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Avaliação da qualidade ambiental e proposta de aplicação do modelo DPSIR como subsídio
para o Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas: Estudo de caso na Bacia do Rio
Cotia
Beu, Sandra Eliza1 & Cruz, Evandro Cesar da2
1 Docente do curso de Gestão Ambiental da FMU- Faculdades Metropolitanas Unidas. Mestranda em Ciência
Ambiental no PROCAM- Programa de Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo-USP.2 Docente do curso de Gestão Ambiental FMU- Faculdades Metropolitanas Unidas.
Identificação da área ou sub-área: 3.07.01.00-7 Recursos Hídricos
Resumo
Na bacia hidrográfica do rio Cotia, assim como nas demais áreas de proteção dos mananciais da
Região Metropolitana de São Paulo, há problemas e conflitos entre o uso e ocupação do solo e a
qualidade ambiental dos rios e corpos d’água locais, tendo em vista que na região ocorreu um
intenso crescimento urbano nas últimas décadas. Este crescimento urbano, junto à maior
concentração de impactos ambientais concentra-se nos centros urbanos de Carapicuíba e de Cotia
e nas porções próximo às rodovias Castelo Branco e Raposo Tavares, onde nestes locais o
desenvolvimento ocorreu em grande parte, desacompanhado das provisões de infra-estrutura de
saneamento ambiental e do atendimento por serviços públicos. Esse quadro acentuou os
problemas de poluição do rio Cotia e de seus principais afluentes. Neste trabalho já foram
realizados levantamentos de dados e uma avaliação ambiental da bacia que indicou as áreas mais
críticas em relação à qualidade das águas do rio Cotia e maior concentração de impactos. Além
da avaliação da qualidade ambiental da bacia, propõe-se para o planejamento ambiental da região
a aplicação do modelo DPSIR (Driving forces, Pressures, State, Impacts e Responses)
desenvolvido pela Agência Européia do Ambiente (AEA) e utilizado atualmente pela
EUROSTAT1 nas estatísticas ambientais da União Européia. Este modelo é apresentado neste
estudo como um subsídio para o planejamento ambiental de Bacias Hidrográficas. Os objetivos
deste modelo consistem em fornecer informações que alimentem os elementos da cadeia DPSIR,
demonstrando sua interligação e avaliação das respostas.
1 Statistical Office of the European Communities
Abstract
In the Cotia´s river basin and in environmental wetlands systems protection areas of Metropolitan
São Paulo area there are any problems and conflicts between the use and occupation of land and
environmental quality of rivers and water bodies locations, in order that in the region there was
an intense urban growth in recent decades. This urban growth, with the largest concentration of
environmental impacts is concentrated in the urban centers of Carapicuíba and Cotia and portions
of roads near Castelo Branco and Raposo Tavares, in these places where the development
occurred in largely unattended in provisions for infrastructure structure of environmental
sanitation and care for public services. It accentuated the problems of pollution of the Cotia´s
river and tributaries. This work has been made surveys of data and an environmental assessment
of the basin indicated that the areas most critical in relationship to the quality of water of the river
Cotia and greater concentration of impacts. Besides the evaluation of the environmental quality
of the basin, it is proposed to the planning in the region to implement the model DPSIR (Driving
forces, Pressures, State, Impacts and Responses) developed by the European Environment
Agency (EEA) and currently used by the EUROSTAT environmental statistics of the European
Union. This model is presented in this study as a subsidy for the planning of river basin. The
objectives of this model are to provide information that nourish the elements of the chain DPSIR,
demonstrating their networking and evaluation of the answers.
Palavras- Chave
Bacia Hidrográfica, Análise Ambiental, Planejamento Ambiental, Modelo DPSIR, Bacia do rio
Cotia
Keyword
Hydrographical Basin, Environmental Analysis, Environmental Planning, Model DPSIR, the
Cotia´s river basin
Introdução
As bacias hidrográficas são vitais para o estabelecimento e desenvolvimento econômico das
cidades, pois oferecem disponibilidade de água e a proteção dos mananciais. Porém as altas taxas
de urbanização nos centros urbanos aliadas às deficiências de uma política de planejamento
ambiental são as causas principais da degradação ambiental destas áreas. As degradações de
bacias hidrográficas podem ocorrer por diversos fatores como: (i) a urbanização sem
planejamento, (ii) atividades agrícolas e de mineração, (iii) desmatamentos, (iv) obras de
terraplenagem, (v) poluição, (vi) atividades industriais e (vii) a inexistência de práticas de
planejamento e conservação do uso do solo (Benini, 2005). Os processos de urbanização também
afetam negativamente processos de natureza limnológica, ecológica e a qualidade da água nos
corpos hídricos.
Para a realização do planejamento ambiental, a bacia hidrográfica deve ser observada de forma
integrada, considerando seus componentes físicos, químicos, biológicos e sócio-econômicos. A
integração desses componentes constitui-se em um desafio enfrentado por planejadores
ambientais, devido às dificuldades da conciliação de esforços, interesses, necessidades e de
definições de prioridades.
Localização e caracterização da Área do Projeto
A área deste estudo corresponde à bacia do Rio Cotia, afluente do Rio Tietê, região que pertence
à Região Metropolitana de São Paulo (Figura 01). Esta região abrange parte de cinco municípios
da Região Metropolitana de São Paulo (Cotia, Carapicuíba, Barueri, Jandira e Embu) e possui
uma área aproximada de 243,7 km², dividida em duas porções com características peculiares em
relação às suas diferenciações fisiográficas e de estado de conservação ambiental: Alto e Baixo
Cotia (Figura 02).
A região denominada como sistema Alto Cotia sofre pouca interferência antrópica por constituir
a Reserva Florestal do Morro Grande (RFMG), que representa um dos maiores remanescentes
florestais do Planalto Atlântico Paulista, região que foi submetida a fortes pressões de
desmatamento, tanto para agricultura quanto para a exploração de lenha e do carvão e mais
recentemente para a expansão imobiliária (Metzger, et.al, 2006). A área protegida da RFMG
corresponde às cabeceiras do Rio Cotia, e desde 1916, com a construção das represas Pedro
Beicht e Cachoeira da Graça, esta área contém o Sistema Produtor do Alto-Cotia, gerenciado pela
SABESP, responsável pelo fornecimento de água para cerca de 400-500 mil habitantes da Grande
São Paulo.
Já no sistema Baixo Cotia o cenário se apresenta de forma diferente: por falta e insuficiência de
medidas de proteção na bacia hidrográfica, os corpos hídricos deste sistema sofreram intenso
processo de contaminação de suas águas e assoreamento, originados por diferentes formas de
ocupação não-planejada e desordenada, ausência de infra-estrutura de saneamento e atividades de
comércio e indústria, resultando no comprometimento da qualidade de tratamento da água.
Figura 1: Localização da área de estudo.
Figura 02: Bacia do Rio Cotia e subdivisões do Alto e Baixo Cotia
Baixo Cotia
Alto Cotia
Objetivos
- Identificar a presença de aspectos responsáveis pela problemática ambiental na Bacia do Rio
Cotia;
- Avaliar os efeitos dos impactos ambientais na qualidade das águas do rio Cotia, em áreas com
ocupações irregulares ao longo do rio Cotia e seus afluentes;
- Indicar espacialmente as áreas ambientalmente críticas na Bacia.
- Propor o uso do modelo DPSIR para integração dos indicadores ambientais e avaliação de suas
respostas.
Metodologia
Para avaliação da qualidade ambiental da bacia do rio Cotia foram realizadas as seguintes etapas
metodológicas: (1) Levantamento de Dados e Definição das Escalas de Trabalho para cada área
temática; (2) Análise e Espacialização de Dados para Elaboração de Mapas Temáticos; e (3)
Reconhecimento das Áreas Vulneráveis. Cada etapa será descrita com detalhes a seguir.
(1) Levantamento de Dados e Definição das Escalas de Trabalho
Para organização dos indicadores, adotamos a análise do
estado do meio, através da avaliação da qualidade da água, da
cobertura vegetal e da ocupação urbana na região. Para
análise dos dados na bacia as escalas de trabalho utilizadas
variaram de 1:10.000 a 1:25.000. Para facilitar a análise das
informações, foram definidos limites de acordo com as
microbacias existentes. Os limites das microbacias foram
definidos de acordo com o estudo realizado pelo SABESP2
(1997), complementados com as informações dos limites
das bacias de esgotamento da SABESP (op.cit). Nesta
perspectiva de trabalho, a bacia do rio Cotia foi delimitada
em 51 microbacias, sendo 34 na região do Baixo Cotia e 17 no
Alto Cotia (Figura 03). Esta subdivisão facilitou a análise da
área de estudo, possibilitando a identificação de diferentes ações de pressão antrópica em um
2 Cia. de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
Figura 03: Microbacias
mesmo município, de acordo com as suas diferenças de usos do solo. Para avaliação da qualidade
das águas foram considerados os valores dos parâmetros de qualidade da água analisados pela
CETESB3 em sua rede de monitoramento na bacia. Os dados sócio-econômicos foram obtidos a
partir do levantamento de dados do IBGE4 e os dados de uso da terra foram obtidos através de
estudos da EMPLASA5.
(2) Análise e Espacialização de Dados para Elaboração de Mapas Temáticos
A espacialização de dados é uma etapa fundamental para o Planejamento Ambiental, atuando
como instrumento facilitador para visualização de dados de uma forma simplificada, auxiliando
na compreensão de problemas e tomadas de decisões. Atualmente em estudos de planejamento
ambiental, os dados mapeados são inseridos em um Sistema de Informações Geográficas (SIG).
Os SIG´s constituem uma importante ferramenta para gestão territorial, principalmente na
caracterização das paisagens e na análise de escalas, padrões e processos relacionados com os
fenômenos ambientais, podendo ser aplicado em programas de planejamento, proteção,
recuperação e no monitoramento ambiental. As vantagens do uso de SIG são relacionadas aos
seguintes fatores:
• Atuam como facilitadores no processo de análise de dados e tomadas de decisões;
• Favorecem a visualização e interpretação dos dados para apresentações de resultados e
gestão participativa;
• Auxiliam o planejamento interdisciplinar, onde profissionais de áreas diversas podem
interagir em uma mesma base de dados, realizando a troca das informações.
A análise e a integração dos mapas temáticos foi realizada a partir da sobreposição dos dados no
SIG ArcGis, versão 9.0. Os indicadores sócio-ambientais que foram inseridos neste SIG foram:
aporte de cargas poluidoras, distribuição de renda, densidade da população e presença de áreas
verdes na bacia. A partir dos cruzamentos das informações obtidas, foi possível identificar as
áreas de maior concentração de impactos ambientais, definidas neste estudo como áreas de
vulnerabilidade ambiental.
3 Cia. de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo4 Instituto brasileiro de Geografia e Estatística5 Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S.A.
(3) Reconhecimento das Áreas Vulneráveis
O agrupamento das perspectivas sócio-ambientais foi a base para a elaboração de um modelo
multicriterial, através do cruzamento de mapas temáticos dos indicadores: aporte de cargas
poluidoras, distribuição de renda, densidade da população e presença de áreas verdes na bacia. A
partir dos cruzamentos das informações obtidas, foi possível identificar as áreas de maior
concentração de impactos ambientais, definidas neste estudo como áreas de vulnerabilidade
ambiental.
Além da avaliação ambiental e identificação das áreas críticas da bacia, foi aplicado o modelo
DPSIR (Forças motoras, Pressões, Estado, Impacto e Respostas) deriva do modelo PER (Pressão-
Estado- Resposta). Este modelo foi desenvolvido pela Agência Européia do Ambiente (AEA) e
tem o objetivo de perceber as ligações existentes entre o ambiente através dos indicadores
ambientais e a sociedade através do desempenho ambiental. Os objetivos deste novo modelo de
avaliação consistem em fornecer informação sobre os diferentes elementos da cadeia DPSIR,
demonstrar a sua interligação e avaliar a eficácia das respostas. A estrutura de funcionamento
deste modelo consiste em 5 etapas integradas entre si:
i. Drivers: causas subjacentes que levam a pressões ambientais
ii. Pressures: pressões ambientais que surgem como conseqüência das diretrizes
sócio-econômicas
iii. State: o estado do ambiente, que é afetado pelas pressões ambientais.
iv. Impact: alterações no estado do ambiente, as quais podem levar a impactos na
saúde humana, nos ecossistemas, na biodiversidade, na valoração econômica etc.
v. Response: demonstram os esforços da sociedade através dos políticos e decisores
para resolver ou minimizar os problemas identificados.
Esta estrutura é representada a seguir (Figura 04):
Figura 04: Modelo DPSIR (Fonte: EEA 1999)
Resultados e Discussão
O desenvolvimento urbano na Bacia
O interesse na região da Bacia do Rio Cotia surgiu a partir da virada do século, devido ao seu
potencial hídrico voltado para fins de abastecimento de água potável, compondo o chamado
“cinturão caipira” da cidade de São Paulo. Em 1910, uma grave seca na região incentivou o
início dos planos e projetos para a utilização dos recursos hídricos na bacia, com a construção de
barragens. Neste período a região era ocupada por propriedades rurais de médio porte e havia
predominância de capoeiras, campos e pastos na paisagem. Destacava-se na região um sistema de
cultivo de agricultura itinerante (roça e pasto), além da obtenção de lenha e madeira. Os cultivos
dominantes eram: milho, feijão e a batata. Segundo os estudos realizados na bacia (Sabesp, 1992
e 1997; Santos & Rutkowski, 1998; Zuffo, 1998), as causas principais que mudaram a paisagem
rural da região foram:
• A expansão da cidade de São Paulo;
• O desgaste do pela prática agrícola adotada na região;
• O tipo de cultura agrícola praticado (hortigranjeiro).
A partir da década de 50, surgiram outras atividades econômicas na região, impulsionadas
pela especulação imobiliária, como clubes de campo, sítios de recreio e loteamentos. A crescente
industrialização e urbanização dos municípios se implantaram na bacia a partir da década de 60,
juntamente com a falta de uma política ambiental de saneamento até o início da década de 80
(Zuffo, 1998). A partir dos anos 80, o desenvolvimento na região também foi influenciado pela
presença das Rodovias Raposo Tavares e Castelo Branco e de um afluxo de indústrias vindas da
capital e de outros estados. No município de Cotia desenvolveu-se um pólo industrial, ao longo
da Rodovia Raposo Tavares, com a presença de indústrias de vários ramos de atividades. Neste
processo de expansão urbana na região, a indústria foi aos poucos ocupando o espaço das
atividades hortifrutigranjeiras que predominavam na bacia, principalmente no município de
Cotia. Em conseqüência, ocorreu na região uma intensa valorização das propriedades,
principalmente nas áreas mais próximas a São Paulo.
A partir daí, o crescimento da região ocorreu por ações desordenadas, com resultados de
pressões advindas da cidade de São Paulo e como conseqüência, as águas foram utilizadas de
acordo com a necessidade de cada setor, sem o planejamento adequado, transformando as águas
do rio Cotia em esgoto a céu aberto. A especulação imobiliária concentrou-se na porção norte,
pois a porção sul já tinha sido considerada, desde o início do século, como reserva de mananciais
e de madeira para a estrada de ferro que corta a região (Santos & Rutkowski, 1998).
A partir da década de 80, a poluição do Rio Cotia chegou a níveis tão elevados que obrigou a
SABESP6 a interromper o abastecimento de água para as cidades de Barueri, Jandira, Itapevi e
Carapicuiba, por várias vezes, em um período aproximado de 40 dias (agosto e setembro de
1984), atendidas pelo Sistema Produtor do Baixo Cotia. A água apresentava altos índices de
fenóis e outros poluentes não identificados (Zuffo, 1998).
Crescimento Populacional e Densidade Demográfica
Segundo os dados do IBGE7 (2000), a população residente na bacia é de aproximadamente
323.711 mil habitantes (Tabela 01). De acordo com estes dados, os municípios que apresentaram
maiores taxas de crescimento populacional no período de 1991 a 2000 foram: Barueri (1,63%),
6 Cia. De Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo
7 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
seguido dos municípios de Jandira (1,46%) e Cotia (1,41%). As áreas de maior concentração
demográfica da bacia estão presentes nos municípios de Carapicuíba e Barueri (Tabela 02). Em
Cotia, a ocupação concentra-se na região do Baixo Cotia, nas áreas próximas aos núcleos urbanos
e nas proximidades das indústrias, localizadas ao longo de toda a extensão da Rodovia Raposo
Tavares até a sede do município de Cotia (figura 05).
Tabela 01: Evolução do crescimento populacional na bacia do rio Cotia** (1991 a 2000)
MUNICÍPIO POP. 1991 (TOTAL)POP. 1991 NA
BACIAPOP. 2000 NA BACIA
TC *(%)
1991-2000Barueri 130.799 16.190 32.411 1,63
Carapicuíba 283.661 144.805 182.663 1,25Cotia 107.453 78.399 99.798 1,41
Jandira 62.697 3.249 2.931 1,46Embu 155.990 5.272 5.908 1,35Total 740.600 247.915 323.711 7,1
* Taxa de Crescimento. ** Segundo o IBGE (2000), não há população rural nestes municípios. Fonte: IBGE, Censo 2000.
Tabela 02: Densidade Demográfica nos municípios da bacia
MUNICÍPIO DENSIDADE (hab/km²)Barueri 34,88
Carapicuíba 92,42Cotia 4,95Embu 3,46Jandira 4,23Total 12,72
Fonte: IBGE, 2000
Principais problemas ambientais
Os principias problemas ambientais (degradação ambiental,
poluição, supressão vegetal, etc.) e socioeconômicos (altas
densidades demográficas, ausência de infra-estrutura e áreas com
intensa urbanização não planejada) ao serem analisados
conjuntamente, possibilitaram a identificação das seguintes áreas
críticas:
- Município de Carapicuíba: as microbacias localizadas na
margem direita do rio Cotia correspondem às áreas mais densamente urbanizadas e verticalizadas
de toda a bacia do rio Cotia. Nestas micro-bacias, também se concentra o maior número de
Densidade (hab/ha)
Baixa Densidade
Média DensidadeAlta Densidade
Fonte: Setor Censit[ario IBGE, 2000
Figura 05: Densidade populacional na bacia
favelas e loteamentos irregulares, na sua maior parte desprovidos de infra-estrutura de
saneamento, sendo uma das principais fontes responsáveis pela geração de poluição que aflui ao
rio Cotia.
- Microbacias 15, 18, 26, 27A, 33C e 33D no município de Cotia: Estas micro-bacias são áreas
predominantemente urbanizadas e, em grande parte dos casos, desprovidas de interligações ao
sistema de coleta e tratamento dos esgotos sanitários, configurando-se numa das principais fontes
de poluição do rio Cotia (microbacia 15, 18, 33C e 33D), Ribeirão das Pedras (microbacia 26) e
Córrego Potium (microbacia 27A). O Ribeirão Moinho Velho e o Córrego Marmeleiro também
possuem problemas com relação a cargas pontuais – inclusive industriais -, verificados ao longo
de toda a microbacia 27B, no município de Cotia. Essas microbacias, assinale-se, também
coincidem com a região de maior densidade industrial, ao longo do eixo da rodovia Raposo
Tavares.
No Baixo Cotia, os municípios que apresentaram maiores problemas ambientais foram
Carapicuíba e Cotia. Sendo que em Cotia, as áreas criticas se concentram no eixo próximo a
Rodovia Raposo Tavares, em áreas próximas a industrias. Em Barueri, o território do município
inserido na bacia constitui-se de uma área militar e com baixa urbanização. Em Jandira as áreas
criticas estão concentradas no bairro Jd. São João, abrangendo uma pequena porção do município
inserida na bacia. Os problemas detectados na Bacia normalmente se associam à problemas na
infra-estrutura urbana e nas deficiências no planejamento urbano da região.
Qualidade das Águas
Diversos estudos que alertavam sobre os problemas referentes à má qualidade das águas na
porção do Baixo Cotia já foram realizados (SABESP, 1992; SABESP , 1997; Santos &
Rutkowski, 1998; Zuffo,1998 e 2002) e algumas ações de melhorias ambientais já estão sendo
realizadas na bacia, como as ações do Projeto Tietê8 e do Programa Manancias9, que constituem
8 Constituiu de um conjunto de ações integradas para melhoria da qualidade das águas da bacia do Alto Tietê sob coordenação do Governo do Estado de São Paulo.9 O Programa Mananciais trata-se de um conjunto bastante amplo de ações voltadas ao desenvolvimento urbano, à promoção social e à proteção ambiental, tendo para o abastecimento público da Região Metropolitana de São Paulo. A iniciativa de sua preparação e futura implantação é de ordem multi-institucional, com a participação cooperativa de onze diferentes organizações públicas, pertencentes a esferas distintas de governo: SSE – Secretaria Estadual de Saneamento e Energia (antiga Secretaria de Energia, Recursos Hídricos e Saneamento – SERHS), Secretaria do Meio Ambiente - SMA, Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – SABESP, Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano – CDHU, todas vinculadas ao Governo do Estado de São Paulo, e Prefeituras Municipais de São Paulo, São Bernardo do Campo, Santo André, Diadema, Guarulhos, Mogi das Cruzes e Suzano.
um conjunto de ações para melhorias no desenvolvimento urbano e saneamento na bacia. A
importância na preservação desta área é relacionada principalmente em sua importância como
manancial de abastecimento urbano, responsável pelo atendimento a vários municípios da região
e a aproximadamente 550 mil pessoas da Zona Oeste da Região Metropolitana de São Paulo.
A qualidade das águas da bacia do Rio Cotia começou a
apresentar problemas a partir da década de 60, devido à
crescente urbanização e industrialização dos municípios que
compõem a bacia, associados à falta de políticas ambientais
na região. A partir da década de 80, a poluição das águas no
rio Cotia chegou a níveis elevados, prejudicando, inclusive,
o abastecimento de água para as cidades atendidas pelo
Sistema Baixo Cotia (como ocorreu por exemplo nos meses
de agosto e setembro de 198410). A partir deste período
foram iniciadas diversas ações para tentar reduzir as cargas
poluidoras na bacia, porém as mesmas se mantiveram em
níveis elevados. A qualidade da água no Rio Cotia serviu
como principal indicador dos impactos na região. Nesta
avaliação foram utilizados os dados dos Relatórios de
Qualidade das Águas Interiores do Estado de São Paulo, elaborados pela CETESB no período de
1992 a 2005. A análise destes dados ao longo do Rio Cotia diagnosticou acentuada piora na
qualidade de suas águas, principalmente no trecho situado à jusante de Cotia, uma vez que tal
ponto recebe os lançamentos de esgotos domésticos e industriais das áreas urbanas do município
(figura 06). No último relatório de qualidade das águas, referente ao ano de 2005, publicado pela
CETESB, a média anual do IAP (Índice de Qualidade da Água para Abastecimento Público) na
região do Alto Cotia foi considerada como boa. No Médio e Baixo Cotia, o IAP permaneceu ruim
ao longo de todo ano de 2005, devido ao aporte significativo de matéria orgânica, contaminação
microbiológica e ausência de oxigênio dissolvido. A porção do Alto Cotia foi identificada como
uma região com boa qualidade ambiental, por manter grande parte dos seus ecossistemas
preservados e constituir um Sistema de Produção de Água de excelente qualidade para a RMSP.
10 Zuffo, A.C.; Santos, R.F. & Dias, E.G.C.S. Proposta Metodológica para a Gestão Integrada da Qualidade das Águas. XXVIII Congreso Interamericano de Ingeniería Sanitária y Ambiental. Cancún, México, 27 al 31 de octubre, 2002.
Boa (IAP), Regular (IAV)RuimRuim (IAP), Péssimo (IAV)
Fonte: CETESB, 2006
Figura 06: Monitoramento da Qualidade da Água pela CETESB
Já no Baixo Cotia, o cenário foi contrário: esta região acumula impactos nos seus ecossistemas,
devido à ocupação urbana não planejada e poluição nos seus corpos hídricos, prejudicando a
qualidade da água desta região e do Sistema Produtor Baixo Cotia. Durante o desenvolvimento
deste trabalho, as áreas críticas identificadas na bacia foram mapeadas, facilitando a identificação
das áreas críticas por microbacia.
Síntese de resultados
A tabela 03 a seguir demonstra a síntese de resultados da avaliação multicriterial na Bacia do Rio Cotia:
Tabela 03: Síntese de resultados
INDICADORES FONTES DEDADOS
PARÂMETROS DEANÁLISE
DIAGNÓSTICODE
ÁREAS COM MAIOR VULNERABILIDADE
SOCIAL DENSIDADE SetoresCensitários:
IBGE.
- Alta Densidade: 150 a 2250 hab/ha;
- Média Densidade:50 a 150 hab/ha;
- Baixa Densidade:0 a 50 hab/ha.
Maiores densidades no Baixo Cotia com alta concentração urbana.
BIÓTICO VEGETAÇÃO Imagem Landsat,Embrapa
- Áreas preservadas;- Áreas com interferência
antrópica;- Áreas urbanas.
Alto Cotia: vegetação preservada;Baixo Cotia: áreas urbanas
degradadas.
FÍSICO-QUÍMICO IVA/ IAP CETESB
Áreas com qualidade boa, média e ruim Cargas poluidoras concentradas no
Baixo Cotia.
O mapeamento do uso do solo na bacia que indica as áreas mais urbanizadas é demonstrado na figura 05. De acordo com os dados levantados e integrados entre si no SIG, foi elaborado um mapa (Figura 06) que indica as áreas com maior concentração de problemas sócio-ambientais na bacia. Estas áreas foram hierarquizadas em níveis de vulnerabilidade (alta, média e baixa) para facilitar a visualização e interpretação.
Figura 06: Áreas Ambientalmente Vulneráveis
Baixa vulnerabilidade
Média vulnerabilidade
Alta vulnerabilidade
Fonte: EMPLASA, 2003
REFLORESTAMENTO
MATA
CAPOEIRA
CAMPO
VEGET. DE VÁRZEA
ÁREA URBANIZADA
INDÚSTRIA
FAVELA
LOT. DESOCUPADO
EQUIPO. URBANO
HORTIFRUTIG.CHÁCARA
ESPELHO D'ÁGUA
MOV. DE TERRA
RODOVIA
MINERAÇÃO
ATERRO SANITÁRIO
OUTROS USOS
Figura 05: Uso do Solo (EMPLASA, 2002)
A aplicação do modelo DPISR para a Gestão de Recursos Hídricos e integração de
indicadores sócio-ambientais pode ser observada na figura 05, a seguir:
Figura 05: Aplicação do modelo DPISR para a Gestão de Recursos Hídricos e
integração de indicadores sócio-ambientais
Neste modelo foram evidenciados os principais indicadores que podem subsidiar os
processos de planejamento na bacia. A estrutura integrada do modelo facilita a
visualização e a compreensão das relações causais de impactos em bacias hidrográficas.
Valor investido ou financiado e contrapartidas do estudo
Não há
Fonte(s) de financiamento(s) externa(s) à Universidade
Não há
Financiamento interno (Universidade - estimar custos indiretos)
Não há
16
Alcance dos resultados em termos de contribuição para a sustentabilidade da
Bacia do Alto Tietê
O presente estudo visa colaborar para os seguintes aspectos: dimensão ecológica ou
biofísica, contribuindo para o levantamento de dados ambientais da bacia, na
sustentabilidade social, com contribuições referentes ao uso dos recursos hídricos e sua
qualidade no abastecimento dos sistemas Produtores de Água na Bacia e na
sustentabilidade político-institucional, auxiliando no estabelecimento de ações
prioritárias e de medidas de planejamento ambiental na bacia.
O levantamento de dados e análise ambiental da região demonstrou que na bacia há uma
série de problemas ambientais concentrados na porção do baixo Cotia e que há
necessidade de um estabelecimento de projetos na região. A estrutura demonstrada do
modelo DPSIR pode ser aplicada na bacia do Rio Cotia para o processo de organização
do planejamento e a inserção de indicadores de monitoramento da região. Além disto os
dados levantados e espacializados no banco do SIG ArcGis podem subsidiar a
realização de um banco de dados que poderá ser atualizado e utilizado para o
monitoramento da qualidade ambiental da região e na eficiência de planos de ação na
bacia.
Potencial de difusão da metodologia e da experiência para comitês de bacia
hidrográfica em São Paulo e no Brasil, prefeituras municipais e órgãos estaduais
com atuação regional na área metropolitana de São Paulo.
A metodologia de análise integrada, através do uso do modelo DPSIR poderá ser
facilmente compreendida e manipulada em relação à inserção de dados e indicadores de
monitoramento para o comitê de bacias. A análise integrada de dados facilita a visão das
causas, impactos e das respostas do meio em relação às ações. Esta análise tem uma
estrutura simples e prática que facilita a difusão da metodologia ao comitê de bacia da
região e às Prefeituras Municipais e os dados que podem ser inseridos no modelo
podem ser levantados através de pesquisas na região. O mapeamento das áreas críticas
realizado no estudo facilitará a identificação das áreas prioritárias para a implementação
de ações e propostas.
17
Principais dificuldades na realização do projeto:
Houve uma dificuldade inicial na obtenção de alguns dados, principalmente dados
georreferenciados que pudessem ser incorporados no banco de dados SIG.
Referências Bibliográficas
BENINI, R.M. Cenários de ocupação urbana e seus impactos no ciclo hidrológico na
bacia do Córrego do Mineirinho. Escola de Engenharia de São Carlos (EESC). Ciências
da Engenharia Ambiental. Dissertação de Mestrado. São Carlos-SP. 2005.
CETESB. Relatório de Qualidade das Águas Interiores do Estado de São Paulo.
Disponível em: www.cetesb.sp.gov.br
EMPLASA. Mapa de Uso e Ocupação do Solo da Região Metropolitana de São Paulo e
Bacia do Alto Tietê. 2002. Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano-
EMPLASA.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo 2000. Disponível em:
www.ibge.gov.br
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Reservatório Pedro Beicht e Cachoeira da Graça. Sistema Alto Cotia. Região
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