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AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO EM FLUÊNCIA EM AÇO 1%Cr-0,5%Mo
COM 240.000 HORAS DE OPERAÇÃO EM ALTAS TEMPERATURAS
Thiago da Rocha Moraes
Projeto de Graduação apresentado ao Curso de
Engenharia Metalúrgica da Escola Politécnica,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do
título de Engenheiro.
Orientadores: Luiz Henrique de Almeida
Heloísa Cunha Furtado
Rio de Janeiro
Agosto de 2014
Moraes, Thiago da Rocha
Avaliação do Comportamento em Fluência em Aço 1%Cr-
0,5%Mo com 240.000 horas de Operação em Altas
Temperaturas/ Thiago da Rocha Moraes. - Rio de Janeiro:
UFRJ/ Escola Politécnica, 2014.
IX, 63 p.: il.; 29,7 cm.
Orientadores: Luiz Henrique de Almeida
Heloísa Cunha Furtado
Projeto de Graduação - UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso
de Engenharia Metalúrgica, 2014.
Referências Bibliográficas: p. 61-63.
1. Aços Ferríticos Cr-Mo. 2. Evolução Microestrutural.
3. Comportamento em Fluência. 4. Análise Microestrutural.
I. Almeida, Luiz Henrique et al. II. Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia
Metalúrgica. III. Avaliação do Comportamento em Fluência
em Aço 1%Cr-0,5%Mo com 240.000 horas de Operação em
Altas Temperaturas.
iii
Á toda minha família, principalmente,
aos meus maravilhosos pais e irmão.
iv
Agradecimentos
Á Deus por ter me dado força para concluir essa etapa tão importante na minha vida, e
por ter permitido a companhia das pessoas listadas abaixo;
À toda minha família pela ajuda, carinho, compreensão e orientação nesta jornada;
À minha namorada Renata por seu amor e seu companheirismo, tão importantes nas
horas mais difíceis;
Aos amigos Marcelo, Thiago, Edgard, Rafael, Marcelo, Lucas, Daniel, Gilberto, Walter,
Sr. Júlio, Robson, Luiz Pedro, Bruno, Rodrigo e Fábio, que sempre me apoiaram e me
deram força, dentro e fora da Universidade;
À todos os professores do Departamento de Engenharia Metalúrgica, em especial, aos
professores Farias e Bastian, de quem obtive orientação pessoal, profissional e
acadêmica;
Aos meus orientadores Luiz Henrique e Heloísa, pela orientação e aprendizado contínuo
ao longo do projeto de graduação;
Aos amigos do CEPEL: Fernanda, Gláucio, Maurício, Wagner, Fernando, Michel,
Martins, Sérgio, e em especial, Heloísa, Bruno, Josélio, Roberta, Thiago, Fausto e
Renan, que sempre foram atenciosos, pacientes e amigos;
Ao CEPEL, pela infraestrutura e pelo apoio financeiro à realização deste projeto;
À todas as pessoas que participaram deste projeto e que minha memória não permitiu
homenagear;
v
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte
dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Metalúrgico.
AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO EM FLUÊNCIA EM AÇO 1%Cr-0,5%Mo
COM 240.000 HORAS DE OPERAÇÃO EM ALTAS TEMPERATURAS
Thiago da Rocha Moraes
Agosto/2014
Orientadores: Luiz Henrique de Almeida
Heloísa Cunha Furtado
Curso: Engenharia Metalúrgica
Os aços Cr-Mo são largamente utilizados na indústria de geração de energia,
pois possuem propriedades importantes como boa soldabilidade, alta tenacidade, alta
condutividade térmica e boa resistência à corrosão e à fluência. Contudo, após longa
exposição à altas temperaturas e pressões, esses materiais tendem a sofrer com a
degradação de sua microestrutura, o que diminui significativamente a resistência à
fluência desses materiais. Logo, o objetivo do presente trabalho é avaliar o
comportamento em fluência de um aço 1%Cr-0,5%Mo, retirado de serviço após operar
em torno de 240.000 horas sob temperatura de 500°C e pressão de 80 kg/cm². Para esta
avaliação foram realizados ensaios de ruptura por fluência utilizando tensões de 125,
150, 175 e 235 MPa nas temperaturas de 500°C e 550°C. Após os ensaios, amostras dos
corpos de prova rompidos foram analisados em microscópio de luz visível e
microscópio eletrônico de transmissão, utilizando a técnica de réplica de carbono. As
micrografias apresentaram microestruturas ferrítico-perlíticas, com intensa precipitação
nos contornos de grão. No entanto, a degradação sofrida pela microestrutura não
representou indício de que o material estivesse no fim de sua vida útil, fato corroborado
pelos ensaios de fluência e pelas análises em microscópio eletrônico de transmissão, que
revelaram nos contornos e nas áreas perlíticas presença maciça de precipitados do tipo
M3C.
Palavras-chave: Aços Ferríticos Cr-Mo, Evolução Microestrutural, Comportamento em
Fluência, Análise Microestrutural.
vi
Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of
the requirements for degree of Engineer.
AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO EM FLUÊNCIA EM AÇO 1%Cr-0,5%Mo
COM 240.000 HORAS DE OPERAÇÃO EM ALTAS TEMPERATURAS
Thiago da Rocha Moraes
August/2014
Advisor: Luiz Henrique de Almeida
Heloisa Cunha Furtado
Course: Metallurgical Engineering
The Cr-Mo steels are widely used in the power generation industry, as they have
important properties such as good weldability, high toughness, high thermal
conductivity, good corrosion resistance and good creep resistance. However, after long
exposure time at high temperatures and pressures, the microstructure of these materials
tends to suffer degradation, which significantly reduces the creep resistance of these
materials. Therefore the aim of this work is to evaluate the creep behavior of a Cr-Mo
steel removed from service after more than 240,000 hours of operation at a temperature
of 500°C and pressure of 80 kg / cm ². For this evaluation, creep-rupture tests were
made at 500°C and 550°C with the following values of stresses: 125, 150, 175 and 235
MPa. After the tests the microstructural evaluation of the specimens was performed by
optical microscopy and transmission electron microscopy using carbon extraction
replicas. The optical microscopy analysis presented ferritic-pearlitic microstructures
with intense precipitation of carbides at grain boundaries. However, the degradation
suffered by the microstructure did not represent evidences that the material have
reached his end-of-life, fact corroborated by the creep tests and by TEM analysis, which
revealed massive presence of M3C carbides at grains boundaries and in the pearlitic
areas.
Keywords: Ferritic Cr-Mo Steels, Microstructural Evolution, Creep Behavior,
Microstructural Evaluation.
vii
SUMÁRIO
1 - INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 1
2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 3
2.1 - Aços resistentes ao calor ...................................................................................... 3
2.2 - Aços ferríticos Cr-Mo .......................................................................................... 3
2.3 - Aços 1Cr-0,5Mo ................................................................................................... 4
2.4 - Elementos de liga nos aços Cr-Mo ....................................................................... 6
2.5 - Evolução microestrutural nos aços ferríticos Cr-Mo ......................................... 10
2.6 - Fluência nos aços ............................................................................................... 15
2.6.1 - Curva de fluência ........................................................................................ 15
2.6.2 - Mecanismos de deformação por fluência.................................................... 17
2.6.3 - Tipos de gráficos de fluência ...................................................................... 18
2.6.4 - Parâmetro de Larson-Miller ....................................................................... 19
2.6.5 - Resistência à fluência em aços Cr-Mo. ....................................................... 20
3 - MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................... 23
3.1 - Material .............................................................................................................. 23
3.2 - Ensaios de fluência ............................................................................................. 25
3.3 - Microscopia de luz visível ................................................................................. 27
3.4 - Microscopia eletrônica de transmissão .............................................................. 27
3.5 - Etapas do projeto ................................................................................................ 29
4 - RESULTADOS ........................................................................................................ 30
viii
4.1 - Ensaios de fluência ............................................................................................. 30
4.2 - Microscopia de luz visível ................................................................................. 35
4.3 - Microscopia eletrônica de transmissão .............................................................. 41
4.3.1 - Primeira amostra do ensaio F500,125 ........................................................... 43
4.3.2 - Segunda amostra do ensaio F500,125 ............................................................ 48
5 - DISCUSSÃO ............................................................................................................ 54
5.1 - Ensaios de fluência ............................................................................................. 54
5.2 - Microscopia de luz visível ................................................................................. 58
5.3 - Microscópio eletrônico de transmissão .............................................................. 58
6 - CONCLUSÕES ....................................................................................................... 61
7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ................................................................. 62
ix
1 - INTRODUÇÃO
Os aços resistentes ao calor possuem grande importância na indústria de geração
de energia e, dentre eles, os aços Cr-Mo possuem um bom custo/benefício, o que faz
com que sejam largamente utilizados em diversas aplicações, tais como: tubulações de
caldeiras, vasos de pressão, partes estruturais, entre outras.
O bom custo/benefício é explicado por uma boa relação tensão admissível/custo
total, assim como baixo coeficiente de expansão térmica, alta condutividade térmica,
alta tenacidade, boa soldabilidade, além de propriedades importantes para condições de
serviço sob temperaturas elevadas, como boa resistência à corrosão e à fluência.
A adição dos elementos cromo, molibdênio e manganês em solução sólida
explica a boa resistência à fluência dos aços Cr-Mo, que geralmente operam na
condição normalizada e possuem microestrutura ferrítico-perlítica ou ferrítico-bainítica.
Contudo, após longa exposição a altas temperaturas e pressões, esse material tende a
sofrer com a degradação de sua microestrutura. A temperatura elevada atua como força
motriz para o processo de difusão, que favorece a precipitação dos elementos presentes
em solução sólida na forma de carbonetos, nitretos e carbonitretos, que ainda podem
esferoidizar e evoluir para estruturas mais coalescidas, mais estáveis e menos
resistentes.
A degradação da microestrutura diminui a resistência à fluência, facilitando o
desenvolvimento de vazios e microtrincas nos contornos de grão. Logo, estudos para
avaliação dos danos por fluência são fundamentais para a correta elaboração de um
plano de inspeção de integridade estrutural em plantas que operam sob temperaturas
elevadas.
Considerando a idade avançada de algumas usinas termelétricas e a busca
contínua pela eficiência na geração de energia, com usinas termelétricas operando sob
temperaturas cada vez mais altas, o objetivo deste trabalho é avaliar a resistência à
fluência de um aço 1%Cr-0,5%Mo envelhecido em serviço.
O aço em questão, cedido pela Tractebel Energia, é proveniente do coletor de
saída do superaquecedor secundário, que operou em torno de 240.000 horas sob
temperatura de 500°C e pressão de 80 kg/cm². Trata-se de um aço 1Cr-0,5Mo de classe
1
ferrítica para aplicação em altas temperaturas, codificado pelo fabricante com a
especificação alemã DIN 16CrMo44.
Para a avaliação da resistência à fluência, foram realizados ensaios de ruptura
por fluência utilizando tensões de 125, 150, 175 e 235 MPa sob temperaturas de 500°C
e 550°C. Após os ensaios, amostras dos corpos de prova rompidos foram analisados em
microscópio de luz visível e duas amostras do ensaio de maior duração foram analisadas
no microscópio eletrônico de transmissão, utilizando a técnica de réplica de carbono.
As análises em microscópio de luz visível revelaram microestruturas ferrítico-
perlíticas, com regiões perlíticas bem degradadas e intensa precipitação de carbonetos
nos contornos de grão. No entanto, a degradação sofrida pela microestrutura não
representou indício de que o material estivesse no fim de sua vida útil, fato corroborado
pelos ensaios de fluência e pelas análises em microscópio eletrônico de transmissão, que
revelaram nas áreas perlíticas presença maciça de precipitados do tipo M3C.
2
2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 - Aços resistentes ao calor
Em ambientes não corrosivos, sem pressão constante e com temperaturas até
425ºC, o aço ao carbono é o material com melhor relação custo/benefício e, apesar de
possuir boa resistência mecânica acima de 425ºC, a exposição prolongada a partir desta
temperatura causa grafitização, o que ocasiona perda de resistência mecânica [1]. Em
condições de tensão constante, deve ser utilizado até 370ºC, pois acima desta
temperatura se torna fortemente sensível à fluência.
Com 0,15% de carbono e 0,5% de molibdênio, os aços C-Mo são mais
resistentes à fluência, porém tem sua utilização limitada a 455ºC, já que acima desta
temperatura podem falhar em serviço por fenômenos como esferoidização, grafitização
e fluência [1].
Os aços ferríticos Cr-Mo possuem de 0,5 a 1,0 % de molibdênio, para aumentar
a resistência à fluência, e de 0,5 a 9,0 % de cromo, para aumentar a resistências à
corrosão e à grafitização além de melhorar a ductilidade. Podendo conter ainda
pequenas adições de elementos como vanádio, tungstênio, nióbio e titânio, essa classe
de aço pode operar até 650ºC e possui uma ótima relação tensão admissível/custo total,
em que custo total compreende os custos de material, de fabricação, de substituição e de
reparo [1].
Acima de 650ºC, se faz necessária a utilização dos aços austeníticos, que
possuem mais de 9% de cromo em peso e resistem melhor às degradações química e
mecânica sob altas temperaturas. Esses aços possuem alto custo total, o que torna
proibitiva sua utilização abaixo de 650ºC. Além do custo, os aços ferríticos levam
grande vantagem em condições de ciclo térmico, pois possuem alta condutividade
térmica e baixo coeficiente de expansão térmica [2].
2.2 - Aços ferríticos Cr-Mo
Os aços ferríticos Cr-Mo possuem extensa aplicação nos mais variados setores
da indústria, pois possuem ótima relação custo/benefício que pode ser justificada tanto
3
por seu baixo custo, em comparação com os aços austeníticos, quanto por suas boas
propriedades, como tenacidade, soldabilidade, expansão térmica e resistência à
corrosão, além de ótima resistência à fluência, que talvez seja a propriedade mais
importante dessa classe de aços [1].
Estes aços podem apresentar microestruturas do tipo ferrítico-bainítica ou
ferrítico-perlítica, dependendo do tratamento térmico realizado, apresentando diferenças
nas propriedades mecânicas e na estabilidade térmica sob altas temperaturas.
As microestruturas temperadas e revenidas ou bainíticas apresentam maior
resistência mecânica, porém degradam mais rápido em altas temperaturas, sendo,
portanto, utilizadas em aplicações de temperaturas mais brandas ou em aplicações com
temperaturas elevadas, mas com curto tempo de exposição.
As microestruturas recozidas, ou perlíticas, são mais estáveis termicamente, pois
apresentam menor taxa de fluência e menor perda de ductilidade, sendo indicadas para
aplicações com longos tempos de exposição à temperatura elevada [1, 3, 4]. Isto ocorre
devido ao fato da decomposição da perlita ser mais lento do que a da bainita, além do
longo tempo necessário para a formação da estrutura composta por ferrita mais
carboneto e para a formação do carboneto M6C [4].
Entretanto, após longo tempo em serviço, as duas microestruturas se
esferoidizam e tendem a apresentar a mesma resistência à fluência. VISWANATHAN
[5] realizou ensaios de fluência em aços 2,25Cr-1Mo a 540°C, verificando a ocorrência
desta convergência em torno de 50.000 horas.
2.3 - Aços 1Cr-0,5Mo
Os aços do tipo 1Cr-0,5Mo podem ser utilizados em coletores, tubos para
caldeiras e tubulação para torres de craqueamento com temperaturas de serviço entre
510 e 540°C [1]. Com pequena adição de cromo e mesmo teor de molibdênio, os aços
1,25Cr-0,5Mo podem ser utilizados até 590°C e possuem tensão de ruptura e resistência
à fluência similares aos aços 1Cr-0,5Mo, conforme apresenta a Figura 2.1.
A Figura 2.2 apresenta o limite de escoamento e o limite de resistência à tração
para diversos aços Cr-Mo ensaiados sob temperaturas ambiente e a 540°C. Sob
4
temperatura ambiente, o aço 1Cr-0,5Mo apresenta limite de escoamento similar ao aço
2,25Cr-1Mo, mas apresenta limite de resistência menor do que os aços 0,5Mo,
1,25Cr-0,5Mo e 2,25Cr-1Mo. A 540°C, o limite de resistência do aço 1Cr-0,5Mo é
maior do que dos aços 0,5Mo, similar ao aço 2,25Cr-1Mo e menor do que do aço
1,25Cr-0,5Mo. Os aços 7,0Cr-0,5Mo e 9,0Cr-1Mo apresentam maior resistência
mecânica nas duas temperaturas.
Figura 2.1 - Resistência à fluência (0,01% em 1.000h) e tensão de ruptura (100.000 h) dos aços 1Cr-0,5Mo e 1,25Cr-0,5Mo. Adaptado de [6].
Figura 2.2 - Limite de resistência à tração e limite de escoamento sob temperatura ambiente e a 540°C, para diversos aços Cr-Mo e C-Mo. Adaptado de [1].
5
2.4 - Elementos de liga nos aços Cr-Mo
O carbono é um dos elementos mais importantes nos aços Cr-Mo, tanto pelo
aumento da temperabilidade e resistência mecânica em temperatura ambiente, quanto
por sua importância na resistência à fluência em altas temperaturas. Aumentando o teor
de carbono de 0,15% para 0,20%, melhoram as propriedades em fluência sem qualquer
efeito significativo na soldabilidade [7]. Entretanto, concentrações de carbono acima de
0,20% prejudicam a soldabilidade e diminuem a tenacidade à fratura [8], sendo,
portanto, evitadas.
A Figura 2.3 apresenta a influência do teor de carbono na resistência à ruptura
por fluência em um aço 2,25Cr-1Mo. Pode-se observar que o efeito endurecedor do
carbono diminui à medida que a temperatura aumenta, o que pode estar relacionado
tanto pelo empobrecimento da matriz, devido a criação de carbonetos às custas do
carbono presente em solução sólida, quanto pela esferoidização e coalescimento dos
carbonetos formados, que diminui o endurecimento por precipitação, pois aumenta o
livre caminho médio entre os precipitados, facilitando a movimentação das
discordâncias.
Figura 2.3 - Resistência à ruptura por fluência do aço 2,25Cr-1Mo em função do teor de carbono sob temperaturas de 537°C e 593°C. Adaptado de [8].
6
O manganês pode apresentar teores entre 0,25 e 1,7% nos aços ferrítico-
perlíticos e sua influência no limite de resistência à tração foi estudada por IRVINE e
colaboradores [9], que realizaram ensaios de tração em aços na condição normalizada e
utilizaram técnicas de regressão para determinar as contribuições relativas dos
mecanismos: endurecimento por solução sólida, tamanho de grão e endurecimento por
dispersão das lamelas de perlita. Os resultados podem ser vistos na Figura 2.4.
Figura 2.4 - Influência do teor de manganês na resistência mecânica de aços C-Mn [9].
A resistência mecânica aumentou expressivamente com o aumento da
concentração de manganês, havendo contribuição dos três mecanismos, porém com leve
vantagem para a dispersão das lamelas de perlita.
A capacidade do manganês de favorecer a formação da composição eutetóide
para teores menores de carbono explica o aumento na proporção de perlita [3], o fato de
ser um efetivo endurecedor por solução sólida e um bom refinador de grão explicam os
outros mecanismos. Porém, apesar de tantos benefícios, o manganês contribui para a
fragilização por revenido e tem seu uso limitado em aços Cr-Mo, nos quais a adição dos
elementos cromo e molibdênio contribuem de maneira mais eficaz para o
endurecimento por solução sólida.
A adição do cromo nos aços Cr-Mo ferríticos promove um aumento na
resistência à corrosão e sua influência na resistência à fluência é complexa, pois apesar
da sua adição promover endurecimento por solução sólida, o cromo é um excelente
formador de carbonetos e tende a retirar molibdênio e carbono da matriz para formar os
7
carbonetos instáveis M7C3 e M23C6, que se esferoidizam e crescem rapidamente. A
formação destes precipitados reduz o endurecimento por solução sólida e, por eles
serem grandes, não impede o movimento das discordâncias, reduzindo assim a
resistência à fluência [7]. A Figura 2.5 apresenta o efeito do teor de cromo sobre a
resistência à fluência, representada pela tensão necessária para produzir taxa mínima de
fluência de 0,0001% por hora, para diversos tipos de aços ensaiados a 540ºC.
Figura 2.5 - Efeito do teor de cromo na resistência à fluência de diversos aços ensaiados a 540ºC. Adaptado de [10].
O molibdênio é essencial para aços que operam acima de 450ºC, pois é o
elemento mais eficaz para aumentar a resistência à fluência. Nos aços ferríticos,
pequenas adições, menores que 0,5%, são suficientes para aumentar consideravelmente
a resistência à fluência e a presença de apenas 1% de Mo em solução sólida é capaz de
bloquear o movimento das discordâncias, sendo, portanto, desnecessárias maiores
concentrações de Mo [7].
A concentração de Mo em solução sólida pode ser comprometida pela afinidade
que o Mo possui pelo C, sendo que a precipitação é limitada unicamente pela
quantidade disponível de C acima do equilíbrio do aço [11]. Logo, para manter o Mo
em solução sólida, pode-se adicionar os elementos Ti, Nb e V, que possuem maior
afinidade pelo C do que o Mo, ou quando possível, diminuir o teor de C.
8
Cabe ressaltar que, apesar da formação do carboneto Mo2C retirar Mo da
solução sólida, este carboneto é do tipo M2C que é o carboneto que confere maior
resistência mecânica nos aços Cr-Mo. Os carbonetos Mo2C formam uma densa camada
de finas agulhas que contribuem para o endurecimento por precipitação [1], aumentando
principalmente a tensão de ruptura [12].
Entretanto, o efeito negativo no endurecimento por solução sólida não é o único
problema causado pela precipitação dos carbonetos Mo2C. YU e colaboradores [13, 14]
demonstraram que qualquer decréscimo de molibdênio na matriz pode aumentar a
possibilidade de fragilização por revenido e que a presença de manganês, silício e
cromo, em solução sólida, podem segregar fósforo nos contornos de grão, fragilizando
ainda mais o aço. Este fenômeno se torna mais importante após longo tempo de
operação sob altas temperaturas, quando os carbonetos M3C, ricos em ferro, e M7C3,
ricos em cromo, tendem a serem substituídos por carbonetos mais estáveis do tipo M2C
ricos em molibdênio. Essa transformação diminui o teor de molibdênio e aumenta o teor
de cromo em solução sólida, liberando fósforo para segregar nos contornos de grão.
LUNDIN e colaboradores [8] estudaram a influência do molibdênio no tempo de
ruptura em fluência para aços 3Cr-xMo, com x variando entre 0,8 a 1,6%. Os ensaios
foram conduzidos utilizando temperatura de 538°C e tensões de 165, 207 e 248 MPa.
Os resultados podem ser vistos na Figura 2.6 e demonstram a relação direta entre o teor
de molibdênio e o tempo de ruptura em fluência.
A adição de níquel entre 0,4 e 1,0% nos aços Cr-Mo tem como objetivo
melhorar a tenacidade do material, pois abaixa a menor temperatura crítica (Ac1) para
que fique próxima à temperatura de tratamento térmico pós-soldagem, melhorando a
resposta ao revenimento, além de eliminar as chances de formação de ferrita delta
residual, que reduz a tenacidade e a resistência à fluência do material [7]. Porém, níquel
em excesso promove mudanças na evolução da precipitação de carbonetos, o que reduz
a resistência à fluência [7].
9
Figura 2.6 - Influência do teor de molibdênio no tempo de ruptura do aço 3Cr-Mo ensaiado a 538ºC. Adaptado de [8].
2.5 - Evolução microestrutural nos aços ferríticos Cr-Mo
A utilização das técnicas de espectro de dispersão de energia (EDS) e difração
de raios-X possibilitaram a identificação de diversos precipitados presentes nos aços.
Cada precipitado possui composição química, estrutura cristalina e distribuição própria,
o que faz com que influenciem diferentes tipos de propriedades, além do aparecimento
de alguns serem indicativos de degradação microestrutural. Nos aços Cr-Mo, diversos
tipos de carbonetos têm sido reportados na literatura, como por exemplo, MC, M2C,
M3C, M7C3, M23C, e M6C.
A Tabela 2.1 apresenta os espectros dos carbonetos M2C, M3C, M7C3, M23C, e
M6C, observados em um aço 2,25Cr-1Mo, na condição normalizado e revenido. E o
espectro do carbonitreto (CrMo)2CN, observado em um aço 3Cr-1,5Mo-1Ni [15].
10
Tabela 2.1 - Típicos espectros de EDS encontrados em aços Cr-Mo [15].
(a) M2C - Carboneto rico em Mo, geralmente Mo2C, com estrutura HC e forma tipicamente acicular e fina, quando encontrado na matriz, e levemente globular, quando encontrado no contorno de grão. Possui alta solubilidade para o Cr e o V e nucleia-se inicialmente coerente com a matriz ferrítica [16].
(b) M3C - Carboneto rico em Fe, geralmente Fe3C, possui estrutura ortorrômbica e baixa solubilidade ao Cr e Mo. Nucleia-se diretamente da matriz ferrítica e após sua formação apresenta apenas um leve coalescimento sem maiores mudanças na sua forma original. Tende a formar carbonetos mais estáveis conforme aumenta a concentração de Cr na cementita.
(c) M7C3 - Carboneto rico em Cr, geralmente Cr7C3, com estrutura pseudo-hexagonal e com forma acicular na matriz e globular no contorno de grão. Possui alta solubilidade ao Fe e Mn e a sua nucleação ocorre a partir do M3C, tanto dentro quanto na interface ferrita-carboneto.
(d) M23C6 - Carboneto rico em Cr, pode ser Cr23C6 e Fe21Mo2C6, por possuir alta solubilidade ao Fe e C. Possui estrutura CFC complexa e sua nucleação também ocorre a partir do M3C, tanto dentro quanto na interface ferrita-carboneto.
(e) M6C - Carboneto formado basicamente de Fe e Mo, tais como Fe3Mo3C e Fe4Mo2C, também pode apresentar altos teores de outros elementos, como o silício, por exemplo [12]. Possui estrutura CFC e aparece na forma globular. Nucleia-se nos contornos de grão e é o carboneto mais estável após longo tempo em fluência [17].
(f) (CrMo)2CN - Carbonitreto rico em cromo e molibdênio, formado geralmente no interior dos grãos ferríticos na forma de agulhas. É uma variação do carboneto M2C.
11
Ao longo dos anos, muitos pesquisadores realizaram experimentos com aços
1Cr-0,5Mo retirados de serviço, tendo como objetivo entender melhor a degradação
sofrida pelo aço após longo tempo de operação sob temperaturas elevadas.
VARIN e HAFTEK [18] estudaram amostras de aço 1Cr-0,5Mo, provenientes
de tubos de reforma que operaram por 105.000 h e 122.000 h sob a temperatura de
520ºC, e encontraram carbonetos M6C somente nas amostras com maior tempo de
exposição, tendo apresentado a seguinte sequência de precipitação:
Fe3C → M7C3 + M23C6 (105.000h) → M7C3 + M23C6 + M6C (122.000h)
Os autores sugeriram que a formação dos carbonetos M6C nos contornos de grão
ferríticos poderia ser um parâmetro importante na estimativa de vida residual do
material, visto que a nucleação e crescimento de tais carbonetos demandam grande
quantidade de Mo, o que poderia levar à dissolução do Mo2C na matriz ferrítica,
reduzindo assim o endurecimento por precipitação.
BISS e WADA [19] avaliaram amostras de aço 1Cr-0,5Mo retirados de vasos de
pressão e determinaram que apenas 72% e 32% das concentrações iniciais de Cr e Mo,
respectivamente, permaneceram em solução sólida após 20 anos (172.800h) de operação
sob a temperatura de 524°C. A diminuição do teor de Cr pode ser explicada pela
formação do precipitado M7C3, rico em Cr e encontrado em contato com partículas de
cementita (M3C). A formação do precipitado Mo2C, geralmente nos grãos ferríticos,
explica a ausência do Mo em solução sólida após os 20 anos em operação.
DOBRZÁNSKI e HERNAS [4] investigaram a microestrutura de amostras de
aço 1Cr-0,5Mo retiradas de diferentes regiões de caldeiras a vapor, com tempos de
serviço variando de 50.000 a 270.000 horas, temperaturas entre 490 e 540°C e tensão
média de 50 MPa. Analisando essas amostras com diferentes tempos e temperaturas de
exposição, eles apresentaram a seguinte sequência de transformação dos carbonetos:
M3C + M2C → M23C6 + M2C + M3C → M23C6 + M7C3 + M6C →M6C + M23C6
Eles ainda analisaram a influência do precipitado deletério M6C na perda de
resistência à fluência do material, realizando ensaios de fluência por ruptura em
amostras com diferentes frações do precipitado M6C, ou seja, amostras com diferentes
graus de deterioração. A Figura 2.7 apresenta o resultado desses ensaios.
12
Figura 2.7 - Influência do carboneto M6C na resistência à fluência de aços 1Cr-0,5Mo com diferentes tempos de serviço ensaiados a 550°C e 125 MPa. Extraído e adaptado de [4].
TOFT e MARSDEN [20] estudaram amostras de aço 1Cr-0,5Mo retiradas de
tubos de superaquecedores com tempos de serviço de até 100.000 horas sob
temperaturas entre 454 e 518°C. Todas as amostras possuíam microestrutura composta
por ferrita e perlita e, após serem submetidas a ensaios de fluência, foi observado uma
relação entre a tensão de ruptura e o grau de esferoidização dos carbonetos.
Os autores propuseram então um dos critérios de classificação de deterioração
microestrutural mais usados para aços ferríticos-perlíticos, baseado na sequência do
processo de esferoidização da perlita e no tempo de ruptura em fluência. O critério pode
ser visto na Tabela 2.2 e possui seis estágios de classificação, partindo do estágio A com
perlita ainda na forma lamelar e sem sinais de esferoidização, até o estágio F com a
microestrutura totalmente degradada e presença considerável de precipitados do tipo
M6C.
13
Tabela 2.2 - Critério de Toft-Marsden para aços de estrutura ferrita-perlita. F - ferrita, P - perlita, C - carbonetos. Extraído e adaptado de [20].
Estágio A - Apresenta típica estrutura lamelar da perlita de um aço novo.
Carbonetos do tipo Fe3C nas áreas perlíticas e início de precipitação dos carbonetos do tipo Mo2C (de até 0,1 µm) no interior dos grãos ferríticos.
Estágio B - Primeiros sinais de esferoidização.
Precipitação de pequenos carbonetos do tipo Cr7C3 e Mo2C (de até 0,2 µm) na ferrita. Possível precipitação de carbonetos nos contornos de grão (supostamente do tipo Cr7C3).
Estágio C - Estágio intermediário de esferoidização. Apresenta intensa esferoidização dos carbonetos nas áreas perlíticas, mas ainda apresenta algumas lamelas de perlita.
Aumento da precipitação de carbonetos na ferrita e nos contornos de grão. Na ferrita, carbonetos do tipo Cr7C3 e Mo2C crescem até 0,5 µm.
Estágio D - Esferoidização dos carbonetos virtualmente completa, mas eles continuam agrupados no padrão original da perlita.
Algumas partículas de Fe3C se transformam em Cr7C3, e talvez em Mo2C. Carbonetos na ferrita continuam crescendo (Mo2C cresce até 1 µm).
Estágio E - Esferoidização está completa e os carbonetos estão dispersos, restando apenas alguns traços da estrutura original da perlita.
As partículas de Fe3C na perlita se transformam em Cr7C3 e Mo2C. Os precipitados Cr7C3 e Mo2C crescem ainda mais (Mo2C atinge 1,5 µm).
Estágio F - Aumento considerável do tamanho dos carbonetos e dispersão total das áreas perlíticas.
Precipitação considerável de carbonetos do tipo M6C e consequente diminuição da quantidade de Mo2C. Formação de novos grãos de ferrita.
14
2.6 - Fluência nos aços
Em aplicações com temperatura elevada e tensão constante, os aços podem
sofrer grande deformação e até fraturar, mesmo para tensões muito abaixo do limite de
escoamento. Esse tipo de fragilização é causada pela fluência, que pode ser definida
como sendo a deformação, dependente do tempo, de um material sob tensão ou
carregamento constante [1]. A fluência nos aços pode ser observada em temperaturas a
partir de 370°C, mas ganha maior importância em temperaturas superiores a 0,5 TF,
onde TF é a temperatura de fusão do metal em escala absoluta.
2.6.1 - Curva de fluência
O comportamento de um material em fluência pode ser avaliado através da
realização de ensaios de fluência, que consistem em determinar a deformação ao longo
do tempo, de um corpo de prova submetido a temperatura constante e carregamento (ou
tensão) constante. Os ensaios com carregamento constante são mais fáceis de realizar,
pois a tensão inicial aplicada é a própria tensão do ensaio, não havendo correção da
tensão devido à diminuição da seção resistente do corpo de prova. Além disso, tais
ensaios reproduzem melhor as condições reais de operação do material, sendo, portanto,
mais utilizados do que os ensaios com tensão constante, que são realizados quando se
deseja um melhor entendimento dos mecanismos de deformação.
A curva formada pela deformação ao longo do tempo é chamada curva de
fluência. Tipicamente, tal curva possui uma deformação inicial, ɛ0, e três regiões com
diferentes taxas de fluência, ou inclinações (dɛ/dt), conforme apresentada na curva A da
Figura 2.8, que apresenta ainda a curva B que representa a variação da taxa de fluência
durante o ensaio.
O primeiro estágio de fluência, conhecido como fluência primária, é definido por
ser um período transiente, com taxa de fluência decrescente, no qual a sua própria
deformação aumenta a resistência à fluência [21, 22].
O segundo estágio de fluência, ou fluência secundária, também é conhecido por
fluência em estado de equilíbrio, pois apresenta uma taxa de fluência praticamente
constante, explicada por um estado de equilíbrio que resulta de um processo
competitivo entre mecanismos de encruamento e recuperação [22]. O valor médio da
taxa de fluência durante este estágio é chamada de taxa mínima de fluência, que é um
15
parâmetro de grande importância em projetos de engenharia e pode ser apresentado sob
as formas: a tensão necessária para produzir uma taxa de fluência de 0,0001 por cento
por hora (1% / 10.000 h) ou 0,00001por cento por hora (1% / 100.000 h).
O terceiro estágio de fluência, ou fluência terciária, é caracterizado por um
súbito aumento da taxa de fluência seguido de fratura. Ocorre quando há grande
diminuição da seção resistente, tanto devido à formação de pescoço quanto ao acúmulo
de danos, tais como desenvolvimento de vazios e microtrincas nos contornos de grãos
[21, 22, 23].
Figura 2.8 - Típica curva de fluência e variação da taxa de fluência durante o ensaio, representadas pelas curvas A e B, respectivamente. Extraído e adaptado de [21, 22].
A obtenção de uma curva de fluência com três estágios bem definidos depende
do material a ser ensaiado e, principalmente, da combinação de temperatura e tensão
aplicada durante o ensaio. As curvas de fluência de alguns metais expostos a
temperaturas ou tensões elevadas podem não exibir o primeiro estágio e, em casos
extremos, nem o segundo estágio, apresentando somente o terceiro estágio logo após a
deformação inicial [1]. Em contrapartida, para temperaturas e tensões baixas, os dois
primeiros estágios ganham importância à custa do terceiro, como é o caso das caldeiras
de usinas termelétricas, que, por operarem em combinações de temperatura e tensão que
levam a longos tempos de serviço, superiores a 10 anos, apresentam um pequeno
16
estágio primário e um estágio secundário que representa a maior extensão da vida útil
do componente [2]. A Figura 2.9 (a) demonstra a influência da temperatura e da tensão
no comportamento em fluência de um material, apresentando a variação dos três
estágios de fluência, enquanto a Figura 2.9 (b) ilustra a influência dos mecanismos de
deformação na confecção da curva.
Figura 2.9 - Influência da tensão, da temperatura e do mecanismo de deformação predominante na forma da curva de fluência. Extraído e adaptado de [24].
2.6.2 - Mecanismos de deformação por fluência
A temperatura e o estado de tensões exercem grande influência sobre os
mecanismos de deformação por fluência, que são afetados também pelo tamanho de
grão e pelas propriedades do próprio material.
Sob tensões elevadas, o mecanismo predominante é a fluência por
movimentação de discordâncias, situação ilustrada pela curva A da Figura 2.9 (b), em
que processos termicamente ativados, como por exemplo escalagem e deslizamento
cruzado, permitem que as discordâncias superem barreiras como precipitados coerentes,
átomos de soluto e degraus de discordâncias; sob temperaturas elevadas e baixas tensões
ocorre fluência por difusão, curva C da Figura 2.9 (b), na qual um fluxo de lacunas e
átomos intersticiais se difunde ao longo do eixo de carga, fazendo com que o material
perca área específica; para temperaturas mais brandas, aproximadamente 0,4Tf, esse
fluxo tende a ocorrer através dos contornos de grão, mecanismo chamado fluência de
Coble; para temperaturas maiores ocorre o mecanismo de fluência de Nabarro-Hering,
onde a difusão se dá no interior do grão.
Há ainda um mecanismo intermediário chamado de deslizamento de contorno,
em que os grãos se deslocam uns em relação aos outros, formando trincas entre eles,
17
representado pela curva B da Figura 2.9 (b), que ocorre quando coexistem os
mecanismos de movimentação de discordâncias e difusão.
2.6.3 - Tipos de gráficos de fluência
Sabe-se que, através das curvas de fluência, é possível obter parâmetros
importantes de engenharia, tais como taxa mínima de fluência e tempo de ruptura. A
manipulação desses dados permite a confecção de inúmeros tipos de gráficos de grande
importância para engenharia, alguns estão expostos na Tabela 2.3.
Tabela 2.3 - Tipos de representação dos dados de ensaios de fluência.
Gráfico Tensão x Tempo de ruptura Obtido em ensaios de ruptura por fluência e utilizado em aplicações que permitem deformação, mas a fratura deve ser evitada. A extrapolação dos dados pode ser comprometida devido à mudança de inclinação da reta, que ocorre devido a mudanças estruturais que ocorrem no material, tais como recristalização, crescimento de grão, entre outros [22].
Gráfico Tensão x Taxa mínima de fluência Na escala log-log, quanto menor a temperatura, maior a tensão suportada para produzir uma mesma taxa mínima de fluência.
Gráfico Tensão x tempo necessário para produzir certa quantidade de deformação total. A curva superior é a curva de ruptura por fluência e as percentagens acima de cada ponto representam a redução de área na fratura. No gráfico ao lado, foi ensaiada a liga 15-25-6 a 700°C [22, 25].
18
2.6.4 - Parâmetro de Larson-Miller
Os materiais resistentes às altas temperaturas são projetados para operar por
longos períodos de tempo, muitas vezes mais de 100.000 horas, o que inviabiliza a
realização de ensaios de fluência utilizando a temperatura e a tensão de serviço. Logo,
para a correta predição da vida residual desses materiais, são utilizados métodos de
extrapolação, nos quais os dados adquiridos em ensaios acelerados de fluência são
extrapolados para condições reais de operação.
O parâmetro de Larson-Miller é um método de extrapolação paramétrico que
permite calcular o tempo de ruptura do material, caso se conheça a tensão e a
temperatura a que ele está submetido. A sua simplicidade e a ampla quantidade de
dados na literatura técnica, fazem com que seja um dos parâmetros mais utilizados na
engenharia [21]. Sendo função da tensão, pode ser definido por [1]:
P = f (σ) = 1,8T (C + log tR) x 10-3
Onde:
- P é o parâmetro de Larson-Miller, que é função da tensão (f (σ));
- T é a temperatura do ensaio na escala absoluta;
- tR é o tempo de ruptura, em horas;
- C é uma constante adimensional característica do material.
Para aços Cr-Mo, é comum encontrar na literatura o valor de 20 para a constante
C, pois nos estudos conduzidos por Larson e Miller este foi o valor que melhor ajustou
o parâmetro. Porém, para uma previsão mais adequada, é necessário o cálculo da
constante C para o material estudado. Sendo assim, foram realizados diversos estudos
com diferentes materiais, nos quais o valor de C variou de 10 a 40. No caso de aços
2,25Cr-1Mo, FURTADO [2] concluiu que o melhor ajuste acontece para C = 18,78.
A Figura 2.10 apresenta o gráfico log tR versus 1/T, em que o parâmetro P é
representado por retas, chamadas linhas de isotenção, que convergem em um ponto no
eixo log tR. O valor de log tR neste ponto é o valor da constante C [21].
Após calcular o valor da constante C, um importante gráfico a ser traçado é o
gráfico tensão versus parâmetro de Larson-Miller. O resultado desse gráfico é uma
única curva, chamada de “curva mestra”, que tem grande importância na engenharia,
pois através dela é possível estimar o tempo de ruptura para diferentes valores de
19
tensão, tempo e temperatura cobertos pelos dados experimentais [21]. A Figura 2.11
apresenta “curvas mestras” para aços 2,25Cr-1Mo com diferentes tratamentos térmicos.
Figura 2.10 - Gráfico log tR versus 1/T, representando curvas de isotenção para a determinação da constante C. Extraído e adaptado de [1].
Figura 2.11 - Curvas-mestras para aços 2,25Cr-1Mo com diferentes tipos de tratamentos térmicos. Extraído e adaptado de [5].
2.6.5 - Resistência à fluência em aços Cr-Mo.
A resistência à fluência dos aços Cr-Mo advém de uma combinação entre
endurecimento por solução sólida, que ocorre nos primeiros estágios de fluência com o
carbono, o cromo e o molibdênio na matriz ferrítica, e endurecimento por precipitação,
20
que se torna importante à medida que os elementos em solução sólida começam a se
precipitar em carbonetos, nitretos e carbonitretos.
Dentro dos intervalos de temperaturas e tensões de serviço, a resistência à
fluência dos aços de alta resistência é influenciada por barreiras que impedem a
movimentação de discordâncias por escalagem e deslizamento cruzado [12]. Tal
influência explica a contribuição dos mecanismos de endurecimento para a resistência à
fluência, uma vez que, tanto o campo elástico de deformação na matriz, gerado pelos
elementos em solução sólida, quanto os precipitados finamente dispersos representam
barreiras efetivas à movimentação das discordâncias.
A Figura 2.12 ilustra a contribuição de cada mecanismo de endurecimento para a
resistência à fluência. Nos primeiros estágios o endurecimento por solução sólida é o
único mecanismo atuante e apresenta uma curva descendente à medida que os
elementos Cr, Mo e C saem da matriz e formam precipitados. Dessa forma, a resistência
passa a ser conferida pelo endurecimento por precipitação, que apresenta uma curva
crescente, influenciada pelo aumento da densidade de precipitados. Para tempos mais
longos, o decréscimo da resistência pode ser explicado pelo coalescimento dos
precipitados, que, ao aumentarem de tamanho, aumentam o livre caminho médio,
facilitando a movimentação das discordâncias.
Figura 2.12 - Influência dos mecanismos de endurecimento na resistência à fluência de um aço Cr-Mo normalizado a 550°C. Extraído e adaptado de [1].
Cabe ressaltar que ambos os mecanismos de endurecimento se tornam instáveis
sob temperaturas elevadas [2]. No endurecimento por solução sólida, a temperatura
aumenta a taxa de difusão, facilitando o movimento das discordâncias por escalagem.
No endurecimento por precipitação, a temperatura favorece o coalescimento dos
21
precipitados e, no caso da temperatura ser suficientemente alta, pode até solubilizar os
mesmos.
O tamanho de grão é outra variável importante para aumentar a resistência à
fluência. Em aplicações com temperaturas mais elevadas e tensões mais baixas, a fratura
é intergranular, ou seja, ocorre ao longo dos contornos de grão, e portanto grãos maiores
são preferidos por possuírem menor área total de contornos. Por conseguinte, grãos
menores conferem maior resistência em aplicações com temperaturas mais baixas e
tensões mais altas, condições em que a ruptura por fluência se dá pelo interior do grão,
fratura transgranular [3].
22
3 - MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 - Material
O material objeto deste estudo é um aço 1Cr-0,5Mo de classe ferrítica,
codificado pelo fabricante com a especificação alemã DIN 16CrMo44, proveniente do
coletor de saída do superaquecedor secundário, retirado de serviço do Complexo
Termelétrico de Jorge Lacerda - UTLA2, após operar mais de 240.000 horas sob
temperatura de 500ºC e pressão de 80 kg/cm², ou 7,85 MPa.
A Figura 3.1 apresenta duas fotos do coletor já cortado para a retirada dos corpos
de prova. A primeira apresenta uma visão geral do coletor e a segunda apresenta a parte
frontal.
(a) (b)
Figura 3.1 - Coletor como recebido após a retirada dos corpos de prova. (a) Visão geral do coletor e (b) Detalhe da parte frontal.
A fim de se determinar a composição química do material, foram enviadas
amostras ao Laboratório de Análises Químicas do CEPEL, que realizou ensaios de: (a)
combustão direta, para determinação de carbono e enxofre; (b) gravimetria, para
determinação de silício; (c) volumetria, para determinação de fósforo e (d)
espectroscopia de absorção atômica, para determinação de manganês, cromo,
molibdênio, níquel, chumbo e cobre. Os resultados desses ensaios podem ser vistos na
Tabela 3.1, assim como a composição química nominal do aço DIN 16CrMo44 [26].
23
Tabela 3.1 - Composição química do aço do coletor e composição nominal do aço 1%Cr-0,5%Mo sob codificação alemã DIN 16CrMo44 [26].
Aço Composição química (%)
C (a) Mn (d) Si (b) Cr (d) Mo (d) Ni (d) Pb (d) Cu (d) S (a) P (c)
Coletor 0,18 0,76 0,27 1,1 0,46 0,21 < 0,01 0,18 0,02 0,028
16CrMo44 ≤ 0,2 0,5 - 0,8 ≤ 0,35 0,9 - 1,2 0,4 - 0,5 ≤ 0,4 - - ≤ 0,035 ≤ 0,035 (a) Combustão Direta; (b) Gravimetria; (c) Volumetria; (d) Espectroscopia de Absorção Atômica.
O material do presente trabalho foi caracterizado por SANTOS [27], que obteve
a micrografia representada pela Figura 3.2, antes do material passar pelos ensaios de
fluência.
SANTOS [27] concluiu que a microestrutura é composta de ferrita e perlita, com
a presença de muitos carbonetos nos contornos de grão e com esferoidização dos
carbonetos virtualmente completa, com o desaparecimento da maior parte das regiões
perlíticas.
Figura 3.2 - Micrografia do material envelhecido antes dos ensaios de fluência. Ampliação original 400X. Ataque: nital 2% [27].
As micrografias também apresentaram um número elevado de inclusões, que
foram analisadas por SANTOS [27], no microscópio eletrônico de transmissão,
utilizando réplica de carbono e identificação por EDS. Os espectros obtidos,
24
representados pelas Figuras 3.3 e 3.4, apresentaram a presença dos elementos manganês
e enxofre e manganês e silício, respectivamente.
Figura 3.3 - Espectro de EDS de inclusão. Extraído de [27].
Figura 3.4 - Espectro de EDS de inclusão. Extraído de [27].
3.2 - Ensaios de fluência
Para a realização dos ensaios de fluência, foram confeccionados corpos de
prova, no sentido longitudinal do tubo, de acordo com as especificações da norma DIN
50125 (2004) [28]. As dimensões em milímetros podem ser vistas na Figura 3.5.
25
Figura 3.5 - Desenho e foto de um dos corpos de prova utilizados nos ensaios de fluência. Dimensões em milímetros. Os corpos de prova foram confeccionados na oficina mecânica do Cepel, a partir
de seções longitudinais retiradas do coletor e então usinadas nas dimensões do corpo de
prova. A Figura 3.6 apresenta a posição em que os corpos de prova foram retirados do
coletor.
Figura 3.6 - Posição na qual os corpos de prova foram confeccionados a partir do coletor.
Os ensaios de ruptura por fluência sob carregamento constante foram realizados
seguindo recomendações da norma ASTM E139 (2000) [29], utilizando máquinas de
fluência modelo STM/MF 1000 com extensômetro LVDT, Linear Variable Differential
26
Transformer, além de sistemas lógicos de aquisição de dados de temperatura, tensão e
deslocamento acoplados a um computador.
Foram realizados 8 ensaios de fluência, com 2 temperaturas, 500ºC e 550ºC e 4
tensões para cada temperatura, 125MPa, 150MPa, 175MPa e 235MPa. A Tabela 3.2
apresenta um resumo das condições.
Tabela 3.2 - Nomenclatura e condições dos ensaios de fluência.
Temperatura / Tensão 125MPa 150MPa 175MPa 235MPa
500ºC F500,125 F500,150 F500,175 F500,235
550ºC F550,125 F550,150 F550,175 F550,235
3.3 - Microscopia de luz visível
A preparação metalográfica e as análises no microscópio ótico foram realizadas
no Laboratório de Metalografia do Cepel. A primeira parte da preparação metalográfica
consistiu em embutir as amostras em baquelite, desbastar nas lixas 220, 400 e 600 e
então polir com suspensões de diamante nas granulometrias 9, 3 e 1 µm. As amostras
foram retiradas no sentido longitudinal dos corpos de prova rompidos nos ensaios de
fluência.
Após o polimento, as amostras foram atacadas com reagente de Villela,
composto de álcool etílico, ácido pícrico e ácido clorídrico, e então analisadas no
microscópio ótico da marca Olympus, modelo GX71, utilizando campo claro para o
registro das imagens.
3.4 - Microscopia eletrônica de transmissão
Utilizando a técnica de réplica de carbono, duas amostras do ensaio de maior
duração, F500,125, foram analisadas no Laboratório de Microscopia Eletrônica de
Transmissão, do Cepel.
Após a análise no microscópio ótico, as amostras foram polidas novamente e
então submetidas ao procedimento para extração de réplica de carbono. Para o
procedimento, as amostras foram atacadas com pinceladas de uma solução química de
27
álcool e ácido nítrico com 10% em peso, conhecida como nital 10%, durante 25
segundos. Em seguida, as amostras receberam a deposição de uma fina camada de
carbono, com aproximadamente 1.000µm de espessura, no equipamento de
recobrimento Polaron SC 500, utilizando vácuo de 10-4 mbar e corrente elétrica de
60A.
De posse das amostras recobertas e com ajuda de um estilete, foram efetuados
cortes ortogonais na superfície das amostras, que então foram imersas durante 120
segundos em uma solução de ataque metalográfico conhecido como reagente de Villela.
Em seguida, as amostras foram cautelosamente imersas em um bécher com água
destilada, o que provocou o desprendimento de pequenas lâminas quadradas de filme de
carbono, que foram apanhadas por pequenas redes de cobre, próprias para utilização em
MET, com 3mm de diâmetro e 100 mesh de abertura.
As grades de cobre contendo os pequenos pedaços do filme de carbono foram
conduzidas ao microscópio FEI Tecnai G20, onde foram analisados os precipitados que
se encontravam aderidos ao filme de carbono.
As análises no microscópio eletrônico de transmissão (MET) tiveram como
objetivo a identificação e quantificação dos precipitados nas áreas do grão ferrítico, no
contorno de grão e no grão perlítico.
Foram analisados dois campos em cada região, totalizando 6 campos por
amostra. Em cada campo, todos os precipitados foram identificados através de
espectroscopia de dispersão de energia, EDS, no qual o canhão de elétrons era
posicionado em cima de cada precipitado, gerando um espectro que era classificado de
acordo com os espectros encontrados por TODD [14], representados na Tabela 2.1.
Após a identificação dos precipitados, as imagens obtidas foram tratadas utilizando o
software Adobe Photoshop CS2, e uma cor específica foi atribuída para cada classe de
precipitado, permitindo assim a diferenciação dos precipitados no software Image Pro
4.5, utilizado para aferir a área dos mesmos através da contagem do total de pixels de
cada cor presente na imagem.
28
3.5 - Etapas do projeto
A Figura 3.7 apresenta um esquema resumido das etapas experimentais.
Figura 3.7 - Etapas experimentais do projeto.
29
4 - RESULTADOS
4.1 - Ensaios de fluência
As Figuras 4.1 a 4.7 apresentam os resultados dos ensaios de fluência por
ruptura. As Figuras 4.1 a 4.3 apresentam as curvas dos ensaios realizados nas
respectivas tensões de 125, 150 e 175 MPa e temperatura de 500ºC, enquanto as figuras
4.4 a 4.7 apresentam os ensaios sob temperatura de 550ºC e tensões de 125, 150, 175 e
235 MPa.
O primeiro ensaio, F500,235, apresentou um problema que impossibilitou o
registro de deformações ao longo do tempo, tendo durado 20,84 horas, medido através
do contador de horas da máquina de fluência. O ensaio foi repetido e apresentou
problemas no extensômetro LVDT, que registrou a mesma deformação ao longo de
grandes intervalos de tempo, impossibilitando assim a obtenção da curva de fluência
para o ensaio, sendo obtido somente um novo tempo de ruptura de 17,84 horas. Logo, o
tempo de ruptura considerado para o ensaio F500,235 foi o tempo médio de 19,34 horas.
Com exceção dos ensaios F500,235, que não apresentou curva de fluência, e
F550,235, que rompeu rápido e não apresentou uma curva típica de fluência, todos os
outros apresentaram curvas de fluência com comportamento padrão, contendo os 3
estágios de fluência.
Figura 4.1 - Curva de fluência do ensaio F500,125.
30
Figura 4.2 - Curva de fluência do ensaio F500,150.
Figura 4.3 - Curva de fluência do ensaio F500,175.
31
Figura 4.4 - Curva de fluência do ensaio F550,125.
Figura 4.5 - Curva de fluência do ensaio F550,150.
32
Figura 4.6 - Curva de fluência do ensaio F550,175.
Figura 4.7 - Curva de fluência do ensaio F550,235.
33
A Tabela 4.1 apresenta os resultados dos ensaios de fluência, contendo os
tempos de ruptura e as taxas mínimas de fluência, calculadas a partir do método da reta
tangente, em que a taxa é obtida a partir do gráfico deformação-tempo, calculando a
inclinação da reta tangente ao segundo estágio da curva de fluência.
Tabela 4.1 - Tempos de ruptura e taxas mínimas de fluência dos ensaios realizados.
Ensaio Tempo de ruptura (horas) Taxa mínima de fluência (%.h-1)
F500,125 6905,01 8,49 x 10-4
F500,150 6238,85 11,50 x 10-4
F500,175 857,23 9,41 x 10-3
F500,235 19,34 -
F550,125 635,00 10,13 x 10-3
F550,150 122,60 6,67 x 10-2
F550,175 17,75 6,16 x 10-1
F550,235 0,36 40,84
A Figura 4.8 apresenta um gráfico em barra dos tempos de ruptura apresentados
na Tabela 4.1, destacando a redução significativa dos tempos de ruptura devido ao
acréscimo de tensão, com exceção apenas do ensaio F500,125, que apresentou diferença
pequena em relação ao ensaio F500,150.
(a) (b)
Figura 4.8 - Gráfico do tempo de ruptura, em horas, para os ensaios realizados sob temperaturas de (a) 500°C e (b) 550°C.
34
4.2 - Microscopia de luz visível
As imagens a seguir apresentam as micrografias dos corpos de prova rompidos
nos ensaios de fluência. As amostras foram atacadas com reagente de Vilella e, para
cada condição, foram registradas micrografias com aumentos originais de 400X e, em
alguns casos, de 1.000X. Não foi possível a preparação de amostras a partir do corpo de
prova rompido no ensaio F550,175, o que impossibilitou o registro de imagens para essa
condição.
As amostras apresentaram microestrutura composta de ferrita e perlita, presença
de muitas inclusões e intensa precipitação de carbonetos, tanto nos contornos quanto no
interior dos grãos.
Figura 4.9 - Ensaio F500,125. Duração de 6905,01 horas. Ampliação original de 400X.
35
Figura 4.10 - Ensaio F500,125. Duração de 6905,01 horas. Ampliação original de 1.000X.
Figura 4.11 - Ensaio F500,150. Duração de 6238,85 horas. Ampliação original de 400X.
36
Figura 4.12 - Ensaio F500,175. Duração de 857,23 horas. Ampliação original de 400X.
Figura 4.13 - Ensaio F500,175. Duração de 857,23 horas. Ampliação original de 1.000X.
37
Figura 4.14 - Ensaio F500,235. Duração de 20,00 horas. Ampliação original de 400X.
Figura 4.15 - Ensaio F500,235. Duração de 20,00 horas. Ampliação original de 1.000X.
38
Figura 4.16 - Ensaio F550,125. Duração de 635,00 horas. Ampliação original de 400X.
Figura 4.17 - Ensaio F550,125. Duração de 635,00 horas. Ampliação original de 1.000X.
39
Figura 4.18 - Ensaio F550,150. Duração de 122,60 horas. Ampliação original de 400X.
Figura 4.19 - Ensaio F550,235. Duração de 0,36 horas. Ampliação original de 400X.
40
4.3 - Microscopia eletrônica de transmissão
Com o objetivo de identificar e quantificar os precipitados mais estáveis após o
ensaio de fluência mais longo, duas amostras do corpo de prova rompido no ensaio
F500,125 foram analisadas no MET, utilizando a técnica de réplica de carbono e
realizando análises por dispersão de energia de raios-X (EDS).
As duas amostras do ensaio F500,125, além das 240.000 horas em serviço sob
temperatura de 500°C e pressão interna de 7,85 MPa, passaram por mais um ensaio de
fluência por ruptura com duração de 6.905 horas, temperatura de 500°C e tensão de
125MPa.
Os precipitados foram classificados de acordo com os espectros apresentados na
Tabela 2.1 e as figuras a seguir apresentam os espectros característicos dos precipitados
encontrados nas amostras analisadas: M2C, M3C, M7C3, M6C e (CrMo)2CN. O
espectro do precipitado M23C6 não pôde ser adquirido e foi extraído de um aço 2,25Cr-
1Mo [12].
Figura 4.20 - Espectro de EDS característico de precipitados do tipo M2C.
41
Figura 4.21 - Espectro de EDS característico de precipitados do tipo M3C.
Figura 4.22 - Espectro de EDS característico de precipitados do tipo M7C3.
Figura 4.23 - Espectro de EDS característico de precipitados do tipo M6C.
42
Figura 4.24 - Espectro de EDS característico de precipitados do tipo (CrMo)2CN.
Figura 4.25 - Espectro de EDS característico de precipitados do tipo M23C6. Extraído de um aço 2,25Cr-1Mo [12].
4.3.1 - Primeira amostra do ensaio F500,125
A Figura 4.26 apresenta a localização dos campos analisados na primeira
amostra e as Figuras 4.27 a 4.32 apresentam, em detalhe, os campos identificados na
Figura 4.26, assim como a identificação dos precipitados através de cores específicas.
Os campos 1 e 2 estão localizados no grão ferrítico e podem ser observados nas
Figuras 4.27 e 4.28. As Figuras 4.29 e 4.30 apresentam os campos 3 e 4 da região de
contorno de grão e as Figuras 4.31 e 4.32 os campos 5 e 6 do grão perlítico. O campo 6
não está visível na Figura 4.26, tendo sido adquirido um pouco mais abaixo do campo 5.
43
Figura 4.26 - Imagem com a localização dos campos analisados da primeira amostra do ensaio F500,125. Ampliação original de 4.000X.
Figura 4.27 - Campo 1, região ferrítica, 90% M2C (verde) e 10% (CrMo)2CN (laranja). Ampliação original de 15.000X.
44
Figura 4.28 - Campo 2, região ferrítica, 95% M2C (verde) e 5% (CrMo)2CN (laranja). Ampliação original de 15.000X.
Figura 4.29 - Campo 3, região de contorno de grão, 81,8% M3C (azul), 12,5% M2C (verde), 2,9% M6C (vermelho) e 2,8% M23C6 (preto). Ampliação original de 19.500X.
45
Figura 4.30 - Campo 4, região de contorno de grão, 80,6% M3C (azul), 18,6% M2C (verde) e 0,8% M23C6 (preto). Ampliação original de 19.500X.
Figura 4.31 - Campo 5, região perlítica, 94% M3C (azul) e 6% M2C (verde). Ampliação original de 19.500X.
46
Figura 4.32 - Campo 6, região perlítica, 65,5% M3C (azul), 18,3% (CrMo)2CN (laranja), 12,7% M23C6 (preto), 2,8% M2C (verde) e 0,7% M7C3 (amarelo). Ampliação original de 9.900 X.
A Tabela 4.2 apresenta a quantificação dos precipitados na primeira amostra do
ensaio F500,125. As frações percentuais foram calculadas em relação ao total de
precipitados em cada região, para as frações das regiões, e na amostra inteira, para o
cálculo da fração total.
Tabela 4.2 - Quantificação relativa dos precipitados encontrados na primeira amostra do ensaio F500,125.
Região Fração percentual relativa (%)
M2C M3C M6C M23C6 (CrMo)2C
N M7C3
Ferrítica 93,07 6,96
Contorno 15,47 81,25 1,46 1,82
Perlítica 3,26 69,46 10,93 15,72 0,63
Fração Total 1ª amostra F500,125
19,80 62,95 0,43 6,67 9,81 0,35
As Figuras 4.33 e 4.34 apresentam gráficos construídos a partir da Tabela 4.2,
com a primeira apresentando as frações percentuais dos precipitados distribuídos em
cada região, e a segunda apresentando as frações percentuais dos precipitados na
amostra inteira.
47
Figura 4.33 - Fração percentual relativa dos precipitados encontrados nas regiões analisadas da primeira amostra do ensaio F500,125.
Figura 4.34 - Fração percentual relativa do total de precipitados analisados na primeira amostra do ensaio F500,125.
4.3.2 - Segunda amostra do ensaio F500,125
As Figuras 4.35 e 4.39 apresentam a localização dos campos analisados na
segunda amostra do ensaio F500,125, e as Figuras 4.36 a 4.38 e 4.40 a 4.42 apresentam os
campos em detalhe.
Os campos 7 e 10 apresentam regiões perlíticas, enquanto os campos 8 e 11
apresentam regiões de contorno e os campos 9 e 12 regiões ferríticas.
48
Figura 4.35 - Imagem com a localização dos campos 7,8 e 9, da segunda amostra do ensaio F500,125. Ampliação original de 2.550X.
Figura 4.36 - Campo 7, região perlítica, 75,39% M3C (azul), 14,14% M6C (vermelho), 9,58% M2C (verde) e 0,89% M7C3 (amarelo). Ampliação original de 9.900 X.
49
Figura 4.37 - Campo 8, região de contorno de grão, 93,44% M3C (azul), 4,36% M6C (vermelho) e 2,21% M23C6 (preto). Ampliação original de 7.000X.
Figura 4.38 - Campo 9, região ferrítica, 100% M2C (verde). Ampliação original de 15.000X.
50
Figura 4.39 - Imagem com a localização dos campos 10,11 e 12, da segunda amostra do ensaio F500,125. Ampliação original de 2.550X.
Figura 4.40 - Campo 10, região perlítica, 85,29% M3C (azul), 14,29% M2C (verde) e 0,42% M7C3 (amarelo). Ampliação original de 9.900 X.
51
Figura 4.41 - Campo 11, região de contorno de grão, 91,60% M3C (azul), 7,16% M6C (vermelho) e 1,24% M2C (verde). Ampliação original de 7.000X.
Figura 4.42 - Campo 12, região ferrítica, 72,41% M2C (verde) e 27,59% M7C3 (amarelo). Ampliação original de 15.000X.
Assim como na Tabela 4.2, a Tabela 4.3 apresenta a quantificação dos
precipitados na segunda amostra do ensaio F500,125. As Figuras 4.43 e 4.44 apresentam
gráficos obtidos dos dados da Tabela 4.3.
52
Tabela 4.3 - Quantificação relativa dos precipitados encontrados na segunda amostra do ensaio F500,125.
Região Fração percentual relativa (%)
M2C M3C M6C M23C6 (CrMo)2CN M7C3
Ferrítica 80,41 19,59
Contorno 0,76 92,31 6,08 0,85
Perlítica 12,56 81,65 5,19 0,59
Fração total 2ª amostra F500,125
15,82 76,41 4,94 0,32 2,52
Figura 4.43 - Fração percentual relativa dos precipitados encontrados nas regiões analisadas da segunda amostra do ensaio F500,125.
Figura 4.44 - Fração percentual relativa do total de precipitados analisados na segunda amostra do ensaio F500,125.
53
5 - DISCUSSÃO
5.1 - Ensaios de fluência
A Tabela 5.1 apresenta os resultados de fluência do material envelhecido,
apresentados na Tabela 4.1, e os de um aço 1Cr-0,5Mo na condição de como novo, pós
tratamento térmico de normalização e recozimento, com microestrutura composta de
ferrita e perlita, realizados pelo National Research Institute for Metals, NRIM [30]. O
NRIM ensaiou corpos de prova de 11 tubos confeccionados com aços 1Cr-0,5Mo, de
composições químicas e tratamentos térmicos diferentes. O tubo escolhido para compor
esta tabela foi o de codificação “MBE”, pois apresentou limite de escoamento e limite
de resistência semelhantes ao aço DIN 16Cr44Mo.
Tabela 5.1 - Resultados dos ensaios de fluência do presente trabalho e resultados obtidos para um aço 1Cr-0,5Mo como novo, realizados pelo NRIM [30].
Ensaio Dados experimentais NRIM
tR (h) Taxa min. (%.h-1) tR (h) Taxa min. (%.h-1)
F500,125 6.905,01 8,49 x 10-4 113.758,4 2,87x10-6 F500,150 6.238,85 1,15 x 10-3 61.140,1 6,86x10-6 F500,175 857,23 9,41 x 10-3 38.906,8 1,53x10-5 F500,235 19,34 - 14.798,5 8,45x10-5 F550,125 635 1,01 x 10-2 4.016,5 2,08x10-4 F550,150 122,60 6,67 x 10-2 1.860,8 5,81x10-4 F550,175 17,75 6,16 x 10-1 1.015,8 1,49x10-3 F550,235 0,36 40,84 288,9 1,11x10-2
À luz dos resultados expostos na Tabela 5.1, é visível a perda de resistência à
fluência sofrida pelo material do presente trabalho, em que o material novo apresenta
tempos de ruptura muito maiores para as mesmas condições de ensaio. A Figura 5.1
apresenta um gráfico com os resultados da Tabela 5.1, destacando ainda mais a
diferença entre os tempos de ruptura.
54
Figura 5.1 - Tempos de ruptura, em horas, do aço 1Cr-0,5Mo como novo, ensaiado pelo NRIM [30], e do aço 1Cr-0,5Mo envelhecido em serviço.
Uma outra forma de apresentar os resultados dos ensaios de fluência é através da
dependência entre a tensão e o logaritmo do tempo de ruptura, representada para as
temperaturas de 500°C e 550°C, pelas Figuras 5.2 e 5.3, respectivamente.
Figura 5.2 - Curva isotérmica de 500°C, ajustada aos pontos experimentais, para o aço 1Cr-05Mo envelhecido em serviço.
55
Figura 5.3 - Curva isotérmica de 550°C, ajustada aos pontos experimentais, para o aço 1Cr-05Mo envelhecido em serviço.
A Figura 5.4 apresenta as duas curvas isotérmicas, ajustadas aos pontos
experimentais, em comparação com as curvas isotérmicas de 500°C e 550°C de um
material como novo obtidas pelos ensaios do NRIM [30].
Figura 5.4 - Curvas isotérmicas de 500°C e 550°C, do material envelhecido e do material como novo, obtidas através do NRIM [30].
56
Analisando a Figura 5.4, nota-se que o aumento da temperatura promoveu
reduções nos tempos de ruptura proporcionalmente semelhantes nos dois materiais, com
deslocamento semelhante das isotérmicas de 500°C e 550°C do NRIM e do material
envelhecido. No entanto, o aumento da tensão promoveu variações nos tempos de
ruptura diferentes nos dois materiais, fato evidenciado pela maior inclinação das
isotérmicas do material como novo, que, por resistir melhor ao aumento da tensão,
apresenta, proporcionalmente, para um mesmo acréscimo de tensão, menor redução no
tempo de ruptura do que o material envelhecido.
A maior sensibilidade ao aumento da tensão no material envelhecido reafirma a
perda de resistência à fluência sofrida pelo material, que, por ter a microestrutura
degradada, não consegue impedir a movimentação das discordâncias da mesma forma
que o material como novo, sobretudo para tensões elevadas em que predomina o
mecanismo de fluência por movimentação de discordâncias.
Sob altas temperaturas, a maior mobilidade atômica permite que a
microestrutura evolua para arranjos mais estáveis, influenciando diretamente a
resistência mecânica do material, como apresentado na Figura 2.12, em que o valor
máximo de resistência mecânica ocorre quando os precipitados formados começam a
perder a coerência com a matriz, pois nesse ponto os precipitados são incoerentes e
ainda estão muito próximos uns dos outros [31]. A partir desse ponto, os precipitados
incoerentes esferoidizam e coalescem, facilitando a movimentação das discordâncias,
diminuindo assim a resistência mecânica do material.
Logo, apesar da evolução da microestrutura ocorrer lentamente, podendo ter
efeito somente após 20 anos de operação, em temperaturas na faixa de 520 a 560ºC
[12], a compreensão das transformações microestruturais que ocorrem no material ao
longo dos anos de operação é de suma importância para o projeto e para a operação
segura de plantas que operam sob temperaturas elevadas. Ensaios de fluência de curta
duração nem sempre apresentam essas transformações, tornando a extrapolação dos
dados desses ensaios bem complexa para materiais com muitos anos de operação.
57
5.2 - Microscopia de luz visível
As micrografias de todas amostras apresentaram microestrutura composta de
ferrita e perlita, com intensa precipitação no interior e nos contornos de grão. As
micrografias também apresentaram um número elevado de inclusões, oriundas do
processo de fabricação dos aços. SANTOS [27], estudando o mesmo material,
identificou a presença dos elementos manganês e silício, além da detecção de enxofre
em tais inclusões.
Apesar da grande precipitação de carbonetos nos contornos e da presença de
carbonetos esferoidizados, todas amostras apresentaram carbonetos ainda agrupados no
padrão original da perlita e, portanto, podem ser classificadas no estágio D de
degradação segundo TOFT e MARSDEN [20], apesar de SANTOS [27] ter classificado
amostras do mesmo material antes dos ensaios de fluência, apresentada na Figura 3.2,
no estágio E.
De um modo geral, as amostras não apresentaram grandes variações
microestruturais de um ensaio para o outro, sendo mais perceptível somente a
esferoidização dos carbonetos, que é maior nas amostras provenientes dos ensaios de
maior duração.
5.3 - Microscópio eletrônico de transmissão
Os grãos ferríticos apresentaram imensa maioria de precipitados do tipo M2C,
que foram encontrados sob as formas arredondada e alongada e, na maioria das vezes,
formando colônias com outros precipitados, o que indica que houve esferoidização e
coalescimento de tais precipitados. Os precipitados M2C também foram encontrados
nas regiões perlíticas e de contorno, sempre sob forma arredondada e na maioria das
vezes junto aos precipitados M3C.
Os carbonitretos (CrMo)2CN foram identificados com maior frequência nos
grãos ferríticos e apresentaram sempre forma arredondada e quase sempre formando
colônias com os precipitados M2C, nos grãos ferríticos, e M3C, nos grãos perlíticos.
Apenas o campo 12, região ferrítica, apresentou quantidade considerável de
precipitados M7C3. Eles foram identificados junto aos precipitados M2C, o que pode ser
58
explicado devido a um enriquecimento de cromo nessa região durante o processo de
solidificação.
As regiões de contorno de grão, representadas pelos campos 3 e 4 na primeira
amostra e pelos campos 8 e 11 na segunda, apresentaram imensa maioria de
precipitados do tipo M3C, que apresentaram tamanho grande e formas arredondada e
alongada. Os contornos também apresentaram os precipitados M2C e M6C, além de
poucos precipitados do tipo M23C6.
As regiões perlíticas, campos 5, 6, 7 e 10, apresentaram carbonetos
esferoidizados com algum resquício do padrão original da perlita. A maioria dos
precipitados identificados foi do tipo M3C, que apresentaram a mesma forma que no
contorno, com alto grau de coalescimento, formando grandes colônias com outros
precipitados M3C e, no campo 7, M6C.
A fração percentual de 5,19% de precipitados M6C nos campos perlíticos da
segunda amostra, pode ser explicada pelo campo 7, no qual 3 precipitados M6C
representaram 14,14% do total dos precipitados do campo, em contraste com os demais
campos perlíticos analisados, que apresentaram pouca quantidade de M6C.
A presença de precipitados do tipo M6C nos contornos de grão, sobretudo nos
campos 8 e 11, com respectivas concentrações de 4,36% e 7,16%, é um forte indício da
degradação sofrida pelo material. VARIN e HAFTEK [18] sugeriram que a presença de
M6C nos contornos de grão é um importante parâmetro na estimativa de vida residual
do material, uma vez que a nucleação e crescimento destes precipitados demandam
grande quantidade de molibdênio, que poderia vir da dissolução dos precipitados Mo2C
na matriz ferrítica, reduzindo assim o endurecimento por precipitação. DOBRZÁNSKI
e HERNAS [4], estudando aços 1Cr-0,5Mo retirados de serviço após períodos de
50.000 a 270.000 horas, concluíram que quanto maior a quantidade de M6C, menor a
resistência à fluência do material. No entanto, a quantidade de M6C encontrada na
amostra é pequena e está longe de constituir fase principal como nas análises de
DOBRZÁNSKI e HERNAS [4], sendo, portanto, quantidade insuficiente para afirmar
que o material tenha se degradado totalmente.
59
A identificação dos precipitados no MET revelou predominância dos
precipitados M2C nos grãos ferríticos e M3C nos grãos perlíticos e nos contornos. Esse
resultado demonstra que ocorreu pouca evolução dos precipitados ao longo dos anos de
operação, em que arranjos mais estáveis como precipitados do tipo M7C3, M23C6 e,
principalmente, M6C indicam que o material tenha atingido fim de sua vida útil.
60
6 - CONCLUSÕES
O envelhecimento após longo período de operação, de 240.000 horas sob
temperatura de 500°C e pressão interna de 80 kg/cm², reduziu significativamente a
resistência à fluência do aço e refletiu em uma maior sensibilidade para cargas mais
elevadas. Essa sensibilidade às cargas elevadas revela a evolução microestrutural
sofrida pelo material, que apresentou precipitados coalescidos e esferoidizados nos
contornos de grão e nas lamelas de perlita.
A identificação de muitos precipitados do tipo M2C, sob forma acicular, nos
grãos ferríticos e M3C nos contornos de grão e grãos perlíticos indica que o material
não evoluiu completamente para arranjos mais estáveis, como os precipitados M7C3,
M23C6 e M6C.
Em síntese, os resultados dos ensaios de fluência e as análises microestruturais
revelaram degradação microestrutural, porém sem indícios de que o material tenha
atingido o fim de sua vida útil. No entanto, como sugestão para trabalhos futuros, a
realização de mais ensaios de fluência com posterior quantificação dos precipitados em
MET poderia aumentar a confiabilidade desta análise e, assim, criar uma valiosa
ferramenta para melhor compreensão do comportamento em fluência desta classe de aço
envelhecida em serviço.
61
7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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Trans, v. 11A, pp. 277-90, 1980.
[14] YU, J., McMAHON, C. J. “The Effect of Composition and Carbide Precipitation
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