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AVALIAÇÃO DA MANUTENÇÃO DA ESTERILIDADE DE LIOFILIZADORES UTILIZADOS NA PRODUÇÃO DE VACINAS
Roberta do Sol Gama Esteves
Rio de Janeiro
2016
Roberta do Sol Gama Esteves
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Faculdade de Farmácia
Pós-Graduação em Ciência de Tecnologia Farmacêutica
Mestrado profissional
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Avaliação da Manutenção da Esterilidade de Liofilizadores Utilizados na Produção de Vacinas
Dissertação apresentada, como um dos requisitos para obtenção do título de Mestre, à Pós-graduação em Ciência e Tecnologia Farmacêutica, da Faculdade de Farmácia - UFRJ
Orientador: Prof. Dr. Marcelo de Pádula
Rio de Janeiro
2016
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus por me dar saúde e disposição para buscar meus objetivos e
permitir que minha jornada fosse completada com sucesso.
Aos meus pais, Marco Antônio e Aurinete, que são meu norte, meu porto seguro,
meu exemplo de vida, e que por muitas vezes abdicaram de seus planos para que
meus sonhos fossem realizados.
Aos meus filhos, João Victor e Ana Júlia, que hoje são o motivo de tudo isso
acontecer, pois são por eles que me levanto todos os dias, é por eles que quero ser
uma pessoa melhor, e é com eles que quero dividir todas as minhas vitórias. Quero
que eles se espelhem em meu exemplo e sempre ser esforcem para alcançar seus
objetivos com honestidade e dedicação.
Ao meu orientador, Marcelo de Pádula, que desde a primeira conversa demonstrou
entusiasmo e interesse pelo meu projeto, que sempre foi muito presente e atuante
em todos os momentos desta trajetória, enriquecendo o trabalho e me incentivando
nos momentos difíceis.
A minha grande amiga e parceira profissional, Carla Cristina Vellasco, que
juntamente comigo acreditou desde o início que este trabalho era possível, que
esteve sempre presente em todas as discussões e na concepção deste projeto que
hoje se tornou esta dissertação.
A minha chefia na Seção de Validação de Processos, Leidiane Dolavale, que confiou
em minha capacidade e em meu potencial, que comprou a ideia deste trabalho,
colaborando enormemente para que tudo fosse executado da melhor maneira
possível.
Ao meu chefe Fábio Henrique Gonçalez, que sempre foi um grande incentivador e
permitiu que minha jornada fosse mais leve, permitindo que eu flexibilizasse meus
horários para a conclusão das disciplinas, que muitas vezes me ouviu com a toda
atenção a respeito das minhas dúvidas do meu projeto e assim agregou
conhecimento que me permitiu a conclusão deste mestrado.
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As minhas maiores amigas desde a época da faculdade, Alessandra Lima e Barbara
Bago, que me incentivaram grandemente e que me cobraram também nos
momentos de desânimo.
A todos os membros da Seção de Validação de Processos, sem eles nada disso
teria sido realizado, todos participaram diretamente deste trabalho, executando os
processos com todo empenho e muito profissionalismo.
Aos membros da chefia da DIEVA-PRF e da SEVLI, Patricia Agra, Adriana Almeida
e Marcus Verdan, que foram os principais impactados pelos resultados deste
trabalho e lutaram enormemente para que tudo fosse concluído com primor e
qualidade. Obrigada por todas as explicações e dúvidas tiradas, obrigada por
envolver toda sua equipe em prol deste projeto.
Aos meus amigos Pedro Guilherme e Flavio Badaró, que tornaram meu trajeto, da
Fiocruz para o Fundão e do Fundão para casa, menos cansativo e muito mais
divertido. Sem vocês esses quase dois anos seriam muito mais complicados e
exaustivos.
Aos membros da banca por aceitarem o convite tão gentilmente.
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RESUMO
A utilização das vacinas como ferramenta de saúde pública está amplamente
difundida no país, sendo o Programa Nacional de Imunização (PNI) um dos
principais responsáveis pela erradicação e pelo controle de uma série de doenças. O
Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) é um produtor de
vacinas e biofármacos para atender às necessidades do Ministério da Saúde, sendo
a Vacina Febre Amarela 5 e 10 doses e ainda a vacina sarampo, caxumba e rubéola
10 doses, produtos a serem destacados no portfólio de Bio-Manguinhos devido a
grande demanda de produção. Sabendo-se que as vacinas anteriormente citadas
são liofilizadas, pode-se afirmar que a etapa de liofilização, assim como todas as
atividades relacionadas, é o maior gargalo da produção em Bio-Manguinhos. A
esterilização dos equipamentos liofilizadores geram paradas na produção, assim
como grandes gastos para a Instituição. Com isso, a flexibilização da periodicidade
de esterilização dos liofilizadores das unidades produtivas, e ainda estando em
conformidade com as exigências dos Órgãos Reguladores (ANVISA e OMS), se
mostra extremamente necessária para que Bio-Manguinhos continue atendendo às
demandas do PNI. Mediante estas informações este estudo se propôs a otimizar o
processo produtivo de vacinas liofilizadas em Bio-Manguinhos, modulando o regime
de esterilização dos liofilizadores, proporcionando redução de custos para a
Instituição, aumento da capacidade de produção, tendo sempre como alvo principal
a garantia da qualidade dos produtos gerados.
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LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - ÁREAS DE RISCO PARA A TRANSMISSÃO DA FEBRE – ÁFRICA E AMÉRICA DO SUL - FONTE: CDC, 2015. ................................................................................................................... 16
FIGURA 2 - CICLOS EPIDEMIOLÓGICOS DA FEBRE AMARELA NO BRASIL (URBANA E SILVESTRE) – .............................................................................................................................. 16
FIGURA 3 - MAPA DO BRASIL COM RECOMENDAÇÃO DE VACINAÇÃO CONTRA FEBRE AMARELA ..................................................................................................................................... 19
FIGURA 4 - ESTRATÉGIAS DE CONTROLE DE 1980 A 2014 CONTRA O SARAMPO COM A INCIDÊNCIA DOS CASOS E COBERTURA VACINAL ............................................................... 25
FIGURA 5 - ESTRATÉGIAS DE CONTROLE E INCIDÊNCIA ANUAL DA RUBÉOLA, BRASIL, 1993 A 2015 .............................................................................................................................................. 27
FIGURA 6 – META DOS PROGRAMAS DE RUBÉOLA POR REGIÃO DA OMS – 2012 – 2015 ....... 28
FIGURA 7 - MAPA DE RISCOS ENVOLVIDOS EM PROCESSOS ..................................................... 30
FIGURA 8 - ESQUEMA DAS ETAPAS DE PRODUÇÃO DE VACINAS LIOFILIZADAS EM .............. 32
FIGURA 9 - DIAGRAMA DE FASES DA LIOFILIZAÇÃO (ADAPTADO DE RIBEIRO, 2012) .............. 34
FIGURA 10 - REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DE UM LIOFILIZADOR ....................................... 36
FIGURA 11- MOVIMENTAÇÃO DAS PRATELEIRAS PARA SANITIZAÇÃO DO EQUIPAMENTO LIOFILIZADOR EM BIO-MANGUINHOS ..................................................................................... 38
FIGURA 12- VISÃO FRONTAL DA CÂMARA DO LIOFILIZADOR EDWARDS L80/CF NA DIEVA-PRF ...................................................................................................................................................... 45
FIGURA 13- VISÃO FRONTAL DA CÂMARA DO LIOFILIZADOR EDWARDS LYOMAX 20 NA SEVLI ...................................................................................................................................................... 46
FIGURA 14- ESQUEMA DA LOCALIZAÇÃO DOS LIOFILIZADORES NA DIEVA-PRF...................... 47
FIGURA 16 – ESQUEMA DO ESTUDO PARA AVALIAÇÃO DOS LIOFILIZADORES FECHADOS .. 49
FIGURA 15- ESQUEMA DA LOCALIZAÇÃO DOS LIOFILIZADORES NA SEVLI............................... 49
FIGURA 17- ESQUEMA DOS PONTOS DE PLAQUEAMENTO DAS SUPERFÍCIES DOS LIOFILIZADORES NA DIEVA-PRF - VISTA FRONTAL ............................................................... 50
FIGURA 18- POSICIONAMENTO DOS PONTOS PARA PLAQUEAMENTO - VISTA SUPERIOR DAS PRATELEIRAS NA DIEVA-PRF ................................................................................................... 50
FIGURA 19- ESQUEMA DOS PONTOS DE PLAQUEAMENTO DAS SUPERFÍCIES DOS LIOFILIZADORES NA SEVLI - VISTA FRONTAL ........................................................................ 51
FIGURA 20- POSICIONAMENTO DOS PONTOS PARA PLAQUEAMENTO - ................................... 51
FIGURA 21- ILUSTRAÇÃO DO USO DA PLACA RODAC NA AMOSTRAGEM MICROBIOLÓGICA DE SUPERFÍCIES ........................................................................................................................ 52
FIGURA 22 – ESQUEMA DO ESTUDO PARA AVALIAÇÃO DOS LIOFILIZADORES EM CAMPANHA DE PRODUÇÃO ........................................................................................................................... 54
FIGURA 23 - DISPOSIÇÃO DOS FRASCOS NAS PRATELEIRAS DO LIOFILIZADOR NA DIEVA-PRF ............................................................................................................................................... 58
FIGURA 24 - LEITURA MANUAL DOS FRASCOS ENVASADOS COM MEIO DE CULTURA ........... 60
FIGURA 25- GRÁFICO DA CURVA DE PRESSÃO INTERNA DA CÂMARA DO LIOFILIZADOR I - 1A CORRIDA ..................................................................................................................................... 73
FIGURA 26 - GRÁFICO DA CURVA DE PRESSÃO INTERNA DA CÂMARA DO LIOFILIZADOR I – 74
FIGURA 27 - GRÁFICO DA CURVA DE PRESSÃO INTERNA DA CÂMARA DO LIOFILIZADOR II – ...................................................................................................................................................... 74
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LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 – VOLUME TOTAL DE VACINAS FORNECIDAS POR BIO-MANGUINHOS .................. 14
QUADRO 2 - VOLUME TOTAL DE VACINAS EXCEDENTES EXPORTADAS .................................. 14
QUADRO 3 - PORTFÓLIO DE VACINAS PRODUZIDAS (FONTE: PORTAL BIO-MANGUINHOS) .. 15
QUADRO 4- UNIDADES ORGANIZACIONAIS DO DEPFI. ................................................................. 29
QUADRO 5 - SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO DO AR PARA PRODUÇÃO DE PRODUTOS ESTÉREIS – FONTE: RDC 17/2010 ............................................................................................ 31
QUADRO 6 - LIMITES PARA CONTAMINAÇÃO MICROBIOLÓGICA– FONTE: RDC 17/2010 ......... 31
QUADRO 7 - COMPARAÇÃO ENTRE OS LIOFILIZADORES DA DIEVA-PRF E DO SEVLI ............. 45
QUADRO 8 - COMPARATIVO DOS PRODUTOS PROCESSADOS NOS LIOFILIZADORES DA SEVLI ............................................................................................................................................ 48
QUADRO 9 - SEQUÊNCIA DE ATIVIDADES DURANTE CAMPANHA NA DIEVA-PRF .................... 55
QUADRO 10 – CAPACIDADE VERSUS QUANTITATIVO UTILIZADO ............................................... 57
QUADRO 11 - CRITÉRIO DE ACEITAÇÃO PARA AVALIAÇÃO DOS LIOFILIZADORES EM CAMPANHA (WHO, 2010) ........................................................................................................... 60
QUADRO 12 - RESULTADOS PARA AVALIAÇÃO DE 7 DIAS NA DIEVA-PRF ................................. 61
QUADRO 13 - RESULTADOS PARA AVALIAÇÃO DE 18 DIAS NA DIEVA-PRF ............................... 62
QUADRO 14 - RESULTADOS PARA AVALIAÇÃO DE 5 DIAS NA SEVLI .......................................... 64
QUADRO 15 - CONDIÇÕES APLICADAS NO PROCESSO REAL VERSUS SIMULAÇÃO COM MEIO ...................................................................................................................................................... 67
QUADRO 16 - CARACTERÍSTICAS DO PROCESSAMENTO DOS LOTES DE PLACEBO .............. 70
QUADRO 17 - CRONOGRAMA DA PRIMEIRA CORRIDA .................................................................. 70
QUADRO 18 - CRONOGRAMA DA SEGUNDA CORRIDA ................................................................. 71
QUADRO 19 - CRONOGRAMA DA TERCEIRA CORRIDA ................................................................. 72
QUADRO 20 - RESUMO DOS RESULTADOS DAS 3 CORRIDAS NA DIEVA-PRF .......................... 76
QUADRO 21 - COMPARAÇÃO ENTRE OS CENÁRIOS DA PRODUÇÃO ......................................... 78
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 12
1.1 Histórico de Imunobiológicos 12
1.2 Bio-Manguinhos como produtor de vacinas 13
1.3 O portfólio de Bio-Manguinhos 15
1.3.1 A doença e os aspectos epidemiológicos da Febre Amarela ................... 15
1.3.2 Histórico da Febre Amarela ...................................................................... 19
1.3.3 Sarampo, Caxumba e Rubéola: características e epidemiologia ............. 24
1.4 A cadeia produtiva 29
1.5 A produção de vacinas liofilizadas 30
1.5.1 Formulação .............................................................................................. 33
1.5.2 Envase asséptico ..................................................................................... 33
1.5.3 Liofilização ................................................................................................ 34
1.5.4 Recravação .............................................................................................. 39
1.5.5 Inspeção visual ......................................................................................... 39
1.5.6 Embalagem .............................................................................................. 39
1.6 A demanda e as etapas limitantes da produção 40
2 JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 43
3 OBJETIVO GERAL ............................................................................................... 44
3.1 Objetivos específicos 44
4 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 45
4.1 Definição dos critérios de avaliação 46
4.1.1 Na DIEVA-PRF ......................................................................................... 47
4.1.2 Na SEVLI .................................................................................................. 48
4.2 Avaliação dos liofilizadores fechados 49
4.3 Avaliação dos liofilizadores durante campanha de produção 53
4.3.1 O meio de cultura ..................................................................................... 54
4.3.2 O quantitativo de frascos .......................................................................... 54
4.3.3 A campanha na DIEVA-PRF .................................................................... 55
4.3.4 O envase dos frascos e o carregamento do liofilizador ............................ 56
4.3.5 Simulação da liofilização x Processo real ................................................. 59
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5 RESULTADOS E DISCUSSÕES .......................................................................... 61
5.1 Estudo com os liofilizadores fechados 61
5.1.1 DIEVA-PRF .............................................................................................. 61
5.1.2 SEVLI ....................................................................................................... 64
5.2 Estudo com os liofilizadores em campanha de produção 66
5.2.1 Na DIEVA-PRF ......................................................................................... 66
6 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 78
7 PERSPECTIVAS FUTURAS ................................................................................. 80
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 81
ANEXO A – RELATÓRIO DE INSPEÇÃO PARA OBTENÇÃO DO CERTIFICADO DE BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO................................................................. 86
ANEXO B – PROTOCOLO DE VALIDAÇÃO UTILIZADO PARA A EXECUÇÃO DO ESTUDO................................................................................................................... 89
GLOSSÁRIO ............................................................................................................ 90
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LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
BPF Boas Práticas de Fabricação
CDC Centers for Disease Control
CQ Controle de Qualidade
CTV Centro Tecnológico de Vacinas
DEPFI Departamento de Processamento Final
DI Documento Interno
DIEVA-PRF Divisão de Envase Pavilhão Rockfeller
DIFOR Divisão de Formulação
DIREB Divisão de Rotulagem e Embalagem
FDA Food and Drug Administration
FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz
HEPA High Efficiency Particulate Arrestance
Hib Haemophilus influenzae tipo b
IFA Insumo Farmacêutico Ativo
IT Instrução de Trabalho
LIO Liofilizador
LAFAM Laboratório de Febre Amarela
OMS Organização Mundial de Saúde
OPAS Organização Pan-Americana de Saúde
PDA Parenteral Drug Association
PNI Programa Nacional de Imunizações
RDC Resolução de Diretoria Colegiada
RODAC Replicate Organisms Direct Agar Contact
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SEVLI Seção de Vacinas Liofilizadas
SRC Síndrome da Rubéola Congênita
SUS Sistema Único de Saúde
SVS Secretaria de Vigilância em Saúde
Unicef United Nations Children's Fund
UO Unidade Organizacional
VHP Vapor de Peróxido de Hidrogênio (Vaporized Hidrogen Peroxide)
WFI Água para injetáveis (Water for Injection)
WHO Organização Mundial de Saúde (World Health Organization)
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1 INTRODUÇÃO
1.1 Histórico de Imunobiológicos
O emprego das vacinas como um instrumento efetivo de saúde pública está
amplamente consolidado. Com isso, governos e autoridades sanitárias dispõem de
um amplo arsenal para o controle de diversas doenças, que em séculos anteriores
teriam dizimado populações inteiras (PONTE, 2003).
No Brasil, a utilização de imunobiológicos como ferramenta de saúde pública
e controle de doenças só foi impulsionada após a implantação da Campanha de
Erradicação da Varíola em 1966. Em outubro de 1973, o relatório da Comissão
Especial da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) da Organização Mundial
da Saúde (OMS) concluiu estar erradicada a varíola das Américas (PONTE, 2003).
A partir de então, diversos acontecimentos convergiram para o
fortalecimento da utilização das vacinas como instrumentos de promoção da saúde,
levando as autoridades governamentais a buscar a expansão do uso de imunizantes
no país (PONTE, 2003).
Assim, em 1973, foi proposta a criação do Programa Nacional de
Imunizações (PNI) com o objetivo de controlar doenças como o sarampo, a
tuberculose, a difteria, o tétano, a coqueluche e a poliomielite, como também manter
a varíola erradicada do país. O programa é até os dias atuais uma estratégia bem-
sucedida para o controle de várias doenças (PONTE, 2003; BRASIL, 2003; BIO-
MANGUINHOS, 2016).
Com a implantação e ampliação do PNI, se fez necessário o estímulo ao
desenvolvimento de vacinas nacionais, a modernização e o aprimoramento dos
laboratórios produtores, assim como a melhoria do controle de qualidade dos
imunizantes utilizados pelo programa (HOMMA et al., 2011; BRASIL, 2003).
Em 1976, foi criado o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-
Manguinhos) localizado na Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) no estado do Rio
de Janeiro. O Instituto passou a ser uma unidade técnico-científica independente
voltada à promoção, ao desenvolvimento e à produção de imunobiológicos de
interesse para a saúde pública (PORTAL BIO-MANGUINHOS, 2015a).
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1.2 Bio-Manguinhos como produtor de vacinas
Foi com conceitos de qualidade e melhoria contínua que o Instituto de
Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) se tornou a unidade da FIOCRUZ
responsável pelo desenvolvimento tecnológico e pela produção de vacinas, reativos
e biofármacos voltados para atender prioritariamente às demandas da saúde pública
nacional. O Complexo Tecnológico de Vacinas (CTV) do Instituto, um dos maiores e
mais modernos centros de produção da América Latina, instalado no campus da
FIOCRUZ em Manguinhos-RJ, tem como principal função fornecer vacinas
essenciais para o calendário básico de imunização do Ministério da Saúde (PORTAL
BIO-MANGUINHOS, 2015a; FIOCRUZ, 2016).
Bio-Manguinhos tem atuação destacada no cenário internacional,
principalmente pela exportação do excedente de sua produção para governos e
instituições públicas internacionais de mais de 70 países, por intermédio da OPAS e
do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Cerca de 143 milhões de
doses da Vacina Febre Amarela foram exportadas para agências das Nações
Unidas, desde a obtenção da pré-qualificação junto à Organização Mundial da
Saúde (OMS), consolidando o Instituto como o maior fornecedor de vacinas febre
amarela para as Américas Latina e Central, e um dos maiores em todo o mundo
(PORTAL BIO-MANGUINHOS, 2015b; FIOCRUZ, 2016).
Parcerias com outras instituições - públicas e privadas - garantem acordos
de transferência de tecnologia e de desenvolvimento tecnológico, contribuindo para
a evolução dos projetos do Instituto (PORTAL BIO-MANGUINHOS, 2015a;
FIOCRUZ, 2016).
Bio-Manguinhos fornece uma completa linha de kits de reativos para
diagnóstico e painéis sorológicos para suprir as demandas dos programas de
controle de endemias e agravos da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS).
Também é um dos fornecedores do Programa de Medicamentos Especializados do
Ministério da Saúde, através de uma parceria com a Secretaria de Ciência,
Tecnologia e Insumos Estratégicos. A distribuição de biofármacos permite à
população acesso gratuito e garantido a produtos de elevada tecnologia,
fortalecendo os princípios de universalidade, integralidade e equidade que norteiam
as ações do Sistema Único de Saúde (SUS). O Instituto contribui, assim, para a
redução do alto impacto econômico de diversas doenças (PORTAL BIO-
MANGUINHOS, 2015a; FIOCRUZ, 2016).
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Com a crescente modernização de seu parque industrial, o número de
vacinas entregue para o PNI do Ministério da Saúde aumenta anualmente, assim
como as demandas das vacinas a serem fornecidas para a OMS. Os quadros 1 e 2
demonstram em números as entregas realizadas por Bio-Manguinhos ao longo dos
anos (PORTAL BIO-MANGUINHOS, 2015b):
Quadro 1 – Volume total de vacinas fornecidas por Bio-Manguinhos
Fonte: Relatórios de Atividades 2015 - Departamento de Relações com o Mercado.
ANO DOSES
2013 92.514.000
2014 96.814.000
2015 78.077.000*
*ano com paradas da produção para obras de adequação das áreas.
Quadro 2 - Volume total de vacinas excedentes exportadas
Fonte: Relatórios de Atividades 2015 - Departamento de Relações com o Mercado.
ANO DOSES
2013 8.442.500
2014 266.830*
2015 1.890.560
*neste ano não houve exportação da Vacina Febre Amarela
Em 2015, Bio-Manguinhos respondeu por 39,3% das vacinas produzidas no
Brasil e utilizadas pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), o que demonstra a
importância estratégica de Bio-Manguinhos para o sucesso deste programa, uma
vez que a maior parte dos produtos é fornecida pelo Instituto. Das 15 vacinas que
compõem o Calendário Nacional de Vacinação, sete são fornecidas por Bio-
Manguinhos (PORTAL BIO-MANGUINHOS, 2015b; FIOCRUZ, 2016).
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1.3 O portfólio de Bio-Manguinhos
O portfólio de Bio-Manguinhos é composto por dez vacinas (quadro 3), entre
virais e bacterianas (PORTAL BIO-MANGUINHOS, 2015c).
Quadro 3 - Portfólio de vacinas produzidas (fonte: portal Bio-Manguinhos)
Tipo Produto Forma
farmacêutica Apresentação
Vacina bacteriana
DTP (difteria, tétano e Pertusis) e Haemophilus influenzae tipo b (Hib)
Pó liofilizado injetável (Hib)+ Suspensão
injetável (DTP) 5 doses
Haemophilus influenzae tipo b Pó liofilizado injetável
+ solução diluente 1 e 5 doses
Meningite A e C Pó liofilizado injetável
+ solução diluente 10 doses
Pneumocócica 10-valente* Suspensão injetável 1 dose
Vacina viral
Febre amarela (atenuada) Pó liofilizado injetável
+ solução diluente 5, 10 e 50 doses
Poliomielite Inativada (VIP) * Solução injetável 10 doses
Poliomielite oral (VOP) Solução oral estéril 25 doses
Rotavírus humano* Solução oral estéril 1 dose
Tetravalente viral (sarampo, caxumba, rubéola e
varicela) *
Pó liofilizado injetável + solução diluente
1 dose
Tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola)
Pó liofilizado injetável + solução diluente
10 doses
*Produtos em processo de Transferência de Tecnologia, portanto, não tem toda sua cadeia produtiva em Bio-Manguinhos. As vacinas Hib, meningite A e C, febre amarela e tríplice viral são liofilizadas, logo estes produtos são acompanhados pelos seus respectivos diluentes
1.3.1 A doença e os aspectos epidemiológicos da Febre Amarela
A febre amarela é uma doença infecciosa febril aguda não contagiosa causada
por um arbovírus do gênero Flavivirus pertencente à família Flaviridae, que foi o
principal problema de saúde pública na segunda metade do século XIX, dada sua
importância epidemiológica e por sua gravidade clínica, além do elevado potencial
de disseminação em áreas urbanas (FERREIRA et al., 2011; BRASIL, 2014a). A
doença tem maior incidência em áreas tropicais, estando presente no continente
africano, onde ocorrem mais de 90% das notificações anuais, e no continente
americano principalmente em países como Peru, Bolívia, Colômbia, Equador,
Venezuela e Brasil, conforme ilustrado na figura 1 (FERREIRA et al., 2011;
TEIXEIRA, 2001).
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Figura 1 - Áreas de risco para a transmissão da febre – África e América do Sul - Fonte: CDC, 2015.
No território brasileiro, o vírus da febre amarela pode ser encontrado
principalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste e na parte pré-amazônica do
Maranhão, caracterizadas como regiões endêmicas e com uma população de cerca
30 milhões de pessoas. A região Sul e os Estados de Minas Gerais e São Paulo são
consideradas áreas de transição ou epizoóticas, uma vez que a circulação do vírus é
limitada nestas regiões (FERREIRA et al., 2011).
A transmissão da doença ocorre pela picada do mosquito (figura 2) da família
Culicidae, sendo o principal vetor da febre amarela urbana o Aedes aegypti e da
febre amarela silvestre o Haemagogus (FERREIRA et al., 2011; MONATH &
VASCONCELOS, 2014, BRASIL - a, 2014).
Figura 2 - Ciclos Epidemiológicos da febre amarela no Brasil (urbana e silvestre) – Fonte: Ministério da Saúde, 2014
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No ciclo da febre amarela silvestre, os primatas não humanos (macacos) são
os principais hospedeiros e amplificadores do vírus, pois, após serem infectados,
morrem ou se tornam imunes, assim como os seres humanos que são hospedeiros
acidentais. Já os mosquitos, além de serem transmissores, são reservatórios para o
vírus da febre amarela, devido ao fato de, ao serem infectados, permanecerem
assim por todo seu ciclo de vida. As fêmeas são as responsáveis pela transmissão
da doença, pois o repasto sanguíneo tem como objetivo o fornecimento de
nutrientes essenciais para a maturação dos ovos e a consequente completude do
ciclo gonotrófico (FERREIRA et al., 2011; MONATH & VASCONCELOS, 2014).
A transmissão também ocorre de forma vertical, quando as fêmeas dos
mosquitos transferem o vírus para a sua prole, favorecendo a manutenção do vírus
na natureza. O mesmo processo acontece no ciclo urbano, no entanto neste caso os
seres humanos são o único hospedeiro para o vírus (FERREIRA et al., 2011 e
MONATH & VASCONCELOS, 2015, BRASIL, 2014a).
Quando se trata de febre amarela silvestre, os seres humanos podem ser
infectados por mosquitos silvestres, que anteriormente se alimentaram com o
sangue do hospedeiro macaco, principalmente dos gêneros Alouatta, Cebus e
Callithrix. No Brasil, os principais vetores são os mosquitos da espécie Haemagogus
janthinomys. (MONATH & VASCONCELOS, 2014; BRASIL, 2004). A forma da
doença silvestre tem característica sazonal, ocorrendo frequentemente entre os
meses de janeiro a abril, uma vez que as condições climáticas e ambientais
propiciam o amento da população do vetor (BRASIL, 2009 e BRASIL - a, 2010). Esta
também é considerada de difícil erradicação, pois é uma forma enzóotica ou
endêmica da doença, na qual o vírus da febre amarela circula entre os hospedeiros
naturais (primatas não humanos) e está presente na população de vetores (BRASIL,
2005).
Já a febre amarela urbana ocorre quando o ser humano não imunizado, que se
contaminou em alguma área silvestre, se desloca para uma área urbana, servindo
de hospedeiro e transmitindo o vírus para o mosquito da espécie Aedes aegypti, que
é considerado o vetor urbano da doença (MONATH & VASCONCELOS, 2014;
BRASIL, 2004).
A letalidade global para a febre amarela é considerada baixa, variando entre 5
e 10%, porém entre os casos que evoluem para um quadro mais grave da doença, a
mortalidade pode chegar a 50%, particularmente no Brasil (FERREIRA et al., 2011).
-
18
O quadro clínico típico é caracterizado por manifestações de insuficiência
hepática e renal. Após sua entrada no organismo do hospedeiro, o vírus da febre
amarela se dirige para os linfonodos regionais, onde irá se replicar em macrófagos e
linfócitos, e em 24 horas desaparecem da circulação. Ao fim deste ciclo de
replicação, os vírus deixam as células, passam pela circulação linfática até
alcançarem a corrente sanguínea e consequentemente o fígado, caracterizando este
período como viremia (FERREIRA et al., 2011).
O fígado é o principal órgão acometido pelo vírus, uma vez que as células de
Kupffer e os hepatócitos são infectados. Com isso, o quadro clínico típico
caracteriza-se por manifestações de insuficiência hepática e renal, havendo um
período inicial de febre intensa (infecção) e outro período toxêmico que surge após
uma aparente melhora do paciente, e em muitos casos há evolução para óbito em
aproximadamente uma semana (FERREIRA et al., 2011; BRASIL, 2014a).
Não existe tratamento específico para combater o vírus da febre amarela,
mediante este fato a vacinação tornou-se a medida mais importante e mais eficaz
para prevenção e controle da doença (FERREIRA et al., 2011; BRASIL, 2014a).
A vacina antiamarílica é produzida utilizando vírus vivos e atenuados da cepa
17D, que é oriunda de uma amostra africana do vírus da febre amarela (BRASIL,
2014a).
A Vacina Febre Amarela (atenuada) ou antiamarílica proporciona a 95% dos
casos, imunidade efetiva no prazo de uma semana, com segurança e eficácia contra
a doença (WHO, 2000).
A Organização Mundial de Saúde recomenda a aplicação da vacina em todas
as crianças acima de 6 meses de vida que vivam em áreas endêmicas ou que
transitem por elas. A vacina confere imunidade por um período de aproximadamente
10 anos, utilizando-se um esquema de dose única, sendo necessária a aplicação até
10 dias antes do individuo ingressar em área de transmissão da doença (COSTA,
2011). No entanto o Regulamento Sanitário Internacional (2005), anexo 7, definiu
para a vida toda a proteção conferida pela vacina, o que entrou em vigor a partir de
julho de 2016. (BRASIL, 2016).
De acordo com o calendário básico de vacinação determinado pelo PNI, bebês
de nove meses de idade e os indivíduos nas demais faixas etárias a cada 10 anos
de vida, que vivem em áreas endêmicas e que viajarão para estas áreas devem ser
vacinados contra Febre amarela (BRASIL, 2003).
-
19
Apesar de todas essas medidas, a cobertura vacinal ainda é muito baixa
(inferior a 50%) em quase todo território africano. No América do Sul a febre amarela
encontra-se mais controlada devido a maior cobertura vacinal além da menor
densidade populacional nas áreas endêmicas (COSTA, 2011).
Todas as regiões do Brasil já notificaram casos de febre amarela, no entanto
apenas nas áreas endêmicas ou onde ocorrem surtos ocasionais se faz necessária
a vacinação. A figura 3 ilustra as regiões do Brasil onde há recomendação para a
vacinação contra febre amarela (BRASIL, 2011).
Figura 3 - Mapa do Brasil com recomendação de vacinação contra febre amarela Fonte: BRASIL, 2011.
A Vacina Febre Amarela é produzida em toda sua escala em Bio-Manguinhos.
1.3.2 Histórico da Febre Amarela
O vírus da febre amarela teve sua origem na África, porém devido à falta de
especificidade da descrição clínica e epidemiológica dessa patologia, não se sabe
exatamente quando foi seu início (BRASIL, 2010a; e CRAIG, 1932).
Os primeiros registros de febre amarela na Europa constam antes dos anos
1700, no entanto a primeira epidemia foi relatada na Península Ibérica em 1730,
ocasionando cerca de 2.200 mortes. Porém há relatos de epidemia de uma doença
semelhante à febre amarela em um manuscrito Maia de 1648 em Yucatán no
México, o que indica que a doença já afetava populações anteriormente aos
primeiros registros oficiais (FERREIRA et al., 2011; BRASIL, 2010a).
-
20
Na região do Caribe, foram descritas 83 epidemias de febre amarela de 1620 a
1900. Nos séculos XVII e XIX, os Estados Unidos passaram por epidemias
devastadoras, muito em consequência do trânsito de navios procedentes da América
Central e do Caribe (FERREIRA et al., 2011; BRASIL, 2010a).
No Brasil, a primeira epidemia de febre amarela descrita ocorreu em 1685 em
Recife e foi atribuída à entrada de embarcação oriunda de São Tomé, na África, que
fez escala em Santo Domingo, nas Antilhas, região onde acontecia uma grande
epidemia que dizimava a população local (COSTA, 2011; BRASIL, 2010a).
Até a descoberta do agente etiológico da febre amarela, acreditava-se que se
tratava de uma doença contagiosa, pestilencial e que era algo que não fazia parte da
natureza humana. Com isso, neste período eram encorajadas medidas de controle e
cerceamento da liberdade dos indivíduos com o objetivo de conter as epidemias
(COSTA, 2011).
Em 1691, com o objetivo de controlar a epidemia de febre amarela foi realizada
a primeira campanha profilática e posta em prática no Novo Continente. Foi
instituída a “ditadura sanitária” com medidas tais como segregação de doentes,
purificação do ar, das casas, dos cemitérios, dos portos, limpeza das ruas e outros,
que apesar de serem medidas um pouco equivocadas, ou seja, que cerceavam a
liberdade ou pouco democráticas, se mostraram eficazes, levando ao controle da
epidemia (BRASIL, 2004; BRASIL, 2010a e COSTA, 2011).
Após esse período, relatos históricos mostram que por mais de um século não
ocorreram casos de febre amarela no Brasil, o que indicava sua erradicação, porém,
em setembro de 1849, se instalou uma epidemia em Salvador, devido à chegada de
um navio americano que não havia cumprido todas as exigências impostas na “Carta
de Saúde”. Em fevereiro de 1850, a febre amarela já havia se alastrado pela cidade
e praias da região com aproximadamente 90.000 casos e mais de 4.000 mortes
registradas (BRASIL, 2004; CALHEIROS, 1988).
As epidemias de febre amarela ocorriam com frequência principalmente nas
estações de chuva e calor. As controvérsias a respeito das causas da doença assim
como sua transmissão cessaram apenas após uma mudança radical na abordagem
de uma nova geração de bacteriologistas que eram liderados por Oswaldo Cruz, que
estudavam a doença a luz dos conceitos da microbiologia (COSTA, 2011;
FERREIRA et al., 2011).
-
21
Em 1903 surgiu a Era de Oswaldo Cruz, com a sua nomeação como Diretor
Geral de Saúde Pública, marcada pela ousadia e força da política sanitária no Brasil.
Nessa época a doença já havia sido estudada em Cuba por Carlos Finlay, que
descreveu a hipótese da transmissão se dar pelo mosquito Aedes aegypti,
conhecido na época por Stegomyia fasciata (CALHEIROS, 1988, FERREIRA et al.,
2011; BRASIL, 1999).
Baseado nos conhecimentos prévios sobre a transmissão da doença e da
comprovação da não contagiosidade, o pesquisador Oswaldo Cruz adotou medidas
de controle, realizando campanhas com o exército para promover o combate ao
vetor transmissor e a instituição da notificação imediata de caso suspeito da doença,
tornando a Febre amarela a primeira doença de notificação obrigatória no Brasil.
(CALHEIROS, 1988, COSTA, 2011; BRASIL, 1999).A obrigatoriedade da notificação
dos casos de Febre amarela foi de suma importância para o combate da doença,
uma vez que permitia demandar ações rápidas e imediatas no atendimento ao
doente e na eliminação do mosquito na moradia do mesmo e em suas proximidades
(CALHEIROS, 1988, COSTA, 2011; BRASIL, 1999).
Em 1927, os médicos da Fundação Rockefeller, que atuavam na Nigéria,
comprovaram em estudos utilizando macacos que o agente causador da febre
amarela se tratava de um vírus. A partir de então grandes investimentos foram feitos
com o objetivo de desenvolver uma vacina eficaz capaz de imunizar a população
contra febre amarela (FERREIRA et al., 2011).
Em 1932, após o controle da última epidemia urbana, foi descoberta, por meio
de estudos epidemiológicos realizados no Vale do Canaã, a existência do ciclo
silvestre da Febre amarela, derrubando o mito de “doença da cidade” (COSTA,
2011).
Como resultado da descoberta do ciclo da febre amarela silvestre, a imunidade
em animais silvestre passou a ser avaliada, assim como foi definido o papel dos
primatas não humanos na cadeia epidemiológica (COSTA, 2011).
A partir de então as políticas sanitárias foram baseadas nas descobertas
científicas como o combate ao Aedes aegypti nas cidades e em povoados rurais,
elaboração de estatísticas e gráficos para orientação das medidas preventivas e uso
da vacina após que esta fosse disponibilizada (COSTA, 2011).
Em 1937 foi desenvolvida e registrada a primeira vacina eficaz contra a febre
amarela da cepa 17D. Neste mesmo ano, a vacina passou a ser produzida em larga
-
22
escala pelo Instituto Oswaldo Cruz, hoje Bio-Manguinhos, e foi utilizada
primeiramente no município de Varginha em Minas Gerais e foi estendido aos
demais municípios afetados pela febre amarela silvestre. Com mais de 38.000
pessoas vacinadas, esse foi um marco determinante para a logística, registro,
controle e técnicas para vacinação em grandes proporções (COSTA, 2011; BRASIL,
2004). A Campanha contra a Febre Amarela se baseava em três pilares (COSTA,
2011):
1 – Controle do vetor urbano, o Aedes aegypti, com uso de inseticidas e visitação as
residências;
2 – Avaliação das notificações da doença, com rígido controle dos postos e das
amostras coletadas;
3 – Vacinação em larga escala nas áreas endêmicas.
A vacinação acontecia de forma gradativa e sistemática nos municípios de
áreas endêmicas, com unidades itinerantes a cada cinco anos, com objetivo de se
obter uma cobertura de 80% (COSTA, 2011; BRASIL, 2004).
Já para as áreas urbanas as políticas de saúde se concentravam na tentativa
de erradicar o vetor transmissor da doença. Durante vários anos grande parte da
América do Sul permaneceu livre do Aedes aegypti, o que levou a eliminação da
Febre amarela urbana em 1942 (COSTA, 2011; BRASIL, 2004).
Mais 65 casos de febre amarela ocorreram no ano de 2003, com 35,4% de
letalidade. Após isso, de 2004 a 2006, foi registrado um número relativamente mais
baixo que no ano anterior (BRASIL, 2011).
Com o ressurgimento do vírus da febre amarela fora da região amazônica, a
partir de 2007, apareceu novamente um número elevado de casos de febre amarela
no Brasil (BRASIL, 2011).
Em 2007, foram registrados 13 casos com 76,7% de letalidade, já em 2008
esse número subiu para 46 casos (letalidade de 58,7%) de humanos contaminados
com o vírus da febre amarela e em 2009 esse número subiu para 47 casos com
36,2% de letalidade (BRASIL, 2011).
A ocorrência de febre amarela foi registrada em nove países da América do
Sul nessa última década, sendo eles Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru,
Venezuela, Guiana Francesa, Paraguai e Argentina (BRASIL, 2010a).
-
23
Anualmente, são registrados aproximadamente 300 novos casos de febre
amarela na América do Sul, já na África esse número em bem maior, onde mais de
5000 casos anuais são registrados, correspondendo a 90% das notificações
realizadas pela Organização Mundial da Saúde (SILVA, 2007; MONATH &
VASCONCELOS, 2014).
Dentre todos os países com ocorrência de febre amarela, o Brasil é aquele
que possui a maior área endêmica de Febre amarela silvestre (SILVA, 2007;
MONATH & VASCONCELOS, 2014).
Algumas ações são importantes para prevenir a febre amarela, sendo uma
delas o controle de mosquitos vetores, por meio de medidas básicas como a
eliminação dos potenciais criadouros do mosquito através da vedação ou eliminação
de qualquer tipo de depósito de água, utilização de larvicidas, repelentes e telas
protetoras, além de realização de campanhas para conscientização da população
quanto ao modo de transmissão da doença e a importância das medidas adequadas
para combater os vetores (SIMÕES, 2011).
Outra ação muito importante para prevenção da febre amarela é a vacinação,
visto que atualmente esse é o único meio eficaz de não adquirir a doença devido à
dificuldade de eliminação completa do mosquito vetor dada a sua ampla dispersão
pelo país (COSTA, 2011).
A vacinação visa conferir proteção coletiva e individual à população, além de
prevenir endemias, pois bloqueia a propagação geográfica da doença devido à
criação de uma barreira de imunidade individual (COSTA, 2011).
Desde o ano em que foi desenvolvida (1937), a vacina contra febre amarela,
produzida a partir da cepa 17D, é amplamente distribuída, com aproximadamente 20
milhões de doses fornecidas anualmente, sendo esta uma vacina fornecida
exclusivamente por Bio-Manguinhos (BIO-MANGUINHOS, 2016; BRASIL, 2014a).
-
24
1.3.3 Sarampo, Caxumba e Rubéola: características e epidemiologia
1.3.3.1 Sarampo
O sarampo é uma doença viral infecciosa aguda e altamente contagiosa, sendo
prevalente em crianças menores de cinco anos. Em países em desenvolvimento,
onde há um grande número de crianças desnutridas, o sarampo é uma das
principais causas de morbimortalidade nesta faixa etária (BRASIL, 2014a).
A doença é de distribuição universal, no entanto apresenta variação sazonal
com altos índices de transmissão em períodos chuvosos em áreas de clima tropical.
A endemia ou epidemia está diretamente ligada ao grau de imunidade e a
suscetibilidade da população a doença, assim como a circulação do vírus na área
(BRASIL, 2014a).
No Brasil, o sarampo é uma doença de notificação compulsória desde 1968 e
durante eventos de surtos, deve haver registro no Sistema Nacional de Agravos de
Notificação (SINAN) (BRASIL, 2013).
Foi estabelecida, em 1992, a meta de eliminação do sarampo para o ano 2000
no Brasil e com isso foi a implantado o Plano Nacional de Eliminação do Sarampo,
sendo iniciado pela primeira campanha nacional de vacinação contra a doença
(BRASIL, 2014a).
Em 1997, após quatro anos com a doença sob controle no país, observou-se o
ressurgimento do sarampo, iniciando-se com surtos em São Paulo e expandindo-se
para todos os estados, com 91.810 casos notificados, sendo 53.664 confirmados e
61 óbitos (BRASIL, 2014a).
Em 2000, o Brasil registrou os últimos casos autóctones de sarampo. Desde
então, devido às altas coberturas vacinais e elevada sensibilidade da vigilância
epidemiológica, apenas casos importados da doença foram detectados no país
(BRASIL, 2013).
-
25
A figura 04 mostra as medidas e estratégias adotadas para o controle do
sarampo no Brasil.
Figura 4 - Estratégias de Controle de 1980 a 2014 contra o Sarampo com a Incidência dos casos e cobertura vacinal
Fonte: SVS/MS (http://portalsaude.saude.gov.br. Acesso em novembro de 2016).
1.3.3.2 Caxumba
Também conhecida como parotide infecciosa, é uma doença viral aguda e
de evolução benigna. Tem como sintomas febre, aumento do volume de uma ou
mais glândulas salivares, geralmente as parótidas e em alguns casos as glândulas
sublinguais e submandibulares. Este aumento de volume das glândulas é muito
característico da caxumba, pois ocasiona o inchaço do rosto do indivíduo, no entanto
cerca de um terço dos casos é assintomático (PORTAL SAÚDE, 2016).
As complicações da caxumba podem ser a orquite (inflamação do testículo)
e ooforite (inflamação do ovário), que se não tratadas adequadamente ou em tempo,
pode levar a impotência ou infertilidade, respectivamente. Pode também haver
comprometimento do sistema nervoso central (meningoencefalite). A doença
também é risco para gestantes não imunizadas, podendo levar ao aborto
espontâneo (PORTAL SAÚDE, 2016).
http://portalsaude.saude.gov.br/
-
26
É uma doença de distribuição universal com características sazonais, sendo
mais frequente durante o inverno e a primavera, no entanto a caxumba não faz parte
do grupo de doenças de notificação compulsória. Surtos acontecem mais
comumente em países em desenvolvimento em áreas onde a cobertura vacinal não
é satisfatória (PORTAL SAÚDE, 2016).
1.3.3.3 Rubéola
É uma doença exantemática aguda de origem viral altamente contagiosa e
mais frequente em crianças (BRASIL, 2014a).
Devido à teratogenicidade do vírus, tornou-se um grave problema de saúde
pública, justificando sua importância epidemiológica, uma vez que está relacionada
ao risco de aborto, natimortos e malformações congênitas caso a gestante não
imunizada seja infectada pelo vírus no primeiro trimestre de gravidez. Estudos
comprovam que o risco do feto desenvolver a Síndrome da Rubéola Congênita
(SRC) é de até 81% caso exposto ao vírus no período inicial da gestação, podendo
ocasionar cardiopatias, surdez e cegueira (MORAES, 2015).
A rubéola passou a integrar a lista de doenças de notificação compulsória a
partir de 1996, havendo a intensificação da vigilância e do combate à doença com a
implementação do Plano de Erradicação do Sarampo no país, desde 1999 (BRASIL,
2014a).
Em 2008, ocorreu no Brasil a maior Campanha de Vacinação contra
Rubéola do mundo, com 65,9 milhões de pessoas na faixa etária de 19 a 39 anos de
idade vacinadas, nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do
Norte, Mato Grosso e Maranhão. Nos demais estados, a faixa etária foi de 20 a 39
anos de idade. A campanha alcançou uma cobertura vacinal de 94% (BRASIL,
2010b).
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27
Diante dos esforços realizados para controlar essa doença, o Brasil cumpriu
a meta de eliminação da rubéola e da SRC, até o ano de 2010. Entre 2010 e 2014,
não se registraram casos da doença. A Figura 5 mostra as estratégias de controle e
a incidência anual de rubéola no Brasil nos anos de 1993 a 2015 (BRASIL, 2014a).
Figura 5 - Estratégias de controle e incidência anual da rubéola, Brasil, 1993 a 2015
Fonte: SVS/MS (http://portalsaude.saude.gov.br. Acesso em novembro de 2016)
1.3.3.4 A vacina tríplice viral
A vacinação é a medida mais eficaz para o controle e prevenção destas
doenças, somada as iniciativas de vigilância epidemiológica aplicadas pelas
autoridades sanitárias. O uso da vacina confere imunidade em 95% dos indivíduos
(SÃO PAULO, 2010).
A vacina utilizada pelo PNI é trivalente, mais conhecida como tríplice viral, pois
é um composto combinado contra sarampo, caxumba e rubéola. Trata-se de uma
vacina liofilizada a base de vírus vivos atenuados do sarampo (cepa Schwarz), da
rubéola (cepa Wistar RA27/3) e da caxumba (cepa RIT 4385 derivada da cepa Jeryl-
Lynn), produzidos em substratos celulares e células diploides (PORTAL BIO-
MANGUINHOS, 2015c).
No calendário nacional de vacinação de rotina, a primeira dose deve ser
administrada a toda criança de um ano de idade e uma segunda naquelas de 4 a 6
anos. Recomenda-se que os adultos nascidos depois de 1960, sem comprovação de
http://portalsaude.saude.gov.br/
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28
nenhuma dose, recebam pelo menos uma dose da vacina tríplice viral
(DOMINGUES, 1997).
O Conselho Diretivo da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS)
aprovou, em 2006, a resolução CD47.R10 que reafirma a manutenção da eliminação
do sarampo nos países das Américas. Esse Conselho reconheceu a necessidade de
manter ativa a vigilância epidemiológica do sarampo, da rubéola e da SRC, com
implementação das estratégias de vacinação, entre outros (BRASIL, 2014a).
O mapa abaixo (figura 6) ilustra as metas estabelecidas em 2010 para a
erradicação da rubéola.
Figura 6 – Meta dos Programas de rubéola por região da OMS – 2012 – 2015 Fonte: OPAS, 2010
-
29
1.4 A cadeia produtiva
A partir do entendimento da importância do controle das doenças
anteriormente citadas e da utilização da vacina como a principal ferramenta para tal,
torna-se fundamental o papel de Bio-Manguinhos como o principal fornecedor
dessas vacinas em toda sua cadeia produtiva.
Bio-Manguinhos dispõe de cinco linhas de produção para vacinas,
biofármacos e diluentes. Todas estão sob a responsabilidade do Departamento de
Processamento Final (DEPFI), que está diretamente subordinado as Vices-Diretorias
de Produção do Instituto.
O DEPFI coordena as atividades de formulação, envase, liofilização e
embalagem de todas as vacinas, biofármacos e diluentes, assim como as atividades
de apoio como limpeza e esterilização de materiais, preparo de soluções
sanitizantes que cercam as atividades de produção.
As unidades organizacionais (UO) envolvidas na produção estão descritas
no quadro 4:
Quadro 4- Unidades Organizacionais do DEPFI.
UO Atividades Produtos
Divisão de Formulação (DIFOR)
Formulação de vacinas e biofármacos
Vacina Febre Amarela 5 e 10 doses, vacina sarampo,
caxumba e rubéola 10 doses, vacina meningite A e C 10
doses, Vacina Hib 1 e 5 doses e biofármaco Alfainteferona 2b
Seção de Vacinas Líquidas (SEVLQ)
Envase, recravação e revisão de vacinas e
biofármacos
Alfaepoetina e vacina DTP (produtos líquidos).
Alfainteferona 2b e vacina Hib (produtos liofilizados) *
Seção de Vacinas Liofilizadas
(SEVLI)
Envase, liofilização, recravação e revisão de vacinas e biofármacos
Vacina Febre Amarela 5 e 10 doses, vacina sarampo,
caxumba e rubéola 10 doses e vacina meningite A e C 10
doses
Seção de Diluentes (SEDIL)
Envase, esterilização e revisão
Todos os diluentes
Divisão de Envase – Pavilhão Rockefeller
(DIEVA-PRF)
Envase, liofilização, recravação e revisão de
vacinas
Vacina Febre Amarela 5 e 50 doses
Divisão de Envase – Pavilhão Rocha Lima
(DIEVA-PRL)
Envase e revisão de vacinas
Vacina poliomielite 1,2, 3 atenuada 25 doses (VOP)
Os produtos liofilizados que são envasados pela SEVLQ têm sua liofilização e revisão sob a responsabilidade do SEVLI. As produções ocorrem em regime de campanha conforme o planejamento anual do PNI.
-
30
Análise
Procedimento de
Pessoal Instalações
Monitoramento Limpeza e
Desinfecção
Equipamentos
Componentes
Estéreis
Operações de
Produção
Processo
Carga
Microbiana
Tipo de
Produção
tamanho do lote
Materiais
Treinamento
Higiene
Comportamento
Espaço
HVAC
Utilidades
Superfícies/Materiais
Temperatura/Umidade
Diferencial
de pressão
Superfícies/Materiais
Utilidades
Montagem
Operação
Manutenção Periodicidade
Desinfectantes
Aplicação
Programa
Pontos
Procedimento de
amostragem
Risco de
Contaminação
Microbiológica
1.5 A produção de vacinas liofilizadas
Uma das operações mais críticas na indústria farmacêutica é o
processamento de produtos estéreis, principalmente daqueles que não podem ser
esterilizados terminalmente tais como a maior parte das vacinas e biofármacos. Tal
fato demanda uma grande fonte de recursos, assim como envolve a aplicação de
processos complexos para prevenir a contaminação dos produtos (QUINTO &
MENEZES, 2010).
A dificuldade na detecção da contaminação durante o processo torna o
resultado final menos previsível, sendo este um processo de alto risco e de difícil
gerenciamento. Adequar instalações, equipamentos, materiais, procedimentos,
operadores e possuir uma forte e robusta política de garantia da esterilidade são
exemplos de requerimentos necessários para uma produção de produtos estéreis
bem-sucedida (QUINTO & MENEZES, 2010).
Para obter produtos estéreis é essencial que todo o processamento seja
realizado de modo que o risco de contaminação seja minimizado, e diferentes
fatores podem impactar esse risco conforme ilustra a figura 7 (QUINTO &
MENEZES, 2010).
Figura 7 - Mapa de riscos envolvidos em Processos (adaptado de QUINTO & MENEZES, 2010)
-
31
Equipamentos e todos os demais itens utilizados em áreas de processos
assépticos devem cumprir requerimentos específicos que permitam a conformidade
com a classificação ambiental necessária. O equipamento deve ser desenhado,
fabricado e instalado de modo a prevenir a contaminação do produto. Deste modo,
devem ser buscados materiais com características que possibilitem a limpeza e
desinfecção adequadas, e para componentes com contato direto com o produto
deve ser possibilitada sua esterilização (QUINTO & MENEZES, 2010).
As vacinas liofilizadas produzidas por Bio-Manguinhos são processadas em
salas limpas classificadas (quadros 5 e 6) seguindo procedimentos específicos para
cada tipo de produto.
Documentos regulatórios e normas estabelecem os testes e especificações
a serem alcançados para determinação da classificação de uma sala limpa.
Parâmetros a serem avaliados durante os testes para classificação de uma sala
limpa devem ser (QUINTO & MENEZES, 2010):
- Testes de vazamento dos filtros HEPA (High Efficiency Particulate Arrestance);
- Contagem de partículas;
- Taxa de trocas de ar;
- Tempo de recuperação da sala limpa após um evento contaminante;
- Padrões de fluxo de ar e
- Diferenciais de pressão.
Quadro 5 - Sistema de classificação do ar para produção de produtos estéreis – Fonte: RDC 17/2010
Grau
Em repouso Em operação
Número máximo de partículas permitido por m3
Número máximo de partículas permitido por m3
0,5 µm 5,0 µm 0,5 µm 5,0 µm
A 3.520 20 3.520 20
B 3.520 29 352.000 2.900
C 352.000 2.900 3.520.000 29.000
D 3.520.000 29.000 Não definido Não definido
Quadro 6 - Limites para contaminação microbiológica– Fonte: RDC 17/2010
Grau Amostra de ar
(UFC/m3)
Placas de sedimentação de
90 mm de diâmetro
(UFC/4 horas)
Placa de contato de 55 cm de
diâmetro (UFC/placa)
Teste de contato das luvas - 5
dedos (UFC/luva)
A < 1 < 1 < 1 < 1
B 10 5 5 5
C 100 50 25 -
D 200 100 50 -
-
32
A atividade de produção de vacinas envolve diversos processos,
empregando elevado número de equipamentos e insumos. Os processos são
estabelecidos e certificados, obedecendo a um procedimento operacional elaborado
(PONTE, 2003).
O número de processos diferentes envolvidos na produção direta ou indireta
estabelece um complexo sistema produtivo a ser gerenciado. Fatores ambientais
tais como presença de partículas viáveis e totais, variações de temperatura, pressão
e umidade do ar e o comportamento do operador são os maiores riscos potenciais
para a produção (PETRIDES et al., 2011).
As etapas do processo de produção de vacinas liofilizadas (Figura 8) são
compostas por:
Formulação da vacina.
Envase asséptico.
Liofilização.
Recravação.
Inspeção visual (revisão).
Embalagem.
Figura 8 - Esquema das etapas de produção de vacinas liofilizadas em Bio-Manguinhos (CARVALHO, 2005)
O preparo do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) ocorre no Laboratório de Febre
Amarela (LAFAM) e a formulação ocorre na Divisão de Formulação (DIFOR)
(BENCHIMOL, 2001).
Posteriormente a formulação, ocorrem os processos de envase, liofilização,
recravação, e revisão, que podem acontecer na divisão de envase pavilhão
Rockfeller (DIEVA-PRF) ou na Seção de vacinas liofilizadas (SEVLI). Após a etapa
de revisão, os frascos aprovados são rotulados e embalados na Divisão de
Rotulagem e Embalagem (DIREB) (BENCHIMOL, 2001).
Processo Asséptico
-
33
A Vacina Febre Amarela atenuada possui uma etapa preliminar também
realizada em Bio-Manguinhos que é a produção do insumo farmacêutico ativo (IFA)
desempenhada nas instalações do Laboratório de Febre Amarela (LAFAM)
(CARVALHO, 2005).
Os Insumos farmacêuticos Ativos (IFA) da vacina sarampo, caxumba e
rubéola são fornecidos pela Glaxo Smith Kline, uma vez que este é um produto em
processo de transferência de tecnologia (FIOCRUZ, 2016).
1.5.1 Formulação
Esta etapa consiste em misturar todos os insumos que irão compor a vacina,
seguindo procedimentos padronizados e específicos para cada produto formulado.
Normalmente, os componentes da formulação são os IFA, soluções
estabilizadoras, soluções de antibióticos e água para injetáveis (BENCHIMOL,
2001).
Como o produto não passa por esterilização terminal, todo este processo
acontece em módulo de fluxo unidirecional (grau A) localizado em um ambiente grau
B, utilizando insumos e materiais estéreis (BRASIL, 2010c).
A Vacina Febre Amarela é formulada em garrafão de vidro e a vacina
sarampo, caxumba e rubéola em tanque de aço inoxidável. Ao fim da formulação
obtém-se a vacina na forma líquida que é encaminhada para a área de envase
(BENCHIMOL, 2001).
1.5.2 Envase asséptico
Todos os envases ocorrem em sala limpas com controle de temperatura,
umidade e diferencial de pressão. As salas cumprem os requisitos de qualidade
descritos na legislação vigente, uma vez que produtos que não sofrem esterilização
terminal devem ser processados em um ambiente grau A circundado por grau B
(BRASIL, 2010c; WHO, 2010; FDA, 2004).
Todo o processo é realizado de forma automática em linha por meio de
equipamentos localizados salas limpas (BRASIL, 2010c).
O processo é iniciado pela lavagem dos frascos (lavadora automática) que
está em linha com o túnel de despirogenização onde os frascos são esterilizados e
despirogenizados por aquecimento (calor seco). Já resfriados, os frascos seguem
em linha para a sala de limpa e sob grau A são envasados e parcialmente
-
34
arrolhados, uma vez que o produto será posteriormente liofilizado (BENCHIMOL,
2001; BRASIL, 2010c).
Os frascos envasados são recolhidos em bandejas de aço inoxidável com
aros e encaminhados para o carregamento do liofilizador (BENCHIMOL, 2001).
O carregamento dos frascos nas prateleiras do liofilizador é realizado por um
operador que remove a bandeja, permanecendo apenas o aro para segregação dos
frascos. Terminado o envase, a porta do liofilizador é fechada e é iniciado o ciclo de
liofilização da vacina (BENCHIMOL, 2001).
1.5.3 Liofilização
A liofilização da vacina consiste em uma técnica de secagem na qual o
produto é congelado e submetido a um processo de sublimação pelo controle de
temperatura e exposição ao vácuo (figura 9). Isto permite que o solvente congelado
no material passe diretamente da fase sólida à fase gasosa (RIBEIRO, 2012).
A liofilização oferece várias vantagens para o produto, como a melhorias na
estabilidade, a diminuição da possibilidade de contaminação microbiológica e
consequentemente o aumento da sua validade (RIBEIRO, 2012).
Todo o processo é feito de modo automático em equipamentos liofilizadores
e é monitorado durante todo seu curso, seguindo protocolos pré-estabelecidos
(BENCHIMOL, 2001).
A liofilização é constituída das etapas:
Congelamento (
-
35
Os ciclos de liofilização variam conforme as características de cada produto,
podendo durar vários dias. Após o término do ciclo de liofilização, e a vacina
encontra-se na forma uma pastilha em pó denominado liófilo (BENCHIMOL, 2001).
Os parâmetros determinantes para a boa formação do liófilo são
temperatura, pressão e o tempo de cada fase. O liofilizador faz o controle destes
parâmetros durante todo o processo e há uma sequência de atividades
(BENCHIMOL, 2001).
a. Carregamento do liofilizador: a temperatura das prateleiras durante o
carregamento varia conforme o produto.
b. Congelamento: redução da temperatura do fluido das prateleiras,
normalmente para temperaturas negativas.
c. Evacuação: redução da pressão interna da câmara do liofilizador para faixa
de µbar através da utilização de um sistema de bombas de vácuo. O controle
do vácuo é realizado pela injeção de nitrogênio estéril. O vácuo é mantido
durante as fases de secagem.
d. Secagem primária: elevação gradativa da temperatura, porém ainda em
faixas negativas para promover a sublimação do solvente.
e. Secagem secundária: nova elevação da temperatura, desta vez a faixas
mais elevadas (positivas) para remoção da umidade residual que não foi
eliminada na secagem primária.
f. Pré-aeração: injeção de nitrogênio estéril para aumento da pressão da
câmara interna do liofilizador para realização da etapa seguinte que é o
fechamento dos frascos.
g. Fechamento dos frascos: ocorre através da inserção da rolha pelo
deslocamento das prateleiras do liofilizador sobre os frascos localizados nas
prateleiras inferiores. Todo esse processo ocorre em vácuo parcial para
minimizar riscos de contaminação do produto.
h. Aeração: injeção de ar estéril na câmara do liofilizador para equalização de
pressão e permitir a abertura da porta do equipamento para descarregamento
do produto.
Após o descarregamento, o lote é encaminhado para a recravação. Todo o
carregamento e descarregamento dos frascos do liofilizador são realizados em um
ambiente grau A (BENCHIMOL, 2001).
-
36
1.5.3.1 Os liofilizadores
O principal equipamento utilizado no desenvolvimento deste estudo são os
liofilizadores da marca EDWARDS modelo L80/CF localizados na DIEVA-PRF e os
liofilizadores da marca EDWARDS modelo Lyomax 20 localizados na SEVLI.
A DIEVA-PRF dispõe de dois liofilizadores (LIO I e LIO II) e a SEVLI de
quatro (LIO III, LIO IV, LIO V e LIO VI).
Os equipamentos são compostos por uma câmara estanque com acesso por
uma área grau A e uma área mecânica em ambiente não classificado onde estão
localizados os condensadores, compressores, bombas de vácuo, fluidos de
refrigeração e painéis de controle do equipamento conforme ilustrado na figura 10.
A câmara do liofilizador é composta por prateleiras para troca térmica com o
produto, válvulas para injeção e saída de nitrogênio e ar estéril, drenos para limpeza
do equipamento, porta com gaxetas para vedação, sistema automático para
deslocamento das prateleiras e sensores diversos. Todas as estruturas internas do
equipamento são constituídas por aço inoxidável 316L que confere mais resistência
à corrosão.
válvula de vácuo
porta
parede para a área grau A
carregamento do produto
sistema de aquecimento fluido de refrigeração
condensadores
bombas de
vácuo
prateleiras com calefação
válvula
Figura 10 - Representação esquemática de um liofilizador
-
37
1.5.3.2 A esterilização do liofilizador
O processo de esterilização é necessário para a completa destruição ou
remoção de todos microorganismos, incluindo esporos e não-esporos de bactérias,
fungos e protozoários, que podem contaminar o produto ou outros materiais
envolvidos no processo (BRASIL, 2010b).
A eficácia do método de esterilização depende do tipo de agente utilizado
(vapor puro, calor seco, gases ou radiação). Independentemente do método
escolhido, este deve ser validado para assegurar que o processo de esterilização é
capaz de alcançar os resultados esperados (Brasil, 2010b).
A esterilização do liofilizador tem como objetivo esterilizar as estruturas
internas da câmara do equipamento pelo contato com o agente esterilizante que é
capaz de alcançar estruturas de difícil acesso tais como drenos, válvulas e parte das
tubulações.
O método utilizado varia conforme cada UO, podendo ser utilizado o vapor
de peróxido ou o vapor puro.
O ciclo de esterilização por VHP (Vaporized Hidrogen Peroxide) é controlado
de modo automático com monitoramento da umidade interna, da pressão e
concentração de peróxido de hidrogênio dentro da câmara do liofilizador, o tempo de
contato com o agente esterilizante e aeração para remoção do peróxido de
hidrogênio (BIO-MANGUINHOS, 2012a).
A esterilização por vapor puro é realizada de modo automático com o ciclo
controlado pelo equipamento. É um método muito eficiente, uma vez que o vapor
tem alto poder de penetração e onde não houve contato direto há o aquecimento
das estruturas que é capaz de promover esterilização (BIO-MANGUINHOS, 2012b).
O equipamento deve estar limpo e com as prateleiras totalmente separadas
para que a esterilização seja eficaz.
Todos os ciclos são revalidados anualmente através da avaliação com
bioindicadores tipo fita (Bacillus stearothermophilus) e indicadores químicos
(aplicável ao VHP) conforme protocolo de validação aprovado.
Atualmente, após o descarregamento dos liofilizadores, acontece a
sanitização das superfícies internas seguida da esterilização do equipamento como
preparação para o processamento de um novo lote. No caso da SEVLI a
esterilização também deve acontecer como procedimento para troca de produto.
-
38
1.5.3.3 A sanitização da câmara interna do liofilizador
A sanitização do equipamento é feita de modo manual por operadores
treinados e conforme procedimento interno (BIO-MANGUINHOS, 2013; BIO-
MANGUINHOS, 2014a). O agente sanitizante utilizado é o álcool 70%, esterilizado
por filtração 0,22 µm conforme recomendado pela RDC 17/2010.
A limpeza é feita com o uso de moppings esterilizados por autoclavação com
haste de aço inoxidável. Todo o material empregado na sanitização do equipamento
é estéril inclusive os trajes dos operadores (PDA, 2015).
As sanitizações são registradas em protocolos aprovados onde constam
informações como os operadores que executaram a atividade, o lote e validade do
agente sanitizante utilizado, horário de início e término da sanitização, lote da
esterilização dos materiais utilizados (BIO-MANGUINHOS, 2013; BIO-
MANGUINHOS, 2014a).
O procedimento é executado após cada descarregamento do liofilizador e
visa remover resíduos de produto, frascos quebrados, assim como promover a
limpeza das diversas estruturas da câmara interna do equipamento como superfícies
superior e inferior das prateleiras, teto, porta, paredes e fundo, preparando o
equipamento para a sua posterior esterilização. Para a realização da limpeza das
paredes, do teto e das laterais da câmara, as prateleiras devem ser deslocadas para
baixo completamente para permitir o acesso do mopping durante o procedimento
conforme ilustrado pela Figura 11 (BIO-MANGUINHOS, 2013; BIO-MANGUINHOS,
2014a).
Figura 11- Movimentação das prateleiras para sanitização do equipamento liofilizador em Bio-Manguinhos
-
39
A sanitização das superfícies internas dos liofilizadores não é capaz de
alcançar todas as estruturas do equipamento como válvulas, drenos e tubulações
internas. Algumas destas estruturas são acionadas durante o processo de
liofilização e qualquer sujidade que não for eliminada durante a sanitização pode
migrar para dentro dos frascos de vacina expostos dentro do liofilizador, conferindo o
risco de contaminação microbiológica do produto.
1.5.4 Recravação
A etapa de recravação consiste na aplicação de selos de alumínio sobre a
rolha que lacram os frascos completamente. Este processo é realizado de modo
automático em uma máquina recravadora (BENCHIMOL, 2001).
1.5.5 Inspeção visual
Após a recravação, os frascos podem seguir em linha para a etapa de
inspeção visual automática realizada em uma máquina que verifica possíveis
defeitos em 100% do lote. Caso necessário este processo pode ser feito de forma
manual por operadores treinados seguindo procedimentos internos (BIO-
MANGUINHOS, 2015).
1.5.6 Embalagem
Na etapa de embalagem os frascos lacrados contendo a vacina liofilizada,
recebem rótulos com a identificação do produto, número de lote, data de fabricação
e validade, entre outras informações (DEAN, 2000).
Após receber a aplicação dos rótulos, os frascos são acondicionados em
cartuchos juntamente com a bula, e são posicionados em caixas de embarque
(DEAN, 2000).
A embalagem final é composta pelos os frascos juntamente com seu
respectivo diluente, o qual será utilizado para a reconstituição da vacina no momento
da administração.
-
40
1.6 A demanda e as etapas limitantes da produção
As organizações são compostas por uma complexa combinação de recursos,
dentre eles o capital humano, equipamentos, instalações, sistemas informatizados
entre outros, onde todos são interdependentes e inter-relacionados seguindo os
mesmos objetivos, no qual seus desempenhos afetam diretamente de forma positiva
ou negativa a organização como um todo (DAVENPORT, 1994).
Para que as organizações obtenham sucesso no negócio e excelência do
desempenho é imprescindível que todas as atividades inter-relacionadas sejam
gerenciadas e compreendidas segundo uma visão de processos (DAVENPORT,
1994).
Por isso é imprescindível que todas as organizações moldem seus processos
com a finalidade de produzirem seus produtos ou prestarem seus serviços com a
melhor qualidade e de maneira mais econômica possível, visto que as condições
econômicas globais estão conduzindo os negócios, objetivando cortar custos. Além
de também por uma questão de sobrevivência no mercado global devido à intensa
concorrência e outras pressões econômicas, acrescentarem outras preocupações,
tais como tempo, flexibilidade e a fundamental satisfação do cliente (HERNANDEZ,
2004).
É fundamental para as organizações que seus processos sejam melhorados
com o objetivo de responder às mudanças que ocorrem constantemente nos seus
ambientes e para se manterem dentro de um ambiente competitivo (PAIM, 2009).
Atualmente, as vacinas de maior demanda em Bio-Manguinhos são as
vacinas sarampo, caxumba e rubéola (tríplice viral) 10 doses e febre amarela 5 e 10
doses (todas liofilizadas) o que torna mais demorada a produção, uma vez que os
processos de liofilização podem durar vários dias.
O ciclo de liofilização da Vacina Febre Amarela tem duração de,
aproximadamente, dois dias. Já a vacina sarampo, caxumba e rubéola tem o ciclo
mais longo de todos os produtos com cerca de quatro dias.
Bio-Manguinhos dispõe de seis liofilizadores: 4 alocados na Seção de
Vacinas Liofilizadas e 2 na Divisão de Envase Pavilhão Rockfeller.
Com esse cenário, a otimização do tempo de produção, no que diz respeito
às atividades em torno da etapa de liofilização, seria um grande avanço para a
Instituição, uma vez que as demandas são cada vez maiores.
-
41
Uma das etapas que impactam diretamente na disponibilidade dos
liofilizadores para o processamento de lotes é a esterilização. Um ciclo de
esterilização pode ter a duração de cerca de 8 horas, o que representa um dia de
parada de produção para a realização desta atividade.
Outros fatores também devem ser analisados como os gastos embutidos
nesta atividade, tais como energia elétrica, insumos, utilidades (água, vapor) e
geração de horas extras na produção.
Se for analisada uma campanha de vacina sarampo, caxumba e rubéola 10
doses na SEVLI, por exemplo, durante 4 semanas, 4 lotes não são produzidos para
que os liofilizadores sejam esterilizados. Este fato é explicado, pois como a UO
dispõe de quatro liofilizadores, contando que todos estejam em operação, a cada
quatro dias de envase, se faz necessária parada da produção por um dia para a
esterilização do liofilizador, já que a cada quatro dias, um liofilizador é descarregado.
Um lote desta vacina tem cerca de 38.000 frascos, o que se traduz em uma
redução de produtividade de cerca de 152.000 frascos de vacina ou 1.520.000
doses que não são entregues em cerca de um mês. No ano de 2013 foram
produzidos cerca de 100 lotes da vacina sarampo, caxumba e rubéola 10 doses na
SEVLI para atender as demandas estabelecidas pelo PNI, o que demonstra a
importância deste produto para o Instituto.
Na DIEVA-PRF, um ciclo de esterilização do liofilizador tem duração de 4 a 5
horas. Considerando-se um mês de campanha da Vacina Febre Amarela 5 doses no
cenário de esterilizações do equipamento a cada lote produzido, ao final da
campanha terão sido realizadas 8 esterilizações por cada liofilizador com cerca de
um total de 40 horas de parada do equipamento. Em um ano serão 480 horas de
parada do liofilizador apenas para sua esterilização e sabendo-se que um lote da
Vacina Febre Amarela 5 doses necessita de cerca de 52 horas para ser processado,
não serão produzidos cerca de 9 lotes de vacina, aproximadamente 378.000 frascos
e um total de 1.890.000 doses em um ano.
Outro fato que gera impacto na produção é que não existe um tempo
validado para o qual os liofilizadores possam permanecer fechados sob condições
específicas de armazenamento. Com isso, caso um liofilizador seja esterilizado para
receber um lote e algum imprevisto ocorra nas etapas anteriores da produção, sendo
a atividade postergada para outro dia, ele deverá passar por uma nova esterilização
-
42
para ser utilizado, conforme descrito em documento interno (BIO-MANGUINHOS,
2012a).
Diante destas limitações e do apelo para aumento de produção, reduzindo
eventuais paradas de produção, são apresentadas a justificativa e o objetivo geral
deste trabalho.
-
43
2 JUSTIFICATIVA
- Adequar as etapas de preparo e esterilização dos liofilizadores às demandas de
produção, possibilitando o planejamento das atividades de modo a proporcionar a
produtividade máxima suportada pelas áreas.
- Oferecer flexibilidade de planejamento de produção com redução de custos para o
Instituto.
-
44
3 OBJETIVO GERAL
- Definir o tempo máximo em que os liofilizadores podem permanecer fechados sob
condições específicas de armazenamento (câmara estanque), após passar por um
processo de esterilização, e ainda sim se manter estéril e apto a ser utilizado para
processamento de um novo lote.
- Definir a periodicidade de esterilização dos liofilizadores durante campanha de
produção de um mesmo produto, sendo mantida a rotina de sanitizações da câmara
interna do equipamento entre a produção dos lotes, de modo a garantir a qualidade
dos lotes a serem processados sob o aspecto microbiológico.
- Implantar os tempos estabelecidos neste estudo durante a rotina de produção de
vacinas liofilizadas promovendo menos paradas dos liofilizadores.
3.1 Objetivos específicos
- Avaliar o tempo máximo no qual os liofilizadores esterilizados podem ser mantidos
fechados e vazios antes de seu uso na DIEVA-PRF;
- Avaliar o tempo máximo no qual os liofilizadores esterilizados podem ser mantidos
fechados e vazios antes de seu uso na SEVLI;
- Avaliar o número máximo de lotes de Vacina Febre Amarela 5 doses que podem
ser processados nos liofilizadores da DIEVA-PRF, sem que eles sejam submetidos a
um novo processo de esterilização, passando apenas por etapas de sanitização de
suas superfícies, durante campanha de produção;
- Avaliar o número máximo de lotes de Vacina Febre Amarela 10 doses e da vacina
sarampo, caxumba e rubéola 10 doses que podem ser processados nos
liofilizadores da SEVLI, sem que eles sejam submetidos a um novo processo de
esterilização, passando apenas por etapas de sanitização de suas superfícies,
durante campanha de produção;
- Finalmente, aprimorar como um todo o processo produtivo de vacinas liofilizadas
em Bio-Manguinhos, proporcionando redução de custos para a Instituição, aumento
da capacidade de produção, tendo sempre como alvo principal a garantia da
qualidade dos produtos gerados.
- Implantar nova instrução de trabalho (IT) com as novas condições de uso de
liofilizadores contemplando flexibilização da produção com garantia de mesmo nível
de qualidade.
-
45
4 MATERIAL E MÉTODOS
Os liofilizadores de cada UO apresentam características diferentes conforme
descrito no quadro 7. Estas diferenças são observadas na estrutura do equipamento,
nos métodos de esterilização e nos produtos processados.
Quadro 7 - Comparação entre os liofilizadores da DIEVA-PRF e do SEVLI
Característica DIEVA-PRF SEVLI
Quantidade de liofilizadores
2 4
Capacidade em números de frascos
42.500 38.000
Quantidade de prateleiras
8 9
Capacidade por prateleira
6 aros 12 aros
Capacidade máxima de aros
48 108
Método de esterilização
Vapor de peróxido de hidrogênio (LIO I e LIO II)
Vapor puro (LIO III, LIO V e LIO VI) Vapor de peróxido de hidrogênio (LIO IV)
Tempo de esterilização
Cerca de 4 horas Cerca de 8 horas para vapor puro e cerca
de 4 horas para vapor de peróxido de hidrogênio
Produtos processados
Vacina Febre Amarela atenuada 5 doses
Vacina Febre Amarela atenuada 10 doses Vacina sarampo, caxumba e rubéola 10
doses
Tempo do ciclo de liofilização
Cerca de 52 horas Cerca de 52 horas (Vacina Febre Amarela)
Cerca de 83 horas (vacina sarampo, caxumba e rubéola)
Figura 12- Visão frontal da câmara do liofilizador EDWARDS L80/CF na DIEVA-PRF
-
46
Os equipamentos possuem sistema de esterilização com ciclo validado.
Todo o controle dos liofilizadores assim como de sua esterilização é feita de modo
automático.
A esterilização pode ser feita por geração de vapor de peróxido (DIEVA-PRF
e SEVLI - LIO IV) e por vapor puro (SEVLI - LIOs III, V e VI).
A sanitização das estruturas internas do equipamento é feita de forma
manual conforme procedimentos internos validados, sendo executada a cada
descarregamento do equipamento (BIO-MANGUINHOS, 2013; BIO-MANGUINHOS,
2014b).
4.1 Definição dos critérios de avaliação
Os liofilizadores foram avaliados baseando-se em situações pior caso, sendo
considerados aspectos como diferenças estruturais, métodos de esterilização,
tempos dos ciclos de liofilização desempenhados pelo equipamento e métodos de
sanitização aplicados (FDA, 2004; BRASIL, 2006).
Figura 13- Visão frontal da câmara do liofilizador EDWARDS Lyomax 20 na SEVLI
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47
4.1.1 Na DIEVA-PRF
Os liofilizadores da DIEVA-PRF não apresentaram qualquer diferença no
que diz respeito aos aspectos avaliados:
- são idênticos estruturalmente;
- ambos utilizam mesmo método de esterilização (vapor de peróxido);
- ambos processam apenas Vacina Febre Amarela, havendo apenas um ciclo
de liofilização desempenhado pelo equipamento;
- ambos são sanitizados seguindo o mesmo procedimento.
Como a avaliação de pior caso não apresentou diferenças entre os dois
liofilizadores da DIEVA-PRF foram realizadas três corridas consecutivas alternando
os equipamentos, ou seja, não houve necessidade de realização de três corridas em
cada um dos liofilizadores.
O esquema abaixo (figura 14) ilustra a disposição dos liofilizadores da
DIEVA-PRF.
Figura 14- Esquema da localização dos liofilizadores na DIEVA-PRF
As portas para o carregamento de cada liofilizador são ac