Avaliação do desempenho da pesquisa de anticorpos IgG...

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Lúcia Maria Garcia Avaliação do desempenho da pesquisa de anticorpos IgG anti- Leishmania chagasi por citometria de fluxo no diagnóstico da leishmaniose visceral humana Montes Claros – Minas Gerais Abril / 2009 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE MESTRADO ACADÊMICO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

Transcript of Avaliação do desempenho da pesquisa de anticorpos IgG...

  • i

    Lcia Maria Garcia

    Avaliao do desempenho da pesquisa de anticorpos IgG anti-

    Leishmania chagasi por citometria de fluxo no diagnstico da

    leishmaniose visceral humana

    Montes Claros Minas GeraisAbril / 2009

    U UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROSPROGRAMA DE PS-GRADUAO

    EM CINCIAS DA SADEMESTRADO ACADMICO EM CINCIAS DA SADE

  • Livros Grtis

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  • ii

    Lcia Maria Garcia

    Avaliao do desempenho da pesquisa de anticorpos IgG anti-Leishmania chagasi por citometria de fluxo no diagnstico da

    leishmaniose visceral humana

    Orientador: Dr. Olindo Assis Martins FilhoCo-orientadora: Dra. Marilia Chaves Andrade

    Montes Claros Minas GeraisAbril / 2009

    U UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROSPROGRAMA DE PS-GRADUAO

    EM CINCIAS DA SADEMESTRADO ACADMICO EM CINCIAS DA SADE

    Dissertao apresentada aoPrograma de Ps Graduao emCincias da Sade, PPGCS, daUniversidade Estadual de MontesClaros/Unimontes, como parte dasexigncias para a obteno doTtulo de Mestre em Cincias daSade.

  • Garcia, Lcia Maria.G216a Avaliao do desempenho de pesquisa de anticorpos IgG anti-

    Leishmania chagasi por citometria de fluxo no diagnstico daleishmaniose visceral humana [manuscrito] / Lcia Maria Garcia. 2009.

    146 f. : il.

    Inclui bibliografia. Dissertao (mestrado) - Universidade Estadual de Montes Claros Unimontes, Programa de Ps-Graduao em Cincias da Sade/PPGCS, 2009. Orientador: prof. Dr. Olindo de Assis Martins Filho. Co-orientadora: profa. Dra. Marilia Chaves Andrade.

    1. Leishmaniose visceral. 2. Diagnstico sorolgico. 3. Citometriade fluxo. I. Martins Filho, Olindo de Assis. II. Andrade, MariliaChaves. III. Universidade Estadual de Montes Claros. IV. Ttulo.

    Catalogao Biblioteca Central Prof. Antonio Jorge

  • iii

    AGRADECIMENTOS

    minha me Geralda, que em sua simplicidade possui a sabedoria

    necessria para incentivar as conquistas dos filhos e se alegrar genuinamente com

    elas;

    minha filha Jlia, pelo amor, carinho e companheirismo sempre

    demonstrados, mesmo distncia;

    Aos amigos do mestrado com quem compartilhei momentos de cumplicidade

    durante os crditos, na prazerosa atividade de voltar a sentar em cadeiras de

    alunos;

    s colegas de mestrado e amigas Luciara Leo e Simone Melo Costa, pela

    companhia, carinho e colaborao com que estiveram sempre presentes;

    colega de mestrado e do Laboratrio de Anlises Clnicas do Hospital

    Universitrio, Luandra Ramos Esprito Santo, pelo incentivo, amizade e

    tranqilidade com que solucionou as questes de minha relativa ausncia do

    laboratrio;

    Aos colegas do Laboratrio de Anlises Clnicas do Hospital Universitrio -

    UNIMONTES, pelo incentivo e apoio, substituindo com seu trabalho atividades que

    deixei de exercer durante o perodo do mestrado;

    Ao Dr. Olindo Assis Martins Filho, orientador deste trabalho, por possibilitar a

    realizao desse estudo junto ao seu grupo de pesquisa no Centro de Pesquisas

    Ren Rachou;

    Dra. Marilia Chaves Andrade, co-orientadora deste trabalho, pela presteza,

    disponibilidade e tranqilidade transmitidas;

  • iv

    Jordana Alves Coelho dos Reis e Dra. Vanessa Perhuype-Magalhes

    pela gentileza, profissionalismo e colaborao na escrita da dissertao e do artigo;

    Cristiane Santos Matos e Dra. Danielle Vitelli Avelar, do Centro de

    Pesquisas Ren Rachou, pelo auxlio em importantes etapas da conduo desse

    trabalho;

    Izabelle Teixeira Gomes, ao Dr. Slvio Fernando Guimares de Carvalho,

    Dra. Elenice Lemos e ao Dr. Reynaldo Dietze por disponibilizarem seus dados

    originais para a realizao desse trabalho;

    Mauro Jos Guedes Roque, Shirlene Barbosa Pimentel Ferreira e Marise

    Fagundes, pelas valiosas colaboraes;

    diretoria administrativa do HUCF, pela carga horria liberada de minhas

    atividades no Laboratrio de Anlises Clnicas para a realizao desse mestrado;

    s secretrias e professores do Programa de Ps-Graduao em Cincias da

    Sade (PPGCS) pela convivncia durante esse perodo, e aos coordenadores, pela

    iniciativa em introduzir esse Programa de Mestrado, possibilitando a realizao por

    profissionais aqui residentes;

    Enfim, a todos que de alguma forma contriburam para a realizao deste

    trabalho.

  • v

    DEDICATRIA

    Dedico este trabalho aos pacientes de leishmaniose visceral,na esperana de que, com a contribuio da cincia,

    seu sofrimento possa ser minorado.

  • vi

    LISTA DE ABREVIATURAS

    AAPF-IgG: Anticorpos IgG Anti-formas Promastigotas Fixadas

    ALT: Alanina Aminotransferase

    ASC: rea Sob a Curva

    AST: Aspartato Amino Transferase

    B.O. D: Estufa com demanda bioqumica de oxignio

    CDC: Centro de Controle de Doenas

    CH: grupo de amostras de indivduos com doena de Chagas

    CPqRR: Centro de Pesquisas Ren Rachou

    CUR: grupo de amostras de indivduos tratados e curados

    DAT: Teste de Aglutinao Direta

    ELISA: Imunoensaio Enzimtico

    Esp: Especificidade

    FC-AFPA-IgG: Flow Cytometry Anti-Fixed Promastigotes Antibodies-G

    FC-AFEA-IgG: Flow Cytometry Anti-Fixed Epimastigotes Antibodies-G

    FC-ALPA-IgG: Flow Cytometry Anti-Live Promastigotes Antibodies-G

    FC-ALTA-IgG: Flow Cytometry Anti-Live Trypomastigotes Antibodies-G

    FIOCRUZ: Fundao Oswaldo Cruz

    FITC: isotiocianato de fluorescena, do ingls Fluorescein Isothiocyanate

    FNeg: Falso Negativo

    FPos: Falso Positivo

    FSC: tamanho, do ingls Forward Scatter

    FUNASA: Fundao Nacional de Sade

    HAN: grupo de amostras de indivduos com hansenase

  • vii

    IC: Intervalo de Confiana

    IM: Intramuscular

    IR: faixa intermediria do teste, do ingls Intermediate Range

    LC: grupo de amostras de indivduos com leishmaniose cutnea

    L. chagasi: Leishmania chagasi

    LIT: Liver Infusion Tryptose medium

    LOG: Logartimica

    LM: Leishmaniose Mucocutnea

    LV: Leishmaniose Visceral

    LV+: indivduos positivos para leishmaniose visceral

    LV-: indivduos negativos para leishmaniose visceral

    MAL: grupo de amostras de indivduos com malria

    MR: faixa mensurvel do teste, do ingls Measurement Range

    MS: Ministrio da Sade

    NI: grupo de amostras de indivduos no infectados

    NNN: Nicole, Novy & Neal medium

    NNN/LIT: Nicole, Novy & Neal / Liver Infusion Tryptose medium (Meio de cultivobifsico)

    OMS: Organizao Mundial da Sade

    OPD: Orto-fenilenediamino

    PBS: Soluo tampo de fosfato e salina, do ingls Phosphate Buffered Saline

    PC: Ponto de Corte

    PCR: Polymerase Chain Reaction

    Pe: Proporo de concordncia esperada

    Po: Proporo de concordncia observada

    PPFP: Percentual de Parasitos Fluorescentes Positivos

  • viii

    RIFI: Reao de Imunofluorescncia Indireta

    ROC: Receiver Operating Characteristic Curve

    RV+: Razo de Verossimilhana positiva

    RV-: Razo de Verossimilhana negativa

    Sb+5: antimoniais pentavalentes

    Sens: Sensibilidade

    SES: Secretaria de Estado da Sade

    SER: Sistema Retculo-Endotelial

    SFB: Soro Fetal Bovino

    SSC: granulosidade, do ingls Side Scatter

    TB: grupo de amostras de indivduos com tuberculose

    TG-ROC: Two-Graph-ROC

    UFES: Universidade Federal do Esprito Santo

    VPP: Valor Preditivo Positivo

    VPN: Valor Preditivo Negativo

    VNeg: Verdadeiro Negativo

    VPos: Verdadeiro Positivo

    VRP: faixa vlida do teste, do ingls Valid Range Proportion

  • ix

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1- Esquema de Transmisso da Leishmaniose Visceral..6

    Figura 2- Representao esquemtica da seqncia das anlises da pesquisa deAAPF-IgG...................................................................................................................35

    Figura 3- Representao esquemtica da escolha da diluio atravs da amplitudede segregao entre os valores individuais de PPFP de pacientes portadores de LV

    e indivduos no infectados (NI) ................................................................................41

    Figura 4- Curvas ROC dos testes 1 (linha verde) e 2 (linha azul), construdas a partirdos ndices de desempenho, sensibilidade e 100 especificidade dos testes

    avaliados.......44

    Figura 5 - Representao esquemtica da Two Graph ROC..................................44

    Figura 6 - Curvas de titulao de imunoglobulinas G anti-formas promastigotasfixadas de L.chagasi presentes em soros de pacientes com leishmaniose visceral e

    de indivduos no infectados.....51

    Figura 7- Sobreposio das curvas de titulao de imunoglobulinas G anti-formaspromastigotas fixadas de L. chagasi presentes em soros de pacientes com

    leishmaniose visceral e de indivduos no infectados.....52

    Figura 8- Avaliao da amplitude (delta - ) de segregao entre as reatividadesmdias dos soros de pacientes com leishmaniose visceral e de indivduos no

    infectados, com os respectivos valores de (PPFP LV PPFP

    NI)........52

  • x

    Figura 9- Curvas ROC da AAPF-IgG construda a partir dos ndices de desempenho,Sensibilidade e 100 - Especificidade, dos grupos LV e NI nas diluies 1:2000,

    1:4000, 1:8000, 1:16000 e

    1:32000.......................................................................................................................54

    Figura 10- Anlise da reatividade das diluies-candidatas (selecionadas porvalores de de PPFP maiores que 70% + ndices de desempenho) dos grupos NI e

    LV atravs do perfil de disperso individual das

    amostras.....................................................................................................................55

    Figura 11 Curvas de titulao de imunoglobulina G anti-formas promastigotasfixadas de L. chagasi presentes em (A) soros de pacientes infectados com

    Leishmania (e (B) soros de indivduos tratados e curados........................................57

    Figura 12 - Sobreposio das curvas de titulao de IgG anti-formas promastigotasfixadas de L. chagasi presentes em soros de pacientes com leishmaniose visceral e

    de indivduos tratados curados ..................................................................................58

    Figura 13 - Avaliao da amplitude (delta - ) de segregao entre as reatividadesmdias dos soros de pacientes com leishmaniose visceral e de indivduos tratados

    curados com os respectivos valores de (PPFP LV PPFP

    CUR)...........................................................................................................................58

    Figura 14 Curva ROC da AAPF-IgG construda a partir dos ndices dedesempenho, Sensibilidade e 100 Especificidade, dos grupos LV e CUR na

    diluio 32000............................................................................................................59

    Figura 15 - Anlise da reatividade da diluio-candidata (selecionada por valores de de PPFP maiores que 70% + ndices de desempenho) dos grupos LV e CUR

    atravs do perfil de disperso individual das amostras..............................................59

    Figura 16 Curvas de titulao de imunoglobulina G anti-formas promastigotasfixadas de L. chagasi presentes em (A) soros de pacientes infectados com

  • xi

    Leishmania e (B) soros de indivduos no infectados + tratados

    curados.......................................................................................................................62

    Figura 17 - Sobreposio das curvas de titulao de IgG anti-formas promastigotasfixadas de L. chagasi presentes em soros de pacientes com leishmaniose visceral e

    de indivduos no infectados + tratados curados ......................................................63

    Figura 18 - Avaliao da amplitude (delta - ) de segregao entre as reatividadesmdias dos soros de pacientes com leishmaniose visceral e de indivduos no

    infectados + tratados curados , com os respectivos valores de (PPFP LV PPFP

    CUR)...........................................................................................................................63

    Figura 19 - Curva ROC da AAPF-IgG construda a partir dos ndices dedesempenho, Sensibilidade e 100 Especificidade, dos grupos LV e (NI+CUR) nas

    diluies 1:16000 e 1:32000.......................................................................................64

    Figura 20 - Anlise da reatividade da diluio-candidata (selecionada por valores de de PPFP maiores que 70% + ndices de desempenho) dos grupos LV e no

    infectados + tratados curados, atravs do perfil de disperso individual em diferentes

    pontos de corte sugeridos pela curva

    ROC............................................................................................................................65

    Figura 21 Anlise do desempenho TG-ROC na diluio selecionada (1:32000) empopulao constituda pelos grupos LV e (NI+CUR) para definio do ponto de

    corte............................................................................................................................66

    Figura 22 Determinao da razo de verossimilhana em funo da amplitude doponto de corte de trabalho da tcnica FC-AAPF IgG pela anlise fornecida pela TG -

    ROC............................................................................................................................67

    Figura 23 - Determinao da Eficincia e J de Youden em funo da amplitude doponto de corte de trabalho da tcnica FC-AAPF IgG pela anlise fornecida pela TG -

    ROC............................................................................................................................68

  • xii

    Figura 24 - Anlise da reatividade de IgG anti-formas promastigotas fixadas de L.chagasi em soros de pacientes dos grupos LV e de Outras Doenas, empregando-

    se como ponto de corte o valor de 25% (linha pontilhada) entre resultados positivos

    (PPFP>25%) e negativos (PPFP25%).....................................................................70

    Figura 25 Anlise da reatividade de IgG anti-formas promastigotas fixadas de L.chagasi em soros de indivduos com leishmaniose visceral e portadores de outras

    doenas infecto-parasitrias: doena de Chagas, leishmaniose cutnea ,

    tuberculose, malria e hansenase, na diluio do soro

    1:32000.......................................................................................................................72

    Figura 26 - Correlaes entre os resultados de dois diferentes analistas emamostras aleatrias de pacientes da populao estudada na pesquisa de AAPF-IgG

    anti-L.chagasi. (A) Correlao de Pearson e (B) Bland e

    Altman........................................................................................................................74

    Figura 27- Reatividade de IgG anti-antgeno solvel de L. (L.) chagasi por ELISA,em soros individuais de pacientes com leishmaniose visceral e outras doenas

    infecto-parasitrias: doena de Chagas , leishmaniose cutnea,, tuberculose,

    malria e hansenase ..............................................................................................78

    Figura 28- Reatividade comparativa de IgG anti-L. chagasi por ELISA e por CF-AAPF-IgG em amostras de pacientes LV e indivduos

    CUR............................................................................................................................80

    Figura 29- Correlao de Sperman (A), anlise de Bland e Altman (B) e tabela deContingncia (C) entre os resultados obtidos da sorologia anti-L.chagasi por ELISA e

    pela CF-AAPF-IgG nas amostras da populao estudada (LV+NI+CUR+Outras

    doenas).....................................................................................................................81

  • xiii

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1- Distribuio do grupo de indivduos com leishmaniose visceral (LV)segundo idade, incio dos sintomas e sexo29

    Tabela 2- Categorias de resultados do teste diagnstico em uma populao queinclui portadores de leishmaniose visceral (LV+) e indivduos sem leishmaniose

    visceral (LV-)..37

    Tabela 3 - Categorias de resultados da AAPF-IgG (VPos, FPos, FNeg e VNeg) parapacientes portadores de LV e indivduos portadores de outras doenas infecciosas

    de interesse em sade pblica...................................................................................69

    Tabela 4 - ndices de Desempenho da Pesquisa de AAPF-IgG por Citometria deFluxo, utilizando-se amostras diludas 1:32000, de pacientes com leishmaniose

    visceral e pacientes sem leishmaniose, porm com outras doenas infecto-

    parasitrias.....71

    Tabela 5 - Dados para clculo do ndice Kappa..75

    Tabela 6- Classificao do ndice Kappa, segundo Landis & Koch (1977)........76

    Tabela 7- ndices de desempenho do ELISA e da pesquisa de AAPF-IgG, expressosem porcentagem, no diagnstico sorolgico de leishmaniose visceral, numa

    populao que inclui indivduos portadores de outras doenas infecto- parasitrias

    de interesse mdico...................................................................................................78

  • xiv

    RESUMO

    A leishmaniose visceral (LV) uma doena sistmica, causada por protozorio

    intracelular pertencente ao complexo donovani. Por ser uma doena de notificao

    compulsria e com caractersticas clnicas de evoluo grave, o diagnstico deve ser

    realizado de forma precisa e o mais precocemente possvel. Embora vrios estudos

    busquem avanos no diagnstico sorolgico da LV, at o momento nenhum dos

    testes diagnsticos disponveis apresenta-se totalmente satisfatrio. Este estudo

    objetivou avaliar a performance da imunofluorescncia indireta por citometria de

    fluxo para pesquisa de anticorpos IgG anti- formas promastigotas de Leishmania

    chagasi (AAPF-IgG) no sorodiagnstico da LV e sua aplicabilidade na avaliao da

    cura ps-teraputica. Foram analisadas amostras de soro de pacientes com LV,

    indivduos no infectados, indivduos tratados e curados e indivduos com outras

    doenas infecciosas de interesse mdico. A reatividade dos soros foi reportada

    como percentual de parasitos fluorescentes positivos (PPFP), usando o PPFP de

    25% como ponto de corte para segregar resultados positivos e negativos. A diluio

    das amostras de 1:32000 foi a de escolha tanto para o diagnstico como para a

    avaliao de cura. A metodologia apresentou elevados ndices de sensibilidade,

    especificidade, valores preditivos, acurcia e razo de verossimilhana tanto para o

    diagnstico da LV como para a avaliao de cura. A reprodutibilidade da tcnica foi

    verificada atravs da comparao entre diferentes analistas, com correlao

    significativa (p

  • xv

    pesquisa de imunoglobulinas G anti- L. chagasi, por citometria de fluxo, como uma

    importante ferramenta para o diagnstico e para avaliao de cura ps-teraputica

    da LV.

    Palavras-chave: Leishmaniose visceral, diagnstico sorolgico, citometria de fluxo

  • xvi

    ABSTRACT

    Visceral leishmaniasis (VL) is a systemic infection caused by an intracellular

    protozoan parasite belonging to the donovani complex. As a disease of compulsory

    notification and clinical characteristics of major developments, the diagnosis should

    be performed accurately and early as possible. Although several studies seek

    advances in serological diagnosis of VL, so far none of the diagnostic tests available

    is entirely satisfactory. This study intended to evaluate the performance of an indirect

    immunofluorescence assay based on flow cytometry to quantify the reactivity of Anti-

    Fixed Leishmania chagasi immunoglobulin G (FC-AFPA) for serodiagnosis of human

    visceral leishmaniasis and also to verify its applicability in the posttherapeutic cure

    assessment. Serum samples have been analyzed from patients with visceral

    leishmaniasis, individuals not infected, treated and cured individuals and individuals

    with other infectious diseases of medical interest. The sera reactivities were reported

    as the percentage of positive fluorescent parasite (PPFP), using a PPFP of 25% as a

    cut off to segregate positive and negative results. The sera dilution of 1,32000 was

    the choice for both diagnosis and cure posttherapeutic assessment purposes. The

    FC-AFPA presented elevated sensitivity, specificity, predictive values, accuracy and

    likelihood ratio of both in the diagnosis of VL and for the evaluation of cure. The

    reproducibility of FC-AFPA was verified through comparison between different

    analysts, with significant correlation (p

  • xvii

    tool in both diagnoses of LV cases and also for the posttherapeutic LV cure

    assessment.

    KEY-WORDS: Visceral leishmaniasis, serodiagnostic, flow cytometry

  • xviii

    SUMRIO

    AGRADECIMENTOS........................................................................................... iii

    DEDICATRIA.................................................................................................... v

    LISTA DE ABREVIATURAS............................................................................... vi

    LISTA DE FIGURAS............................................................................................ ix

    LISTA DE TABELAS.......................................................................................... xiii

    RESUMO............................................................................................................ xiv

    ABSTRACT.......................................................................................................... xvi

    1. INTRODUO................................................................................................ 1

    1.1 Leishmaniose Visceral.................................................................................. 2

    1.2 Aspectos Clnicos.......................................................................................... 7

    1.3 Diagnstico Clnico........................................................................................ 10

    1.4 Diagnstico Laboratorial................................................................................. 11

    1.5 Tratamento..................................................................................................... 18

    1.6 Justificativa..................................................................................................... 21

    2. OBJETIVOS..................................................................................................... 24

    2.1 Objetivo Geral................................................................................................ 25

    2.2 Objetivos Especficos..................................................................................... 25

    3. METODOLOGIA....................................................................................................... 27

    3.1 Populao e local da Pesquisa.................................................................... 28

    3.2 Aspectos ticos.............................................................................................. 30

    3.3 Preservao e processamento das amostras de soros................................. 30

    3.4 Preparo das formas promastigotas de L. chagasi para os ensaios de

  • xix

    imunofluorescncia por citometria de fluxo.......................................................... 31

    3.5 Reao de imunofluorescncia indireta por citometria de fluxo (AAPF-

    IgG)...................................................................................................................... 32

    3.6 Aquisio e anlise dos dados....................................................................... 33

    3.7 Ensaio Imunoenzimtico (ELISA in house).................................................. 35

    3.8 Anlise de desempenho da metodologia de citometria de fluxo na

    pesquisa de AAPF-IgG........................................................................................ 37

    3.8.1 Escolha da diluio do soro, atravs da amplitude de segregao

    das diluies individuais................................................................................. 40

    3.8.2 Definio de Ponto de Corte com utilizao da Curva ROC................... 42

    3.9 Aplicabilidade da metodologia de pesquisa de AAPF-IgG na

    segregao sorolgica de pacientes com LV e de pacientes portadores de

    outras doenas infecto-parasitrias de interesse mdico e anlise

    comparativa com o teste ELISA........................................................................... 46

    3.10 Verificao da reprodutibilidade da tcnica de AAPF- IgG......................... 47

    3.11 Intervalos de confiana IC......................................................................... 47

    4. RESULTADOS................................................................................................. 48

    4.1 Estabelecimento dos critrios de interpretao da AAPF-IgG aplicada

    isoladamente no diagnstico e na excluso de sorologia residual ps-

    teraputica da LV................................................................................................. 49

    4.1.1 Determinao da diluio empregada na AAPF-IgG aplicada ao

    diagnstico sorolgico da LV............................................................................ 49

    4.1.2 Determinao da diluio empregada na AAPF-IgG aplicada

    excluso de reatividade residual ps-teraputica da LV..................................... 53

    4.2 Unificao dos critrios de interpretao da AAPF-IgG aplicada

  • xx

    simultaneamente no diagnstico e na excluso de sorologia residual ps-

    teraputica da LV................................................................................................. 60

    4.3 Avaliao da aplicabilidade da AAPF-IgG na segregao sorolgica de

    pacientes com LV e de pacientes portadores de outras doenas infecto-

    parasitrias de interesse mdico.......................................................................... 68

    4.4 Verificao da reprodutibilidade da tcnica de AAPF-

    IgG........................................................................................................................ 73

    4.5 Anlise comparativa do desempenho da AAPF-IgG e do ELISA na

    identificao de casos de LV numa amostragem que inclui indivduos

    portadores de leishmaniose cutnea, doena de Chagas, tuberculose,

    hansenase e malria.......................................................................................... 76

    5. DISCUSSO................................................................................................... 82

    6. CONCLUSES................................................................................................ 99

    7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS................................................................ 103

    8. PRODUTO ALCANADO (ARTIGO).............................................................. 115

  • 1

    1 INTRODUO

  • 2

    As leishmanioses so um conjunto de doenas causadas por um parasito

    intracelular obrigatrio pertencente ao gnero Leishmania e naturalmente transmitido

    por fmeas de insetos dpteros do gnero Phlebotomus no Velho Mundo e Lutzomia

    no Novo Mundo, conhecidos genericamente por flebotomnios. As leishmanioses

    acometem milhares de pessoas a cada ano no mundo, sendo endmicas em 88

    pases, 72 deles em desenvolvimento e 13 considerados subdesenvolvidos (1).

    As apresentaes clnicas mais comuns da doena so a leishmaniose

    cutnea (LC), manifestando-se como lceras cutneas crnicas principalmente na

    face ou em partes expostas do corpo; a leishmaniose mucocutnea (LM), com

    parcial ou total destruio das membranas mucosas do nariz, boca e cavidades da

    garganta e tecidos circundantes, causando leses desfigurantes e a leishmaniose

    visceral (LV), a forma mais grave da doena (2), podendo progredir para a morte em

    at 100% dos casos no tratados, dentro de dois anos, em pases em

    desenvolvimento (1). Por se tratar do objeto de estudo do nosso trabalho, faremos

    em seguida uma caracterizao mais detalhada da LV.

    1.1Leishmaniose Visceral

    A LV uma doena sistmica causada por parasito intracelular obrigatrio

    pertencente famlia Trypanosomatidae, gnero Leishmania, subgnero Leishmania

    do complexo donovani que compreende as espcies L.(L.) donovani e L.(L.)

    infantum no Velho Mundo e L. (L.) chagasi nas Amricas (3). Caracteriza-se pelo

    comprometimento do sistema retculo-endotelial (SER), onde os parasitos

    permanecem, multiplicam-se e disseminam-se. Desse modo, as reaes patolgicas

  • 3

    conseqentes infeco so mais pronunciadas naqueles rgos cujo SER mais

    proeminente, como o fgado, bao e medula ssea.

    A LV conhecida tambm por outras terminologias como calazar, calazar

    mediterrneo ou leishmaniose visceral mediterrnea e calazar americano ou

    leishmaniose visceral americana (4).

    Endmica em 65 paises, principalmente em regies tropicais e subtropicais da

    sia, Oriente Mdio, frica, e Amricas, a LV apresenta incidncia de 500.000 casos

    a cada ano e um total estimado de 200 milhes de pessoas sob risco de adquirirem

    a infeco. Aproximadamente 90% dos casos ocorrem em 5 pases: ndia,

    Bangladesh, Nepal, Sudo e Brasil, atingindo principalmente suas populaes

    pobres (1).

    A primeira evidncia de LV na Amrica do Sul surgiu com Carlos Chagas que,

    percorrendo o vale do Amazonas e os seus afluentes em 1911 e 1912, observou a

    existncia de esplenomegalia em crianas, concomitante ausncia de

    hematozorios e antecedentes de malria (5). Em 1913, Migone descreve um caso

    em Assuno (Paraguai) de paciente oriundo de Boa Esperana em Mato Grosso

    (6). O primeiro relato de calazar no Brasil foi feito em 1934 por Penna, que, ao

    rastrear a febre amarela examinou 47.000 lminas de cortes histolgicos de fgado

    obtidas por viscerotomia post-mortem, encontrando formas amastigotas de

    Leishmania em 41 delas (7). A infeco canina foi primeiramente documentada por

    Evandro Chagas e colaboradores, entre 1936 e 1939, quando encontraram 4,1% de

    ces infectados nas localidades de Moju e Abaetetuba, no estado do Par (8). Ainda

    em 1936, Evandro Chagas descreveu o primeiro caso humano de calazar

    diagnosticado em vida, no Brasil, em um jovem de 16 anos residente em Aracaju, SE

  • 4

    (9). Somente 20 anos depois que se registrou o primeiro surto da doena em

    Sobral, no Cear (10).

    Nas Amricas, a LV humana ocorre desde o sul do Mxico at o norte da

    Argentina, sendo que 90% dos casos registrados ocorrem no Brasil onde se distribui

    em 20 estados atingindo quatro das cinco regies brasileiras. A maior incidncia

    encontra-se no Nordeste (56% dos casos), seguido pela regio Sudeste (19%),

    regio Norte (18%) e Centro-Oeste (7%). Tem-se registrado cerca de 3.500 casos

    por ano com o coeficiente de incidncia de 2,0 casos/100.000 habitantes. Nos

    ltimos anos, a letalidade vem aumentando gradativamente, passando de 3,2% em

    2000 para 7,7% em 2006 (11). Na regio sudeste, Minas Gerais o estado com

    maior incidncia do agravo e predominncia de ocorrncia em quatro regies

    geogrficas: norte, centro, noroeste e nordeste de Minas Gerais. Os primeiros casos

    humanos no estado foram registrados na regio norte, a partir de 1940 (12), sendo o

    primeiro caso autctone de paciente oriundo de Montes Claros cuja doena foi

    diagnosticada em So Paulo (13).

    Em meados dos anos 80, constatou-se uma transformao drstica na

    distribuio geogrfica da LV. A doena, antes restrita s reas rurais do nordeste

    brasileiro, avanou para outras regies indenes alcanando inclusive a periferia de

    grandes centros urbanos. Importantes epidemias ocorreram em vrias cidades da

    regio Nordeste (So Lus, Natal e Aracaju), Norte (Boa Vista e Santarm), Sudeste

    (Belo Horizonte e Montes Claros) e Centro Oeste (Cuiab e Campo Grande) (14).

    At ento, aproximadamente noventa por cento (90%) dos casos notificados de LV

    ocorriam na Regio Nordeste. medida que a doena se expande para as outras

    regies e atinge reas urbanas e periurbanas, esta situao se modifica e, no

  • 5

    perodo de 2000 a 2002, a Regio Nordeste j representava uma reduo para 77%

    dos casos do Pas (15), e em 2005, uma reduo para 56% dos casos (16).

    As transformaes no ambiente, provocadas pelo desmatamento e intenso

    processo migratrio, a pauperizao conseqente de distores na distribuio de

    renda, o processo de urbanizao crescente, o esvaziamento rural e as secas

    peridicas so fatores responsveis pela expanso das reas endmicas e

    aparecimento de novos focos (15). Dentro desse processo de transformao no

    ambiente, credita-se grande relevncia participao do co como reservatrio

    domstico da LV, dos marsupiais (Didelphis albiventris) como elo de ligao entre o

    meio urbano e o rural, adaptao do hospedeiro invertebrado, Lutzomyia

    longipalpis, ao ambiente peridomiciliar, alm do aumento dos casos de co-infeco

    HIV-Leishmania (14). Com a expanso da rea de abrangncia da doena e o

    aumento significativo no nmero de casos, a LV passou a ser considerada pela

    Organizao Mundial da Sade uma das prioridades dentre as doenas tropicais,

    pertencente categoria 1, que enquadra as doenas em expanso e para as quais

    no h instrumentos efetivos de controle (17).

    A doena mais freqente em crianas menores de 10 anos (54,4%), sendo

    41% dos casos registrados em menores de cinco anos. O sexo masculino

    proporcionalmente o mais afetado (60%). A razo da maior susceptibilidade das

    crianas explicada pelo estado de relativa imaturidade imunolgica celular, alm

    de uma maior exposio ao vetor no peridomiclio. Por outro lado, o envolvimento do

    adulto tem repercusso significativa na epidemiologia da LV, pelas formas frustras

    (oligossintomticas) ou assintomticas, alm das formas com expresso clnica (15).

    A transmisso do parasito para o homem e outros hospedeiros mamferos, de

    maior importncia epidemiolgica ocorre por via vetorial, quando as formas

  • 6

    infectantes do parasito (promastigotas metacclicas) so inoculadas no tecido

    subcutneo dos hospedeiros. Nos hospedeiros vertebrados, durante o repasto

    sangneo ou hematofagismo, as fmeas do flebtomo inoculam formas

    promastigotas metacclicas do parasito, que esto amplamente distribudas no

    aparelho bucal do inseto vetor. Juntamente com as formas promastigotas

    metacclicas, ocorre inoculao de saliva contendo peptdeos inflamatrios potentes,

    responsveis por uma reao inflamatria imediata e atrao de clulas fagocticas

    residentes para o local de entrada do parasito (18). Neste momento, os parasitos

    Fonte: www.unilavras.edu.br/~palmieri/Leishmaniose.pdf

    1.Promastigotas metacclicos noaparelho bucal do inseto vetor soinoculados no tecido subcutneodos hospedeiros

    Fagocitose dosparasitos pormacrfagosresidentes etransformao emamastigotas.

    vertebrados

    1. Promastigotas metacclicos noaparelho bucal do inseto vetor

    inoculados no tecido subcutneodos mamferos

    2. Fagocitose dosparasitos por macrfagos

    residentes etransformao em

    amastigotas.

    vertebrados3. Multiplicao das

    amastigotas nos macrfagos

    4. Ingesto demacrfagos parasitados

    pelo flebotomneodurante repasto

    sanguneo

    5. Amastigotaslivres no intestinodo flebtomo queiro se diferenciarem promastigotas

    Figura 1- Esquema de Transmisso da Leishmaniose Visceral.

    so fagocitados, principalmente por macrfagos, onde perdem o flagelo,

    transformando-se em formas amastigotas (arredondadas ou ovides), que residem

    no interior dos fagolisossomos, onde sobrevivem e se multiplicam. Eventualmente,

    www.unilavras.edu.br/~palmieri/Leishmaniose.pdf

  • 7

    macrfagos infectados se rompem e liberam as amastigotas, que so ento

    fagocitadas por macrfagos vizinhos. Durante um novo repasto sangneo, o inseto

    vetor ingere macrfagos infectados com amastigotas de Leishmania, e, no intestino

    estas se transformam em paramastigotas, se multiplicam e posteriormente iniciam

    um processo de transformao em promastigotas metacclicas, aps a produo do

    LPG (Lipofosfoglicano) na membrana, processo denominado metaciclognese.

    Essas formas promastigotas metacclicas migram em direo ao aparelho bucal do

    inseto, local onde os parasitos se instalam. Quando o inseto exerce novo

    hematofagismo, formas infectantes so novamente transferidas, reiniciando assim o

    ciclo no hospedeiro vertebrado (19).

    1.2Aspectos clnicos

    A LV pode ocorrer em diferentes formas clnicas, determinadas por aspectos

    relativos multiplicao dos parasitos nas clulas do sistema fagoctico

    mononuclear, resposta imune do indivduo e s alteraes degenerativas

    resultantes desse processo.

    As formas assintomtica e subclnica foram apontadas inicialmente por

    Leishman em 1906 (20). No Brasil, a caracterizao da LV em formas clnicas foi

    identificada por Badar e colaboradores (21), em 1986, em um estudo clnico e

    epidemiolgico com crianas sorologicamente positivas, residentes em Jacobina

    (BA). Na ocasio, as formas receberam a seguinte categorizao:

    (1) Assintomtica

    No apresenta manifestaes clnicas (sinais e sintomas) na anamnese e no

    exame fsico, e o teste de hipersensibilidade tardia (teste de Montenegro) positivo

  • 8

    na maioria dos casos. Nas anlises de parmetros laboratoriais, observa-se

    hemograma normal, provas de funo heptica (dosagem das enzimas alanina

    aminotransferase -ALT e aspartato aminotransferase -AST) normais e eletroforese

    de protenas do soro dentro dos padres de normalidade. Entretanto, detecta-se

    atravs da tcnica de PCR, a presena de DNA de parasito em amostras de sangue

    de indivduos assintomticos. Em geral, a forma clnica mais freqente em

    indivduos provenientes de reas endmicas, onde h evidncia epidemiolgica e

    imunolgica da infeco. A ttulo de esclarecimento, pacientes assintomticos no

    so notificados e no devem ser tratados (15). Entretanto, mais recentemente, a

    possibilidade desses indivduos atuarem como reservatrios do parasito vem sendo

    sugerida por vrios pesquisadores, em estudos realizados em pases onde a doena

    causada pela Leishmania donovani (22, 23, 24, 25).

    (2) Subclnica ou Oligossintomtica com progresso para cura

    A sintomatologia clnica discreta com febre baixa, palidez cutneo-mucosa

    leve, diarria e/ou tosse no produtiva e pequena hepatoesplenomegalia. Pode

    ocorrer positividade do teste de Montenegro em muitos casos. Nas anlises de

    parmetros laboratoriais, observa-se hemograma normal, provas de funo heptica

    pouco alteradas e eletroforese de protenas normal. Quadro de curta durao

    (aproximadamente 15 dias) encontrado em rea endmica numa pequena proporo

    de indivduos, geralmente crianas.

    (3) Subclnica ou Oligossintomtica com progresso para a forma Clssica

    Quadro clnico caracterizado por febre, tosse seca, diarria e mal estar. Tpica

    visceromegalia do bao e do fgado. Teste de Montenegro negativo e freqente

    deteco do parasito em aspirados de medula ssea. Nas anlises de parmetros

    laboratoriais, observa-se discreta leucopenia. ALT permanece normal e os valores

  • 9

    de AST encontram-se um pouco elevados. A eletroforese de protenas apresenta

    discreta inverso na relao albumina/gama-globulinas.

    (4) Clssica

    Em rea endmica, a forma clssica da LV ocorre em pequeno percentual dos

    indivduos infectados, geralmente inferior a 20% e varivel de acordo com a regio.

    No Brasil, a relao entre casos clnicos de LV e infeco assintomtica foi apontada

    como sendo de 1:8 (26, 27) e 1:18 (27, 28). Trata-se de doena de instalao

    insidiosa e evoluo prolongada, caracterizada por febre baixa recorrente, com dois

    ou trs picos dirios, que persiste durante todo o curso da doena. O abdmem

    aparece muito protuso em decorrncia da hepatoesplenomegalia. A pele mostra-se

    de colorao pardacenta. Ocorre desnutrio protico-calrica e os cabelos ficam

    quebradios. H emagrecimento progressivo levando o indivduo caquexia. O teste

    de Montenegro encontra-se negativo. Nas anlises de parmetros laboratoriais,

    observa-se completa inverso na relao albumina/gama-globulinas, pancitoponenia

    e provas de funo heptica bastante alteradas.

    A classificao descrita apresenta um valor histrico. Atualmente, grande

    parte dos casos apresentam-se na forma aguda, com rpida evoluo (16).

    Dentre os fatores relacionados ao hospedeiro que contribuem para o tipo de

    evoluo do quadro patolgico, destacam-se o estado nutricional e a idade.

    Indivduos desnutridos e com idade inferior a cinco anos so os mais acometidos

    pela LV clssica (21, 22, 29). Alm disso, infeces secundrias podem contribuir

    para o agravamento do quadro patolgico. Idade, desnutrio, anemia, leucopenia,

    possveis alteraes na funo de neutrfilos (reduo de quimiotaxia e capacidade

    bactericida) ou na produo de anticorpos contra novos antgenos, so alguns dos

  • 10

    fatores associados elevada incidncia de infeces bacterianas e virais (29, 30,

    31).

    1.3 Diagnstico da LV

    1.3.1 Diagnstico Clnico

    A apresentao clnica habitual da leishmaniose visceral caracteriza-se por

    febre prolongada, perda de peso, hepato-esplenomegalia e pancitopenia. No

    entanto, outros sinais e sintomas que tambm podem estar presentes, como tosse,

    diarria, ictercia e sangramentos, so comuns a outras patologias presentes nas

    reas onde incide a LV e tornam o diagnstico clnico complexo. Portanto, o

    diagnstico seguro da LV segue caractersticas clnico-epidemiolgicas em

    associao com dados laboratoriais, que ajudam na concluso diagnstica pela

    excluso da possibilidade de outras patologias com sintomas semelhantes (14, 32).

    Os pacientes podem se apresentar ao servio mdico em diferentes fases de

    evoluo da doena, mas o diagnstico clnico da leishmaniose visceral deve ser

    suspeitado sempre que o paciente apresentar febre concomitante com uma

    esplenomegalia aparente associada ou no hepatomegalia (15).

    Em pacientes sem diagnstico e tratamento, a doena evolui

    progressivamente para o perodo final, com febre contnua e comprometimento mais

    intenso do estado geral. Instala-se a desnutrio (cabelos quebradios, clios

    alongados e pele seca) e edema dos membros inferiores. Outras manifestaes

    importantes incluem hemorragias (epistaxe, gengivorragia e petquias), ictercia e

    ascite. Nestes pacientes, o bito geralmente determinado por infeces

    bacterianas e/ou sangramentos (15).

  • 11

    1.3.2 Diagnstico Laboratorial

    O diagnstico precoce da LV representa importante passo, tendo em vista o

    agravamento com a demora em instituir a teraputica, a toxicidade das drogas

    utilizadas para tratamento e a alta letalidade causada pela doena nos casos no

    tratados.

    As dificuldades relativas do diagnstico clnico-epidemiolgico ocorrem pelo

    fato dos sinais e sintomas clnicos precoces como febre, anemia, diarria, tosse,

    perda de peso, entre outros, estarem tambm presentes em outras patologias

    infeccto-parasitrias. Nesse aspecto, ressalta-se a importncia do diagnstico

    laboratorial diferencial.

    O diagnstico laboratorial baseia-se, principalmente em trs tipos de

    abordagem: mtodos parasitolgicos, moleculares e imunolgicos (32).

    Nos mtodos parasitolgicos procura-se evidenciar o parasito colhendo-se

    material atravs de bipsia ou puno aspirativa da medula ssea, bao, fgado ou

    linfonodos. O material colhido utilizado para obteno de esfregaos em lmina

    para pesquisa direta do parasito (formas amastigotas) e para cultura onde num

    perodo de at 21 dias observa-se a multiplicao ou no das formas promastigotas.

    O aspirado esplnico o mtodo de maior sensibilidade (cerca de 95%), seguido do

    aspirado de medula ssea, biopsia heptica e aspirado de linfonodos. Apesar da

    maior sensibilidade da puno esplnica, esta apresenta grandes riscos de

    complicaes, como a hemorragia, devendo ser realizada somente por profissional

    treinado e em hospitais com retaguarda cirrgica e banco de sangue (32, 33). Na

    prtica, recomenda-se o aspirado de medula ssea, por ser este um local de coleta

    com menor possibilidade de complicaes. Esfregaos corados desse material para

  • 12

    visualizao microscpica das formas amastigotas apresentam baixa e varivel

    sensibilidade (52 a 89%) em funo da distribuio no homognea dos parasitos

    nos tecidos (34).

    O cultivo dos parasitos aumenta a sensibilidade da pesquisa em esfregaos

    corados (acima de 80%), mas pode retardar o diagnstico em semanas. realizado

    por inoculao do material das punes aspirativas em meios especiais de cultura,

    podendo-se utilizar uma interface lquida sobre o NNN (Novy-MacNeal-Nicolle),

    como o meio LIT (Liver Infusion Tryptose) ou Schneider. Amostras clnicas obtidas

    da puno aspirativa de medula ssea ou bao dos pacientes podem ainda ser

    inoculadas em hamsters (Mesocricetus auratus). Porm, devido ao longo tempo de

    positivao, em torno de um a trs meses, essa tcnica no tem valor prtico no

    diagnstico da doena (35).

    A especificidade dos mtodos parasitolgicos de 100%, sendo a pesquisa

    do parasito em esfregaos de medula ssea considerada mtodo referncia para a

    confirmao da presena da leishmaniose visceral. Sabe-se, no entanto, que um

    mtodo padro-ouro para diagnstico aquele que melhor determina a presena

    ou a ausncia da doena sob avaliao (36) e inconvenientes como a baixa

    sensibilidade dos mtodos parasitolgicos no garantem a negatividade dos

    resultados. Alm disso, outra desvantagem desses mtodos consiste no fato de

    serem invasivos (32, 33).

    O diagnstico molecular possibilita a deteco do DNA do parasito mediante

    reao de polimerizao em cadeia [polymerase chain reaction (PCR)], com

    sensibilidade superior a 90%. Para tal avaliao, pode-se fazer uso de diversas

    amostras biolgicas, tais como sangue e aspirado de medula. Entretanto, os seus

    resultados dependem de algumas variveis envolvidas, como a rea endmica, o

  • 13

    tipo de amostra, o alvo do DNA utilizado para amplificao e o mtodo de extrao

    do DNA, sendo uma metodologia complexa e de custo elevado (19). Devido ao fato

    da PCR detectar o DNA, uma molcula estvel e que no indica necessariamente a

    presena de parasitos vivos na amostra, questiona-se a sua importncia como

    mtodo diagnstico, levando-se em conta a positividade observada em pacientes

    assintomticos e pacientes aparentemente curados aps tratamento especfico (32).

    No entanto, em pacientes com co-infeco Leishmania-HIV, a deteco de DNA em

    sangue perifrico constitui mtodo no-invasivo para o diagnstico da LV, com

    sensibilidade de 94% e especificidade de 100%, devendo ser considerado como

    mtodo de primeira linha, em servios cuja infra-estrutura permita a execuo da

    tcnica (19).

    O diagnstico imunolgico (ou sorolgico) da LV favorecido pelas altas

    taxas de anticorpos encontradas no curso da infeco por L. chagasi devido a uma

    marcada estimulao policlonal de linfcitos B. A elevada produo de anticorpos

    anti-Leishmania, principalmente da classe IgG, em indivduos com suspeita clnica,

    representa um importante dado laboratorial para identificar casos de LV em

    indivduos com infeco ativa (17).

    Vrias tcnicas sorolgicas, de mesmo fundamento, so utilizadas na

    deteco de anticorpos, entretanto apresentando diferenas no que diz respeito ao

    desempenho metodolgico, em parmetros como sensibilidade e especificidade. A

    sensibilidade de um teste sorolgico refere-se porcentagem de resultados positivos

    pelo teste na populao de doentes, ou seja, a proporo de resultados

    verdadeiramente positivos. J a especificidade definida pela porcentagem de

    resultados negativos pelo teste nos indivduos no-doentes, ou seja, a proporo

    dos verdadeiros negativos (37).

  • 14

    A variao na sensibilidade das tcnicas est em funo, principalmente, do

    tipo de procedimento sorolgico empregado. J as diferenas na especificidade so

    determinadas pelo tipo de antgeno utilizado (antgenos brutos ou solveis,

    antgenos purificados ou antgenos recombinantes), pois os anticorpos formados no

    curso da infeco podero mostrar reaes cruzadas com antgenos semelhantes

    encontrados em outras condies infecciosas como a doena de Chagas, malria,

    tuberculose, leishmaniose tegumentar, hansenase e outras (32).

    Outra limitao dos testes sorolgicos a possibilidade de permanecerem

    positivos durante longo tempo aps o tratamento (17). Ainda assim, os mtodos

    sorolgicos, devido sua praticidade e por serem menos invasivos, devem preceder

    sempre que possvel, os mtodos parasitolgicos, podendo at em algumas

    situaes, substitu-los (38, 39).

    A tcnica primeiramente indicada para diagnstico sorolgico foi a de

    Wadsworth e Maltaner, em 1958, baseada numa reao de fixao do complemento

    (6). Atualmente os mtodos imunolgicos ou sorolgicos incluem o Teste de

    Aglutinao Direta (DAT), a Reao de Imunofluorescncia Indireta- RIFI, o teste

    imunoenzimtico ELISA e mais recentemente o Teste Rpido utilizando o antgeno

    recombinante K39 (40, 41, 42, 43, 44).

    O teste DAT (Teste de Aglutinao Direta), muito utilizado em reas

    endmicas da ndia (42, 45), utiliza formas promastigotas de Leishmania como

    antgeno e apresenta sensibilidade de 91 a 100% e especificidade de 72 a 100%

    (32). Seu resultado inferido atravs de interpretao visual, no necessitando de

    equipamentos especiais para tal. Utilizado principalmente para aplicao no campo

    em reas endmicas, apresenta, no entanto, alguns fatores limitantes como o longo

    perodo de incubao antes da leitura (18 horas), a necessidade de vrias diluies

  • 15

    da amostra (46), a fragilidade do antgeno aquoso, a falta de padronizao na leitura

    e de reprodutibilidade entre centros (32).

    Com relao ao Teste Rpido, trata-se de um mtodo simples, baseado na

    reao do soro ou sangue do paciente com o antgeno purificado recombinante

    (protena rK39) fixado em papel. Diferenas na resposta imunolgica em diferentes

    grupos tnicos e entre sub-espcies do complexo donovani podem explicar a

    variabilidade geogrfica na sensibilidade e especificidade da tcnica, sendo

    descritas como 67 a 100% e 59 a 100%, respectivamente. No Brasil, Carvalho e

    colaboradores, em 2003 (40), obtiveram sensibilidade de 90% e especificidade de

    100%. Por sua facilidade de execuo e rpida leitura, parece ser promissor para

    uso em programas de sade pblica, podendo ser aplicado em condies de campo

    (17).

    No Brasil, as tcnicas mais usadas so a RIFI (Reao de Imunofluorescncia

    Indireta) e o ELISA (Imunoensaio Enzimtico). A reao de imunofluorescncia

    indireta tem sido amplamente usada no diagnstico da LV desde 1964. Os

    resultados normalmente so expressos em diluies, sendo reagentes os ttulos

    iguais ou superiores a 1:80. A RIFI, com sensibilidade de 82 a 95% e especificidade

    de 78 a 92%, mais utilizada por estar disponvel gratuitamente na maioria das

    regies endmicas, atravs do Programa de Leishmanioses do Ministrio da Sade

    (34). No entanto, as dificuldades quanto padronizao da leitura por diferentes

    analistas, devido a certa subjetividade da visualizao de fluorescncia, so

    algumas das limitaes importantes. Uma rigorosa padronizao dessa metodologia

    deve ser mantida para a obteno de resultados confiveis, j que a qualidade da

    microscopia de fluorescncia e dos antgenos, a diluio correta do conjugado e o

  • 16

    critrio de leitura das lminas apresentam valiosa contribuio para o desempenho

    da RIFI (37).

    O teste imunoenzimtico ELISA tem sido uma importante ferramenta utilizada

    no diagnstico imunolgico de vrias doenas infecciosas. No diagnstico de LV tem

    sido avaliado desde 1971. mais usado na rede privada de atendimento, com

    resultado expresso em unidades de absorbncia em uma reao que pode utilizar

    resultado quantitativo (por diluies da amostra) ou apenas qualitativo (reagente ou

    no) (35). Embora os valores de sensibilidade apresentem reprodutibilidade,

    variando entre 90 e 100%, os valores de especificidade so bastante inconsistentes,

    variando de 71 a 100%, dependendo do tipo de antgeno utilizado (34). O ELISA

    tradicional emprega antgenos solveis, que apresentam facilidade de preparao

    em larga escala e grande estabilidade antignica, com o inconveniente de baixa

    especificidade causada pela reatividade cruzada e persistncia de anticorpos aps a

    cura (32, 34). Para tentar contornar esse problema, outros antgenos com diferentes

    massas moleculares tm sido testados, como o complexo antignico fucose-manose

    ligante (100% de sensibilidade e 96% de especificidade), o antgeno recombinante

    rK39, uma seqncia de 39 aminocidos clonada da regio quinase de Leishmania

    chagasi, complexo donovani-especfico (98% de sensibilidade e 100% de

    especificidade), entre outros (17). O elevado custo dessas preparaes antignicas

    tem restringido seu uso na rotina laboratorial.

    Diante desse quadro de desafios scio-econmicos associados s

    dificuldades metodolgicas, o estabelecimento de novas abordagens para o estudo

    sorolgico da LV revela-se como um campo valioso na pesquisa clnico-laboratorial,

    principalmente no Brasil, onde se observa o aumento da incidncia da infeco e

    mudana no seu perfil, passando a atingir uma maior extenso geogrfica do pas.

  • 17

    A introduo da citometria de fluxo por Martins-Filho e colaboradores (1995)

    (47) como um mtodo sensvel para a deteco de anticorpos, trouxe uma nova

    perspectiva para os estudos de diversas doenas parasitrias como a leishmaniose

    cutnea (48), babesiose (49), erliquiose canina (50), doena de Chagas (51) e

    tambm doenas causadas por vrus (52, 53).

    A citometria de fluxo uma tcnica de anlise automatizada atravs da qual

    uma nica partcula pode ser caracterizada fsica e bioquimicamente, em meio

    lquido. A caracterizao inclui o tamanho, granulosidade (ou complexidade interna)

    e a intensidade de fluorescncia. Todos esses parmetros podem ser detectados

    simultaneamente, medidos, armazenados e analisados em programas de

    computador. Esse mtodo apresenta uma grande versatilidade, uma vez que permite

    o desenvolvimento de estudos que empregam tanto formas promastigotas vivas

    quanto formas fixadas, ou mesmo, antgenos adsorvidos em partculas slidas (54).

    Uma linha de pesquisa que vem sendo desenvolvida desde 1995 pelo

    Laboratrio de Biomarcadores de Diagnstico e Monitorao do Centro de

    Pesquisas Ren Rachou/FIOCRUZ, liderada pelo pesquisador Dr. Olindo Assis

    Martins-Filho, tem trabalhado na elaborao de questes no campo da propedutica

    sorolgica laboratorial, especialmente utilizando a citometria de fluxo como

    ferramenta metodolgica. Inicialmente, nos trabalhos com doena de Chagas, em

    1995, Martins-Filho e colaboradores desenvolveram uma metodologia baseada na

    citometria de fluxo capaz de detectar anticorpos anti-formas tripomastigotas vivas de

    Trypanosoma cruzi, denominada Flow Cytometry Anti-Live Trypomastigotes

    Antibodies-G (FC-ALTA-IgG) (47). Apesar do bom desempenho dessa metodologia

    no diagnstico e monitorao de cura ps-teraputica, problemas com a obteno

    das formas tripomastigotas, como o carter lbil das preparaes antignicas e o

  • 18

    risco inerente da manipulao de formas infectantes do parasito, consistiam

    importantes limitaes da tcnica.

    Como um desafio tecnolgico, o grupo de pesquisa investiu na adaptao da

    metodologia para a pesquisa de anticorpos anti-formas epimastigotas de T. cruzi

    pr-fixadas em paraformaldedo, que ficou conhecida como Flow Cytometry Anti-

    Fixed Epimastigotes Antibodies-G (FC-AFEA-IgG) (55). Na mesma linha, mtodos

    sorolgicos alternativos tm sido desenvolvidos para contribuir com o avano do

    diagnstico das leishmanioses. Em 2002 e 2006, trabalhos para diagnstico de

    leishmaniose cutnea utilizaram a tcnica de citometria de fluxo com formas

    promastigotas vivas de Leishmania brasiliensis (56, 57), sendo denominada FC-

    ALPA-IgG (Flow Cytometry Anti-Live Promastigotes Antibodies-G). Posteriormente,

    formas promastigotas fixadas de L. chagasi foram utilizadas para as investigaes

    sorolgicas de monitorao de cura da leishmaniose visceral (58, 59) e para

    diagnstico da leishmaniose cutnea (60) com a denominao de FC-AFPA-IgG

    (Flow Cytometry Anti-Fixed Promastigotes Antibodies-G), ou AAPF-IgG (Anticorpos

    IgG Anti-Promastigotas Fixadas).

    1.4 Tratamento

    Os antimoniais pentavalentes (Sb+5) foram introduzidos na dcada de 40 e,

    desde ento tm sido considerados como drogas de primeira escolha no tratamento

    da LV. Seu mecanismo de ao ainda no est totalmente elucidado, mas sabe-se

    que atuam nas formas amastigotas, inibindo sua atividade glicoltica e a via oxidativa

    de cidos graxos. Desde a dcada de 70 vrios casos de resistncia primria do

  • 19

    parasito a essas drogas tm sido relatados e doses progressivamente maiores

    destes medicamentos vem sendo preconizadas pela Organizao Mundial da Sade

    (OMS) e pelo Centro de Controle de Doenas (CDC) dos Estados Unidos da

    Amrica (15).

    No Brasil, a recomendao para pacientes com LV sem sinais de alerta ou de

    gravidade o tratamento ambulatorial com antimoniato de N-metil glucamina na

    dose de 20mg de Sb+5 kg/dia, com aplicao endovenosa ou intramuscular, por 20

    dias consecutivos, utilizando-se o limite mximo de 2 a 3 ampolas/dia do produto

    com ndices de cura de 90 a 95% (15).

    Entretanto, a relevante toxicidade e os diversos efeitos colaterais no

    tratamento com os antimoniais pentavalentes ainda representam aspectos

    preocupantes. O principal efeito colateral decorrente de sua ao sobre o aparelho

    cardiovascular. Outros efeitos colaterais incluem artralgias, adinamia, anorexia, dor

    no local da aplicao (IM) e aumento da diurese por perda transitria da capacidade

    de concentrao urinria (15).

    A Anfotericina B apresenta-se como droga alternativa para o tratamento da

    LV, na dose de 1mg/kg/dia por infuso venosa durante 14 a 20 dias. a droga

    leishmanicida mais potente disponvel comercialmente, atuando nas formas

    promastigotas e amastigotas, tanto in vitro quanto in vivo e constituem o principal

    avano no tratamento anti-Leishmania nas ltimas duas dcadas (61). A experincia

    clnica acumulada com seu uso no tratamento da LV vem aumentando ao longo dos

    ltimos anos. indicada como droga de primeira escolha em gestantes e em

    pacientes com sinais de gravidade idade inferior a 6 meses ou superior a 65 anos,

    desnutrio grave, co-morbidades, incluindo infeces bacterianas ou uma das

    seguintes manifestaes clnicas: ictercia, fenmenos hemorrgicos (exceto

  • 20

    epistaxe), edema generalizado, sinais de toxemia (letargia, m perfuso, cianose,

    taquicardia ou bradicardia, hipoventilao ou hiperventilao e instabilidade

    hemodinmica) (62). Tambm apresenta efeitos colaterais graves, principalmente

    insuficincia renal, que podem ser diminudos com doses menores do medicamento

    sem prejuzo de sua eficcia teraputica (63).

    Atualmente, duas apresentaes de anfotericina B so disponibilizadas pelo

    Ministrio da Sade: o desoxicolato de anfotericina B e a anfotericina B lipossomal,

    com eficcias comparveis, sendo que esta ltima apresenta menor toxicidade. A

    anfotericina B lipossomal apresenta custo elevado, o que pode dificultar o seu uso

    em sade pblica. Por isso, recomenda - se que sua utilizao seja restrita aos

    pacientes que tenham apresentado falha teraputica ou toxicidade ao desoxicolato

    de anfotericina B, transplantados renais ou pacientes com insuficincia renal (62).

    A busca por esquemas teraputicos com menor toxicidade tem guiado

    trabalhos, com resultados promissores, como o de Carvalho, 2005 (64), que utilizou

    a associao de antimoniais pentavalentes com desoxicolato de anfotericina B no

    tratamento de crianas e adolescentes, atingindo ndices de cura de 98,4% com 7

    dias de tratamento.

    Os critrios de cura so essencialmente clnicos. O retorno do apetite, a

    melhora do estado geral e o ganho ponderal so evidentes desde o incio do

    tratamento. O desaparecimento da febre acontece por volta do segundo ao quinto

    dia de medicao especfica e a reduo do volume do bao e do fgado pode ser

    verificada nas primeiras semanas. Os parmetros hematolgicos melhoram a partir

    da segunda semana e a normalizao das protenas sricas se d de forma lenta e

    pode levar meses. Nessa situao, o controle parasitolgico ao trmino do

    tratamento dispensvel, sendo a presena de eosinfilos no sangue perifrico um

  • 21

    ndice de bom prognstico. O paciente tratado deve ser acompanhado durante 12

    meses e ao final desse perodo, se permanecer estvel, ser considerado

    clinicamente curado (62).

    1.5 Justificativa

    O diagnstico laboratorial da LV ainda apresenta lacunas importantes, uma

    vez que at o momento no existe um mtodo laboratorial que possa ser usado

    como padro-ouro ideal. Para um diagnstico definitivo seguro, nos casos da

    pesquisa direta do parasito se mostrar negativa, necessria a associao de vrios

    elementos relacionados aos aspectos clnicos, epidemiolgicos, laboratoriais e, at

    mesmo, terapia de prova para a doena.

    O desenvolvimento de novos mtodos diagnsticos mais eficientes para

    leishmaniose visceral de fundamental importncia, uma vez que a definio do

    diagnstico um dos elementos necessrios para a instalao de procedimentos

    teraputicos especficos, considerando a alta letalidade dos casos no tratados, a

    toxicidade e o alto custo dos medicamentos anti-L. chagasi.

    As dificuldades relativas ao diagnstico clnico epidemiolgico pelo fato dos

    sinais e sintomas clnicos sugestivos como febre, anemia, diarria, tosse, perda de

    peso, entre outros, estarem tambm presentes em outras patologias infecciosas que,

    muitas vezes, coexistem com a LV, juntamente com os efeitos potencialmente

    txicos da terapia, corroboram a necessidade e importncia do diagnstico

    laboratorial.

  • 22

    Atualmente o diagnstico confirmatrio ainda o parasitolgico, pela

    deteco do parasito em material colhido do paciente. Entretanto, a baixa

    sensibilidade no permite que casos negativos sejam descartados da possibilidade

    de leishmaniose ativa. Alm disso, as tcnicas de coleta so procedimentos

    invasivos e que demandam tempo e dificuldades operacionais. Assim, a

    comprovao indireta da infeco atravs da pesquisa de anticorpos uma opo

    necessria e vlida em muitos casos. Os clnicos e epidemiologistas solicitam

    exames complementares para confirmar o diagnstico e esperam que os resultados

    sejam confiveis, sendo a sensibilidade e especificidade dos testes caractersticas

    essenciais para isto. No entanto, com relao s tcnicas imunolgicas de

    diagnstico de LV, muitos estudos e avanos tm ocorrido nos ltimos anos, mas

    apesar do grande nmero de testes diagnsticos disponveis, nenhum deles

    apresenta 100% de sensibilidade e de especificidade.

    Uma linha de pesquisa que vem sendo desenvolvida desde 1995 pelo

    Laboratrio de Biomarcadores de Diagnstico e Monitorao do Centro de

    Pesquisas Ren Rachou/FIOCRUZ tem trabalhado na elaborao de questes no

    campo da propedutica sorolgica laboratorial, especialmente utilizando a citometria

    de fluxo como ferramenta metodolgica. Resultados promissores, com elevados

    ndices de sensibilidade e especificidade, j foram obtidos no diagnstico e

    monitorao de cura da leishmaniose tegumentar (56, 57), na monitorao de cura

    da LV (53) e no diagnstico da doena de Chagas (47, 55, 65).

    Nesse contexto, nos propusemos avaliar o desempenho da pesquisa de

    anticorpos anti-promastigotas fixados de L. chagasi por citometria de fluxo no

    diagnstico sorolgico da LV e na avaliao de cura ps-teraputica especfica. A

    possibilidade de avaliar ndices de desempenho da AAPF-IgG, como a sensibilidade,

  • 23

    a especificidade, a razo de verossimilhana, os valores preditivos positivo e

    negativo e a acurcia, permitem uma interpretao mais segura do teste de acordo

    com as particularidades dos casos que se apresentam individualmente para o

    clnico.

  • 24

    2. OBJETIVOS

  • 25

    2.1 Objetivo Geral

    Com o intuito de contribuir para o diagnstico sorolgico da infeco por L.

    chagasi, excluindo-se casos de sorologia residual ps-teraputica especfica, este

    trabalho tem como objetivo geral:

    Avaliar o desempenho da pesquisa de anticorpos IgG anti-formas promastigotas

    fixadas de L. chagasi (AAPF-IgG) por citometria de fluxo no diagnstico sorolgico

    da Leishmaniose Visceral (LV) Humana.

    2.2 Objetivos Especficos

    I - Estabelecer os critrios de interpretao da AAPF-IgG aplicada isoladamente no

    diagnstico e na excluso de sorologia residual ps-teraputica da LV;

    II - Unificar os critrios de interpretao da AAPF-IgG aplicada simultaneamente no

    diagnstico e na excluso de sorologia residual ps- teraputica da LV;

    III - Avaliar a aplicabilidade da AAPF-IgG na segregao sorolgica de pacientes

    com LV e de pacientes portadores de outras doenas infecto-parasitrias de

    interesse mdico (leishmaniose cutnea, doena de Chagas, hansenase,

    tuberculose e malria);

    IV - Verificar a reprodutibilidade da tcnica de AAPF-IgG;

  • 26

    V- Analisar comparativamente o desempenho da AAPF-IgG com o ELISA na

    identificao de casos de LV numa amostragem que inclui indivduos portadores de

    leishmaniose cutnea, doena de Chagas, tuberculose, hansenase e malria.

  • 27

    3. METODOLOGIA

  • 28

    3.1 Populao e Local da Pesquisa

    Para a realizao deste estudo, foram selecionadas um total de 115 amostras

    de soro. Para a avaliao do desempenho da tcnica AAPF-IgG no diagnstico,

    foram utilizadas 35 amostras de soro de pacientes infectados por L. chagasi (grupo

    LV) e 10 amostras de soro de indivduos saudveis, no-infectados (grupo NI), como

    controle negativo das reaes.

    Para a avaliao da AAPF-IgG na excluso de sorologia residual ps-

    teraputica especfica, foram analisadas 20 amostras de soro de pacientes tratados

    e curados (grupo CUR).

    Adicionalmente, foram testadas 50 amostras de soro de indivduos sem LV,

    mas portadores de outras doenas infecto-parasitrias de interesse mdico:

    leishmaniose cutnea (grupo LC, n=10), doena de Chagas (grupo CH, n=10),

    malria (grupo MAL, n=10), tuberculose (grupo TB, n=10) e hansenase (grupo HAN,

    n=10).

    As amostras de pacientes com leishmaniose visceral (LV, n=35) e de

    indivduos tratados e curados (CUR, n=20) foram cedidas pelo professor doutor

    Slvio Fernando Guimares de Carvalho, do Hospital Universitrio Clemente de

    Farias, em Montes Claros, MG. Para cada paciente do grupo LV foi obtida a histria

    clnica e realizado exame fsico completo e os mesmos foram submetidos puno

    aspirativa da medula ssea, na rotina do atendimento. O critrio de incluso nesse

    grupo foi a presena de histria clnica aliada ao exame parasitolgico positivo, ou

    seja, presena do parasito nos esfregaos de medula ssea ou cultura positiva.

  • 29

    Todos os indivduos do grupo CUR (n=20) foram acompanhados por 12 meses aps

    o tratamento e foram considerados clinicamente curados aps esse perodo.

    As amostras de doena de Chagas, tuberculose e hansenase faziam parte da

    soroteca do Laboratrio de Leishmanioses do Ncleo de Doenas Infecciosas da

    Universidade Federal do Esprito Santo (UFES) e foram cedidas pela Dra. Elenice

    Lemos. Da mesma forma as amostras de indivduos saudveis, grupo NI, foram

    provenientes do Esprito Santo, UFES, rea no endmica para leishmaniose, para

    garantir a negatividade do grupo controle. As amostras de leishmaniose cutnea e

    malria foram cedidas pelo Laboratrio de Biomarcadores de Diagnstico e

    Monitorao, do Centro de Pesquisas Ren Rachou, CPqRR, FIOCRUZ, Belo

    Horizonte, MG.

    A tabela 1 mostra alguns dados relacionados aos pacientes do grupo LV.

    Tabela 1- Distribuio do grupo de pacientes com LV, segundo idade, durao dos sintomase sexo.

    Idade (1)

    (variao)

    Durao dos

    sintomas (1)

    (variao)

    SexoTotal

    Masc Fem

    38,6 meses

    (5 meses- 12 anos)

    24 dias

    (6 - 60)20 15 35

    Obs: (1) Valores correspondentes s mdias

    As amostras foram processadas no Laboratrio de Biomarcadores de Diagnstico e

    Monitorao do Centro de Pesquisas Ren Rachou, FIOCRUZ, Belo Horizonte, MG.

    Vale ressaltar que os dados experimentais que deram suporte para a realizao

  • 30

    desse estudo foram gerados em trabalhos anteriores. O trabalho aqui apresentado

    compreendeu, portanto, as anlises estatsticas, interpretaes, discusso e

    concluses, alm da escrita da dissertao e artigo.

    3.2. Aspectos ticos

    Consentimento prvio foi obtido de todos os indivduos, pais ou responsveis,

    antes da incluso dos mesmos nesse trabalho. Este projeto foi aprovado pelo

    Comit de tica da Universidade Estadual de Montes Claros.

    3.3. Preservao e processamento das amostras de soros

    As amostras de soros foram inativadas a 56C por 30 minutos e centrifugadas

    a 1.000g a 4C por 5 minutos para remoo de partculas. Aps a centrifugao, o

    sobrenadante foi aliquotado e estocado a 20C at sua utilizao. No momento do

    uso, as amostras foram descongeladas e diludas em tampo apropriado para cada

    metodologia empregada. Para a citometria de fluxo, as amostras foram diludas em

    tampo fosfato-PBS (0,15M, 8,0g/l de NaCl, 0,2g/l de KCl, 0,24g/l de KH2PO4 e

    1,15g/l de Na2PO4, pH 7,2, Sigma Chemical Corp., St. Louis, MO) suplementado

    com 3% de soro fetal bovino - SFB . As amostras diludas foram centrifugadas a 4C,

    1.000g por 5 minutos e os sobrenadantes utilizados para o ensaio de citometria de

    fluxo. Para os ensaios de ELISA, as amostras de soro foram diludas em PBS

    contendo 0.05% de Tween 20 (PBS-T) e 1% de leite Molico desnatado.

  • 31

    3.4 Preparo das formas promastigotas de L. chagasi para os ensaios de

    imunofluorescncia por citometria de fluxo

    As formas promastigotas de L. chagasi (MHOM/BR/74/PP75) foram cultivadas

    em meio gar-sangue, Novy-MacNeal-Nicolle-NNN associado ao meio lquido Liver

    Infusion Tryptose-LIT. As culturas foram mantidas em estufa B.O.D temperatura 25

    1C e reinoculadas a cada quatro dias pela transferncia de 1x106

    promastigotas/mL para novo frasco de cultura contendo NNN-LIT. Aps a terceira

    passagem, parasitos de quatro dias de cultivo foram transferidos para meio LIT,

    numa concentrao inicial de 1x 106 promastigotas/mL. Parasitos com no mximo

    dez passagens in vitro foram empregados nos ensaios de pesquisa de anticorpos

    anti-L. chagasi por citometria de fluxo, para permitir a obteno das formas

    promastigotas com um perfil de tamanho e granulosidade bem homogneo, alm de

    garantir a composio antignica dos parasitos, considerando as possveis

    alteraes inerentes ao processo de cultivo prolongado in vitro.

    As formas promastigotas cultivadas em meio LIT foram transferidas para

    tubos de polipropileno de 50mL (Falcon, Becton Dickinson, San Diego) e

    homogeneizadas em vrtex a baixa rotao para desfazer possveis agregados

    celulares. Em seguida, a suspenso foi submetida a uma centrifugao diferencial a

    300g, 18C por 10 minutos, para remoo, no sedimento, de grumos de parasitos

    contaminantes remanescentes. Para maximizar a recuperao dos parasitos

    individualizados no sobrenadante, a suspenso de promastigotas foi deixada em

    repouso por 10 minutos a 25C. O sobrenadante foi ento coletado e transferido

    para outro tubo de polipropileno de 50 mL e o sedimento desprezado. Em seguida

    os parasitos foram lavados em PBS contendo 10% SFB, por duas vezes, por

  • 32

    centrifugao a 1.000g, 4C por 10 minutos. O sedimento formado foi

    homogeneizado cuidadosamente. Ao final das etapas de lavagem, os parasitos

    foram fixados adicionando-se 20mL de soluo fixadora (10,0g/L de

    paraformaldedo, 10,2g/L de cocadilato de sdio e 6,65g/L de cloreto de sdio, pH

    7,2) diluda 1:1 em PBS. As formas promastigotas fixadas foram mantidas a 4C por

    24 horas. Aps esse perodo, os parasitos fixados foram centrifugados a 1.000g, 4C

    durante 10 minutos, o sobrenadante desprezado e o sedimento ressuspendido em

    10mL de PBS. Aps essa etapa, foi realizada a contagem do nmero de parasitos e

    a suspenso celular ajustada para 5x106 promastigotas/mL.

    3.5 Reao de imunofluorescncia indireta por citometria de fluxo (AAPF- IgG)

    Os ensaios de citometria de fluxo para o estudo de anticorpos IgG anti-

    promastigotas fixadas de L. chagasi foram realizados segundo o protocolo descrito

    por Rocha et al, 2002 (56), adaptado como descrito a seguir: alquotas de 50L de

    soro diludo (1:2.000 a 1:128.000) em PBS- 3% SFB foram colocadas em

    microplacas de 96 poos com fundo em U (Nunc, Dinamarca), juntamente com 50

    L da suspenso de parasitos (2,5 x 105/poo) e incubadas a 37C por 30 minutos.

    As placas foram lavadas duas vezes com 200L PBS- 3% SFB, por centrifugao a

    1.000g, 4C durante 10 minutos, e o sobrenadante desprezado.

    Posteriormente, os parasitos foram incubados com 50L de anticorpo

    policlonal anti-IgG humano (especfico para poro Fc) marcado com isotiocianato

    de fluorescena-FITC (Sigma Chemical Corp., St.Luis, MO), diludo 1:16.000 em

    PBS- 3%SFB, a 37C durante 30 minutos, ao abrigo da luz. Aps a incubao com

  • 33

    anticorpos reveladores, os parasitos foram lavados duas vezes e fixados com 200L

    de soluo fixadora para citometria (10,0g/L de paraformaldedo, 10,2g/L de

    cocadilato de sdio e 6,65g/L de cloreto de sdio, pH 7,2). As amostras foram

    mantidas pelo menos por 30 minutos, a 4C, ao abrigo de luz, at o momento da

    leitura no citmetro de fluxo (FACScan- Becton Dickinson, San Jose, CA, EUA). As

    leituras no citmetro de fluxo foram realizadas no mximo de 24 horas aps a

    fixao. Os dados coletados foram armazenados e analisados posteriormente.

    Para cada ensaio foi feito um controle interno da reao, para avaliar a

    ligao inespecfica do anticorpo secundrio. Nesse controle, os parasitos foram

    incubados na ausncia de soro humano, porm na presena do anticorpo

    secundrio anti-IgG humano conjugado fluorescena. Em todas as baterias de

    testes foram includas amostras de soros controles positivos e negativos para LV.

    A aquisio dos dados foi realizada no citmetro de fluxo FACScan (Becton

    Dickinson) empregando o software Cell-Quest.

    3.6 Aquisio e anlise dos dados

    A citometria de fluxo uma metodologia que utiliza um sistema ptico

    eletrnico, que avalia a emisso de fluorescncia e a disperso de raios laser

    incidentes sobre uma clula, permitindo a anlise de trs parmetros celulares:

    tamanho (FSC-Forward Scatter), granulosidade ou complexidade interna (SSC-Side

    Scatter) e a emisso de fluorescncia. Para cada amostra individual foram

    adquiridas informaes relativas aos parmetros: tamanho, granulosidade e

    intensidade mdia de fluorescncia de 5.000 parasitos. Nesse estudo foram

    empregados anticorpos marcados com FITC (isotiocianato de fluorescena) que,

  • 34

    quando excitados emitem sinais luminosos correspondentes s fluorescncias do

    tipo1 (FL1-fluorescncia verde).

    A anlise da reatividade de AAPF-IgG foi feita inicialmente pela seleo da

    populao celular de interesse (Figura 2A). Por se tratar de uma populao de

    pequeno tamanho (cerca de 5-7m) e de pequena complexidade interna

    (tripanosomatdeos) os ganhos de tamanho e granulosidade, foram empregados na

    escala LOG, com valores E00 e 300, respectivamente, para permitir a identificao

    do parasito em grficos bidimensionais do tipo FSC versus SSC. As formas

    promastigotas apresentaram uma distribuio caracterstica e homognea em

    grficos de tamanho versus granulosidade, o que permitiu o posicionamento de um

    marcador sobre a regio correspondente populao de interesse (R1). Utilizando

    histogramas de intensidade de fluorescncia em funo do nmero de parasitos, foi

    possvel analisar a intensidade mdia de fluorescncia apresentada pela populao

    selecionada.

    Os resultados das anlises de fluorescncia apresentados pelos parasitos,

    aps incubao com soros de pacientes e de indivduos no infectados e o reagente

    fluorocromo, foram expressos sob a forma de PERCENTUAL DE PARASITOS

    FLUORESCENTES POSITIVOS (PPFP). O PPFP foi determinado para cada

    amostra atravs do estabelecimento de um limiar de negatividade em funo da

    curva de fluorescncia obtida para o controle da ligao inespecfica do conjugado

    (M1). Para cada experimento foi estabelecido um limiar de reatividade de no mximo

    2% de PPFP para o controle interno da reao (controle do conjugado) (Figura 2B).

    Em seguida, empregando-se o mesmo marcador foram obtidos os valores de PPFP

    dos ttulos de cada amostra individual (Figura 2C e 2D). Para cada conjunto de

    ensaios, um novo marcador foi posicionado empregando-se o controle do conjugado

  • 35

    daquele experimento. Esse tipo de parmetro oferece algumas vantagens, como

    facilidade e rapidez para obteno dos resultados e sua reprodutibilidade no que se

    refere a dados obtidos em anlises inter-laboratoriais ou em anlises realizadas

    repetidas vezes.

    B C D

    Intensidade de Fluorescncia

    B C D

    Nm

    ero

    de

    Pa

    rasi

    tas

    Tamanho

    Gr a

    nu

    l osi

    dade

    Tamanho

    Gr a

    nu

    l osi

    dade

    A

    B C D

    Intensidade de Fluorescncia

    B C D

    Nm

    ero

    de

    Pa

    rasi

    tas

    Tamanho

    Gr a

    nu

    l osi

    dade

    Tamanho

    Gr a

    nu

    l osi

    dade

    A

    Tamanho

    Gr a

    nu

    l osi

    dade

    Tamanho

    Gr a

    nu

    l osi

    dade

    Tamanho

    Gr a

    nu

    l osi

    dade

    Tamanho

    Gr a

    nu

    l osi

    dade

    A

    Controle doconjugadoPPFP=1,18%

    Soro deindivduo noinfectadoPPFP=4,89%

    Soro de portador deLV

    PPFP=95,05%

    Figura 2- Representao esquemtica da seqncia das anlises da pesquisa de AAPF-IgG.(A) Seleo da populao de formas promastigotas de L. chagasi, utilizando-separmetros de tamanho e granulosidade. (B) Histogramas individuais representando opercentual de parasitas fluorescentes (PPFP) obtidos com controle interno da reao, (C)aps a incubao com um soro de um indivduo no infectado e (D) um soro de um pacienteportador de LV. O posicionamento do marcador (M1) segue sempre o critrio de se obter nomximo 2% de PPFP para o controle do conjugado.

    3.7 Ensaio Imunoenzimtico (ELISA in house)

    O teste imunoenzimtico baseia-se na reao dos antgenos da forma

    promastigota de L. chagasi, previamente adsorvidos nas cavidades de microplacas,

    com anticorpos contra esses antgenos possivelmente presentes nos soros de

    indivduos testados. A revelao da reao ocorre pela ligao de um conjugado

    anti-IgG humana marcado com a enzima peroxidase e seu respectivo substrato. A

  • 36

    reao final mensurada por um espectrofotmetro que avalia a mudana de cor da

    soluo do substrato (44).

    Para obteno do antgeno, as formas promastigotas de L. chagasi

    (MHON/BR/74/PP75) de fase estacionria de crescimento, cultivadas em meio

    NNN/LIT a 25 1C, conforme descrito anteriormente no item 3.4, foram coletadas

    por centrifugao, lavadas 3 vezes com tampo salina fosfato (PBS) e lisadas por

    processos de congelamento e descongelamento. A suspenso de parasitos foi

    homogeneizada usando um triturador de tecidos em banho de gelo. O

    homogeneizado foi centrifugado a 10.000g durante 20 minutos a 4C. O

    sobrenadante foi coletado e usado como antgeno solvel total. O contedo de

    protena foi estimado atravs do mtodo de Bradford.

    Brevemente, placas Immulon # 4 (Dynatech, Chantilly, VA, USA) foram

    sensibilizadas com 20g de antgeno solvel de L. chagasi por poo e incubadas a

    4C por 12 horas. As placas foram aspiradas, bloqueadas com PBS contendo

    0.05% de Tween 20 (PBS-T) e 2 % de leite Molico desnatado. Aps 1 hora a 37C,

    as placas foram lavadas 4 vezes com PBS-T. Soro diludo 1:200 em PBS-T

    contendo 1% de leite Molico desnatado foi adicionado em cada poo e incubado

    durante 45 minutos a 37C. As placas foram lavadas 4 vezes e os anticorpos ligados

    foram detectados usando anti-IgG marcado com peroxidase, diludo 1:4000

    (Kirkegaard and Perry, Gaithersburg, MD). Aps incubao durante 45 minutos a

    37C as placas foram lavadas novamente e incubadas com 0.005g de O-

    fenilenediamino (OPD) em tampo citrato, durante 15 minutos. Transcorrido esse

    tempo uma soluo cida foi adicionada para interrupo da reao enzimtica. A

    densidade tica foi lida a 492nm. Soros controles positivos e negativos foram

    avaliados em cada placa para padronizar as leituras e variaes das placas (58).

  • 37

    3.8 Anlise de desempenho da metodologia de citometria de fluxo na pesquisa

    de AAPF-IgG

    Para avaliar o desempenho da pesquisa de AAPF-IgG por citometria de fluxo,

    foram utilizados ndices de validade expressos em porcentagem e em chance,

    calculados a partir da classificao dos resultados em quatro categorias de acordo

    com os resultados das anlises em pacientes com leishmaniose visceral e indivduos

    no infectados (66, 67, 68, 69, 70). Tais categorias esto expressas na Tabela 2 e

    foram definidas da seguinte forma: verdadeiro-positivo (VPos) = presena de LV

    e teste positivo; falso-positivo (FPos) = ausncia de LV e teste positivo; falso-

    negativo (FNeg) = presena de LV e teste negativo e verdadeiro-negativo

    (VNeg) = ausncia de LV e teste negativo.

    Tabela 2 - Categorias de resultados do teste diagnstico em uma populao que incluiportadores de leishmaniose visceral (LV+) e indivduos sem leishmaniose visceral (LV-)

    Resultado do TesteLV

    Total(LV+) (LV-)

    Positivo VPos (a) FPos (b) (a+b)

    Negativo FNeg (c) VNeg (d) (c+d)

    Total (a+c) (b+d) (a+b+c+d)

    Com base nesses fundamentos, tabelas similares foram preenchidas de

    acordo com o modelo da Tabela 2 contendo o nmero de ocorrncias de cada uma

    das categorias (a, b, c, e d). A partir dos resultados obtidos, o desempenho do teste

  • 38

    sorolgico, foi avaliado segundo diferentes ndices, incluindo: sensibilidade,

    especificidade, valor preditivo positivo, valor preditivo negativo, acurcia, ndice J de

    Youden e razes de verossimilhana. Os ndices de desempenho foram obtidos

    utilizando-se o programa estatstico MedCalc Statistical.

    A sensibilidade calculada pela relao a/(a+c) traduzindo, assim, a proporo

    de pacientes portadores de LV nos quais o teste, AAPF-IgG ou ELISA, foi positivo.

    A especificidade diz respeito proporo de indivduos no infectados cujo teste

    negativo sendo, portanto, determinada pela relao d/(b+d). Cabe aqui ressaltar que

    a sensibilidade e a especificidade no so afetadas pela variao da proporo

    entre doentes e no-doentes e, assim so consideradas propriedades estveis do

    teste. O valor preditivo de um resultado positivo - VPP (ou probabilidade de LV ps-

    teste positivo) e o valor preditivo de um resultado negativo - VPN (ou probabilidade

    da ausncia de LV ps-teste negativo) denominados de forma simplificada, de

    valores preditivos, positivo e negativo, so fornecidos, respectivamente, pelas

    relaes a/(a+b) e d/(c+d) traduzindo, assim, a proporo de indivduos com teste

    positivo que apresentam LV e a proporo de indivduos com teste negativo que no

    apresentam LV. Os valores preditivos, ao contrrio da sensibilidade e especificidade,

    so definidos a partir do eixo horizontal da tabela, portanto, variam com a proporo

    entre pacientes positivos para LV e pacientes sem LV, sendo ento, consideradas

    propriedades instveis de um teste (71).

    A acurcia, determinada pela relao (a+d)/(a+b+c+d), indica a proporo de

    todos os resultados corretos dos teste, ou seja, os verdadeiros-positivos e os

    verdadeiros-negativos. Para evitar a superestimativa desse indicador (caso sejam

    elevados os valores das categorias a e d) foi tambm calculado o ndice J de

    Youden que d pesos iguais aos resultados corretos (verdadeiros positivos e

  • 39

    negativos) e incorretos do teste (falsos positivos e negativos), sendo definido pela

    razo (axd)-(bxc)/(a+b)x(c+d) (72). Trata-se de ndice interessante como resumo da

    qualidade do teste, sendo que valores mais prximos de 1 so os que mais se

    associam aos de mtodos padro-ouro.

    Outra forma de abordagem do desempenho de testes diagnsticos,

    particularmente daqueles cujos resultados so expressos em escala contnua,

    consiste na determinao das razes de verossimilhana (RVs) para diferentes

    resultados. A RV para um determinado resultado do teste diagnstico expressa em

    chance e definida pela razo entre proporo de um referido resultado em

    pacientes com LV em relao proporo do mesmo resultado em indivduos sem

    LV. As RVs para um resultado positivo ou negativo dos testes diagnsticos foram

    determinadas, respectivamente, pelas relaes a/(a+c)/ b/(b+d) e c/(a+c)/

    d/(b+d). Desta forma, as RVs expressam quantas vezes mais provvel (ou

    menos provvel) se encontrar um determinado resultado do teste em um paciente

    com LV em relao a um indivduo no infectado por LV. Essa forma de

    abordagem permite ampliar o espectro de informaes teis em relao quelas

    fornecidas pelos indicadores calculados a partir de resultado dicotmico

    (positivo/negativo), uma vez que permite tambm trabalhar diferentes faixas de

    valores de resultados, tambm definidas por pontos de corte. A literatura registra que

    valores acima de 10 praticamente confirmam a presena de doena e valores abaixo

    de 0,1 praticamente confirmam a ausncia de doena (69).

    Para a obteno dos ndices de desempenho e avaliao da aplicabilidade da

    AAPF-IgG no diagnstico da LV e na avaliao de cura ps-teraputica foi

    necess