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Anais 5º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Campo Grande, MS, 22 a 26 de novembro 2014 Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p. 336 336 -346 Avaliação da vulnerabilidade ambiental da bacia hidrográfica do córrego indaiá, Aquidauana-MS Bruno Gonçalves Mendonça¹ Vitor Matheus Bacani¹ ¹Universidade Federal de Mato Grosso do Sul- UFMS/ CPAq- Unidade II R. Oscar Trindade de Barros, s/n- Caixa Postal 792000-000 Aquidauana- MS, Brasil [email protected] [email protected] Resumo. A bacia hidrográfica do córrego Indaiá localiza-se na região sudoeste do município de Aquidauana-MS, e apresenta uma área de aproximadamente 94,97 Km². Recentemente, o uso e ocupação do solo no córrego Indaiá passou por uma expressiva transformação em função da instalação do primeiro complexo de assentamento rural do município de Aquidauana-MS. Este trabalho teve como objetivo a avaliação da vulnerabilidade ambiental da bacia hidrográfica do córrego Indaiá em Aquidauana-MS. O procedimento teórico metodológico constituiu-se na proposta dos quatro níveis de pesquisa geográfica de Libault (1971), sob a perspectiva teórica da análise integrada do ambiente, conforme preconizado por Tricart e Kiewietjonge (1992) e Crepani et al. (2001). A partir da média aritmética entre os mapas dos fatores Geologia, geomorfologia, Solos, Vegetação e Clima, foram obtidos os mapas de vulnerabilidade ambiental das unidades de paisagem. Os meios moderadamente estáveis (índice de vulnera- bilidade 1,6 a 1,7) representam 22,12 % da área da bacia; os meios mediamente estáveis/vulneráveis (índice de vulnerabilidade 1,8 a 2,2) ocupam 77,39 % e os meios moderadamente vulneráveis (índice de vulnerabilidade 2,3) ocupam 0,47 % da área total, denotando o predomínio do equilíbrio entre os processos morfogenéticos e pedoge- néticos e a vulnerabilidade média dos solos aos processos erosivos. Palavras- chave: Vulnerabilidade ambiental, assentamento Indaiá, Aquidauana.

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Avaliação da vulnerabilidade ambiental da bacia hidrográfica do córrego indaiá, Aquidauana-MS

Bruno Gonçalves Mendonça¹Vitor Matheus Bacani¹

¹Universidade Federal de Mato Grosso do Sul- UFMS/ CPAq- Unidade IIR. Oscar Trindade de Barros, s/n- Caixa Postal 792000-000

Aquidauana- MS, [email protected]

[email protected]

Resumo. A bacia hidrográfica do córrego Indaiá localiza-se na região sudoeste do município de Aquidauana-MS, e apresenta uma área de aproximadamente 94,97 Km². Recentemente, o uso e ocupação do solo no córrego Indaiá passou por uma expressiva transformação em função da instalação do primeiro complexo de assentamento rural do município de Aquidauana-MS. Este trabalho teve como objetivo a avaliação da vulnerabilidade ambiental da bacia hidrográfica do córrego Indaiá em Aquidauana-MS. O procedimento teórico metodológico constituiu-se na proposta dos quatro níveis de pesquisa geográfica de Libault (1971), sob a perspectiva teórica da análise integrada do ambiente, conforme preconizado por Tricart e Kiewietjonge (1992) e Crepani et al. (2001). A partir da média aritmética entre os mapas dos fatores Geologia, geomorfologia, Solos, Vegetação e Clima, foram obtidos os mapas de vulnerabilidade ambiental das unidades de paisagem. Os meios moderadamente estáveis (índice de vulnera-bilidade 1,6 a 1,7) representam 22,12 % da área da bacia; os meios mediamente estáveis/vulneráveis (índice de vulnerabilidade 1,8 a 2,2) ocupam 77,39 % e os meios moderadamente vulneráveis (índice de vulnerabilidade 2,3) ocupam 0,47 % da área total, denotando o predomínio do equilíbrio entre os processos morfogenéticos e pedoge-néticos e a vulnerabilidade média dos solos aos processos erosivos.

Palavras- chave: Vulnerabilidade ambiental, assentamento Indaiá, Aquidauana.

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Abstract. The watershed stream Indaiá located in the southwestern region of the municipality of Aquidauana-MS, has an area of approximately 94.97 square kilometers. Recently, the use and occupation of land in the stream In-daiá underwent a significant transformation in terms of the first complex of rural settlement in the municipality of Aquidauana-MS. This study aimed to evaluate the environmental vulnerability of the watershed stream Indaiá in Aquidauna-MS. The theoretical and methodological approach consists in the proposal of the four levels of geo-graphic research Libault (1971), from the theoretical perspective of integrated environmental analysis, as recom-mended by Tricart and Kiewietjonge (1992) and Crepani et al. (2001). From the arithmetic average between the maps of the factors geology, geomorphology, soils, vegetation and climate, maps of environmental vulnerability of landscape units were obtained. The moderately stable means (vulnerability index 1,6 to 1,7) represent 22,12% of the basin area; vulnerable moderately stable / media (vulnerability index 1,8 to 2,2) occupy 77,39% and means moderately vulnerable (vulnerability index 2,3) occupy 0,47% of the total area, showing the predominance of ba-lance between morphogenetic and pedogenic processes and the average vulnerability of soils to erosion.

Key-words: Environmental vulnerability, Indaiá settlement, Aquidauana.

1. Introdução

Dentro da perspectiva de planejamento ambiental econômico e ambiental do território, quer seja municipal, estadual, federal, bacia hidrográfica, ou qualquer outra unidade, é absolutamente ne-cessário, que as intervenções humanas sejam planejadas com objetivos claros de ordenamento territorial, tomando-se como premissas as potencialidades dos recursos naturais e humanos e as fragilidades dos ambientes (ROSS, 1994).

Para subsidiar o Zoneamento Ecológico-Econômico da Amazônia Legal, Crepani et al. (1996) desenvolveram uma metodologia visando à análise e ao mapeamento da vulnerabilidade natural das paisagens à erosão. Essa metodologia foi aperfeiçoada por Crepani et al. (2001) e tem como base a caracterização morfodinâmica das unidades de paisagem resultantes da rela-ção entre os processos de morfogênese e pedogênese segundo os princípios da Ecodinâmica de Tricart (1977), que estabelece três categorias morfodinâmicas:

Meios estáveis: caracterizados pela cobertura vegetal densa, dissecação moderada e ausên-cia de manifestações vulcânicas, com favorecimento à pedogênese; meios intergrades: carac-terizados pelo balanço entre as interferências morfogenéticas e pedogenéticas e pela transição entre os meios estáveis e instáveis; meios fortemente instáveis: condições bioclimáticas agres-sivas com variações fortes e irregulares de ventos e chuvas, relevo com vigorosa dissecação, presença de solos rasos, baixa densidade de cobertura vegetal, planícies e fundos de vale sujei-tos a inundações e geodinâmica interna intensa.

Recentemente, o uso e ocupação do solo no córrego Indaiá passou por uma expressiva transformação em função da instalação do primeiro complexo de assentamento rural do mu-nicípio de Aquidauana-MS. Em 15 de dezembro de 2009, o INCRA (Instituto Nacional de Col-onização e Reforma Agrária) realizou o lançamento simultâneo dos quatro primeiros projetos da reforma agrária em Aquidauana (MS). Ao todo, 280 famílias são beneficiadas pelo complexo de 6,4 mil hectares formado pelos assentamentos Indaiá I, II, III e IV (INCRA, 2013). Tomando como base a média de quatro integrantes por família, o complexo Indaiá representa a fixação de mais de mil pessoas no espaço rural de Aquidauana. Atualmente, a população local é de 45 mil habitantes e a economia baseada na agropecuária, indústria e serviços.

Diante da situação atual em relação ao quadro de ocupação questiona-se sobre os impactos que poderão ser gerados a esse ambiente de tamanha importância ecológica que se configura como de transição Cerrado e Pantanal. A administração pública necessita de um documento cartográfico e de um relatório técnico que oriente uma ocupação centrada nos princípios do desenvolvimento sustentável.

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2. Objetivo

Este trabalho teve como objetivo a avaliação da vulnerabilidade ambiental da bacia hidrográfica do córrego Indaiá em Aquidauana-MS.

3. Materiais e Métodos

3.1. Área de Estudo

A bacia hidrográfica do córrego Indaiá localiza-se na região sudoeste do município de Aquidau-ana-MS, entre as latitudes 20º09’00” S e 20º16’00” S e longitudes 55º29’30” W e 55º39’00” W, apresenta uma área de aproximadamente 94,97 km² (Figura 1). Inserida na Bacia do Alto Rio Paraguai (BAP), é afluente do rio Taboco, que por consequência adentra a Planície Pantaneira.

Figura 1. Localização da área de estudo

A bacia hidrográfica do córrego Indaiá destaca-se do ponto de vista fisiográfico por se apre-sentar na transição do Planalto Maracaju-Campo Grande, Depressão Pantaneira e a Planície do Pantanal Sul-Mato-Grossense, abrangendo a transição dos biomas: Cerrado e Pantanal. Es-tes aspectos conferem a bacia do córrego Indaiá peculiaridades ambientais riquíssimas ligadas à fauna e flora. Tais características proporcionaram uma ocupação pautada na exploração da pecuária extensiva, favorecida pela abundância dos mananciais e, sobretudo pelas característi-cas geomorfológicas e pedológicas. O turismo, mais especificamente o ecoturismo, também se apresenta como uma forte atividade econômica.

A bacia hidrográfica do córrego Indaiá está inserida no Bioma Cerrado, a vegetação pre-

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dominante é a Savana Arbórea Densa (Cerradão) e destaca-se a presença de Agropecuária e Pastagem (BRASIL, 1982).

A geomorfologia da bacia hidrográfica do córrego Indaiá compreende duas macro unidades morfoestruturais: a Bacia Sedimentar do Paraná e a Bacia Hidrográfica do Paraguai, subdividi-das nas seguintes unidades morfoesculturais: Planalto Maracaju-Campo Grande, Depressão do Paraguai e Planícies e Pantanais Mato Grossenses (BRASIL, 1982).

A Geologia é composta pelas seguintes formações: Formação Furnas, Formação Aquidau-ana e Aluviões Fluviais (BRASIL, 1982).

Os solos predominantes são: Latossolo vermelho distrófico, localizado por quase toda a ba-cia, Argissolo vermelho amarelo distrófico predominam na margem direita da bacia ao longo de alguns de seus tributários; Gleissolo Háplico Tb distrófico em uma porção da planície fluvial, Neossolo Litólico distrófico em uma pequena porção na borda esquerda da bacia e afloramento rochoso na borda direita, adaptado de Embrapa Solos (2009).

3.2. Procedimentos

O Mapa de vulnerabilidade ambiental da bacia hidrográfica do córrego Indaiá foi gerado a partir da álgebra dos mapas temáticos dos componentes da paisagem (Geologia, Geomorfologia, So-los, Vegetação e Clima), em ambiente de Sistema de Informação Geográfica, conforme Equa-ção 1, desenvolvida por Crepani et al. (2001). A cada classe temática dos mapas temáticos que compõe a unidade de paisagem, foi associado um valor que indica seu grau de vulnerabilidade ambiental, que varia de 1 a 3.

V = (G + R + S +Vg + C) Eq.1

Onde: V representa a vulnerabilidade ambiental, G representa vulnerabilidade para o tema Geologia, R representa vulnerabilidade para o tema Geomorfologia, S é a vulnerabilidade para o tema Solos, Vg é a vulnerabilidade para o tema Vegetação e C a vulnerabilidade para o fator Clima.

3.2.1 Vulnerabilidade do fator Geologia (G)

De acordo com Crepani et al. (1996), a Ecodinâmica adota o grau de coesão das rochas como informação básica do fator Geologia, uma vez que em rochas pouco coesas prevalecem os processos modificadores das formas de relevo, enquanto sobre as rochas bastante coesas prev-alecem os processos de formação dos solos. Aos principais tipos de rochas das três formações geológicas presentes na área de estudo (Formação Aquidauana, Formação Furnas e Aluviões Fluviais), foram associados os índices de vulnerabilidade propostos por Crepani et al. (2001) em função do seu grau de coesão.

A vulnerabilidade ambiental do fator Geologia foi obtida a partir do recorte de dados Geológico do Estado de Mato Grosso do Sul (CPRM, 2006) disponibilizado pelo SISLA no endereço: http://sisla.imasul.ms.gov.br, o arquivo vetorial foi convertido para o formato matri-cial, usando como indicadores os valores de vulnerabilidade da sua tabela de atributos, tendo como máscara o limite da bacia hidrográfica do Córrego Indaiá-MS.

3.2.2 Vulnerabilidade do fator Geomorfologia (R)

A vulnerabilidade à erosão para o fator Geomorfologia foi obtido a partir da média aritmética de três índices morfométricos do terreno: amplitude altimétrica (dissecação vertical), amplitude

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interfluvial (dissecação horizontal) e declividade.A amplitude altimétrica da bacia hidrográfica do córrego Indaiá foi elaborada diante da

realização da compartimentação da mesma em sub-bacias utilizando imagem do Radar inter-ferométrico SRTM (Shuttle Radar Topographic Mission), (VALERIANO 2008) no software Global Maper 13 pela ferramenta generate watershed; logo após foi exportado em formato shapefile para o software ArcGis 10, onde foi calculada a amplitude altimétrica para cada uma das sub-bacias.

Para confecção da amplitude interfluvial foi feita uma adaptação no procedimento, o cálcu-lo da distância interfluvial foi realizado no ArcGis 10 a partir da rede de drenagem; utilizando o cálculo de distância euclidiana para medir a distância dos canais, posteriormente foi feita a reclassificação de acordo com os índices de vulnerabilidade para amplitude interfluvial.

A Clinografia foi obtida a partir do modelo digital de elevação do terreno, e reclassificada utilizando como indicadores os valores de vulnerabilidade para a declividade propostos por Crepani et al. (2001).

3.2.3 Vulnerabilidade do fator Solos (S)

Embora a erodibilidade dos solos esteja relacionada à sua composição granulométrica e miner-alógica e aos seus atributos físicos e químicos, a análise da vulnerabilidade dos solos à erosão considera o seu grau de maturidade, produto direto do balanço morfogênese/pedogênese, e indica a prevalência dos processos erosivos da morfogênese que geram solos jovens e pouco desenvolvidos ou das condições de estabilidade e do processo de pedogênese, que resulta em solos maduros, profundos, lixiviados e bem desenvolvidos (Crepani et al., 2008).

A análise da vulnerabilidade à erosão dos solos da bacia hidrográfica do córrego Indaiá, foi feita a partir de informações extraídas do banco de dados da Embrapa, elaborou-se então o mapa de solos adaptados para o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (Embrapa, 2006), que posteriormente foi convertido no formato raster e reclassificado de acordo com os valores de vulnerabilidade propostos por Crepani et al. (2001).

3.2.4 Vulnerabilidade do fator Vegetação (Vg)

A cobertura vegetal do terreno tem a função de retardar o ingresso das águas provenientes das chuvas nas correntes de drenagem pelo aumento da capacidade de infiltração. Nesse contexto, sua participação na caracterização das unidades de paisagem está diretamente relacionada à capacidade de proteção do solo, e o parâmetro a ser considerado na análise da vulnerabilidade à erosão é a densidade de cobertura vegetal (Crepani et al., 2008). Sendo assim em coberturas vegetais de densidade mais baixa prevalecem os processos morfogenéticos, enquanto os pro-cessos pedogenéticos ocorrem em situações em que a cobertura vegetal mais densa permite o desenvolvimento e a maturação do solo.

Para analisar a vulnerabilidade do fator Vegetação foram utilizadas informações extraídas do banco de dados do Projeto GeoMS em forma de shapefile, posteriormente foi convertido do formato vetorial para raster e reclassificado de acordo com os índices de vulnerabilidade prop-ostos por Crepani et al. (2001).

3.2.5 Vulnerabilidade do fator Clima (C)

O principal elemento climático a ser considerado na análise da vulnerabilidade à erosão dos solos tropicais é a precipitação pluvial, e as principais características das chuvas relacionadas ao processo erosivo são: quantidade ou pluviosidade total, intensidade pluviométrica e distri-buição sazonal (Buckman; Brady, 1976). Segundo Crepani, (2001) as principais características

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físicas da chuva envolvidas nos processos erosivos são: a quantidade ou pluviosidade total, a intensidade ou intensidade pluviométrica e a distribuição sazonal. Dentre as três características é especialmente importante se conhecer a intensidade pluviométrica porque representa uma relação entre as outras duas (quanto chove/quando chove), resultado que determina, em última análise, a quantidade de energia potencial disponível para transformar-se em energia cinética.

O mapa de variabilidade espacial pluviométrica (Figura 2) foi elaborado a partir de mé-dias anuais pluviométricas disponíveis entre os anos de 1970 a 2007. Apresentou índices plu-viométricos pouco desiguais, caracterizada por uma maior distribuição de períodos chuvosos, entre setembro a maio (9 meses). As chuvas mais intensas concentram-se entre os meses de novembro e janeiro. O inverno (junho a agosto) caracteriza-se como período de estiagem, cujos índices pluviométricos são muito baixos (Cunha et al., 2012).

Utilizou-se dados pluviométricos de 4 estações meteorológicas da Agência Nacional das Águas (ANA), (disponível em HTTP://www.cpao.embrapa .br/clima/índex.ph?pg=chuvas). As estações metereológicas se localizam duas no município de Aquidauana, nos distritos de Cipolândia (S 20º07’37”, W 55º23’34”) e fazenda Taboco (S 20º04’13”, W 55º38’39”), a outra no município de Dois Irmãos do Buriti, na fazenda Lajeado (S 20º17’29”, W 55º26’41”) e fa-zenda Rancho Grande (S 20º09’46’’, W 55º32’48’’).

Procedendo a fase inicial de aquisição de dados, a próxima etapa foi à representação car-tográfica da intensidade da bacia hidrográfica do córrego Indaiá empregando-se o método de in-terpolação, denominado Inverso do Quadrado da Distância (IQD) ou Inverse Distance Weighted (IDW), que é um interpolador determinístico univariado de médias ponderadas. A interpolação pelo IQD supõe explicitamente que as feições mais próximas são mais semelhantes do que as mais separadas. Esta suposição é coerente com a modelagem de dados geográficos e está em-butida na base de vários processos de modelagem natural e ambiental (Burrough e Mcdonnell, 1998).

A vulnerabilidade do fator clima foi determinada através da intensidade pluviométrica cal-culada pela Equação 2, proposta por Crepani et al. (2001) através da relação entre precipitação média anual (PMA) e duração do período chuvoso (DPC) é obtida a intensidade pluviométrica (IP).

PMA/DPC=IP (2)

A intensidade pluviométrica obtida para a área de estudo foi classificada na escala de vul-nerabilidade à perda de solo elaborada por Crepani et al. (2001).

4. Resultados e Discussão

A Figura 2 apresenta o mapa de vulnerabilidade ambiental da bacia hidrográfica do córrego Indaiá, resultado da média aritmética dos fatores Geologia, Geomorfologia, Solos, Vegetação e Clima anteriormente descritos, e a Tabela 1 apresenta as áreas ocupadas pelas classes e pelos diferentes graus de vulnerabilidade das unidades de paisagem.

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Figura 2. Vulnerabilidade Ambiental da bacia hidrográfica do córrego Indaiá - MS

A análise dos dados permite inferir que predomina na área de estudo a categoria mor-fodinâmica intermediária, de vulnerabilidade ao redor de 1,9, caracterizada pelo equilíbrio na relação morfogênese/pedogênese. A classe 1,9 ocupa 47,21 % da área da bacia, e embora esteja predominantemente ocupada pela agropecuária e pastagens, sua constituição resulta da combi-nação entre os cinco fatores naturais da metodologia utilizada.

Tabela 1. Área das classes de vulnerabilidade ambiental da bacia hidrográfica córrego. Indaiá-MS.

Vulnerabilidade Área (Km²) Área (%) Grau de vulnerabilidade Área (%)1,6 10,11 10,68 Moderadamente 22,121,7 10,84 11,45 estável1,8 14,13 14,921,9 44,69 47,21 Mediamente2,0 8,95 9,45 estável/ 73,392,1 5,34 5,64 vulnerável2,2 0,12 0,122,3 0,45 0,47 Moderadamente vulnerável 0,45

A partir do mapa de vulnerabilidade ambiental do fator Geologia observa-se que predomi-nam a Formação Aquidauana e Formação Furnas por quase toda a extensão da bacia, ocupando 93,90% da área total e sua principal rocha característica é o arenito que possui o grau de vul-nerabilidade à erosão 2,4. A formação Aluviões Fluviais que é caracterizada por sedimentos inconsolidados ocupa 0,63% da área total da bacia, localiza-se na foz e possui o grau de vul-nerabilidade à erosão 3,0.

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As sub-bacias localizadas na porção oeste da área de estudo, apresentam os maiores índices de vulnerabilidade à erosão com amplitudes altimétricas de: 86,17 metros (1,8), 87,42 metros (1,8) e 151,44 metros (2,5), onde a dissecação do relevo pela rede de drenagem é maior em fun-ção do maior escoamento superficial da água pluvial em solos de textura predominantemente arenosa. Nas sub-bacias situadas na porção centro-sul e uma pequena extensão da porção leste, apresentam amplitudes altimétricas que variam de 65,79 metros (1,6) a 72,71 metros (1,6). As sub-bacias da porção central apresentam índices menores de vulnerabilidade 1,5, suas ampli-tudes altimétricas variam de 60,11 metros a 65,79 metros.

Observam-se no mapa de declividade o predomínio de áreas de vulnerabilidade à erosão igual a 1,0, associadas a relevos com formas praticamente planas localizadas desde as nascentes até a sua foz, assim como áreas de relevo fortemente ondulado na porção oeste, onde a veloci-dade do escoamento superficial é maior e a vulnerabilidade à erosão é igual ou pouco inferior a 3,0

Considerando que o grau de vulnerabilidade à erosão para o fator solos está relacionado ao seu grau de desenvolvimento ou maturidade em detrimento dos atributos físicos, químicos e morfológicos, a classe dos Latossolos Vermelhos distróficos, de textura arenosa possui vul-nerabilidade 1,0 e representa as unidades de paisagem estáveis, ocupando 81, 21 %% da área total da bacia.

O Argissolo Vermelho Amarelo distrófico, de textura arenosa pertence às unidades de pais-agem intermediárias, de vulnerabilidade 2,0, ocupa 13, 52 % da área de estudo.

Os Gleissolos, Neossolos e Afloramento Rochoso, juntos ocupam 3,25% da área de estudo, situados nos fundos de vale e áreas de declividade acentuada, pertencem às unidades de paisa-gem vulneráveis à erosão. São solos pouco desenvolvidos com pequena evolução dos perfis de solo a partir dos materiais depositados (Gleissolos) ou em razão da intensidade do processo erosivo ser maior que a taxa de formação dos solos em áreas de alta declividade (Neossolos), e apresentam índice 3,0 de vulnerabilidade a erosão.

A mata nativa e/ou ciliar e a mata nativa Savana/Floresta Estacional Submontana que con-stituem a sua vegetação original, ocupam respectivamente apenas 12,50 % e 2,11 % da área de estudo com grau de vulnerabilidade 1,6. As áreas ocupadas por Savana Florestada (Cerradão) e Savana Arborizada/Florestada, ocupam 17,69 % e 0,09 % da área total e seu grau de vulnera-bilidade são de 1,7. De acordo com Crepani et al. (2001) são caracterizadas como “cobertura vegetal moderadamente estável”.

Em áreas ocupadas por Vegetação Secundária de Savana e Savana sem floresta-de-galeria, ocupam respectivamente 0,92 % e 1,79 % da área da bacia. São caracterizadas por Crepani et al. (2001) como “cobertura vegetal mediamente estável ou vulnerável” e seus graus de vulnera-bilidade são 2,0 e 2,1.

Nas áreas ocupadas por pastagem plantada na região de Savana e Agropecuária (assenta-mentos rurais), que ocupam 35,82 % e 29,00 %, respectivamente, os índices de vulnerabilidade ambiental são elevados com predomino da morfogênese.

A Figura 3 apresenta as classes qualitativas de vulnerabilidade à erosão das unidades de paisagem da bacia hidrográfica do córrego Indaiá-MS, obtidas a partir da classificação expressa na Tabela 1.

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Figura 3. Classes de Vulnerabilidade Ambiental da bacia hidrográfica do córrego Indaiá-MS.

As unidades de paisagem da área de estudo definidas de acordo com o grau de vulnerabili-dade ambiental são caracterizadas abaixo:

- Unidades de paisagem moderadamente estáveis (1,6 a 1,7): ocupam 22,12 % da área da bacia hidrográfica do córrego Indaiá, com predomínio de relevo plano e suave ondulado. Assen-tam-se sobre os Latossolos Vermelhos distróficos de vulnerabilidade igual a 1,0, e predominam entre a Formação Furnas e Formação Aquidauana, cuja vulnerabilidade da rocha característica é 2,4. A amplitude altimétrica varia de 60,11 metros a 87,42 metros, as vegetações predomi-nantes são mata ciliar e Florestada (Cerradão);

- Unidades de paisagem mediamente estáveis/vulneráveis (1,8 a 2,2): classe de maior ocor-rência na área de estudo (73,23 % da área total), estas unidades de paisagem são caracteriza-das pela grande variabilidade na constituição de suas características naturais, sendo ocupada predominantemente por agropecuária e pastagens, Savana/Floresta Estacional Submontana em áreas de alta declividade, Savana sem floresta-de-galeria, Florestada (Cerradão) em áreas de declividade expressiva e Mata Ciliar em áreas de alta declividade. Compreendem as três forma-ções geológicas presentes na bacia, apresentam relevos de diferentes declividades e amplitudes altimétricas e solos de diferentes graus de vulnerabilidade ambiental (Latossolos, Argissolos, Gleissolos, Neossolos e Afloramento rochoso). O equilíbrio entre os processos de pedogênese e morfogênese é resultado das diferentes combinações entre seus fatores naturais;

- Unidades de paisagem moderadamente vulneráveis (2,3): ocupam apenas 0,47 % da área da bacia hidrográfica do córrego Indaiá. Encontram-se sobre a Formação Furnas de vulnera-bilidade 2,4, e em solos de alta vulnerabilidade 3,0 (Neossolos, Gelissolos e Afloramento Ro-choso estes localizados em áreas não ocupadas por mata nativa ou ciliar). O relevo apresenta amplitude altimétrica e declividades variadas. Em relação à vegetação predominam pastagens e

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atividades agropecuárias. Nesta unidade de paisagem, a vulnerabilidade ambiental é resultado do predomínio dos processos morfogenéticos sobre os processos pedogenéticos.

A avaliação da vulnerabilidade ambiental e a classificação da bacia hidrográfica do córrego Indaiá-MS, cuja metodologia foi concebida para subsidiar o Zoneamento Ecológico-Econômi-co, também pode ser empregado para se determinar áreas prioritárias à preservação, recupera-ção e de uso sustentável.

5. Conclusão

O Zoneamento Ecológico-Econômico necessita de metodologias e técnicas eficientes e de fácil implementação para a análise da vulnerabilidade ambiental das unidades de paisagem, nessa perspectiva a utilização do Geoprocessamento se concretizou de forma satisfatória sendo pos-sível atender o objetivo da pesquisa.

O uso da metodologia de Crepani et al. (2001) com algumas adaptações nos procedimentos permitiu o conhecimento de sua morfodinâmica e a sua classificação em unidades de paisagem de acordo com o grau de vulnerabilidade ambiental, podendo fornecer subsídios ao Zonea-mento Ecológico-Econômico e ao planejamento e ordenamento territorial da área de estudo.A vulnerabilidade ambiental da bacia hidrográfica do córrego Indaiá variou de 1,6 a 2,3, separadas em três unidades de paisagem: moderadamente estáveis (22, 12 % ), mediamente estáveis/vul-neráveis (75, 39 % ) e moderadamente vulneráveis ( 0,47 %).

6. Agradecimentos

Agradecemos ao apoio financeiro concedido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico- CNPq, projeto nº 400691/2011-6.

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