relação entre o pais/responsáveis pela criança e o

dentista deve ser estabelecida o mais cedo possível. Essa relação deve ser

contínua, e incluir todos os aspectos de atenção à saúde bucal, incluindo uma

acessibilidade planejada e centrada na família (AAPD, 2010). Dessa forma, é

importante que as crianças façam visitas regulares ao cirurgião-dentista, que

incluem a avaliação do risco de cárie, estratégias de prevenção individualizadas e

orientação antecipada, sendo a periodicidade necessária para cada criança

dependente do risco individual desta de desenvolver a doença cárie (AAPD, 2010).

Uma avaliação de risco individualizada da criança ajuda tanto os profissionais

de saúde quanto os pais/cuidadores a identificar e entender os fatores associados à

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doença, e desta maneira possibilita que um planejamento de cuidado preventivo e

educativo possa ser desenvolvido. A informação especifica, adquirida com uma

avaliação sistemática do risco de cárie, orienta o cirurgião-dentista na tomada de

decisões acerca do estabelecimento de protocolos de prevenção e/ou de um plano

de tratamento, para as crianças com doenças bucais (RAMOS-GOMEZ et al., 2010).

Como estratégia de prevenção da cárie dentária, o controle mecânico do

biofilme dentário deve ser implementado, podendo ser realizado pelo próprio

indivíduo, através da escovação e uso do fio dental; cujas medidas são bastante

eficazes, simples e amplamente utilizadas. Entretanto essa técnica apresenta

eficácia reduzida no grupo etário infantil, devido às limitações psicomotoras próprias

da idade, que dificultam o aprendizado e a realização adequada da técnica. Ainda

assim, para crianças pequenas a prática da escovação supervisionada por um

profissional revela-se bastante útil para demonstrar a técnica adequada de

escovação para os pais/cuidadores (HUEBNER; RIEDY, 2010).

Tem sido reconhecido que a família pode influenciar a saúde das crianças de

forma direta ou indiretamente. Por um lado, as crianças são dependentes da

responsabilidade dos pais em adquirir comportamentos positivos sobre saúde oral e

ter acesso a cuidados odontológicos regulares. Por outro lado, o ambiente social

pode ou não apoiar as famílias a ter acesso aos cuidados e às estratégias de

promoção de saúde bucal. Além disso, os pais de baixa renda, baixa escolaridade,

diferentes origens socioculturais, bem como aqueles que vivem em áreas rurais

podem apresentar saúde bucal precária e maus hábitos de higiene, podendo refletir

essa condição na saúde oral dos filhos (WIGEN; WANG, 2010).

Ao estudar a ocorrência da cárie dentária e os seus fatores associados,

González-Martínez, Sánchez-Pedraza e Carmona-Arango (2009) observaram, em

relação aos cuidados odontológicos, ausência de associação entre cárie e a

frequência de visita ao dentista superior a 1 vez/ano, e em relação a frequência de

escovação dentária de 1 vez/dia, entretanto verificaram que a doença mostrou

resultados estatisticamente significativos quando analisados em relação à exposição

ao flúor (p=0,03). Foi possível concluir que a utilização de fluoretos contribui de

maneira significativa na prevenção da doença cárie.

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Pesquisando acerca da cárie dentária e sua associação com fatores

relacionados à saúde bucal, Simratvir et al. (2009) em entrevista com os

pais/responsáveis de crianças de 3-6 anos na Índia, verificaram que 36,2% das

crianças sofriam de dor de dente, entretanto apenas 11,4% (12/105) dos pré-

escolares já haviam ido ao dentista. De acordo com os autores os pais devem ser

encorajados a perceber que desempenham papel dominante como modelo de

comportamento para seus filhos e ressaltam a importância de se enfatizar essa

característica em programas de saúde bucal e geral.

Seguindo esta mesma linha de estudo, Slabsinskiene et al. (2010) puderam

verificar como resultado do trabalho desenvolvido que 52,5% dos pais de crianças

com cárie severa não escovavam os dentes do seu filho. Os autores elucidaram que

a ausência de escovação dentária constitui como um determinante significativo para

o desenvolvimento da doença. Entretanto, por a cárie ser uma doença multifatorial

ela pode ser prevenida a partir de programas de prevenção bem organizados.

Em seu estudo caso-controle Jong-Lenters et al. (2014), as práticas parentais

e a interação entre pais-filhos foram observados, e posteriormente classificadas em

sete dimensões: envolvimento positivo, o incentivo, a resolução de problemas,

disciplina, vigilância, coerção e atmosfera interpessoal. As crianças do grupo

controle tiveram escores significativamente mais elevados nas dimensões de

envolvimento positivo, incentivo, resolução de problemas e atmosfera interpessoal,

em comparação com os casos. Os pais de controles também foram menos

propensos a mostrar comportamentos coercivos. Não houve diferença significativa

na disciplina entre os casos e controles. Para os autores houve uma significância

entre as práticas parentais, a qualidade da interação pais-filhos e a cárie dentária,

sendo um fator importante a considerar nos programas e prevenção à carie na

infância. Sugerem ainda que outros estudos sejam realizados com o objetivo de

verificar se programas que incorporam componentes para melhorar as práticas

parentais são eficazes na prevenção da cárie dentária em crianças.

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3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Investigar a relação entre a presença de cárie dentária, fatores demográficos,

estado nutricional e hábitos alimentares em crianças de 5 anos no município de

Patos/PB.

3.2 Objetivos Específicos

Caracterizar o grupo alvo segundo as variáveis sexo, peso, estatura, fatores

demográficos, hábitos alimentares e de higiene bucal;

Avaliar a prevalência de cárie dentária na amostra;

Determinar a relação entre cárie dentária e hábitos de higiene bucal na

amostra;

Verificar o estado nutricional dos escolares, segundo os indicadores peso

para idade, estatura para idade e IMC para idade;

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4 SUJEITOS, MATERIAL E MÉTODOS

4.1 Aspectos Éticos

De acordo com a resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS), de 10 de

outubro de 1996, o projeto de pesquisa foi submetido à análise e aprovado pelo

Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Cruzeiro do Sul

(UNICSUL), sob o protocolo CE/UCS número 027/2014 (ANEXO A).

O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) – (APÊNDICE A) foi

entregue aos pais/responsáveis pelas crianças, previamente selecionadas, para

compor a amostra do estudo. Somente participaram da pesquisa aqueles cujos

termos apresentaram assinados. A Secretaria de Educação do município de Patos-

PB autorizou a realização da pesquisa nas instituições de ensino, segundo ofício

assinado pela secretária do município (ANEXO B).

4.2 Tipo de Estudo

O estudo classifica-se como transversal analítico, cujo objetivo é descrever a

condição de saúde bucal de uma população, em determinado tempo e local, sendo

possível também testar algumas associações (ESTRELA, 2005).

4.3 População e Amostra

O presente estudo foi realizado no município de Patos-PB, com população

estimada 102.527 habitantes (IBGE, 2013). A população de crianças de 5 anos de

idade, regularmente matriculadas nas creches do município era de

aproximadamente 950 crianças, no ano de 2013. O Município não tem fluoretação

das águas de abastecimento público.

O tamanho da amostra do estudo foi obtido por meio do processo de

amostragem para população finita segundo Cochran (1977). A margem de erro

fixada e valor admitido para média e desvio-padrão foram os mesmos adotados pelo

Projeto Saúde Bucal Brasil (BRASIL, 2003) para a região Nordeste, para crianças de

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5 anos de idade, em população maior de 100 mil habitantes. Cabe esclarecer que o

projeto SB é referência para estudos de saúde bucal no país. O nível de significância

adotado foi de 5%.

Tomando a idade de 5 anos na região Nordeste, cujos dados de média e

desvio-padrão são respectivamente x= 3,11 e δ=3,26, aplicando-se a fórmula de

Pessoa e Silva, 1998, chegou-se ao tamanho da amostra:

Onde,

z=1,96; δ=3,26; x=3,1; ɛ = 0,2; deff= 2; taxa de não-resposta= 20%

Aplicando-se a fórmula, temos:

N=z² .s²/ (x.ɛ)² . deff + taxa de não-resposta

N= (1,96)². (3,26)²/ (3,1.0,2)²

N= (3,84 .10,63 )/(0,3844)

N= 106,2 x 2

N= 212,4 +20%

N= 254 pré-escolares

Nestas condições o tamanho amostral ficou estimado em 212 sujeitos.

Admitindo-se um absenteísmo da ordem de 20%, o tamanho final da amostra foi de

254 crianças.

A população alvo deste estudo foi composta por pré-escolares de ambos os

sexos, com 5 anos de idade, assim como, por seus respectivos pais/responsáveis.

De acordo com projeto SB Brasil, os locais de coleta de dados e as unidades de

amostragem variam de acordo com o porte do município e o grupo etário, assim,

para o município de Patos, com mais de 50 mil habitantes, as crianças de 5 anos

foram avaliadas nas creches públicas e privadas da cidade de Patos-PB.

O município de Patos-PB conta com 11 (onze) creches públicas e 9 (nove)

privadas, totalizando 20 instituições de ensino. Nos municípios onde funcionam até

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20 estabelecimentos de ensino, não há necessidade de sorteio e todas as

instituições devem participar da amostra (BRASIL, 2003). Para seleção amostral,

após autorização da Secretaria de Educação do Município, realizou-se um prévio

contato com os diretores das creches, de modo a informar sobre a pesquisa e

solicitar uma listagem com os nomes das crianças de 5 anos matriculadas nas

instituições de ensino. De posse da lista única com os nomes dos pré-escolares, os

elementos amostrais foram identificados aplicando-se a técnica da amostragem

sistemática. Para isso, as crianças da relação única foram numeradas

sequencialmente, até ser obtido o número total de alunos. O intervalo amostral (K)

foi de 3,7, K=950/254. Sorteou-se a primeira criança, entre os números 1 e 3, a

segunda foi o número da ordem da primeira criança mais três, e assim

sucessivamente. Após o sorteio dos elementos amostrais a relação das instituições

por número de alunos sorteados pode ser visualizado no quadro 1.

Quadro 1 - Relação de instituições por número de alunos sorteados para o estudo. Patos, 2014.

INSTITUIÇÕES DE ENSINO REDE Nº DE PARTICIPANTES

Colégio Geo Patos Privada 11

Creche Manoel Quinídio Pública 10

Colégio e Curso Evolução Privada 04

Creche Igor Mota Pública 14

Instituto Educacional Maria do Socorro Privada 15

Creche Tia Lucy Pública 13

Creche Inácio Fernandes Pública 12

Instituto Educacional Branca de Neve Privada 18

Creche Maria Eunice Fernandes Pública 06

Creche Mariana Medeiros Pública 16

Colégio Cristo Rei Privada 06

Creche Sebastião Francisco

Fernandes

Pública 14

Instituto Branca de neve Privada 19

Creche Santina de Gelo Pública 10

Creche Glauce Burity Pública 13

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Creche Proinfância Cremilde

Wanderley

Pública 11

Instituto Educacional Moranguinho Privada 05

Creche Maria Gomes Pública 57

Foi encaminhado aos respectivos pais/responsáveis, um convite à

participação em uma reunião na escola, onde foi apresentada toda a pesquisa,

obtida a autorização por meio da assinatura do termo de consentimento livre e

esclarecido e aplicado o questionário e diário alimentar.

4.3.1 Critérios de inclusão

Foram considerados como critério de inclusão para participação no estudo:

Crianças de cinco anos de idade regularmente matriculadas em

creches da rede pública ou privada de Patos/PB;

O retorno do termo de consentimento livre e esclarecido, dos

questionários e do diário alimentar devidamente preenchidos e

assinados pelos responsáveis.

4.3.2 Critérios de exclusão

Foram considerados como critérios de exclusão para participação no estudo:

Crianças que apresentaram deficiências neuropsicomotoras, ou seja,

desvios de normalidade de ordem mental, física, sensorial e

comportamental;

Crianças que não permitiram a realização do exame clínico ou forem

vetados pelos pais/responsáveis.

4.4 Delineamento do Estudo

O presente estudo foi composto pelas etapas que seguem:

4.4.1 Fluxograma

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45

4.4.2 Processo de calibração

A calibração foi realizada para a coleta dos índices ceo-d e da avaliação

antropométrica, por metodologia proposta por Antunes, Peres e Frazão (2006).

Agendamento e reunião pais/escola para a obtenção do termo de

consentimento livre e esclarecido e aplicação dos questionários e

diário alimentar

Instituições Públicas (n= 11)

Instituições Privadas (n=7)

Análise estatística

Divulgação dos Resultados

Contato com a Secretaria de Educação do município e diretores das

instituições públicas e privadas.

Listagem das escolas e número de alunos

Procedimento Amostral (N= 254)

Calibração do examinador e anotador

Estudo Piloto (N= 26)

Exame clínico e medição antropométrica nas

crianças

Análise da dieta

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46

Para a realização desta pesquisa 1 (um) examinador e 1 (um) anotador foram

calibrados. O processo de calibração foi conduzido por um examinador padrão,

experiente em levantamentos epidemiológicos, sendo composto por quatro etapas

que seguem:

Na 1ª etapa foi realizada uma revisão teórica do procedimento com a

finalidade de proporcionar uma padronização inicial quanto aos

códigos, critérios e condutas adotadas para o uso do formulário da

OMS;

Na 2ª etapa foi aplicado um exercício clínico-epidemiológico que

permitiu maior fixação dos critérios de diagnóstico, posicionamento do

examinador e anotador, organização do material, fichas e

questionários, seguidos de exames de treinamento e discussão clínica

para familiarização dos procedimentos. O exercício foi realizado no

pátio de uma das creches, sob iluminação natural; algumas crianças

foram examinadas pelos examinadores, em caso de discordância no

diagnóstico, as dúvidas eram discutidas e um novo exame era

realizado;

Na 3ª etapa foram realizados novos exames em 10 crianças pelos

examinadores, que não se comunicaram sobre os diagnósticos, e as

crianças eram examinadas duas vezes por cada examinador. O

examinador realizou o exame, contando com o apoio do anotador. Os

resultados foram montados em matrizes e puderam medir o grau de

concordância intra e interexaminadores por meio do teste de Kappa de

Cohen (COHEN, 1960).

Na 4ª etapa foram discutidos os resultados.

A consistência dos diagnósticos foi medida através do coeficiente Cohens´s

kappa (COHEN, 1960) para a obtenção dos valores de concordância a partir da

seguinte fórmula:

Po - Pe

K = 100 - Pe

Onde:

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47

Po - porcentagem de dentes nos quais houve concordância diagnóstica.

Pe - porcentagem de concordância esperada.

Os resultados numericamente obtidos representam (BULMAN; OSBORN,

1989):

k igual a zero: denota baixíssima confiabilidade.

k maior que 0 e menor que 0,40: denota baixa confiabilidade.

k entre 0,41 e 0,60: denota moderada confiabilidade.

k entre 0,61 e 0,80: denota substancial confiabilidade.

k acima de 0,81: denota boa confiabilidade.

Assim, diante da metodologia exposta os dados obtidos pelo teste de Kappa

na calibração inter-examinadores variou de 0,81- 0,91 e na calibração intra-

examinadores de 0,83-0,90, representando boa confiabilidade.

A verificação da concordância intra-examinador foi realizada antes e durante

a coleta dos dados, no sentido de aferir se a consistência obtida no treinamento foi

mantida em campo. Durante a coleta de dados, a concordância foi feita a partir da

prática do exame em duplicata, ou seja, o examinador reexaminou em torno de 10%

da amostra (repetiu um indivíduo a cada grupo de 10), não identificando o paciente

que estava sendo reexaminado. O fato de o examinador saber que o indivíduo foi

examinado previamente pode influenciar o grau de atenção e, consequentemente,

as observações. O anotador, marcou os indivíduos sorteados (1 a cada 10) para o

reexame durante toda a coleta de dados.

4.4.3 Aplicação do questionário e diários alimentares

Em reunião pais/escola, foram aplicados os questionários direcionados aos

pais/responsáveis (APÊNDICE B) contendo perguntas acerca dos fatores

demográficos, hábitos alimentares e cuidados em saúde bucal das crianças, assim

como, foram entregues os diários alimentares aos pais/responsáveis e solicitado o

seu preenchimento (APÊNDICE C e D). Os pais/responsáveis que não

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compareceram à reunião pais/escola, foram interrogados no momento que deixavam

ou pegavam a criança na creche.

Para a avaliação dos fatores demográficos do núcleo familiar, foram

questionados o nível de escolaridade do chefe da família (FELDENS et al., 2010,

RODRIGUES; SHEIHAM, 2000), renda mensal familiar (RODRIGUES; SHEIHAM,

2000; OLIVEIRA; SHEIHAM; BÖNECKER, 2008), número de membros da família

que participam e/ou dependem da referida situação econômica (MELO et al., 2011),

tipo de instituição (PIOVESAN et al., 2011), situação de habitação (OLIVEIRA;

SHEIHAM; BÖNECKER, 2008) e zona de domicílio (MASSEREJIAN et al., 2008).

4.4.4 Exame clínico e avaliação da cárie dentária

Os exames clínicos foram realizados por um examinador e anotador

previamente calibrados. Os pré-escolares foram examinados nas dependências das

creches em local sob iluminação natural, ventilado e próximo de uma fonte de água,

estando examinador e criança sentados em cadeiras. Para os exames clínicos da

cavidade oral, previamente foi realizada escovação dentária supervisionada nas

crianças, e utilizados gazes para secagem das superfícies dentárias, espelhos

bucais e sonda periodontal da OMS (sonda CPI- remoção de debris) para

levantamentos epidemiológicos (WHO, 1997).

Os diferentes espaços dentários foram abordados de um para o outro,

sistematicamente, por quadrante, iniciando do segundo molar até o incisivo central

superior direito (55 ao 51), seguindo em sentido horário até concluir com o hemiarco

inferior direito (81 ao 85). Realizou-se 20 exames clínicos por dia (BRASIL, 2003).

Para avaliação da condição de saúde bucal dos pré-escolares foi utilizado o

índice ceo-d para cárie dentária, segundo os códigos e critérios recomendados pela

Organização Mundial da Saúde (OMS), na publicação Oral health surveys: basic

methods, quarta edição (1997) adaptados pelo projeto SB Brasil 2003 (Anexo D). Os

dados obtidos foram anotados em fichas próprias (Anexo C) pra facilitar a tabulação

dos dados (WHO, 1997).

Para o cálculo do índice ceo-d e seus componentes todos os dentes

examinados receberam um código de acordo com o anexo D. O total do ceod de

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uma criança se deu pela somatória dos componentes cariados (c), extração indicada

por cárie (e) e obturados (o). A média para um grupo de indivíduos foi obtida

dividindo-se a soma pelo número de pessoas examinadas. Para a pesquisa em

dentição decidua são considerados apenas os dentes perdidos por ataque de cárie,

sendo excluído os que esfoliam naturalmente.

4.4.5 Medidas antropométricas e avaliação do estado nutricional

A antropometria é vastamente utilizada para avaliar a condição nutricional de

indivíduos e grupos populacionais. Neste estudo, a avaliação antropométrica incluiu

a medição do peso e estatura (WHO, 2007). Em crianças em idade superior a 5

anos, 3 indicadores são usualmente utilizados: peso para idade, estatura para idade

e o IMC para idade. Esses indicadores foram obtidos por meio das informações de

peso, estatura, idade e sexo das crianças, resultando em valores de classificação

em percentil e z-escore, que foram comparados as curvas de crescimento de

referência, de acordo com Who (2007).

4.4.5.1 Peso

Para a medida do peso corporal foi utilizada uma balança digital portátil

(Marca® Tanita, São Paulo, Brasil) de precisão com capacidade para 150kg, divisão

de 100g, nivelada e calibrada, na qual foi colocada em superfície lisa, sem qualquer

tapete ou carpete, para evitar oscilações nas medidas. As crianças foram pesadas

em pé, permanecendo imóveis e no meio da balança, descalços e com os pés

ligeiramente afastados. Foi solicitado a criança que retirasse o sapato e a roupa

externa (WHO, 2008). Antes da criança subir na balança o mostrador deveria revelar

“0,0” quilo. Foi observado também se a criança não estava segurando algo para

apoiá-lo, no momento da aferição.

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Figura 1- Posicionamento para aferição do peso da criança. Fonte: Arquivo pessoal, 2014.

4.4.5.2 Estatura

As medidas da altura foram obtidas por meio de um estandiômetro fixo (Marca

Macrosul), com escala de 0 a 200 cm e resolução em milimetros, previamente fixado

na parede, montado em um ângulo reto entre o piso (nível do solo) e a superficie

reta vertical de uma parede ou coluna. As crianças foram orientadas a retirar os

sapatos, meias e enfeites de cabelo e a ficarem com as costas voltadas para a

escala de estatura, devendo encostar-se à parede o calcanhar, a panturrilha,

nádegas, escápula e a parte de trás da cabeça, com os pés ligeiramente afastados

entre si. Nas crianças obesas, pelo menos um ponto foi tocado na parede vertical. A

cabeça em plano de Frankfurt e olhos em linha paralela ao solo (WHO, 2008). As

medições foram efetuadas pelo mesmo investigador (Figura 2).

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Figura 2 - Posicionamento para aferição da estatura da criança. Fontes: Gordon; Chumlea; Roche,1988 e arquivo pessoal, 2014.

4.4.5.3 Padrão de referência

Para a análise dos dados antropométricos da população de estudo foi

utilizado o software WHO ANTHROPLUS v. 1.0.4, o qual é considerado um

aplicativo de uso mundial, sendo indicado pela OMS desde 2007 para monitorar o

crescimento de crianças e adolescentes (OLIVEIRA; SHEIHAM; BÖNECKER, 2008,

WHO, 2008) (Figura 3). Para cada indicador, há tabelas e gráficos separados para

meninos e meninas, o usuário pode escolher um z-escore e um sistema de

classificação percentil para interpretar os resultados. Após serem informados os

dados de sexo, peso, estatura, data da avaliação e data de nascimento do

examinado, o programa fornece a idade em meses, o valor do IMC, os resultados da

análise em classificação percentil e z-escore (Figura 4). São gerados gráficos de

avaliação de crescimento baseado na referência da Who de 2007, determinando o

estado nutricional das crianças sob os indicadores peso para idade, estatura para

idade e IMC para idade (Anexo E).

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Figura 3 - Tela inicial do software AnthroPlus, v. 1.0.4. Fonte: Who, 2007.

Figura 4 - Calculadora antropométrica para preenchimento dos dados e obtenção dos resultados em percentis e z-escores, segundo os indicadores peso para idade, estatura para idade e IMC para idade. Fonte: Who, 2007.

Para classificação do diagnóstico nutricional segundo os indicadores peso

para idade, estatura para idade e IMC para idade utilizou-se os seguintes pontos de

corte, visualizados no quadro 2.

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Quadro 2- Avaliação do estado nutricional de crianças segundo os indicadores peso para idade, estatura para idade e IMC por idade.

Indicador peso para idade

Pontos de corte Diagnóstico nutricional

Percentil z-escores

< 0,1 < -3 Muito baixo peso para idade Peso baixo para idade

Peso adequado ou eutrófico Peso elevado para idade

> 0,1 a < 3 ≥ -3 e < -2

≥ 3 e < 97 ≥ -2 e ≤ +2

≥ 97 > +2

Indicador estatura para idade

Pontos de corte Diagnóstico nutricional

Percentil z-escores

< 0,1 < -3 Muito baixa estatura para idade Baixa estatura para idade

Estatura adequada para idade > 0,1 a < 3 ≥ -3 e < -2

≥ 3 ≥ -2

Indicador IMC para idade

Pontos de corte Diagnóstico nutricional

Percentil z-escores

< 0,1 < -3 Magreza acentuada Magreza

Peso adequado ou eutrófico Sobrepeso Obesidade

Obesidade grave

> 0,1 a < 3 ≥ -3 e < -2

≥ 3 e < 85 ≥ -2 e ≤ + 1

≥ 85 e < 97 ≥ 97 e < 99,9

≥ 99,9

> + 1 e ≤ + 2 > +2 e ≤ + 3

> + 3 Fonte: Who, 2007.

4.4.5 Avaliação dos hábitos alimentares

A avaliação da cariogenicidade é fundamental para a aplicação de medidas

terapêuticas e preventivas relacionadas com a cárie e deve estar fundamentada em

informações obtidas sobre os hábitos alimentares. Essa avaliação auxilia na

estimativa do desafio cariogênico e pode determinar o valor nutritivo da dieta. Com

esse propósito, utilizou-se como instrumentos para avaliar os hábitos alimentares

dos pré-escolares, o diário alimentar individual e o institucionalizado, assim como um

formulário contendo questionamentos sobre a amamentação natural e artificial

(BEZERRA; TOLEDO, 2003).

O diário alimentar constitui um instrumento que permite se conhecer os

alimentos, suas características e frequência de consumo, ao longo do dia.

Geralmente é utilizado na atenção individual à saúde, porém, por se tratar de

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crianças institucionalizadas, onde é oferecido um único cardápio, é possível uma

adequação em um levantamento de caráter coletivo.

Neste estudo foi utilizado o diário alimentar de três dias, devido à dificuldade

apontada pelas mães com relação ao preenchimento por um período maior. Para as

instituições que funcionam em tempo integral, foi solicitado que as cozinheiras das

respectivas instituições pesquisadas registrassem no diário alimentar instituicional, a

alimentação semanal das crianças pesquisadas, e aos pais/responsáveis que

complementassem no diário alimentar o que a criança consumiu em casa nos três

dias, excluindo os finais de semana, visto que, geralmente nestes dias a alimentação

normalmente é modificada. (ALMEIDA; GUEDES-PINTO, 2012).

O método utilizado para avaliação da frequência da ingestão de açúcar na

dieta baseou-se no estudo de Rodrigues e Sheiham (2000) e Scalioni et al. (2012). A

análise dos hábitos alimentares foi feita para cada criança individualmente. O

consumo de dieta cariogênica foi calculado por meio da análise da frequência de

ingestão de sacarose, registrado no diário alimentar de três dias e no diário

institucional. Para cada criança, foi avaliado o consumo médio de ingestão de

açúcar, nos três dias, e classificado em frequência baixa ( ingestão de 0 a quatro

vezes por dia) e alta ( ingestão de cinco ou mais vezes por dia).

4.5 Estudo-Piloto

O estudo piloto foi realizado com a finalidade de avaliar os instrumentos de

pesquisa e a dinâmica de coleta dos dados, verificando as dificuldades observadas

durante a realização do estudo, no preenchimento dos questionários, exame clínico

e medição antropométrica das crianças, o que possibilitou realizar os devidos

ajustes.

Para a realização do estudo-piloto foram sorteadas duas creches (uma

pública e uma privada), e em cada creche, sorteados 13 alunos, totalizando 26

crianças, o que corresponderam a 10% da amostra do estudo.

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4.6 Encaminhamentos dos Pré-Escolares

Nos casos detectados com necessidade de tratamento dentário e/ou

alterações nutricionais, os pais/responsáveis foram informados, e as crianças

encaminhadas para a Unidade Básica de Saúde correspondente a área da

abrangência do domicílio e/ou consultórios particulares, ou para a clínica escola de

Odontologia da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

4.7 Elenco de Variáveis

As variáveis independentes associadas à presença de cárie dentária (variável

dependente) estão categorizadas no quadro 3.

Quadro 3 - Relação das variáveis independentes com categorização.

Variáveis Independentes Categorização

Sexo 0. Feminino

1. Masculino

Tipo de instituição (PIOVESAN et al., 2011). 0. Pública

1. Particular

Renda mensal familiar (OLIVEIRA; SHEIHAM;

BÖNECKER, 2008)

0. < 1 Salário mínimo

1. 1-2 Salários mínimos.

2. ≥ 3 Salários mínimos .

Escolaridade do chefe de família (VALENTE,

HECKTHEUER, BRASIL, 2010)

0. Analfabeto

1. Ensino Fundamental incompleto

2. Ensino Fundamental completo

3. Ensino médio completo

4. Ensino Superior completo

Número de moradores por domicílio (MELO et al.,

2011)

0. Menos que seis pessoas.

1. Seis ou mais pessoas.

Situação de habitação (OLIVEIRA; SHEIHAM;

BÖNECKER, 2008)

0. Própria/financiada

1. Alugada

2. Cedida

Zona do domicílio (MASSEREJIAN et al, 2008) 0. Urbana

1. Rural

Estado Nutricional – Peso para idade (WHO, 2007;

RODRIGUES; SHEIHAM, 2000)

0. Muito baixo peso/baixo peso

1. Peso adequado/Eutrófico

2. Peso elevado

Estado Nutricional – Estatura para idade (WHO,

2007)

0. Muito baixa estatura /Baixa estatura

1. Estatura adequada

Estado Nutricional – Peso_idade (WHO, 2007)

0. Magreza acentuada/Magreza

1. Peso adequado/Eutrófico

2. Sobrepeso/ Obesidade/ Obesidade

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grave.

Aleitamento materno (MOHEBBI et al., 2008) 0. Sim

1. Não

Duração do hábito de aleitamento materno

(SLABSINKIENE et al., 2010)

0. ≤ 1 ano de idade

1. > 1 ano de idade

Uso de mamadeira (MOHEBBI et al., 2008) 0. Sim

1. Não

Uso atual da mamadeira 0. Sim 1. Não

Duração do hábito de uso de mamadeira

(SLABSINKIENE et al., 2010)

0. ≤ 1 ano de idade

1. > 1 ano de idade

Introdução de açúcar na dieta 0. Antes de 1 ano de idade

1. Após 1 ano de idade

Adição de açúcar na dieta relatada pelos

pais/responsáveis

0. ≤ 2 vezes ao dia

1. ≥ 3 vezes ao dia

Frequência de ingestão de açúcar em casa

(RODRIGUES; SHEIHAM, 2000, SCALIONI et al.,

2012)

Análise do diário alimentar de três dias

0. Baixa (< 5 vezes/dia)

1. Alta (≥ 5 vezes/dia)

Frequência de ingestão de açúcar na instituição de

ensino. (RODRIGUES; SHEIHAM, 2000, SCALIONI

et al., 2012)

Análise do diário alimentar institucional

0. Baixa (< 5 vezes/dia)

1. Alta (≥ 5 vezes/dia)

Frequência total diária de ingestão de açúcar

(RODRIGUES; SHEIHAM, 2000, SCALIONI et al.,

2012)

Análise da frequência total

0. Baixa (< 5 vezes/dia)

1. Alta (≥ 5 vezes/dia)

Frequência de escovação dentária (CRUVINEL et

al., 2010)

0. < 2x/dia.

1. 3 x/ dia.

Escovação dentária

(SLABSINKIENE et al., 2010)

0 .Com Supervisão do adulto

1 .Sem supervisão do adulto

Visita ao dentista no último ano (OLIVEIRA;

CHAVES; ROSENBLATT, 2006).

0. Sim

1. Não

4.8 Análise e Interpretação dos Dados

Na análise dos dados foram utilizados os procedimentos descritivos:

frequências, frequências percentuais e as medidas: médias, desvio padrão, mediana

e amplitude. Para determinar possíveis fatores que podem influenciar na prevalência

de crianças com cárie foram determinadas as tabelas de contingência bivariadas

entre a ocorrência de cárie com as variáveis independentes e valores de p e da

razão de prevalência com respectivos intervalos de confiança obtidos através de

regressões de Poisson univariadas (ou Razões de prevalências brutas).

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As variáveis com significância menor ou igual a 0,2 (p ≤ 0,20) foram incluídas

num modelo de regressão de Poisson multivariada inicial e através do processo de

seleção com p < 0,20 com o procedimento passo para trás foi obtido o modelo final.

No modelo foram obtidas os valores de significância, as RP ajustadas com

respectivos intervalos de confiança (95%).

Os dados foram digitados na planilha EXCEL e os softwares utilizados para a

obtenção dos cálculos estatísticos foram o SPSS (Statistical Package for the Social

Sciences) na versão 21.0 e o STATA (Statistics/Data Analysis) v. 11.

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5 RESULTADOS

5.1 Caracterização da Amostra

Participaram do estudo 216 pares crianças e pais/responsáveis,

correspondendo a 85,01% do número amostral com taxa de não resposta de 20 %.

O valor de n admitido mediante cálculo foi de 212 crianças. A perda de 38 foi devido

à ausência da criança na creche no dia de coleta dos dados, recusa dos

pais/responsáveis ou não participação nas reuniões pais/escola, não preenchimento

ou devolução do diário alimentar e a recusa da criança na realização dos exames.

Avaliando o perfil epidemiológico da cárie dentária, observou-se prevalência

da doença em 67,6% da amostra, ou seja, 146 crianças já foram acometidas pela

doença, totalizando 752 dentes cariados, 38 com extração indicada e 17 obturados.

A distribuição do número de dentes cariados, com extração indicada e obturados por

creches públicas e privadas pode ser observada na figura 5. A prevalência de cárie

não tratada foi de 67,6%, sugerindo que mais da metade das crianças da amostra

apresentou lesão de cárie.

O índice ceo-d variou de 0 a 17, com média foi de 3,74 (± 4,031) e mediana=

2,0). O componente “c” do ceo-d correspondeu a 93,9% do valor total do índice,

esse valor indica que de cada 100 dentes com sinais de experiência de cárie atual

ou pregressa da doença, cerca de 94 não estão restaurados. Apenas 32,4% da

amostra (70), não apresentaram nenhuma experiência anterior de cárie dentária,

enquanto que 37,0% (80) apresentaram 1 a 5 dentes acometidos por tal lesão e

30,6% mais de 6 dentes.

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Figura 5 - Distribuição do número de dentes cariados, com extração indicada e obturados por creches públicas e privadas. Patos, 2014.

Em relação às variáveis demográficas, verificou-se que das crianças

participantes, a maioria pertencia ao sexo masculino (53,7%), e a creches públicas

(72,2%). Os pré-escolares apresentaram idade média de 63,5 meses (± 3,55),

variando de 60 a 71 meses.

Observou-se uma maior prevalência das famílias com renda mensal entre 1 a

2 salários-mínimos (48,1%). Ainda, 89,9% dos chefes das famílias eram

alfabetizados, com maior prevalência de escolaridade no ensino fundamental

completo (38,0%). A quantidade de moradores residentes por domicilio apresentou

percentuais variando de dois (3,2%) a 10 pessoas (0,5%), com média de 4,2 (±

1,29). De uma maneira geral, a maioria das famílias participantes deste estudo

apresentou-se pequena, composta por menos de 5 pessoas (87,0%). Observou-se

ainda a situação da habitação das famílias e a zona do domicílio, com maior

frequência de residências próprias/financiadas (50,0)% e na zona urbana (75,5%).

Os dados referentes a caracterização amostral estão descritos da Tabela 1.

Foram avaliados também os aspectos biológicos das crianças: a altura média

encontrada foi de 110,8 cm (± 6,3) e variabilidade de 96 a 128 cm; peso médio de

19,07 kg (± 3,64), variando de 13,2 a 33,7 kg; IMC médio de 15,45 ( ± 1,85), e

valores mínimo e máximo de 12 e 21,8. Avaliando-se o estado nutricional, segundo

os indicadores peso para idade e IMC para idade, a maior ocorrência foi de crianças

0 200 400 600 800

CARIADO

EXTRAÇÃO INDICADA

OBTURADO

663

32

8

89

6

9

PRIVADA PÚBLICA

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com peso normal (eutróficas), correspondendo a 88,4% e 76,9% respectivamente.

Segundo o indicador estatura para idade, 94,0% das crianças apresentaram estatura

adequada para idade (Tabela 1).

Tabela 1 - Caracterização amostral, Patos-PB, 2014

Variáveis Privada

n (%) Pública n (%)

Total de crianças n (%)

Sexo Feminino 32 (53,3) 68 (43,6) 100 (46,3) Masculino 28 (46,7) 88 (56,4) 116 (53,7) Renda < 1 SM 9 (15,0) 76 (48,7) 85 (39,4) 1 e 2 SM 30 (50,0) 74 (47,4) 104 (48,1) ≥ 3 SM 20 (33,3) 3 (1,9) 23 (10,6) Não informado 1 (1,7) 3 (1,9) 4 (1,9) Escolaridade do chefe de família Analfabeto 1 (1,7) 20 (12,8) 21 (9,7) Ensino fundamental incompleto 5 (8,3) 47 (30,1) 52 (24,1) Ensino fundamental completo 11 (18,3) 71 (45,5) 82 (38,0) Ensino médio completo 26 (43,3) 18 (11,5) 44 (20,4) Ensino superior completo 17 (28,3) 0 (0,0) 17 (7,9) Número de moradores por domicílio < 6 pessoas 58 (96,7) 130 (83,3) 188 (87,0) > 6 pessoas 2 (3,3) 26 (16,7) 28 (13,0) Situação da habitação Própria/financiada 33 (55,0) 75 (48,1) 108 (50,0) Alugada 21 (35,0) 56 (35,9) 77 (35,6) Cedida 4 (6,7) 24 (15,4) 28 (13,0) Não informado 2 (3,3) 1 (0,6) 3 (1,4) Zona do domicílio Rural 4 (6,7) 49 (31,4) 53 (24,5) Urbana 56 (93,3) 107 (68,6) 163 (75,5) Estado nutricional (peso-idade) Baixo peso 0 (0,0) 11 (7,1) 11 (5,1) Eutrófico 50 (83,3) 141 (90,4) 191 (88,4) Peso elevado 10 (16,7) 4 (2,6) 14 (6,5) Estado nutricional (Estatura_ aidade) Baixa estatura 0 (0,0) 13 (8,3) 13 (6,0) Estatura adequada 60 (100,0) 143 (91,7) 203 (94,0 Estado nutricional (IMC_Idade) Magreza 1 (1,7) 10 (6,4) 11 (5,1)

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Eutrófico 41 (68,3) 125 (80,1) 166 (76,9) Sobrepeso/ obesidade 18 (30,0) 21 (13,5) 39 (18,1)

Em relação aos hábitos alimentares, 90,3% das crianças foram amamentadas

no seio, por um período médio de 11,4 meses ( ± 12,14) compreendendo o intervalo

de 1 a 70 meses. O uso da mamadeira se deu em 84,3% dos casos, com uso médio

de 47,9 meses (± 19,7), variabilidade de 5 a 71 meses, com conteúdo desde leite

adoçado e achocolatado (33,4%), a mingau (64,1%), suco (9,4%) e vitamina (1,9%).

Salienta-se que 31,9% das crianças ainda faziam uso da mamadeira no momento da

entrevista. As frequências da duração do hábito da amamentação e uso da

mamadeira podem ser visualizados na tabela 2.

A maioria das crianças da amostra teve o primeiro contato com alimentos

açucarados, antes de um ano de idade (54,2%). No entanto, ao serem questionados

sobre a adição de açúcar na dieta, a maioria dos pais/responsáveis relataram não

ser superior a 2 vezes ao dia (59,7%).

Por meio da análise dos diários alimentares preenchidos pelos

pais/responsáveis observou-se que a frequência de ingestão de alimentos contendo

açúcar em casa, foi baixa (99,1%), com frequência variando de 1 a 5 vezes ao dia

(média de 2,75 e desvio padrão de 0,96). A frequência de ingestão na creche

também foi baixa (100,0%), com frequência de 1 a 3 vezes ao dia (média de 1,5 e

desvio padrão de 0,68). Avaliando frequência total de ingestão de açúcar/dia pelos

pré-escolares individualmente, percebe-se uma baixa frequência no consumo de

alimentos contendo açúcar (59,7%), com variabilidade de 2,0 a 6,6 (média de 4,26 e

desvio padrão de 1,05) (Tabela 2).

Avaliando os hábitos de higiene bucal das crianças, todos utilizam creme

dental durante a escovação (100,0%), com quantidade que cobre metade das

cerdas da escova (35,3%). Verificou-se ainda que a maioria das crianças realizavam

até duas escovações ao dia (85,1%), e 63,4% delas recebiam aconselhamento e

supervisão de um adulto durante a escovação dentária. Acerca da ida ao cirurgião-

dentista no último ano, 58,3% dos pais/responsáveis levaram a crianças, relatando

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motivo de tratamento dentário (51,2%), consulta de rotina (26,0%) e por dor/urgência

(22,8%).

A distribuição dos dados referentes aos hábitos alimentares e de higiene

bucal por instituição de ensino podem ser visualizados na tabela 2.

Tabela 2 - Distribuição dos dados referentes aos hábitos alimentares e de

higiene bucal por instituição de ensino, Patos-PB, 2014

Variáveis Privada Pública Total de crianças

n (%) n (%) n (%)

Hábito de aleitamento materno

Sim 59 (98,3) 136 (87,2) 195 (90,3)

Não 1 (1,7) 18 (11,5) 19 (8,8)

Não informado 0 (0,0) 2 (1,3) 2 (0,9)

Duração do hábito de aleitamento materno

≤ 1 ano 39 (66,1) 36 (26,5) 75 (38,5)

> 1 ano 17 (28,8) 21 (15,4) 38 (19,5)

Não informado 3 (5,1) 79 (58,1) 82 (42,1)

Uso de mamadeira

Sim 54 (90,0) 128 (82,1) 182 (84,3)

Não 5 (8,3) 15 (9,6) 20 (9,3)

Não informado 1 (1,7) 13 (8,3) 14 (6,5)

Uso atual da mamadeira

Sim 30 (50,0) 39 (25,0) 69 (31,9)

Não 30 (50,0) 116 (74,4) 146 (67,6)

Não informado 0 (0,0) 1 (0,6) 1 (0,5)

Duração do hábito de uso da mamadeira

≤ 1 ano 2 (3,7) 1 (0,8) 3 (1,6)

> 1 ano 50 (92,6) 68 (53,1) 118 (64,8)

Não informado 2 (3,7) 59 (46,1) 61 (33,5)

Introdução de açúcar na dieta

Antes de 1 ano de idade 26 (43,3) 91 (58,3) 117 (54,2)

Após 1 ano de idade 34 (56,7 62 (39,7) 96 (44,4)

Não informado 0 (0,0) 3 (1,9) 3 (1,4)

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Adição de açúcar na dieta relatada pelos pais

≤ 2 vezes ao dia 35 (58,3) 94 (60,3) 129 (59,7)

≥ 3 vezes ao dia 24 (40,0) 62 (39,7) 86 (39,8)

Não informado 1 (1,7) 0 (0,0) 1 (0,5)

Frequência de ingestão de açúcar em casa

Baixa 59 (98,3) 155 (99,4) 214 (99,1)

Alta 1 (1,7) 1 (0,6) 2 (0,9)

Frequência de ingestão de açúcar na creche

Baixa 60 (100,0) 156 (100,0) 216 (100,0)

Alta 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0)

Frequência total diária de ingestão de açúcar

Baixa 40 (66,7) 89 (57,1) 129 (59,7)

Alta 20 (33,3) 67 (42,9) 87 (40,3)

Frequência de escovação dentária

≤ 2 vezes ao dia 49 (83,1) 34 (85,9) 183 (85,1)

≥ 3 vezes ao dia 10 (16,9) 22 (14,1) 32 (14,9)

Escovação dentária

Com supervisão do adulto 46 (76,7) 91 (58,3) 137 (63,4)

Sem supervisão do adulto 14 (23,3) 64 (41,0) 78 (36,1)

Não informado 0 (0,0) 1 (0,6) 1 (0,5)

Visita ao dentista no último ano

Sim 26 (43,3) 100 (64,1) 126 (58,3)

Não 32 (53,3) 54 (34,6) 86 (39,8)

Não informado 2 (3,3) 2 (1,3) 4 (1,9)

5.3 Análise Bivariada

Na tabela 3 analisa-se a prevalência de cárie em relação às variáveis

demográficas e estado nutricional. As variáveis sexo, escolaridade do chefe de

família, número de moradores por domicilio, situação de habitação e zona do

domicílio apontaram ausência de associação em relação à presença da cárie

dentária (p=0,454, p=0,074, p=0,974, p= 0,653, p=0,553, respectivamente).

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Observou-se associação significativa para a variável renda mensal familiar, de modo

que as crianças pertencentes a famílias que ganham mais de 3 salários mínimos

apresentam significativamente menor prevalência de carie quando comparados aos

que ganham menos de um salário mínimo (RPbruta=0,49; p=0,016; IC 95%, 0,28-

0,88).

Outra variável que se mostrou significante estatisticamente em relação à cárie

dentária foi tipo de instituição frequentada pelas crianças da maneira que, crianças

de creches públicas apresentaram significativamente maior prevalência cárie quando

comparadas as crianças que estudam em creches particulares (p < 0,001,

RPbruta=1,69; IC 95%, 1,26-2,27),

Quanto as variáveis do estado nutricional a única que apresentou resultado

significativo foi para o indicador peso para idade. As crianças eutróficas ou com peso

adequado para idade apresentaram significativamente menor prevalência de cárie

que as crianças de baixo peso (RPbruta=0,76; p =0,011, IC 95%, 0,62-0,94), assim

como as crianças de peso elevado apresentaram menor prevalência de cárie que as

de baixo peso (RPbruta=0,31; p =0,008 IC 95%, 0,13-0,74) (Ver tabela 3).

Tabela 3 - Prevalência de cárie em função de fatores demográficos e estado

nutricional, Patos, 2014

CÁRIE DENTÁRIA

Variável Presente Ausente Total Valor de p RPbruto

(IC 95%) n (%) n (%) n (%)

Variáveis demográficas

Sexo

Feminino 65 (65,0) 35 (35,0) 100 (100,0)

Masculino 81 (69,8) 35 (30,2) 116 (100,0) 0,454 1,07 (0,89-

1,29)

Escolaridade chefe família 0,074 Analfabeto 14 (66,7) 7 (33,3) 21 (100,0) Fundamental incompleto

41 (78,8) 11 (21,2) 52 (100,0) 0,325 1,18 (0,85-

1,65) Fundamental completo

59 (72,0) 23 (28,0) 82 (100,0) 0,652 1,08 (0,77-

1,50) Médio completo

24 (54,5) 20 (45,5) 44 (100,0) 0,333 0,82 (0,54-

1,23) Superior

8 (47,1) 9 (52,9) 17 (100,0) 0,247 0,70 (0,39-

1,27) Renda mensal familiar 0,045*

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< 1 SM 60 (70,6) 25 (29,4) 85 (100,0) Entre 1 e 2 SM

75 (72,1) 29 (27,9) 104 (100,0) 0,818 1,02 (0,85-

1,23) Acima de 3 SM

8 (34,8) 15 (65,2) 23 (100,0) 0,016* 0,49 (0,28-

0,88) Número de moradores por domicílio

< 6 pessoas 127 (67,6) 61 (32,4) 188 (100,0) > 6 pessoas

19 (67,9) 9 (32,1) 28 (100,0) 0,974 1,00 (0,76-

1,32) Tipo de instituição Privada 27 (45,0) 33 (55,0) 60 (100,0) Pública

119 (76,3) 37 (23,7) 156 (100,0) <0,001* 1,69 (1,26-

2,27) Variáveis demográficas Situação da habitação Própria 75 (69,4) 33 (30,6) 108 (100,0) Alugada

50 (64,9) 27 (35,1) 77 (100,0) 0,525 0,93 (0,76-

1,15) Cedida

19 (67,9) 9 (32,1) 28 (100,0) 0,873 0,98 (0,74-

1,30) Zona do domicílio Rural 34 (64,2) 19 (35,8) 53 (100,0) Urbana

112 (68,7) 51 (31,3) 163 (100,0) 0,553 1,07 (0,85-

1,34) Variáveis – Estado nutricional Peso Idade 0,003* Baixo Peso 10 (90,9) 1 (9,1) 11 (100,0) Eutrófico

132 (69,1) 59 (30,9) 191 (100,0) 0,011* 0,76 (0,62-

0,94) Peso Elevado

4 (28,6) 10 (71,4) 14 (100,0) 0,008* 0,31 (0,13-

0,74) Altura idade Baixa estatura 10 (76,9) 3 (23,1) 13 (100,0) Estatura adequada

136 (67,0) 67 (33,0) 203 (100,0) 0,388 0,87 (0,64-

1,19) IMC_idade 0,219 Magreza 8 (72,7) 3 (27,3) 11 (100,0) Eutrófico

117 (70,5) 49 (29,5) 166 (100,0) 0,870 0,97 (0,66-

1,41) Sobrepeso/Obesidade

21 (53,8) 18 (46,2) 39 (100,0) 0,205 0,74 (0,46-

1,18) (*): Significativa ao nível de 5%

Na tabela 4 analisa-se a prevalência de cárie dentária em relação aos hábitos

alimentares. Não foram observadas associações significativas entre a presença da

doença, o hábito do uso de mamadeira e uso atual da mamadeira e a introdução de

açúcar na dieta (p=0,167, p=0,643, p=0,792, respectivamente). Em relação ao

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aleitamento materno, observou-se que as crianças que não foram amamentadas ao

seio materno apresentaram maior prevalência de carie que aquelas que foram

amamentadas (RPbruta=1,35; p <0,001 IC 95%, 1,12-1,63).

Houve associação estatisticamente significativa também, entre a doença cárie

e a adição de açúcar na dieta relatada pelos pais (p< 0,001), uma vez que crianças

que estão expostas três ou mais vezes ao açúcar na dieta apresentaram 1,42 vezes

maior prevalência que as crianças expostas à duas ou menos vezes (RPbruta=1,42;

IC 95%; 1,19-1,69).

Na análise da dieta consumida pelas crianças por meio dos diários

alimentares, apenas a variável frequência diária total de ingestão de açúcar foi

associada a presença de cárie, na qual mostrou-se estatisticamente significativa (p

<0,001), de modo que as crianças classificadas com alta frequência diária de

ingestão de açúcar apresentaram 1,75 maior prevalência de cárie que as de baixa

ingestão (RPbruta=1,75; IC 95%, 1,46-2,09).

Tabela 4 - Prevalência de cárie em função dos hábitos alimentares, Patos, 2014

CÁRIE DENTÁRIA

Variável Presente Ausente Total Valor de

p RPbruto

(IC 95%)

n (%) n (%) n (%)

Uso de mamadeira

Sim 125 (68,7) 57 (31,3) 182

(100,0)

Não 10 (50,0) 10 (50,0) 20 (100,0) 0,167 0,73 (0,46-

1,14)

Duração do hábito do uso da mamadeira

≤ 1 ano 2 (66,7) 1 (33,1) 3 (100,0)

> 1 ano 82 (68,3) 38 (31,7) 120 (100,0)

0,951 1.02 (0,85-1,23)

Uso atual da mamadeira

Sim 48 (69,6) 21 (30,4) 69 (100,0)

Não 97 (66,4) 49 (33,6) 146

(100,0) 0,643 0,95 (0,79-

1,16)

Aleitamento materno

Sim 129 (66,2) 66 (33,8) 195

(100,0)

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67

Não 17 (89,5) 2 (10,5) 19 (100,0) 0,001* 1,35 (1,12-

1,63)

Duração do hábito de aleitamento materno

≤ 1 ano 46 (61,3) 29 (38,7) 75 (100,0)

> 1 ano 20 (52,6) 18 (47,4) 38 (100,0) 0,392 0,85 (0,60-

1,22)

Introdução de açúcar dieta

Antes de 1 ano de idade 80 (68,4) 37 (31,6) 117

(100,0)

Após 1 ano de idade 64 (66,7) 32 (33,3) 96 (100,0) 0,792 0,97 (0,81-

1,18)

Adição de açúcar na dieta relatado pelos pais

< 3 vezes/dia 75 (58,1) 54 (41,9) 129

(100,0)

≥ 3 vezes/dia 71 (82,6) 15 (17,4) 86 (100,0) <0,001* 1,42 (1,19-

1,69)

Frequência diária total de ingestão de açúcar

Baixa 67 (51,9) 62 (48,1) 129 (100,0)

Alta 79 (90,8) 8 (9,2) 87 (100,0) <0,001* 1,75 (1,46-

2,09)

(*): Significativa ao nível de 5%

Em relação aos hábitos de higiene bucal não foram observadas associações

significativas entre a presença de cárie dentária nas crianças e os hábitos

(Frequência de escovações diárias, visita ao dentista no último ano e escovação

supervisionada) (Tabela 5). As crianças que visitaram o cirurgião-dentista no último

ano apresentaram maior prevalência de cárie em comparação as que não visitaram

(RPbruta=0,86; p <0,129).

Tabela 5 - Prevalência de cárie em função dos hábitos de higiene bucal. Patos,

2014

CÁRIE DENTÁRIA

Variável Presente Ausente Total Valor de p RPbruto (IC

95%)

n (%) n (%) n (%)

Frequência de escovações diárias

≤ 2 vezes 123

(67,2) 60 (32,8) 183 (100,0)

> 3 vezes 23 (71,9) 9 (28,1) 32 (100,0) 0,584 1,07 (0,84-

1,36)

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68

Visita ao dentista no último ano

Sim 92 (73,0) 34 (27,0) 126 (100,0)

Não 54 (62,8) 32 (37,2) 86 (100,0) 0,129

0,86 (0,71-1,04)

Escovação supervisionada

Com supervisão 91 (66,4) 46 (33,6) 137 (100,0)

Sem supervisão 54 (69,2) 24 (30,8) 78 (100,0) 0,670

1,04 (0,86-1,26)

(*): Significativa ao nível de 5%

5.4 Análise Multivariada

Na Tabela 6 apresenta-se os resultados do modelo de regressão de Poisson.

No modelo inicial foram incluídas as variáveis que apresentaram significância na

regressão univariada ao nível de 20% (p < 0,20): renda familiar, escolaridade do

chefe da família, tipo de instituição, estado nutricional peso para idade, visita ao

dentista no último ano, aleitamento materno, uso de mamadeira, adição de açúcar

na dieta relatada pelos pais e frequência diária total de ingestão de açúcar. No

modelo final foram selecionadas as variáveis: renda familiar, tipo de instituição,

estado nutricional peso para idade, aleitamento materno, adição de açúcar na dieta

relatada pelos pais e frequência diária total de ingestão de açúcar, e destas foram

significativas a 5,0%: tipo de instituição, adição de açúcar na dieta relatada pelos

pais e frequência diária total de ingestão de açúcar, e para as referidas variáveis se

estima através das razões de prevalências que as crianças que estudam em creches

públicas, se consome mais de 3 vezes açúcar por dia e se tem ingestão alta diária

total de açúcar apresentaram maior prevalência de cárie.

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Tabela 6 - Modelo multivariado das razões de prevalência de cárie, Patos, 2014

Variáveis p-valor RP ajustado IC 95%

Variáveis demográficas

Renda mensal familiar 0,146

< 1 SM 1,00 Entre 1 e 2 SM 0,170 1,13 0,95-1,34 Acima de 2 SM 0,294 0,76 0,45-1,27 Tipo de instituição 0,010* Privada 1,00 Pública 1,43 1,09-1,87

Estado nutricional Peso Idade 0,057

Baixo peso 1,00 Eutrófico 0,814 0,97 0,78-1,22 Peso elevado 0,021* 0,48 0,26-0,90

Hábitos de aleitamento

Aleitamento materno 0,184

materno Sim 1,00 Não 1,14 0,94-1,38

Consumo de açúcar Adição de açúcar na dieta relatada pelos pais

0,045*

< 3 vezes/dia 1,00 ≥ 3 vezes/dia 1,19 1,01-1,42 Frequência diária total ingestão de

açúcar <

0,001*

Baixa 1,00 Alta 1,55 1,29-1,87 (*): Significativa ao nível de 5%

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70

6 DISCUSSÃO

A realização deste estudo possibilitou conhecer as condições de saúde bucal

da amostra de pré-escolares no município de Patos/PB, bem como avaliar os fatores

que estão associados à prevalência da doença cárie dentária. O conhecimento

destas variáveis pode contribuir para o controle da ocorrência da doença, e

consequentemente melhorar a qualidade de vida das crianças.

É importante salientar que não há evidências de estudos epidemiológicos

sobre a cárie dentária em crianças de 5 anos de idade no referido município, e que

esse tipo de estudo é indispensável para o planejamento e avaliação em saúde

bucal coletiva.

Os resultados apresentados pelo presente estudo somar-se-ão aos resultados

obtidos e observados no SB Brasil (2010), constituindo em importante ferramenta de

avaliação do impacto das ações de saúde bucal no município, auxiliando na

implementação e no controle das ações e serviços de saúde nos pré-escolares,

população esta, historicamente marginalizada das políticas de saúde bucal no Brasil

(NARVAI et al., 2006).

6.1 Perfil Epidemiológico da Cárie Dentária

Embora a tendência recente é de uma redução dos índices epidemiológicos

da cárie dentária em todo o mundo, o nível da doença na população infantil ainda é

bastante elevado em alguns países (HALLETT; O’ROURKE, 2006). No Brasil, a

cárie dentária ainda consiste em uma das morbidades de maior relevância na saúde

pública (CARVALHO et al., 2009), o que leva a necessidade de mais estudos para

um melhor conhecimento desta doença.

No presente estudo, os indicadores de prevalência de cárie dentária foram

avaliados por meio do índice ceo-d (índice de dentes cariados, extraído por cárie ou

obturados na dentição decídua), geralmente utilizado em diversos estudos

epidemiológicos, incluindo levantamentos de ordem nacional (BRASIL, 2003; 2010).

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O registro de uma elevada prevalência de cárie não tratada (67,6%) em

crianças de cinco anos de idade no município de Patos/PB é consistente com dados

do mais recente levantamento epidemiológico realizado no Brasil (BRASIL, 2010)

que apontou que mais da metade (56,5%) das crianças com cinco anos de idade,

em 2010, no Estado da Paraíba, apresentaram lesão de cárie não tratada, assim

como, aos dados do estudo de Melo et al. (2010) em Recife- PE, os quais

observaram 62,84% da amostra com a doença. Alguns trabalhos constataram a

ocorrência da doença em menor proporção, como: prevalência 36,1% em Belo

Horizonte/MG (BONANATO et al., 2010), de 23,4% em Santa Maria/RS (PIOVESAN

et al., 2010), de 36,88% em Araraquara/SP (FOSHINI; CAMPOS, 2012), de 47,8%

em Cascavel/PR ( BERTI et al., 2013). Observa-se com estes resultados que as

desigualdades na prevalência de cárie e não tratada persistem, afetando as crianças

com dentição decídua no Brasil.

Os resultados do índice ceo-d no presente estudo mostram valor médio de

3,75 dentes afetados pela cárie, semelhante ao observado nas crianças da região

Nordeste do Brasil (ceo-d médio de 3,99) e superior ao encontrado nas crianças do

Brasil (ceo-d médio 2,41), mostrando que o perfil epidemiológico da cárie dentária é

pior para crianças residentes nas regiões mais pobres do país (ARDENGHI;

PIOVESAN; ANTUNES, 2013, BRASIL, 2010).

Entretanto, o destaque deve ser dado a porcentagem de dentes não tratados,

visto que 93,9% do índice ceo-d no presente estudo correspondeu ao componente

cariado. Independente da condição socioeconômica, o que se viu tanto as crianças

da escola pública quanto da privada, os valores de dentes cariados foram maiores

que os obturados. Isto pode indicar um baixo acesso aos serviços de saúde bucal

pela população estudada, devido ou pela negligência por parte dos

pais/responsáveis em relação ao cuidado em saúde bucal, o que reflete a

necessidade de maior conscientização por parte dos pais ou responsáveis com

relação à importancia da manutenção da saúde bucal na dentição decídua, ou pelas

dificuldades por parte do sistema de saúde no atendimento a população estudada.

Deve-se salientar que na cidade de Patos-PB conta com 39 Equipes de

Saúde Bucal implantadas, atendendo uma proporção média de 2.615 pessoas por

equipe, cujo propósito é realizar ações de promoção, prevenção e recuperação de

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saúde. Assim questiona-se se há dificuldade no acesso ou negligência dos

cuidadores em buscarem o tratamento odontológico para seus filhos? Essas

indagações podem ser parâmetros para novos estudos.

Contudo, os resultados mostram a necessidade de propor ações não somente

assistenciais em saúde bucal, mas ações de intervenções dentro de novas

perspectivas, por exemplo; ações que estimulem a participação dos

pais/responsáveis no processo saúde-doença, ações de promoção e prevenção da

saúde bucal, e desenvolvimento de discussão do problema em comunidades, para

que de fato a ação política agregue valor à saúde bucal das crianças.

6.2 Fatores Associados à Doença Cárie

6.2.1 Fatores Demográficos

Na presente pesquisa, foi avaliada a ocorrência de cárie dentária em relação

aos indicadores demográficos sexo, escolaridade do chefe de família, renda mensal

familiar, número de moradores por domicilio, tipo de instituição de ensino, situação

da habitação e zona do domicilio.

Diversos trabalhos de investigação da cárie dentária têm sido desenvolvidos,

e associação entre a doença e o sexo das crianças acometidas tem sido relatada.

No presente estudo a maioria das crianças da amostra pertenceram ao sexo

masculino. Verificou-se uma prevalência da cárie de forma semelhante entre as

crianças do sexo masculino (69,8%) e feminino (65,0%), não sendo verificada

associação significativa entre as variáveis mediante a análise bivariada,

corroborando os resultados de Bonanato et al. (2010), Oliveira, Sheiham e Bonecker

(2008), Power et al. (2013), Feldens et al. (2010), Piovessan et al. (2010).

Entretanto estes resultados estão em desacordo aos de Heredia e Alva (2005) e

Diaz-Cardenas e González-Martinez (2010), que verificaram maior prevalência da

doença no sexo feminino.

A maior experiência de cárie entre as crianças do sexo feminino parece estar

relacionada ao fato da erupção dentária ser mais precoce nas mulheres,

possibilitando exposição dos dentes ao meio bucal por um maior período,

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aumentando assim, o risco de desenvolver a doença (HEREDIA; ALVA, 2005) Para

Bonanato et al. (2010) pode haver diferenças culturais para explicar os diferentes

resultados em diferentes países, embora os hábitos alimentares e de higiene oral

parecem ser semelhantes entre os sexos na infância.

A associação entre a cárie dentária e os indicadores demográficos é

reforçada por um grande número de estudos, ao salientarem que os aspectos

socioeconômicos influenciam o comportamento em saúde e os resultados na

infância (BONANATO et al., 2010; SCAVUZZI et al., 2003; PIOVESAN et al., 2010).

Não se observou associação significativa entre a escolaridade do chefe de

família e a cárie dentária, embora a prevalência da doença tenha sido menor nas

crianças cujo chefe de família possui o ensino superior comparada às crianças de

pais analfabetos (RPbruto=0,70). Oliveira, Sheiham e Bönecker (2008) observaram

que as crianças cujos pais apresentavam mais de 8 anos de estudo tinha 0,64 vezes

menor prevalência de cárie quando comparados às que possuíam pais com menos

de 8 anos de estudo, encontrando significância entre a prevalência de cárie e

escolaridade materna (p=0,001) tanto na análise bivariada quanto na multivariada, e

escolaridade paterna (p=0,005), apenas na bivariada. Piovesan et al. (2010) e

Sankeshwari et al. (2013) também observaram associação entre cárie e o nível de

escolaridade materna, onde as crianças cujos pais apresentaram menos de 8 anos

de estudo, tiveram maior prevalência de cárie. Para Scavuzzi et al. (2003) essa

relação existe pois pressupõe que o nível educacional mais elevado dos pais

significaria menor consumo de alimentos ricos em açúcar, maior frequência de

escovação e visitas ao cirurgião-dentista e maior capacidade de executar os

conhecimentos adquiridos sobre saúde bucal.

Verificou-se que as crianças pertencentes a famílias com renda mensal

superior a três salários-mínimos apresentaram significativamente menor prevalência

de cárie quando comparadas às com renda menor que um salário-mínimo (p=0,016),

sendo que esta associação estatística não persistiu após a análise multivariada de

regressão de Poisson (p=0,146). Resultados semelhantes foram observados por

Feldens et al. (2010) e Oliveira, Sheiham, Bönecker (2008) ao relatarem associação

apenas na análise bivariada. Diferindo dos resultados do SB Brasil (2010) apenas

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para análise multivariada. Piovesan et al. (2010) não encontrou associação

significativa entre as variáveis.

Para Celeste et al. (2009) e Bastos et al. (2008) o incremento da doença com

a diminuição da renda familiar é explicado pelo fato de que famílias economicamente

desfavorecidas possuem piores condições de acesso aos cuidados odontológicos,

de alimentação e de uso de fluoretos, propiciando o estabelecimento de fatores de

risco primordiais para o desenvolvimento da doença.

No estudo de Rodrigues e Sheiham (2000) a renda familiar foi a única variável

socioeconômica que teve um impacto sobre a cárie dentária. Os autores afirmaram

que no Brasil, a renda familiar é o indicador mais sensível do estado de saúde em

grupo menos desfavorecidos.

A ocorrência de cárie dentária e o número de residentes por domicílio não

apresentou significância uma vez que, a prevalência de cárie dentária em crianças

cujas famílias são compostas por até 6 ou mais de 6 pessoas foi semelhante (67,6%

e 67,9%, respectivamente). Em oposição a este resultado, Melo et al. (2011)

constaram que a criança pertencer a famílias numerosas com mais de 6 moradores

associa-se a ocorrência da doença. Acredita-se que famílias numerosas constituem

obstáculos aos cuidados com a saúde bucal das crianças a partir dos primeiros anos

de vida. O que se viu no presente estudo foi que apenas 28 (13%) crianças da

amostra pertenciam a famílias numerosas, onde 19 delas possuíam lesão de cárie.

Sob o tipo de instituição de ensino, uma associação significativa em relação a

prevalência de cárie também foi observada no presente estudo (p<0,001). As

crianças que estudam em creches públicas apresentaram uma prevalência de cárie

1,69 vezes maior que as de creches privadas, sendo esta associação persistente

mesmo após a análise multivariada (p < 0,01). Piovesan et al. (2010) também

encontraram associação significativa entre as variáveis (p=0,008) porém, uma vez

incluída no modelo multivariado, esta perdeu significância. A justificativa para tal

associação parece estar relacionada ao processo de polarização da doença na

cidade de Patos/PB, onde determinados grupos populacionais estão mais expostos

à fatores de riscos sociais, haja vista que nas instituições públicas pesquisadas há

uma maior concentração de crianças de famílias com renda inferior a um salário-

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mínimo e com baixa escolaridade do chefe de família. Para Piovesan et al. (2010) o

tipo de instituição pode ser usado como um indicador alternativo para o nível

socioeconômico, sendo viável para estudos epidemiológicos em crianças.

Para Bonanato et al. (2010), as doenças bucais na dentição decídua são

afetados por fatores sociais e culturais, onde contextos de privação social e sanitária

determinam concentrações mais elevadas de cárie.

Ainda estudando os fatores demográficos, no presente estudo não foi

observada associação entre a situação de habitação e a cárie dentária, com

prevalência semelhante de cárie nas crianças que moravam em casas próprias

(64,9%), cedidas (67,9%) ou alugadas (64,9%). Resultado semelhante ao descrito

por Oliveira, Sheiham e Bönecker (2000), cuja prevalência de cárie em crianças que

moram em casas próprias ou alugadas foram semelhantes, 23,6% e 22,4%,

respectivamente, e não significantes para a presença de cárie.

Não foi possível afirmar que a zona do domicílio favoreça de alguma maneira

a ocorrência da doença em questão, por não ter havido uma associação significativa

(p=0,052) entre as variáveis, uma vez que a prevalência da cárie foi semelhante

tanto para crianças que moram na zona rural quanto na urbana. A prerrogativa de

Maserejian et al. (2008) de que as áreas rurais, tanto em países desenvolvidos

quanto em desenvolvimento apresentam menor número de cirurgiões-dentistas em

exercício e mais pobreza, afetando o acesso ao serviço odontológico, não cabe

neste estudo.

6.2.2 Hábitos Alimentares

A investigação sobre a associação entre hábitos alimentares e carie dentária

foi avaliada no presente estudo por meio das variáveis aleitamento materno e uso de

mamadeira e respectivos tempos de uso, introdução de açúcar na dieta, adição de

açúcar na dieta em casa e a frequência diária de ingestão de açúcar em casa, na

creche e o total obtido pelo somatório (casa e creche) de cada criança.

Neste contexto, a presença do hábito do aleitamento materno no presente

estudo, esteve associado a cárie dentária (p=0,001), não permanecendo após

inclusão no modelo multivariado. As crianças que não amamentaram ao seio

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apresentaram uma prevalência de cárie 1,35 vezes maior que as crianças que

amamentaram. Na mesma linha de resultado Iida et al. (2007) observou que as

crianças que já tinham sido amamentadas, apresentavam menores taxas de cárie

precoce na infância, quando comparada com aquelas que nunca foram

amamentadas. No presente estudo, o resultado não significativo para a duração do

hábito pode ser atribuído a taxa de não respostas para esta variável (42,1%) no

presente estudo. As crianças amamentadas por um período superior a um ano

possuem maiores chances de desenvolveram a doença cárie (SLABSINSKIENE et

al., 2010). Para Feldens et al. (2010) a amamentação prolongada por si só não e

um fator de risco, se ocorrer uma a duas vezes por dia, mais sim, várias vezes ao

dia. O contato prolongado do leite humano, pode resultar em condições

acidogênicas, uma vez que o equilíbrio des-remineralização é deslocado para a

desmineralização, associado ao tempo de disponibilidade na cavidade bucal, e a

outros hábitos alimentares.

Quanto ao hábito e tempo de uso de mamadeira, não se observou associação

significativa, no presente estudo, corroborando aos achados de Feldens et al.

(2010). Entretanto, há discordância dos resultados deste estudo com a hipótese de

Fraiz (2010), de que o hábito prolongado de uso de mamadeira pode representar um

fator de risco para a ocorrência da doença em estudo. Observou-se frequentemente

durante a avaliação dos diários alimentares das crianças deste estudo, que alguns

apresentaram distorções de informações, onde os pais/responsáveis informaram

que a criança não fazia uso de mamadeira e no diário escreveram uma a duas

mamadeiras contendo leite ou mingau durante o dia. Possivelmente, isso ocorre

devido ao fato de que os respondentes do questionário, ao se depararem com

profissionais da área da saúde, tendem a oferecer respostas de acordo com o que

eles acreditam que sejam os comportamentos ideais do ponto de vista da saúde

bucal. A investigação do diário alimentar foi importante para se avaliar esta limitação

neste resultado.

Na presente pesquisa, a prevalência de cárie das crianças que tiveram a

primeira exposição ao açúcar antes e após ano foi semelhante, não apresentando

significância estatística, corroborando aos achados de Feldens et al. (2010).

Possivelmente para este resultado, assim como explicado no parágrafo anterior, os

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respondentes ofereceram respostas convenientes ao que acham correto,

principalmente por depender da memória.

Ao questionar aos pais/responsáveis acerca da adição de açúcar na dieta das

crianças, observou-se maior frequência da adição inferior a três vezes ao dia

(60,0%). No entanto a prevalência de cárie nas crianças que consumiam açúcar

adicionado a dieta por mais de três vezes ao dia, apresentou-se significativamente

1,42 vezes maior quando comparado as de consumo inferior a três vezes ao dia.

Esta relação permaneceu significativa após inclusão no modelo multivariada. O

mesmo resultado foi observado por Feldens et al. (2010).

É provável que perguntar aos pais quantas vezes a criança consome açúcar

ou alimentos contendo açúcar durante o dia, não será suficiente para determinar

uma alta ou baixa frequência de ingestão de alimentos. Pensando nisso, optou-se

também por aplicar o diário alimentar nas crianças da amostra, de modo que foram

anotados toda a alimentação consumida pela criança na creche, por meio do diário

institucional, e em casa, com diário alimentar de três dias, o qual parece ser mais

recomendável na prática odontológica, por ser independente da memória, sendo

assim considerado de maior validade para medir a ingestão alimentar (SCALIONI et

al., 2012).

Avaliando o diário alimentar de cada criança em conjunto (casa e creche)

observou-se que 90,8% das crianças com cárie apresentou uma alta frequência

diária de ingestão de açúcar, com significância estatística nas análises bi e

multivariada. A razão de prevalência entre o consumo alta e baixo pelas crianças

com cárie foi de 1,75. Sheiham e Rodrigues (2000) em seu estudo longitudinal

observaram também maior prevalência de cárie nas crianças que apresentaram alta

frequência diária de ingestão de açúcar. Scalioni et al. (2012) não observaram

associação significativa entre a ingestão média de açúcar e a cárie dentária,

afirmando ser provavelmente devido ao tamanho pequeno da amostra (69 crianças).

Feldens et al. (2010) observaram que uma alta quantidade de açúcar consumida aos

12 meses é um fator de risco para a cárie dentária e que a quantidade e a

frequência de consumo de açúcar, tem sido tem sido significativamente relacionada

a cárie dentária na infância. Portanto, além dos benefícios para a saúde geral, pelo

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risco da obesidade e diabetes tipo 2, a redução no consumo de açúcar nos primeiros

anos de vida é uma medida preventiva também em saúde bucal.

É importante salientar que as crianças que frequentavam as creches públicas

em período integral faziam uso de uma dieta balanceada, elaborada por

nutricionistas, com baixa frequência e adição de açúcar (média 1,5 ± 0,68 vezes ao

dia). No entanto, a frequência de consumo em casa, embora considerada baixa,

apresentou maior média de consumo (2,75 ± 0,9 vezes ao dia), comparado ao

consumo nas instituições de ensino.

Os resultados obtidos sugerem a necessidade de implementação de uma

proposta de aconselhamento de dieta, onde o uso racional de açúcar deve ser

considerado como o objetivo central de uma política de prevenção da cárie dentária.

Do ponto de vista individual, o aconselhamento dietético é altamente recomendável

para crianças com alto risco/atividade, tanto em casa quanto nas creches, onde o

consumo entre as refeições principais, de alimentos que são lentamente ingeridos e

removidos da cavidade bucal deveria ser desestimulado (TINANOFF, 2005; ZERO,

2004). Sugere-se, ainda, o estímulo à prática frequente de higiene bucal, de modo a

promover a desorganização do biofilme e expor os dentes os efeitos benéficos dos

dentifrícios fluoretados para a prevenção na cárie dentária na infância (SCALIONI et

al., 2012).

6.2.3 Estado Nutricional

Diante da importância do assunto, o estado nutricional tem sido alvo de

estudo por diversos pesquisadores, inclusive na área odontológica. A possível

associação do estado nutricional com a cárie dentária tem sido investigada, devido a

esta doença afetar o crescimento da criança, especificamente o peso e a altura de

maneira adversa (THOMAS; PRIMOSCH, 2002).

No presente estudo utilizou-se o programa AnthroPlus para avaliar por meio

das curvas de crescimento, o estado nutricional da criança. O sistema de

classificação padrão utilizado para apresentar o estado nutricional da criança, de

acordo com a WHO (2007) é o de escores z. Porém o sistema de percentil também é

utilizado na prática clínica, por permitir maior sensibilidade aos resultados. No

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presente estudo, a avaliação das curvas de crescimento da criança se deu tanto por

z-escores quanto por percentil. Logo, comparando os resultados da análise em

ambos os sistemas de classificação, observou-se equivalência entre os achados,

optando-se por apresentar nos resultados do presente estudo a avaliação em z-

escores, por ser recomendado pela OMS pela sua capacidade de descrever o

estado nutricional, incluindo os extremos na distribuição, e permitir a derivação de

resultados estatísticos (OMS, 1995; WHO, 2007).

Os indicadores utilizados na presente pesquisa para avaliação do estado

nutricional em crianças com idade superior a 5 anos, foram peso para idade, altura

para idade e IMC para idade. Estes são referência da WHO (2007), sendo também

utilizado em outros estudos científicos (OLIVEIRA; SHEIHAN; BÖNECKER, 2000;

ALKAMIRI et al., 2014; FOSHINI; CAMPOS, 2012).

Para o indicador peso para idade a maior parcela da amostra estudada foi de

crianças eutróficas (88,4%) e a maior prevalência da cárie dentária se mostrou em

crianças com baixo peso (90,9%). Observou-se ainda que crianças eutróficas

apresentaram significativamente menor prevalência de cárie que as de baixo peso

(p=0,011), assim como nas crianças de peso elevado em relação às de baixo peso

(p=0,008). Esta variável após inclusão no modelo multivariado perdeu a significância

(p=0,057). Este resultado apoia o estudo de Oliveira, Sheiham e Bönecker (2008)

que encontraram tal relação, sob avaliação do mesmo indicador, onde as crianças

de baixo peso foram significativamente 2,83 vezes mais propensas a ter cárie que as

crianças eutróficas. Esta descoberta corrobora também aos resultados de outros

estudos por verificar a associação entre baixo peso e a presença de cárie na

dentição decídua (THOMAS; PRIMOSCH, 2002).

A associação entre a cárie dentária e o baixo peso sob o indicador IMC para

idade apresentou significância no estudo de Oliveira, Sheiham e Bönecker (2008),

não sendo para o presente estudo, embora ambos tenham relatado maior

prevalência de cárie em crianças desnutridas.

Heredia e Alva (2005) não observaram associação estatística entre a cárie

dentária e a desnutrição, entretanto afirmaram que a desnutrição crônica promove

um atraso de esfoliação dentária tornando os dentes mais susceptíveis a cárie. Para

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Batista, Moreira e Corso (2007) a desnutrição durante o período de desenvolvimento

dos dentes pode induzir a uma maior susceptibilidade à cárie por três prováveis

mecanismos: defeitos na formação dentária (odontogênese), retardo na erupção e

esfoliação dos dentes e alterações nas glândulas salivares.

Sob o indicador estatura para idade, não se observou associação com a cárie

dentária no presente estudo, embora as crianças com baixa estatuta tenham

apresentado maior prevalência de cárie, corroborando aos resultados de Rodrigues

e Sheiham (2000). Estudos em populações com alto nível de deficiência nutricional

observaram que crianças com baixa estatura para idade tiveram mais experiência de

cárie (HEREDIA; ALVA, 2005; ALKAMIRI et al., 2014).

A cárie precoce na infância tem sido identificada como um marcador de risco

para a desnutrição (CLARKE et al., 2006). Duas teorias podem explicar essa

relação: a primeira teoria refere-se ao efeito direto das lesões de cáries não tratadas,

onde a dor e inflamação podem afetar a ingestão dos alimentos, resultando em

desnutrição e crescimento insuficiente. A segunda teoria inclui os efeitos indiretos de

cárie não tratada e as diferentes respostas do organismo à infecção dental crônica.

Três mecanismos são sugeridos: o primeiro diz respeito respostas imunes, onde a

polpa infectada pode afetar a imunidade e eritropoiese, e resultar em anemia,

influência da remodelação óssea, padrões de sono, e ingestão alimentar; o segundo

mecanismo é a relacionada a resposta endócrina, onde a interrupção do sono

devido a episódios de dor e infecção pode levar à diminuição da secreção dos

hormônios de crescimento; e o terceiro mecanismo está ligada a respostas

metabólicas, onde infecções e inflamação pode resultar em desnutrição de

micronutrientes, através do aumento de energia e demandas metabólicas e

absorção deficientes (SHEIHAM, 2006; OLIVEIRA; SHEIHAM; BÖNECKER, 2008,

ALKAMIRI et al., 2014). É importante salientar que nenhuma relação de causa-efeito

pode ser deduzida a partir de estudo de desenho transversal, como este. Estudos

longitudinais iriam aumentar o conhecimento sobre os determinantes da cárie

dentária, a fim de melhor elucidar essa relação.

Associação entre o sobrepeso e a cárie dentária não foi observada no

presente estudo discordando dos resultados encontrados no estudo de Vázquez-

Nava et al. (2010), onde as crianças com sobrepeso e com risco de sobrepeso

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tiveram significativamente mais chances de desenvolver a doença, assim como no

estudo de Trikalionts et al. (2011) e Kantovitz et al. (2006), que observaram

associação direta entre obesidade e cárie. No presente estudo não foi possível

confirmar a obesidade, devido a não avaliação da gordura visível, por meio da

medição das dobras cutâneas (WHO, 2009), identificando apenas o excesso de

peso, ou seja, o sobrepeso/obesidade.

Neste estudo todas as crianças da amostra com baixo peso e baixa estatura

para idade estudavam em creches públicas, confirmando a afirmativa de Oliveira,

Sheiham e Bönecker (2008) que observaram que as crianças de baixo peso são

mais propensas a ser encontradas entre as famílias mais pobres, com menor

escolaridade, enquanto que crianças de famílias de renda mais alta, apresentam

melhores condições sociais, tendo mais oportunidade para desenvolver uma boa

saúde bucal, melhores comportamentos, fazerem escolhas alimentares saudáveis e,

portanto, apresentar nutrição adequada. Por outro lado, crianças de famílias mais

pobres estão mais propensos a ter doenças na infância, apresentar baixo estado

nutricional e não ter acesso a higiene oral.

6.2.4 Higiene Bucal

Por ser considerada uma doença de etiologia multifatorial, buscou-se no

presente estudo verificar possível associação entre a cárie e os cuidados com

relação à saúde bucal das crianças. Avaliou-se a frequência de escovação dentária,

a supervisão da escovação por um responsável, assim como visita ao dentista no

último ano.

Escovar os dentes é fundamental para prevenir a cárie por desorganizar a

placa cariogênica, impedindo o processo de desmineralização, além de expor o flúor

do dentifrício ao meio bucal, que em baixa concentração e alta frequência atua no

processo de remineralização do esmalte. A frequência de escovação dentária

inferior a duas vezes ao dia tem sido identificada por Harris et al. (2004) como um

potencial fator comportamental que explica a ocorrência da cárie dentária em

crianças. Neste estudo observou-se que a maioria das crianças da amostra

escovavam os dentes menos de duas vezes ao dia (85,1%). Entretanto, não se

observou associação significativa entre a presença de cárie e a frequência de

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escovação. Jong-Lenters et al. (2014) e Leake, Jozzy e Uswak (2008) relataram tal

associação como significativa.

Um dado a ser levado em consideração é apresentado no presente estudo,

onde as crianças que escovavam os dentes três vezes ao dia apresentaram 1,07

vezes maior prevalência de cárie que as que escovavam menos de duas vezes ao

dia. Tal resultado pode ser justificado pelo fato da criança estar realizando na prática

uma escovação sem supervisão de um adulto, pois segundo Slabsinskiene et al.

(2010) crianças menores de 8 anos não são capazes de escovarem os dentes

sozinhas, ou pelo fato dos respondentes oferecerem a resposta tendenciosa de

“escovar os dentes três vezes ao dia”, já programada na memória dos cuidadores,

não sendo utilizado na prática diária, uma vez que uma higiene bucal adequada

associada a utilização de dentifrício fluoretado são os mecanismos mais eficazes na

prevenção da cárie dentária, e o que se ver no presente estudo é uma alta

prevalência de cárie não tratada.

Foi questionado aos respondentes no presente estudo, se supervisionavam a

escovação dentária das crianças, e foi constatado que em 63,7% os pais

aconselhavam e supervisionavam a escovação dentária dos filhos. No entanto, esta

variável não se mostrou associada à cárie dentária, corroborando aos achados de

Rodrigues e Sheiham (2000) e Jong-Lenters et al. (2014) que não viram relação

significativa entre a ajuda na escovação e a cárie dentária. Ainda, no presente

estudo, verificou-se que as crianças que escovavam os dentes sozinhas

apresentaram prevalência de cárie 1,04 vezes maior que as que recebiam

supervisão. As crianças apresentam limitações psicomotoras próprias da idade,

necessitando da ajuda e supervisão dos pais até que desenvolva seu controle motor,

para escovar os dentes sozinhas e de maneira correta (HUEBNER; RIEDY, 2010,

SLABSINSKIENE et al., 2010).

Quanto à investigação acerca da ida ao cirurgião-dentista no último ano, no

presente estudo, observou-se maior prevalência de cárie nas crianças que

realizaram a consulta (59,4%), apresentando como principal motivo da ida ao

dentista o tratamento odontológico (60,4%) e a dor/urgência (26,4%). No entanto,

não foi observada associação estatística entre as variáveis. Estes resultados

refletem que possivelmente, as visitas ao dentista, se deram por motivos

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terapêuticos (geralmente quando o estágio da doença demonstra a maior

quantidade de sinais e sintomas, como a presença de dor, por exemplo), e não

preventivos, remetendo uma reflexão acerca da negligência quanto à visita ao

cirurgião-dentista, possivelmente pelo aspecto cultural da não valorização da

dentição decídua, pelo fato de ser substituída pela permanente (HARRIS et al.,

2004).

Ainda, Simratvir et al. (2009) verificaram que apenas 11,4% dos pais

procuram o dentista para seus filhos, relatando a falta de consciência dos

responsáveis frente a condição de saúde bucal dos filhos. González-Martinez,

Sánchez-Pedraza e Carmona-Arango (2009) também não observaram associação

significativa entre cárie e visita ao cirurgião-dentista.

A primeira infância é o período ideal para que ações fundamentais à saúde

sejam inseridas e executadas ao longo da vida. Os pais/cuidadores desempenham

um papel fundamental na iniciação e manutenção deste comportamento, moldando

as atitudes e comportamentos específicos relacionados à cárie na infância, incluindo

higiene bucal e frequência de consumo de açúcar. Reforçando esta afirmação, Jong-

Lenters et al. (2014) apresentaram como resultados do estudo a associação entre a

práticas parentais, a boa interação entre pais-filhos e a cárie dentária.

No entanto, a cárie continua sendo um sério problema para indivíduos

economicamente desfavorecidos em países em desenvolvimento, onde o consumo

de açúcar está aumentando, a exposição ao uso de fluoretos se restringe ao uso de

dentifrício fluoretado, como ocorre com as crianças do presente estudo, não

expostas a fluoretação das águas de abastecimento, e o tratamento odontológico

nem sempre está disponível (ZERO, 2004).

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7 CONCLUSÕES

A prevalência de cárie dentária foi elevada neste estudo;

As crianças apresentaram-se em sua maioria eutróficas e com estatura

adequada;

Verificou-se que a prevalência de cárie aumenta se a mesma estuda em uma

creche pública, consome açúcar mais de três 3 vezes ao dia, e tem alta

frequência diária de ingestão de açúcar na dieta.

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APÊNDICE

APENDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado(a) como voluntário(a) a participar da pesquisa:

AVALIAÇÃO DA CÁRIE DENTÁRIA, ESTADO NUTRICIONAL E HÁBITOS

ALIMENTARES EM CRIANÇAS DE 5 ANOS DE IDADE NO MUNICÍPIO DE PATOS - PB,

sob orientação da Profa. Dra. Eliete Rodrigues de Almeida, tendo como pesquisadora

responsável a aluna de Doutorado Luciana Ellen Dantas Costa.

1. JUSTIFICATIVA, OBJETIVOS E PROCEDIMENTOS

O motivo que nos leva a estudar a prevalência de cárie em pré-escolares da

cidade de Patos - PB é a falta de estudos com a população pesquisada e a

relevância de cárie dentária num contexto da saúde pública, partindo do pressuposto

de que os problemas bucais podem desencadear não só repercussões fisiológicas,

mas também comportamentais, afetando a vida social, a alimentação, o exercício de

atividades diárias e o bem-estar do indivíduo. E verificar se estado nutricional e os

hábitos alimentares das crianças tem influencia direta na condição de saúde bucal.

Este estudo é uma importante ferramenta para orientar as ações de planejamento e

de vigilância na cidade de Patos/PB, contribuindo para a elaboração de uma política

municipal em saúde bucal mais direta e eficaz, baseando-se na necessidade de

saúde da população assistida, dessa forma otimizando recursos, ações e serviços

fundamentais no âmbito da saúde e educação.

O objetivo desse projeto é investigar a associação entre a experiência de

cárie dentária, estado nutricional e hábitos alimentares das crianças com anos de

idade 5 institucionalizadas do município de Patos - PB.

Os procedimentos de coleta de dados serão realizados da seguinte forma: A

pesquisa contará com a realização de um exame clínico direto da cavidade bucal

dos pré-escolares, para avaliação da presença de lesões de cárie dentária e

condição de higiene oral, e pela aplicação de formulários específicos direcionados

aos alunos e aos seus respectivos pais/responsáveis, que avaliam a prevalência de

cárie dentária e a necessidade de tratamento, assim como verificar impacto das

condições sociais, nutricional e dietética na cavidade bucal dessas crianças. O

questionário é constituído por questões simples e diretas, formulados e adaptados a

linguagem local, direcionado aos seus pais/responsáveis, sendo os mesmos

aplicados no próprio ambiente escolar, tendo prévia autorização das instituições de

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ensino. A avaliação das condições de saúde bucal, será por meio de um exame

clínico. Os exames clínicos serão realizados por um examinador e anotador

previamente calibrados. Os pré-escolares serão examinados nas dependências das

escolas e creches em local sob iluminação natural, ventilado e próximo de uma fonte

de água, estando examinador e criança sentados em cadeiras. Para os exames

clínicos da cavidade bucal, previamente será realizada escovação supervisionadas

nas crianças, e utilizados gazes para secagem das superfícies dentárias, espelhos

bucais e sonda periodontal da OMS (sonda CPI) para levantamentos

epidemiológicos (WHO, 1997), sendo esse um procedimento considerado não

invasivo e portanto, indolor.

Para avaliar o estado nutricional da criança, serão tomadas medidas de peso

e altura. Para medida de peso, utilizar-se-á uma balança digital de precisão, as

crianças serão pesadas em pé, permanecendo imóveis, descalças, das por meio de

um estandiômetro portátil, onde as crianças serão orientadas a ficar com as costas

voltadas para a escala e com os pés encostados ao suporte do aparelho, com a

cabeça em plano de Frankfurt.

Para avaliar os hábitos alimentares das crianças serão coletadas informações

dos diários alimentares das instituições de ensino, a qual as crianças estão

matriculadas, assim como um diário alimentar de três dias a serem preenchidos

pelos pais/responsáveis.

2. DESCONFORTOS, RISCOS E BENEFÍCIOS

Sendo o exame clinico um procedimento não-invasivo, assim como pesar e

medir a criança, não há desconforto iminente durante a sua realização. Os riscos

relativos à participação do aluno e seus pais nessa pesquisa são mínimos e

irrelevantes e os benefícios que os mesmos terão, serão diretos, relativos ao

desenvolvimento de motivação para bons hábitos e melhoria da saúde bucal e

consequentemente melhorias no bem-estar, nos hábitos alimentares e na qualidade

de vida.

3. FORMA DE ACOMPANHAMENTO E ASSISTÊNCIA

As crianças detectadas com a presença de dentes cariados ou com

necessidade de tratamento terão os pais e/ou responsáveis informados e receberão

encaminhamento para a Unidade Básica de Saúde correspondente a área da

abrangência do domicílio e/ou para a clínica escola de Odontologia da Universidade

Federal de Campina Grande (UFCG), onde irão receber atendimento e

acompanhamento odontológico para resolutividade do problema.

4. GARANTIA DE ESCLARECIMENTO, LIBERDADE DE RECUSA E SIGILO

Você será esclarecido(a) sobre a pesquisa em qualquer aspecto que desejar.

Você é livre para recusar-se a participar, retirar seu consentimento ou interromper a

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participação a qualquer momento. A sua participação é voluntária e a recusa em

participar não acarretará em qualquer penalidade, prejuízo ou perda de benefícios.

O pesquisador tratará sua identidade com padrões profissionais de sigilo. Os

resultado dessa pesquisa poderão ser enviados ao Sr(a). e permanecerão

confidenciais, conforme sua solicitação. Seu nome ou o material que indique a sua

participação não será liberado sem a sua permissão. Você não será identificado(a)

em nenhuma publicação que possa resultar deste estudo, incluindo divulgação de

imagens, se for o caso. Uma cópia deste consentimento informado será arquivada

no Curso de Odontologia, Programa de pós-graduação, Doutorado em

Odontopediatria da Universidade Cruzeiro do Sul e pelo Comitê de Ética da

Universidade Cruzeiro do Sul. Outra cópia será fornecida a você após assinatura de

todas as partes.

5. CUSTOS DA PARTICIPAÇÃO, RESSARCIMENTO E INDENIZAÇÃO POR EVENTUAIS

DANOS

A participação no estudo não acarretará custos para você e nenhum risco de

dano a sua saúde ou a do menor e não será oferecida nenhuma compensação

financeira adicional.

6. DECLARAÇÃO D(O)A PARTICIPANTE OU DO(A) RESPONSÁVEL PEL(O)A

PARTICIPANTE:

Eu, _______________________________________ fui informado(a) dos objetivos

da pesquisa acima de maneira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas. Sei que em

qualquer momento poderei solicitar novas informações e motivar minha decisão se assim o

desejar. A professora orientadora Eliete Rodrigues de Almeida e a pesquisadora Luciana

Ellen Dantas Costa certificaram-me de que todos os dados desta pesquisa serão

confidenciais. Também fui informado que caso existam gastos adicionais, estes serão

absorvidos pelo orçamento da pesquisa.

Em caso de dúvidas poderei chamar o pesquisador responsável:

Luciana Ellen Dantas Costa, telefone (83) 9981-6939, email

[email protected];

ou o(a) professor(a) orientador(a):

Eliete Rodrigues de Almeida, e-mail [email protected].

ou o Comitê de Ética da Universidade de São Paulo, sito à Av. Dr. Ussiel Cirilo 225, São

Miguel Paulista, 08060-070, São Paulo, SP.

Declaro que concordo em participar desse estudo. Recebi uma cópia deste termo de

consentimento livre e esclarecido e me foi dada a oportunidade de ler e esclarecer as

minhas dúvidas.

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Nome Assinatura do Participante e

representante legal do menor

Data

Nome Assinatura do

Pesquisador/estudante

Data

Nome Assinatura do

Professor/orientador

Data

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APENDICE B

QUESTIONÁRIO DEMOGRÁFICO, CUIDADOS EM SAÚDE BUCAL E HABITOS ALIMENTARES.

1. Dados gerais Dados da criança: Nome:_______________________________________________________________________ Escola/Creche:________________________________________________________________ Sexo: ( )Feminino ( )Masculino Data de nascimento: ____/____/____ Peso da criança ao nascer:_______________________________________________________ Dados do responsável: Nome:____________________________________________Data de nascimento:___/___/___ Parentesco com a criança:________________________________________________________ Você é o chefe da família ? ( ) Sim ( ) Não, quem é ?______________________________

2. Avaliação demográfica

(Q. 01) O chefe da família é alfabetizado ? ( ) Sim ( ) Não

Se sim, estudou até que série? (0) Somente a alfabetização (4) 2° grau completo (1) 1ª a 4ª série (5) Superior incompleto (2) 5ª a 8ª série (6) Superior completo (3) 2° grau incompleto

(Q.02) Quantas pessoas moram na sua casa? ________ pessoas. (Q. 03) Renda mensal familiar ( ) acima de 08 salários mínimos ( ) entre 05 e 08 salários mínimos ( ) entre 03 e 04 salários mínimos ( ) entre 01 e 02 salários mínimos ( ) abaixo de 01 salário mínimo (Q.03) Situação de habitação: ( ) própria ( )financiada ( ) alugada ( )cedida ( )outros (Q.04) Zona (localização do domicílio): ( )rural ( ) urbana

3. Hábitos de higiene oral e alimentação da criança

(Q. 5) É utilizado creme dental durante a escovação? (0) Sim (1) Não (Q. 6) Em relação à quantidade de creme dental utilizada na escova: (0) Cobre totalmente as cerdas da escova dental (1) Cobre metade das cerdas da escova dental

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(2) Cobre menos da metade das cerdas da escova dental (9) Não usa (Q. 7) Com qual frequência a criança escova os dentes por dia? (0) Não limpa (1) Uma vez por dia (2) Duas vezes por dia (3) Três vezes por dia (4) Mais de três vezes por dia (Q. 8) Como seu filho realiza a escovação? (0) Com o aconselhamento e observação de um adulto (1) Somente com o aconselhamento SEM a observação de um adulto (2) Sozinho (Q. 9) Com que idade seu filho começou a consumir alimentos açucarados? (0) Nunca consumiu (1) Antes de 1 ano (2) Entre 1 e 2 anos (3) Depois de 2 anos (9) Não sei (Q. 10) Quantas vezes por dia é adicionado açúcar na alimentação da criança ? (0) Uma a duas vezes por dia (1) Três ou mais vezes por dia (9) Não sei. (Q. 11) Seu filho (a) foi amamentado ? ( ) Sim, por quanto tempo ?______________ ( ) Não (Q. 12) Seu filho (a) usou mamadeira ? ( ) Sim, qual conteúdo ?______________________ Por quanto tempo ?___________________ ( ) Não (Q.13) Seu filho(a) foi ao dentista nos últimos 12 meses? (0) Sim (1) Não Por qual motivo? (0) Dor/urgência (1) Tratamento (2) Revisão (9) Não sabe (Q.14) Qual tipo de serviço utilizado? (0) Convênio (1) Público (2) Privado (9) Não respondeu

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APENDICE C - DIÁRIO ALIMENTAR – CRIANÇAS INSTITUCIONALIZADAS

Nome da Creche:______________________________________________ Responsável pelo preenchimento:_________________________________ Data de preenchimento do diário:___/___/___ Sr.(a) responsável, solicitamos descrever a alimentação das crianças (da instituição) durante os dias abaixo relacionados. É importante descrever todos os itens da alimentação da criança, comida e bebida, que inclui café da manhã, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar, assim com lanches eventuais. É importante descrever os horários e a composição dos pratos, se é adicionado açúcar e qual a quantidade. Segunda-feira Quinta-feira

____ horas - ____ horas -

____ horas - ____ horas -

____ horas - ____ horas -

____ horas - ____ horas -

____ horas - ____ horas -

____ horas - ____ horas -

____ horas - ____ horas -

____ horas - ____ horas -

Terça-feira Sexta-feira

____ horas - ____ horas -

____ horas - ____ horas -

____ horas - ____ horas -

____ horas - ____ horas -

____ horas - ____ horas -

____ horas - ____ horas -

____ horas - ____ horas -

____ horas - ____ horas -

Quarta-feira Anotação extra – se necessário

____ horas - ____ horas -

____ horas - ____ horas -

____ horas - ____ horas -

____ horas - ____ horas -

____ horas - ____ horas -

____ horas - ____ horas -

____ horas - ____ horas -

____ horas - ____ horas -

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APENDICE D - DIÁRIO ALIMENTAR

Nome da criança:____________________________ Sexo ( ) Masculino ( ) Feminino Data de nascimento da criança:________Data do preenchimento:_________________ Telefone de contato: _______Creche que a criança estuda:________________________ Mãe, este espaço que você irá preencher corresponde a alimentação do seu filho(a) durante 3 dias, ou seja, você deve anotar tudo que ele comeu e bebeu do momento que acordou até dormir. O preenchimento desta tabela se dá da seguinte forma, você deverá anotar tudo que a criança comer durante o dia, assim como os horários, o nome das bebidas e alimentos, o nome da refeição, também os ingredientes da preparação. Não esqueça de anotar o nome das marcas comerciais, as medidas e quantidades ingeridas. Se a criança faz uso de medicamento, escrever nome e horário do uso. Veja um exemplo de como deve ser preenchido, logo abaixo você deve começar a preencher o do seu filho (a). Horário Nome da

refeição Nome do alimento e

quantidade consumida Nome da bebida e

quantidade consumida

Primeiro dia:_________________________

Por exemplo: 07:00 hs

Café da manhã 1 pão doce com 1 colher de margarina e 1 fatia de queijo

de manteiga

1 copo de leite de vaca com chocolate em pó – Nescau -

marca, mais 1 colher de sopa de açúcar.

08:00 hs Lanche

1 bombom de menta 1 copo de agua

Segundo dia:______________________

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Terceiro dia:__________________________

Nome do responsável pelo preenchimento:_________________________________ Outras informações que deseja acrescentar_________________________________

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ANEXOS

ANEXO A

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ANEXO B

TERMO DE CONSENTIMENTO DA INSTITUIÇÃO Eu, Adalmira Marques da Silva Cajuaz, Secretária de Educação do município

de Patos-PB, declaro que a professora Luciana Ellen Dantas Costa da UFCG/CSTR está autorizada a realizar nas creches do município de Patos - PB, o projeto de Pesquisa intitulado: Avaliação da cárie dentária, estado nutricional e hábitos alimentares em crianças de 5 anos de idade do município de Patos – PB, tendo como pesquisadora responsável a professora Luciana Ellen Dantas Costa e sob orientação da Profa. Dra. Eliete Rodrigues de Almeida, cujo objetivo geral é investigar a associação entre a experiência de cárie, estado nutricional e hábitos alimentares de pré-escolares do município de Patos - PB.

Informa-se ainda que o projeto irá garantir aos envolvidos os referenciais básicos da bioética, isto é autonomia, beneficência, não-maleficência e justiça.

Patos, 01 de dezembro de 2013.

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ANEXO C

FICHA CLÍNICA DE AVALIAÇÃO (OMS, 2006)

CRECHE:______________________________________________________ CÓDIGO CRIANÇA:____________________________________________ GÊNERO:__________________________________DATA:____/____/_____

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ANEXO D

CÓDIGOS E CRITERIOS ADOTADOS PARA INTERPRETAÇÃO DO INDICE CEO-

D - OMS, 1999.

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ANEXO E

REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DE CURVAS DE CRESCIMENTO

Curva padrão de crescimento de uma criança de 61 meses a 19 anos de idade sob o indicador peso para idade, classificação em percentil. O ponto no gráfico representa o diagnóstico nutricional de uma criança da amostra, apresentando peso adequado para idade ou eutrófico. Fonte: Who, 2007.

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Curva padrão de crescimento de uma criança de 61 meses a 19 anos de idade sob o indicador peso para idade, classificação em z-escore. O ponto no gráfico representa o diagnóstico nutricional de uma criança da amostra, apresentando peso adequado para idade ou eutrófico. Fonte: Who, 2007.

Curva padrão de crescimento de uma criança de 61 meses a 19 anos de idade sob o indicador estatura para idade, classificação em percentil. O ponto no gráfico representa o diagnóstico nutricional de uma criança da amostra, apresentando estatura adequada para idade. Fonte: Who, 2007.

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Curva padrão de crescimento de uma criança de 61 meses a 19 anos de idade sob o indicador estatura para idade, classificação em z-escore. O ponto no gráfico representa o diagnóstico nutricional de uma criança da amostra, apresentando estatura adequada para idade. Fonte: Who, 2007.

Curva padrão de crescimento de uma criança de 61 meses a 19 anos de idade sob o indicador estatura para idade, classificação em percentil. O ponto no gráfico representa o diagnóstico nutricional de uma criança da amostra, apresentando IMC adequado para idade ou eutrófico. Fonte: Who, 2007.

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Curva padrão de crescimento de uma criança de 61 meses a 19 anos de idade sob o indicador estatura para idade, classificação em z-escore. O ponto no gráfico representa o diagnóstico nutricional de uma criança da amostra, apresentando IMC adequada para idade ou eutrófico. Fonte: Who, 2007.