Avaliação Do Tratamento Térmico e Da Desidratação Osmótica Na Secagem de Fatias de Cebola Roxa
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AVALIAÇÃO DO TRATAMENTO TÉRMICO E DA DESIDRATAÇÃO OSMÓTICA NA SECAGEM DE FATIAS DE CEBOLA ROXA
Amanda da Costa Gomes1; Bruno Rafael Pereira Lopes1; Graciele Fernanda de Souza Pinto1; Janine Mailho Gimenis1; José Lucio Pádua Gemeinder1
1Univ Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Departamento de Ciências Biológicas, Assis, SP, Brasil.
INTRODUÇÃO
A cebola (Allium cepa L.) é uma das espécies que possui maiores quantidade de
compostos fitoquímicos com ação nutracêutica, responsáveis pela prevenção e
tratamento de doenças cardiovasculares, câncer, diabetes e hipertensão. Muitas dessas
propriedades estão relacionadas aos compostos organossulfurados e flavonóides
presentes neste vegetal. Os compostos organossulfurados também são responsáveis pela
pungência, sabor e aroma característicos desta espécie. Dentre o grupo de flavonoides
encontrado na cebola, destaca-se a quercetina pela sua ação antioxidante, cuja
concentração varia de acordo com a cultivar, tamanho e cor dos bulbos, entre outros
fatores pós-colheita (BOTREL, 2012).
Os flavonóides são compostos fenólicos conhecidos por serem responsáveis pela
coloração de diversas frutas e hortaliças, a exemplo citam-se flavonóis e antocianinas
que conferem as cores amarela e roxa, respectivamente. São caracterizados por conter
dois ou mais anéis aromáticos, cada qual consistindo de um anel aromático hidroxil e
conectado com uma ligação de carbono com um oxigênio que liga os dois anéis (A e B),
formando um terceiro anel C (Bilyk et al., 1984). São considerados, também, potentes
antioxidantes e têm vasta gama de funções bioquímicas, como a quelação de íons
metálicos e a inibição da peroxidação lipídica (Formica & Regelson, 1995). Dois grupos
principais de flavonóides são encontrados em cebolas: flavonóis e antocianinas.
As antocianinas têm sido detectadas em cebolas, sendo que estudos mostram a
presença predominante de cianidina 3-glicosídeo, com quantidades menores de
cianidina 3-aminaribiosídeo e, outras cianidinas com teores não quantificáveis, assim
como os glicosídeos de peonidina e pelargonidina. Terahara et al. (1994) determinaram
as antocianinas na cultivar japonesa Kurenai como sendo cianidina 3-glicosídeo,
cianidina 3-laminaribioside e seus derivados 6"-malonil. Fossen et al. (1996) relataram
quatro principais antocianinas nos cultivares Red Baron, Tropea e Comred (cultivadas
na Noruega), incluindo 3-malonilglicosídeo, 3-dimalonilglicosídeo, 3,5-diglicosídeo de
cianidina, peonidina 3,5-diglucosídeos e dois 3-glicosilados derivados de pelargonidina.
Nas cultivares Mambo, Red Bone, Jumbo Vermelha e Granex, todas vermelhas e
cultivadas no Canadá e nos EUA, as antocianinas principais foram cianidina 3-
glicosídeo, cianidina 3-laminaribiosídeo, cianidina 3-(6’-malonilglicosídeo) e 3-
cianidina-(6"-malonillaminaribiosídeo) (Donner et al., 1997). Estas diferenças na
composição de antocianina entre as cultivares são, provavelmente, devido às diferenças
genéticas.
O presente estudo avaliou os efeitos do tratamento térmico e da desidratação
osmótica na secagem de fatias de cebola roxa, bem como a determinação do teor de
antocianinas antes e após os tratamentos.
MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram conduzidos no Laboratório de Engenharia de Processos
do Departamento de Biociências da Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho”
campus de Assis, Assis – SP, Brasil.
Cebolas roxas, foram higienizadas com solução de hipoclorito de sódio 2%,
descascadas, fatiadas (3mm de espessura) e submetidas a dois pré-tratamentos:
desidratação osmótica em solução desidratante e tratamento térmico.
O tratamento osmótico foi realizado em solução com 5% de cloreto de sódio e
35% de sacarose, a 40°C. As fatias de cebola, foram colocadas em béquer de 2000mL,
contendo solução desidratante. Após o béquer foi colocado em agitador magnético com
aquecimento e agitação durante 90min. As amostras, após serem retiradas da solução,
foram lavadas com água destilada. O processamento térmico consistiu da exposição das
fatias de cebola ao vapor d’água por aproximadamente 1 minuto. Após os tratamentos
as amostras foram secas, pesadas e utilizadas no processo de secagem.
A secagem das fatias de cebola previamente tratadas e in natura (controle), foi
realizada a 60°C em secador com fluxo de ar quente a 1m.s-1 por aproximadamente
480min.
Foram avaliados antocianinas; acidez total titulável e umidade; pH, sólidos
solúveis (refratômetro).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A caracterização da cebola roxa in natura apresentou 25,28% de acidez titulável,
12°Brix de sólidos solúveis, pH 5,6, 89,03% de umidade e 4,8mg/100g de antocianina.
A caracterização da cebola in natura seca após armazenagem de sete dias apresentou
9,75% de acidez titulável, 3°Brix de sólidos solúveis, pH 4,64, 44,46% de umidade e
1,2mg/100g de antocianina.
Na tabela 1 são apresentados os resultados da caracterização quanto ao teor de
acidez, conteúdo de antocianina e pH e umidade de fatias de cebola roxa tratadas ou não
termicamente e submetidas ou não a secagem. Comparando os resultados da cebola roxa
in natura com as submetidas aos pré-tratamentos, verifica-se que as fatias de cebola
secas e tratadas tiveram aumento significativo no teor de antocianinas.
TABELA 1 – Resultados da caracterização de cebola roxaAnálises Amostras de Cebola roxa
In natura In natura seca
Desidratação osmótica
Desidratação osmótica
seca
Tratamento térmico
Tratamento térmico
secaAcidez (%ácido cítrico)
25,48 9,75* 15,95 9,79* 23,54 9,43*
Antocianina (mg/100g)
4,8 1,2 - 17,9 5,8 12,1
Conteúdo de umidade (%)
89,03 44,46 85,51 25,04 90,79 35,96
pH 5,6 4,64* 5,54 5,26* 5,62 5,26*Sólidos solúveis (°Brix)
12 3* 17,8 3* 10 3*
* Analise realizada após sete dias de armazenagem
CONCLUSÃO
O aumento no conteúdo de antocianina pode ser atribuído à secagem e ao
tratamento que preservou este composto. Observou-se que a desidratação osmótica e o
tratamento térmico utilizado como pré-tratamento anterior à secagem, favoreceu a
retenção de antocianinas após a secagem e forneceu um produto com melhor qualidade
em relação ao produto seco obtido sem o pré-tratamento.
REFERÊNCIAS
BILYK, A.; COOPER, P.L.; SAPER, G.M. 1984. Varietal difference in distribution of quercetin and kaempferol in onion (Allium cepa L.). Journal of Agricultural and Food Chemistry 32: 274-276.
BOTREL N, OLIVEIRA VR. 2012. Cultivares de cebola e alho para processamento. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 52. Horticultura Brasileira 30. Salvador: ABH.
DONNER, H.; GAO, L.; MAZZA, G. 1997. Separation of simple and malonylated anthocyanins in red onions, Allium cepa L. Food Research International, 30: 637-643.
FORMICA, J.V.; REGELSON, W. 1995. Review of the biology of quercetin and related bioflavonoids. Food Chemistry and Toxicology 33(12): 1061-1080.
FOSSEN, T.; ANDERSEN, O. M.; OVSTEDAL, D. O.; PEDERSEN, A. T.; RAKNES, A. 1996. Characteristics anthocyanin patterns from onions and other Allium spp.. Journal of Food Science 61:703-706.
TERAHARA, N.; YAMAGUCHI, M.; HONDA, T. 1994. Malonylated anthocyanins from bulbs of red onion, Allium cepa L. Bioscience Biotechnology Biochemistry 58(7): 1324-1325.