Avaliação Membro Superior - Alguns Apontamentos

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  Avaliação Clínica do Membro Superior (alguns apontamentos) Prof. Doutor Fernando Fonseca

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Avaliação Membro Superior - Alguns Apontamentos

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  • Avaliao Clnica do Membro Superior

    (alguns apontamentos)

    Prof. Doutor Fernando Fonseca

  • Fernando Fonseca 3

    Avaliao do Ombro

    1. Histria Clnica

    Histria padro em Ortopedia/Traumatologia

    2. Anamnese

    Na anamnese deve-se dirigir o interrogatrio com base nos sintomas mais

    frequentes, dor, instabilidade e limitao da mobilidade.

    a. Dor

    . Incio, rpido nas doenas inflamatrias ou agudizao de doena

    degenerativa e insidioso nas doenas degenerativas;

    . Localizao difusa ou bem definida Notar que a dor do ombro pode

    irradiar at ao cotovelo, mas no passa desta articulao, o que pode

    diferenciar de radiculagia com origem na coluna cervical.

    . Relao da dor com os movimentos do ombro. O arco doloroso do ombro

    um caso tpico de relao com o movimento

    b. Instabilidade

    . Segunda queixa mais frequente na patologia do ombro. Deve-se anotar

    quando surgiu o primeiro episdio, se este foi traumtico e a idade em que

    surgiu. No caso de uma luxao do ombro surgida num jovem a

    probabilidade de uma instabilidade recorrente elevada.

    . Pesquisar a relao entre os episdios de instabilidade e os movimentos ou

    gestos desportivos, bem como a interferncia que estes factos tm no

    doente.

    c. Limitao da mobilidade

    . Um nmero significativo de afeces do ombro cursa com limitao dos

    movimentos.

    Procurar relacionar a limitao do movimento com a dor (comum nas

    causas inflamatria e traumticas), a diminuio da fora muscular

    (presente nas doenas neuro-musculares) e a limitao de causa mecnica

    (como nos casos de ombro congelado, doena artrsica ou sequelas de

    fracturas com consolidao viciosa)

  • Avaliao do membro superior

    4 Fernando Fonseca

    Figura 2-b Fractura da clavcula

    Figura 2-a Luxao da articulao acromio-clavicular

    Outros dados a pesquisar e importantes no diagnstico diferencial so:

    . Qual a idade do doente?

    . Se houve uma traumatismo, qual foi o seu mecanismo?

    . Qual a lateralidade?

    3. Exame fsico

    Avaliao geral para determinar que procedimentos especficos de observao

    esto indicados; o exame das outras articulaes adjacentes e uma avaliao da postural

    global, no devem ser esquecidos.

    3.1 Inspeco

    O doente deve ser observado desnudado

    da cintura para cima, de modo a observar

    globalmente o ombro e estruturas adjacentes.

    Esta observao permite perceber alteraes

    como a observada na figura 1, que de outro

    modo passariam despercebidas. A avaliao

    deve ser efectuada de forma a observar as

    superfcies anterior, lateral e posterior.

    Devem ser anotadas as deformidades da coluna cervical e torxica, com anotao

    do formato de eventuais deformidades que no plano frontal quer no plano sagital.

    Vista Anterior:

    importante observar os pontos de referncia sseos, incluindo a clavcula, a

    articulao esterno-clavicular, e a articulao acromio-clavicular.

    Figura 1 Escpula adejante

  • Avaliao clnica do membro superior

    Fernando Fonseca 5

    Figura 3 Vista posterior

    A. Vrtice inferior

    da omoplata

    B. Bordo medial da

    omoplata

    C..Espinha

    omoplata

    Figura 4

    Palpao da longa poro

    do msculo bceps braquial

    Uma observao cuidadosa permitir distinguir uma fractura da clavcula (Figura

    2-b) de uma luxao da articulao acromio-clavicular (Figura 2a).

    Vista Posterior:

    Observar os pontos de referncia sseos, incluindo a

    coluna torcica, a escpula, o acrmio, a articulao acromio-

    clavicular e as estruturas de tecidos moles, incluindo a parte

    superior do msculo trapzio, msculos supra-espinhoso,

    infra-espinhoso, redondo (teres) maior, redondo menor e

    deltide (Figura 3).

    A posio da escpula fundamental de modo a permitir

    o despiste de alteraes neuro-musculares, tal como

    apresentado na Figura 1, uma sequela de leso do nervo

    acessrio (XI nervo craniano), que pode ser atingido por um

    traumatismo cervical, durante uma biopsia ganglionar cervical

    ou cirurgia da glndula tiride.

    3.2 Palpao

    Palpao das estruturas e de refernda ssea, designadamente :

    1. a articulao esternoclavicular, despistando se existe dor ou edema;

    2. a clavcula, procurando a existncia de

    deformidades, edema e eventualmente

    mobilidade normal;

    3. a articulao acromio-clavicular, com

    despiste de elevao da clavcula (sinal da

    tecla).

    As estruturas musculares, como

    1. msculossupraespinhoso,

    2. msculo infraespinhoso

    3. msculo deltide.

    Estruturas tendinosas tais como

    1. tendes da coifa dos rotadores

    2. longa poro do msculo biceps braquial (Figura 4 ).

  • Avaliao do membro superior

    6 Fernando Fonseca

    A palpao de zonas/pontos dolorosos, relevos sseos anmalos (fracturas,

    luxaes...), alteraes da temperatura cutnea e crepitao (sensao tctil ao mobilizar

    uma articulao), so igualmente fonte importante de dados semiolgicos utis.

    3.3 Avaliao dos movimentos (passivos, activos e contra-resistncia)

    Inicia-se a avaliao da mobilidade pedindo-se ao doente para efectuar os

    movimentos do ombro. Aps uma primeira avaliao activa procede-se de igual forma

    mas avaliando os movimentos passivos, executados pelo examinador.

    A mobilidade avaliada de forma global e posteriormente movimento a

    movimento. Com base nos eixos e planos anatmicos (Figura 5) que dividem o corpo

    (plano coronal, plano sagital, plano frontal), pede-se ao avaliam-se os seguintes

    movimentos:

    Abduo Movimento no plano coronal, partindo da posio anatmica com os

    braos ao longo do trax vai de 0 a 90.

    Figura 5

    Mobilidades do ombro

  • Avaliao clnica do membro superior

    Fernando Fonseca 7

    Elevao feita no plano da escpula e vai de 0 a 180 (Figura 6)

    Aduo Manobra oposta abduo.

    Quando passa a linha mediana tem o tronco

    por obstculo, Por isso tem de realizar com

    o brao em flexo de 30, para o brao

    passar o trax. Vai de 0 a 75 (Figura 7).

    Flexo Ocorre na articulao

    glenoumeral no plano sagital, sendo

    acompanhado por movimentos nas

    articulaes esternoclavicular,

    acromioclavicular e escapulotorcica.

    Amplitude Articular: 0-180.

    Realizada anteriormente ao plano

    coronal, com o brao paralelo ao plano

    sagital, indo de 0 a 180 (Figura 8 ). De

    modo a evitar erros na medio o observador

    deve evitar a hiperextenso da coluna lombar,

    mantendo o cotovelo em extenso.

    Figura 6

    Elevao

    Figura 7

    Aduo

    Figura 8

    Flexo do ombro

  • Avaliao do membro superior

    8 Fernando Fonseca

    Figura 9

    Extenso

    Figura 10

    Rotao externa

    Extenso Feita no plano sagital, posteriormente ao plano coronal, indo de 0 a

    60 (Figura 9).

    Rotao externa Deve ser avaliada em duas posies.

    Com o membro em posio anatmica e com o ombro a 90 de

    abduo.

    No primeiro caso efectua-se com o brao ao longo do

    corpo e o cotovelo a 90 de flexo. Pede-se ao doente para

    afastar a mo do corpo sem que o brao deixe de estar em

    contacto com o trax. Vai de 0 a 75 e em doentes com

    elastidade cpsulo-ligamentar ate 90.

    No segundo caso, coloca-se o ombro a 90 de abduo, o cotovelo a 90 de flexo

    e palma da mo paralela ao solo (posio de 0). Pede-se ao doente que rode o antebrao

    para cima. Vai de 0 a 90 (Figura 10).

    Rotao interna Tal como descrito para a

    rotao externa deve tambm ser efectuada em

    duas posies. Com o brao em posio anatmica

    (ao longo o corpo) avaliada pela capacidade de

    apor o dorso da mo s costas. Normalmente o

    doente consegue apontar com o dedo polegar

    desde o grande trocanter homolateral e

    progressivamente ndega, at aos

    diversos nveis da coluna toracolombar

    (L5 a T7).

    Com o ombro a 90 de abduo (tal

    como descrita anteriormente para a

    avaliao da rotao externa), o doente

    roda o antebrao para o solo. A amplitude

    vai de 0 a 90 (Figura 11).

    Ritmo escpulo-umeral: Mostra os

    Figura 11

    Rotao interna

  • Avaliao clnica do membro superior

    Fernando Fonseca 9

    Figura 12

    Teste de Neer

    movimentos combinados das articulaes que constituem o ombro, nomeadamente a

    gleno-umeral e a escpulo-torxica, que de forma coordenada fornecem uma mobilidade

    harmoniosa e permitem mater o comprimento dos msculos gleno-umerais.. O doente

    observado de costas, pedindo-se que eleve activamente o brao. Deficincias motoras

    provocadas por leses neurolgicas (centrais ou perifricas) so uma das causas mais

    frequentes de alterao do ritmo escpulo-umeral.

    Em todos os movimentos, o lado afectado deve ser comparado com o lado oposto,

    j que a flexibilidade cpsulo-ligamentar varia individualmente.

    Outras articulaes do ombro a avaliar:

    Articulao esternoclavicular: elevaao e depresso, protragao e retragao;

    Articulao escapulotorcica: elevaao, depresso, abduao, aduo, rotaao para

    cima e para baixo.

    Avaliao sumria (provas funcionais): Muitas vezes a avaliao pode ser

    precedida pela realizao de provas funcionais. Constituem um auxiliar importante no

    exame do ombro, por serem de fcil compreenso para o doente e permitirem avaliar de

    forma adequada muitos gestos do quotidiano dirio.

    Mo/ndega oposta: pedir ao doente que leve a mo ndega contra-lateral.

    Mo/costas: colocar o dorso da mo na reigio dorsal pedindo para tocar com a

    ponta do dedo polegar no vrtice inferior da escpula.

    Mo/ombro oposto: Pedir ao doente que coloque a palma da mo na regio

    deltideia oposta.

    Mo/nuca: Solicitar a colocao da palma da mo na nuca

    A avaliao comparativa fornece indicaes funcionais preciosas.

    Caso o doente no evidencie qualquer dificuldade o exame mostra habituamente

    normalidade de movimentos. A positividade de qualquer uma destas manobras implica a

    explorao mais exaustiva e circunstanciada da mobilidade articular.

    3.4 Testes e sinais clnicos especiais mais

    frequentemente utilizados

    Teste de Neer: O membro superior colocado em

    rotao neutra e extenso elevado passivamente pelo

    observador. Nesta posio a grande tuberosidade do mero

    (troquiter) projecta-se contra a face antero-inferior do

    acrmio reproduzindo com esse impacto a dor provocada

  • Avaliao do membro superior

    10 Fernando Fonseca

    pela irritao do bolsa sub-acromial e pelo tendo do supra-espinhoso (Figura 12).

    Teste do sub-escapular (Gerber): Solicita-se ao doente para colocar o dorso da

    mo ao nvel de L5, tal como no teste mo/costas. Logo que a colocado pede-se para

    afastar activamente a mo das costas, o que obriga a realizar um movimento de rotao

    interna do ombro. A incapacidade de efectuar a manobra solicitada indica leso grave do

    msculo infra-espinhoso.

    Teste da apreenso: O examinador coloca-se por trs do doente. Com uma das

    mos exectura uma abduo, rotao externa e extenso do ombro, ao mesmo tempo que

    a outra mo pressiona com o polegar a face posterior da cabea do mero. Sempre que

    h instabilidade o doente tem a sensao de luxao eminete e tenta evitar que o

    observador continue a prova ou tenta parar o movimento com o membro superior

    oposto.

  • Avaliao clnica do membro superior

    Fernando Fonseca 11

    Avaliao do Cotovelo

    1. Histria Clnica

    Histria padro em Ortopedia/Traumatologia

    2. Anamnese

    Na anamnese, para alm da avaliao ortopdica, importante saber a idade, o

    tempo de durao dos sintomas no cotovelo.

    Tal como noutras articulaes a dor o sintoma mais frequente. Deve-se apreciar

    a intensidade da dor, local focando a regio predominante (lateral, medial).

    Outros sintomas a valorizar so o bloqueio e a instabilidade. O interrogatrio tem

    pesquisar a presena/ausncia de sintomas de bloqueio articular, ou instabilidade que

    so mais frequentes sobretudo no movimento de lanar objectos.

    Devido particularidade de ter uma ntima relao com o nervo ulnar, o despiste

    de parestesias ou outras alteraes da sensibilidade deve ser efectuado de rotina.

    Como se trata de uma articulao superficial, fcil perceber a existncia de

    tumefaco por derrame, espessamento sinovial

    ou outra causa que deve tambm ser despistado no

    interrogatrio.

    3. Exame fsico

    Avaliao geral para determinar que

    procedimentos especficos de observao esto

    indicados; o exame das outras articulaes

    adjacentes e uma avaliao da postural global so

    importantes e devem estar sempre na mente do

    examinador.

    3.1. Inspeco

    O doente deve ser observado desnudado da

    cintura para cima, de modo a observar

    globalmente o cotovelo e estruturas adjacentes.

    Figura 23

    Valgo fisiolgico

  • Avaliao do membro superior

    12 Fernando Fonseca

    Tratando-se de uma articulao superficial possvel detectar diversas

    deformidades/ano

    malias com este

    procedimento. O

    observador deve,

    na maior parte do

    tempo estar atrs

    do doente,

    pedindo-lhe a

    colocao dos

    ombros em ligeira

    retropulso.

    Com o

    cotovelo em

    extenso e

    supinao completa existe, de modo geral, em todos os indivduos um valgo fisiolgico

    varivel entre 10 e 14 (Figura 13). Quando se altera este ngulo estamos ou existe um

    instabilidade importante ou um calo vicioso.

    Passando da extenso para a flexo o ngulo de valgo1 o ngulo passa de valgo

    para varo. A inspeo do olecrnio importante pela informao que podem fornecer

    sobre a presena de uma luxao ou subluxao facto que muito frequente nos doentes

    com artrite reumatide.

    Tambm na face posteiror frequente encontrar tumefao correspondentes a

    bursites situadas predominantemente na regio olecraniana.

    3.1. Palpao

    A palpao deve comear na face posterior, dom o doente sentado. essencial

    referenciar trs pontos anatmicos sseos (o epicndilo lateral, o epicndilo medial e o

    olecrnio). Quando o cotovelo est a 90 de flexo, a unio destre trs pontos possibilita

    o desenho de um tringulo equiltero de vrticie posterior (olecrnio) e um linha sempre

    que o cotovelo est em extenso (Figura 14).

    1 carrying angle dos autores anglo-saxnicos

    Figura 14

    Pontos sseos de referncia

  • Avaliao clnica do membro superior

    Fernando Fonseca 13

    Figura 15

    Palpao da fosseta olecocraniana

    Figura 18

    Palpao do nervo ulnar

    Figura 17

    Msculo

    braquioradialis

    Na face posterior (Figura 5) ainda possvel palpar a fosseta olecraniana quando se

    coloca o cotovelo em ligeira flexo, bem como o tendo do

    msculo tricipital.

    Nos casos de bursite crnica observa-se um

    tumefao dessa zona, de conistncia varivel. Nos casos

    de bursite infectada a pele est tensa e luzidia.

    Na face lateral os pontos de referncia so o

    epicndilo lateral proximalmente e a cabea do rdio

    distalmente. A cabea do rdio, localizada cerca de 2 cm

    abaixo do epicndilo lateral, pode-se palpar com o dedo polegar, efectuando com a mo

    contrria movimentos de prono-supinao (Figura 16). Juntamente com o olecrnio

    forma um novo triangulo, em cujo interior se pode

    palpar directamente a

    articulao e proceder ao

    despiste de espessamentos

    da membrana sinovial. Os

    msculos dests zona

    podem ser identificados

    por palpao. O msculo

    braquioradialis palpa-se

    solicitando ao doente que

    feche o punho e efectue ao mesmo tempo a flexo do

    cotovelo com o punho bloqueado pela mo do

    observador (Figura 17). Os msculos extensores do

    carpo palpam-se pedindo ao doente que efectue uma

    extenso contrariada.

    Do lado medial a

    articulao tem pouca

    acessibilidade. Neste lado a

    estrutura mais relevante o

    nervo ulnar que passa pela goteira olecraniana. A palpao do

    nervo revela uma estrutura cilndrica e flexvel que pode ocasionar

    dor se comprimida contra a zona ssea (Figura 18). Na regio

    medial situa-se o grupo muscular epitroclear conatitudo pelos msculos redondo

    Figura 16

    Palpao da cabea do radio

    Tringulo lateral

    Figura 19

  • Avaliao do membro superior

    14 Fernando Fonseca

    pronador, flexor radial do carpo, o longo palmar e o flexor cubital do carpo, que so

    pronadores e flexores do punho, podendo desencadear dor quando se efectuam este

    movimentos contra-resistncia (Figura 19).

    3.2. Movimentos

    O cotovelo tem dois grandes movimentos a considerar (Figura 20):

    a. Flexo/Extenso b. Pronao/Supinao

    Flexo/Extenso: O arco normal de lexo-extenso vai dos 0 (extenso completa)

    aos 140 (flexo completa)

    A perda da extenso constitui um ondicador muito sensvel de patologia intra-

    articular do cotovelo, sendo um sinal precoce de patologia intra-articular.

    Prono-supinao (Figura 21): depende totalmente da mormalidade anatmica da

    articulao radio-ulnar superior e distal.

    Figura 20

    Movimentos do cotovelo Flexo/Extenso

  • Avaliao clnica do membro superior

    Fernando Fonseca 15

    O arco de movimento vai, regra geral dos 70 de pronao aos 85 de supinao,

    embora em indivduos laxos cada movimento possa chegar aos 90.

    3.3. Estabilidade

    Outros dos sintomas frequentes na patologia do cotovelo a instabilidade. Para

    testar a estabilidade deve-se efectuar a avaliao da estuturas mediais, laterais e antero-

    posterior.

    O ligamento colateral medial constitudo por dois feixes (anterior). Fica tenso de

    anterior para posterior medida que o cotovelo passa da extenso para a flexo. O

    ligamento colateral lateral constitudo (de modo simplificado) por dois ligamentos,

    ligamento colateral radial, ligamento colateral ulnar , sendo esta a mais importante na

    resistncia aos movimentos de varo.

    A pesquisa de instabilidade em varo ou valgo realizada com o cotovelo

    ligeiramente flectido (15) de modo a retirar a extremidade do olecrnio da fosseta

    olecraniana. A instabilidade em varo efectua-se com o mero em rotao interna

    completa, imprimindo-se movimentos de vago ao cotovelo. A instabilidade em valgo

    efectuada com o mero em rotao externa, imprimindo-se um movimento de valgo ao

    cotovelo.

    Figura 21

    Movimentos do cotovelo Pronao/Supinao

  • Avaliao clnica do membro superior

    Fernando Fonseca 17

    Avaliao do Punho e Mo

    1. Histria Clnica

    Histria padro em Ortopedia/Traumatologia

    2. Anamnese

    Punho e mo devem ser considerados em conjunto como uma unidade funcional e

    no de forma isolada.

    Na anamnese no deve faltar informao relativa idade, tipo de actividade fsica

    (profissional, domstica e de lazer), queixas e suas localizaes, as mais precisas

    possveis, dominncia, tempo de incio dos sintomas, agente causador (se possvel).

    Observar tambm o estado psicolgico do doente.

    A dor tambm uma causa comum na patologia da mo, que tanto pode ser de

    causa local como distncia. importante caracterizar alguns factores associados, como

    a presena de traumatismo prvio. No punho em doentes com menos de 30 anos a dor

    mais frequente de origem traumtica.

    Devido rica inervao, deve-se conhecer bem o trajecto e inervao dos

    principais nervos da mo (radial, ulnar e mediano).

    A melhor forma de identificar a localizao da dor consiste em pedir ao doente

    que aponte com um dedo a localizao exacta do local onde tem a maior intensidade da

    dor. A localizao da dor pode ser distribuda por regies anatmicas (radial, ulnar,

    dorsal e palmar).

    Na zona radial dor ou seu equivalente deve levar a pensar em fractura da

    extremidade distal do rdio ou do escafide crpico, mesmo que no visualizada

    radiograficamente. Na ausncia de traumatismos a presena de dor na zona da estilide

    radial sugere a possibilidade de tenovaginite de De Quervain, ou dos tendes extensores

    do punho.

    Na regio ulnar a presena de dor aps traumatismo pode ser provocada por

    fractura da estilide ulnar. Na ausncia de traumatismo a presena de dor e

    eventualmente tumefaco sugere a eventual presena de tendinopatia dos extensores

    ulnares do punho.

  • Avaliao do membro superior

    18 Fernando Fonseca

    Figura 22

    Artrose nodal dos dedos

    Dor na zona dorsal, frequentemente associada a desconforto local pode ser

    causada por osteoartrose do punho. Outra causa a doena de Kienbck (osteonecrose

    do semi-lunar).

    Na face palmar entre as causas mais frequentes de dor encontram-se a sndrome

    do tnel crpico, ou eventualmente tendinopatia dos flexores dos dedos.

    Outros sintomas comuns so a rigidez, a presena de tumefaces e as alteraes

    da sensibilidade.

    2. Exame fsico

    O exame fsico bem feito determinar o diagnstico e a conduta teraputica a

    seguir, assim como as possveis incapacidades. Os exames complementares devem

    apenas confirmar ou fazer o diagnstico diferencial entre possveis doenas sugeridas

    pelo exame clnico. Deve ser realizado com o membro superior todo exposto, doente

    sentado na frente do examinador com os cotovelos apoiados sobre a mesa e efectuado de

    forma bilateral de modo a poder comparar os dados obtidos.

    Como na maioria das doenas do corpo humano, principalmente ortopdicas, o

    exame fsico do punho compreende a inspeco, a palpao, a avaliao da amplitude de

    movimentos articulares, os testes de fora musculares, a avaliao da sensibilidade e as

    manobras especiais para certas patologias onde podem afirmar um diagnstico.

    2.1. Inspeco

    A inspeco fornece dados importantes que podem contribuir de forma decisiva

    para o diagnstico da patologia em causa.

    A presena de deformidades

    articulares nas articulaes

    interfalngicas, desvios ou tumefaces

    muitas vezes evidente (Figura 22)

    Quando existir uma histria prvia

    de traumatismo importante verificar as

    condies da pele e a localizao de

    possveis escoriaes ou abrases. Elas

  • Avaliao clnica do membro superior

    Fernando Fonseca 19

    Figura 23

    Cicatriz de cirurgia prvia para

    tratamento da doena de Dupuytren

    podem-nos indicar o mecanismo (ou a direco da fora) de uma fractura ou luxao. A

    presena de deformidades ou aumentos de volume (edema, sinovite ou tumefaco)

    deve ser registada, descrevendo-se de forma minuciosa a sua localizao.

    A presena de cicatrizes constitui um dado a

    avaliar e descrever, pois muitas delas podem limitar

    os movimentos do punho e/ou dedos (Figura 23). A

    colorao da pele informa a existncia de processos

    infecciosos.

    2.2. Palpao

    palpao, devem pesquisar-se alteraes de

    temperatura, pontos dolorosos e sua localizao, bem

    como a presena de deformidades e tumefaces.

    A temperatura local pode estar aumentada nos

    casos em que exista um processo inflamatrio ou

    infecciosos (infeco, artrite reumatide, tenossinovite). As tumefaces devem ser

    analisadas conforme sua localizao e consistncia (mole, fibrosa, dura), assim como os

    edemas.

    A localizao de pontos dolorosos deve sempre ser feita baseada na relao

    anatmica com a estrutura palpada. Para isso, so necessrios pontos de referncia no

    punho. Salientam-se a apfise estilide do rdio, a "tabaqueira anatmica"2, o corpo do

    escafide. No bordo ulnar do punho, palpa-se o processo estilide da ulna e, com desvio

    radial, sente-se o piramidal, o hamato e a articulao entre os dois ossos. Na face

    anterior e ulnar, na base da regio hipotenar, distalmente prega volar do punho,

    palpa-se o osso pisiforme em continuidade com o tendo do flexor ulnar do carpo.

    Ainda palpao, alm da temperatura, das deformidades e tumefaces e dos

    pontos dolorosos, devem-se tambm pesquisar a presena e a localizao de crepitaes

    e estalos.

    2.3. Avaliao da mobilidade articular e amplitudes

    2.3.1. Punho

    2 Delimitada radialmente pelo tendo do msculo curto extensor curto do polegar e no

    lado ulnar pelo tendo do msculo longo extensor do polegar

  • Avaliao do membro superior

    20 Fernando Fonseca

    No exame fsico do punho, devem-se testar, inicialmente, os movimentos passivos

    e, seguidamente os activos, observando-se se despertam dor ou no. Em geral, os dois

    movimentos so equivalentes; porm, em alguns casos, como nas aderncias tendinosas

    ou paralisias, os movimentos passivos so mais amplos do que os activos (Figura 24).

    FLEXO (flexo palmar) medida com um gonimetro cujos braos so colo-

    cados no dorso do terceiro metacrpico e no dorso do rdio. Devido inclinao volar

    da superfcie articular do rdio, a flexo do punho maior na articulao radio-crpica

    do que na mdio-crpica.

    Figura 24

    Mobilidade do punho e mo

    EXTENSO (flexo dorsal) devido inclinao do rdio distal, a extenso do

    punho maior na articulao mdio-crpica do que na radio-crpica. Um ramo do

    gonimetro colocado na face volar do terceiro metacrpico e o outro volarmente ao

    rdio.

    DESVIO ULNAR (aduo) medido com o centro do gonimetro sobre a cabe-

    a do capitato no dorso do punho e um ramo sobre o terceiro metacrpico e outro no

    dorso da ulna. O desvio ulnar mdio de 30-45 sendo de cerca de 30 na articulao

    radio-crpica e 15 na mdio-crpica.

    DESVIO RADIAL (abduo) medido da mesma forma que a aduo e em

    mdia de 15-20, sendo 8 na radio-crpica.

    PRONO-SUPINAO Deve ser testada com o cotovelo flectido a 90 e junto

    ao corpo para neutralizar a rotao do ombro. A posio neutra a que apresenta o

    polegar para cima. A pronao (rotao medial do antebrao) e a supinao (rotao

    lateral) so em mdia de 80- 90 cada.

  • Avaliao clnica do membro superior

    Fernando Fonseca 21

    Figura 22

    Oponncia do

    polegar

    2.3.2. Mo

    importante avaliar a mobilidade de cada dedo

    em particular e da mo em geral.

    Em cada dedo deve avaliar-se a

    mobilidade das articulaes

    metacarpo-falngicas (MCF) e

    inter-falngicas (IF) proximal e

    distal. A avaliao deve incluir a

    flexo e extenso (MCF, IFP e

    IFD), a abduo e aduo (MCF)

    Figuras 25, 26 e27.

    No caso do dedo polegar

    necessrios avaliar alm da flexo e extenso, da aduo,

    da abduo a oponncia do polegar, caracterstica

    importante dos primatas e importante na funcionalidade da

    mo.

    2.4. Avaliao da fora muscular

    Os msculos que estabilizam o punho devem ser

    testados da mesma forma que outros msculos dos

    membros, isto , usando-se a escala de Highet modificada,

    que gradua a fora de 0 a 5:

    M 0 = nenhuma contraco muscular;

    M 1= contraco fraca sem vencer a gravidade;

    M 2 = o punho mantm a posio, sem resistncia;

    M 3 = consegue vencer a aco da gravidade mas no oferece resistncia;

    M 4 = vence a gravidade com alguma resistncia;

    M 5 = fora normal.

    Na avaliao devem ser considerados os msculos:

    Extensor radial curto do carpo; insere-se na base do terceiro metacrpico e faz a

    extenso do punho;

    Extensor radial longo do carpo: pela sua insero mais radial na base do segundo

    metacarpo, realiza a extenso com desvio radial;

    Figura 26

    Aduo

    Figura 25

    Abduo

  • Avaliao do membro superior

    22 Fernando Fonseca

    Figura 28

    Teste de

    Finkelstein

    Figura 29

    Teste de Phalen

    Extensor ulnar do carpo com sua insero na base do quinto metacarpo tambm

    estende o punho, porm, com forte desvio ulnar;

    Flexor radial do carpo, que se insere na base do segundo metacarpo e situado na

    face volar do punho, radial ao tendo do palmar longo, faz uma forte flexo, actuando

    pouco no desvio radial;

    Palmar longo, que ausente em cerca de 15% da populao, situa-se no centro da

    face volar do punho. Ele funciona como flexor do punho e como tensor da fscia

    palmar. muito utilizado como enxerto tendinoso e a sua pesquisa feita tocando a

    zona pulpar do polegar com a do dedo mnimo e realizando-se a flexo do punho;

    Flexor ulnar do carpo, no lado mais ulnar da face volar do punho, insere-se na

    base do quinto metacarpo e faz, alm da flexo, um forte desvio ulnar do punho;

    O desvio radial do punho feito principalmente pelo longo abdutor do polegar que

    se insere na base do primeiro metacarpo.

    2.5. Testes especiais

    TESTE DE FINKELSTEIN - usado para diagnosticar a

    tenossinovite do compartimento dorsal (tendes do longo

    abdutor longo e do curto extensor do polegar) ou tenossinovite

    estenosante de De Quervain.

    Este teste consiste em realizar um desvio ulnar do punho,

    mantendo o polegar aduzido e flectido na palma. O teste

    positivo se produzir dor no processo estilide do rdio

    (Figura 28).

    TESTE DE PHALEN - usado para diagnosticar a

    sndrome do tnel do carpo. Consiste em manter o(s)

    punho(s) na flexo mxima por 1 minuto. Ele positivo

    quando sintomas de "formigueiro" ou "dormncia" so

    relatados na regio do nervo mediano (Figura 29).

    TESTE DE TINEL - a percusso suave no trajecto de

    um tronco nervoso. Foi descrito por Tinel para acompanhar o

    progresso da regenerao ou do crescimento axonal de um

    nervo.

    Para tal, deve-se percutir o nervo de distal para

  • Avaliao clnica do membro superior

    Fernando Fonseca 23

    Figura 303

    Teste de Tinel

    proximal. No local correspondente

    regenerao, o doente tem a sensao

    de um choque elctrico que se irradia

    pela rea de distribuio cutnea do

    nervo. A progresso distal desse sinal

    significa bom prognstico. A

    percusso dum nervo em local de

    compresso, como por exemplo no

    nervo mediano no tnel do carpo,

    tambm desencadeia a sensao desagradvel de choque irradiado distalmente e

    impropriamente chamado tambm de teste (ou sinal) de Tinel (Figura 30).

    Referncias Bibliogrficas

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    6. Griffin LY: Essentials of musculoskeletal care. Rosemont, IL; AAOS. 2005

    7. Herbert S, Xavier R, Pardini A, Barros T: Ortopedia e Traumatologia princpios e prtica. So Paulo: Artmed. 2003