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Sociedade & Natureza, Uberlândia, 21 (3): 271--287, dez. 2009 271 Avaliação do potencial interpretativo da Trilha do Jequitibá, Parque Estadual dos Três Picos, Rio de Janeiro Silvia Marie Ikemoto, Moemy Gomes de Moraes, Vivian Castilho da Costa AVALIAÇÃO DO POTENCIAL INTERPRETATIVO DA TRILHA DO JEQUITIBÁ, PARQUE ESTADUAL DOS TRÊS PICOS, RIO DE JANEIRO Evaluation of the interpretative potential of Jequitibá Hiking Trail, Parque Estadual dos Três Picos, Rio de Janeiro, Brazil Silvia Marie Ikemoto Especialista Ambiental da Coordenadoria de Recursos Hídricos (CRHi), Departamento de Gerenciamento de Recursos Hídricos, Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SMA-SP) São Paulo / SP – Brasil [email protected] Moemy Gomes de Moraes Professora adjunta do Departamento de Biologia Geral, Universidade Federal de Goiás Instituto de Ciências Biológicas Goiânia / GO – Brasil. [email protected] Vivian Castilho da Costa Professora Visitante (Adjunta) do Instituto de Geografia (IGEOG), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Departamento de Geografia Física Rio de Janeiro / RJ – Brasil [email protected] Artigo recebido para publicação em 19/05/2009 e aceito para publicação em 23/11/2009 RESUMO: O presente estudo avaliou o potencial da trilha do Jequitibá, Parque Estadual dos Três Picos (RJ), para a sensibilização e conscientização dos seus usuários através da Interpretação Ambiental. Foram utiliza- das as metodologias de caracterização biofísica da trilha, avaliação da trilha quanto a Interpretação Ambiental e o Índice de Atratividade dos Pontos Interpretativos (IAPI). A trilha do Jequitibá foi carac- terizada como de leve dificuldade, curto percurso, com design apropriado para pedestres, sendo os impactos decorrentes do uso considerados mínimos ou controlados. Através do IAPI, pôde-se concluir que é uma trilha altamente atrativa, dotada de uma multiplicidade de recursos interpretativos. Apesar de possuir pontos de interpretação consensuais, estes enfatizam conteúdos biológicos e ecológicos em detrimento dos de cunho histórico e cultural, além de não apresentar roteiros temáticos de interpreta- ção definidos. Embora não atenda a todos os pressupostos da Interpretação Ambiental, a trilha do Jequitibá pode ser considerada com caráter e potencial interpretativo, no entanto, os aspectos frisados devem ser trabalhados de forma a implementar e desenvolver plenamente a Interpretação Ambiental. Palavras-chave: Trilhas interpretativas.Unidades de Conservação. Índice de atratividade dos pontos interpretativos. Interpretação ambiental. ABSTRACT: The present research evaluated the potential of Jequitibá Hiking Trail for the visitor sensitization and

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    Avaliação do potencial interpretativo da Trilha do Jequitibá, Parque Estadual dos Três Picos, Rio de JaneiroSilvia Marie Ikemoto, Moemy Gomes de Moraes, Vivian Castilho da Costa

    AVALIAÇÃO DO POTENCIAL INTERPRETATIVO DA TRILHA DO JEQUITIBÁ,PARQUE ESTADUAL DOS TRÊS PICOS, RIO DE JANEIRO

    Evaluation of the interpretative potential of Jequitibá Hiking Trail,Parque Estadual dos Três Picos, Rio de Janeiro, Brazil

    Silvia Marie IkemotoEspecialista Ambiental da Coordenadoria de Recursos Hídricos (CRHi), Departamento deGerenciamento de Recursos Hídricos, Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SMA-SP)

    São Paulo / SP – [email protected]

    Moemy Gomes de MoraesProfessora adjunta do Departamento de Biologia Geral, Universidade Federal de Goiás

    Instituto de Ciências BiológicasGoiânia / GO – Brasil.

    [email protected]

    Vivian Castilho da CostaProfessora Visitante (Adjunta) do Instituto de Geografia (IGEOG),

    Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)Departamento de Geografia Física

    Rio de Janeiro / RJ – [email protected]

    Artigo recebido para publicação em 19/05/2009 e aceito para publicação em 23/11/2009

    RESUMO: O presente estudo avaliou o potencial da trilha do Jequitibá, Parque Estadual dos Três Picos (RJ), paraa sensibilização e conscientização dos seus usuários através da Interpretação Ambiental. Foram utiliza-das as metodologias de caracterização biofísica da trilha, avaliação da trilha quanto a InterpretaçãoAmbiental e o Índice de Atratividade dos Pontos Interpretativos (IAPI). A trilha do Jequitibá foi carac-terizada como de leve dificuldade, curto percurso, com design apropriado para pedestres, sendo osimpactos decorrentes do uso considerados mínimos ou controlados. Através do IAPI, pôde-se concluirque é uma trilha altamente atrativa, dotada de uma multiplicidade de recursos interpretativos. Apesar depossuir pontos de interpretação consensuais, estes enfatizam conteúdos biológicos e ecológicos emdetrimento dos de cunho histórico e cultural, além de não apresentar roteiros temáticos de interpreta-ção definidos. Embora não atenda a todos os pressupostos da Interpretação Ambiental, a trilha do Jequitibápode ser considerada com caráter e potencial interpretativo, no entanto, os aspectos frisados devemser trabalhados de forma a implementar e desenvolver plenamente a Interpretação Ambiental.

    Palavras-chave: Trilhas interpretativas.Unidades de Conservação. Índice de atratividade dos pontosinterpretativos. Interpretação ambiental.

    ABSTRACT: The present research evaluated the potential of Jequitibá Hiking Trail for the visitor sensitization and

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    Avaliação do potencial interpretativo da Trilha do Jequitibá, Parque Estadual dos Três Picos, Rio de JaneiroSilvia Marie Ikemoto, Moemy Gomes de Moraes, Vivian Castilho da Costa

    awareness through Environmental Interpretation. Several methodologies were used like biophysicalcharacterization, evaluation of environmental interpretation aspects and Interpretative PointsAttractiveness Index (IPAI) of the trail. The Jequitibá Hiking Trail was characterized as light, concerningthe level of difficulty, with a short route, with appropriated design for pedestrians, and the impacts ofpublic use were considered insignificant or managed. Through IPAI, it was possible to conclude that it’sa highly attractive trail, endowed with several interpretative resources. Despite having consensual pointsof interpretation, which emphasize ecological and biological contents at the expense of the historicaland cultural contents, thematic scripts for interpretation are lacking. Although not reaching all Tilden´sassumptions for Environmental Interpretation, Jequitiba Hiking Trail can be seen with character andpotential for interpretation, however, the stressed aspects should be worked in order to fully implementand develop Environmental Interpretation.

    Keywords: Interpretative trails. Conservation Units. Interpretative Points Attractiveness Index.Environmental Interpretation.

    1. INTRODUÇÃO

    Pela riqueza de seus biomas e a sua diversida-de de paisagens, o Brasil apresenta um vasto conjuntode áreas naturais com grande potencial para fortalecero ecoturismo do país, e no intuito de possibilitar o UsoPúblico e a visitação concomitantemente à conserva-ção do patrimônio natural, muitas dessas áreas consti-tuem Unidades de Conservação (UC’s). O planeja-mento e gestão da visitação em áreas protegidas têmcomo grande desafio compatibilizar as demandas deuso dos recursos ambientais com os pressupostos deconservação ambiental, em áreas de elevado valorpatrimonial em biodiversidade. Os ecossistemas sãosusceptíveis a serem comprometidos com a presençado visitante: lixo, pisoteio, barulho excessivo, fluxo aci-ma da capacidade de carga são exemplos de fatorescausadores de efeitos negativos (IKEMOTO, 2008, p. 3).

    O ordenamento da visitação e a Educação eInterpretação Ambiental (IA) têm, nesse contexto, pa-pel fundamental em direcionar as ações do homemsobre o território de forma a minimizar os impactosambientais através do monitoramento e manejo dosrecursos naturais e a sensibilização dos visitantes e dacomunidade do entorno. Além disso, segundo Hanai eNetto (2006, p. 211), programas estruturados devisitação, com roteiros interpretativos adequados, nãosó promovem a conscientização ambiental, como enri-

    quecem a experiência de visitação na natureza, satisfa-zendo as expectativas dos visitantes e auxiliando navalorização dos patrimônios naturais e culturais exis-tentes.

    A Interpretação Ambiental, dessa forma, vemganhando progressivo destaque na gestão de áreas pro-tegidas. Segundo Projetos Doces Matas (2002, p. 13),a IA passou a ter relevância para o planejamento egestão em UC’s a partir da década de 70, momento noqual houve um aumento do interesse pelas atividadesrecreativas em áreas públicas, sobretudo os ParquesNacionais. Assim, os programas de InterpretaçãoAmbiental passaram, então, a integrar os Planos deManejo das UC’s. No Brasil, a IA é atualmente respal-dada nas “Diretrizes para Visitação em UC’s” (BRA-SIL, 2006), documento que apresenta um conjunto deprincípios, recomendações e normas a fim de ordenara visitação em UC’s e reitera a importância da visitaçãocomo vetor de desenvolvimento local e regional e tam-bém como ferramenta de sensibilização da sociedadeatravés da IA.

    Embora a relevância dessas ações seja consi-derada uma meta importante a ser alcançada entre osadministradores, parceiros e órgãos ambientais, “noBrasil, a experiência com a implantação de programaseducativos e interpretativos em áreas naturais protegi-das, principalmente em trilhas interpretativas, é recentee continua restrita” (VASCONCELLOS, 1998, p. 1).

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    Segundo Irving (2002, p. 59), a carência dedados publicados ou sistematizados sobre as áreas na-turais protegidas constitui uma barreira para a corretacompreensão de seus recursos ambientais, culturais esocioeconômicos, e conseqüentemente, para a promo-ção da Educação e Interpretação Ambiental. Ceballos-Lascuráin (1996, apud FRANCO, 2000, p. 78) porsua vez, discute sobre a deficiência de infra-estruturaadequada para a Interpretação Ambiental nos ParquesBrasileiros, e aponta como prováveis razões o desco-nhecimento dos gestores sobre a InterpretaçãoAmbiental e seus benefícios potenciais; o desconheci-mento das diversas técnicas e ferramentas de interpre-tação; a deficiência de recursos humanos capacitadose a falta de estudos e dados locais que permitam pla-nejar e implementar programas de InterpretaçãoAmbiental.

    Em função da relevância do tema e da lacunade informações e estudos sobre a IA, realizou-se nopresente estudo a avaliação do potencial interpretativoda trilha do Jequitibá no Parque Estadual dos TrêsPicos (PETP), RJ, através do Índice de Atratividadede Pontos Interpretativos (IAPI), levando também emconsideração a caracterização e adequação de seu per-curso e o inventário de seus atrativos biofísicos, sócio-culturais e históricos. Através da análise dos dados ob-tidos, buscou-se identificar deficiências quanto à inter-pretação, propor medidas mitigadoras e possíveis so-luções, e contribuir para a efetiva elaboração eimplementação de um Programa de InterpretaçãoAmbiental no PETP.

    1.1. Interpretação Ambiental

    Embora tenha vários conceitos, a IA é um ter-mo de fácil e clara compreensão. Segundo Tilden (1977,p. 8, tradução nossa), a Interpretação Ambiental é

    [...] uma atividade educativa que se propõerevelar significados e inter-relações por meiode uso de objetos originais, do contato diretocom os recursos e de meios ilustrativos, emvez que simplesmente comunicar informaçãoliteral.

    Segundo Projeto Doces Matas (p. 22), a Edu-

    cação Ambiental (EA) tem caráter contínuo, podendoser trabalhada em diversas instâncias, formais ou não-formais, enquanto a Interpretação Ambiental é proje-tada para um momento específico e de curta duração,em ambientes não-formais, representando ainda

    [...] uma alternativa para sensibilizar os vi-sitantes neste curto espaço de tempo disponí-vel em que se encontra em contato com o am-biente natural, na tentativa de aproximá-lodeste meio e finalmente torná-lo mais sensí-vel às questões ambientais relevantes para aconservação da natureza tanto no ambientenatural como no urbano (TALORA et al.,2006, p. 10).

    Apesar de não ser um termo amplamente di-fundido como a “Educação Ambiental”, a Interpreta-ção Ambiental vem ganhando crescente espaço em pro-gramas educacionais vinculados ao turismo, uma vezque possui caráter simultaneamente educativo e recre-ativo. Segundo Corrêa (2006), é comumente realizadaem visitas orientadas sobre os patrimônios histórico,artístico, cultural e natural, tais como áreas naturaisprotegidas (unidades de conservação), museus, cole-ções (artísticas, botânicas, ou zoológicas), empresas ehotéis-fazenda. Através da Interpretação Ambiental,busca-se explorar os recursos do ambiente a fim deinformar e sensibilizar o visitante para a conservaçãodesses patrimônios.

    As atividades interpretativas, apesar de nãoserem pré-definidas ou claramente delineadas, possu-em princípios que as norteiam e as permitem carac-terizá-las como de cunho interpretativo. Tilden (op.cit), considerado um dos pioneiros do estudo da inter-pretação, formulou os seguintes princípios quanto aIA:

    – Seu objetivo não é exatamente o aprendiza-do, mas sim buscar sensibilizar o visitante eestimular a sua curiosidade e seu interesse.

    – É uma arte que combina com muitas outrasartes, além de se basear nos conceitos cientí-ficos. Para atingir e tocar o visitante, a inter-pretação deve ser prazerosa e clara, utilizaruma linguagem simples e se apropriar de di-

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    versos recursos para a transmissão da infor-mação, tais como sons, música, histórias, pla-cas, figuras, jogos, dinâmicas, movimento,humor e vídeo.

    – É de suma importância estabelecer relaçõesentre o que está sendo interpretado com o co-tidiano ou a experiência do visitante, permi-tindo que este se identifique com os temasabordados. Dessa forma, é possível sensibili-zar e tornar a interpretação relevante e signifi-cativa ao visitante.

    – Não se deve limitar na transmissão de infor-mações e conteúdos. Ela deve revelar aquiloque não está explícito, tais como as relaçõesde interdependência, os diferentes níveis depercepção de um mesmo fenômeno ou ambi-ente e os significados do tema trabalhado. Alémdisso, provocar a reflexão e o pensamento crí-tico do visitante, despertando o interesse ecomprometimento do mesmo com local visita-do e o meio ambiente.

    – A Interpretação Ambiental e o planejamentoda atividade devem, portanto, ser diferencia-das em função do público alvo, pois asvivências e experiências de cada visitante sãodistintas.

    – Na interpretação os temas devem ser traba-lhados de forma holística e interligada, deforma a ressaltar as inter-relações existentesentre os elementos que compõem o meio am-biente.

    Ainda segundo o autor, a organização e pla-nejamento permitem que a mensagem seja transmitidade forma direcionada, e o trabalho em temáticas (men-sagem com início, meio e fim) torna claro ao público oobjetivo da interpretação. Dessa forma, otimizam-seas atividades, reduzindo esforços e evitando a disper-são do visitante.

    1.2. A Interpretação Ambiental e as Unidades deConservação (UC’s)

    A Interpretação Ambiental é reconhecida comoestratégica dentro do planejamento e manejo das Uni-dades de Conservação pela sua importância educativae social. No entanto, baseando-se nos princípios deTilden (op. cit.), a Interpretação Ambiental pode serconsiderada incipiente na maior parte das UC’s brasi-leiras. Apesar de muitas das vezes oferecerem ativida-des como palestras, passeios em trilhas e outras ativi-dades recreativas ou educativas, essas, na maior partedas vezes, não estão organizadas em torno de um temainterpretativo e ainda não possuem flexibilidade de formaa atender tipos diferenciados de público. Embora se-jam agregados alguns valores sobre a proteçãoambiental, as informações são trabalhadas de maneirafragmentada e desassociada do cotidiano do visitante.

    A publicação das Diretrizes para Visitação emUC’s (BRASIL, op. cit.), nesse contexto, contribuipara a promoção da IA, estabelecendo parâmetros paraa mesma. Segundo o documento, o projeto de inter-pretação deve ser elaborado de forma participativa,envolvendo a sociedade local, e por uma equipe multi-disciplinar, sendo uma ferramenta de minimização dosimpactos negativos naturais e culturais. Além disso,deve também utilizar uma linguagem acessível ao con-junto dos visitantes, levar em conta os objetivos geraise específicos da UC, e ser fundamentada em informa-ções consistentes sobre aspectos naturais e culturaislocais, visto a particularidade de cada localidade.

    Segundo Sharpe (1982) e Silva (1996), para odesenvolvimento de um programa de Interpretação ple-no em uma UC é necessário levar em consideraçãodiversos fatores, dentre eles: a identificação do públicoalvo, ou seja, a caracterização do perfil do visitante,sua motivação e expectativas em relação à UC; defini-ção clara dos objetivos da interpretação na instituição;realização do inventário interpretativo dos recursos lo-cais, gerando dados estratégicos; a escolha subseqüen-te dos meios e técnicas apropriadas para o público daUC; e a avaliação dos resultados através do monito-ramento, garantindo o aperfeiçoamento e a adequaçãodo programa de Interpretação Ambiental.

    Em Unidades de Conservação, a Interpreta-ção Ambiental pode ser desenvolvida a partir de diver-

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    sos meios, tais como as trilhas interpretativas, o Cen-tro de Visitantes, coleções de fauna e flora, vídeos,painéis e pôsteres, palestras, entre outros (Projeto Do-ces Matas, op. cit.). No entanto, as trilhas constituemo grande alvo da visitação e da Interpretação Ambiental,uma vez que são as únicas vias de acesso possíveis deserem construídas e mantidas nas UC’s, sendo o espa-ço de interação entre o visitante e o meio ambientenatural. As trilhas podem ser caracterizadas de duasformas, segundo as normas internacionais (LIMA,1998, p. 41):

    I. Trilhas de interpretação de caráter educativo,pois consistem em instrumentais pedagógicos,podendo ser: (1) auto-interpretativa ou auto-guiada; (2) monitorada simples ou guiada; (3)com monitoramento/guia associado a outrasprogramações. O percurso deve ser de curtadistância, onde buscamos otimizar a compre-ensão das características naturais e/ou cons-truídas da sequencia paisagística determinadapelo traçado [...].

    II. Trilhas cênicas [...], isto é, trilhas que enfo-cam aspectos e atributos culturais, históricos,estéticos, etc. Possuem longas distâncias e gran-des extensões, sendo consideradas de caráterrecreacional [...].

    Uma trilha interpretativa bem concebida deveser curta e com poucos, mas significativos pontos deparada/interpretação. Percursos longos tornam-se can-sativos e monótonos, e o excesso de paradas prolongaainda mais o tempo de percurso, saturando o visitante.Os pontos de parada e interpretação devem ser atrati-vos e bem delimitados, devendo ser a trilha alargadapara comportar simultaneamente o grupo de visitantessem prejudicar a visibilidade dos atrativos ou da expli-cação do condutor. Segundo Projeto Doce Matas (op.cit., p. 89), recomenda-se uma extensão máxima de1,5km e percurso de 45 minutos para trilhas inter-pretativas, nas quais o objetivo é despertar e manter ointeresse do visitante, apresentando grande diversida-de de elementos ao longo de seu percurso, não deven-do ser visualmente monótono.

    As trilhas, uma vez bem planejadas e maneja-

    das, além de cumprirem a sua função utilitária, permi-tem o contato e recreação da sociedade e possuemenorme potencial educativo, podendo contribuir paraa sensibilização e a conscientização ambiental atravésde um programa adequado de IA. Dessa forma, sãoinstrumentos de grande importância para o planeja-mento e manejo da atividade turística e conservaçãodos recursos ambientais, sendo caracterizadas e anali-sadas de forma mais aprofundada no presente traba-lho, dentre os meios de Interpretação Ambiental.

    2. Caracterização da Área de Estudo

    O Parque Estadual dos Três Picos (PETP) foicriado através do Decreto Lei nº. 31.343 de 05 dejunho de 2002 (RIO DE JANEIRO, 2002), e segundoCampos (2007), constitui a maior UC Estadual do Riode Janeiro, com uma área total de 46.350 hectares,abrangendo os municípios de Nova Friburgo, Silva Jar-dim, Guapimirim, Teresópolis e Cachoeiras de Macacu(FIG. 1).

    Devido a sua expressiva extensão e a grandevariação altimétrica, com cotas entre 100 e 2.330 m, aUC abriga diversas paisagens de grande beleza cênicae possui elevados níveis de biodiversidade. A proximi-dade do Parque aos grandes centros urbanos, comoNiterói e Rio de Janeiro, e sua conexão estratégicacom o circuito turístico serrano (Nova Friburgo,Teresópolis e Petrópolis) corroboram para a sua gran-de potencialidade e vocação educativa e ecoturística.Apesar de sua relevância ecológica, sócio-econômicae ambiental regional, em função de sua recente cria-ção, o PETP ainda possui poucos dados e trabalhoscientíficos desenvolvidos, que são de fundamental im-portância para fornecer subsídios às tomadas de deci-são e elaboração de programas e projetos. Dessa for-ma, por sua importância e pela ausência de dados ouprogramas específicos para o Uso Público e EducaçãoAmbiental, uma das principais trilhas do PETP foi es-colhida como objeto desse estudo.

    As características da trilha do Jequitibá, de curtadistância e de fácil nível técnico, aliado à presença defortes atrativos como o exemplar de jequitibá-rosa(Cariniana legalis Mart.), estimado em mil anos deidade, tornaram a mesma o principal alvo do trabalhode educação e Interpretação Ambiental da UC, sendo

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    selecionada como objeto de estudo dentre outras dosistema de trilhas do PETP.

    3. Metodologia

    3.1 Caracterização biofísica da trilha interpretativa

    A caracterização da trilha do Jequitibá tevecomo objetivo determinar suas características gerais,os impactos ambientais nela presentes, sua adequaçãoquanto ao design para diferentes tipos de público e oseu grau de dificuldade, avaliando sua adequação paraa Interpretação Ambiental. A trilha foi caracterizadaambientalmente por uma adaptação da metodologia deTakahashi (2001) através da análise do corredor, ouseja, através da coleta de dados físicos e ambientaispor locais de amostragem ao longo de seçõesequidistantes ao longo da trilha. Assim sendo, a trilha

    foi divida em seções equidistantes de 10 m, e em cadaseção, foram colhidos dados referentes aos indicado-res de qualidade ambiental.

    Para a medição da distância parcial e total datrilha utilizou-se a trena de fita de 50 metros. Cuidadosforam tomados de forma a minimizar a imprecisão damedição, tais como manter a fita rente ao solo, respei-tar o traçado da trilha e contabilizar as áreas com de-graus. Os dados coletados nas seções foram armaze-nados em fichas de campo (QUADRO 1), sendo me-didos ou contabilizados os seguintes parâmetros, se-gundo metodologia adaptada de Costa (2006):

    • Largura (Lrg) – medida (em metros) a sertomada entre duas estacas de madeira fincadasnas extremidades da trilha com auxílio de trena;• Declividade paralela (Dpl) – medida (emgraus) a ser tomada ao longo da trilha, no sen-

    FIGURA 1. Mapa do Parque Estadual dos Três Picos (PETP).Fonte: Instituto Estadual de Florestas do Rio de Janeiro (IEF/RJ), 2002 apud Ikemoto, 2008.

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    tido de caminhamento com auxílio do clinô-metro;• Declividade perpendicular (Dpp) – medida(em graus) a ser tomada no sentido transversalde caminhamento da trilha com auxílio do cli-nômetro;• Altimetria (Alt) – medida (em metros) da al-titude do local selecionado através do uso doaltímetro;• Número de bifurcações (Nbi) – medida donúmero de bifurcações existentes nas proximi-dades da trilha.• Revestimento do solo – foi avaliado pela aná-lise visual local a área (em cm) do corredor datrilha que apresenta: solo exposto (SE), ou seja,sem vegetação; cobertura vegetal viva (CV);serrapilheira (litter – Lit) e/ou presença deafloramento rochoso (AR).• Lixo (Lx) – número de fragmentos residuais

    de material inorgânico (latas, sacos plásticos,garrafas pet, etc.) encontrados na trilha e seuentorno, na área delimitada para a coleta dedados.• Vandalismo (Vd) – presença de fogueiras,desmatamento, pichações em rochas ou árvo-res, animais mortos ou vestígios de caça, etc.• Erosão (Er) – análise visual da presença dealgum dos tipos de erosão no solo: erosão late-ral (Lat) – provocada pela drenagem pluvial),erosão laminar (Lam – superficial) e erosãoem sulcos (SC) – mais profunda, como ravi-namentos) nas seções da trilha.• Proximidade de drenagem (Dre) – presençade corpos d’água (rios) nas laterais, cruzandoou próximo da trilha.• Calhas ou canaletas de drenagem (CA) – pre-sença de canais de drenagem ou calhas pluvi-ais nas laterais ou cruzando a trilha.

    Para a determinação do grau de dificuldade,foi escolhido o critério da rampa média ao longo dotrecho principal, elaborado por Rocha et al. (2006),sendo consideradas as seguintes classes: Leve (0 –10%); Média (10 – 20%), Difícil (20 – 50%), Muitodifícil (50 – 100%) e Alpinismo (> 100%). Para a aná-lise do design da trilha quanto ao perfil de usuários,foram utilizados os parâmetros estabelecidos porLechner (2006).

    3.2. Caracterização da trilha quanto à Interpreta-ção Ambiental

    Levando em consideração as características

    locais e os objetivos da UC, a trilha do Jequitibá foi ca-racterizada, através de observação em campo, quanto a:

    – Temática: presença de eixo temático, tópi-cos e a condução da interpretação (introdu-ção, desenvolvimento e conclusão);– Pontos interpretativos: caracterização quali-tativa dos pontos;– Presença ou não de recursos interpretativosvariados: conteúdo, clareza, harmonia com omeio, acessibilidade, relevância;– Sinalização (placas e painéis): conteúdo, cla-reza, acessibilidade, harmonia com o meio, re-levância.

    QUADRO 1. Ficha de campo de caracterização ambiental.Fonte: Ikemoto (2008), adaptado de Costa (op. cit.)

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    – Modalidade: guiada, auto guiada ou guiadacom outras programações;– Diferenciação: grau de oferta de atividadespara vários tipos de públicos-alvos.– Atualização: se há e qual a periodicidade dareformulação ou aprimoramento dos temasinterpretativos.

    A partir do levantamento de campo, tambémfoi avaliado se a trilha do Jequitibá é plenamenteinterpretativa segundo os princípios de Tilden (op. cit.)para a Interpretação Ambiental.

    3.3. Avaliação do Potencial Interpretativo da Trilha

    O Índice de Atratividade dos Pontos Inter-pretativos (IAPI), elaborado por Magro e Freixêdas(1998), é um método que busca facilitar a definição depontos de interpretação ao longo de trilhas com finseducativos e interpretativos, principalmente naquelasque possuem vários pontos com características seme-lhantes. No presente estudo, a metodologia do IAPIfoi adaptada de forma a ser aplicada em trilhasinterpretativas já implantadas, a fim de caracterizá-las,avaliar as formas da condução da visitação e levantaros atrativos e as temáticas interpretativas.

    O estudo exploratório inicial da trilha atravésdo levantamento de suas características e o pré-levan-tamento de seus atrativos fundamentou a seleção dos“indicadores de atratividade”. Para a trilha do Jequitibá,foram selecionados os seguintes indicadores:

    a) Proximidade (primeiro plano, médio pla-no e pano de fundo): consideraram-se os ele-mentos que permitiam ao visitante contato di-reto ou toque como em primeiro plano; próxi-mos ao leito da trilha, mas sem contato diretoou toque como em médio plano; e elementosdistantes do leito da trilha como em pano defundo.

    b) Espaço disponível: representa quantas pes-soas a trilha comporta em determinado atrati-vo, sem que se prejudique a qualidade de umavisita guiada.

    c) Visibilidade (inferior, médio e superior):este indicador refere-se à posição do atrativoem relação aos olhos do observador.

    d) Estímulos sensoriais: consideraram-se osestímulos visuais, auditivos, táteis e olfativosque os atrativos proporcionam.

    Elaborou-se uma ficha de campo própria paraa trilha em estudo (QUAD. 2), na qual os pesos dosindicadores foram determinados consensualmente en-tre a pesquisadora e os condutores do Parque, e osvalores de atratividade de cada elemento (Ó) resultamda multiplicação do peso com a intensidade ou abun-dância relativa do atrativo (1= presente, 2= grande quan-tidade e 3= predominante). O elemento era presente,quando pouco expressivo quantitativamente e visual-mente; relevante ou abundante quanto sua amostra erasignificativa quantitativamente ou se destacava visual-mente; e predominante quando dominava e se desta-cava expressivamente na paisagem local. A soma total(ÓTt) corresponde ao valor da atratividade de um pontointerpretativo, ou seja, a soma da atratividade dos ele-mentos presentes em um mesmo local ou em umamesma distância.

    O IAPI foi aplicado nos funcionários que con-duziam visitas guiadas, de forma a avaliar as formas ea qualidade da visitação e Interpretação Ambiental re-alizada pela equipe da Unidade. O IAPI também foiaplicado a uma equipe externa composta por acadêmi-cos (dois geógrafos e dois biólogos) não ligados aoPETP, buscando comparar diferentes visões e possibi-lidades de condução dos visitantes. Assim como reali-zado por Costa (op. cit), foram mensuradas as distân-cias dos pontos de atratividade em relação ao início datrilha, inventariados os recursos ambientais e culturais,e avaliados possíveis temas voltados à InterpretaçãoAmbiental a serem aplicados para cada ponto, subsidi-ando a elaboração do inventário interpretativo (QUA-DRO 2).

    Os atrativos levantados no IAPI foram orde-nados através de uma adaptação do método deranqueamento (Albuquerque e Guimarães, 2004) paradeterminar quais são as classes de atrativos existentese quais mais se destacam dentro da trilha a partir dapercepção dos observadores (guias e acadêmicos), for-

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    necendo subsídios para a escolha de atrativos ou espé-cies símbolos da UC. Os atrativos inventariados foramagrupados em categorias em função da espécie ou si-milaridade, ordenadas em ordem decrescente em fun-ção da atratividade total. A atratividade totalcorresponde à soma do valor de atratividade (Ó) atri-buído pelos observadores aos atrativos da categoria.

    4. RESULTADOS

    4.1. Caracterização biofísica da trilha do Jequitibá

    Segundo relatos dos moradores locais e dospróprios funcionários, a trilha já existia muito antes dacriação do PETP, sendo frequentemente visitada emfunção do jequitibá-rosa (Cariniana legalis Mart.) eintensamente impactada pela ausência de manejo emanutenção. O PETP atualmente desenvolve ativida-des de implantação, manejo e monitoramento das tri-lhas, que têm alcançado bons resultados. Entre as prin-cipais ações desenvolvidas observadas, pode-se citar:alteração do traçado de forma a minimizar os impac-tos provocados pelo uso da trilha; limpeza e manuten-ção periódica do corredor; medição do grau de erosão;confecção e manutenção de drenos e canaletas e onivelamento da trilha através da implantação de de-graus de madeira reaproveitada.

    Atualmente, a trilha possui a média de quatrodrenos a cada 100 metros e não possui sinais de ero-são laminar, lateral ou em sulcos, sendo o piso recobertoe protegido por serrapilheira em toda sua extensão.

    Dessa forma, os impactos do uso da trilha podem serconsiderados mínimos e/ou controlados. No entanto,verificou-se a incidência de vandalismo dos últimos 10metros da trilha, com destaque para as pichações egravação de nomes nas árvores adultas adjacentes àtrilha e no próprio jequitibá-rosa.

    A trilha do Jequitibá é, segundo a classificaçãode Andrade (2004, p. 248), uma trilha linear, ou seja,o caminho da ida é o mesmo da volta, sendo por issomenos atrativa e exposta aos impactos da visitaçãomais intensos. O percurso passa por terrenos poucoondulados e de baixa altitude, variando entre 410 a430 m (FIG. 2), cuja largura média do piso é de 1,02m.O tempo médio de percurso guiado é de 40 minutos,num percurso total de 580m (ida e volta). Possui ex-tensão total de 290m, declividade paralela máxima de15º e perpendicular máxima de 11º, sendo tanto adeclividade paralela média e perpendicular média infe-rior a 7% (4,1º e 3,3º, respectivamente). Segundo oparâmetro da rampa média, portanto, é consideradacomo uma trilha leve, uma vez que possui declividadeinferior a 10%. A trilha é apropriada para pedestres,mas inadequada para cadeirantes e para outros tiposde uso segundo Lechner (2006).

    A trilha do Jequitibá, portanto, devido à ade-quação quanto ao design, ao baixo nível de dificulda-de e riscos, a curta distância, ao rápido tempo de per-curso e aos impactos ambientais mínimos e devida-mente controlados, pode ser considerada comobiofisicamente adequada para a Interpretação Ambientale a visitação em geral.

    QUADRO 2: Ficha de campo do IAPI. Legenda: Pt- ponto, Par- distância parcial, Tot- distância total; Inf- inferior, Md- médio, Sup-superior; 1p- primeiro plano, md- médio plano, fnd- plano de fundo; Vis- visual, Au- auditivo, Ta- tátil, Ol- olfativo; Ó – soma , ÓTt- somatotal. Os pesos são multiplicados pela intensidade do atrativo, onde 1= presente; 2=grande quantidade; 3= predominanteFonte: Ikemoto (2008), adaptado de Costa (op. cit.)

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    4.2. Quanto à Interpretação Ambiental

    A trilha do Jequitibá apresenta cinco pontos deinterpretação delineados, marcados pela presença deplacas informativas e do alargamento do corredor datrilha.

    – Primeiro ponto (entrada): há, nesse local, umaplaca que indica o percurso, a distância, dura-ção e os atrativos da trilha, além de dar reco-mendações de conduta em áreas naturais pro-tegidas (FIG. 3A).

    – Segundo ponto: é marcado pela placa “Solo”,que descreve o processo de formação dos so-los e da dinâmica da vida existente no mesmo,e um terrário, que representa o modelo daestratificação do solo (FIG. 3B).

    –Terceiro ponto: é marcado pela presença deum riacho que atravessa perpendicularmente atrilha, e a placa “ciclo hidrológico”, que des-creve a importância das matas ciliares para aintegridade dos rios, esquematizando o cicloda água (FIG. 3C).

    – Quarto ponto: é marcado pela presença da

    placa “Formações rochosas” e uma gruta (FIG.4A). A placa conceitua o que é rocha, descre-ve o seu processo de formação, discorre sobreas plantas rupícolas e caracteriza os tipos derochas presentes na trilha.

    – Quinto ponto: é marcado pela presença deespécime de jequitibá-rosa (Cariniana legalisMart.), estimado em 1000 anos de idade, comaproximadamente 40 metros de altura e 19metros de circunferência na base do tronco(FIG. 4B), dados indicados por uma placainterpretativa próxima à árvore (FIG. 4C).

    A trilha do Jequitibá é diversificada quanto asua paisagem, apresentando recursos diferenciadoscomo cursos d’água, rochas e o singular espécime dejequitibá. Além disso, as placas interpretativas e a infra-estrutura rústica agregam atratividade e demarcam ospontos de interpretação. No entanto, alguns pontos deparada e interpretação devem ser readequados paracomportar grupos de visitantes e escolas. O terceiroponto (FIG. 3C) pode ser considerado crítico, umavez que não há o alargamento da trilha, o que promo-ve o pisoteio do leito do córrego (apesar de existir umapinguela/ponte) e prejudica a visualização do intérprete.

    Devido à presença das placas, a trilha pode ser

    FIGURA 2. Perfil topográfico da trilha do Jequitibá. Os números indicados em graus foram obtidos a partir da média da declividade paralelanum mesmo trecho da trilha.Fonte: Ikemoto (2008).

    -4,3º7,9º

    0º 3,8º

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    FIGURA 3: A. Entrada da trilha do Jequitibá indicada por um portalde bambu e placa interpretativa que oferece informações sobre a trilhae normas de visitação. B. Placa interpretativa sobre a formação dosolo e sua importância para a floresta. Condutor interpretando o terrá-rio. C. Córrego que atravessa perpendicularmente a trilha, placa inter-pretativa sobre o ciclo da água. Fotos: Silvia Marie Ikemoto, jul/2007.

    FIGURA 4: A. Placa interpretativa de “Formações Rochosas”. Gruta repleta de plantasrupícolas. B Jequitibá-rosa, (Cariniana legalis Mart.), com idade estimada em aproxima-damente mil anos, placa interpretativa. C. Detalhe da placa “jequitibá-rosa”.Fotos: Silvia Marie Ikemoto, jul/2007.

    A B

    C

    A

    B C

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    considerada tanto autoguiada quanto guiada, o que per-mite o uso da trilha por diferentes perfis de visitantes.No entanto, requer a presença de um intérprete deacordo com o perfil e grau de compreensão do visitan-te, uma vez que as informações disponibilizadas nasplacas possuem linguagem técnica, se limitam a trans-mitir conteúdos ecológicos simplificados.

    O intérprete ou educador, nesse contexto, devepreocupar-se em levantar questionamentos, perguntase curiosidades, de forma a incitar a reflexão. Tópicoscomo aspectos socioeconômicos, históricos e culturaisdo parque; os serviços florestais prestados para a soci-edade; potencial medicinal da flora do PETP, entreoutros pontos de conexão do conhecimento ambientalcom o cotidiano do visitante devem ser melhor explo-rados.

    Quanto à sinalização, as placas são padroniza-das, de cores suaves e em altura e angulação que tor-nam a leitura fácil e acessível. As trilhas, bem maneja-das e de baixo nível de dificuldade, permitem o uso dopúblico de todas as idades. No entanto, no caso deportadores de necessidades especiais, a sinalização emBraille e a acessibilidade das trilhas para cadeirantesainda não estão disponíveis. O grau de oferta de ativi-dades para diferentes públicos é baixo, pois há poucaoferta de roteiros de visitação guiada ou autoguiadaque atendam públicos diferenciados, tais como pesso-as portadoras de necessidades especiais, público in-fantil e grupos acadêmicos.

    Apesar das instalações turísticas e manejobiofísico adequados, a atividade desenvolvida peloPETP, portanto, não pode ser considerada como ple-namente interpretativa, uma vez que não atende partedos princípios da IA segundo Tilden (1977), devendobuscar explorar mais recursos educativos, estabelecermais relações entre o que está sendo interpretado e ocotidiano do visitante, utilizar linguagem clara e aces-sível e oferecer atividades diferenciadas em função dopúblico alvo.

    4.3. Índice de atratividade dos pontos interpre-tativos (IAPI)

    De forma a descrever e avaliar a atividadeinterpretativa desenvolvida pelo PETP e o potencialinterpretativo da trilha, a partir dos dados levantados

    pela ficha de campo do IAPI, a FIG. 5 apresenta umgráfico que representa o valor de atratividade dos pon-tos interpretativos (representado por ÓTt) atribuídopor cada observador em função da distância percorri-da na trilha, e a tabela 2, na qual os atrativos estãoapontados e ordenados em categorias em função dovalor de atratividade (soma de Ó dos atrativos de de-terminada categoria).

    A partir da análise da FIG. 5, é possível inferirque existe um roteiro consensual de interpretação, umavez que os pontos interpretativos pré-estabelecidos nastrilhas (ponto 1 ao 5) obtiveram unanimemente osmaiores valores de atratividade e foram citados portodos os observadores (intérpretes) e pelo grupo aca-dêmico. Os altos valores de atratividade podem serassociados não só aos recursos naturais existentes, comoàs intervenções realizadas (inserção das placas, alarga-mento da trilha, pinguela) que contribuem paraminimizar a homogeneidade da paisagem e/ou agre-gam informações. No entanto, as diferenças entre osvalores de atratividade atribuídos por cada observadorpara um mesmo ponto foram significativas, (tais comoos pontos 2, 4 e 5) o que indica que, apesar do con-senso, há uma multiplicidade de abordagens e o sub-aproveitamento dos atrativos por alguns condutores.No ponto 4, enquanto alguns abordavam somente agruta e a placa de formações rochosas, outros obser-vadores também indicaram as plantas rupícolas eepífitas e a sua interação com a fauna e o ambiente, adinâmica da sucessão secundária a partir dos monjolos,entre outros, atribuindo altos valores de atratividadenesse ponto.

    No ponto 5, além do jequitibá-rosa e a placainterpretativa, alguns observadores apontaram troncosagredidos e riscados, a partir do qual trabalhariam aconscientização contra essa prática, abordariam a ques-tão histórica da destruição da floresta a partir dojequitibá, atingindo os maiores valores de atratividade.Ou seja, é possível inferir que a atratividade de umdeterminado ponto está relacionada não só aos recur-sos naturais e intervenções, como também na formaque o condutor aborda seus atrativos com diferentestemáticas e assuntos, explorando seu potencial.

    Apesar de existir um consenso sobre os pon-tos interpretativos pré-definidos (pontos 1 ao 5), pode-se perceber uma variação e a identificação de inúme-

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    FIGURA 5: Índice de atratividade dos pontos interpretativos em função da distância. A atratividade foi obtida através da metodologia doIAPI. Pontos interpretativos delineados pelo PETP. Ponto 1: Entrada da trilha e placa interpretativa. Ponto 2: Córrego e placa sobre o“Ciclo da Água”. Ponto 3: Terrário e Placa sobre os “Solos”. Ponto 4: Gruta e placa sobre “Formações Rochosas”. Ponto 5: Jequitibá-rosade aproximadamente 1000 anos e placa interpretativa sobre o mesmo. Pontos alternativos apontados pelos observadores (guias eacadêmicos). Ponto A: Irizeiro e Cedro-rosa sobre pedra. Ponto B: Monjolos. Ponto C: Escadaria cercada de importantes árvores da MataAtlântica.Fonte: Ikemoto, 2008.

    ros outros atrativos entre os guias. Os pontos A, B eC, por exemplo, são considerados altamente atrativospor alguns observadores, e poderiam ser exploradoscomo pontos consensuais e alternativos de interpreta-ção pelos condutores do PETP.

    Pela diversidade de temas abordados pelosobservadores no IAPI, é possível inferir que não háuma organização temática da Interpretação. Os assun-tos são abordados isoladamente pelos funcionários doPETP, de forma aleatória, sem haver necessariamenteuma interconexão entre os mesmos e uma ideia centraldotada de significado. Apesar da grande riqueza deatrativos e as relevantes temáticas apontadas, sem aadoção de um tema norteador, a Interpretação fica li-mitada à transmissão de conteúdos, informações e cu-riosidades sobre o local e seus diversos recursos. Ouseja, embora sejam agregados alguns valores sobre aproteção ambiental, as informações são trabalhadas de

    maneira fragmentada e desassociada do cotidiano dovisitante.

    A escolha do tema de interpretação de umatrilha é fundamental, já que este define e direciona oconteúdo que será abordado, relacionando as diversasinformações em uma mensagem principal, tornando aatividade significativa e clara ao público. Para Ham(1992), os conteúdos devem ser trabalhados em cadaponto de parada de tal forma que, ao final da trilha, osvisitantes saibam ou entendam algo. Por exemplo, aodefinir o tema “Floresta: um sistema integrado” é pos-sível trabalhar os diversos componentes da trilha (solo,água, fauna, flora, homem) e suas inter-relações,objetivando demonstrar ao final da atividade interpre-tativa que a floresta é um sistema integrado, onde ainterferência ou a degradação de um desses compo-nentes levará ao comprometimento de todo o conjun-to. Por sua vez, o tema “A importância da floresta

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    para o homem” daria enfoque aos serviços ambientais damata ciliar e da cobertura vegetal, além dos diversos usospossíveis dos recursos florestais (ritualístico, tecnoló-gico, alimentício, medicinal, etc.), objetivando demons-trar a importância da proteção das áreas naturais aoser humano. A definição de roteiros foge ao escopodeste trabalho, uma vez que deve estar incluída dentrode um Plano de Interpretação Ambiental do PETP.

    A TAB. 1 indica, por ordem decrescente, arelevância e o potencial para a Interpretação Ambientaldas categorias de atrativos. Destacaram-se o jequitibárosa, gruta e rochas, riacho, terrário, placa inter-pretativa de entrada, espécies florestais como o mon-jolo, irizeiro, cedro-rosa, palmito Jussara e plantasepífitas e rupícolas.

    Os atrativos que não se encaixaram em ne-

    nhuma das categorias anteriores e foram citados so-mente uma vez estão agrupados na categoria “outros”,e reiteram a abordagem interpretativa não consensuale heterogênea entre os observadores.

    Um dos fatos constatados através da tabela 1é que a fauna praticamente não é explorada e valoriza-da na trilha do Jequitibá. Esse fato está associado auma dificuldade geral de explorar o tema devido à dis-tribuição pulverizada dos animais no ambiente, a sus-ceptibilidade da fauna a ruídos e a necessidade de de-senvolvimento da percepção do visitante para “visua-lizá-la”. Isso não impede, no entanto, que se trabalheindiretamente a temática. Entre algumas das alterna-tivas, é possível explorar os sons e rastros, além detrabalhar as interações fauna-flora e fauna-ambientenas trilhas.

    TABELA 1. Ordenamento da categoria de atrativos segundo o valor de atratividade total atribuído pelos obser-vadores (condutores e acadêmicos).

    Categoria de Atrativo Nº. de citações Atratividade totalJequitibá-rosa 23 383Rochas e grutas 10 200Riacho/córrego 7 174Terrário 9 159Entrada (placa interpretativa) 5 135Pau-jacaré ou monjolo 11 95Irizeiro 8 77Cedro-rosa 7 72Manutenção de trilhas 13 63Epífitas e rupícolas 7 59Paineiras 5 46Jussara 4 37Jaqueira 4 31Jequitibá-branco 3 27Figueira mata-pau 3 27Barata d’água 3 26Rabo de Galo 7 23Observação da fauna 3 23Cambuí 3 22Angico 3 19Urtiga 2 14Bromélias 2 12Outros 23 207

    Fonte: Ikemoto (2008)

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    Os temas de cunho sócio cultural foram poucoexplorados e valorizados, sendo enfatizados conteú-dos ligados à flora e ao meio físico. Numa trilhainterpretativa, é extremamente importante ter o cuida-do de não se limitar aos aspectos biofísicos das trilhas,abordando também questões históricas e culturais deforma a buscar associar o conteúdo ao cotidiano doouvinte. Recursos sonoros, táteis e olfativos, apesarde existentes, foram pouco citados e valorizados quantoa sua atratividade, o que demonstra a falta de percep-ção dos guias e observadores para explorar a temáticasensorial, que, além de estimular e enriquecer a expe-riência do visitante, possibilita o trabalho com porta-dores de necessidades especiais.

    Por outro lado, tanto a abordagem do intér-prete quanto a percepção do visitante restringem-semuitas das vezes àquilo que é prontamente visualizável,sendo necessário readequar a escala de observação doselementos e fenômenos para a IA. É possível explorare valorizar não só os organismos de médio e grandeporte, como também os elementos e fenômenos demenor escala. A interação entre as formigas e aembaúba, a relação entre os fungos e o surgimento dasgalhas são alguns tópicos que demonstram possibilida-de e a relevância de se trabalhar com a interpretaçãoem micro-escala na trilha do Jequitibá, podendo agu-çar a percepção do observador e desenvolver no mes-mo o senso de explorar e descobrir o ambiente. Dessaforma, maior atenção deve ser dada às referidastemáticas para que as mesmas possam ser exploradasno PETP de forma a potencializar a InterpretaçãoAmbiental na trilha do Jequitibá.

    A partir das temáticas interpretativas e atrati-vos apontados pelos observadores no IAPI, elaborou-se ainda o inventário interpretativo da trilha do Jequitibá,disponível em Ikemoto (2008), que pode ser utilizadopela equipe do PETP como base para a elaboração deroteiros temáticos múltiplos.

    A totalidade de dados e informações geradaspelo IAPI subsidiaram a elaboração da apostila “Su-gestões de atividades educativas e interpretativas natrilha do Jequitibá”, com a finalidade de traduzir osresultados do presente trabalho em linguagem maisobjetiva e acessível para guias, funcionários da UC eprofessores de forma a amenizar a carência de infor-mações e a incentivar a promoção da IA. O documen-

    to também foi elaborado como uma forma de facilitara aplicabilidade e o retorno das informações para asociedade, sendo cedido ao PETP e ao IEF.

    5. Considerações finais

    Através da metodologia do IAPI, foi possívelcompilar um amplo leque de atrativos e temas de con-dução, resultando em um inventário interpretativo, eatravés dos valores obtidos, selecionar com maiorembasamento os pontos de parada e/ou interpretaçãoe avaliar a atividade interpretativa realizada pelo PETP.Além disso, a técnica permitiu a contribuição de pes-soas com experiência em condução e membros exter-nos de diversas formações, constituindo uma equipemultidisciplinar de observadores, mostrando-se eficaze utilitária para o planejamento da IA.

    Apesar do PETP oferecer atividades comopalestras, passeios em trilhas e outras atividades recre-ativas ou educativas, essas, na maior parte das vezes,não estão organizadas em torno de um temainterpretativo, portanto, a Interpretação fica limitada àtransmissão de conteúdos, informações e curiosidadessobre o local e seus diversos recursos. O alto índice deatratividade e a expressiva quantidade de pontos deinterpretação, apontados pelo IAPI, devem ser apro-veitados, dessa forma, na elaboração de roteiros dife-renciados e temáticos (com poucos, mas relevantespontos interpretativos) que poderão ser alternados, ex-plorados de múltiplas formas e atualizados. Para isso,é essencial que guias e condutores do PETP sejamcapacitados de forma a conhecer as múltiplas formasde abordagem da trilha em questão, enriquecendo a IAe minimizando possíveis incoerências e informaçõesdesconexas entre diferentes intérpretes.

    Intervenções e recursos de baixo custo podemcontribuir no atendimento a tipos diferenciados de pú-blico. Roteiros temáticos adaptados, como a interpre-tação através dos recursos sensoriais da trilha e a pre-sença de estruturas de orientação/guia, tais como cor-das ou meio-fios, são adaptações simples que podemser exploradas na trilha do Jequitibá de forma a pro-mover a acessibilidade. A utilização de materiais alter-nativos como binóculos e lupas, a elaboração e uso deguias de campo, e o desenvolvimento de atividadeslúdicas tais como a contação de histórias, dinâmicas e

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    músicas são exemplos de recursos educativos que po-dem ser facilmente explorados de forma a enriquecera vivência e estimular o visitante.

    Apesar de não atender a todos os princípios daIA, a trilha do Jequitibá pode ser considerada uma tri-lha com caráter e potencial interpretativo, no entanto,os pontos frisados devem ser trabalhados de forma aimplementar e desenvolver plenamente a Interpreta-ção Ambiental. O fato das trilhas não serem considera-das plenamente interpretativas não significa que impe-de que as mesmas cumpram, mesmo que parcialmen-te, função social quanto à conscientização esensibilização. Significa, na realidade, que o potencialda trilha como instrumento de Educação Ambiental éparcialmente explorado.

    As trilhas interpretativas, enquanto um produ-to turístico e meio educativo, devem ser fundamenta-das num conhecimento confiável, preciso e integrado.A diversidade da vegetação e a presença de espéciesde relevância econômica e medicinal são potenciaisatrativos das trilhas, no entanto, não há um levanta-mento oficial da flora do entorno das trilhas do PETP,não estando catalogadas, ou muito menos identificadase sinalizadas, as relevantes espécies vegetais ali pre-sentes. Não há como dissociar a InterpretaçãoAmbiental de outras práticas relacionadas ao plano deuso público da Unidade de Conservação. Por exem-plo, um projeto de instalação turístico adequado (infra-estrutura, acesso e serviços) reflete no projeto devisitação (Interpretação Ambiental), que estarão auxi-liando conjuntamente na conservação de valorizaçãodos recursos naturais e culturais, enriquecendo a expe-riência do turista. A estruturação de programas devisitação devem também contemplar a avaliação dosimpactos desta prática, definindo a capacidade de su-porte da área natural e avaliando os impactos e osefeitos da visitação no espaço natural. Dessa forma,levantamentos das principais espécies vegetais de po-tencial interpretativo presente no entorno das trilhas, aavaliação do Programa de Uso Público e estudos decapacidade de carga e da infra-estrutura turística sãoexemplos de demandas que necessitam ser contempla-das em outros estudos.

    A partir das discussões, análises e dados gera-dos, espera-se ter contribuído para o enriquecimentoda literatura sobre a utilização das trilhas como instru-

    mento educativo e pedagógico e para valorização dosprogramas de IA em Unidades de Conservação, práti-cas recentes, ainda incipientes, mas progressivamentereconhecidas perante suas contribuições. Em específi-co, ao Parque Estadual dos Três Picos, por fornecersubsídios para que se promovam ações no aprimora-mento da Interpretação Ambiental.

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