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AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE PRODUÇÃO DE BIOCOMBUSTIVEL DE ÓLEO DE FRITURA RESIDUAL (OFR) EM ANÁPOLIS E IMPLANTAÇÃO DA COLETA DE ÓLEO NAS ESCOLAS PÚBLICAS Carmencita Tonelini 1 Victor Alves Barbosa 2 1INTRODUÇÃO Com o crescimento econômico e populacional das cidades mundiais, a necessidade de fontes de energia renovável que possa competir com a insegurança do futuro suprimento de combustíveis fósseis, além da minimização dos impactos negativos ao meio ambiente, vem se tornando cada vez mais visadas no cenário mundial. Dentro desse contexto, já não é mais aceitável um desenvolvimento sem planejamento e sem as devidas preocupações com o ambiente e o futuro, nos conduzindo ao desenvolvimento sustentável, que vem a ser o modelo em que o desenvolvimento acontece de forma a atender as necessidades do presente, sem comprometer as possibilidades das futuras gerações atenderem suas próprias necessidades (CMMAD, 1998). Com isso entramos no conceito de ecoeficiência, que se baseia em três pilares básicos; o econômico, o ambiental e o social, ou seja, uma empresa ou um processo para serem válidos dentro dos conceitos atuais de gestão, deve ser economicamente rentável, ambientalmente compatível e socialmente justo (NASCIMENTO, 2001). No Brasil, medidas estão sendo tomadas com a finalidade de viabilizar a produção de biodiesel de forma sustentável. A utilização da biomassa é de grande valia, pois o país possui várias vantagens agrárias no que se diz respeito à geografia, por estar em uma região tropical com temperaturas médias ao longo do ano, luminosidade constante, disponibilidade de recursos hídricos e chuvas, gerando um grande potencial na produção de biocombustíveis. Pesquisadores do Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Limpas (LADETEL), em Ribeirão Preto, onde é desenvolvido o Projeto Biodiesel Brasil, vem utilizando onze variantes de óleos em testes são eles: algodão, amendoim, babaçu, canola, 1 Bióloga (UEG), Especialista em Tratamento e Disposição Final de Resíduos Sólidos e Líquidos (UFG) 2 Biólogo (UniEvangélica) 11

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AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE PRODUÇÃO DE BIOCOMBUSTIVEL DE ÓLEO DE FRITURA RESIDUAL (OFR) EM

ANÁPOLIS E IMPLANTAÇÃO DA COLETA DE ÓLEO NAS ESCOLAS PÚBLICAS

Carmencita Tonelini1

Victor Alves Barbosa2

1INTRODUÇÃO

Com o crescimento econômico e populacional das cidades mundiais, a

necessidade de fontes de energia renovável que possa competir com a insegurança do

futuro suprimento de combustíveis fósseis, além da minimização dos impactos negativos

ao meio ambiente, vem se tornando cada vez mais visadas no cenário mundial.

Dentro desse contexto, já não é mais aceitável um desenvolvimento sem

planejamento e sem as devidas preocupações com o ambiente e o futuro, nos conduzindo

ao desenvolvimento sustentável, que vem a ser o modelo em que o desenvolvimento

acontece de forma a atender as necessidades do presente, sem comprometer as

possibilidades das futuras gerações atenderem suas próprias necessidades (CMMAD,

1998).

Com isso entramos no conceito de ecoeficiência, que se baseia em três pilares

básicos; o econômico, o ambiental e o social, ou seja, uma empresa ou um processo para

serem válidos dentro dos conceitos atuais de gestão, deve ser economicamente rentável,

ambientalmente compatível e socialmente justo (NASCIMENTO, 2001).

No Brasil, medidas estão sendo tomadas com a finalidade de viabilizar a

produção de biodiesel de forma sustentável. A utilização da biomassa é de grande valia,

pois o país possui várias vantagens agrárias no que se diz respeito à geografia, por estar em

uma região tropical com temperaturas médias ao longo do ano, luminosidade constante,

disponibilidade de recursos hídricos e chuvas, gerando um grande potencial na produção

de biocombustíveis.

Pesquisadores do Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Limpas

(LADETEL), em Ribeirão Preto, onde é desenvolvido o Projeto Biodiesel Brasil, vem

utilizando onze variantes de óleos em testes são eles: algodão, amendoim, babaçu, canola,

1 Bióloga (UEG), Especialista em Tratamento e Disposição Final de Resíduos Sólidos e Líquidos (UFG)2 Biólogo (UniEvangélica)

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dendê, girassol, mamona, macaúba, milho, soja e óleos residuais de fritura (LUCENA,

2004).

Entretanto o uso de grandes extensões de terra e a utilização de óleos vegetais

na produção de biocombustíveis gera uma competição com a produção de alimentos.

Sendo assim, os preços dos alimentos tendem a aumentar visto que a demanda será menor

em relação à procura por parte da população.

A reciclagem de óleos vegetais industriais vem ganhando espaço cada vez

maior, não simplesmente porque os resíduos representam matérias primas de baixo custo,

mas principalmente porque os efeitos da degradação ambiental decorrente de atividades

industriais e urbanas estão atingindo níveis cada vez mais alarmantes (FIGUEIREDO,

1995).

Anápolis é uma cidade com 325.544 habitantes e está localizada

estrategicamente entre Goiânia, a capital do estado de Goiás, e Brasília, a capital federal

(IBGE, 2007). Visto o grande número de habitantes, o potencial da cidade na produção de

biocombustível por meio de óleos de fritura residual (OFR) é de grande relevância. Assim,

a captação de OFR de maneira correta para o processamento e produção de biodiesel,

evitará o depósito errôneo desses resíduos, evitando impactos negativos ao meio ambiente.

Levando em consideração a vocação do país na produção de energia renovável,

o presente trabalho avaliou o potencial de produção de biocombustível de óleos de fritura

residual (OFR), na cidade de Anápolis – Goiás, bem como a destinação final desses óleos

pela população, a fim de evitar o despejo de forma indiscriminada no meio ambiente.

Foram aplicados questionários em 10 (dez) escolas estaduais de diversos

bairros da cidade, tanto para alunos, funcionários e professores, que avaliou o nível do

conhecimento de ambos a respeito da degradação ambiental causada pelos OFR, bem

como a quantidade usada nas residências e a disposição final desses resíduos por parte da

população.

Após a aplicação dos questionários, foi proposto aos diretores e gestores das

escolas um projeto de caráter educativo, no intuito de coletar óleos residuais de fritura.

Esse projeto é baseado primeiramente na Educação Ambiental, educação esta que é

fundamental para a reflexão a respeito das ações antrópicas sendo sua prática fundamental

para conservação ambiental.

Foi realizada uma entrevista com a empresa de Saneamento de Goiás S/A,

SANEAGO, com intuito de obter informações a respeito dos impactos negativos dos óleos 12

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no tratamento de esgoto e no tratamento de água. Posteriormente foi executada uma

entrevista na Granol S/A, empresa que produz biocombustível de OFR na cidade de

Anápolis, no intuito de verificar o potencial da cidade de Anápolis na produção desse

combustível.

Baseado no exposto, o trabalho verificou a capacidade de coleta de óleos

residuais de fritura na cidade de Anápolis para produção de biocombustível de forma

sustentável, bem como a implementação de projetos nas escolas na forma de educação

ambiental para coleta de OFR, minimizando os impactos ambientais gerados pela má

disposição desses resíduos, trazendo benefícios à cidade.

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2OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

•Averiguar o potencial de produção de OFR na cidade de Anápolis-GO e

implantar nas escolas um projeto de coleta de óleos residuais para

reaproveitamento na produção de biocombustível.

2.2 Objetivos Específicos

•Avaliar o potencial de produção de Biocombustível de OFR na cidade de

Anápolis – GO, por meio de entrevista com a especialista da empresa

GRANOL;

•Verificar o nível de conhecimento dos alunos, dos professores e gestores da

escola a respeito da degradação ambiental causada por óleos e gorduras

residuais no meio ambiente;

•Analisar juntamente com a SANEAGO os custos e problemas da disposição

de óleos e gorduras residuais no tratamento de esgotos;

•Verificar junto aos diretores e gestores das Escolas, a viabilidade da inserção

do projeto de coleta de OFR;

•Implantar o projeto de coleta seletiva através de educação ambiental.

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3JUSTIFICATIVA

A energia é considerada questão estratégica de uma nação e a extensão de seu

uso sempre esteve diretamente associada ao grau de desenvolvimento de um povo. Ao

longo da história pode-se constatar que a disponibilidade e a acessibilidade que as pessoas

têm à energia estão ligadas ao conforto humano e a produção de bens (RABELO, 2001).

Visando a produção de energia renovável de maneira sustentável, é que estão

sendo realizados projetos para a utilização do biodiesel. Esses projetos buscam uma forma

de desvencilhar a energia das fontes fósseis, obtendo alternativas ecoeficientes, ou seja,

utilizando energia e recursos de forma racional, minimizando as emissões de poluentes e

de resíduos, além de benefícios econômicos e sociais.

Uma das principais preocupações atuais é o aquecimento global, causado

principalmente pelos gases causadores do efeito estufa (GEE). O setor de transportes por se

tratar de um dos principais consumidores de energia e, por conseqüência, um dos

principais emissores de resíduos, deve ser encarado com prioridade na busca de

alternativas para mitigação de GEE (ALMEIDA, 2002).

Dentre as soluções para reduzir a poluição atmosférica, causada pelo consumo

de óleo diesel nos centros urbanos, a substituição desse óleo por combustíveis derivados da

biomassa, os biocombustíveis, são apontados como alternativas de grande valor

econômico, social e ambiental (RIBEIRO apud GOLDEMBERG, 2001).

O biocombustível pode reduzir a emissão de gases poluidores, como por

exemplo, o dióxido de carbono (CO2), o dióxido de enxofre (SO2), os particulados e os

hidrocarbonetos (HC) em diferentes níveis, dependendo da tecnologia utilizada na

combustão e da qualidade do combustível (ALMEIDA NETO et al., 2000).

Evitando a competição entre alimentos e biocombustíveis, aliado ao

reaproveitamento de resíduos degradantes do meio ambiente, é que se torna viável a

produção de biodiesel a partir de óleos e gorduras residuais (OGR).

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Grande parte dos óleos residuais não são coletados e acabam sendo descartados

em esgotos ou diretamente no solo. Segundo o Centro de Saúde Ambiental do Município

de Curitiba, estima-se que somente entre restaurantes industriais da cidade e região

metropolitana, são descartadas por mês aproximadamente 100 toneladas desse resíduo no

meio ambiente (COSTA NETO et al., 2000). Na cidade de Salvador 43% dos OGR são

depositados nos esgotos e cerca de 30% diretamente nos lixos, conforme Figura 1

(HIRSHC, 2000).

Figura 1. Descarte de OGR na cidade de Salvador – BAFonte: Hirshc (2000)

Um benefício na utilização do ORF diz respeito à redução de custos com

tratamentos de efluentes, visto que o volume gerado diariamente nos centros urbanos e

descartado na rede de esgotos é reaproveitado na forma de insumos na produção do

biodiesel (ALMEIDA NETO et al. 2000). Estudos mostram que diferentes tipos de óleo,

quando lançados diretamente na rede coletora de esgoto, chegam a encarecer o tratamento

de efluentes em até 45% (MANCINI, 2006).

A presença de óleos e graxas diminui a área de contato entre a superfície da

água e o ar atmosférico, impedindo dessa forma, a transferência do oxigênio da atmosfera

para a água. Em processo de decomposição a presença dessas substâncias reduz o oxigênio

dissolvido elevando a DBO e a DQO, causando alteração no ecossistema aquático, além da

vedação dos estômatos das plantas e órgãos respiratórios dos animais, a impermeabilização

das raízes de plantas e a ação tóxica para os seres aquáticos (BRAGA, 2002).

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O biocombustível de OGR apresenta-se como o menos agressivo ao meio

ambiente quando comparado a outros biocombustíveis, tendo em vista que na cadeia de

produção deste tipo de combustível, os possíveis impactos ambientais da etapa agrícola,

como: erosão, desmatamento, queimadas, e contaminação de águas subterrâneas não lhe

são imputados, por sua matéria-prima ter origem residual (ALMEIDA, 2002).

O biodiesel vem sendo usado na Europa desde 1995, tanto como aditivo ao

óleo diesel (França, Suécia), como para colocar um motor em marcha (Alemanha, Áustria

e Itália). O combustível vegetal misturado numa proporção de 5% ao óleo diesel, ajuda a

diminuir as partículas de enxofre e o efeito lubrificante do biodiesel ameniza o desgaste da

bomba injetora (MENCONI, 2000).

Diante do mencionado, se faz necessário um trabalho de aproveitamento dos

óleos de fritura, pois além de possuírem grande potencial na produção de biodiesel,

evitariam o despejo de um poluente no meio ambiente, minimizando os problemas no

tratamento de água, de esgotos, na vida aquática e na contaminação do solo.

A necessidade da Educação Ambiental na conscientização e sensibilização da

população e em especial dos alunos é de grande valia, pois segundo Sato (2003, p. 23-24) a

educação ambiental é um processo de reconhecimento de valores e clarificação de

conceitos, objetivando o desenvolvimento de habilidades e modificando as atitudes em

relação ao meio, relacionando-se com a prática das tomadas de decisões e a ética que

conduzem para a melhoria da qualidade de vida.

Sendo assim, para coletas eficientes e manejo corretos dos OFR a educação

ambiental realizada em instituições de ensino é de fundamental importância visto a

necessidade de reaproveitamento desses resíduos, tanto pela retirada de um poluente do

meio ambiente evitando os impactos e degradação gerados pelos óleos, tanto por ser uma

matéria-prima de grande potencial na produção de biocombustível.

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4REFERENCIAL TEÓRICO

Criador do motor com ciclo a diesel, Rodolf Diesel, afirmou em 1912 que, o

uso de óleos vegetais como combustível para máquinas poderia parecer insignificante em

sua época, mas que futuramente poderia assumir um papel tão importante quanto o petróleo

e o carvão mineral (RABELO, 2001).

De um modo geral, biodiesel foi definido pela "National Biodiesel Board" dos

Estados Unidos como o derivado mono-alquil éster de ácidos graxos de cadeia longa,

proveniente de fontes renováveis como óleos vegetais ou gordura animal, cuja utilização

está associada à substituição de combustíveis fósseis (COSTA NETO et al., 2000).

Quimicamente, conforme a Figura 2, os óleos e gorduras animais e vegetais

consistem de moléculas de triglicerídeos, as quais são constituídas de três ácidos graxos de

cadeia longa ligados na forma de ésteres a uma molécula de glicerol. Esses ácidos graxos,

conforme a Figura 3, variam na extensão da cadeia carbônica no número, na orientação e

posição das ligações duplas (MEHER, 2004). As reações que os ácidos graxos podem

sofrer são importantes para o controle das alterações da qualidade de óleos e gorduras.

Figura 2. Estrutura genérica dos óleos e gorduras Fonte: Fleck et al. (2005)

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Figura 3. Saturação de ácidos graxos dos triglicerídeos Fonte: LINCX serviços de saúde apud Fleck, et al (2007)

Os ácidos graxos ocupam a maior parte do peso molecular da molécula do

triglicerídeo, sendo assim eles são responsáveis pelas principais características dos óleos. O

peso molecular do glicerol é apenas 41, ao passo que o dos ácidos graxos, dependendo da

fonte lipídica chega a 650-970, ou seja, 94% a 96% do peso total (SWERN, 1964 apud).

O consumo do diesel no Brasil situa-se aproximadamente em 35,7 bilhões de

litros, os quais lançam cerca de 70 milhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera

(ANP, 2001). A utilização de biocombustíveis em substituição aos combustíveis fósseis

deverá ser responsável por evitar o lançamento de 570 milhões de toneladas de CO2 no

período compreendido entre 2008 a 2017 (MMA, 2008).

A menor emissão de gases poluentes é uma das principais qualidades do

biodiesel, comparando as emissões de gases poluentes pelas combustões de biodiesel e de

óleo diesel de petróleo, os resultados foram favoráveis ao biocombustível. O SO2 é

totalmente eliminado, a fuligem diminui em 60%, o monóxido de carbono e os

hidrocarbonetos diminuem em 50%, os hidrocarbonetos poliaromáticos são reduzidos em

mais de 70% e os gases aromáticos diminuem em 15%, conforme a Figura 4 (BARNWAL

& SHARMA, 2005).

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Figura 4. Níveis de redução das emissões de poluentes do Biodiesel em relação ao Diesel fóssil.Fonte: Barnwal & Sharma (2005)

Dados do Ministério do Meio Ambiente indicam que no Brasil mais de 46% do

total consumido de derivados de petróleo foi utilizado pelo setor de transportes no ano de

1999. Nesse mesmo ano o setor de transportes foi responsável por cerca de 20% do

consumo final de energia do país (MATTOS, 2001).

Diante da grande dependência da energia proveniente dos combustíveis fósseis

no Brasil, soluções devem ser apresentadas para minimizar essa dependência, e que

estejam focadas nas causas da degradação ambiental. Assim a produção de

biocombustíveis utilizando a biomassa de forma sustentável, e a utilização de óleos

residuais, destaca-se entre as mais ecoeficientes.

A substituição gradativa dos combustíveis fósseis por biocombustíveis

oriundos das plantas oleaginosas como soja, dendê, mamona, girassol, além do uso de

óleos e gorduras residuais (OGR), vem sendo estudada e implantada em vários países do

mundo, pois estes são renováveis, geram empregos e renda, diminuem as emissões de

gases causadores do efeito estufa (GEE), e minimizam os impactos causados pela

disposição final errônea no caso dos OGR.

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No programa brasileiro de biocombustíveis, as principais matérias-primas são

os óleos vegetais (LIMA, 2004). No entanto, o uso de terras férteis para cultivos destinados

à fabricação de biocombustíveis reduz as superfícies destinadas aos alimentos,

contribuindo para o aumento dos preços dos mantimentos e para sua escassez (FAO,

2007).

Sendo assim uma alternativa seria a utilização de óleos de fritura residuais na

produção de biocombustível, pois aliado ao fato de ser uma matéria-prima de baixo custo,

mitigaria os impactos causados pela disposição inadequada no meio ambiente, que estão

chegando a níveis alarmantes, e não competiria com a produção de alimentos.

A fritura por imersão é um dos métodos de preparo de alimentos mais

populares atualmente, tanto doméstica quanto industrialmente. Devido ao uso contínuo, os

óleos usados na fricção dos alimentos podem sofrer algumas reações, segundo Regitano-

d’Arce (2005) são elas:

Hidrólise: a hidrólise é favorecida pelo uso excessivas de água, altas temperaturas, pressão e ação de enzimas lipolíticas ou catalisadoras, aumentando o número de ácidos graxos livres. A hidrólise em óleos e gorduras pode ser particularmente observada após o uso repetitivo em frituras, ela é facilitada pela combinação de vapor de água proveniente dos alimentos e da alta temperatura.Auto-oxidação: ocorre quando o oxigênio atmosférico ou dissolvido na amostra encontra os segmentos mais reativos da molécula do triglicerídeo, ou seja, as duplas ligações dos ácidos graxos insaturados. Quanto maior o grau de insaturação do ácido graxo componente do triglicerídeo maior será a intensidade da oxidação.Termoxidação: tanto ácidos graxos saturados ou insaturados sofrem decomposição química quando expostos ao calor na presença de oxigênio, sendo que os principais exemplos de termoxidação são o uso de fornos de microondas e frituras por imersão.

Após a utilização contínua dos óleos eles se tornam um resíduo indesejável

devido ao aumento da viscosidade por causa da formação de dímeros e trímeros de

triglicerídeos, formação de espuma pelo surgimento de compostos que contém

grupamentos hidroxila, além de compostos voláteis e não voláteis, os primeiros são

perdidos para o ambiente enquanto os não voláteis podem ser absorvidos pelos alimentos,

comprometendo a sua qualidade nutricional (REGITANO-D’ARCE, 2005).

Sendo este resíduo prejudicial à qualidade dos alimentos e a saúde, eles muitas

vezes são despejados em pias, vasos sanitários, no solo, no lixo, comprometendo a

qualidade do sistema de tratamento de esgoto, dos mananciais e lençóis freáticos.

Entretanto este resíduo possui grande valor e potencial por ser uma matéria-prima

reutilizável principalmente na produção de biocombustível.21

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Para utilizar os óleos vegetais em um motor comum do ciclo diesel sem

adaptações no motor, é preciso submeter este óleo a uma reação química denominada

transesterificação, com o principal objetivo de baixar a viscosidade do óleo a valores

próximos a do diesel convencional (RABELO, 2001).

A transesterificação, conforme a Figura 5, consiste na reação química de

triglicerídeos com álcoois (metanol ou etanol) na presença de um catalisador (ácido, básico

ou enzimático), resultando na substituição do grupo éster do glicerol pelo grupo etanol ou

metanol. A glicerina é um subproduto da reação, e deve ser purificada antes da venda para

aumentar a eficiência econômica do processo (SILVA et al, 2008).

Figura 5. Reação de transesterificação metílica em meio alcalinoFonte: Almeida (2002).

Experimentos foram feitos para a reação de transesterificação em óleos de

fritura residuais com seis tipos de alcoóis: metanol, etanol, 1-propanol, 2-propanol, 1-

butanol, e 2-etoxyetanol e dois catalisadores, uma base KOH e um ácido H2SO4,

concluindo que os melhores resultados foram obtidos com metanol e hidróxido de potássio

(NYE et al., 1983).

Entretanto para a produção de biodiesel através de óleos residuais, deve ser

feito um trabalho de sensibilização e conscientização da população para que os mesmos

possam interagir com as causas ambientais, impedindo assim o despejo incorreto desses

óleos na rede de esgoto e no meio ambiente.

Esse processo de sensibilização e conscientização se dá através da educação

ambiental, quem vem a ser o processo no qual incorporamos critérios sócio-ambientais,

ecológicos, éticos e estéticos nos objetivos didáticos da educação, com o objetivo de

construir novas formas de pensar incluindo a compreensão da complexidade e das

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emergências e inter-relações entre os diversos subsistemas que compõem a realidade

(LEFF, 2001).

Os problemas causados pela degradação do meio ambiente atingem a todos os

seres vivos independente de sua complexibilidade ou nível social, ou seja, as

conseqüências dizem respeito a todos os seres bióticos. Sendo assim, a preservação e

recuperação do espaço abiótico, propiciará melhores condições à vida das mais variadas

espécies.

É nesse âmbito de pensamento que um dos grandes poluentes do meio

ambiente e dos sistemas de tratamento de esgoto e água, os óleos e gorduras residuais,

devem ser reutilizados já que possuem grande potencial na produção de biocombustíveis,

de forma a minimizar os impactos negativos, evitando custos as ETE’s e ETA’s, além de

evitar prejuízo à vida nos rios, lagos e mares.

Dessa forma, o presente trabalho buscou implantar projetos de educação

ambiental nas escolas de Anápolis, para que houvesse um comprometimento com o meio

ambiente através de coleta seletiva do óleo de fritura residual, para utilização como

matéria-prima na fabricação de biocombustível.

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5METODOLOGIA

Como metodologia foi escolhida a pesquisa exploratória como modelo para a

presente investigação. Os resultados serviram de base para a criação de uma proposta de

implantação da coleta de óleo de fritura nas escolas públicas de Anápolis, que possa suprir

as atuais demandas de óleo para produção de biodiesel. Segundo Vergara (1997), a

pesquisa exploratória é recomendada em casos em que existe pouco conhecimento

acumulado sobre o objeto em estudo.

De acordo com Vergara (1997), a metodologia pode ser entendida sob dois

aspectos: quanto aos fins; e, quanto aos meios.

Quanto aos fins, tomando-se por base a classificação da pesquisa apresentada por

Vergara (1997), esta pesquisa é do tipo descritiva. Este tipo de pesquisa, para Martins

(1997, p.30), é aquele que “tem como objetivo a descrição das características de

determinada população ou fenômeno, bem como o estabelecimento de relação entre

variáveis e fatos”. Já Andrade (1993, p.98) aponta que, na pesquisa descritiva, “os fatos

são observados, registrados, analisados, classificados e interpretados, sem que o

pesquisador interfira neles”.

Do ponto de vista da forma de abordagem do problema, existem duas

perspectivas para a realização da pesquisa: a pesquisa quantitativa e a qualitativa.

(RICHARDSON, 1989; ROESCH, 1999).

A pesquisa quantitativa significa transformar opiniões e informações em

números para possibilitar a classificação e análise. Exige o uso de recursos e de técnicas

estatísticas. Já a pesquisa qualitativa considera que há uma relação entre o mundo objetivo

e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números.

A pesquisa objeto deste trabalho utilizou-se de ambos os modelos: quantitativo

e qualitativo. Por meio do modelo qualitativo descreveu-se a realidade encontrada,

possibilitando uma análise com maior profundidade; usou-se também o método

quantitativo já que, em parte dos dados coletados bem como no tratamento destes dados,

utilizou-se técnicas estatísticas.

Conforme descrito anteriormente, para a obtenção dos resultados, observaram-

se sistematicamente os seguintes itens: revisão literária; entrevista como responsável pelo

tratamento de esgotos da SANEAGO; entrevista com responsável técnico da empresa

GRANOL S/A sobre o potencial da produção de biocombustível de OFR em Anápolis;

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aplicação de questionários com estudante, professores, gestores e funcionários de dez

escolas públicas de Anápolis com alunos do 3º e 2º Ano do ensino médio e implantação do

projeto Coleta de Óleo de Fritura Residual nas Escolas onde foram aplicados os

questionários.

A revisão literária buscou familiarizar o autor a respeito do assunto discutido,

levantando dados das mais variadas fontes, desde artigos científicos a teses de graduação e

pós-graduação (especialização, mestrado), colocando o autor em contato direto com obras

já escritas para que o trabalho tivesse bases científicas fidedignas (LAKATOS &

MARKONI, 2001).

A pesquisa foi desenvolvida junto a três diferentes segmentos: a) profissional

da Empresa de tratamento de água e esgoto (SANEAGO), b) técnico responsável em

biodiesel da empresa GRANOL, c) alunos, professores e funcionários de escolas públicas.

Como instrumentos de coleta de dados da pesquisa foram elaborados e aplicados três

diferentes questionários intitulados:

Questionário nº 1, questionário nº 2 e questionário nº 3; aplicados

respectivamente aos três grupos (a), (b) e (c) citados acima.

O questionário nº 1 (Anexo 1) foi aplicado ao supervisor técnico da rede de

esgoto da SANEAGO de Anápolis. A motivação para a aplicação do questionário nº 1

consiste no fato do supervisor possuir informações abrangentes sobre o trabalho

desenvolvido pela empresa no tratamento de água e esgoto e as dificuldades encontradas

para remoção do óleo ou gordura no processo de tratamento.

O questionário nº 2 (Anexo 2) foi aplicado ao técnico da empresa de biodiesel

GRANOL S/A, localizada no Distrito Agroindustrial de Anápolis, o motivo foi avaliar o

potencial da produção de biocombustível a partir do óleo de fritura em Anápolis.

Para avaliar o grau de importância de conhecimentos específicos sobre impactos

ambientais causados por óleos e gorduras, consumo e disposição dos óleos nas residências,

bem como, o conhecimento de formas de reaproveitamento dos resíduos a partir da visão

dos educadores, gestores e alunos foi elaborado e aplicado o questionário nº 3 (Anexo 3).

O questionário nº 3 foi aplicado a 100 alunos, 66 professores e 34 funcionários alocados

em 10 escolas.

O número de alunos foi estipulado na amostragem de 10% do total de alunos dos

terceiros ou segundos anos do ensino médio no turno da realização dos questionários,

porém foi estabelecido como amostragem mínima o número de 10 (dez) alunos por Escola. 25

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A escolha de alunos do ensino médio, principalmente de terceiros ou segundos anos

baseou-se no pressuposto de possuírem uma maior carga de disciplinas ao longo da vida

acadêmica e um maior conhecimento da rotina de suas residências.

Já os professores foram selecionados de acordo com suas disciplinas, dando

preferência para professores de Biologia, Geografia, Química e Física. Funcionários e

gestores foram selecionados de acordo com suas funções, ou seja, principalmente

funcionários responsáveis pelos refeitórios além de secretários e coordenadores.

Visando a conduta ética, foi anexado ao questionário nº 3 o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 4), com dados pessoais do pesquisador

responsável, objetivo do projeto e medidas a serem tomadas caso o sujeito participante se

sinta lesado, sendo que cada participante recebeu uma cópia do Termo.

A implantação do projeto de Coleta de Óleo de Fritura Residual nas Escolas

Estaduais foi realizada em parceria com a ONG 4 Elementos, projeto esse dividido em 3

(três) etapas: 1) Visitas às escolas para expor a proposta aos gestores e coletar dados e informações como número de alunos matriculados, nome do responsável e endereço, 2) Entrega do material gráfico sobre reciclagem, danos causados por óleos e como armazena-lo e entrega dos cupons para os sorteios semestrais, 3) Coleta do óleo arrecadado na data marcada pela Escola (TONELINI, 2008, p. 12).

Foram selecionados 10 (dez) Colégios Estaduais em diferentes bairros para a

implementação do projeto, sendo as mesmas aonde foi aplicado o questionário de nº 3, são

eles: Colégio Estadual Américo Borges de Carvalho (Bairro Jardim Goiano), Colégio

Estadual Carlos de Pina (Bairro Boa Vista), Colégio Estadual Durval Nunes da Mata

(Bairro João Luiz de Oliveira), Colégio Estadual Genserico Gonzaga Jaime (Setor

Industrial), Colégio Estadual Padre Trindade (Bairro Jundiaí), Colégio Estadual

Polivalente “Gabriel Issa” (Vila Nossa Senhora D’Abadia), Colégio Estadual Polivalente

“Frei João Batista” (Bairro Maracanã), Colégio Estadual Professor Faustino (Centro),

Colégio Estadual Virgínio Santillo (Bairro Maracanã) e Colégio Estadual Zeca Batista

(Vila Góis).

26

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6RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste capítulo são apresentados os resultados obtidos de acordo com os

métodos propostos no capítulo anterior.

6.1Entrevista SANEAGO S/A

A entrevista foi realizada com o Engenheiro Civil Clodoveu Reis Pereira, cujo

cargo é de Supervisor de Esgoto dentro da empresa de saneamento de Goiás, a

SANEAGO, empresa concessionária responsável pelo saneamento básico em Anápolis

desde 1973 (PDA, 2005).

A entrevista teve como objetivo obter informações sobre o prejuízo que os

óleos e gorduras causam no sistema de tratamento de esgotos, desde incrustações no

sistema de distribuição a gastos excessivos na sua remoção.

Além da obtenção de dados a respeito dos impactos negativos causados em

todo o processo de tratamento, foi questionada a necessidade de projetos e políticas

públicas para a reutilização desses óleos de fritura residuais, evitando o despejo na rede de

esgotos e no meio ambiente.

Com quase metade da população da cidade sem rede coletora de esgoto, várias

são as redes clandestinas que depositam esses dejetos tanto em leitos d’água quanto no

próprio solo, contaminando os lençóis freáticos e os mananciais que abastecem a cidade

(PDA, 2005).

O atual sistema de esgotamento está dividido em seis sub-bacias: Góis, Água

Fria, Cezários, Reboleiras e Antas, estão localizadas na bacia do Rio das Antas; e a sub-

bacia Catingueiros, localizada na bacia do Córrego Catingueiro. A rede coletora das

extensões das sub-bacias e diâmetros conta com 476.766,00 metros (PDA, 2005).

A estação de tratamento está localizada na margem direita do Rio das Antas,

tratando uma vazão máxima afluente, medida em maio de 1998, de 470 L/s. O corpo

receptor dos esgotos tratados é o Rio das Antas, bacia do Rio Corumbá. O Distrito

Agroindustrial de Anápolis (DAIA) possui sistema de esgotamento sanitário próprio, com

lançamento dos esgotos tratados no Córrego Extrema, bacia do Rio das Antas (PDA,

2005).

27

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Segundo o entrevistado os principais problemas causados pelo descarte de

óleos e gorduras na rede de esgoto são as incrustações e obstruções das redes coletoras.

Essas obstruções se dão pelo fato da alta reatividade dos óleos e gorduras, fazendo com

que esses resíduos se tornem sólidos e dificultem o desempenho eficiente das redes

coletoras. Entretanto o prejuízo não é apenas da rede coletora e da empresa de saneamento,

mas também do corpo receptor do esgoto tratado, pois os óleos não são removidos em sua

totalidade no tratamento biológico, retornando aos mananciais e poluindo o ambiente.

Quando indagado a respeito dos custos gerados para a remoção dos óleos,

gorduras e obstruções, o entrevistado afirmou não haver um estudo de caso específico para

essa situação dentro da empresa, nem possuir dados relativos à porcentagem dos gastos

totais no que diz respeito ao caso dos óleos. Todavia os gastos são imensuráveis vistos os

inúmeros casos de incrustações e obstruções da rede, havendo a necessidade de obras,

troca de manilhas, reposição de asfalto, manutenções e diminuição da eficiência da Estação

de Tratamento de Esgoto (ETE).

Foi elucidada a maneira na qual os óleos e gorduras são removidos do sistema

de tratamento de esgoto, segundo os dados obtidos na entrevista a remoção dos sólidos

grosseiros é feita com tratamento preliminar. Já a retirada da matéria orgânica é feita

através de tratamento biológico, com microorganismos, nas lagoas de estabilização.

Processo esse que não remove os óleos e gorduras em sua totalidade, poluindo os corpos

receptores.

De acordo com o entrevistado, a SANEAGO não possui projetos no intuito de

conscientizar a população na minimização do problema de despejo incorreto de óleos na

rede coletora. Porém foi visto com grande valia um projeto nesse âmbito, devido ao

reaproveitamento de uma matéria-prima com grande potencial na produção principalmente

de biocombustível, na diminuição dos poluentes e impurezas na rede, facilitando o

tratamento do esgoto sanitário e diminuindo os custos, e por retirar um resíduo altamente

poluente da natureza, mitigando os impactos ambientais.

A entrevista pôde mostrar como é valida e importante a realização de projetos

ambientais com o objetivo de minimizar o despejo de resíduos no meio ambiente,

principalmente resíduos com grande potencial de reaproveitamento, como o caso dos óleos

de fritura residuais. Sendo assim, a entrevista confere subsídios necessários para a

implantação do projeto de Coleta de Óleo de Fritura Residual nas Escolas Públicas

Estaduais de Anápolis, proposto no presente trabalho.28

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6.2Entrevista GRANOL S/A

Para avaliar o potencial de produção de biocombustível a partir de OFR em

Anápolis, foi necessário um levantamento de dados juntamente com a GRANOL

INDÚSTRIA, COMERCIO E EXPORTAÇÃO S/A situada no Distrito Agroindustrial de

Anápolis (DAIA). Essa empresa realiza campanhas para troca de óleos residuais em alguns

pontos da cidade de Anápolis, como supermercados e pontos de comércio.

A entrevista foi realizada com o Gerente Regional do Centro-Oeste Paulo

Donato, cuja formação é de Administrador de Empresas com Mestrado em Qualidade.

Foram apresentadas ao entrevistado perguntas que elucidavam o trabalho da empresa

dentro da cidade de Anápolis, seus projetos ambientais, a quantidade de OFR arrecadada,

bem como a viabilidade de projetos nessa área.

Segundo o entrevistado, os objetivos da Granol na arrecadação e produção de

biocombustível a partir de OFR são exclusivamente sócio-ambientais e de marketing

ecológico, visto que a quantidade da produção diária de biocombustível é infinitamente

maior do que a quantidade do óleo residual coletada junto à população.

Economicamente o trabalho de coleta do OFR não foi considerado viável,

entretanto o entrevistado afirmou que o projeto ambiental gera um benefício à empresa de

saneamento da cidade, pois minimiza a emissão desses resíduos na rede coletora de esgoto,

aumentando a eficiência do tratamento e diminuindo a contaminação dos corpos receptores

e menores gastos no posterior tratamento da água para o consumo humano.

Porém, o maior beneficiado é o meio ambiente, pois as propriedades químicas

e físicas dos mais variados óleos, fazem com que estes sejam poluidores em potencial do

ambiente, tanto para água quanto para o solo, prejudicando os mais variados tipos de vida

existentes.

O entrevistado afirmou ainda que a cidade de Anápolis não possui potencial na

arrecadação de OFR para produção de biocombustível quando comparado a demanda do

mercado, visto que hoje conforme Lei vigente nº 11.097/05, que regulamenta o uso do

Biodiesel (Anexo 1) é obrigatório o uso de 3% de biodiesel no diesel mineral

comercializado no país, todavia foi dito que todo resíduo deve ser reaproveitado para que

sejam minimizados os danos ao ambiente, a qualidade de vida da população e para que

esses OFR sejam reaproveitados na forma mais nobre conhecida atualmente, a produção de

biocombustível.

29

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Foi evidenciado através da entrevista que o biocombustível proveniente do

OFR não possui diferenças quando comparados com as outras matérias-primas, pois

durante o processo de fabricação esse óleo é previamente tratado para que sejam retiradas

impurezas e para neutralização do pH, já que este é coletado com grande quantidade de

resíduos de alimentos, com alta umidade e com maior acidez, devido às diversas reações

que esse óleo sofre durante o processo de processamento dos alimentos.

O único problema citado pelo entrevistado a respeito da produção de

biocombustível é a pequena demanda do subproduto da reação, a glicerina. Esse

subproduto é usado principalmente na queima para geração de energia nas caldeiras da

própria indústria, fabricação de sabão, cosméticos e para a indústria farmacêutica,

entretanto, os custos para a purificação da mesma inviabilizam a destinação para fins mais

nobre, como indústrias farmacêuticas e cosméticas. De acordo com o entrevistado a cada

400 toneladas produzidas de biocombustível, são geradas 55 toneladas de glicerina.

O biocombustível produzido pela empresa, independente da matéria-prima,

seja óleo puro, seja óleo residual, sebo bovino, gordura de frango ou o subproduto da

fabricação de margarina, é destinado ao abastecimento do mercado interno brasileiro,

devido à grande demanda proveniente da regulamentação da mistura B3, ou seja, mistura

entre 3% de Biodiesel e 97% diesel mineral. Essa demanda de biocombustível se deve,

segundo o entrevistado, ao fato do Brasil utilizar anualmente cerca de 40 (quarenta) bilhões

de litros de óleo diesel provenientes do petróleo.

Segundo dados obtidos pela própria empresa, o biocombustível produzido

abastece a demanda do mercado interno brasileiro conforme Figura 6.

Figura 6. Abastecimento Interno de Biocombustível produzido pela GRANOL. Fonte: Granol Indústria Comércio e Exportação S/A (2007).

30

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A Granol vem realizando, desde 2006, projetos de conscientização ambiental

juntamente com a população de Anápolis com o intuito de obter sucesso na campanha de

coleta de OFR feita pela empresa, que é realizada com o apoio de supermercados da

cidade. Esse projeto baseia-se na troca de 4 (quatro) litros de óleo residual por um litro de

óleo novo.

A empresa coletou na cidade de Anápolis no ano de 2007, 27.219 litros de

OFR, e em 2008 até o mês de outubro, coletou 30.892 litros de OFR. Entretanto, a

produção mensal de biocombustível feita pela empresa chega à casa dos 13 (treze) milhões

de litros, já que a produção diária é de cerca de 500 (quinhentos) mil litros.

Sendo assim, o óleo residual coletado mensalmente na cidade, cerca de 3.000

(três mil) litros, não supre a demanda de biocombustível mensal produzido pela empresa,

porém o entrevistado afirmou não ser essa a maior preocupação da empresa, e sim a

questão da retirada de um resíduo com grande potencial poluidor do meio ambiente e o

reaproveitamento do mesmo de uma forma ecologicamente correta, pois os benefícios

gerados ao ambiente e ao marketing da empresa são bem maiores que os custos para coleta

e reaproveitamento desses resíduos.

Segundo o entrevistado, Anápolis com uma população média de 350 (trezentos

e cinqüenta) mil habitantes, com o consumo mensal de óleo de 315 (trezentos e quinze) mil

litros, sendo o consumo per capta mensal de óleo de 900 mL por família, aliado ao fato de

apenas 15% desse óleo ser usado em frituras, ou seja, cerca de 47 (quarenta e sete) mil

litros, e desse, 15% uma quantia considerável é reaproveitada pela própria população na

fabricação de sabão, torna-se necessárias medidas para a coleta do óleo que possivelmente

é depositado incorretamente no meio ambiente.

A campanha da empresa é realizada através de divulgação feita por carros de

som, divulgação nas rádios, na distribuição de panfletos educativos nos supermercados, nas

residências e em algumas escolas municipais através da distribuição de gibis. Todos estes

mostram os malefícios causados pelo depósito incorreto de OFR, tanto para a rede de

saneamento quanto para o meio ambiente e a forma de reaproveitamento do mesmo, pela

produção de biocombustível.

O entrevistado ainda afirmou a necessidade de parcerias com ONG’s e

Universidades, que estejam engajadas em projetos sócio-ambientais no intuito de realizar

projetos de conscientização ambiental, tanto para o reaproveitamento em maior escala,

31

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quanto para preservação do meio ambiente, validando assim o projeto de coleta de óleo nas

escolas públicas proposto pelo presente trabalho.

6.3Questionário nas Escolas

O questionário aplicado nas Escolas teve como intuito verificar a percepção de

alunos, professores e funcionários a respeito do impacto causado por óleos e gorduras

quando descartados de forma incorreta no Meio Ambiente, bem como a quantidade usada

nas residências, a disposição final desses óleos, o conhecimento prévio de formas de

reaproveitamento, a freqüência de utilização de alguma dessas formas em seu dia-a-dia e a

disponibilidade de fornecimento desses resíduos para projetos ambientais.

Os dados coletados deram embasamento para o projeto proposto pelo trabalho,

pois a partir do conhecimento prévio dos entrevistados que foram estabelecidas as metas da

primeira parte do projeto, a de apresentação e conscientização, ou seja, a Educação

Ambiental.

O questionário foi aplicado a 200 (duzentas) pessoas, divididas em 10 (dez)

Escolas da rede Estadual de ensino, por tanto foram aplicados 20 questionários por Escola,

sendo 100 alunos (50%), 66 professores (33%) e 34 funcionários (17%), conforme Figura

7.

Figura 7. Quantidade e porcentagem dos entrevistados Fonte: Questionário 3

As 10 (dez) Escolas da rede Estadual de ensino foram selecionadas com o

objetivo de diversificar os bairros e comunidades, para que os resultados pudessem mostrar 32

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não somente dados de uma determinada região com os mesmos fatores sociais, mas dados

capazes de conter resultados provenientes das diversas variâncias de realidades, e de

situações sociais. A Figura 8, mostra os locais que tem rede de esgoto em Anápolis e as

escolas pesquisadas.

Figura 8. Mapa da cidade de Anápolis com os setores que possuem rede coletora de esgoto (em Vermelho), e as Escolas Estaduais selecionadas (a Direita em Preto). Fonte: PDA, (2005).

Outro aspecto considerado foi a função do entrevistado dentro da escola e o seu

grau de escolaridade, sendo que dos 66 professores entrevistados 83,33% têm pós-

graduação, enquanto 16,66% graduação. Dos 100 alunos entrevistados 60% cursavam o 3º

ano do ensino médio, enquanto 40% o 2º ano do ensino médio. No caso dos 34

funcionários entrevistados 17,64% têm ensino fundamental, 52,94% ensino médio, 17,64%

graduação e 11,76% pós-graduação, conforme Figura 9.

33

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Figura 9. Grau de escolaridade dos entrevistados por categoria (alunos, professores e funcionários)Fonte: Questionário 3

A primeira pergunta do questionário serviu para mostrar o nível de

conhecimento dos entrevistados a respeito do impacto ambiental causado pelo descarte

incorreto de óleos e gorduras residuais no meio ambiente. Conforme os dados obtidos

foram verificados que 84% dos alunos têm conhecimento a respeito dos impactos gerados

pelo descarte incorreto de óleos e gorduras, e que 16% não possuem conhecimento a

respeito do assunto.

No caso dos professores, 90,9% possuem consciência relativa ao impacto

gerado por óleos e gorduras e 9,1% não possuem tal consciência. Já os funcionários

82,35% possuem conhecimento a respeito dos impactos gerados pelo descarte incorreto,

enquanto 17,64% não possuem conhecimento sobre o assunto, conforme Figura 10.

34

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Figura 10. Porcentagem relativa de Professores, Alunos e Funcionários a respeito da consciência dos impactos ambientais causados por óleos e gorduras quando despejados incorretamente no Meio Ambiente.Fonte: Questionário 3 – Questão 1

Comparando os índices encontrados relativos ao conhecimento dos impactos

gerados pela disposição incorreta de óleos e gorduras, às funções dos entrevistados dentro

da escola e o grau de escolaridade dos mesmos, ficam evidentes a relação do nível de

instrução e de escolaridade com o conhecimento a respeito da degradação ambiental. Os

professores se mostraram mais conscientes, seguidos por alunos e funcionários, validando

a comparação entre instrução, escolaridade e conhecimento.

Na segunda pergunta do questionário, os entrevistados foram indagados a

respeito da quantidade de óleo usada mensalmente em suas residências, para que esses

dados possam ser usados posteriormente em comparações como o local de disposição

desses óleos nas residências.

A segunda pergunta era composta por quatro alternativas para os entrevistados,

sendo a primeira até 2 litros, a segunda de 2 a 5 litros, a terceira de 5 a 10 litros e a quarta

mais de 10 litros. A Figura 11, mostra a porcentagem do consumo mensal de óleo por

alunos, professores e funcionários das escolas pesquisadas.

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Figura 11. Porcentagem de consumo mensal de óleo por categoria (alunos, professores e funcionários)

Fonte: Questionário 3 – Questão 2

Para os alunos, 19% utilizam até 2 litros mensais de óleo em suas residências,

52% de 2 a 5 litros, 25% de 5 a 10 litros e 4% mais de 10 litros.

Para professores, 41% utilizam até 2 litros em suas residências, 38% de 2 a 5

litros, 21% de 5 a 10 litros, sendo que nenhum dos professores entrevistados afirmou

utilizar mais de 10 litros. Já os funcionários, 18% afirmaram utilizar até 2 litros mensais,

55% de 2 a 5 litros, 21% de 5 a 10 e 6% mais de 10 litros mensais.

Totalizando todos os resultados de consumo mensal de óleo nas residências,

tanto de professores, alunos e funcionários, encontramos o resultado conforme a Figura 12.

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Figura 12. Porcentagem dos entrevistados em relação ao consumo mensal de óleo nas residências. Fonte: Questionário 3 – Questão 2

Na terceira etapa do questionário, os entrevistados foram perguntados a

respeito dos locais, ou seja, poderia ser marcada mais de uma alternativa, em que eles

depositam os óleos residuais em suas residências. Essa pergunta teve como objetivo

mostrar os locais mais utilizados para disposição final dos resíduos, sendo as opções: lixo,

pia, solo ou outros locais, nesta última, o entrevistado deveria informar qual o local de

descarte de óleo por ele. A Figura 13 mostra os locais de descarte do óleo pelos

entrevistados.

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Figura 13. Locais de descarte do óleo de fritura por categoria (alunos, professores e funcionários)Fonte: Questionário 3 – Questão 3

Segundo os alunos, 13% depositam o óleo residual diretamente no solo, 26%

no lixo, 31% na pia e 30% em outros locais, descritos pelos entrevistados como garrafas

plásticas (PET) e vidros. Já os professores, 9% depositam o óleo residual diretamente no

solo, 21% no lixo, 11% na pia e 59% em outros locais, como garrafas plásticas (PET) e

vidros.

Para os funcionários 9% são depositados diretamente no solo, 21% no lixo, 3%

na pia e 67% em outros locais, como garrafas plásticas (PET) e vidros. Sendo assim o

resultado total de todos os entrevistados mostram que 11% dos óleos residuais são

depositados no solo, 24% no lixo, 20,5% na pia e 46,5% em garrafas plásticas (PET) e

vidros, conforme Figura 14.

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Figura 14. Porcentagem dos locais em que os OFR são depositados nas residências dos entrevistados.Fonte: Questionário 3 – Questão 3

O despejo incorreto dos OFR ocasiona vários problemas tanto ao meio

ambiente quanto a rede coletora de esgoto. O descarte feito diretamente no lixo implica na

contaminação do solo, provocando o fechamento dos estômatos das plantas, dificultando a

atividades das raízes, e contaminando o lençol freático. Por outro lado, o depósito dos OFR

no esgoto pode provocar danos ambientais e econômicos (ALMEIDA, 2002).

A análise em relação ao depósito dos OFR no esgoto deve ser feita em duas

dimensões: os impactos causados com e sem o tratamento do esgoto, pois na cidade de

Anápolis apenas 52,64% da população possui sistema coletor de esgoto, sendo várias as

redes clandestinas (PDA, 2005).

A quarta pergunta do questionário teve como intuito avaliar o conhecimento

dos entrevistados a respeito de formas de reaproveitamento do óleo de fritura residual. A

questão era composta por seis alternativas, sendo elas: produção de sabão, produção de

biocombustível, produção de ração animal, produção de massa de vidraceiro, não conheço

e outros, entretanto a última alternativa não foi marcada por nenhum entrevistado. A

Figura 15, mostra o grau de conhecimento prévio dos entrevistados a respeito de formas de

reaproveitamento do OFR.

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Figura 15. Conhecimento prévio dos entrevistados (alunos, professores e funcionários) a respeito de formas de reaproveitamento do OFR.Fonte: Questionário 3 – Questão 4

Segundo os alunos, 71,66% conhecem como forma de reaproveitamento do

OFR a fabricação de sabão, 20,02% a fabricação de biocombustível, 0,83% produção de

massa de vidraceiro, 1,66% produção de ração animal e 5,83% afirmaram não conhecer

formas de reaproveitar os óleos residuais.

Para os professores, 72% conhecem como forma de reaproveitamento a

produção de sabão, 23% a produção de biocombustível e 5% não possuem conhecimento

sobre o assunto.

Já os funcionários, 87% conhecem a fabricação de sabão como forma de

reaproveitar o OFR, e 13% afirmaram conhecer a produção de biocombustível a partir

desses resíduos.

No total dos entrevistados, 90,5% conhecem a fabricação de sabão, 24,5% a

produção de biocombustível, 1% fabricação de ração animal, 0,5% a fabricação de massa

de vidraceiro e 5,5% afirmaram não possuir conhecimento a respeito de formar de

reaproveitamento dos óleos de fritura residuais, conforme Figura 16.

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Figura 16. Conhecimento prévio dos entrevistados a respeito de formas de reaproveitamento dos óleos de fritura residuaisFonte: Questionário 3 – Questão 3

O conhecimento prévio dos entrevistados mostra que a forma de reutilização

dos OFR mais conhecida popularmente é a fabricação de sabão e a produção de

biocombustível, por ser um tema atual, está começando a fazer parte do conhecimento

popular. Entretanto outras formas ainda são pouco conhecidas, como no caso da fabricação

de ração animal e massa de vidraceiro.

O número de pessoas que não conhecem formas de reaproveitamento do óleo

residual é considerável, mostrando a necessidade e a importância de projetos educacionais ,

a fim de identificar os problemas sofridos pelo meio ambiente quando os OFR são

descartados incorretamente.

A quinta pergunta do questionário procurou levantar dados a respeito do

número de pessoas que reutilizam o óleo, fabricando produtos cuja matéria-prima é o óleo

de fritura residual. A pergunta era fechada, com alternativas entre sim ou não, caso a

resposta fosse “sim” havia a pergunta “qual”, para mostrar qual a forma de reutilização. A

Figura 17, mostra o índice de reutilização do OFR pelos entrevistados no dia-a-dia.

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Figura 17. Porcentagem de entrevistados (alunos, professores e funcionários) que reaproveitam o OFR no seu dia-a-dia.Fonte: Questionário 3 – Questão 5

Para os alunos, 46% reutilizam os OFR fabricando sabão e 54% não

reaproveitam esses resíduos. Para os professores, 63,63% reutilizam os OFR na fabricação

de sabão, enquanto 36,36% não reaproveitam. Já os funcionários, 67,64% fabricam sabão,

enquanto 2,94% realizam a troca do óleo residual no supermercado, 2,94% misturam o

óleo na ração do cachorro e 26,47% não reaproveitam.

Os resultados encontrados para todos os entrevistados foram que 55,5%

reaproveitam o óleo de fritura residual na produção de sabão, 0,5% realiza a troca do óleo

usado no supermercado, 0,5% mistura o óleo na ração do cachorro, enquanto 43,5% não

reutilizam o óleo de nenhuma forma, conforme Figura 18.

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Figura 18. Nível de reaproveitamento dos óleos de fritura residuais pelos entrevistados.Fonte: Questionário 3 – Questão 5

A questão 6 do questionário procurou mostrar o interesse de alunos,

professores e funcionários em fornecer o óleo residual para projetos ambientais. A

pergunta possuía alternativas fechadas, com as opções “sim” e “não” e a pergunta “por

quê”, cuja resposta não era obrigatória mas era importante para elucidar os motivos pelos

quais os entrevistados optariam ou não pelo fornecimento dos óleos usados para projetos

ambientais. A Figura 19, mostra a porcentagem dos entrevistados que se interessaram em

fornecer o OFR para projetos ambientais.

Figura 19. Porcentagem dos entrevistados (alunos, professores e funcionários) interessados em fornecer o óleo para projetos ambientais.

43

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Para os alunos, 73% dos entrevistados afirmaram estar dispostos a fornecer os

OFR para projetos ambientais, enquanto 27% não estão dispostos. Para os professores,

69,69% possuem interesse em fornecer os óleos usados, enquanto 30,3% não estão

dispostos a fornecer o OFR. Já para os funcionários, 61,76% estão dispostos a doar o óleos

utilizado para projetos ambientais, enquanto 38,23% não estão dispostos a fornecer o OFR.

Totalizando todos os entrevistados, 70% se mostraram dispostos no fornecimento

dos óleos de fritura residuais para projetos ambientais, enquanto 30% afirmaram não

possuir interesse nesse fornecimento, conforme a Figura 20.

Interesse no fornecimento de OFR para projetos ambientais

70%

30%InteressadosNão Interessados

Figura 20. Interesse no fornecimento de OFR para projetos ambientais dos entrevistados.Fonte: Questionário 3 – Questão 6

Na mesma questão, havia um espaço para que os entrevistados pudessem expor os

motivos pelos quais eles tinham interesse ou não em fornecer o OFR para projetos

ambientais. Essas respostas variaram de acordo com a marcação da alternativa “sim” ou

“não”. Dos 200 (duzentos) entrevistados houve uma incidência de 121 respostas, ou seja,

60,5% dos entrevistados, pois não era obrigatório responder, sendo que essas respostas

variaram de acordo com a Tabela 1.

44

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Tabela 1. Respostas obtidas pelos entrevistados quando questionados sobre o interesse em fornecer o óleo para projetos ambientais.

RESPOSTAS SIM QUANTIDADE DE RESPOSTASPreservar/Diminuir os Impactos Ambientais 36Conservar o Meio Ambiente 39Diminuir o Efeito Estufa/Aquecimento Global 6Garantir um futuro melhor/Melhorar a vida 4Não poluir o solo 2Porque não o reaproveito 2

Total de respostas SIM 89RESPOSTAS NÃO

Já o reutilizo para fabricação de sabão 23Não sobra em casa 5Não tenho interesse 1Não tenho tempo 3

Total de respostas NÃO 32

Os resultados obtidos em todas as perguntas da pesquisa serviram de base para

traçar as metas da divulgação do Projeto de Coleta de Óleo de Fritura Residual nas

Escolas, pois esses dados mostraram que a maioria das pessoas possui conhecimento a

respeito do impacto ambiental causado por óleos e gorduras no meio ambiente e estão

dispostas a fornecer esse óleo para projetos ambientais.

Os entrevistados que afirmaram não estar dispostos a fornecer o óleo são em

grande maioria aqueles que já o aproveitam na fabricação de sabão, pois é uma forma

economicamente atraente para os mesmos na reutilização desses resíduos. Entretanto a

produção de sabão apenas retarda a poluição causada pelos mesmos, visto que estes não

são biodegradáveis.

Com os dados encontrados nas seis perguntas, foram feitas correlações entre os

dados. Essas relações foram feitas entre a pergunta 1 e a 6, entre a 2 e a 3, e entre a 4 e a 5,

ou seja, foram feitas respectivamente indagações relativas ao conhecimento dos impactos

ambientais causados por óleos e gorduras e o interesse no fornecimento dos mesmos para

projetos ambientais (Tabela 2), entre a quantidade de óleo usada mensalmente nas

residências e o local de disposição dos mesmos (Tabela 3) e entre o conhecimento prévio

de formas de reaproveitamento e a utilização de alguma dessas formas no dia-a-dia (Tabela

4).

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Tabela 2. Relação entre o conhecimento dos entrevistados a respeito dos impactos causados por óleos e gorduras quando depositados incorretamente no ambiente e do interesse de fornecimento dos OFR para projetos ambientais.

Tabela 3. Relação entre a quantidade mensal de óleo usado nas residências e o local de disposição dos resíduos

Tabela 4. Relação entre o conhecimento de formas de reaproveitamento do OFR e utilizações de alguma dessas formas no dia-a-dia.

Mediante os dados obtidos pelas entrevistas na GRANOL, na SANEAGO e

nas Escolas, fica claro a necessidade da implementação de projetos ambientais que

envolvam as comunidades como um todo, para que sejam minimizados os impactos

ambientais causados pela disposição errada dos mais diversos resíduos poluentes,

principalmente óleos e gorduras, trazendo benefícios para o meio ambiente e para a cidade

de uma forma geral.

46

Total ENTREVISTADOS

Até 2 de 2 a 5 de 5 a 10 Mais de 10 Solo Lixo Pia Pet ou vidros

100 Alunos 19 52 25 4 13 27 33 31

66 Professores 27 25 14 - 6 14 7 39

34 Funcionários 6 19 7 2 3 7 1 23

200 Entrevistados 52 96 46 6 22 48 41 93

USO MENSAL DE ÓLEO (LITROS) LOCAL DE DISPOSIÇÃO DOS RESÍDUOS

ENTREVISTADOS

SIM NÃO SIM NÃO

Alunos 84 16 73 27

Professores 60 6 46 20

Funcionários 28 6 21 13

Entrevistados 172 28 140 60

CONHECIMENTO DO IMPACTO AMBIENTAL INTERESSE EM FORNECER O OFR PARA PROJETOS AMBIENTAIS

ENTREVISTADOS

Sabão Biodiesel Massa de vidro Ração animal Não conhece Fazem sabão Não reaproveitam

Alunos 86 24 1 2 7 46 54

Professores 62 20 - - 4 42 24

Funcionários 33 5 - - - 23 9

Entrevistados 181 49 1 2 11 111 87

CONHECIMENTO PRÉVIO DE FORMAS DE REAPROVEITAMENTO APLICAÇÃO NO DIA-A-DIA

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a) Implantação do Projeto de Coleta de Óleo nas Escolas Públicas Estaduais

Várias são as justificativas para a implantação de um projeto com caráter

educativo, que visa minimizar a disposição de resíduos poluentes no meio ambiente,

principalmente quando esse resíduo possui grande potencial para ser reaproveitado de

formas variadas.

A educação ambiental se faz necessária para que os indivíduos ou grupos de

indivíduos percebam suas necessidades e responsabilidades de ações que contribuam

valores sociais de posturas e atitudes direcionadas para a preservação e manutenção do

meio ambiente, atitudes estas que devem ser executadas de modo consciente e participativo

(REIGOTA, 2006).

Essa educação ambiental deve ser feita de forma coordenada, baseada em

dados coletados anteriormente junto a população local para que sejam traçados os métodos

e diretrizes de trabalho, para que as necessidades básicas da comunidade sejam atendidas

de forma correta, e a educação seja efetiva.

Como já foi dito em capítulos anteriores OFR são grande poluidores de redes

de esgoto e do meio ambiente, e possuem potencial para reaproveitamento na fabricação de

biocombustível, sendo assim, o projeto visa aplicar junto às escolas e comunidades

medidas mitigadoras do impacto ambiental causado por OFR descartados erroneamente no

ambiente.

O projeto foi implementado nas mesmas escolas em que foram aplicados os

questionários, conforme Figura 21.

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Figura 21. Localização das Escolas Estaduais selecionadas para a realização do projeto. Fonte: PDA (2005).

A implementação do projeto foi dividida em 3 (três) fases: visitas as escolas

para apresentar a proposta, elaboração do material gráfico (cartazes, panfletos e cupons

para os sorteios) e coleta do óleo.

Em um primeiro momento foi realizada visitas as escolas, para a apresentação

do projeto aos gestores das escolas, (Anexo 5). Nesse momento foi apresentada a escola as

necessidades da realização do projeto, tanto para os alunos, para a escola, para a

comunidade e para o meio ambiente.

Além dos benefícios trazidos ao aluno em relação a conscientização ambiental

e a aquisição de novos conhecimentos, o projeto visa incentivar a participação dos

mesmos, com o sorteio de prêmios, a cada 2 litros de OFR doado pelo aluno, ele recebe um

cupom para concorrer a sorteios semestrais de bicicletas, celulares, mp3, skates entre

outros brindes.

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A escola participante serve de ponto de coleta tanto para alunos, professores e

funcionários, como para a comunidade local. A divulgação da escola como ponto de coleta

é feita na rádio e através de faixas que são colocadas na comunidade. Além disso, para

incentivar a escola na participação, a cada 7 mil litros de OFR arrecadados ela irá receber

um computador ou materiais no valor desse computador.

A comunidade pode doar o óleo nas escolas, não havendo mais a necessidade

de depositá-los nas pias, no solo ou nos lixos, gerando uma minimização dos malefícios

causados por esses resíduos. Entretanto os maiores beneficiados serão os mananciais de

água, os lençóis freáticos, o sistema de tratamento de esgoto, os corpos receptores, o solo, e

a fauna e a flora existente nesses locais.

Cada escola receberá uma bombona de PEAD (Polietileno expandido de alta

densidade) para a deposição das garrafas pets com o óleo residual. Em datas agendadas

juntamente com as escolas a empresa parceira da ONG 4 Elementos fará a coleta dos óleos

para a fabricação de biocombustível.

Exposto isso aos gestores das dez escolas, as mesmas decidiram participar pois,

viram no projeto uma excelente forma de atrair e motivar os alunos a participarem de uma

forma mais ativa das questões ambientais, gerando consciência e maior responsabilidade

com a vida, além do conhecimento de novas tecnologia, no caso do biocombustível.

49

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7CONCLUSÕESA partir do presente estudo avaliou-se o potencial de arrecadação de OFR na

cidade de Anápolis, bem como levantar dados a respeito dos prejuízos causados por esses

resíduos no meio ambiente e na rede coletora de esgoto, além de implantar nas Escolas

Estaduais da cidade de Anápolis o projeto de coleta de óleo de fritura residual para

reaproveitamento na produção de biocombustível.

Em um primeiro momento foi elucidado junto à empresa GRANOL,

responsável pela produção de biocombustível através desses óleos vegetais, que a cidade

não possui potencial de arrecadação de óleo residual para produção de biocombustível

quando comparados com a demanda do mercado, já que a legislação vigente exige a

mistura B3 no diesel mineral comercializado em todo o território nacional.

Mesmo a coleta de óleo não trazendo benefícios econômicos para empresa, a

mesma reafirmou a necessidade da continuidade dos projetos, e a maior realização de

campanhas de projetos ambientais no sentido de sensibilizar e conscientizar a população a

respeito do problema em questão, principalmente campanhas destinadas à educação

ambiental nas escolas.

Em um segundo momento, juntamente com a empresa de saneamento

da cidade, a SANEAGO, ficou claro o efeito negativo de óleos e gorduras

quando depositados na rede coletora de esgoto. Esses resíduos geram custos

imensuráveis em todo o processo de coleta e tratamento, pois além das

incrustações e obstruções na rede, reduzem a eficiência do tratamento do

esgoto fazendo com que os resíduos retornem ao corpo receptor e gerem

prejuízos ao ambiente.

Apesar de não haver projetos de conscientização ambiental realizados pela

empresa de saneamento, a mesma enfatizou a necessidade da execução de tais projetos e

campanhas junto à população, principalmente em escolas visando à formação de uma

consciência nas crianças e nos jovens para que a curto e médio prazo as emissões de

resíduos possam diminuir consideravelmente, beneficiando a SANEAGO, a cidade e

principalmente o meio ambiente.

Em um terceiro momento, questionários foram aplicados nas Escolas Estaduais

da cidade, com o objetivo de coletar dados a respeito do conhecimento de alunos,

professores e funcionários a respeito dos impactos e formas de reaproveitamento do OFR.

Sendo assim, observou-se um grau de conhecimento elevado a respeito dos impactos 50

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causados pelos resíduos no meio ambiente, conhecimento esse que está proporcionalmente

vinculado à escolaridade, pois quanto maior a escolaridade, maior o conhecimento a

respeito do assunto.

A escolaridade também é de grande valia para avaliar o conhecimento a

respeito do reaproveitamento do OFR e utilização do mesmo no dia-a-dia, sendo que no

caso da produção de sabão, a escolaridade foi inversamente proporcional as respostas, pois,

quanto menor a escolaridade maior o conhecimento desse costume e maior a incidência de

pessoas que utilizavam esse método em seu cotidiano, já que a produção de sabão torna-se

economicamente viável e atrativa para a população.

Porém, no caso do biocombustível, a relação com a escolaridade foi

diretamente proporcional, visto que quanto maior a escolaridade, maior o conhecimento

desse modo de reutilização do OFR, entretanto não foram evidenciados casos de utilização

no cotidiano devido à inviabilidade econômica.

Outro importante dado foi o fato de que apesar do grande conhecimento

a respeito dos impactos ambientais causados por óleos e gorduras quando

depositados incorretamente no ambiente, o interesse no fornecimento do OFR

para projetos ambientais, apesar de elevado, não é compatível ao conhecimento

prévio dos impactos, isso se deve ao fato do alto grau de reutilização desse

resíduo na fabricação de sabão.

Em relação aos locais de descarte do OFR ficou evidenciado a reutilização do

mesmo e doação para vizinhos e parentes para fabricação de sabão. Todavia, os outros

locais como, solo, pia e lixo, somaram um pouco mais da metade das respostas.

Com a prévia revisão literária dando suporte ao estudo e mostrando as

necessidades de se construir um desenvolvimento de forma sustentável, ecologicamente

correto, atendendo as necessidades econômicas atuais, sem prejudicar as futuras gerações,

aliado aos resultados obtidos no presente trabalho, evidenciou-se a necessidade do

reaproveitamento desse resíduo, que é um potencial poluidor, principalmente na geração de

energia limpa, já que a energia está diretamente vinculada ao desenvolvimento de uma

nação.

Para um melhor reaproveitamento dos resíduos, tornam-se necessárias medidas

para uma mobilização popular, obtendo um comprometimento para dar continuidade a

campanhas e projetos. Primeiramente, essas campanhas e projetos devem promover a

educação ambiental, no intuito de sensibilizar, conscientizar e mudar os hábitos de descarte 51

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incorreto dos resíduos, principalmente óleos de fritura residuais, evitando os malefícios ao

ambiente, gerando soluções tanto para problemas ambientais quanto para problemas

sociais e econômicos.

Diante dos resultados obtidos nas análises do presente trabalho, foram

encontrados dados que deram o suporte necessário para implementação do projeto de

coleta de óleo residual nas escolas estaduais da cidade de Anápolis.

52

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