AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A...

101
ANDRÉ DE LIMA AIRES AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA DA ESQUISTOSSOMOSE MANSONI EXPERIMENTAL RECIFE - PE 2010 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE MEDICINA TROPICAL PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL

Transcript of AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A...

Page 1: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

ANDRÉ DE LIMA AIRES

AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA DA ESQUISTOSSOMOSE

MANSONI EXPERIMENTAL

RECIFE - PE 2010

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE MEDICINA TROPICAL PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL

Page 2: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

ANDRÉ DE LIMA AIRES

Dissertação apresentada ao Colegiado do

Programa de Pós-Graduação em Medicina

Tropical do Departamento de Medicina Tropical

do Centro de Ciências da Saúde da Universidade

Federal de Pernambuco, como parte dos requisitos

para obtenção do título de Mestre em Medicina

Tropical na área de concentração em Doenças

Infecciosas e Parasitárias.

Orientadoras: Profª. Drª. Elizabeth Malagueño de Santana

Profª. Drª. Mônica Camelo Pessôa de Azevedo Albuquerque

RECIFE-PE 2010

AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA DA ESQUISTOSSOMOSE

MANSONI EXPERIMENTAL

Page 3: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

Aires, André de Lima

Avaliação da N-acetilcisteína na imunopatologia da

esquistossomose mansoni experimental / André de Lima

Aires. – Recife: O Autor, 2010.

94 folhas: il., fig., tab. e quadros.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de

Pernambuco. CCS. Medicina Tropical, 2010.

Inclui bibliografia e anexos.

1. Esquistossomose mansoni. 2.

Imunomodulação granulomatosa. 3. N-acetilcisteína

e Praziquantel. I. Título.

616.995.122 CDU (2.ed.) UFPE

616.96

CDD (20.ed.) CCS2010-116

Page 4: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar
Page 5: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

DEDICATÓRIA

“Tudo o que um sonho precisa para ser realizado

é de alguém que acredite que ele possa ser realizado”.

Roberto Shinyashiki

Page 6: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

DEDICATÓRIA

A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me

possibilitou conhecer a verdadeira intimidade do que é estar ao lado DELE.

Em especial à minha mãe, Alcione de Lima, que me ensinou a importância

do respeito e por ter suportado minha distância para a realização deste

trabalho. Sua luta nunca será esquecida. À Maria das Graças (Gracinha)

que tolerou a minha chata presença diária e ao meu pai Antônio Tadeu

Aires que desde o meu ingresso na Universidade sempre me apoiou em

todos os momentos. A vocês sou-lhes eternamente agradecido.

À minha irmã, Alcilene de Lima, cujo apoio em tudo sempre pude contar,

pelos bons momentos de infância e pela incansável dedicação na luta pelo

seu espaço. Obrigado por tudo.

Aos meus irmãos, Alberto, Eduardo e Suely, que sempre me apoiaram em

muitos momentos difíceis.

A todos os outros de minha família que sinceramente torceram pelo meu

sucesso.

Amo-os incondicionalmente!

Page 7: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

AGRADECIMENTOS

“Aprendi com a esperança,

Que não devemos ser donos de nossos sonhos,

Pois eles devem ser livres, sempre.”

George Nascimento

Page 8: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

AGRADECIMENTOS

Gostaria de sinceramente agradecer a todos que direta ou indiretamente puderam contribuir

não só com o desenvolvimento deste trabalho, como, principalmente, com o meu

amadurecimento pessoal e profissional.

À Profª. Drª. Elizabeth Malagueño por ter aceitado a orientação e confiança depositada neste

trabalho, à Profª Drª Mônica Albuquerque pela amizade, atenção, ajuda e incremento ao meu

desejo pela Parasitologia. A todos do Laboratório de Imunologia do LIKA pelo constante

apoio, especialmente à Profª. Drª. Vlaudia Costa e o Biomédico Luiz Henrique.

À coordenação, professores, alunos e todos que formam a Pós-Graduação em Medicina

Tropical da UFPE.

Às Profas

. Drª. Sônia Leite e Drª. Paloma Medeiros, responsáveis pelos meus primeiros passos

na pesquisa e docência. Ao Grande Amigo e Profo. Dr

o. Haroudo Satiro Xavier pelo apoio

durante toda a iniciação cientifica. Agradeço imensamente aos meus mestres pelo crédito ao

meu trabalho.

À Drª. Constança Barbosa pelo caráter profissional que representa na minha formação, por ter

aberto as portas de seu laboratório e assim ter me feito ganhar além de muito conhecimento,

AMIGOS que levo sempre na memória.

Ao Profo. Dr

o. Marco Souza pelo constante apoio durante meu estágio no Centro de Pesquisa

Aggeu Magalhães, e por ter depositado confiança em meu trabalho e me fazer acreditar no

crescimento profissional.

À Juliana Kelle, Amanda Farias e Renata Ramos pela desprendida e importante ajuda durante

a conturbada administração diária das drogas e por terem atenuado minhas crises de surtos.

Obrigado pelo apoio!

À Maria Helena, Filipe, Paulo e todos os outros competentes profissionais do Biotério do

LIKA.

Page 9: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

Às amigas Ana Patrícia, Sara, Nilza, Juliana e Talita e a todas que juntas formam o Círculo de

Oração. Obrigado pelas orações ao meu favor e por sempre levar meus pedidos ao mais alto

dos céus.

Ao Profo. Dr

o. Nicodenos Teles e a Mestre Mariana Ramos pela fundamental ajuda durante a

análise morfométrica.

A TODOS da Turma “Biologia: Arte e Ciências pela Vida” pelo orgulho e o diferencial que

juntos fizemos durante toda a graduação e pós-graduação em ser BIÓLOGOS

LICENCIADOS. Obrigadão pelo agradável convívio.

Ao André Ricardo pelo longo convívio durante a iniciação cientifica, apesar dos trancos e

barrancos saímos ilesos.

À Fernanda Francisca e Emily, amigas incondicionais que sempre me impulsionaram em

todos os meus momentos.

À Profª. Drª. Marilene da Silva e todos os amigos do Laboratório de Fungos Aquáticos da

UFPE pela agradável amizade que construímos.

"Gestos de carinho, atenção e delicadeza fazem-nos perceber quanto algumas pessoas são

especiais na forma de ser e como são bem-vindas as suas ações. A atenção, a paciência, o

carinho, a companhia, a amizade e os surtos têm me torna leve a cada dia. Encontrei um novo

Nascimento que tem me proporcionado tudo isto. Muito obrigado!"

E a todos os outros amigos que sempre recordam de mim com carinho, que me admiram e

torcem pelo meu sucesso.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão

da bolsa de estudo.

Page 10: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

RESUMO

“Fácil é jugar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias.

Difícil é encontrar e refletir sobre seus erros,

ou tentar fazer diferente algo que já fez de muito errado.”

Carlos Drummond de Andrade

Page 11: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

RESUMO

As principais alterações na esquistossomose mansoni (EM) ocorrem no fígado em decorrência

da deposição de ovos do parasito neste órgão. O Praziquantel (PZQ) é eficaz sobre o

S.mansoni, porém, não altera as lesões histopatológicas já instaladas, as quais podem deixar

sequelas irreversíveis. A N-acetilcisteína (NAC) tem atenuado danos em hepatopatias

crônicas, efeitos atribuídos as suas propriedades antiinflamatórias, antioxidantes e

desintoxicante hepático. Assim, investigamos a ação da NAC e/ou PZQ na modulação

imunopatologica na EM experimental em diferentes fases da infecção (aguda, intermediária e

crônica). Na fase aguda, a intervenção com NAC (200mg/Kg/dia) se deu do dia subseqüente à

infecção até o 60º dia, nas fases intermediária e crônica a partir do 45º ao 90º dia e do 45º ao

120º dia respectivamente. O PZQ (100mg/Kg/dia) foi administrado do 45° ao 49º dia após a

infecção. Cada grupo foi formado por 4 subgrupos (n=9) de acordo com a terapia: Controle,

NAC, PZQ e NAC+PZQ. Após tratamento foram determinados: a carga parasitológica,

padrão de ovoposição, análise histomorfométrica de tecido hepático e os níveis de citocinas

(IL-4, IL-10 e INF-γ) e óxido nítrico (NO) das culturas de esplenócitos. De acordo com a

terapia e o tempo decorrido de infecção, os subgrupos PZQ ou NAC+PZQ alcançaram 100%

de eficácia e com alteração do oograma. Entretanto, os subgrupos NAC apresentaram

oograma padrão e sem alteração na carga parasitária. A análise histopatológica sugere que os

granulomas esquistossomóticos variaram em composição e organização celular de acordo

com o tempo. Os subgrupos PZQ ou NAC+PZQ apresentaram número reduzido de

granulomas. Apesar da modulação natural no diâmetro do granuloma, a terapia com NAC

e/ou PZQ incrementam de forma significativa essa modulação. O grau de fibrose sugere

menor deposição de colágeno nos subgrupos NAC e NAC+PZQ. Aos 60 dias da infecção os

níveis de IL-10 são bem reduzidos. Entretanto aos 90 dias é observado aumento significativo

da IL-10 nos subgrupos NAC e NAC+PZQ, já aos 120 dias ocorre diminuição desta citocina

nos subgrupos NAC e NAC+PZQ. Foi evidenciada modulação negativa da NAC nos níveis de

INF e NO nos subgrupos NAC e NAC+PZQ. Os níveis de IL-4 nos subgrupos NAC foram

semelhantes ao controle, mostrando que o NAC neste modelo experimental não exerce

influência sobre esta citocina. Neste estudo, a NAC através da modulação imunopatologica

atenuou o dano ao tecido hepático de camundongos esquistossomóticos.

Palavras chaves: Esquistossomose mansoni, Imunomodulação granulomatosa, N-

acetilcisteína e Praziquantel.

Page 12: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

ABSTRACT

"Para realizar grandes conquistas, devemos não apenas agir, mas também

sonhar; não apenas planejar, mas também acreditar."

Anatole France

Page 13: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

ABSTRACT

The main pathological alterations in the schistosomiasis mansoni (SM) affect the liver due to

the deposition of parasite eggs in this site. Although the praziquantel (PZQ) is highly effective

on S. mansoni, it does not change the inflammatory course already installed, which can leave

irreversible tissue consequences. The N-acetylcysteine (NAC) decreases the damage from

chronic liver diseases through its anti-inflammatory, antioxidant, and hepatic detoxifying

properties. For these reasons, we investigated the action of NAC and/or PZQ in the

immunopathological modulation on the experimental SM in different phases of the infection.

In the acute phase, NAC (200 mg/Kg/day) was orally administered to the mices from the day

after the cercariae infection to the 60th day, and in the intermediary and chronic phases this

drug was administered from the 45th

day after the infection to the 90th day and from the 45

th to

the 120th day, respectively. PZQ (100 mg/Kg/day) was used from the 45

th day after the

cercariae infection to the 49th

day. Moreover, each experimental group was composed by 4

subgroups (n = 9) according to the following therapeutic regimens: control, NAC, PZQ, and

NAC+PZQ. The parasite load, pattern of ovoposition, histomorphometrical analysis of the

hepatic tissue, and the levels of IL-4, IL-10, INF- γ, and NO found in splenocytes cultures

were determinate. Only PZQ and NAC+PZQ subgroups reached 100% of efficacy with

alteration on the oogram. However, NAC subgroups presented standard oogram with no

alteration on the parasite load. According to the time of infection, histopathological analysis

of schistosomotic granulomas varied in the composition and cellular organization and the

PZQ and NAC+PZQ subgroups showed decreased number of granulomas. Despite the normal

modulation of the diameter of the schistosomotic granulomas, the therapy with NAC and/or

PZQ increased this modulation significantly. The level of fibrosis of granulomas in the NAC

and NAC+PZQ subgroups was lower than in other groups. At 60 days of infection, the levels

of IL-10 were very low in all studied subgroups, but at 90 days it was observed a significant

increase of this cytokine in the NAC and NAC+PZQ subgroups while at 120 days its levels

decreased in these same subgroups significantly. It was observed that NAC negatively

influenced the levels of INF- and NO in the NAC and NAC+PZQ subgroups. Additionally,

levels of IL-4 in the NAC subgroups were similar to controls suggesting that this drug did not

execute any influence upon the levels of this cytokine. In this study, NAC seemed to attenuate

the damage on the tissue liver of schistosomotic mices through the immunopathological

modulation.

Keywords: Schistosomiasis mansoni. granuloma formation. N-acetylcysteine. Praziquantel.

Page 14: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

“O lucro de nosso estudo é tornarmo-nos melhores e mais sábios.”

Michel de Montaigne

Page 15: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

QUADROS

Quadro 1 - Definição dos grupos experimentais e esquema terapêutico. ............................. 48

FIGURAS

Figura 1 - Distribuição Geográfica da Esquistossomose no mundo ...................................... 26

Figura 2 - Distribuição Geográfica da Esquistossomose mansoni no Brasil .......................... 27

Figura 3 - Formas evolutivas do Schistosoma mansoni. A – ovo; B –

miracídio; C; esporocisto; D – cercária; E – esquistossômulos e F – vermes

adultos macho e fêmea ......................................................................................................... 29

Figura 4 - Ciclo Biológico do Schistosoma mansoni. .......................................................... 32

Figura 5 - Estruturas químicas das drogas esquistossomicidas clássicas ................................40

Figura 6 - Estrutura molecular da N-acetilcisteína ..................................................................41

Figura 7 – Fotomicrografias de tecido hepático de camundongos

esquistossomóticos nas fases aguda (A e B), intermediária (C e D) e crônica

da infecção pelo S. mansoni (H.E). A – G1-NAC – granuloma periovular

exsudativo evidenciando intenso infiltrado inflamatório composto por

eosinófilos, neutrófilos e escassos macrófagos e linfócitos circundando ovo

central em degeneração (400x); B – G1-NAC+PZQ – necrose coagulativa

central em granuloma periovular (200x); C - G2-Controle – granuloma

esquistossomótico produtivo de margem bem-delimitada composto por

macrófagos, linfócitos e escassos eosinófilos (400x); D – G2-NAC+PZQ –

granuloma periovular produtivo apresentando menor tamanho que o da figura

C e deposição de pigmento esquistossomótico (seta) (400x); E – G3-NAC –

granulomas periovulares isolados ou coalescentes (100x); F – G3-NAC+PZQ

– granulomas isolados e nódulos fibróticos exibindo menor tamanho que os

observados na figura E (100x); G – G3-Controle – extensa fibrose,

proeminente vascularização e hiperplasia de ductos biliares entre espaços-

porta (fibrose hepática periportal murina) (400x). ................................................................ 65

Page 16: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

Figura 8 – Fotomicrografias de tecido hepático de camundongos infectados

pelo S. mansoni empregadas para a classificação do grau de fibrose definida

através das colorações histoquímicas de tricrômico de Masson (lado direito) e

picrosirius-red (lado esquerdo), segundo critérios adotados para as análises

histopatológicas. A e B - G1-NAC - leve grau de deposição de fibras

colágenas, delicadas, irregulares, fragmentadas, frouxamente organizadas e

distribuídas de forma concêntrica no perímetro dos granulomas

esquistossomóticos (400x); C e D – G2 – Controle - moderada deposição de

fibras colágeno (400x); E e F – G2-PZQ - intensa deposição de colágeno,

sendo visualizada fibras colágenas compactadas e densamente distribuídas de

forma periférica e central ao granuloma esquistossomótico (400X). .................................... 69

Figura 9 – Níveis de IL4, (A) IL-10 (B), NO (C) e IFN- (D) secretados por

células esplênicas de camundongos infectados pelo S. mansoni tratados com

N-acetilcisteína (NAC) e/ou Praziquantel (PZQ), eutanasiados aos 60, 90 e

120 dias após a infecção. As células foram estimulas por antígeno solúvel de

ovos de S. mansoni (SEA). Os resultados estão expressos em média das

culturas em duplicatas de 5-8 animais por subgrupo ± erro padrão. ..................................... 71

Page 17: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

LISTA DE TABELAS

“Os homens mais valentes e os soldados mais esforçados

nascem dos camponeses."

Plínio

Page 18: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Vermes adultos de Schistosoma mansoni recuperados pela técnica

de perfusão do fígado e veias mesentéricas e o oograma em de camundongos

tratados com N-acetilcisteína e/ou Praziquantel em diferentes fases de

infecção .............................................................................................................................. 63

Tabela 2 – Número médio de granulomas esquistossomóticos em tecido

hepático de camundongos infectados pelo Schistosoma mansoni e tratados

com N-acetilcisteína e/ou Praziquantel em diferentes fases de infecção ................................ 67

Tabela 3 – Classificação do grau de fibrose nos granulomas

esquistossomóticos em tecido hepático de camundongos infectados pelo

Schistosoma mansoni em diferentes fases da infecção e tratados com N-

acetilcisteína e/ou Praziquantel, através das análises histoquímicas de

Tricrômico de Masson e Vermelho de Picrosirius ................................................................ 68

Page 19: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

SUMÁRIO

“Você bloqueia seu sonho quando você permite

que seu medo fique maior do que a sua fé."

Mary Manin Morrisey

Page 20: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 23

2 REVISÃO DE LITERATURA 26

2.1 Epidemiologia da Esquistossomose 26

2.2 Biologia do Schistosoma mansoni 30

2.3 Patogenia da Esquistossomose 33

2.4 Imunopatologia da Esquistossomose 34

2.5 Tratamento da Esquistossomose 38

2.6 N-acetilcisteína 42

3 OBJETIVOS 45

3.1 Objetivo geral 45

3.2 Objetivos específicos 45

4 OPERACIONALIZAÇÃO DA PESQUISA 47

4.1 Desenho do estudo 47

4.2 Animais 47

4.3 Infecção de caramujos, obtenção das cercárias

e infecção dos camundongos 48

4.4 Formação dos grupos de estudo e

esquema terapêutico com NAC e/ou PZQ 48

4.5 Suscetibilidade in vivo do S. mansoni frente à NAC e/ou PZQ 50

4.6 Determinação da suscetibilidade in vivo

do S. mansoni frente à NAC e/ou PZQ 50

4.6.1 Recuperação dos vermes 50

4.6.2 Oograma 51

4.7 Estudo histopatológico e morfométrico de tecido hepático 51

4.8 Avaliação dos níveis de citocinas e óxido nítrico 51

4.8.1 Cultura de células esplênicas 51

4.8.2 Dosagem de citocinas 52

4.8.3 Dosagem de óxido nítrico 53

4.9 Análise estatística 54

4.10 Considerações éticas 54

Page 21: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

5 ARTIGO - Efeito imunopatológico do tratamento da

N-acetilcisteina na esquistossomose mansoni experimental 56

RESUMO 57

1 INTRODUÇÃO 58

2 OPERACIONALIZAÇÃO DA PESQUISA 59

2.1 Animais, infecção e considerações éticas 59

2.2 Formação dos grupos experimentais e esquema terapêutico com NAC e/ou PZQ 59

2.3 Estudo parasitológico 61

2.4 Recuperação dos vermes 61

2.5 Oograma 61

2.6 Estudo histopatológico e morfométrico de tecido hepático 61

2.7 Cultura de células esplênicas 62

2.7.1 Dosagem de Nitrito 61

2.7.2 Dosagem de Citocinas 63

2.8 Análise Estatística 63

3 RESULTADOS 63

3.1 Análise parasitológica 63

3.2 Análise histopatológica 64

3.2.1 Fase aguda – 60 dias 64

3.2.2 Fase intermediária- 90 dias 65

3.2.3 Fase crônica – 120 dias 65

3.3 Análise morfométrica dos granulomas esquistossomóticos 67

3.4 Análise do grau de fibrose nos granulomas esquistossomóticos 68

3.5 Níveis de citocinas e óxido nítrico 70

4 DISCUSSÃO 72

6 CONCLUSÕES 79

7 REFERÊNCIAS 81

8 ANEXO 101

Page 22: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

INTRODUÇÃO

“Se não existe possibilidade de fracasso,

então a vitória é insignificante."

Robert H. Schuller

Page 23: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

23

1 INTRODUÇÃO*

A esquistossomose é uma doença produzida por trematódeos do gênero Schistosoma.

Considerada a mais importante helmintíase em termos de morbidade e mortalidade,

atualmente, encontra-se endêmica em 76 países com estimativa de 300 milhões de pessoas

infectadas, 20 milhões dos quais desenvolvem sérias complicações crônicas, o que acarretam

cerca de 500.000 mortes por ano em todo o mundo (BINA; PRATA, 2003;

CHIRAKALWASAN et al., 2006; WHO, 2006; PARISE FILHO et al., 2007).

No Brasil a estimativa é que existam cerca de seis milhões de pessoas infectadas pelo

S. mansoni, única espécie encontrada nas Américas (KATZ; PEIXOTO, 2000). Anualmente

mais de 100 mil novos casos e 500 óbitos são notificados no território nacional, sendo Minas

Gerais e Pernambuco os estados com maior índice de prevalência (Secretaria de Estado da

Saúde de São Paulo, 2009). Em Pernambuco, a esquistossomose é considerada uma endemia

rural, entretanto este quadro tem sofrido alterações, pois inúmeros casos autóctones em

localidades indenes do litoral do Estado e região metropolitana do Recife têm sido

notificados, além da existência de novos sítios de transmissão em regiões de turismo e férias

de verão (BARBOSA et al., 1996a, 1998a, 1998b, 2000a, 2000b, 2001; SOUZA, 2008).

O principal elemento patogênico da infecção pelo S. mansoni são os ovos depositados

pelas fêmeas nos vasos mesentéricos, os quais, posteriormente, são arrastados através do fluxo

sangüíneo para diversos órgãos especialmente para o fígado. Inicialmente, forma-se um

processo inflamatório agudo ao redor do ovo, em decorrência da eliminação de antígenos do

miracídio. Estes antígenos estimulam células e citocinas especificas que modulam a formação

do granuloma esquistossomótico no decorre de toda a infecção (BRUNET et al., 1999).

No período pré-patente há um predomínio da resposta imune Th1, com produção de

IFN-γ e IL-2 que contribui para a formação do granuloma agudo (PEARCE et al., 1991). A

resposta Th1, após a deposição de ovos no tecido do hospedeiro, sofre uma substituição

progressiva para um perfil Th2. No curso crônico o granuloma decresce de tamanho e

celularidade, devido à imunomodulação, apesar de haver progressão da fibrose hepática

(WYNN et al., 1998). Ainda nesta fase, inúmeros nódulos fibróticos podem coalescer levando

à diminuição da luz dos vasos sanguíneos e à perda da elasticidade, que conduz a hipertensão

portal, achado clínico mais severo na esquistossomose mansoni (MELO; COELHO, 2005).

Por consequência, as manifestações clínicas podem ser caracterizadas por: varizes

esofagianas, hemorragias digestivas e ascite (GRYSEELS et al., 2006).

_________________ *Dissertação normatizada e apresentada acordo com a ABNT NBR 14724:2005

Page 24: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

24

A falta de vacinas e de ações eficazes em saúde pública faz da quimioterapia o único

recurso imediato para minimizar a prevalência e incidência da esquistossomose no mundo.

Atualmente o praziquantel (PZQ) é o fármaco de primeira escolha, devido a longa

experiência clínica, mostrando que é seguro e efetivo contra todas as espécies de

Schistosoma, com cura parasitológica entre 80% a 90% (CIOLI, 2004). Com a descoberta do

PZQ e a ocorrência da esquistossomose exclusivamente em países em desenvolvimento, a

indústria farmacêutica pouco tem investido em novas tecnologias para o desenvolvimento de

novos fármacos para o controle dessa parasitose. Ainda não existe uma droga eficaz para o

tratamento da fibrose hepática, embora muitas tenham sido ensaiadas (FRIEDMAN, 2003).

Este quadro, não apenas justifica, mas aponta a necessidade de planejamento,

desenvolvimento e pesquisas com novos fármacos que apresentem propriedades

hepatoprotetoras ou que possam modular a formação granulomatosa esquistossomótica.

Em humanos e animais experimentais a N-acetilcisteína (NAC) inibe lesões teciduais

devido as suas propriedades anti-inflamátorias, antioxidantes e desintoxicantes hepático

(KELLY, 1998; ZAFARULLAH et al., 2003). Na clínica tem sido empregada para tratar uma

variedade de patologias, incluindo a fibrose cística (TIROUVANZIAM, 2006; HENKE;

RATJEN, 2007), doença pulmonar obstrutiva crônica (HENKE; RATJEN, 2007), toxicidade

associada às lesões hepáticas (PRESCOTT, 2005) e a cirrose biliar (MANI et al., 2006).

Estudos em pacientes com insuficiência hepática fulminante aguda e cirrose estável

demonstraram que a administração da NAC melhora a hemodinâmica portal (JONES et al.,

1994). Lauz e colaboradores (2004) concluíram que a NAC previne a lise celular e mantém a

função hepática diante da isquemia e reperfusão que o órgão é submetido no ato operatório.

Perreira-Filho e colaboradores (2008) evidenciaram em fígado de animais cirróticos,

induzidos por tetracloreto de carbono, que a NAC confere proteção contra a fibrose hepática e

estresse oxidativo, observando redução de 400% no depósito de colágeno, no grau de fibrose

classificada como leve a moderada, nos níveis de glutationa peroxidase e menor expressão da

iNOS quando comparado com o grupo controle sem tratamento.

Considerando as propriedades farmacológicas da NAC sobre a função hepática e

sendo a esquistossomose mansoni uma patologia com extensas alterações neste órgão,

propomos investigar neste trabalho os efeitos deste fármaco na imunopatologia em

camundongos infectados pelo S. mansoni em diferentes fases de infecção, podendo desta

forma junto à terapia convencional do PZQ contribuir na modulação granulomatosa.

Page 25: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

25

REVISÃO DA LITERATURA

“O destino não reina sem a cumplicidade secreta do instinto e da vontade.”

Giovanni Papini

Page 26: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

26

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Epidemiologia da Esquistossomose

A esquistossomose é uma infecção parasitária causada por espécies de Schistosoma,

helmintos, trematódeos, cujo hospedeiro definitivo é o homem. Endêmica em 76 paises e

territórios com estimativa de aproximadamente 300 milhões de pessoas infectadas, 20

milhões das quais desenvolvem sérias complicações crônicas, o que acarretam cerca de

500.000 mortes por ano (CHITSULO, 2000; BINA; PRATA, 2003; CHIRAKALWASAN et

al., 2006; WHO, 2006; PARISE FILHO et al. 2007).

A gravidade que a doença assume em muitos casos e o déficit orgânico que produz

fazem da esquistossomose a segunda mais importante doença tropical em termo de morte e

morbidade, ficando atrás apenas da malária. Em termos epidemiológicos, uma doença é

considerada endêmica com base na análise das características espaciais e temporais que

definem um determinado agravo à saúde. Sendo assim, a esquistossomose é considerada uma

endemia em muitos países e regiões, pois acomete ampla faixa de populações sob riscos

específicos, há um longo tempo. Em 2005, King e colaboradores já referem à

esquistossomose como uma pandemia, e a responsabiliza por 2 - 15% do subdesenvolvimento

da população portadora da doença.

Segundo o comitê da Organização Mundial de Saúde (WHO) (1993), considerando as

características de distribuição geográfica, morfológicas do verme adulto, localização do

espículo no ovo, desenvolvimento do ciclo biológico, especificidade dos hospedeiros e

padrões genéticos, espécies do gênero Schistosoma são assim classificadas:

S. haematobium (BILHARTZ, 1852)

S. japonicum (KATSURADA, 1904)

S. mansoni (SAMBON, 1907)

S. intercalatum (FISCHER, 1934)

S.mekongi (VOGE; BRICKNER; BRUCE, 1978)

As esquistossomoses apresentam-se amplamente distribuídas em países dos

continentes asiático, africano e americano, incluindo neste o Brasil (figura 1) (GRYSSELS et

al., 2006). Estimativas sugerem que o maior número de pessoas infectadas esteja no

continente africano, onde poucos esforços têm sido implantados no sentido de controlar a

infecção (CHITSULO et al., 2000).

Page 27: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

27

A África apresenta baixos índices de esquistossomose mansoni na região Norte,

porém na região do delta do Nilo e no Sul do Saara são concentrados os maiores focos, onde

existem 85% de todos os casos de esquistossomose no mundo (WHO, 2006). Na Ásia apenas

ocorrem focos na Arábia Saudita, Iêmen e Oman. Na América Central e América do Sul, os

locais de infecção estão em vários Estados do Brasil, Venezuela, Suriname, Porto Rico,

República Dominicana e Antilhas (ROSS et al., 2002).

Figura 1 - Distribuição Geográfica da Esquistossomose no mundo.

Fonte: GRYSSELS et al., 2006.

Embora existam cinco espécies que acometem o homem, o Schistosoma mansoni é o

de maior prevalência, apresentando-se endêmico em 55 países, principalmente no Sul do

Saara africano como também em grande parte da América do Sul (CHITSULO, 2000).

As espécies do gênero Schistosoma provavelmente chegaram às Américas com o

tráfico de escravos africanos e com a imigração asiática e oriental, porém apenas o S.

mansoni adaptou-se à região, devido ao encontro de bons hospedeiros intermediários e

condições ambientais semelhantes à de sua origem (KATZ; ALMEIDA, 2003). Apesar da

Europa também ter recebido populações de escravos e imigrantes asiáticos e de ser

comprovada a existência de ovos de S. mansoni em coprólitos, o parasito ali não se

estabeleceu, devido, muito provavelmente, à inexistência de hospedeiros intermediários

suscetíveis (BOUCHET et al., 2002).

Page 28: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

28

No Brasil o S. mansoni chegou entre os séculos XVI e XVII durante a colonização

portuguesa (TCHUEM TCHUENTE et al., 1995). Aqui, encontrou hospedeiros

intermediários (caramujos do gênero Biomphalaria) com distribuição geográfica ampla e

condições ambientais favoráveis para adaptação, o que facilitou sua instalação e propagação

(REY, 2002). Atualmente, o S. mansoni é encontrado em 19 Estados brasileiros (figura 2),

desde o Maranhão até Minas Gerais, concentrando-se na região Nordeste. Entretanto, focos

isolados têm ocorrido no Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e Distrito Federal, porém o

número de casos vem aumentando na região Sul do país devido à mobilidade populacional

(REY, 2001).

Figura 2 - Distribuição da esquistossomose mansoni no Brasil.

Fonte: Amaral et al., 2006.

Page 29: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

29

A estimativa é que no Brasil 25 milhões de pessoas habitam áreas de risco e cerca de

seis milhões de indivíduos encontram-se infectados pelo S. mansoni (KATZ; PEIXOTO,

2000; REY, 2001). Dados do Ministério da Saúde mostram que a esquistossomose, no Brasil,

causa mais óbitos (em média, mais de 500 a cada ano) que a dengue, a leishmaniose visceral e

a malária. Mais de 100 mil casos da doença são identificados a cada ano no território

nacional, sendo Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe os estados com maior

índice de prevalência (Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar, 2009).

Barbosa e colaboradores (2006), utilizando dados da Fundação Nacional de Saúde,

constataram que entre os estado brasileiros, Pernambuco exibe o maior número de casos, com

cerca de um quarto de sua área tendo prevalência acima de 25%, apresentando crescentes

taxas de infecção. Adicionalmente, existem localidades na região da Zona da Mata deste

estado com 80% de indivíduos cronicamente parasitados. É de aproximadamente cinco

milhões o número de pessoas que reside nesta região e, assim, cerca de 62% da população

pernambucana está sob risco de infecção (FAVRE et al., 2001; RESENDES et al., 2005),

onde só em 2006 foram notificados 762 casos de esquistossomose (BRASIL. S. V. S., 2006).

Historicamente, a esquistossomose é considerada uma doença endêmica rural em

Pernambuco, sendo comprovada a existência de casos e focos de transmissão em quase todos

os municípios da Zona da Mata, principalmente nas regiões canavieiras do Estado. Esta

parasitose vem em expansão gradual ocasionada pelo êxodo de trabalhadores rurais em busca

de trabalho, indivíduos que saem de suas regiões infectados e acabam assumindo papel de

potente disseminador dos ovos do parasito, pois devido as suas condições de vida precárias,

sem saneamento básico e moradia, adequada, acabam contaminando criadouros de moluscos

existentes no litoral. Este fato tem sido comprovado pela existência de casos autóctones na

região indene do litoral do Estado e região metropolitana do Recife, além de existir novos

sítios de transmissão em regiões de turismo e férias de verão (BARBOSA et al., 1996a,

1996b, 1998a, 1998b, 2000a, 2000b, 2001; SOUZA, 2008).

Como consequência, o perfil epidemiológico da esquistossomose vem sofrendo

profundas alterações comportamentais em termos de morbidade, mortalidade e situação

socioeconômica. Em áreas rurais, a esquistossomose se apresenta predominantemente sob a

forma crônica, incidindo na classe social de baixa renda e tendo como vetor o B. straminea.

Enquanto no litoral e região metropolitana do Recife, a doença é destacada por casos agudos

em pessoas de classe média e alta, sendo o vetor o B. glabrata (BARBOSA et al., 2001).

Apesar do diagnóstico e tratamento serem relativamente simples, o controle da

esquistossomose requer, tanto medidas de saneamento básico, como mudança dos hábitos das

Page 30: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

30

pessoas que residem em áreas endêmicas. Essas medidas têm como finalidade interromper o

ciclo evolutivo do parasito (KATZ; ALMEIDA, 2003). No entanto, esse controle é

particularmente difícil por razões que variam consideravelmente, tais como: extensa

disseminação do hospedeiro intermediário; inexistência de vacina; tempo necessário para que a

educação sanitária seja efetivamente aceita e implantada pela população e o alto custo das

obras de engenharia sanitária que garantam adequado abastecimento de água para as

residências e eliminação adequada dos dejetos, impedindo, assim, a contaminação dos recursos

hídricos (COURA; AMARAL, 2004).

Desta forma, fazem-se necessários, associado a essas medidas de controle, novos

estudos no sentido de melhor conhecer a infecção e a dinâmica das interações hospedeiro-

parasito, bem como avanços de novas terapias esquistossomicidas com a finalidade de

controlar a expansão da esquistossomose mansoni.

2.2 Biologia do Schistosoma mansoni.

Os aspectos morfológicos e biológicos do S. mansoni são analisados de acordo com

seus vários estágios de desenvolvimento no decorrer do ciclo biológico no hospedeiro

definitivo e intermediário. Este parasito apresenta-se sobre as formas evolutivas de ovo,

miracídio, esporocisto I e II, cercária, esquistossômulo e verme adulto (figura 3).

Figura 3: Formas evolutivas do S. mansoni. A - ovo; B - miracídio;

C - Esporocisto; D – Cercária; E - Esquistossômulo e F - vermes adultos macho e fêmea

Page 31: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

31

O ciclo biológico do S. mansoni é do tipo heteroxênico com passagem obrigatória em

dois hospedeiros: um definitivo representado pelo homem e alguns roedores, onde ocorre à

reprodução sexuada dos vermes, e o hospedeiro intermediário que são moluscos do gênero

Biomphalaria no qual ocorre a reprodução assexuada. O ciclo completo ocorre em cerca de

80 dias, tanto no hospedeiro definitivo quanto no intermediário, com média de 40 dias em

cada. No hospedeiro definitivo tem início com a penetração das cercárias até a eliminação de

ovos juntos com as fezes e no intermediário da penetração do miracídio até a liberação de

cercárias (figura 4) (KATZ; ALMEIDA, 2003).

Uma característica peculiar do ciclo biológico é o meio aquático, onde são

encontradas as formas infectantes. Os hospedeiros intermediários são moluscos de água doce,

hermafroditas, inclusos na família Planorbidae, caracterizados por terem a concha enrolada

em espiral plana, e, por essa razão, conhecidos como planorbídeos. No Brasil os moluscos

capazes de serem infectados com S. mansoni são três: B. glabrata, B. straminea e B.

tenagophila (MALAGUEÑO; SANTANA, 1994).

Desde as fases iniciais de formação do ovo no interior da fêmea até sua eliminação,

profundas modificações morfológicas e fisiológicas ocorrem. O ovo é posto de forma imatura

(1º estádios) e até sua eliminação passa por mais três estádios de maturação (2º, 3º e 4º

estádio) até atingir a completa maturação (formação completa do miracídio) que decorre no

intervalo de uma semana após eliminação pelo verme fêmea. Os ovos maduros têm em média

150µm de comprimento por 65µm de largura e são facilmente reconhecidos pela presença de

um espículo lateral, situado no pólo posterior (REY, 2001).

Os ovos são excretados juntos com as fezes que em contato com a água por meios de

condições específicas de luminosidade intensa, temperatura em torno de 28°C e boa

oxigenação, eclodem liberando uma larva ciliada denominada miracídio, que nada ativamente

até o encontro do hospedeiro intermediário (HAAS, 1995).

Em contato com o molusco, o miracídio movimenta-se ativamente, fazendo com que

suas glândulas de penetração liberem enzimas proteolíticas capazes de favorecer sua

penetração pela digestão dos tecidos moles principalmente na base das antenas e no pé do

caramujo vetor (COELHO, 1957). Após a penetração ocorrem profundas e rápidas alterações,

o miracídio permanece no ponto de penetração, onde cresce e transforma-se em um “saco”

com forma oval ou alongada e no decorrer de três dias tem-se formado o esporocisto primário

(I) ou mãe (NEVES, 2000).

Em aproximadamente 72 horas, as células germinativas contidas no esporocisto

primário sofrem intensa multiplicação, originando os esporocistos secundários (II). Estes

Page 32: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

32

migram ativamente através dos tecidos do molusco atingindo a glândula digestiva, sofrendo

modificações anatômicas e agora passando a conter no seu interior cercárias (REY, 2001).

Decorrendo entre 5 a 6 semanas, os caramujos liberam cercárias em meio aquático, que

nadam ativamente penetrando através da pele ou mucosas no hospedeiro definitivo. Logo

após ação, as cercárias perdem a cauda, restando o corpo cercariano então denominado de

esquistossômulos (NEVES, 2005).

Os esquistossômulos migram pelo tecido subcutâneo até alcançar a circulação

sanguínea. Ao acessarem o sistema circulatório, os esquistossômulos são carregados pelo

fluxo sanguíneo venoso para coração, posteriormente atingem os pulmões, retornam ao

coração, ganhando, assim, a grande circulação. O desenvolvimento final de esquistossômulos

para vermes adultos se completa quando os mesmos se instalam nos vasos intra-hepáticos

(PINTO; ALMEIDA, 1948).

O verme adulto macho mede cerca de 1cm de comprimento, tem cor esbranquiçada,

com tegumento recoberto de minúsculas projeções (tubérculos). Apresenta o corpo dividido

em duas regiões: anterior, na qual encontramos a ventosa oral, e a ventosa ventral (acetábulo)

e logo após esta região o corpo sofre uma dobra das laterais no sentido longitudinal

dorsoventralmente formando um canal chamando ginecóforo, que tem a função de albergar a

fêmea (NEVES, 2000). Seguindo a ventosa oral, tem-se o esôfago, que se bifurca ao nível do

acetábulo e funde-se depois formando um ceco único. Logo atrás do acetábulo, encontra-se

de sete a nove massas testiculares, que se abrem diretamente no canal ginecófaro. (NEVES,

2000).

A fêmea apresenta cor castanho-escura, de topografia mais simples do que as dos

machos, com tegumento liso, corpo fino, cilíndrico e delicado, medindo aproximadamente de

1,2 a 1,6cm de comprimento. A presença das ventosas e sistema digestório é semelhante a do

macho. Após a venosa ventral segui-se a vulva, útero, e ovário único oblongo, na metade

anterior do corpo. Na região posterior da fêmea localizam-se as glândulas vitelogênicas, que

ocupam os dois terços posteriores de seu corpo (OLIVEIRA et al., 2000).

Os schistosomas adultos acasalam, migram para as veias mesentéricas inferiores,

principalmente ao nível da parede intestinal superior, onde ocorre a postura dos ovos.

Contudo, uma parte destes chegará ao ambiente externo dando continuidade ao ciclo

biológico, o restante fica retido na mucosa intestinal ou são arrastados, pela circulação, para o

fígado, dando origem ao quadro mais característico da esquistossomose: a reação inflamatória

granulomatosa hepática (REY, 2001).

Page 33: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

33

Figura 4. Ciclo Biológico do Schistosoma mansoni.

Fonte: Centro de Controle de Doenças e Prevenção – Esquistossomose

2.3 Patogenia da Esquistossomose

As lesões que ocorrem no organismo parasitado pelo S. mansoni são decorrentes, tanto

da agressão direta do parasito ou de seus elementos, quanto da resposta imune do hospedeiro

a tais agressões. Estudos anatomoclínicos mostram que existem diferenças significativas entre

os indivíduos portadores das várias formas clínicas que se desenvolve em duas fases: aguda

(pré-postural e pós-postural) e crônica (leve ou grave) (CHITSULO, et al., 2000).

Na fase aguda pré-postural, pode ocorre dermatite cercariana decorrente da morte de

algumas cercárias que penetram na pele. As manifestações clínicas são micropápulas

eritematosas e pruriginosas, com intensidade e duração geralmente pequenas

(LAMBERTUCCI; SILVA; VOIETA, 2005). Após desaparecimento dos sinais cutâneos,

com posterior desenvolvimento dos esquistossômulos, os pacientes podem apresentar febre

alta, mal estar, astenia, urticária, tosse, anorexia, náuseas, vômitos, mialgias, cefaléia e

diarréia (REY, 2001). Em virtude dos sintomas mencionados ocorrerem também em várias

outras doenças infecciosas e parasitárias, apenas o quadro clínico pode não sugerir o

diagnóstico para esquistossomose. O exame físico pode ser detectado abdome distendido e

Page 34: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

34

doloroso, com fígado e baço aumentados (REY, 2001). Essas manifestações não são

evidenciadas em moradores de áreas endêmicas, caracterizando a forma inaparente da

esquistossomose (LAMBERTUCCI et al., 2000).

Dos ovos postos pelas fêmeas, parte chegará ao ambiente externo, o restante ficará

retido na mucosa intestinal ou serão conduzidos embolicamente até outros órgãos

especialmente para o fígado, dando início a uma reação de hipersensibilidade tardia do tipo

granulomatosa (REY, 2001). Os ovos retidos no epitélio intestinal induzem um processo

inflamatório com hiperplasia, ulceração e formação de microabscessos (CHEN et al., 1978;

CHEN, 1991, CHEN, 1999).

Inicialmente, tem-se a formação do processo inflamatório granulomatoso agudo, que

se desenvolve ao redor dos ovos, em decorrência da eliminação de antígenos do miracídio,

chamados genericamente de SEA (Soluble egg antigens - Antígenos solúveis do ovo), que

são eliminados através dos microporos da casca do ovo e estimulam células e citocinas

específicas (HANG et al., 1974; WYLER et al., 1978), favorecendo, assim, a formação de um

infiltrado de células inflamatórias, processo que termina com a formação de uma cicatriz

fibrótica (HORII et al., 1984; BOROS, 1989).

O curso da inflamação granulomatosa esquistossomótica apresenta três estágios

evolutivos: exsudativo, produtivo e de cicatrização por fibrose (RASO et al., 1978;

BOGLIOLO, 2000).

O primeiro estágio é característico durante a fase inicial da infecção, por ovos maduros

(embrionados) circundados por zona de necrose, onde comumente são encontrados

imunocomplexos. Nesta fase os numerosos granulomas são periovulares, ditos “hiperérgicos”,

isto, é, granulomas grandes, com predominante componente exsudativo, formado por

granulócitos (neutrófilos e eosinófilos) e, mais perifericamente, por linfócitos, plasmócitos e

macrófagos, periferia pouco delimitada, com escassas fibras colágenas finas e frouxamente

arranjadas em disposição concêntrica e frequente necrose central ou halo de necrose

periovular (RASO et al., 1978, SILVA et al., 2006). Esta fase pode durar, em média, trinta a

sessenta dias, desaparecendo quando o paciente é submetido a tratamento específico ou

podendo evoluir para a fase crônica, caso não haja tratamento (KATZ; ALMEIDA, 2003).

No estágio produtivo, o ovo habitualmente se encontra fragmentado ou deformado e o

infiltrado celular é constituído por macrófagos, linfócitos e plasmócitos e escassos neutrófilos

e eosinófilos, e o granuloma nessa fase é ligeiramente menor quando comparado com o

estágio exsudativo. Durante o processo granulomatoso, as células inflamatórias vão sendo

substituídas por células semelhantes a fibroblastos, que se orientam em camadas concêntricas

Page 35: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

35

que fabricam e depositam abundantes quantidades de colágenos, que devido ao aumento da

deposição desta proteína na matriz extracelular, a estrutura do granuloma se completa com a

formação de um nódulo fibrótico (ZILTON, 2005), caracterizando a fase de cicatrização por

fibrose, onde o granuloma é ainda menor e se resume ao vestígio da casca do ovo, circundado

por escasso infiltrado inflamatório mononuclear e, mais externamente, por zona de fibrose

(VON LICHTEMBERG, 1987; ANDRADE, 2004).

A forma crônica habitual ou leve é a forma mais comum dos casos, encontra-se em

cerca de 90% dos infectados, principalmente em áreas endêmicas. Estes portadores são

assintomáticos ou com vagas queixas, geralmente discretas e inespecificas. Os granulomas

hepáticos são periovulares isolados, em varias fases de evolução para a cicatrização, o

número de granulomas é habitualmente pequeno, pois geralmente a carga parasitária nestes

portadores é baixa. Na forma grave ou avançada da esquistossomose, no curso crônico da

infecção, os diversos pontos fibróticos podem se coalescer levando à diminuição da luz dos

vasos sanguíneos e à perda da elasticidade, configurando a alteração patológica mais

importante desta fase, a hipertensão portal (DAVIS; KRESINA, 1996; MELO; COELHO,

2005).

Nessa fase, podem existir pacientes que permanecem na sua forma clínica estacionária

ou compensada, conservando um bom estado geral, com sintomatologia de pequena

intensidade. Outros, porém, podem evoluir para as formas mais graves ou descompensadas

apresentando circulação colateral, varizes esofagianas, hemorragias digestivas, fibrose

periportal e ascite (DOMINGUES; DOMINGUES, 1994; REY, 2001, GRYSEELS et al.,

2006).

Como consequência do bloqueio portal, há redução do fluxo sanguíneo no território

drenado pela veia porta. A esplenomegalia ocorre em grande parte em virtude desta

congestão venosa, bem como da hiperplasia e hipertrofia das células do sistema macrofágico-

linfocitário, com diferenciação plasmocitária e produção de imunoglobulinas, em virtude da

presença de grande quantidade de substâncias antigênicas (PEARCE; MacDONALD, 2002;

GRYSEELS et al., 2006).

O processo inflamatório e o tamanho dos granulomas variam com a intensidade e

duração da infecção, com a fase evolutiva de cada granuloma e até mesmo entre os diversos

órgãos comprometidos. O decréscimo no tamanho do granuloma, observado entre as fases

aguda e crônica, foi chamado de modulação, processo extremamente complexo que envolve

células T, macrófagos, fatores solúveis, prostaglandinas, anticorpos e imunocomplexos

(RASO et al., 1978, VON LICHTEMBERG, 1987; ANDRADE, 2004).

Page 36: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

36

A lesão macroscópica, em si, já é caracterizada, porém assume maior significado

microscopicamente, ao exibir vários graus de lesões inflamatórias destrutivas e obstrutivas

dos ramos porta intra-hepáticos. Uma das características mais importantes da lesão hepática

esquistossomótica é o padrão de fibrose descrito por Symmers, em 1904, que do ponto de

vista anatômico consiste em uma inflamação crônica causada pelos ovos que penetram no

conjuntivo periportal (peripileflebite) e pela propagação desta à parede dos ramos porta

(pileflebite). Nesta fase verifica-se a neoprodução conjuntivo-vascular intensa e sistematizada,

porém não ocorre subversão da arquitetura lobular do fígado (BOGLIOLO, 2000 BAPTISTA;

ANDRADE, 2005; SILVIA et al., 2006).

Macroscopicamente a lesão é caracterizada, ao corte, por grandes e fibrosos espaços

porta que aparecem como manchas brancas circundadas por parênquima hepático normal,

lembrando hastes de cachimbo branco (claypipestem fibrosis). O aspecto externo do órgão

revela bocelamento da cápsula de Glisson mostrando-se espessa e opaca nas depressões e

distendida e translúcida nas áreas protuberantes (ANDRADE; SILVA; SOUZA, 1997).

Contraditoriamente, apesar dos granulomas serem patogênicos, eles também protegem

o hospedeiro, ao sequestrar moléculas hepatotóxicas liberadas pelo ovo, prevenindo o dano

hepático maior, assunto este que vem sendo amplamente estudado em modelo murino com o

propósito de avaliar a dinâmica da formação e modulação granulomatosa esquistossomótica

(PATTON et al., 2001; ANDRADE; BAPTISTA; SANTANA, 2006).

2.4 Imunopatologia da esquistossomose

A formação do granuloma hepático esquistossomótico é um processo complexo que

envolve a resposta imune celular e humoral. Os diversos tipos celulares envolvidos neste

processo desempenham funções variadas com o objetivo de aprisionar e reter os antígenos

liberados pelos ovos evitando assim, uma necrose tissular mais ampla. Neste sentido, vários

tipos celulares produzem citocinas que desempenham as mais variadas funções ao longo de

todo o processo infeccioso (AMIRI et al., 1992; PATTON et al., 2001).

De acordo com a capacidade de produzir citocinas, os linfócitos auxiliadores T CD4+

(Helper) foram classificados em dois grupos (MOSMANN e COFFMAN, 1989).

Denominados de Th1 os linfócitos T que possuem a capacidade de secretar as citocinas IL-2 e

IFN-γ e de Th2 aqueles que produzem IL-4, IL-5 e IL-10. Esses dois grupos possuem

atividades antagônicas, uma vez que citocinas do tipo Th1 inibem a secreção de citocinas Th2,

Page 37: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

37

e citocinas Th2 inibem a secreção de citocinas Th1 (ROCHA; TANGHOT, 2004;

STOCKINGER; BOURGEOIS; KASSIOTIS, 2006).

O perfil Th1 está associado com as reações de hipersensibilidade tardia e com controle

de infecções por microorganismos intracelulares, enquanto a resposta Th2 está relacionada à

resposta humoral (FALLON et al., 2000a; JAKUBZICK et al., 2002; JAKUBZICK et al.,

2003) e a IL-10 apresentando papel essencial no controle dos dois perfis de resposta imune

(LUKACS; BOROS, 1993; HOFFMANN et al., 2000).

Stadecker (1999) e Fallon (2000), concluíram que as respostas do perfil Th2 são

protetoras, agindo como mediadores antiinflamatório e as Th1 estariam, relacionadas com a

formação do granuloma esquistossomótico, predominantes na fase aguda da infecção que

induz a imunopatologia letal devido a ausência de granulomas bem formados e exposição a

hepatotoxinas derivadas do ovo do parasito. No decorrer das quatro primeiras semanas de

infecção, período pré-patente há um predomínio da resposta Th1, com produção de IFN-γ e

IL-2 contribuindo para a formação do granuloma agudo (ANDRADE; AZEVEDO, 1987;

PEARCE et al., 1991).

Com o início da deposição de ovos nos tecidos do hospedeiro a resposta Th1

normalmente sofre uma substituição progressiva por uma resposta Th2 (GRZYCH et al.,

1991; PEARCE et al., 1991; RAMASWAMY et al., 1997). Desta forma a imunodolação

granulomatosa inicia-se durante o período Th1 e continua durante a emergência de citocinas

Th2 (STADECKER, 1999).

Os granulomas periovulares que se formam, à medida que a doença evolui da fase

aguda para a fase crônica, decrescem em tamanho e em celularidade, devido à

imunomodulação, apesar de haver progressão da fibrose hepática (WYNN et al., 1998). Esse

perfil será mantido ao longo de toda a infecção, porém para o desenvolvimento assintomático

ou oligossintomático é necessária que exista um balanço entre os perfis Th1 e Th2 (BRUNET

et al., 1999).

O IFN-γ é uma citocina diretamente envolvida na resposta granulomatosa. De suas

inúmeras funções podemos citar que ela age como agente supressor da síntese de colágeno por

fibroblastos, sendo associada com a proteção contra a fibrose na esquistossomose (KOVACS,

1991; HENRI et al., 2002). Em modelos experimentais a administração de IFN-γ exógeno,

durante a infecção esquistossomótica, leva a inibição da fibrose hepática com produção de

granulomas de menor tamanho (CZAJA et al., 1989). Estudos em infecção por S. japonicum

demonstraram que IFN-γ é um forte indutor da produção de óxido nítrico, que apresenta

importância na patologia da esquistossomose, bem como também é um regulador das

Page 38: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

38

citocinas do perfil Th2, as quais possuem papel chave na formação dos granulomas

(HIRATA; FUKUMA, 2003).

A IL-4 deflagra a produção de IgE, em decorrência do aumento de eosinófilos

propiciado pela IL-5. Juntas IL-4 e IL-5 desempenham o papel efetor da resposta aos

antígenos de parasitos extracelulares. Em camundongos tratados com anti-IL-4 ocorre a

diminuição da fibrose hepática apesar de pouca interferência no tamanho dos granulomas

neste órgão (CHEEVER et al., 1994; ELTOUM et al., 1995). Enquanto que, a administração

exógena de IL-4 ocorre um aumento do tamanho dos granulomas hepáticos (YAMASHITA;

BOROS, 1992).

Dentre as funções da IL-5, estão a proliferação e a ativação de eosinófilos, que

parecem ser essenciais no decorre da migração dos esquistossômulos, e participa da destruição

dos mesmos (CAPRON et al., 1979). Os eosinófilos representam cerca de 50% da composição

do infiltrado inflamatório que compõe o granuloma esquistossomótico na fase aguda, a função

primordial dos eosinófilos é na neutralização das hepatotoxinas liberadas pelos ovos de S.

mansoni (OLDS; MAHMOUD, 1980). Com base nas respostas imunes no decorrer da

infecção pelo S. mansoni e evolução dos granulomas hepáticos, é importante o estudo da

mudança do padrão imune, a fim de melhor compreender a imunopatologia.

2.5 Tratamento da Esquistossomose

Diante dos altos índices de morbidade e mortalidade provocada pelo Schistosoma, a

esquistossomose representa uma das dez doenças tropicais que estão sob programas de

controle da Organização Mundial de Saúde (MOREL, 2000). Mesmo inserida neste programa

a esquistossomose ainda é considerada uma doença negligenciada. O termo “negligenciado”

ou “doença de pobre” é empregado a todas as doenças onde não existe investimento em

pesquisa e desenvolvimento de novos fármacos (RENSLO et al., 2006; MRAZEK et al.,

2003).

O primeiro quimioterápico com atividade esquistossomicida foi relatado por

Christopherson em 1918, através do tratamento com antimoniais, com tártaro emético,

mencionados em papiros médicos com o nome de msdmt, no tratamento de hematúria,

provavelmente causada pelo S. haematobium, os efeitos colaterais tóxicos, levaram a busca

de outros fármacos, livres de metal e que fossem administrados via oral

(CHRISTOPHERSON, 1918). A partir de então, surgiram novos fármacos como a

lucanthona (KIKUTH; GÖNNERT, 1948) e o niridazol (LAMBERT, 1964) com atividade

Page 39: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

39

contra as três principais espécies de Schistosoma que parasitam o homem, o S. mansoni, S.

haematobium e S. japonicum. No entanto, esses fármacos, por apresentarem graves efeitos

colaterais, não foram considerados seguros o suficiente para serem utilizados em larga escala

nas regiões endêmicas.

Durante um programa específico para o desenvolvimento de novas drogas

esquistossomicidas, em 1964, pela indústria farmacêutica Pfizer (Sandwich, Inglaterra),

Richards, Foster e Baxter desenvolveram uma nova série de derivados 2-aminometil-tetra-

hidroquinolínicos que apresentaram ação esquistossomicida, muito embora em sua maioria

tenha exibido pouca eficácia, alta toxicidade e elevados efeitos colaterais. O composto que

apresentou maior potencial esquistossomicida foi o UK3883 que apresenta estrutura

semelhante ao lucanthone (miracil D). Posteriormente, a oxidação microbiológica do UK-

3883 pelo fungo Aspergillus sclerotiorium dá origem ao UK-4271, chamado de oxamniquine

(OXA) (RICHARDS; FOSTER, 1969; FOSTER, 1973).

O oxamniquine inicialmente chamado de Mansil®, mistura das palavras mansoni e

Brasil, pois, o fármaco apresenta atividade exclusiva sobre o S. mansoni e no Brasil ter sido

realizados os primeiros ensaios clínicos. O Mansil®

apresentou atividade terapêutica com

eficácia em torno de 90%, sendo bem tolerada, eficiente tanto na atividade profilática quanto

na ação em todos os estágios imaturos do parasito, com a administração em dose única

intramuscular e apresentando como único efeito colateral, a dor local (KATZ et al, 1973).

Devido à dor local a droga passou a ser fabricada para o uso oral. Com o advento desta droga,

pela primeira vez um fármaco esquistossomicida poderia ser administrado sem grandes riscos

em tratamento individual ou em massa. Só no Brasil, o Programa Especial de Controle da

Esquistossomose, tratou mais de 13 milhões de pessoas com o oxamniquine nas zonas

endêmicas sem relato de óbito relacionado ao uso do medicamento.

Na década de 1970, as indústrias alemãs Merck e Bayer desenvolveram uma nova

droga, o praziquantel (PZQ). A mesma surgiu dos estudos da atividade anti-helmíntica de

compostos tranquilizantes, selecionado entre mais de quatrocentos compostos que apresentou

ação anti-helmíntica polivalente. No Brasil a droga foi lançada comercialmente para o

tratamento de cestóides, com o nome de Cestox® ou Cisticide

®(SEUBERT et al, 1977).

O praziquantel atualmente é o fármaco de primeira escolha para o tratamento da

esquistossomose, tendo como segunda opção o OXA. Isso se deve a razões como: atividade

contra todas as espécies de Schistosoma; ausência de efeitos colaterais sérios; administração

por via oral; custo competitivo; e longa experiência clínica, mostrando que é seguro, efetivo e

de fácil administração, com cura parasitológica de 80% a 90%. Os efeitos colaterais mais

Page 40: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

40

frequentes são dores abdominais, diarréia, náusea, vômito e anorexia (SANTOS et al, 1979).

Diversos estudos com o PZQ demonstraram que a droga não apresenta mutagenicidade e

genotoxicidade nos esquemas terapêuticos utilizados (KRAMERS et al., 1991), mesmo com

muitos estudos, os mecanismos moleculares de ação do PZQ não são bem conhecidos

(CIOLI, 2004).

A maior desvantagem do PZQ sobre o Schistosoma é a sua baixa eficácia contra as

formas imaturas (GRYSSELS et al., 2001) e vermes fêmeas imaturos (PICA-MATTOCIA;

CIOLI, 2004). Entretanto, alternativas têm sido propostas para solucionar este problema, tais

como a associação do PZQ com outras drogas capazes de eliminar as formas imaturas do

parasito. A associação terapêutica do PZQ com a OXA apresenta maior atividade sobre o S.

mansoni quando comparada a terapia isolada de cada droga (DELGADO et al., 1992;

GRYSCHECK et al., 2004).

O desenvolvimento do PZQ em 1970 e o vasto uso na década de 80 reduziram de

forma significativa a morbidade e mortalidade provocada pelo Schistosoma (BERGQUIST,

2002). Entretanto, a droga não impede a reinfecção, e o tratamento repetido é geralmente uma

prática comum em áreas endêmicas (MAGNUSSEN, 2003). Contudo, o surgimento de cepas

Schistosoma praziquantel-resistentes (STELMA et al., 1995; STELMA et al., 1997; LIANG

et al., 2001) tem levado a um grande número de trabalhos, sejam experimentais ou de campo,

visando evitar este problema potencial (DOENHOFF et al., 2002).

Nos últimos 30 anos houve uma melhora significativa na terapêutica da

esquistossomose, caracterizada pelo desenvolvimento do PZQ, considerada droga “ideal”

pelas propriedades farmacologias que apresenta. É possível que a descoberta desta droga,

associado à ocorrência exclusiva da esquistossomose em países em desenvolvimento ou

subdesenvolvidos, ou seja, países com baixo poder aquisitivo de compra e de pessoas

economicamente ativas, tenham levado a indústria farmacêutica a não se interessarem em

investir em novas tecnologias para desenvolver novos fármacos para o controle da

esquistossomose, bem como de drogas que atuem sobre as lesões granulomatosas já

instaladas.

A terapia convencional com o PZQ é eficaz sobre o S. mansoni, porém, não altera as

lesões histopatológicas já instaladas, as quais podem deixar sequelas irreversíveis. Ainda não

existe uma droga eficaz para o tratamento da fibrose hepática na esquistossomose, embora

muitas tenham sido ensaiadas. Desde 1990, pesquisas vêem sendo desenvolvidas para

identificar terapêuticas antifibróticas, porém ainda, não existe nenhuma droga dita “ideal”

(FRIEDMAN, 2003). Este quadro, não apenas justifica, mas aponta a necessidade de

Page 41: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

41

planejamento, desenvolvimento e pesquisas com novos fármacos que apresentam potencial

atividade esquistossomicida (CIOLI, 2000; TDR, 2009) e de outras drogas que apresentem

efeitos hepatoprotetores ou que possam modular a formação granulomatosa

esquistossomótica. A Figura 5 ilustra as principais estruturas químicas das drogas

esquistossomicidas clássicas.

Figura 5 - estruturas químicas das drogas esquistossomicidas clássicas.

Page 42: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

42

2.6 N-ACETILCISTEÍNA

A N-acetilcisteína (NAC) (figura 6) é um tiol de baixo peso molecular, composto

precursor da L-cisteína e glutationa reduzida nas células. É uma fonte de grupos sulfidril e

removedores de substâncias reativas como OH e H2O2 geradas pela reação dos peroxinitritos,

com NO e superóxido (ZAFARULLAH, 2003, PINHO et al., 2005).

Figura 6 – estrutura molecular da N-acetilcisteína

A NAC contribui para a síntese da glutationa, um dos desintoxicantes naturais mais

importantes e poderosos no organismo humano, especialmente no fígado (DE FLORA et al,

2001, PINHO et al., 2005). Possui papel-chave na homeostase celular, visto que a depleção de

glutationa pode causar morte celular devido à peroxidação lipídica e declínio nos níveis de

tiol-proteínas (REED et al., 1984). A NAC pode atuar diretamente reduzindo os níveis de

ROS in vivo e in vitro (ARUOMA et al., 1989) ou diretamente como “varredora” de radicais

de peróxido de hidrogênio, ácido hipoclórico e radical hidroxil, assim como inibir a liberação

de TNF-α, a ativação de citocinas pró-inflamatórias e apoptose celular (PINHO et al., 2005).

Exercer efeito antioxidante indireto por facilitar a biossíntese da glutationa, através da enzima

glutationa peroxidase, que é uma das três enzimas necessárias à sobrevivência celular por

serem antioxidantes endógenos (CONESA et al., 2001).

É uma droga bem absorvida e rapidamente metabolizada, somente cerca de 10% da

amostra ingerida permanece na circulação por um tempo razoável, sendo a maior parte da

droga consumida na produção de glutationa intracelular, em um extenso metabolismo de

primeira passagem no fígado (VINCENZINI et al., 1998).

Em humanos e animais experimentais a NAC inibe o dano tecidual causado pelo

estresse oxidativo devido as suas propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e

desintoxicantes sobre o tecido hepático (KELLY, 1998; ZAFARULLAH et al., 2003). Por

Page 43: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

43

estas propriedades, a NAC tem sido a droga de escolha para o tratamento da insuficiência

hepática induzida por paracetamol, além de apresentar diversas propriedades farmacológicas

com benefícios potenciais em pacientes criticamente doentes (ATKINSON, 2001; ATKURI et

al., 2007).

Na clínica tem sido empregada para tratar uma variedade de patologias, incluindo a

fibrose cística (TIROUVANZIAM, 2006; HENKE; RATJEN, 2007), a doença pulmonar

obstrutiva crônica (KASIELSKI; NOWAK 2001; HENKE; RATJEN 2007), a toxicidade

associada às lesões hepáticas (PRESCOTT, 2005) e a cirrose biliar (MANI, et al., 2006), além

de ter sido empregada para elevar os níveis de glutationa em eritrócitos e linfócitos

melhorando a função das células T em portadores da imunodeficiência adquirida humana (DE

ROSA et al., 2000). Ademais, De Flora et al. (2001) afirmam que a NAC apresenta

propriedade mucolítica devido à reação de seu grupamento químico sulfidrila com as pontes

dissulfeto das secreções mucosas, dissolvendo-as.

Estudos em pacientes com insuficiência hepática fulminante aguda e cirrose estável

demonstraram que a administração de NAC melhora a hemodinâmica portal (JONES et al.,

1994). Lauz e colaboradores (2004) estudaram a ação da NAC a fim de prevenir a lise celular

e assim manter a função hepática diante da isquemia e reperfusão que o órgão é submetido no

ato operatório e concluíram que a NAC previne a lise celular e mantém a função hepática.

O tratamento com antioxidantes, entre eles a NAC tem mostrado atenuar fibrose

intersticial em vários processos patológicos (POLI; PAROLA, 1997; ZAFARULLAH et al.,

2003). Pereira-filho (2008) avaliaram os efeitos da NAC sobre o estresse oxidativo no fígado

de animais cirróticos por inalação de tetracloreto de carbono e evidenciaram através de análise

bioquímica uma redução de 400% no depósito de colágeno no fígado dos animais tratados

com a NAC quando comparados aos animais cirróticos controle. Ainda neste estudo, a análise

histoquímica pela coloração de Picrossírius red evidenciou redução no grau de fibrose

classificada como leve a moderada nos animais tratados com NAC, por outro lado o grupo

cirrótico controle apresentou classificação severa. Neste estudo os autores concluem que este

fármaco confere proteção ao tecido hepático de animais cirróticos.

Diante do exposto e considerando as propriedades da NAC sob a função hepática e

sendo a esquistossomose mansoni uma patologia com extensas alterações hepáticas,

propomos neste trabalho, investigar os efeitos deste fármaco na modulação granulomatosa

esquistossomótica em camundongos infectados pelo S. mansoni em diferentes fases de

infecção (aguda, intermediário e crônico), podendo assim contribuir junto à terapia

convencional do Praziquantel na melhora da morbidade pelo S. mansoni.

Page 44: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

44

OBJETIVOS

“A neve e a tempestade matam as flores,

mas nada podem contra as sementes.”

Kahlil Gibran

Page 45: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

45

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo geral

Avaliar a ação da N-acetilcisteína e Praziquantel na imunopatologia da

esquistossomose mansoni experimental em diferentes fases na infecção.

3.1 Objetivos específicos

Em camundongos tratados ou não tratados com NAC e/ou PZQ em diferentes fases de

infecção pelo Schistosoma mansoni:

● Comparar os parâmetros parasitológicos através da quantificação de vermes

recuperados e padrão de ovoposição;

● Comparar as analises histopatológicas e histomorfométricas em tecido hepático;

● Comparar a produção das citocinas IL-4, IL-10 e INF- e Óxido nítrico nos

sobrenadantes das culturas de células esplênicas.

Page 46: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

46

OPERACIONALIZAÇÃO DA PESQUISA

“No estudo da história natural existem dois obstáculos igualmente perigosos:

o primeiro é não possuir nenhum método,

o segundo referir tudo a um sistema particular.”

George Louis Leclerc

Page 47: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

47

4 OPERACIONALIZAÇÃO DA PESQUISA

4.1 Desenho do estudo

Estudo experimental de intervenção para avaliar camundongos fêmeas infectadas pelo

S. mansoni, tratados e não-tratados com a NAC e/ou PZQ em diferentes tempos após a

infecção.

Os modelos experimentais animais são extremamente importantes para a melhor

compreensão de diversos processos infecciosos (DRUILHE et al., 2002). Na esquistossomose

mansoni diversos modelos já foram utilizados para avaliar a infecção, desde modelos simples

até mais complexos com o propósito de descobrir possíveis controles ou melhores condutas

terapêuticas para essa parasitose (CHEEVER et al., 2002). Vários animais têm sido

empregados como modelos experimentais na avaliação de drogas esquistossomicidas, entre

eles estão macacos (SADUN et al., 1966), coelhos (CHEEVER et al., 1980) e camundongos

(WARREN, 1966, ANDRADE; SILVA; SOUZA, 1997). Sendo este último o melhor modelo

e o de escolha para o presente trabalho, pois, desenvolver ciclo biológico e quadro

histopatológico semelhante ao que ocorre no homem, por ser de fácil manipulação e

manutenção e baixo custo.

O modelo murino é empregado para esclarecer aspectos que não podem ser

investigados em seres humanos, por questões éticas e operacionais. A linhagem de escolha

para o presente estudo foi a Swiss webster, frequentemente empregada, pois apresenta

variabilidade genética, o que facilita extrapolar relativamente os resultados para os seres

humanos e neste animal as dificuldades de realização por questões éticas são menores. Os

animais foram mantidos nas mesmas condições ambientais e alimentares. Desta forma,

qualquer diferença existente entre os grupos e subgrupos será atribuída à intervenção

terapêutica.

4.2 Animais

Foram utilizados camundongos fêmeas, Swiss webster, pesando entre 28-30 gramas,

com 28 dias de idade, fornecidos e mantidos no biotério do Laboratório de Imunopatologia

Keizo Asami da Universidade Federal de Pernambuco (LIKA-UFPE) de acordo com

condições padronizadas de criação.

Page 48: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

48

Para a infecção dos camundongos foi utilizada a cepa de S. mansoni, Belo Horizonte –

Minas Gerais (BH), mantida pelo Laboratório de Imunologia de Doenças Parasitárias e de

Esquistossomose Experimental - LIKA-UFPE, pela passagem sucessiva da cepa em

caramujos da espécie Biomphalaria glabrata fornecidos pelo moluscário da Disciplina de

Parasitologia, do Departamento de Medicina Tropical, da UFPE.

4.3 Infecção de caramujos, obtenção das cercárias e infecção dos camundongos

Para infecção dos hospedeiros intermediários, fezes de camundongos infectados pelo

S. mansoni (camundongos de manutenção) foram coletadas e tratadas de acordo com a técnica

de sedimentação espontânea. O sedimento foi exposto à iluminação e a temperatura de 28oC,

até a eclosão dos ovos e visualização dos miracídios com auxilio de lupa. Os miracídios foram

postos em contado com caramujo individualmente, permanecendo exposto à luz artificial e ao

calor 28ºC por aproximadamente duas horas. Posteriormente, os moluscos foram mantidos em

aquários com água desclorada e livres de exposição luminosa (STANDEN, 1952). Para cada

ciclo de infecção, 80 moluscos eram expostos à infecção para que forneçam quantidade

razoável de indivíduos positivos e houvesse equilíbrio entre os sexos do parasito

(PELLEGRINO; KATZ, 1968).

Decorridos 35 a 40 dias após a infecção, os moluscos foram novamente expostos à luz

e à temperatura de 28ºC por cerca de 40-60 minutos, em recipientes de vidro, contendo água

destilada, agora para permitir a liberação de cercárias. (STIREWALT, 1954). Após a

obtenção de uma suspensão cercariana, os camundongos foram infectados, via subcutânea

com uma fração desta suspensão, que continha, em média, 50 cercárias. (OLIVIER;

STIREWALT, 1952).

4.4 - Formação dos grupos de estudo e esquema terapêutico com NACe/ou PZQ.

Estudos indicam que a fase crônica da infecção esquistossomótica em camundongos é

estabelecida a partir da 12ª semana após a infecção (FALLON, 2000a; PEARCE;

MCDONALD, 2002), entretanto a fibrose hepática periportal começa se esboçar a partir da

16ª semana (ANDRADE; CHEEVER, 1993; COUTINHO et al., 2007). Para o presente

estudo, foi estabelecido que o tempo decorrido entre o tempo de infecção e eutanásia fosse de

60 (G1), 90 (G2) e 120 (G3) dias, para avaliação das fases aguda, intermediária e crônica,

respectivamente.

Page 49: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

49

Os camundongos foram divididos em três grupos experimentais de acordo com o

tempo de intervenção terapêutica e eutanásia. Cada grupo experimental foi formado por 4

subgrupos com 9 animais cada de acordo com o quadro abaixo.

QUADRO 1 – Definição dos grupos experimentais e esquema terapêutico.

Grupos

experimentais

Subgrupos

experimentais

Esquema terapêutico

NAC

200mg/Kg/dia

PZQ

100mg/Kg/dia

Grupo 1 (G1)

Fase aguda

Controle

Administrada do dia subsequente

à infecção até o 60º dia*.

Administrado do 45º dia após

a infecção até o 49º dia.

NAC

PZQ

NAC+PZQ

Grupo 2 (G2)

Fase

intermediária

Controle

Administrado do 45º dia após a

infecção até o 90º dia*.

Administrado do 45º dia

após a infecção até o 49º dia.

NAC

PZQ

NAC+PZQ

Grupo 3

(G3)

Fase crônica

Controle

Administrado do 45º dia após a

infecção até 120º dia*.

Administrado do 45º dia

após a infecção até o 49º dia.

NAC

PZQ

NAC+PZQ

* O término do tratamento corresponde ao dia da eutanásia.

Antes de iniciar o tratamento todos os animais foram marcados e pesados

individualmente. O tratamento com a NAC na concentração de 200mg/Kg/dia está baseado

nos trabalhos de Jones AL e colaboradores (1994) e Yang e colaboradores (2008) envolvendo

estudos com humanos e com animais cirróticos e de Fan e colaboradores (2007) ao estudar o

efeito da NAC na infecção experimental pelo S. japonicum.

O esquema terapêutico adotado com o praziquantel teve por objetivo alcançar a cura

parasitológica, desta forma interferindo na postura diária dos ovos de S. mansoni considerado

potencial fator fibrogênico. Assim buscamos a uniformidade do quadro fisiopatológico dos

granulomas já instalados podendo mensurar com maior fidedignidade a ação da NAC como

Page 50: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

50

fármaco adjuvante no tratamento da esquistossomose após terapia especifica com o

praziquantel.

A NAC (Sigma) foi diluída em solução salina e o PZQ (Sigma) foi suspendido em

Cremophor EL a 2%, ambos administrados por tubagem esofágica. Os animais dos subgrupos

controle, livre de NAC e/ou PZQ, foram submetidos as mesmas condições que os demais

subgrupos experimentais.

4.5 Suscetibilidade in vivo do S. mansoni frente à NAC e/ou PZQ

O procedimento experimental recomendado e utilizado neste trabalho para avaliação

da suscetibilidade in vivo do S. mansoni está de acordo com os trabalhos desenvolvidos por

Pellegrino e Faria (1965), Katz e colaboradores (1966) e Katz e Pellegrino (1973).

4.6 Determinação da suscetibilidade in vivo do S. mansoni frente a NAC e/ou PZQ

A avaliação da suscetibilidade in vivo da NAC e/ou PZQ sobre o S. mansoni foi

baseada na recuperação final dos vermes e alteração no padrão de ovoposição pelo método do

oograma.

4.6.1 Recuperação dos vermes

Decorrido o tempo de tratamento de cada grupo, os animais foram eutanasiados por

deslocamento cervical (MARTINEZ et al., 2003). Após eutanásia, foi efetuada uma incisão

próxima aos órgãos genitais, com auxílio de pinças e tesouras cirúrgicas, indo até a caixa

torácica, posteriormente foi realizada a perfusão do sistema venoso portal através da injeção

de solução salina heparinizada (cloreto de sódio a 0,85% e citrato de sódio 1,5%), na veia

cava inferior com a mesma solução (PELLEGRINO; SIQUEIRA, 1956). A mesma solução

foi injetada na aorta descendente, procedendo-se à perfusão das veias mesentéricas

(DUVALL; DE WITT, 1967). Ao final foi realizada a quantificação dos vermes adultos

machos e fêmeas.

Page 51: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

51

4.6.2 Oograma

Fragmentos do intestino dos camundongo foram retirados para a leitura do oograma.

Estudo que avalia o desenvolvimento dos ovos de S. mansoni encontrados na parede intestinal

do hospedeiro, sob a ação de terapias esquistossomicidas. Foram contados e classificados os

ovos nos seus diferentes estágios de desenvolvimento e ovos mortos. Para a classificação

seguiram-se os critérios propostos por Pellegrino e colaboradores (1962). A susceptibilidade

do S. mansoni é então avaliada pela alteração de oograma, sendo considerado alterado quando

estiverem ausentes um ou mais estádios (PELLEGRINO, FARIA, 1965).

4.7 Estudo histopatológico e morfométrico de tecido hepático

Fragmentos de fígado de cada animal foram fixados em formaldeído a 10%

tamponado em PBS e processados para inclusão em parafina. Posteriormente, realizado cortes

histológicos de 5µm de espessura. Para cada amostra de tecido hepático foram confeccionadas

três laminas histológicas, coradas pelas técnicas de hematoxilina-eosina (HE), picrosirius-red

(PR) e tricrômico de Masson (TM) (Junqueira; Bignolos and Brentani, 1979). Para a análise

do infiltrado inflamatório foram utilizadas as amostras coradas pela técnica de HE. As

colorações de PR e TM foram empregadas para a determinação do grau de fibrose

(classificados em: leve, moderado e intenso, de acordo com o arranjo das fibras de colágeno e

a deposição desta proteína no tecido hepático), mensuração do diâmetro médio dos

granulomas viáveis (com ovo, ou vestígio de ovo central) e do número médio de granulomas

capturados em cinco campos aleatórios (área total de campo = 12.234 μm2, área total

visualizada = 61.170μm2) em amostras histológicas de cada animal por subgrupo. Para

obtenção das imagens das amostras foi utilizado microscópio óptico acoplado a câmera digital

e sistema computadorizado com linguagem orientada para leitura de imagem pelo software

Motic Images Plus 2.0 ML®.

4.8 Avaliação dos níveis de citocinas e óxido nítrico

4.8.1 Cultura de células esplênicas

Após término da terapia experimental de cada grupo, os baços dos camundongos

foram retirados de maneira asséptica, e colocados em meio RPMI 1640 para transporte. Em

Page 52: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

52

fluxo laminar os mesmos foram macerados em placas de Petri junto ao meio RPMI 1640

(Sigma Chemical, St. Louis, Mo., USA) complementado com HEPES (10mM), 2-

mercaptoetanol (0,05mM) 216mg de L-glutamina e antibiótico gentamicina 50mg/L e

posteriormente levados à centrifugação a 4°C por 10 minutos, a 1500 rpm.

Após este procedimento as hemácias foram lisadas pela adição de água estéril ao

precipitado por 18 segundos (1mL/baço). Posteriormente as células foram ressuspendidas em

meio RPMI complementado e mantidas refrigeradas durante cinco minutos para a formação

de grumos. O sobrenadante foi então transferido para outro tubo de ensaio para a realização

de uma nova centrifugação a 4°C por 10 minutos, a 1500 rpm. e o precipitado foi

ressuspendido em meio RPMI suplementado com 10% de Soro Bovino Fetal (Sigma

Chemical, St. Louis, Mo., USA).

As células foram contadas e avaliadas quanto à viabilidade diluindo-se a suspensão em

Azul de Trypan 0,2%. (1:10) e contando as células em câmara de Newbauer. As células

ressuspendidas foram cultivadas em placas de 48 poços nunca concentração de 5x106

células/mL estimuladas por na SEA (20μg/mL). As placas foram incubadas a 37ºC, a 5% de

CO2 e após 24h e 72h coletado os sobrenadantes para posterior análise da produção das

citocinas IL-4, IL-10, INF- γ e Oxido nítrico.

4.8.2 Dosagem de citocinas

Os níveis das citocinas IL-4, IL-10 e INF-γ no sobrenadante das células esplênicas

foram determinados por ELISA (Enzyme linked immunosorbent assay) sanduíche. As placas

para realização do ELISA (Costar, Cambridge, MA, USA) foram sensibilizadas com os

primeiros anticorpos de captura [anti-IL-4 (11B11 a 4μg/ml, anti-IL-10 (C252-2A5, a 8μg/ml)

e anti-INF- (XMG 1.2, a 4μg/ml)], diluídos em tampão salina fosfato (PBS 0,01M pH 9,6)

sendo e distribuídos 50l em cada poço da placa e incubadas à temperatura de 4°C por 18h.

Após este período, as placas foram lavadas três vezes com PBST (Tampão salina fosfato com

0,05% de Tween 20) e bloqueadas por 30 minutos com 150μl PBST a 10% de SBF.

Após este período as placas foram novamente lavadas com PBST e, em seguida,

adicionados 50μl dos respectivos padrões recombinantes de camundongos: rIL-4, rIL-10 e

rIFN-, diluídos nas concentrações indicadas pelo fabricante ou das amostras dos

sobrenadantes da cultura de células esplênicas. As placas novamente incubadas a 4°C por 18

horas. Após esta incubação, as placas foram lavadas com PBST e 50μl dos segundos

anticorpos biotinilados [anti-IL-4 (BVD6.24G2, a 1μg/ml, anti-IL-10 (SXC1, a 2μg/ml) e

Page 53: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

53

anti-INF-μ (AN18, a 2μg/ml),] diluídos com PBST e 0,1% de BSA, foram distribuídos nos

poços, seguido de incubação à temperatura ambiente por 1 hora. Após esta incubação, cada

placa foi novamente lavada três vezes com PBST e o conjugado enzimático diluído 1:6000

(estreptoavidina marcada com peroxidase, Sigma Chemical, St. Louis, Mo., USA) em PBST

contendo BSA 0,1 % foi adicionado às placas, 80μl/poço, e estas foram incubadas à

temperatura ambiente por uma hora. As placas foram lavadas novamente com PBST e a

reação revelada pela adição do substrato contendo H2O2 30% e o cromógeno ABTS [(2,2’-

azinobis (3-ethylbenzthiazoline-6-sulfonic acid)], Sigma Chemical, St. Louis, Mo., USA)

dissolvidos em tampão citrato 0,1 M e fosfato de sódio 0,2 M pH = 5,5. A reação foi então

bloqueada com 50 μl/poço ácido cítrico 0,2 M e a leitura realizada em leitor de ELISA (BIO

RAD modelo 2550) em comprimento de onda de 405nm.

As quantidades de citocinas nos sobrenadantes são calculadas a partir de curvas

padrão, obtidas com concentrações de 0,625 a 10ng/ml de rINF-, 0,625 a 10ng/ml de rIL-4 e

0,625 a 10ng/ml de rIL-10. Os resultados são apresentados com as médias aritméticas das

dosagens de culturas em duplicatas de 5-8 animais por subgrupo ± erro padrão.

4.8.3 Dosagem de Óxido nítrico

Os níveis de óxido nítrico nas culturas de células esplênicas foram realizados através

da dosagem de nitrito pela reação de Griess. 50µL de amostras ou padrão (NaNO2-251-4

Sigma Chemical, St. Luis, Mo, USA) foram colocados em placas de vinil (2595, Costar),

diluídas em meio RPMI 1640 (Cultilab) com 5% de SBF. Em seguida, adicionado o reagente

de GRIESS (1% sulfanilamida, 0.1% naftiletilenodiamina e 3% H3PO4). A quantidade de NO

é calcalculado a partir de curva padrão obtidas com concentração de 1,65 a 50µ μM. A leitura

foi realizada a 540nm em leitor de ELISA. Os resultados são expressos como as médias

aritméticas das dosagens de culturas em duplicatas de 5-8 animais por subgrupo ± erro padrão

(GREEN et. al. 1982).

5 Análise estatística

Para comparação dos diferentes grupos, foi empregada a análise de variância

(ANOVA). Quando a ANOVA revelou diferença significativa, foi utilizado o teste de Tukey

para identificar as diferenças entre os grupos. A significância estatística foi considerada,

admitindo-se um nível crítico de 5%, em todos os casos.

Page 54: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

54

6 Considerações éticas

Os procedimentos descritos para a utilização experimental dos animais foram

aprovados pela Comissão de Ética em Experimentação Animal do Centro de Ciências

Biológicas da Universidade Federal de Pernambuco (CEEA-UFPE). Os critérios de avaliação

e julgamento pela CEEA-UFPE são de acordo com as normas sugeridas pelo Colégio

Brasileiro para Experimentação Animal, e com as normas internacionais estabelecidas pelo

National Institute of Health Guide for Care and Use of Laboratory Animals.

Page 55: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

55

ARTIGO

“O pessimista se queixa do vento,

o otimista espera que ele mude e o realista ajusta as velas.”

William Ward

Page 56: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

56

ARTIGO ORIGINAL

EFEITO IMUNOPATOLOGICO DO TRATAMENTO DA N-ACETILCISTEINA NA

ESQUISTOSSOMOSE MANSONI EXPERIMENTAL

André de Lima Aires1

Renata Alexandre Ramos Silva1

Giuliana Viegas Schirato2

Nicodemos Teles de Pontes Filho3

Sidcley Bernardino de Araújo4

Valdênia Maria Oliveira Souza1

Vlaudia Maria Assis Costa1,

Mônica Camelo P. A. Albuquerque1

Elizabeth Malagueño de Santana1*

.

1Laboratório de imunologia de Doenças Parasitárias e de esquistossomose Experimental do Laboratório de

Imunopatologia Keizo Asami da Universidade Federal de Pernambuco (LIKA/UFPE), Recife, Pernambuco,

Brazil.

2Biotério do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz – CpqAM - Brasil

3Departamento de Patologia do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco e

Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami da (LIKA/UFPE), Recife, Pernambuco, Brazil.

4Departamento de Patologia do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco

*Endereço para correspondência:

Elizabeth Malagueño de Santana

Campus Universitário, Cidade Universitária, Recife-PE-Brasil. CEP: 50670-901

E-mail: [email protected] e/ou [email protected]

Page 57: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

57

RESUMO

A N-acetilcisteína (NAC) atenua danos em hepatopatias crônicas, efeitos atribuídos as suas

propriedades antiinflamatórias, antioxidantes e desintoxicante hepático. Assim, investigamos

a ação da NAC e/ou Praziquantel (PZQ) na imunopatologia da esquistossomose mansoni

experimental. Três grupos experimentais foram formados, os quais corresponderam às fases

aguda, intermediária e crônica da infecção. Cada grupo foi formado por 4 sub-grupos de

acordo com o esquema terapêutico: Controle, NAC, PZQ e NAC+PZQ. A intervenção com a

NAC, 200mg/Kg/dia, via oral, na fase aguda teve inicio no dia subsequente a infecção com

duração de 59 dias consecutivos. Nas fases intermediária e crônica, a NAC foi administrada a

partir do 45º dia após a infecção e manteve-se durante 45 e 75 dias respectivamente. O PZQ,

100mg/Kg/dia, via oral, foi administrado do 45° ao 49º dia após a infecção. Os animais foram

mortos aos 60, 90, e 120 dias após a infecção correspondendo às fases aguda intermediária e

crônica da infecção, respectivamente. A NAC modulou negativamente a sínteses de INF-γ e

NO e positivamente IL-10, entretanto não influenciou a produção de IL-4. Na análise

histopatológica de tecido hepático sugere que os granulomas esquistossomóticos variaram em

composição e organização celular de acordo com o tempo de infecção e esquema terapêutico.

Os animais tratados com a NAC e/ou PZQ apresentaram redução significativa no tamanho dos

granulomas hepáticos e aqueles tratados com NAC apresentaram menor grau de fibrose.

Concluímos que a NAC neste modelo experimental modulou a resposta imune, atenuando o

dano tecidual hepático em camundongos infectados pelo S. mansoni.

Palavras-chaves: Schistosoma mansoni, N-acetilcisteína, Praziquantel e fisiopatologia

granulomatosa.

Page 58: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

58

1 INTRODUÇÃO

A esquistossomose é uma infecção parasitária produzida por espécies de helmintos

trematódeos do gênero Schistosoma com ampla distribuição mundial. Presente em 76 países e

territórios, aproximadamente 300 milhões de pessoas encontram-se infectadas e, destas, cerca

de 20 milhões desenvolvem sérias complicações crônicas, resultando em aproximadamente

500.000 mortes por ano (Chitsulo 2000; Bina; Prata, 2003; Blanchard, 2004, Chirakalwasan,

2006).

A inexistência de vacinas e de ações eficazes em saúde pública faz da quimioterapia o

recurso imediato para minimizar a prevalência e incidência da esquistossomose. O

praziquantel é o único fármaco para o tratamento da esquistossomose por atuar sobre todas as

espécies de Schistosoma com importância em saúde pública, com cura parasitológica de 80 a

90% (Botros et al. 2005, Walter et al. 2006). Contudo, um dos grandes problemas na terapia

da esquistossomose diz respeito a inexistência de tratamento para fibrose hepática. Não há

ainda uma droga eficaz, embora muitas tenham sido ensaiadas (Arthur, 2002, Friedman,

2003). Este quadro, não apenas justifica, mas aponta a necessidade de planejamento,

desenvolvimento e pesquisas com fármacos que apresentem propriedades hepatoprotetoras ou

que possam modular a formação granulomatosa esquistossomótica.

A N-acetilcisteína (NAC) por apresentar propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes

e desintoxicantes sobre o tecido hepático, inibi o dano tecidual causado pelo estresse

oxidativo em humanos e animais experimentais (Kelly, 1998; Zafarullah et al., 2003). O

tratamento com antioxidantes, inclusive a NAC tem mostrado atenuar fibrose intersticial em

vários processos patológicos (Poli e Parola, 1997; Zafarullah et al., 2003). Por estas

propriedades, a NAC tem sido a droga de escolha para o tratamento da insuficiência hepática

induzida por paracetamol (Hardman, Limbird e Gilman; 2001). Lauz e colaboradores (2004)

concluíram que a NAC previne a lise celular e mantém a função hepática diante da isquemia e

reperfusão que o órgão é submetido no ato operatório em modelo experimental.

A N-acetilcisteína (NAC) é um tiol de baixo peso molecular, composto precursor da

L-cisteína e glutationa reduzida nas células. É uma fonte de grupos sulfidril e removedores de

substâncias reativas como OH e H2O2 geradas pela reação dos peroxinitritos, com NO e

superóxido (Zafarullah, 2003, Pinho et al., 2005). É uma droga bem absorvida e rapidamente

metabolizada, somente cerca de 10% da amostra ingerida permanece na circulação por um

tempo razoável, sendo a maior parte da droga consumida na produção de glutationa

Page 59: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

59

intracelular, em um extenso metabolismo de primeira passagem no fígado (Vincenzini et al.,

1998).

Diante do que foi exposto e considerando as propriedades farmacológicas da NAC sob

a função hepática e sendo a esquistossomose mansoni uma patologia com extensas alterações

hepáticas, propomos neste trabalho, investigar os efeitos deste fármaco na modulação

granulomatosa esquistossomótica e imunológica em camundongos infectados pelo S. mansoni

em diferentes fases de infecção (agudo, intermediário e crônico), podendo assim contribuir

junto à terapia convencional do Praziquantel na melhora da morbidade na esquistossomose.

2 Operacionalização da Pesquisa

2.1 Animais, infecção e considerações éticas

Foram utilizados camundongos fêmeas, Swiss Webster, pesando entre 28-30 gramas,

com 28 dias de idade, mantidos no biotério do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami

da Universidade Federal de Pernambuco (LIKA-UFPE) de acordo com condições

padronizadas de criação. Para a infecção dos camundongos foi utilizada a cepa de

Schistosoma mansoni, Belo Horizonte – Minas Gerais (BH), mantida pelo Laboratório de

Imunologia de Doenças Parasitárias e de Esquistossomose Experimental – LIKA - UFPE,

através de passagens sucessivas da cepa em caramujos da espécie Biomphalaria glabrata.

Após obtenção de suspensão cercariana, os camundongos foram infectados via percutânea

com 50 cercárias (Olivier and Stirewalt, 1952). Todo procedimento experimental foi aprovado

pela Comissão de Ética em Experimentação Animal (CEEA/UFPE) (processo numero

23076.021878/2008-66).

2.2 Formação dos grupos experimentais e esquema terapêutico com NAC e/ou PZQ

Estudos indicam que a fase crônica da infecção esquistossomótica em camundongos é

estabelecida a partir da 12ª semana após a infecção (Fallon, 2000a; Pearce and Mcdonald,

2002), entretanto a fibrose hepática periportal começa a esboçar-se a partir da 16ª semana

(Andrade and Cheever, 1993; Coutinho et al., 2007). Para o presente estudo, foi estabelecido

que o tempo decorrido entre o tempo de infecção e eutanásia fosse de 60 (G1), 90 (G2) e 120

(G3) dias, para avaliação das fases aguda, intermediária e crônica, respectivamente.

Page 60: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

60

Os camundongos foram divididos em três grupos experimentais de acordo com o

tempo de intervenção terapêutica e eutanásia. Cada grupo experimental foi formado por 4

subgrupos com 9 animais cada de acordo com o quadro abaixo:

QUADRO 1 Definição dos grupos e subgrupos experimentais e esquema terapêutico com a

N-acetilcisteina (NAC) e Praziquantel (PZQ).

Grupos

experimentais

Subgrupos

experimentais

Esquema terapêutico

NAC

200mg/Kg/dia

PZQ

100mg/Kg/dia

Grupo 1 (G1)

Fase aguda

Controle Administrada do dia

subsequente à infecção

até o 60º diaa.

Administrado do 45º

dia após a infecção

até o 49º dia

NAC

PZQ

NAC+PZQ

Grupo 2 (G2)

Fase

intermediária

Controle Administrado do 45º

dia após a infecção até

o 90º diaa.

Administrado do 45º

dia após a infecção

até o 49º dia

NAC

PZQ

NAC+PZQ

Grupo 3 (G3)

Fase crônica

Controle Administrado do 45º dia

após a infecção até 120º

diaa.

Administrado do 45º

dia após a infecção

até o 49º dia.

NAC

PZQ

NAC+PZQ aO término do tratamento corresponde ao dia da eutanásia.

O tratamento com a NAC na concentração de 200mg/Kg/dia foi baseado nos trabalhos

de Jones AL e colaboradores (1994) e Yang e colaboradores (1998) envolvendo estudos com

humanos e com animais cirróticos e de Fan e colaboradores (2007) ao estudar o efeito da

NAC na infecção experimental pelo S. japonicum. O esquema terapêutico adotado com o

praziquantel teve por objetivo alcançar a cura parasitológica, desta forma interferindo na

postura diária dos ovos considerado potencial fator fibrogênico. Assim buscamos a

uniformidade do quadro fisiopatológico dos granulomas já instalados podendo mensurar com

maior fidedignidade a ação da NAC como fármaco adjuvante no tratamento da

esquistossomose após terapia especifica.

A NAC (Sigma) foi diluída em solução salina e o PZQ (Sigma) foi suspendido em

Cremophor EL a 2%, ambos administrados por tubagem esofágica. Os animais dos subgrupos

controle, livre de NAC e/ou PZQ, foram submetidos as mesmas condições que os demais

Page 61: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

61

subgrupos experimentais. Decorrido o tempo de tratamento de cada grupo, os animais foram

eutanasiados por deslocamento cervical (Martinez et al., 2003).

2.3 Estudo parasitológico

2.4 Recuperação dos vermes

Os vermes foram recuperados por meio da perfusão do sistema venoso portal e veias

mesentéricas de acordo com a técnica Pellegrino e Siqueira (1956) e Duvall e De Witt (1967).

Ao final foi realizada a quantificação dos vermes adultos machos e fêmeas.

2.5 Oograma

Fragmentos intestinais dos animais foram empregados para a avaliação do padrão de

ovoposição através da técnica do oograma. Os ovos encontrados foram contados e

classificados em seus diferentes estágios de desenvolvimento e ovos mortos, segundo critérios

propostos por Pellegrino e colaboradores (1962).

2.6 Estudo histopatológico e morfométrico de tecido hepático

Fragmentos de fígado de cada animal foram fixados em formaldeído a 10%

tamponado em PBS e processados para inclusão em parafina. Posteriormente, realizado cortes

histológicos de 5µm de espessura. Para cada amostra de tecido hepático foram confeccionadas

três laminas histológicas, coradas pelas técnicas de hematoxilina-eosina (HE), picrosirius-red

(PR) e tricrômico de Masson (TM) (Junqueira; Bignolos and Brentani, 1979). Para a análise

do infiltrado inflamatório foram utilizadas as amostras coradas pela técnica de HE. As

colorações de PR e TM foram empregadas para a determinação do grau de fibrose

(classificados em: leve, moderado e intenso, de acordo com o arranjo das fibras de colágeno e

a deposição desta proteína no tecido hepático), mensuração do diâmetro médio dos

granulomas viáveis (com ovo, ou vestígio de ovo central) e do número médio de granulomas

capturados em cinco campos aleatórios (área total de campo = 12.234 μm2, área total

visualizada = 61.170μm2) em amostras histológicas de cada animal por subgrupo. Para

obtenção das imagens das amostras foi utilizado microscópio óptico acoplado a câmera digital

Page 62: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

62

e sistema computadorizado com linguagem orientada para leitura de imagem pelo software

Motic Images Plus 2.0 ML®.

2.7 Cultura de células esplênicas

Após término da terapia experimental de cada grupo, os baços dos camundongos

foram retirados de maneira asséptica, e colocados em meio RPMI 1640 para transporte. Em

fluxo laminar os mesmos foram macerados em placas de Petri junto ao meio RPMI 1640

(Sigma Chemical, St. Louis, Mo., USA) complementado com HEPES (10mM), 2-

mercaptoetanol (0,05mM) 216mg de L-glutamina e antibiótico gentamicina 50mg/L e

posteriormente levados à centrifugação a 4°C por 10 minutos, a 1500 rpm.

Após este procedimento as hemácias foram lisadas pela adição de água estéril ao

precipitado por 18 segundos (1mL/baço). Posteriormente as células foram ressuspendidas em

meio RPMI complementado e mantidas refrigeradas durante cinco minutos para a formação

de grumos. O sobrenadante foi então transferido para outro tubo de ensaio para a realização

de uma nova centrifugação a 4°C por 10 minutos, a 1500 rpm. e o precipitado foi

ressuspendido em meio RPMI suplementado com 10% de Soro Bovino Fetal (Sigma

Chemical, St. Louis, Mo., USA)

As células foram contadas e avaliadas quanto à viabilidade diluindo-se a suspensão em

Azul de Trypan 0,2%. (1:10) e contando as células em câmara de Newbauer. As células

ressuspendidas foram cultivadas em placas de 48 poços nunca concentração de 5x106

células/mL estimuladas por na SEA (20μg/mL). As placas foram incubadas a 37ºC, a 5% de

CO2 e após 24h e 72h coletado os sobrenadantes para posterior análise da produção das

citocinas IL-4, IL-10, INF- γ e Oxido nítrico.

2.7.1 Dosagem de Nitrito

O acúmulo de Nitrito (NO2-) em sobrenadantes de cultura de células de 72 h foi usado

como indicador de produção de NO, determinado pela reação de Griess. Nitrite de sódio foi

utilizado como padrão (1,56 a 50 μM). 50 μL de sobrenadante foi incubado 10 min, ao abrigo

da luz, a temperatura ambiente com 50μL de reagente de Griess (N-[1-naphthyl]-

ethylenediamine (1mg/mL), sulfanilamide (10 mg/mL), e 5% ácido fosfórico em água

destilada. A absorbância foi medida a 540 nm em leitor de ELISA.

Page 63: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

63

2.7.2 Dosagem de Citocinas

Os níveis das citocinas IL-4, IL-10 e INF- γ no sobrenadante das células esplênicas

foram determinados por ELISA sanduiche (Enzyme linked immunosorbent assay). A

produção das citocinas foi determinada utilizando pares de anticorpos e citocina recombinante

da BD seguindo as instruções do fabricante: anti-IL4 (11B11 a 4g/ml) e anti-IL4 biotinilado

(BVD6.24G2, a 1g/ml), anti-IL10 (C252-2A5, a 8g/ml); anti-IL10 biotinilado (SXC1, a

2g/ml)) e anti-INF (XMG 1.2, a 4g/ml) anti-INF biotinilado N18, a 2g/ml). A reação

foi incubada com streptavidin-peroxidase (Sigma) e revelada utilizando ABTS [(2,2’-azinobis

(3-ethylbenzthiazoline-6-sulfonic acid)] (Sigma Chemical, St. Louis, MO, USA). A leitura foi

determinada a 405 nm. Os resultados são apresentados como as médias aritméticas das

dosagens de culturas em duplicatas de 5-8 animais por subgrupo ± erro padrão.

2.8 Análise Estatística

Foi utilizado o programa GraphPad Prism 3.02 e aplicado o teste de Tukey para

comparar diferenças entre os grupos e subgrupos com nível de significância de 5% (p< 0,05)

para todos os casos.

3 RESULTADOS

3.1 Análise parasitológica

Na tabela 1 encontram-se os dados referente a recuperação de vermes e o padrão de

ovoposição de camundongos infectados pelo S. mansoni, tratados ou não tratados com N-

acetilcisteína e/ou Praziquantel. Em todos os grupos, os subgrupos Controle e NAC não

apresentaram diferença significativa no número de vermes adultos. Entretanto, os subgrupos

PZQ e NAC+PZQ nenhum verme foi recuperado atingindo, portanto 100% de eficácia

terapêutica. O padrão de ovoposição mostrou-se normal, não havendo diferença significativa

entre os subgrupos Controle e NAC nos diferentes tempos de tratamento. Entretanto, nos

subgrupos PZQ e NAC+PZQ o oograma apresentou alteração.

Page 64: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

64

Tabela 01 - Vermes adultos de S. mansoni recuperados pela técnica de perfusão do fígado e

veias mesentéricas e oograma em camundongos tratados com N-acetilcisteína e/ou Praziquantel

em diferentes fases de infecção.

Grupos

Experimentais

Média de vermes adultos

recuperados % de

redução

de

vermes

% de ovos por estádios de

desenvolvimento

Machos Fêmeas Total Imaturos Maduros Inviáveis

G1-60 dias Subgrupos (n=9)

Controle 11,0±2,23 8,0±1,12 19,0±3,28 - 58,12±2,0 33,14±2,2 8,74±0,81

NAC 6,75±0,75 6,25±0,94 13,0±1,68 31,58 59,34±2,35 32,96±2,58 7,69±0,67 PZQ 0,0±0,0

0,0±0,0

0,0±0,0

100,0 0,0±0,0

9,7±1,26

90,3±1,26

NAC+PZQ 0,0±0,0

0,0±0,0

0,0±0,0

100,0 0,0±0,0

17,38±3,17

82,63±3,17

G2-90 dias

Subgrupos (n=9)

Controle 9,8±0,73 7,0±0,89 16,8±0,73 - 49,95±2,91 42,23±2,46 7,824±0,67

NAC 10,5±0,5 6,75±1,1 17,25±1,1 - 51,46±2,47 38,06±1,8 10,48±0,92

PZQ 0,0±0,0

0,0±0,0

0,0±0,0

100,0 0,0±0,0

0,0±0,0

0,0±0,0

NAC+PZQ 0,0±0,0

0,0±0,0

0,0±0,0

100,0 0,0±0,0

0,0±0,0

0,0±0,0

G3-120 dias

Subgrupos (n=9)

Controle 9,75±0,75 6,25±1,54 16,0±1,08 - 51,6±2,12 38,06±1,18 10,34±1,09

NAC 11,2±1,74 8,8±1,49 20,0±3,03 - 53,63±3,3 33,89±2,5 12,49±1,42

PZQ 0,0±0,0

0,0±0,0

0,0±0,0

100,0 0,0±0,0

0,0±0,0

0,0±0,0

NAC+PZQ 0,0±0,0

0,0±0,0

0,0±0,0

100,0 0,0±0,0

0,0±0,0

0,0±0,0

Notas: Valores expressos em média ± erro padrão

3.2 Análise histopatológica

3.2.1 Fase aguda – 60 dias

Nos subgrupos G1-Controle e G1-NAC foram visualizados no tecido hepático,

granulomas periovulares do tipo exsudativo, caracterizados por intenso infiltrado inflamatório

composto por polimorfonucleares eosinófilos e neutrófilos, além de escassos macrófagos e

linfócitos circundando ovo central em degeneração (figura 7A), sendo distribuídos

predominantemente de modo isolado nos pequenos e grandes espaços-porta. Os subgrupos

G1-PZQ e G1-NAC+PZQ apresentaram granulomas periovulares exsudativos, alguns em

conglomerados devido a coalescência desses granulomas nos espaços-porta, exibindo, alguns

animais, necrose coagulativa central (figura 7B) e focos isolados de hepatite reacional

Page 65: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

65

eosinofílica difusa visualizados nos médios e grandes espaços-porta. Ademais, e em todos os

subgrupos a cápsula hepática encontrava-se íntegra.

3.2.2 Fase intermediária- 90 dias

Aos 90 dias após a infecção, independente do esquema terapêutico empregado, as amostras de

tecido hepático exibiram granulomas periovulares, distribuídos nos espaços-porta

isoladamente ou em coalescência, predominantemente do tipo produtivo com margens bem-

delimitadas, sendo compostos por macrófagos e alguns linfócitos dispostos em proximidade

ao ovo ou vestígio de ovo central, além de escassos eosinófilos (figuras 7C e 7D). Em alguns

campos microscópicos, foram visualizados granulomas caracteristicamente exsudativos nos

animais dos subgrupos G2-Controle e G2-NAC. Adicionalmente, a cápsula hepática

encontrava-se íntegra e grande quantidade de pigmentação pardo-amarelada, compatível com

pigmento esquistossomótico, foi visualizada nos espaços-porta e no parênquima hepático

(figura 7D).

3.2.3 Fase crônica – 120 dias

Após 120 dias de infecção, as análises histopatológica do tecido hepático dos animais

avaliados apresentaram diferenças consideráveis entre os subgrupos experimentais. Nos

subgrupos G3-Controle e G3-NAC, os granulomas esquistossomóticos foram, em sua

maioria, do tipo produtivo, dispondo-se nos espaços-porta e no parênquima hepático de forma

coalescente ou isolada (figura 7E), exibindo em algumas áreas extenso comprometimento

periportal, decorrente da grande deposição de ovos, ocasionando aumento da vascularização,

hiperplasia de ductos bilíferos e intenso infiltrado inflamatório crônico (fibrose hepática

periportal murina) (figura 7G). Ainda nestes grupos, visualizou-se grande acúmulo de

pigmento esquistossomótico nos espaços-porta e a cápsula hepática encontrava-se íntegra,

embora em alguns animais tenha sido visualizado significativo abaulamento da superfície

externa do fígado devido ao crescimento periférico dos granulomas. Os subgrupos G3-PZQ e

G3-NAC+PZQ apresentavam em sua maioria granulomas do tipo produtivo com evolução

para cicatrização fibrótica, distribuídos isoladamente ou em coalescência nos espaços-porta

(figura 7F).

Page 66: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

66

Figura 7 – Fotomicrografias de tecido hepático de camundongos esquistossomóticos nas fases aguda (A e B),

intermediária (C e D) e crônica (E, F e G) da infecção pelo S. mansoni (H.E). A – G1-NAC – granuloma

periovular exsudativo com intenso infiltrado inflamatório composto por neutrófilos e escassos macrófagos e

linfócitos circundando o ovo central em degeneração (400x); B – G1-NAC+PZQ – necrose coagulativa central

em granuloma periovular (200x); C – G2-Controle – granuloma esquistossomótico produtivo de margem bem-

delimitada, composto por macrófagos, linfócitos e escassos eosinófilos (400x); D – G2-NAC+PZQ – granuloma

periovular produtivo apresentando menor tamanho que o da figura C e deposição de pigmento esquistossomótico

(seta) (400x); E – G3-NAC – granulomas periovulares isolados ou coalescente (100x); F – G3-NAC+PZQ –

granulomas isolados e nódulos fibróticos exibindo menor tamanho que os observados na figura E (100x); G –

G3-Controle – extensa fibrose proeminente vascularização e hiperplasia dos ductos biliares entre espaços-porta

(fibrose periportal murina (400x).

Page 67: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

67

3.3 Análise morfométrica dos granulomas esquistossomóticos

De acordo com a tabela 2 o esquema terapêutico e o tempo decorrido após a infecção

(60, 90 e 120 dias) são fatores que influenciaram na redução do número e no tamanho do

diâmetro médio dos granulomas hepáticos esquistossomóticos.

O número médio dos granulomas em todos os tempos de infecção apresentou

diferença significativa (p < 0.001) entre os subgrupos Controle e NAC quando comparados

aos subgrupos PZQ e NAC+PZQ, com redução percentual variando entre 71,09% (G1-PZQ) e

94,07% (G3-NAC+PZQ) (tabela 2). Entretanto, o subgrupo G1-NAC apresentou redução

percentual no número médio dos granulomas de 43,64%. Porém, tal redução pode ser

justificada pela menor carga parasitária encontrada neste subgrupo (tabela 2).

Com relação ao diâmetro médio dos granulomas esquistossomóticos na fase aguda da

infecção, foi visualizada discreta redução entre os subgrupos G1-NAC e G1-PZQ quando

comparados ao G1-Controle. Apenas o subgrupo G1-NAC+PZQ apresentou diferença

significativa (p < 0.001) quando comparado ao seu respectivo controle (tabela 02). Entretanto,

a análise intragrupo das fases intermediária (G2) e crônica (G3) da infecção, mostrou redução

significativa (p < 0.001) no diâmetro dos granulomas entre todos os subgrupos experimentais

quando comparados ao subgrupo controle. Adicionalmente, a análise intergrupo mostrou que

mesmo havendo uma modulação natural no diâmetro médio do granuloma no decorre da

infecção, o tratamento com NAC e/ou PZQ incrementam de forma significativa essa

modulação, especialmente nos subgrupos G2 (tabela 2 e Figura 7D).

Page 68: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

68

Tabela 2 Número e diâmetro médio de granulomas esquistossomóticos em tecido hepático de camundongos infectados pelo S. mansoni e tratados com N-acetilcisteína (NAC) e/ou Praziquantel

(PZQ) em diferentes fases de infecção.

Grupos

experimentais

Granulomas esquistossomóticos

Número

médio*

% de

redução

Diâmetro

médio**(µm)

% de

Redução

G1-60 dias

Subgrupos (n=9)

Controle 10,38±1,29 - 340,1±7,73 -

NAC 5,85±0,55a

43,64 312,0±14,91 8,26

PZQ 3,0±0,63a

71,09 321,1±12,64 5,58

NAC+PZQ 1,87±0,35a

81,98 293,0±5,08a

13,84

G2-90 dias

Subgrupos (n=9)

Controle 13,71±1,71 - 295,1±7,26b

-

NAC 11,13±1,59 18,81 184,1±4,56a,c

37,61

PZQ 1,22±0,46a

91,10 176,1±11,62a,d

40,32

NAC+PZQ 1,25±0,36a

90,88 163,8±7,34a,e

44,49

G3-120 dias

Subgrupos (n=9)

Controle 13,0±1,94 - 249,7±11,72b

-

NAC 12,4±1,69 4,61 160,6±6,6a,c

35,68

PZQ 1,37±0,37a

89,46 170,7±12,67a,d

31,63

NAC+PZQ 0,77±0,27a

94,07 154,2±6,4a,e

38,24

Notas: Valores expressos em média ± erro padrão

* Número de granulomas em cinco campos aleatórios.

** Diâmetro do granuloma em cinco campos aleatórios. a diferença significativa intragrupo com o subgrupo controle (p < 0.001). b diferença significativa intergrupo com o subgrupo G1-veículo (p < 0.001). c diferença significativa intergrupo com o subgrupo G1-NAC (p < 0.001). d diferença significativa intergrupo com o subgrupo G1-PZQ (p < 0.001). e diferença significativa intergrupo com o subgrupo G1-NAC+PZQ (p < 0.001).

3.4 Análise do grau de fibrose nos granulomas esquistossomóticos

A tabela 3 mostra a distribuição do grau de fibrose nos granulomas esquistossomóticos

em tecido hepático em diferentes fases da infecção. Na fase aguda, foi evidenciado leve grau

de deposição de fibras colágenas, delicadas, irregulares, fragmentadas, frouxamente

organizadas e distribuídas de forma concêntrica no perímetro dos granulomas

esquistossomóticos, em todos os subgrupos estudados (figura 8 A e B). Na fase intermediária

da infecção, o grau de deposição de fibras colágenas variou de acordo com os subgrupos

Page 69: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

69

estudados. O subgrupo G2-Controle apresentou 66.6% das amostras de tecido hepático

classificadas com grau de fibrose moderado, sendo visualizada moderada deposição de fibras

colágeno, definidas e organizadas com feixes mais densos e de coloração mais intensa que o

grau leve (figura 8 B e C). No subgrupo G2-PZQ 5 das 9 (55%) amostras de tecido hepático

foram classificados como intensa deposição de colágeno, sendo visualizada fibras colágenas

compactadas e densamente distribuídas de forma periférica e central ao granuloma

esquistossomótico e intensa coloração em azul pelo Tricromico de Masson e vermelho pelo

picrosiruis red (figura 8C e D). Por outro lado, os subgrupos G2-NAC e G2-NAC+PZQ

apresentaram 77.7% das amostras histológicas classificados como grau leve no depósito de

colágeno. Na fase crônica da infecção, observou-se que o grau de fibrose foi de moderado a

intenso no subgrupo G3-Controle (44.4%), intenso no G3-PZQ (66.6%) e eleve no G3-NAC

(55.5%), de leve a moderado no subgrupo G3-NAC+PZQ (44.4%).

Tabela 3 Distribuição do grau de fibrose nos granulomas esquistossomóticos em tecido

hepático de camundongos infectados pelo S. mansoni em diferentes fases da infecção e

tratados com N-aceitlcisteína (NAC) e/ou Praziquantel (PZQ).

Grupos

experimentais

Grau de fibrose

Leve

n (%)

Moderado

n (%)

Intenso

n (%)

G1-60 dias Subgrupos (n=9)

Controle 8/9 (88.8) 1/9 (11.1) -

NAC 8/9 (88.8) - 1/9 (11.1)

PZQ 8/9(88.8) 1/9 (11.1) -

NAC+PZQ 6/9(66.6) 2/9 (22.2) 1/9 (11.1)

G2-90 dias Subgrupos (n=9)

Controle 3/9 (33.3) 6/9 (66.6) -

NAC 7/9 (77.7) 1/9 (11.1) 1/9 (11.1)

PZQ 1/9 (11.1) 3/9 (33.3) 5/9 (55.5)

NAC+PZQ 7/9(77.7) 2/9 (22.2) -

G3-120 dias Subgrupos (n=9)

Controle 1/9 (11.1) 4/9 (44.4) 4/9 (44.4)

NAC 5/9 (55.5) 2/9 (22.2) 2/9 (22.2)

PZQ 2/9 (22.2) 1/9 (11.1) 6/9 (66.6)

NAC+PZQ 4/9 (44.4) 4/9 (44.4) 1/9 (11.1)

Page 70: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

70

Figura 8 – Fotomicrografias de tecido hepático de camundongos infectados pelo S. mansoni

empregadas para a classificação do grau de fibrose definida através das colorações

histoquímicas de tricrômico de Masson (lado direito) e picrosirius-red (lado esquerdo), segundo

critérios adotados para as análises histopatológicas. A e B - G1-NAC - leve grau de deposição

de fibras colágenas, delicadas, irregulares, fragmentadas, frouxamente organizadas e

distribuídas de forma concêntrica no perímetro dos granulomas esquistossomóticos (400x); C e

D – G2 – Controle - moderada deposição de fibras colágeno (400x); E e F – G2-PZQ - intensa

deposição de colágeno, sendo visualizada fibras colágenas compactadas e densamente

distribuídas de forma periférica e central ao granuloma esquistossomótico (400X).

Page 71: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

71

3.5 Níveis de Citocinas e Óxido Nítrico

Na figura 9 encontram-se expressos os níveis de IL-4, IL-10, NO e INF das culturas

de células esplênicas estimuladas por antígeno solúvel de ovos de S. mansoni.

Em todas as fases da infecção os níveis de IL-4 nos subgrupos NAC foram

semelhantes ao respectivo Controle, mostrando assim que para este modelo experimental a

NAC não exerce influência sobre os níveis desta citocina. Por outro lado, nos subgrupos PZQ

aos 60 e 90 dias após a infecção, ocorreu redução significativa (p<0,001) nos níveis de IL-4.

Entretanto, aos 120 após a infecção níveis mais elevados de IL-4 são produzidos neste

subgrupo (figura 9A).

Com relação a citocina IL-10 foi observada diferença no perfil de resposta dependendo

do tempo de infecção e esquema terapêutico. Aos 60 dias após a infecção os níveis de IL-10

mostraram-se reduzidos em todos os subgrupos estudados (figura 9B). Entretanto, 90 dias

após a infecção ocorreu aumento significativo (p<0,001) da IL-10 nos subgrupos NAC e

NAC+PZQ. Ao passo que, aos 120 dias após a infecção os níveis desta citocina foram

semelhantes ao controle nestes subgrupos. Adicionalmente, os animais tratados com o PZQ

apresentaram uma inversão nos níveis de IL-10, sendo esta negativa aos 90 dias e positiva aos

120 dias após a infecção (figura 9B).

Os animais tratados com NAC e NAC+PZQ apresentaram redução na síntese de NO

em todas as fases de infecção, por outro lado os animais tratados com PZQ apresentaram

níveis semelhantes ao controle (figura 9C). Com relação aos níveis de INF- os subgrupos

tratados com NAC apresentaram redução em todos os tempos de infecção (figura 9D). Por

outro lado, nos animais tratados com PZQ foram observados aumento de INF- aos 60 dias

após a infecção, redução aos 90 e níveis semelhantes ao controle aos 120 dias após a infecção.

Page 72: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

72

.

* *

* *

*

*

*

* *

*

*

*

*

*

B

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

Con

trole

NAC

PZQ

NAC

+PZQ

Con

trole

NAC

PZQ

NAC

+PZQ

Con

trole

NAC

PZQ

NAC

+PZQ

IL-1

0 (

pg

/mL

)

90 DIAS 120 DIAS60 DIAS

**

*

0

20

40

60

80

100

120

140

Contro

leNAC

PZQ

NAC

+PZQ

Contro

leNAC

PZQ

NAC

+PZQ

Contro

leNAC

PZQ

NAC

+PZQ

IL-4

(p

g/m

L)

60 DIAS 90 DIAS 120 DIAS

A

*

*

*

*

D

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

Con

trole

NAC

PZQ

NAC

+PZQ

Con

trole

NAC

PZQ

NAC

+PZQ

Con

trole

NAC

PZQ

NAC

+PZQ

IFN

gam

a (

pg/m

L)

60 dias 120 dias90 dias

*

* *

**

C

0

10

20

30

40

50

60

Con

trole

NAC

PZQ

NAC+P

ZQ

Con

trole

NAC

PZQ

NAC+P

ZQ

Con

trole

NAC

PZQ

NAC+P

ZQ

Ó

xid

o n

ítrico (M

)

60 DIAS 90 DIAS 120 DIAS

**

**

Figura 9 Níveis de IL4, (A) IL-10

(B), NO (C) e IFN- (D) secretados

por células esplênicas de

camundongos infectados pelo S.

mansoni tratados com N-

acetilcisteína (NAC) e/ou

Praziquantel (PZQ), eutanasiados

aos 60, 90 e 120 dias após a

infecção. As células foram estimulas

por antígeno solúvel de ovos de S.

mansoni (SEA). Os resultados estão

expressos em média das culturas em

duplicatas de 5-8 animais por

subgrupo ± erro padrão.

*p < 0,001 comparado ao subgrupo

controle.

Page 73: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

73

4 DISCUSSÃO

A quimioterapia com o Praziquantel (PZQ) tem se mostrado eficaz na redução da

morbidade e mortalidade esquistossomótica (Ferrari et al., 2003; Doenhoff and Pica-

Mattoccia, 2006). Na atualidade o PZQ é o único fármaco responsável por essa ação, sendo

altamente eficaz contra todas as espécies de Schistosoma com importância em saúde pública.

Mesmo assim, a investigação e desenvolvimento de novas drogas esquistossomicidas é uma

necessidade premente (Albuquerque et al, 2005; Albuquerque et al. 2007; Magalhães et al.

2009; Abdul-Ghani et al. 2009; Magalhes et al. 2010).

Na terapia experimental da esquistossomose mansoni em camundongos a cura

parasitológica com o PZQ esta na dependência do tempo da infecção, do sexo dos vermes, se

estes estão ou não pareados, da dose e da cepa do parasito (You-Sheng et al., 2001; CIOLI;

PICA-MATTOCCIA, 2004). No presente estudo, a dose de 100 mg/Kg/dia de PZQ

administrada durante cinco dias consecutivos, entre o 45º e 49º dias após a infecção conferiu

cura parasitológica de 100% em todos os subgrupos onde o PZQ fazia parte do esquema

terapêutico. Este resultado é semelhante ao de Drescher e colaboradores (1993), cuja

sensibilidade da cepa BH de S. mansoni frente ao PZQ apresentou eficácia de 99,4% com a

dose de 100mg/kg por cinco dias.

Com a descoberta do PZQ e a ocorrência da esquistossomose exclusivamente em

países em desenvolvimento, a indústria farmacêutica pouco tem investido em novas

tecnologias para o desenvolvimento de novos fármacos esquistossomicidas, bem como

drogas capazes de atuarem sobre as alterações fisiopatológicas na esquistossomose.

Na clínica a N-acetilcisteina vem sendo amplamente empregada para tratar uma

variedade de patologias, incluindo a fibrose cística (Tirouvanziam, 2006; Henke and Ratjen,

2007), a doença pulmonar obstrutiva crônica (Kasielski and Nowak, 2001; Henke and Ratjen,

2007), a toxicidade associada às lesões hepáticas (Prescott, 2005) e a cirrose biliar (Mani et al.

2006), além de ter sido empregada para elevar os níveis de glutationa em eritrócitos e

linfócitos melhorando a função das células T em portadores da imunodeficiência adquirida

humana (De Rosa et al. 2000).

A NAC contribui para a síntese da glutationa, um dos desintoxicantes naturais mais

importantes e poderosos no organismo humano, especialmente no fígado (De Flora et al,

1991; Pinho et al. 2005). Possui papel-chave na homeostase celular, visto que a depleção de

glutationa pode causar morte celular devido à peroxidação lipídica e declínio nos níveis de

tiol-proteínas (Reed et al. 1984). A NAC pode atuar diretamente reduzindo os níveis de

radicais superóxidos in vivo e in vitro (Aruoma et al. 1989) e como “varredora” de radicais de

Page 74: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

74

peróxido de hidrogênio, ácido hipoclórico e radical hidroxil, assim como inibir a liberação de

TNF-α, a ativação de citocinas pró-inflamatórias e apoptose celular (Pinho et al. 2005).

Na esquistossomose mansoni os ovos são responsáveis pelas manifestações clinicas

mais importantes da doença ao serem retidos na mucosa intestinal ou arrastados pela

circulação sanguinea até o fígado. Inicialmente, o ovo induz a formação de um processo

inflamatório granulomatoso agudo, que se desenvolve ao redor dos mesmos, em decorrência

da eliminação de antígenos do miracídio, chamados genericamente de SEA (Soluble egg

antigens), que estimula células e citocinas específicas (Hang et Al., 1974; Wyler et al., 1978),

favorecendo, assim, a formação de um infiltrado de células inflamatórias, processo que

termina com a formação de uma cicatriz fibrótica no curso mais avançado da infecção (Zilton

2005). Os granulomas são compostos, principalmente, por fibras colágenas, macrófagos,

eosinófilos, linfócitos e plasmócitos em proporções diferentes, variando nos diferentes órgãos

e em função da fase de sua evolução (Pearce and Macdonald 2002) e é coordenado pela

influência de uma rede de mediadores inflamatórios (Wynn et al. 1995; Conlon 2005).

Imunologicamente a esquistossomose mansoni é caracterizada por uma dicotomia na

síntese de interleucinas. No período prepatente é observado aumento das citocinas do tipo Th1

(Wynn et al. 1993), seguido, pelo aumento de citocinas do perfil Th2 logo após a deposição

de ovos do parasito no hospedeiro (Gryzch et al. 1991). Esta mudança de perfil imune

apresenta relação direta com a formação do granuloma, mostrando assim, um importante

papel da imunomodulação pelas citocinas na esquistossomose.

Estudos demonstram que a quimioterapia com o PZQ modula a resposta imune

humoral e celular de indivíduos infectados pelo S. mansoni. Algumas dessas mudanças

conferem uma proteção parcial envolvendo respostas do tipo Th2 (Reimert et al. 2006; Walter

et al. 2006). Entretanto, tem sido sugerido que respostas polarizadas em Th1 ou Th2 são

prejudiciais. Desta forma, é necessário que exista regulação destes perfis para conferir melhor

proteção no curso da infecção (Hoffmann et al. 2000).

Os achados histopatológicos em nosso estudo mostraram que nos animais tratados

com NAC e/ou PZQ houve redução significativa no diâmetro médio dos granulomas

esquistossomóticos hepáticos. Embora o tipo de granuloma predominante entre os subgrupos

Controle e NAC nas diferentes fases de infecção não tenham diferido de forma significativa.

A diminuição no tamanho do granuloma nos animais tratados com a NAC e/ou PZQ pode ser

justificada pelo aumento da IL10. Neste estudo os níveis de IL-10 foram bem reduzidos aos

60 dias após a infecção. Estudos em seres humanos e camundongos infectados pelo

Schistosoma indicam níveis mais elevados da IL-10 nas fases mais avançada da infecção

Page 75: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

75

esquistossomótica (Bosshardt et al. 1997; Wynn et al. 1993; Montenegro et al. 1999; Van Den

Biggelaar et al. 2000). Este fato foi evidenciado neste estudo nas fases intermediária (90 dias)

e crônica (120 dias) da infecção. Aos 90 dias após a infecção os subgrupos tratados com NAC

e NAC+PZQ apresentaram altos níveis de IL-10, sugerindo que neste grupo a NAC tenha

apresentado efeito sobre a regulação desta citocina. Este resultado está de acordo com

trabalhos que mostram que a administração de IL-10 leva a redução do tamanho do

granuloma enquanto o inverso é observado em animais deficientes em IL-10 e infectado com

S. mansoni (De'broski et al. 2008). Ademais, essa citocina exerce um papel essencial no

processo de imunomodulação que ocorre na fase crônica da infecção esquistossomótica

(Flores Villanueva et al., 1994; Sadler et al. 2003). A presença de IL-10 em pacientes com

hepatoesplenomegalia tem sido considerada benéfica (Montenegro et al. 1999; Alves-Oliveira

et al. 2006).

A IL-10 regula a produção de várias citocinas pró-inflamatórias, sendo considerada

um inibidor da síntese de IFN-γ. No presente estudo, os níveis de INF- nos subgrupos

tratados com a NAC apresentaram redução em todos os tempos de infecção. Recentemente

Martins-Leite e colaboradores (2008) demonstraram que indivíduos infectados pelo S.

mansoni e tratados com PZQ, mas que ainda apresentavam fibrose tinham um perfil de baixa

produção de IFN- e elevada produção de IL-13. Sendo esta última citocina destacada como

importante marcador da morbidade nestes pacientes. Ainda neste trabalho os autores também

observaram uma correlação negativa entre presença de IL-10 e fibrose antes e após

tratamento.

Pirrho e colaboradores (2003) demonstraram que camundongos infectados com S.

mansoni e tratados com Dexametasona apresentaram redução no tamanho dos granulomas e

deposito de colágeno, associando este fato à redução de IFN-, IL-12 e IL-4 e aumento da

produção de IL-10. Hoffmann e colaboradores (2000) também observaram a participação da

IL-10 em camundongos knockout para esta citocina e infectados pelo S. mansoni os quais

manifestaram respostas Th1 e Th2 mistas e elevadas, com grande proliferação de linfócitos,

maior número de células produtoras de IFN- e IL-4 e grande ampliação do quadro

inflamatório, mostrando que a IL-10 é fundamental para o controle da polarização excessiva

tanto das respostas Th1 quanto Th2, o que limita de forma significativa os danos causados

pela intensa inflamação decorrente destas polarizações. De'Broski e colaboradores (2008)

demonstraram que animais tratados com anti-IL-10 tem aumento da produção de IL-4, IFN-,

Page 76: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

76

TNF e IL-17, com conseqüente aumento de granuloma hepático e exacerbação do dano

hepatocelular.

Neste modelo experimental, todos os subgrupos onde a NAC fazia parte do esquema

terapêutico adotado os níveis de óxido nítrico foi significativamente reduzidos. Sugerindo

influencia da ação da NAC como agente removedor de radical livre (NO) causado pelo

estresse oxidativo na esquistossomose mansoni. Fan e colaboradores (2007) também

observaram redução nos niveis de NO em camundongos infectados com S. japonicum e

tratados com NAC. Halliwell e Gutteridge (2007) sugerem que a redução dos niveis de NO

pela NAC seja por sua atuação como scavenger direto de NO e peroxinitrito e também pela

redução dos níveis de IFN- e aumento na síntese de IL-10, dados semelhante aos nossos

resultados.

Talaat e colaboradores (2007) ao estudarem pacientes infectados pelo S. mansoni, não

encontraram diferenças entre os níveis de IL-4 entre os indivíduos com diferentes graus de

fibrose e nem entre eles e os indivíduos portadores da forma clínica intestinal. Morais e

colaboradores (2002) ao avaliarem os níveis de IL-4 estimulados por SEA e SWAP de

portadores da esquistossomose mansoni, concluem que não há diferença entre os indivíduos

controle e os portadores da forma clínica aguda e crônica da infecção. Em nosso estudo a

NAC parece não afetar a síntese de IL-4, visto que em todos os subgrupos níveis semelhantes

aos respectivos controles foram observados. Por outro lado a administração do PZQ regulou

negativamente a síntese desta citocina IL-4 aos 60 e 90 dias e positivamente aos 120 dias após

a infecção.

A fibrose é o resultado mais temível das doenças crônicas que afetam o fígado (Zilton,

2005). A fibrose hepática é caracterizada pelo acúmulo de matriz extracelular fibrótica, cuja

presença danifica a arquitetura e funções hepáticas. No presente estudo a administração da

NAC foi capaz de atuar sobre a síntese de colágeno, reduzindo o depósito desta proteína sobre

o tecido hepático e o grau de fibrose nos granulomas esquistossomóticos. Segundo Makoto

Segawa e colaboradores (2002) a diminuição no grau de fibrose pode ser explicada pelo fato

da NAC estar suprimindo o gene promotor de colágeno a2, diminuindo assim sua síntese.

Outra proposta para tal redução seria a capacidade da NAC em inativar parcialmente o fator

nuclear kappa B (NFKB), o qual está implicado na ativação das células estreladas (Schereck

et al, 1992). Em lesões agudas ou crônicas a célula estrelada de Ito, célula-chave na

fibrogênese, sob influência de citocinas fibrogênicas, (TGF-β, TNF-α, PDGF e outras), se

diferencia em miofibroblasto e fibroblasto, se engajando na síntese dos elementos da matriz

Page 77: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

77

(colágenos, elastina, proteoglicanos e proteínas de constituição) (Geerts et al. 1994, Geerts

2001, Ramadori e Sail, 2002).

O tratamento com antioxidantes, inclusive a NAC tem mostrado atenuar fibrose

intersticial em vários processos patológicos (Poli; Parola, 1997; Zafarullah et al., 2003).

Perreira-Filho e colaboradores (2008) evidenciaram em fígado de animais cirróticos,

induzidos por tetracloreto de carbono que a NAC confere proteção contra a fibrose hepática e

estresse oxidativo, observando redução de 400% no depósito de colágeno, no grau de fibrose

classificada como leve a moderada, nos níveis de glutationa peroxidase e menor expressão da

iNOS quando comparado com o grupo controle sem tratamento.

Além da cura parasitológica na esquistossomose, o reparo das alterações hepáticas

provocadas pelo processo granulomatoso é desejável. De acordo com os nossos resultados a

NAC e a associação NAC+PZQ levou a uma redução da morbidade em camundongos

experimentalmente infectados pelo S. mansoni, uma vez evidenciada a redução no tamanho

dos granulomas hepáticos. Além disso, estes granulomas apresentaram uma menor deposição

de fibra de colágeno o que pode proporcionar uma menor hipertensão portal e fibrose hepática

e por consequência a não levaria a angiogênese. Também foi evidente que o tratamento com a

NAC levou a uma redução significativa nos níveis de INF-γ e NO e um aumento de IL-10,

citocina hoje considerada como chave para o desenvolvimento de um curso mais ameno da

esquistossomose mansoni. Concluindo que a NAC neste modelo experimental através da

modulação imunopatologica atenuou o dano ao tecido hepático de camundongos

esquistossomóticos.

Page 78: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

78

CONCLUSÕES

“O desejo cumprido regozija a alma.”

Provérbios 13:19

Page 79: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

79

CONCLUSÕES

Diante dos resultados apresentados, podemos concluir que:

● A NAC não apresenta atividade esquistossomicida, não altera o padrão de

ovoposição e não tem influencia sobre o número médio de granulomas esquistossomóticos

distribuídos em tecido hepático de camundongos infectados pelo S. mansoni.

● No esquema terapêutico adotado a administração do PZQ resultou em 100% de

eficácia sobre os vermes adultos, e na diminuição do número médio de granulomas

esquistossomóticos distribuídos em tecido hepático de camundongos infectados pelo S.

mansoni.

● O modelo experimental adotado mostrou que há regressão natural no tamanho dos

granulomas esquistossomóticos no curso da infecção, e que no esquema terapêutico

empregado a NAC, PZQ e NAC+PZQ incrementaram esta regressão conduzindo a um

processo patológico ameno.

● Neste modelo experimental a fibrose hepática esquistossomótica parece ser

modulada pela NAC, a qual favoreceu a diminuição do grau de fibrose nos granulomas

esquistossomóticos.

● A NAC e associação NAC+PZQ parece modular a resposta imunopatológica em

camundongos infectados pelo S. mansoni ao conduzir aumento nos níveis de IL-10 e redução

nos níveis de NO e INF-.

Page 80: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

80

REFERÊNCIAS

"Não basta conquistar a sabedoria, é preciso usá-la."

Cícero

Page 81: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

81

REFERÊNCIAS

ABDUL-GHANI RA, LOUTFY N, HASSAN A. Experimentally promising antischistosomal

drugs: a review of some drug candidates not reaching the clinical use. Parasitol Res 105:899–

906, 2009.

ALBUQUERQUE, M. C. P. A. et al. Synthesis and schistosomicidal activity of new

substituted thioxo-imidazoline compounds. Die Pharmazie (Berlin), v. 60, p. 13-17, 2005.

ALBUQUERQUE, M. C. P. A. et al. Tegumental alterations in adult Schistosoma mansoni

treated with imidazolidine derivatives. Lat. Am. J. Pharm., v. 26, n. 1, p. 65-9, 2007.

ALVES-OLIVEIRA, L. F. et al. Cytokine production associated with periportal fibrosis during

chronic schistosomiasis mansoni in humans. Infection and Immunity, v. 74, p. 1215, 2006.

AMARAL, R. S. et al. An analysis of the impact of the Schistosomiasis control programme in

Brazil. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, v. 101, s. 1, p. 79-85, 2006.

AMIRI, P. et al. Tumour necrosis factor alpha restores granulomas and induces parasite egg-

laying in schistosome-infected SCID mice. Nature, v. 356, n. 6370, p. 604-607, 1992.

ANDRADE, Z. A. Schistosomal Hepatopathy. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, v. 99, p. 51-57,

2004.

ANDRADE, Z. A.; GRIMAUD, J. A. Evolution of the schistosomal hepatic lesions in mice

after curative chemotherapy. Am. J. Pathol., v. 124, n. 1, p. 59, 1986.

ANDRADE, Z. A.; AZEVEDO, T. M. A contribuition to the study of acute schistosomiasis (an

experimental trial). Mem. Inst. Oswaldo Cruz, n. 82, p. 311-317, 1987.

ANDRADE, Z. A.; BAPTISTA, A.; T. S. SANTANA. Remodeling of hepatic vascular

changes after specific chemotherapy of schistosomal periportal fibrosis. Mem. Inst. Oswaldo

Cruz, v. 101, s. 1, p. 267, 2006.

Page 82: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

82

ANDRADE, Z. A.; CHEEVER, A. W. Charecterization of the murine modelo f schistosomal

hepática periportal fibrosis (“pipestem” fibrosis). Int. J. Exp. Pathol., v. 74, n. 2, p. 195-202,

1993.

ARTHUR MJP. Reversibility of liver fibrosis and cirrhosis following treatment for hepatitis

C (Editorial). Gastroenterology 122: 1525-1528, 2002.

ARUOMA, O. I. et al. The antioxidant action of N-acetylcysteine: its reaction with hydrogen

peroxide, hydroxyl radical, superoxide, and hypochlorous acid. Free Radical Biology and

Medicine, v. 6, p. 593-597, 1989.

ATKINSON, M. A.; EISENBARTH, G. S. Type 1 diabetes: new perspectives on disease

pathogenesis and treatment. Lancet, v. 358, n. 9283, p. 766, 2001.

ATKURI, K. R.; MANTOVANI, J. J.; HERZENBERG, L. A. N-Acetylcysteine - a safe

antidote for cysteine/glutathione deficiency. Current Opinion in Pharmacology, v. 7, p. 355-

359, 2007.

BAPTISTA, A. P.; ANDRADE, A. Z. Angiogenesis and schistosomal granuloma formation,

Mem. Inst. Oswaldo Cruz, v. 100, n. 2, p. 183-185, 2005.

BARBOSA, C. S. Esquistossomose em Pernambuco: determinantes bioecológicos e sócio-

culturais. 1996a. 148 f. Tese de Doutorado - Escola Nacional de Saúde Pública, Rio de

Janeiro.

BARBOSA, C. S. Esquistossomose: reprodução e expansão da endemia em Pernambuco. Rev.

de Saúde Pública, v. 30, n. 06, p. 609-616, 1996b.

BARBOSA, C. S. et al. Ecoepidemiologia da esquistossomose urbana na Ilha de Itamaracá,

Estado de Pernambuco. Rev. de Saúde Pública, v. 34, p. 337-341, 2000b.

BARBOSA, C. S. et al. Epidemia de esquistossomose aguda na praia de Porto de Galinhas,

Pernambuco. Cadernos de Saúde Pública, v. 17, n. 3, p. 725-728, 2001.

Page 83: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

83

BARBOSA, C. S. et al. Urban Schistosomiasis in Itamaracá island, Brasil: epidemiological

factors involved in the recent endemic process. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, v. 93, n. 1, p. 265-

266, 1998a.

BARBOSA, C. S. Padrão Epidemiológico da Esquistossomose em Comunidade de Pequenos

Produtores Rurais de Pernambuco. Cadernos de Saúde Pública, v. 14, n. 1, p. 129-137,

1998b.

BARBOSA, C. S.; PIERI, O. S. Aspectos epidemiológicos e malacológicos da

esquistossomose mansônica na Ilha de Itamaracá, Pernambuco. Rev. de Saúde Pública, v. 34,

n. 4, p. 33-41, 2000a.

BERGQUIST, N. R. Schistosomiasis: from risk assessment to control. Trends Parasitol, v.

18, p. 309-314, 2002.

BICHLER, K. H. et al. Schistosomiasis: a critical review. Current Opinion in Urology, v. 11,

p. 97-101, 2001.

BINA, J. C.; PRATA, A. Esquistossomose na área hiperendêmica de Taquarendi: Infecção

pelo Schistosoma mansoni e formas graves. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., v. 36, n. 2, p. 211-

2116, 2003.

BOGLIOLO, G. Patologia. 6ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 2000.

BOISIER, P. et al. Reversibility of Schistosoma mansoni-associated morbidity after yearly

mass praziquantel therapy: ultrasonographic assessment. Trans. R. Soc. Trop. Med. Hyg., v.

92, p. 451.

BOROS, D. L. Immunopathology of Schistosoma mansoni infection. Clin. Microbiol. Rev., v.

2, n. 3, p. 250-269, 1989.

BOSSHARDT, S. C. et al. IL-10 deficit correlates with chronic, hypersplenomegaly syndrome

in male CBA/J mice infected with Schistosoma mansoni. Parasite Immunology, v. 19, n. 8, p.

347–353, 1997.

Page 84: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

84

BOUCHET, F. et al. Fisrt recovery of Shistosoma mansoni eggs from a latrine in Europe (15-

16th

Centuries). J. Parasitol., v. 88, p. 404-405, 2002.

BRASIL. Secretaria de Vigilância em Saúde. Sistema de informação de agravos de

notificação: Esquistossomose. Brasília, DF, 2006.

BRUNET, L. R. et al. IL-4 protects against TNF-alpha-mediated cachexia and death during

acute schistosomiasis. J. Immunol., v. 159, n. 2, p. 777-785, 1997.

BRUNET, L. R. et al. Nitric oxide and the Th2 response combine to prevent severe hepatic

damage during Schistosoma mansoni infection. J. Immunol., v. 163, p. 4976-4977, 1999.

CAPRON, M.; TORPIER, G.; CAPRON, A. In vitro killing of S. mansoni schistosomula by

eosinophils from infected rats: role of cytophilic antibodies. J. Immunol., v. 123, n. 5, p. 2220-

2230, 1979.

CHEEVER, A. W. et al. Experimental models of Schistosoma mansoni infection. Mem. Inst.

Oswaldo Cruz, v. 97, n. 7, p. 917-940, 2002.

CHEEVER, A.W. et al. Anti-IL-4 treatment of Schistosoma mansoni-infected mice inhibits

development of T cells and non-B, non-T cells expressing Th2 cytokines while decreasing egg-

induced hepatic fibrosis. J. Immunol., v. 153, n. 2, p. 753-759, 1994.

CHEN, M. C. et al. Granulomatous disease of the large intestine secondary to schistosome

infestation: a study of 229 cases. Chin. Med. J. (Engl.), v. 4, n. 5, p. 371-378, 1978.

CHEN, M. G. Relative distribution of Schistosoma japonicum eggs in the intestine of man: a

subject of inconsistency. Acta Trop, v.48, n.3, p.163-171. 1991.

CHEN, M. G.Progress in schistosomiasis control in China. Chin. Med. J., v. 112, p. 930–933,

1999.

CHIRAKALWASAN, N. et al. Treating a case of severe pulmonary hypertension due to

schistosomiasis. Chest, v. 130, p. 293S-4S, 2006.

Page 85: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

85

CHITSULO, L.; ENGELS, D.; MONTRESOR, A.; SAVIOLI, L. The global status of

schistosomiasis and its control. Acta Tropica, v. 77, p. 41-45, 2000.

CHRISTOPHERSON, J. B. The successful use of antimony in bilharziosis. Adminidtered as

intravenous injections os antimonium tartaratum (tartar emetic). Lancet, v. 2, p. 325-327,

1918.

CIOLI, D. et al. Determination of ED50 values for praziquantel in praziquantel-resistant and -

susceptible Schistosoma mansoni isolates. Int. J. Parasitol., v. 34, p. 979-987, 2004.

CIOLI, D. Praziquantel: is there real resistance and are there alternatives? Current Opinion in

Infectious Diseases, v. 13, p. 659-663, 2000.

CIOLI, D.; PICA-MATTOCCIA, L. Sex- and stage-related sensitivity of Schistosoma mansoni

to in vivo and in vitro praziquantel treatment. Int. J. Parasitol., v. 34, p. 527–533, 2004.

COELHO, M. V. Aspectos do desenvolvimento de formas lavarias de Schistosoma mansoniem

Australorbis migricans. Rev. Brasileira de Biologia, v. 17, p. 325-337, 1957.

CONESA, E. L. et al. N-Acetyl-L-Cysteine improves medullary hypoperfusion in Acute Renal

Failure. Am. J. Physiol. Regulatory Integrative Comp. Physiol., v. 281, n. 3, p. 730–7, 2001.

CONLON, C. P. Schistosomiasis. Medicine 31: 64-67, 2005.

COURA, J. R.; AMARAL, R. S. Epidemiological and control aspects of schistosomiasis in

Brazilian endemic areas. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, v. 99, p. 13-19, 2004.

COUTINHO, E. M. et al. Repeated infections with Schistosoma mansoni and liver fibrosis in

undernourished mice. Acta Tropica, v. 101, n. 1, p. 15–24, 2007.

CZAJA, M. J. et al. Gamma-interferon treatment inhibits collagen deposition in murine

schistosomiasis. Hepatology, v. 10, n. 5, p. 795-800, 1989.

Page 86: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

86

DAVIS, B. H.; KRESINA, T. F. Hepatic fibrogenesis. Clin. Lab. Med., v. 16, n. 2, p. 361-

375, 1996.

DE FLORA, S. et al. Mechanisms of N-acetylcysteine in the prevention of DNA damage and

cancer, with special reference to smoking-related end-points. Carcinogenesis, v. 22, p. 999-

1013, 2001.

DE ROSA, S. C. et al. N-acetylcysteine replenishes glutathione in HIV infection. Eur. J. Clin.

Invest., v. 30, n. 10, p. 915-29, 2000.

DE'BROSKI, R. et al. IL-10 and TGF redundantly protect against severe liver injury and

mortality during acute schistosomiasis. J. Immunol., v. 181, p. 7214-7220, 2008.

DELGADO, V. S. et al. Experimental chemotherapy of Schistosoma mansoni with

praziquantel and oxamniquine: differential effect of single or combined formulations of drugs

on various strains and on both sexes of the parasite. Parasitol. Res., v. 78, n. 8, p. 648-54,

1992.

DIVISÃO DE DOENÇAS DE TRANSMISSÃO HÍDRICA E ALIMENTAR. Centro de

Vigilância Epidemiológica Professor Alexandre Vranjac. Coordenadoria de Controle de

Doenças. Secretaria de Estado da Saúde. Novas estratégias para a vigilância epidemiológica da

esquistossomose no Estado de São Paulo. Rev. Saúde Pública, v. 43, n. 4, p. 728-30, 2009.

DOENHOFF , M. J. et al. Resistance of Schistosoma mansoni to praziquantel: is there a

problem?. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, v. 96, p.

465-469, 2002.

DOENHOFF, M. J.; PICA-MATTOCCIA, L. Praziquantel for the treatment of

schistosomiasis: its use for control in areas with endemic disease and prospects for drug

resistance. Exp. Rev. Anti-Infect. Ther., v. 4, p. 199–210, 2006.

DOMINGUES A. L. C.; DOMINGUES L. A. W. Forma intestinal, hepatointestinal e

hepatoesplênica. In: MALTA, J. (ed). Esquistossomose mansônica. Recife: Editora

Universitária da UFPE, 1994. cap. 5, p. 91-105.

Page 87: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

87

DRESCHER, K. M. et al. Response of drug resistant isolates of Schistosoma mansoni to

antischistosomal agents, Mem. Inst. Oswaldo Cruz, v. 88, p. 89-95, 1993.

DRUILHER, P.; HAGAN, P.; ROOK, G. A. The importance of models of infection in the

study of disease resistance. Trends Microbiol., v. 10, n. 10, p. S38-46, 2002.

DUVAL, R. H.; DEWITT, W. An improved perfusion technique for recovering adult

schistosomes from laboratory animals. Am. J. Trop. Med. Hyg., v.16, p. 483-486, 1967.

ELTOUM, I. A. et al. Suppressive effect of interleukin-4 neutralization differs for granulomas

around Schistosoma mansoni eggs injected into mice compared with those around eggs laid in

infected mice. Infect. Immun., v. 63, n. 7, p. 2532-2536, 1995.

FALLON, P. G. et al. Elevated type 1, diminished type 2 cytokines and impaired antibody

response are associated with hepatotoxicity and mortalities during Schistosoma mansoni

infection of CD4-depleted mice. Eur. J. Immunol., v. 30, n. 2, p. 470-480. 2000b.

FALLON, P. G. et al. Schistosome infection of transgenic mice defines distinct and contrasting

pathogenic roles for IL-4 and IL-13: IL-13 is a profibrotic agent. J. Immunol., v. 164, n. 5, p.

2585-2591, 2000a.

FAN, Z. G. et al. Effect of N-acetylcysteine on the egg granuloma in hepatic tissue of mice

with Schistosomasis japonica. Chinese Journal of Parasitology and Parasitic Diseases, v.

25, n. 2, p. 137-40, 2007.

FAVRE, T. C. et al. Avaliação das ações de controle da esquistossomose implementadas entre

1977 e 1996 na área endêmica de Pernambuco, Brasil. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., v. 34, p.

569-576, 2001.

FERRARI, M. L. A. et al. Efficacy of oxamniquine and praziquantel in the treatment of

Schistosoma mansoni infection: a controlled trial. Bull. WHO, v. 81, p. 190-196, 2003.

Page 88: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

88

FLORES VILLANUEVA, P. O.; REISER, H.; STADECKER, M. J. Regulation of T helper

cell responses in experimental murine schistosomiasis by IL-10: effect on expression of B7 and

B7-2 costimulatory molecules by macrophages. J. Immunol., v. 153, n. 11, p. 5190-5199,

1994.

FOSTER, R. A. The preclinical development of oxamniquine. Rev. Inst. Bras. Med. Trop., v.

15, s. 1, p.1-9, 1973.

FRIEDMAN SL. Liver fibrosis: from bench to bedside. J. Hepatol., v. 38, p. S38–S53, 2003.

GEERTS A, DE BLESER P, HAUTEKEETE ML, NIKI T, WISSE E. Fat-storing (Ito) cell

biology. In: Arias IM, Boyer JL, Fausto N, Jakoby WB, Schachter DA, Shafritz DA (eds) The

liver: Biology and Pathobiology, 3rd edition, Raven Press, New York, p. 819-838, 1994.

GEERTS A. History, heterogeneity, developmental biology, and functions of quiescent

hepatic stellate cells. Seminars in Liver Diseases 21: 311-335, 2001.

GREEN, L. C. et al. Analysis of nitrate, nitrite and nitrate in biological fluids. Anal. Biochem.,

v. 126, p. 131-138, 1982.

GRYSCHECK, R. C. B. et al. Tratamento da esquistossomose mansoni com praziquantel em

duas doses únicas diárias consecutivas. Rev. Soc. Bras. Clin. Med., v. 2, p. 100-102, 2004.

GRYSEELS, B. et al. Are poor responses to praziquantel for the treatment of Schistosoma

mansoni infections in Senegal due to resistance?: an overview of the evidence. Trop. Med.

Int. Health, v. 6, p. 864–873, 2001.

GRYSEELS, B. et al. Human schistosomiasis. Lancet, v. 368, p. 1106-1108, 2006.

GRZYCH, J. M. et al. Egg deposition is the major stimulus for the productions of Th2

cytokines in murine schistosomiasis mansoni. J. Immunol., v. 146, p. 1322-1327, 1991.

HAAS, W. et. al. Finding and recognition of the anail intermediate hosts by 3 species of

echinostome cercariae. Parasitology, v. 110, p. 133-142, 1995.

Page 89: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

89

HALLIWELL, B.; GUTTERIDGE, J. Free Radicals in Biology and Medicine. 4th ed.

Oxford: University Press, 2007.

HANG, L. M.; WARREN, K. S.; BOROS, D. L. Schistosoma mansoni: antigenic secretions

and the etiology of egg granulomas in mice. Exp. Parasitol., v. 35, n. 2, p. 288-298, 1974.

HENKE, M. O.; RATJEN, F. E. Mucolytics in cystic fibrosis. Paediatric Respiratory

Reviews, v. 8, p. 24–29, 2007.

HENRI, S. et al. Cytokine regulation of periportal fibrosis in humans infected with

Schistosoma: IFN-gamma is associated with protection against fibrosis and TNF-alpha with

aggravation of disease. J. Immunol., v. 169, p. 929-936, 2002.

HIRATA, M.; FUKUMA, T. Cytokine regulation in experimentally-induced Schistosoma

japonicum egg granuloma formation. Parasitol. Int., v. 52, n. 4, p. 341-349, 2003.

HOFFMANN, K. F.; CHEEVER, A. W.; WYNN, T. A. IL-10 and the dangers of immune

polarization: excessive type 1 and type 2 cytokine responses incuse distinct forms of lethal

immunopathology in murine schistosomiasis. J. Immunol., v. 164, p. 6406-6116, 2000.

HORII, Y., OWHASHI, M., ISHII, A., BANDOU, K. e USUI, M. Eosinophil and neutrophil

chemotactic activities of adult worm extracts of Schistosoma japonicum in vivo and in vitro. J

Parasitol, v.70, n.6, p.955-961. 1984.

JAKUBZICK, C. et al. Interleukin-13 fusion cytotoxin arrests Schistosoma mansoni egg-

induced pulmonary granuloma formation in mice. Am. J. Pathol., v. 161, n. 4, p. 1283-1297,

2002.

JONES, A. L. et al. Portal and 487 systemic haemodynamic action of N-acetylcysteine in

patients 488 with stable cirrhosis. Gut, v. 35, p. 1290-1293, 1994.

Page 90: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

90

JUNQUEIRA, L. C. U.; BIGNOLOS, G.; BRENTANI, R. R. Picrosirius staining plus

polarization microscopy, a specific method for collagen detection in tissue section.

Histochemical Journal, v. 11, p. 447-455, 1979.

KASIELSKI, M.; NOWAK, D. Long-term administration of N-acetylcysteine decreases

hydrogen peroxide exhalation in subjects with chronic obstructive pulmonary disease. Respir.

Med., v. 95, p. 448-456, 2001.

KATZ, N.; DIAS, E. P.; ARAÚJO, N. Estudo de uma cepa humana de Schistosoma mansoni

resistente a agentes esquistossomicidas. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., v. 7, p. 381-387, 1973.

KATZ, N.; PEIXOTO, S. V. Análise crítica da estimativa do número de portadores de

esquistossomose mansoni no Brasil. Rev. Soc. Med. Trop., v. 33, p. 303-308, 2000.

KATZ, N.; PELLEGRINO, J. Estudos de alguns aspectos da esquistossomose mansoni em

macacos Cebus pelo método quantitativo. Rev. Inst. Med. Trop. São Paulo, v. 16, p. 245-252,

1973.

KATZ, N.; PELLEGRINO, J.; POMPEU-MEMÓRIA, J. M. Quantitative oogram method in

Cebus monkeys experimentally infected with Schistosoma mansoni. J. Parasitol., v. 52, p.

917-919, 1966.

KATZ, N; ALMEIDA, K. Esquistossomose, Xistosa, Barriga D’água. Ciências e Cultura, v.

55, n. 1, 2003.

KELLY, G. S. Clinical applications of N-acetylcysteine. Altern. Med. Rev., v. 3, n. 2, p. 114–

127, 1998.

KIKUTH, W.; GOENNERT, R. Experimental studies on the therapy of schistosomiasis. Ann.

Trop. Med. Parasitol., v. 42, p. 256-267, 1948.

KING, C. H.; DICKMAN, K.; TISCH, D. J. Reassessment of the cost of chronic helminthic

infection: a meta-analysis of disability-related outcomes in endemic schistosomiasis. Lancet,

v. 365, p. 1561-1569, 2005.

Page 91: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

91

KOVACS, E. J. Fibrogenic cytokines: the role of immune mediators in the development of scar

tissue. Immunol. Today, v. 12, n. 1, p. 17-23, 1991.

KRAMERS, P. G. N. et al. International Commission for Protection against Environmental

Mutagens and Carcinogens. Review of the genotoxicity and carcinogenicity of

antischistosomal drugs: is there a case for a study of mutation epidemiology?. Report of a task

group on mutagenic antischistosomals. Mutation Research, v. 257, p. 49-89, 1991.

LAMBERT, C. R. Chemotherapy of experimental S. mansoni infection with a nitro-thiazole

derivative CIBA 32,644-Ba. Ann. Trop. Med. Parasitol., v. 58, p. 292-303, 1964.

LAMBERTUCCI J. R.; SILVA L. C. S.; VOIETA I. Esquistossomose mansônica. In:

COURA, J. R. (ed.). Dinâmica das Doenças Infecciosas e Parasitárias. 1 ed. Rio de Janeiro:

Guanabara Koogan, 2005. v. 1, cap. 76, p. 931-946.

LAMBERTUCCI, J. R. et al. Schistosoma mansoni: assessment of morbidity before and after

control. Acta Tropica, v. 77, p. 101-109, 2000.

LAUZ, S. et al. Estudo da preservação do Fígado utilizando-se um anti-oxidante: N-

Acetilcisteína, Acta Cir. Bras., v. 15, s. 1, 2004.

LIANG, Y. S. et al. In vitro responses of praziquantel-resistant and susceptible Schistosoma

mansoni to praziquantel. Int. J. Parasitol., v. 31, p. 1227-1235, 2001.

LUKACS, N. W.; BOROS, D. L. Lymphokine regulation of granuloma formation in murine

schistosomiasis mansoni. Clin. Immunol. Immunopathol., v. 68, n. 1, p. 57-63, 1993.

MAGALHÃES LG, KAPADIA GJ, TONUCI LR et al. In vitro schistosomicidal effects of

some phloroglucinol derivatives from Dryopteris species against Schistosoma mansoni adult

worms. Parasitol Res 106:395–401, 2010.

MAGALHÃES LG, MACHADO CB, MORAIS ER, et al. In vitro schistosomicidal activity

of curcumin against Schistosoma mansoni adult worms. Parasitol Res 104:1197–1201, 2009.

Page 92: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

92

MAGNUSSEN, P. Treatment and re-treatment strategies for schistosomiasis control in

different epidemiological settings: a review of 10 years experiences. Acta Trop., v. 86, p. 243-

254, 2003.

MAKOTO S. et al. Antioxidant, N-acetyl-L-cysteine inhibits the expression of the collagen a2

(I) promoter in the activated human hepatic stellate cell line in the absence as well as the

presence of transforming growth factor-B. Hepatology Research, v. 24, p. 305-315, 2002.

MALAGUEÑO, E.; SANTANA, J. V. Etiologia da esquistossomose. In: MALTA, J. (ed.).

Esquistossomose mansônica. Recife: Editora Universitária da UFPE. 1994.

MANI, A. R. et al. Nitration of cardiac 490 proteins is associated with abnormal cardiac

chronotropic responses 491 in rats with biliary cirrhosis. Hepatology, v. 43, p. 847–856, 2006.

MARTINEZ, E. M. et al. Características biológicas e morfológicas de cepas brasileiras de

Schistosoma mansoni em Mus musculus. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., v. 36, n. 5, p. 557-64,

2003.

MARTINS-LEITE, P. et al. Effect of chemotherapy with praziquantel on the production of

cytokines and morbidity associated with schistosomiasis mansoni. Antimicrobial Agents and

Chemotherapy, p. 2780–2786, 2008.

MELO, A. L.; COELHO, P. M. Z. Schistosoma mansoni e a doença. In: NEVES, D. P. (ed.).

Parasitologia Humana. 11ª ed. São Paulo: Atheneu, 2005. cap. 22, p. 193-212.

MONTENEGRO, S. M. et al. Cytokine production in acute versus chronic human

Schistosomiasis mansoni: the cross-regulatory role of interferon gamma and interleukin-10 in

the responses of peripheral blood mononuclear cells and splenocytes to parasite antigens. J.

Infect. Dis., v. 179, n. 6, p. 1502-14, 1999.

MORAIS, C. N. L. et al. Studies on the production and regulation of Interleukin, IL-13, IL-4

and Interferon- in human schistosomiasis mansoni. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, v. 97, s. 1, p.

113, 2002.

Page 93: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

93

MOREL, C. M. Reaching maturity: 25 years of the TDR. Parasitol. Today, v. 16, n. 12, p.

522-528, 2000.

MOSMANN, T. R; COFFMAN, R. L. TH1 and TH2 cells: different patterns of lymphokine

secretion lead to different functional properties. Annu. Rev. Immunol., v. 7, p. 145-173, 1989.

MRAZEK, M. F.; MOSSIALOS, E. Stimulating pharmaceutical research and development for

neglected diseases Health Policy, v. 64, p. 75-88, 2003.

NEVES, D. P. et al. Parasitologia humana. 10º ed. São Paulo: Atheneu, 2000, p. 174- 193.

NEVES, D. P. et al. Parasitologia humana. In: MELO, A. L., COELHO, P. M. Z. Schistosoma

mansoni e a doença. 11ª ed. São Paulo: Atheneu, 2005. p. 193-212.

OLDS, G. R.; MAHMOUD, A. A. Role of host granulomatous response in murine

schistosomiasis mansoni. eosinophil-mediated destruction of eggs. J. Clin. Invest., v. 66, n. 6,

p. 1191-1199, 1980.

OLIVEIRA, M.F. et al. Haemozoin in Schistosoma mansoni. Mol. Biochem. Parasitol., v.

111, p. 217-221, 2000.

OLIVER, L.; STIREWALT, M. A. An efficient method for exposure of mice to cercariae of

Schistosoma mansoni. J. Parasitol., v. 38, p. 19-23, 1952.

PARISE FILHO, R. et al. Design, synthesis and in vivo evaluation of oxamniquine

methacrylate and acrylamide prodrugs. Bioorganic and Medicinal Chemistry, v. 15, p. 1229-

1236, 2007.

PATTON, E. A. et al. Severe schistosomiasis in the absence of interleukin-4 (IL-4) is IL-12

independent. Infection and Immunity, v. 69, n. 1, p. 589-592, 2001.

PEARCE, E. J. et al. Downregulation of Th1 cytokine production accompanies induction of

Th2 responses by a helminth, Schistosoma mansoni. J. Exp. Med., v. 173, p. 159-166, 1991.

Page 94: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

94

PEARCE, E. J; MACDONALD, A. S. The immunobiology of Schistosomiasis. Nature

Reviews, Immunology, v. 7, n. 2, p. 499-511, 2002.

PELLEGRINO, J. et al. Infection of the golden hamster with Schistosoma mansoni cercariae

throught the cheek pouch. J. Parasitol., v. 51, p. 1015, 1965.

PELLEGRINO, J.; KATZ, N. Experimental chemotherapy of schistosomiasis mansoni. Adv.

Parasitol., v. 6, p.233-90, 1968.

PELLEGRINO, J.; SIQUEIRA, A. Técnica de perfusão para colheita de Schistosoma mansoni

em cobaias experimentalmente infestadas. Rev. Brasileira de Malacologia e Doenças

Tropicais, v. 8, p. 589-597, 1956.

PEREIRA-FILHO, G. et al. Role of N-acetylcysteine on fibrosis and oxidative stress in

cirrhotic rats. Arq. Gastroenterol., v. 45, n. 2, 2008.

PICA-MATTOCCIA, L.; CIOLI, D. Sex- and stage-related sensitivity of Schistosoma mansoni

to in vivo and in vitro praziquantel treatment. Int. J. Parasitol., v. 34, p. 527-533, 2004.

PINHO, R. A. et al. N-Acetylcysteine and deferoxamine reduce pulmonary oxidative stress and

inflammation in rats after coal dust exposure. Environ. Res., v. 99, p. 355-360, 2005.

PINTO, C. E; ALMEIDA, A. F. Schistosomiasis mansoni no Brasil. Mem. Inst. Oswaldo

Cruz, v. 5, p. 287, 1948.

POLI, G.; PAROLA, M. Oxidative damage and fibrogenesis. Free Radic. Biol. Med., v. 22, p.

287–305, 1997.

PRESCOTT, L. Oral or intravenous N-acetylcysteine for acetaminophen poisoning?. Ann.

Emerg. Med., v. 45, p. 409-413, 2005.

PYRRHO, A. S. et al. Dexamethasone: a drug for attenuation of Schistosoma mansoni

infection morbidity. Antimicrobial Agents and Chemotherapy, v. 46, p. 3490–3498, 2002.

Page 95: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

95

RAMADORI G, SAIL B. Mesenchymal cells in the liver – one cell type or two?. Liver, 22:

283-294, 2002.

RAMASWAMY, K.; HE, Y. X.; SALAFSKY, B. ICAM-1 and iNOS expression increased in

the skin of mice after vaccination with gamma-irradiated cercariae of Schistosoma mansoni.

Exp. Parasitol., v. 86, n. 2, p. 118-132, 1997.

RASO, P. et al. As dimensões do granuloma causadas pelos ovos do Schistosoma Mansoni no

fígado humano. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., v. 12, n. 1-6, p. 45, 1978.

REED, D. J.; FARRISS, M. W. Glutathione depletion and susceptibility. Pharmacol. Rev., v.

36, p. 255-335, 1984.

REIMERT, C. L. et al. Eosinophil activity in Schistosoma mansoni infections in vivo and in

vitro in relation to plasma cytokine profile pre-and posttreatment with praziquantel. Clin. Vac.

Immunol., v. 13, p. 584, 2006.

RENSLO, A. R., MCKERROW, J. H. Drug discovery and development for neglected parasitic

diseases. Nature Chemical Biology, v. 2, n. 12, 2006.

RESENDES, A. P. C.; SANTOS, R. S.; BARBOSA, C. S. Internação hospitalar e mortalidade

por esquistossomose mansônica no Estado de Pernambuco, Brasil, 1992/2000. Caderno de

Saúde Pública, v. 21, s. 5, p. 1392-1401, 2005.

REY, L. Schistosoma mansoni e esquistossomíase: o parasito. In: Parasitologia. 3ª ed. Rio de

Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. p. 413-425.

RICHARDS. H. C.; FOSTER, R. A new series of 2-aminomethyl-tetrahydroquinoline

derivatives displaying schistosomicidal activity in rodents and primates. Nature, v. 222, p.

581-582, 1969.

ROCHA, B.; TANCHOT, C. CDS T cell memory. Semin. Immunol., v. 16, n. 5, p. 305-314,

2004.

Page 96: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

96

ROSS, A. G. et al. Schistosomiasis. New Engl. J. Med., v. 346, p. 1212–20, 2002.

SADLER, C. H. et al. IL-10 is crucial for the transition from acute to chronic disease state

during infection of mice with Schistosoma mansoni. Eur. J. Immunol., v. 33, n. 4, p. 880-888,

2003.

SADUN, E. H.; VON LICHTENBERG, F.; BRUCE, J. I. Susceptibility and comparative

pathology of ten species of primates exposed to infection with Schistosoma mansoni. Amer. J.

Trop. Med. Hyg., v. 15, p. 706-718, 1966.

SANTOS, A. T. et al. Preliminary clinical trials with praziquantel in Schistosoma japonicum

infections in the Philippines. Bulletin of the World Health Organization, v. 57, p. 793-799,

1979.

SCHERECK, R.; ALBERMANN, K.; BAEUERLE, P. Nuclear factor Kappa B: an oxidative

stress responsive transcription factor of eukaryotic cells. Free radical Res. Commun., v. 17,

p. 221-237, 1992.

SEUBERT, J.; POHLKE, R.; LOEBICH, F. Synthesis and properties of praziquantel, a novel

broad spectrum anthelminthic with excellent activity against schistosomas and cestodes.

Experientia, v. 33, p. 1036-1037, 1977.

SILVA L. M. et al. A characterization of the vascular changes in schistosomal portal

(pipestem) fibrosis of mice. Acta trop., v. 98, n. 1, p. 34-42, 2006.

SOUZA, M. A. A. et al. Criadouros de Biomphalaria, temporários e permanentes, em Jaboatão

dos Guararapes, PE. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., v. 41, n. 3, p. 252-256, 2008.

STADECKER, M. J. The regulatory role of the antigen-presenting cell in the development of

hepatic immunopathology during infection with Schistosoma mansoni. Pathobiology, Journal

of Immunopathology, molecular and cellular biology, v. 67, p. 269-272, 1999.

STANDEN, D. The effect of temperature light and salinity upon the hatching of the ova of

Schistosoma mansoni. Trans. R. Soc. Trop. Med. Hyg., v. 45, p. 225-241, 1952.

Page 97: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

97

STAVITSKY AB. Regulation of Granulomatous Inflammation in Experimental Models of

Schistosomiasis. Infection and Immunity, Jan., p. 1–12, 2004.

STELMA, F. F. et al. Oxamniquine cures Schistosoma mansoni infection in a focus in which

cure rates with praziquantel are unusually low. J. Infect. Dis., v. 176, p. 304-307, 1997.

STELMA, F. F.; TALLA, I.; SOW, S. Efficacy and side effects of praziquantel in na epidemic

focus of Schistosoma mansoni. Am. J. Trop. Med. Hyg., v. 53, p. 167-170, 1995.

STIREWALT, M. A. Effect of snail maintenance temperatures on development of Schistosoma

mansoni. Exp. Parasitol., v. 3, p. 504-16, 1954.

STOCKINGER, B.; BOUUGEOIS, C.; KASSIOTIS, G. CD4+ memory T cells functional

differentiation and homeostatis. Immunol. Rev., v. 211, p. 39-48, 2006.

TALAAT, M. R. et al. Cytokine secretion profile associated with periportal fibrosis in S.

mansoni-infected Egyptian patients. Parasitol. Res., v. 101, p. 289, 2007.

TCHUEM TCHUENTE, L. A. et al. Schistosoma mansoni: lack of prezygotic reproductive

isolation between African and South American strains. Exp. Parasitol., v. 80, p. 323-327,

1995.

TDR. SPECIAL PROGRAM FOR RESEARCH AND TRAINING IN TROPICAL

DISEASES. Strategic Direction for Research. Disponível em

<http://www.who.tdr.diseases/schisto/default.htm>. Acesso em: set. 2009.

TIROUVANZIAM, R. et al. A High-dose oral N-acetylcysteine, a glutathione prodrug,

modulates inflammation in cystic fibrosis. Proc. Natl. Acad. Sci. USA, v. 103, p. 4628-4633,

2006.

VAN DEN BIGGELAAR, A. H. et al. Decreased atopy in children infected with Schistosoma

haematobium: a role for parasite-induced interleukin-10. Lancet, v. 356, n. 9243, p. 1723-7,

2000.

Page 98: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

98

VINCENZINI, M. T.; FAVILLI, F.; IANTOMASI, T. Glutathione-mediated transport across

intestinal brush-border membranes. T. Biochim. Biophys. Acta, Ser. Biomembr., v. 942, n. 1,

p.107-14, 1998.

VON LIGHTEMBERG, F. Consequences of infections with schistossomes. In: ROLLINSON,

D.; SIMPSON, A. J. B. (ed.). The biology of schistossomes. London: Academic Press, 1987.

p. 185-232.

WALTER, K. et al. Increase human IgE induced by killing Schistosoma mansoni in vivo is

associated with pretreatment Th2 cytokine responsiveness to worm antigens. J. Immunol., v.

177, p. 5490, 2006.

WARREN, K. S. The pathogenesis of “clay-pipestem cirrhosis” in mice with chronic

schistosomiasis mansoni, with a note on the longevity of the schistosomes. Am. J. Pathol., v.

49, p. 477-489, 1966.

WHO. Prevention and control of schistosomiasis and soil transmitted helminthiasis: report of a

WHO expert committee. WHO Tech. Rep. Ser., n. 912, 1993.

WHO. Schistosomiasis and soil-transmitted helminth infections-preliminary estimates of the

number of children treated with albendazole or mebendazole. Weekly Epidemiological

Record, n. 81, p. 145-164, 2006.

WYNN, T. A. et al. Analysis of cytokine mRNA expression during primary granuloma

formation induced by eggs of Schistosoma mansoni. J. Immunol., v. 151, p. 1430-1440, 1993.

WYNN, T. A.; CHEEVER, D.; JANKOVIC, D.; POINDEXTER, R. W.; CASPAR, P.;

LEVIS, F. A.; SHER, A. An IL-12-based vaccination method for prevening fibrosis induced

by schistosome infection. Nature, 376: 594-596, 1995.

WYNN, T.A. et al. IL-10 regulates liver pathology in acute murine schistosomiasis mansoni

but is not required for immune down-modulation of chronic disease. J. Immunol., n. 160, p.

4473-4480, 1998.

Page 99: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

99

YAMASHITA, T.; BOROS, D. L. IL-4 influences IL-2 production and granulomatous

inflammation in murine schistosomiasis mansoni. J. Immunol., v. 149, n. 11, p. 3659-3664,

1992.

YANG , K. et al. Effects of N-acetylcysteine administration in hepatic microcirculation of rats

with biliary cirrhosis. J. Hepatol., v. 49, p. 25–33, 2008.

YOU-SHENG, L. et al. In vitro responses of praziquantel-resistant and -susceptible

Schistosoma mansoni to praziquantel. Int. J. Parasitol., v. 31, n. 11, p. 1227-1235, 2001.

ZAFARULLAH, M. et al. Molecular mechanisms of N-acetylcysteine actions. Cell. Mol. Life

Sci., v. 60, p. 6–20, 2003.

ZILTON, A. A. Regressão da fibrose hepática. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., v. 38, n. 6, p. 514-

520, 2005.

Page 100: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

100

ANEXO

“A valentia não é apenas uma virtude,

mas a forma que adotam todas as virtudes nos momentos de prova.”

C. S. Lewis

Page 101: AVALIAÇÃO DA N-ACETILCISTEÍNA NA IMUNOPATOLOGIA … · Roberto Shinyashiki. DEDICATÓRIA . A DEUS, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho que me ... Difícil é encontrar

101