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SBQP 2009 Simpósio Brasileiro de Qualidade do Projeto no Ambiente Construído IX Workshop Brasileiro de Gestão do Processo de Projeto na Construção de Edifícios 18 a 20 de Novembro de 2009 – São Carlos, SP – Brasil Universidade de São Paulo Avaliação Pós-Ocupação em Creche: uma abordagem sobre os instrumentos de avaliação utilizados Post-Occupancy Evaluation in Pre-school building: an approach in used assessment methods Michele Caroline Bueno Ferrari Caixeta Arquiteta e Urbanista, Mestranda pela Escola de Engenharia de São Carlos – EESC - USP e-mail: [email protected] | CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/3318052871162230 Marieli Azoia Lukiantchuki Arquiteta e Urbanista, Mestranda pela Escola de Engenharia de São Carlos – EESC - USP e-mail: [email protected] | CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/1179290829983998 RESUMO Este artigo apresenta o relatório final de uma Avaliação Pós-Ocupação (APO) numa Creche, realizado durante a disciplina “Avaliação Pós-Ocupação no contexto de gestão de projeto” ministrada no Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos. O objetivo deste trabalho é avaliar diferentes instrumentos da APO, testando a eficiência de cada método, a fim de apontar as dificuldades encontradas. Para isso, foi realizado primeiramente a avaliação dos especialistas através de entrevista com profissionais relacionados ao projeto da creche, projeto “as built”, vistoria técnica e walkthrough. Em seguida, realizou-se a aferição da satisfação dos usuários através de entrevista com pessoas-chave, grupo focal com professores, workshop de desenhos para as crianças maiores de quatro anos e mapa comportamental com as crianças menores de quatro anos. Com os resultados encontradas, foi possível avaliar as potencialidades e as limitações encontradas nos instrumentos da APO, além da possibilidade de estender este estudo em edifícios semelhantes, buscando melhorar os projetos arquitetônicos e a qualidade de vida dos usuários. Palavras-chave: Avaliação Pós-Ocupação. Creche. Satisfação dos usuários. ABSTRACT This article is based on finals results of a Post-Occupancy Evaluation (POE) in a pre-school building. This evaluation was made during the course “Post-Occupancy Evaluation in the context of project management” at Architecture and Urbanism Department of Engineering School of São Carlos. This research aims the evaluation of the POE different assessment methods, testing the performance of each one, in order to indicate the difficulties found. In order to accomplished first the specialist’s evaluation through interview with professionals related to pre-school building’s project, “as built” project, technique inspection and walkthrough. After that, accomplished measurement of user’s satisfaction through interview with important people, group interaction approach with teachers, drawing workshop for children older than four years and direct observation of children younger than four years. The results evaluated the potentialities and limitations in POE assessment methods, besides the possibility of extend this study for same building, improving the architectural design and the life quality of users. Key-words: Post-Occupancy Evaluation. Pre-school building. User’s satisfaction.

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SBQP 2009 Simpósio Brasileiro de Qualidade do Projeto no Ambiente Construído

IX Workshop Brasileiro de Gestão do Processo de Projeto na Construção de Edifícios 18 a 20 de Novembro de 2009 – São Carlos, SP – Brasil

Universidade de São Paulo

Avaliação Pós-Ocupação em Creche: uma abordagem sobre os instrumentos de avaliação

utilizados

Post-Occupancy Evaluation in Pre-school building: an approach in used assessment methods

Michele Caroline Bueno Ferrari Caixeta Arquiteta e Urbanista, Mestranda pela Escola de Engenharia de São Carlos – EESC - USP e-mail: [email protected] | CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/3318052871162230

Marieli Azoia Lukiantchuki Arquiteta e Urbanista, Mestranda pela Escola de Engenharia de São Carlos – EESC - USP e-mail: [email protected] | CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/1179290829983998

RESUMO

Este artigo apresenta o relatório final de uma Avaliação Pós-Ocupação (APO) numa Creche, realizado durante a disciplina “Avaliação Pós-Ocupação no contexto de gestão de projeto” ministrada no Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos. O objetivo deste trabalho é avaliar diferentes instrumentos da APO, testando a eficiência de cada método, a fim de apontar as dificuldades encontradas. Para isso, foi realizado primeiramente a avaliação dos especialistas através de entrevista com profissionais relacionados ao projeto da creche, projeto “as built”, vistoria técnica e walkthrough. Em seguida, realizou-se a aferição da satisfação dos usuários através de entrevista com pessoas-chave, grupo focal com professores, workshop de desenhos para as crianças maiores de quatro anos e mapa comportamental com as crianças menores de quatro anos. Com os resultados encontradas, foi possível avaliar as potencialidades e as limitações encontradas nos instrumentos da APO, além da possibilidade de estender este estudo em edifícios semelhantes, buscando melhorar os projetos arquitetônicos e a qualidade de vida dos usuários.

Palavras-chave: Avaliação Pós-Ocupação. Creche. Satisfação dos usuários.

ABSTRACT

This article is based on finals results of a Post-Occupancy Evaluation (POE) in a pre-school building. This evaluation was made during the course “Post-Occupancy Evaluation in the context of project management” at Architecture and Urbanism Department of Engineering School of São Carlos. This research aims the evaluation of the POE different assessment methods, testing the performance of each one, in order to indicate the difficulties found. In order to accomplished first the specialist’s evaluation through interview with professionals related to pre-school building’s project, “as built” project, technique inspection and walkthrough. After that, accomplished measurement of user’s satisfaction through interview with important people, group interaction approach with teachers, drawing workshop for children older than four years and direct observation of children younger than four years. The results evaluated the potentialities and limitations in POE assessment methods, besides the possibility of extend this study for same building, improving the architectural design and the life quality of users.

Key-words: Post-Occupancy Evaluation. Pre-school building. User’s satisfaction.

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1 INTRODUÇÃO

Como a escola é um local de grande permanência infantil, a preocupação com a qualidade ambiental nesses espaços deve ser um dos principais aspectos a ser levado em consideração pelos arquitetos no ato do projeto.

Os usuários desses espaços passam, em média, um terço do seu dia no interior das escolas (BRASIL, 2006), e segundo Elali (2002, p.1) um indivíduo que evolua no sistema educacional conforme o esperado, quando tiver com 23 anos estará completando um curso superior e terá permanecido entre 20 e 25% das suas horas de vida em ambientes escolares (4 anos na pré-escola, 8 no ensino fundamental, 3 no ensino médio e 5 na faculdade).

É devido a esse fato que vemos a importância da qualidade espacial dos ambientes escolares, principalmente no início do processo educativo, uma vez que é uma fase importante para o desenvolvimento do ser humano, influencia na evolução do aprendizado, além de ser um espaço aonde a criança irá se desenvolver e estabelecer relações com o mundo e com outras pessoas. Segundo ORNSTEIN (1995, p.27) as edificações abrangem “todo um modo de vida que se renova com as próprias condições geradas nesse ambiente construído, e em contínua transformação, face às necessidades do homem-usuário contemporâneo”.

O presente trabalho fez parte da disciplina “Avaliação Pós-Ocupação no contexto da gestão de projetos” do Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo – EESC/USP, sendo um resumo de um relatório sobre Avaliação Pós-Ocupação em creches. O objetivo principal deste trabalho, além de avaliar a creche, é avaliar os instrumentos da APO para este tipo de edificação, buscando identificar suas deficiências e potencialidades. Desta forma, serão apresentados resumidamente os dados levantados por cada instrumento e uma avaliação de sua relevância para a APO, destacando-se também dificuldades encontradas durante a aplicação.

O objeto de estudo foi uma creche na cidade de São Carlos. Os instrumentos utilizados como subsídios foram: walkthrough, entrevistas com pessoas chaves (diretora da creche e os arquitetos responsáveis pelo projeto), grupo focal com os professores e funcionários, observação comportamental das crianças menores de quatro anos e workshop de execução de desenhos com as crianças maiores de quatro anos. Os estudos relacionados com a satisfação das crianças foram realizados com a ajuda de pesquisadores da área da psicologia, pois a aplicação e análise de desenhos em crianças dependem de orientação especializada nesta área.

No diagnóstico, serão apresentados os resultados da pesquisa, através de um cruzamento de dados entre a avaliação dos pesquisadores e a satisfação dos usuários. Espera-se que esse diagnóstico auxilie os arquitetos a tirar melhor partido do edifício e, conseqüentemente aprimorarem a interação do ser humano com o ambiente construído.

2 DESCRIÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

A creche escolhida localiza-se na cidade de São Carlos, num terreno de aproximadamente 2.169,20 m2, dentro de uma universidade.

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A creche foi uma adaptação de um galpão existente, onde funcionava uma oficina de manutenção elétrica. Posteriormente, foram realizadas reformas e ampliações para que as novas instalações fossem adequadas à demanda. Possui uma área construída de aproximadamente 999,82 m2 e atualmente a instituição proporciona educação em período integral às crianças que são filhos de funcionários ou de alunos de pós-graduação da universidade. A faixa etária dos alunos está entre 4 meses e 6 anos de idade, totalizando oitenta e seis alunos, e um quadro de dezoito funcionários.

O expediente tem início às 7:15h e fim às 17:00h, período em que os alunos realizam diversas atividades, de acordo com a faixa etária, tais como: roda de conversas, atividades no parque, atividades programadas, discussão sobre o cardápio, higiene das mãos, higiene bucal, atividades coletivas, entre outras. São servidas diversas refeições, incluindo almoço. Existe um horário destinado ao sono no início da tarde e as crianças menores tomam banho antes do horário da saída.

A edificação é térrea e sua delimitação se dá por grades, tanto com a avenida como com os vizinhos externos. Na divisa com o interior do Campus a delimitação se dá pela própria edificação. A creche possui quatro acessos: o principal, junto ao setor administrativo - que é o único utilizado por alunos, pais e pelo público externo, além de servir aos funcionários; o acesso de mantimentos - junto à cozinha; um acesso direto ao refeitório - este acesso permanece trancado e raramente é utilizado; e um acesso junto à varanda - que também permanece trancado e é utilizado para serviços. A circulação interna se dá através de uma varanda, ligada ao acesso principal, que passa pelo setor administrativo e atinge todas as salas de aula e berçários.

As fachadas possuem pintura branca nas alvenarias e rosa nas esquadrias. A cobertura é de telhas de barro francesas apoiadas sobre tesouras de madeira aparentes. A maior parte dos ambientes possui forro de PVC e alguns ambientes possuem laje.

A estrutura física da creche é composta por: berçários, salas de aula, salas de atividades, biblioteca, refeitório, banheiros, cozinha, lactário, copa, depósitos, almoxarifado, setor administrativo, terraços cobertos para atividades de recreação, quadra para esportes, dois playgrounds, e grandes áreas verdes, conforme o projeto a seguir.

ATIVIDADES

REPOUSO

BA

NH

O

PASSARELACOBERTA

AMAMENTACAO

0.40 BERÇARIOBANHO

COBERTAÁREA

BERÇARIOCOZINHA

COPA

BANHEIRO

BERÇARIO / RECREAÇÃO

DEPÓSITOSERVIÇO

ROUPEIRO

VARAL

SALA DE AULA

LAVA

RIO

REFEITÓRIO

COZINHA

DEPÓSITOENTR AD A

P/ FORNECED OR

SALA DE ATIVIDADES

COBERTAÁREA

SALA DE AULABIBLIOTECA

BWC

DEPÓSITO

TERRAÇO

COBERTAÁREA

SALASALA

BERÇARIO

RECREAÇÃO

RECREAÇÃO

VARANDA

CA

LÇA

DA

MU

NIC

IPAL

AFEESC

RECREAÇÃO

PAINEIRA

JA NEL A 2 .40 X 0. 60

VID RO BLI ND EX1. 74

VIDRO BLIND EX

VIDRO BLIN DEX GUAR ITA

COD

IGO

DIRETORIA

SALA DOS

CIRCULAÇÃO COBERTA

PROFESSORESSECRETARIA

G UICHE

A LMOXARIF.

JABUTI.

BRINQUEDO

BRINQUEDO

B RINQUEDO

BRINQUEDO

BRINQUEDO

CALÇADA

CALÇADA

RECREAÇÃO( COBERTO COM COBERTURA M ÓVEL)

A LMOX. DE BRINQUEDOS

BRINQUEDO

TANQUE DE AREIA

BRINQUEDO

TANQUE DE ARE IA

GÁS

MANGUEIRAIPÊ

IPÊ

QUADRA

ATIVIDADES

8.00

1 0.001.80

CAS INHA

BWC

BWC

Figura 1 – Planta da creche, sem escala. 1- Administração; 2- Salas de aula; 3- Sala Multi-uso; 4- Refeitório; 5- Cozinha; 6- Terraço; 7- Pátio; 8-Playgrounds; 9- Berçários; 10-Apoio; 11- Varanda-

Circulação. Fonte: Projeto “as built” realizado pelas alunas

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2 2

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3 MÉTODO

A APO foi dividida em duas partes: a avaliação dos especialistas e posteriormente a aferição da satisfação dos usuários. Cada item desses posteriormente foi subdividido nas seguintes etapas:

AVALIAÇÃO DOS ESPECIALISTAS

Levantamento dos desenhos técnicos e outros documentos relacionados: Realizado no Setor de Obras da prefeitura do Campus, onde além do arquivo digital do projeto da creche, foi possível consultar todos os desenhos realizados, desde o projeto até as ampliações, reformas, projetos legais, memorial de atividades, descritivo e de proteção contra incêndio. Assim, foi possível entender o projeto e a evolução ao longo dos anos.

Entrevistas: Foram realizadas com os arquitetos responsáveis pelo projeto e pela maior parte das ampliações realizadas e possibilitaram um maior conhecimento do projeto original, o partido adotado e as limitações enfrentadas na época.

Projeto “as built”: Com o projeto arquitetônico disponibilizado pela prefeitura do campus, foram conferidas as medidas e a distribuição dos ambientes internos e externos da creche., Assim, foram visualizadas as mudanças ao longo dos anos e a configuração atual.

Vistoria técnica: Realizada através de um formulário com os seguintes: estrutura, alvenaria, esquadrias e portas, acabamentos, instalações elétricas, hidráulicas e de combate a incêndio, lajes e forros, cobertura, áreas externas, muros, mobiliários, acessibilidade, segurança, fluxos e acessos, entorno, insolação e observações gerais. Nesta etapa foi possível avaliar a edificação do ponto de vista da eficiência e da utilização. Como complemento, foi realizado um check-list baseado no Método dos Seis Fatores Para Avaliação da Edificação Escolar1, proposto por Sanoff, que consiste numa abordagem que permite aos especialistas focarem em seis elementos chave para avaliação da edificação: Contexto, Volumetria, Interface, Facilidade de Acesso, Espaços Sociais e Conforto, através de um checklist com questões e escala numérica de valores (SANOFF, [19-- ou 20--]). Algumas adaptações foram feitas para adequar as questões ao contexto da cidade de São Carlos, e foi utilizada uma escala de valores com cinco níveis – péssimo, ruim, regular, bom e ótimo – ao invés da de sete níveis proposta por Sanoff – muito insatisfatório, insatisfatório, um pouco insatisfatório, regular, um pouco satisfatório, satisfatório e muito satisfatório – para facilitar a aplicação.

Walkthrough: Realizado sob orientação da diretora da creche, que destacou os pontos negativos e positivos do edifício. Foram levantadas questões sobre os elementos construtivos, aspectos de conforto, segurança, funcionalidade, acessibilidade, equipamentos e mobiliários, para que posteriormente pudessem ser elaboradas diretrizes para o caso em questão, ou para futuros projetos semelhante.

Levantamento fotográfico: Realizado para complementar os dados, bem como servir de base para esclarecimentos de detalhes durante a discussão dos resultados da APO.

AFERIÇÃO DA SATISFAÇÃO DOS USUÁRIOS

1 SANOFF, H. “Six Factor School Building Assesment”. In: SANOFF, H. “School Building Assesment Methods”, p. 9-12.

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Entrevista: Realizada com a diretora da creche, buscando entender o funcionamento da instituição, seu desempenho, manutenção, número de alunos, professores e funcionários que trabalham no estabelecimento, além de questões que considerasse importantes para o presente trabalho.

Grupo focal com o professores e enfermeiro: A escolha desse instrumento baseou-se em levantamentos bibliográficos e na orientação dos professores da disciplina, pois devido ao reduzido número de professores que trabalham na creche – treze pessoas – , esta técnica seria mais eficaz do que a aplicação de questionários. Além disto, “seu caráter informal e introspectivo torna possível a obtenção de informações que entrevistas individuais e diretas não possibilitam” (ROMÉRO E ORNSTEIN, 2003). Houve participação de todos os professores e do auxiliar de enfermagem, que foi incluído por participar nas atividades educativas das crianças, junto aos professores. Foi elaborado um e o objetivo foi tomar conhecimento da opinião do usuário-professor a respeito da edificação, de acordo com os aspectos de funcionalidade, adequação dos espaços às atividades desenvolvidas, quantidade suficiente de ambientes, manutenção, conforto, acessos, interferências, entre outros. Destaca-se que o instrumento foi aplicado com o grupo numa única sala, sem percorrer a escola, para que cada um pudesse expressar a opinião dos espaços conforme sua memória, e não ser induzido a observar determinados aspectos por orientação dos especialistas.

Workshop de desenhos: Para sua preparação, foi feito contato com o LIS – Laboratório de Interação Social – do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos. Foram seguidas as principais diretrizes destacadas pelos psicólogos: pedir para que as crianças desenhassem o que elas “GOSTAM” e o que elas “NÃO GOSTAM” na escola, programar a atividade para poucos minutos, pois crianças nesta idade perdem a concentração facilmente, e perguntar às crianças, após o término do Workshop, o que elas haviam desenhado, com a finalidade de facilitar a interpretação dos desenhos. O workshop foi realizado com as vinte crianças de 4 a 6 anos, divididas em três grupos. O instrumento foi aplicado em um grupo por vez, para evitar dispersão e cópia dos desenhos, sendo fornecidos formulários, giz de cera e lápis.

Mapa comportamental com as crianças menores de quatro anos: Para a realização desta atividade foi escolhido um dia típico na creche, sem atividades extras, para se poder avaliar melhor o cotidiano das crianças. Foram observados o horário de sono, refeição e atividades.

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Figura 2 – Fluxograma de aplicação da Avaliação Pós-Ocupação. Fonte: Acervo das autoras.

Os dados obtidos com a aplicação dos instrumentos foram avaliados separadamente. Posteriormente, realizou-se um cruzamento de dados a fim de analisar se as opiniões eram convergentes ou divergentes. Por fim, foram elaboradas diretrizes e recomendações para futuros edifícios similares. No presente artigo, devido à extensão do trabalho, serão apresentados apenas os resultados e as avaliações feitas com relação aos instrumentos.

4 RESULTADOS

A aplicação de diversos instrumentos na APO foi importante tanto para o alcance de dados mais precisos quanto para testar os próprios instrumentos.

Entrevistas com os arquitetos responsáveis pelo projeto

As entrevistas levantaram dados imprescindíveis para a avaliação, e, juntamente com o levantamento dos desenhos técnicos, possibilitaram o mapeamento de toda a evolução da edificação, desde o surgimento até a situação atual, permitindo aos pesquisadores entender as razões da organização geral da edificação e a origem de diversos problemas enfrentados atualmente.

Vistoria técnica e Checklist - Método dos Seis Fatores

Os resultados desses instrumentos juntamente com o levantamento fotográfico e o projeto “as built”, possibilitaram a execução de fichas descritivas de cada ambiente, com dados sobre acabamentos, cores, área útil, atividades desenvolvidas, número de ocupantes, comentários positivos e negativos registrados pelos pesquisadores, fotos e croquis, cujos

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resultados serão sintetizados. Notou-se que o crescimento da edificação em etapas de certa forma impediu uma setorização mais adequada em relação à funcionalidade, e certos ambientes de apoio não tiveram espaço para crescer juntamente com a demanda de serviços, sendo atualmente incompatíveis com as necessidades da creche. Nota-se certa dificuldade de ampliação e de adequação dos ambientes, devido à falta de planejamento global a que a edificação foi submetida no decorrer dos anos e das ampliações.

Além disso, a creche não possui rota acessível para cadeirantes ou para pessoas com mobilidade reduzida, sanitário acessível e outros itens de acessibilidade determinados pela NBR 9050. Por outro lado, existe uma preocupação em adequar os espaços e os equipamentos à escala e uso autônomo das crianças, como sugerem os “Parâmetros Básicos de Infra-estrutura para Educações de Instituição Infantil – Encarte 1” (2006).

Destaca-se positivamente a sobreposição de usos e a flexibilidade de vários espaços, como as salas de aula, que podem ser configuradas de diferentes maneiras para atender diversas atividades – aula, hora do sono, atividades recreativas - e o terraço, que possui teto móvel para atividades a céu aberto ou internas. O fluxo entre as salas de aula e as áreas livres também é positivo, pois as salas se abrem para a uma varanda que se integra com a área externa e funciona como espaço de passagem e de estar. Assim, as crianças podem ter livre acesso entre sala e playground, quando permitidas, evitando a sensação de enclausuramento típicas das salas fechadas. Lackney apud Sanoff (s.d. p.4-5) coloca esta questão como um dos princípios de projeto de uma escola: “Ligar espaços internos e externos: Encorajar alunos a se movimentar, estimulando o córtex motor ligado ao córtex cerebral, para oxigenação”.

Figuras 03 e 04: Utilização de divisórias e tecidos para configuração de um espaço menor, com maior privacidade. Nota-se a freqüente utilização de espelhos para construção da identidade, 2008. Fonte:

Acervo das autoras.

O instrumento também permitiu avaliar outros dados, como a inadequação das dimensões dos ambientes ao uso, a adequação dos pé-direitos às normas, a forma como o mecanismo de abertura das esquadrias – máximo-ar – invade as circulações e podem causar acidentes, entre outros dados. Desta forma, o instrumento possibilita mapear as características de projeto que interferem positiva ou negativamente no cotidiano dos usuários, permitindo sugerir alterações para a edificação em questão e também indicações para futuros projetos.

A vistoria técnica com preenchimento de checklists possibilitou aos pesquisadores imprimir suas próprias visões, de forma imparcial como especialistas, à cada elemento da creche, e foi importante a realização deste instrumento antes do walkthrough com a diretora e o grupo focal, pois desta forma se evitou a influência da opinião dos usuários sobre a avaliação dos especialistas.

Walkthrough e Entrevista com a diretora da escola

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A entrevista realizada com a diretora da escola, e o walkthrough realizado sob sua orientação, deram aos pesquisadores uma visão global de como são utilizados cada um dos ambientes e dos equipamentos, das dificuldades enfrentadas nas atividades diárias, das limitações dos espaços e dos principais problemas enfrentados pelos usuários. O grupo considerou esses instrumentos muito importantes e válidos para o desenvolvimento desse trabalho.

Grupo focal

Durante o grupo focal, muitas informações foram levantadas. Para facilitar a compreensão dos resultados, os mesmos foram divididos em aspectos negativos e positivos. Com relação aos aspectos negativos:

Aparência geral do CCI: Sobre a aparência da creche alguns funcionários relataram que não gostam da cor rosa e branco do CCI.

Conforto térmico, lumínico e acústico: A maioria deles, disseram que a creche é muito escura, que ela é fria no inverno, quente no verão e que as salas não possuem uma boa ventilação natural. Com relação ao conforto acústico, eles relataram que as salas se atrapalham, ou seja, as atividades que os professores desenvolvem em uma sala atrapalham as atividades da sala do lado. Além disso, os berçários são localizados próximo ao parque, então quando as crianças maiores estão no parque brincando se tem crianças menores dormindo, atrapalha o sono deles. Os funcionários relataram também que a AFEESC atrapalha um pouco a questão do barulho, e que o restaurante localizado próximo ao CCI faz com que os funcionários sentem o dia inteiro cheiro de comida, deixando eles enjoados. No entanto, é importante ressaltar que eles enfatizaram que o principal barulho que atrapalha não é o externo e sim o próprio barulho interno.

Privacidade e segurança: Grande parte dos funcionários relatou que as janelas baixas da sala de atividades e do refeitório é um problema, pois existem muitas pessoas que encostam na parede e fica fumando jogando o cheiro de cigarro para dentro do CCI. Isso muitas vezes fica no campo de visão da criança que até comenta sobre o ato. Além disso, muitas pessoas ficam espiando as crianças proporcionando uma situação constrangedora e desagradável, além de passar a sensação de pouca privacidade. As pessoas externas terem acesso as janelas baixas foi levantado como um aspecto negativo.

Organização dos espaços: Falta um espaço de descanso para os funcionários, os banheiros tanto para os funcionários quanto para as crianças possuem problemas. São em quantidades insuficientes, e o banheiro das crianças possui as pias baixas, para as crianças de até 3 anos, e tem a pia para os adultos. Ou seja, para a criança com mais de três anos não existe uma pia adequada, porque ou fica muito baixa, ou fica muito alta. Deveria ter uma pia intermediária. Falta pia no berçário para lavar as mãos. Com relação aos berçários, a rampa da entrada é inclinada demais e no banheiro, não tem uma rampa para as crianças subirem até por falta de espaço e a escada que é utilizada atrapalha o funcionamento do banheiro. As crianças não sobem nas escadas ainda, então os funcionários fazem muito esforço na hora do banho. As cubas do banheiro deveriam ser de inox e não de azulejo como são. O lixo do trocador deveria ser localizado para o lado de fora, pois apesar de ser trocado todo dia, sempre fica um cheiro desagradável. Com relação aos chuveiros, o grupo levantou como um problema sério, pois ou acaba a água, ou a água fica muito gelada ou fica muito quente. O sistema de aquecimento é muito complicado e seria necessário que fossem mais eficientes.

Lixo externo: O local do lixo externo foi levantado como um local de cheiro ruim, localizado próximo do refeitório, tendo às vezes proliferação de mosquitos e insetos. Além disso, os funcionários levantaram que algumas salas possuem o tamanho adequado, agora outras são muito pequenas.

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Parque da mangueira: próximo a mangueira existe uma parte cimentada que acaba se tornando perigosa porque as crianças brincam na areia e podem escorregar, cair e se machucarem. Deveria ser diferente.

Circulação externa: o grupo levantou a questão que as quinas dos pilares são perigosas, que deveriam ser redondas para não machucar as crianças.

Ressaltou-se ainda a falta de um boxe ou uma caixa para lavagem dos machucados, pois acontece da criança se machucar, e não existe um local específico para realizar esses cuidados.

Já com relação aos aspectos positivos, os funcionários ressaltaram que a creche é um lugar aconchegante, que os parques são gostosos, e que no parque da mangueira, possui uma sombra muito agradável, e proporciona a visão geral da creche toda. Embora o grupo tenha levantado como um aspecto negativo as cores do CCI branco e rosa, eles acham que a creche não tem cara de instituição, lembrando mais uma casa e deixando o ambiente mais aconchegante. Além disso, é um ambiente acessível, não é um ambiente fechado que proíbe a criança de percorrer pelo espaço. As salas possuem acesso livre, só o berçário que possui o portãozinho para a segurança dos bebês, mas no geral é um ambiente muito acessível. Outro local levantado como agradável é o solário com o teto móvel. É muito ventilado e possibilita a criança tomar sol pela manhã e quando estiver muito quente o teto é fechado e a criança pode continuar brincando lá. É um ambiente flexível e arejado.

Este instrumento também foi considerado muito importante para compreensão da visão dos usuários-professores sobre a edificação. Devido ao número reduzido de professores – 13 – o instrumento foi considerado apropriado, uma vez que permitiu discussão entre o grupo sobre cada aspecto. .

Mapa comportamental

Por meio do mapa comportamental com as crianças menores de cinco anos, observou-se que durante o horário do sono, havia silêncio na creche e as crianças dormiam bem tranqüilas. Em algumas salas, havia um fundo musical para relaxamento. Durante o período de recreação, foi observado que as crianças utilizavam os ambientes com autonomia, guardando seus pertences nos lugares apropriados, que estavam sempre dispostos em alturas adequadas às suas estaturas. Observou-se também que algumas crianças ficaram inibidas na utilização do sanitário infantil que é unissex e aberto, funcionando também como circulação entre a creche e o playground. Outro ponto a ressaltar é a ampla utilização dos diferentes ambientes pelas crianças, que circulam com facilidade entre sala de aula, sala de atividades, playgrounds, etc.

Este instrumento foi considerado importante e válido para avaliar, do ponto de vista dos especialistas, a integração das crianças com o espaço. No entanto, a avaliação se restringiu a dias típicos, sem atividades extras ou chuva, pois o espaço de tempo disponível para a APO não possibilitou avaliações mais amplas.

Mapa cognitivo – Workshop de desenhos

Analisando os vinte desenhos aplicados com as crianças sobre o que elas “gostam” na creche, percebemos que família e a própria criança foi os elementos mais desenhados, estando eles presentes em 25% dos desenhos. Em seguida, o que as crianças mais desenharam foi elementos referentes à natureza, estando presentes em 22,5% dos desenhos, variando entre nuvens, sol, jardins e até a areia que está presente no parquinho próximo a avenida Carlos Botelho. Em seguida, em 20% dos desenhos, apareceram os espaço da creche, sendo que dentre esses 20%, 20% dos desenhos se referiam à casa do parquinho e 20% foram representações da quadra de futebol. Com relação ao mobiliário e

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equipamentos da creche, em 12,5% dos desenhos eles foram representados pelas crianças, sendo dentre estes, 60% foram desenhados o balanço como o equipamento que elas mais gostavam e 40% foi uma boneca que as crianças usavam para brincar. Em 10% dos desenhos, as crianças representaram atividades que acontecem na creche, como a comida do refeitório, as aulas de natação e uma atividade com água que o enfermeiro fez com elas um dia. A categoria classificada como outros representam 10% dos desenhos e apenas 5% dos desenhos tinham animais representados e 5% dos desenhos representavam figuras, ou seja, apenas criança fez o desenho de um monstro.

25,0%

20,0%22,5%

2,5%

10,0%

12,5%2,5% 5,0%

FamíliaEdificaçãoNaturezaAnimaisAtividadesMob./Equip.FigurasOutros

Gráfico: Apresentação Gráfica dos Resultados.

Figuras 05 e 06: Casa do parquinho e atividades no CCI com a família – Workshop aplicado com as crianças sobre o que elas “gostam” na creche.

Com relação a fase de desenhos sobre o que elas “NÃO GOSTAM” na creche, houve duas abstenções, ou seja, 10%, de crianças que se recusaram a desenhar alguma coisa, alegando que gostavam de tudo na creche. Além disto, 15% representam o “nada” com rabiscos vagos, afirmando gostar de tudo na creche. Outros 15% desenharam elementos da edificação ou a edificação como um todo. Elementos da natureza, como flores e árvores representaram 15% dos desenhos e animais e insetos representaram outros 15%. Itens de mobiliário e equipamentos, incluindo brinquedos tiveram a maior representação, com 20%. Outros desenhos, num total de 10%, continham cena de briga ou da própria criança isolada, impedida de fazer alguma atividade.

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15,0%

15,0%

15,0%20,0%

10,0%

15,0%10,0% Edificação

NaturezaAnimaisMob./Equip.OutrosNadaAbstenções

Gráfico: Apresentação Gráfica dos Resultados.

Figuras 07 e 08: Lugar do jabuti e não há nada que ele não goste – Workshop aplicado com as crianças sobre o que elas “não gostam” na creche.

Esse foi o instrumento considerado pelo grupo como o que menos contribuiu para a avaliação. A primeira razão é a dificuldade de interpretar, mesmo com o auxílio de um psicólogo, o que as crianças realmente quiseram dizer com cada item desenhado. Além disto, conforme foi esclarecido pelo psicólogo consultado, a forma como este instrumento foi aplicado só permite avaliar fatos dos quais a criança tem consciência. Efeitos que o ambiente pode causar à criança, que estão apenas em seu subconsciente não podem ser avaliados sem uma entrevista mais profunda com a criança. Para tanto, são necessários conhecimentos de psicologia que o grupo não domina, de modo que uma avaliação mais profunda se tornou inviável e o instrumento acabou por não trazer contribuições significativas à APO.

5 CONCLUSÃO

A aplicação de diversos instrumentos na APO realizada foi importante tanto para testar os próprios instrumentos quanto para o alcance de dados mais precisos. De maneira geral, todos os instrumentos trouxeram dados relevantes para a APO. As entrevistas com pessoas chave levantaram dados imprescindíveis para a avaliação, sendo estas informações complementadas com a realização do grupo focal com os professores e o enfermeiro. A discussão entre os professores foi muito produtiva e supriu as expectativas dos pesquisadores.

A vistoria técnica com preenchimento de checklists possibilitou aos pesquisadores imprimir suas próprias visões, de forma imparcial como especialistas a cada elemento da creche. A importância de aplicar esse método antes do walkthrough com a diretora e o grupo focal foi evitar a influência dos usuários na avaliação dos especialistas.

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Com relação ao workshop de desenhos com as crianças, o grupo encontrou dificuldades de interpretação, mesmo com o auxílio de um psicólogo, sobre o que as crianças realmente quiseram dizer com cada item desenhado.

A participação do usuário é muito importante para a descoberta dos pontos positivos e negativos da utilização, devido a sua longa permanência no espaço. Por outro lado, o conhecimento do pesquisador possibilita a avaliação técnica da edificação. Desta forma, é necessária a aplicação dos diversos instrumentos, uma vez que estes se complementam.

Por fim, além de contribuir para avaliar os instrumentos da APO na medida em que foi possível verificar na prática as dificuldades de cada aplicação, o trabalho também contribuiu para a identificação dos aspectos positivos e negativos da edificação em questão., A APO apresentada serve de base para se realizar futuras intervenções no local estudado, bem como na concepção de futuros projetos semelhantes, melhorando assim não só o ambiente físico, mas a qualidade de vida dos usuários desses espaços. Além disso, as dificuldades e potencialidades relatadas aqui com relação aos instrumentos podem gerar melhorias nas próximas avaliações pós-ocupação em ambientes educacionais infantis.

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