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Avanços & Olhares | Nº4 | Barra do Garças-MT 26 O MOVIMENTO ESCOTEIRO NO GRUPO 5 DE AGOSTO DE RIO VERDE-GO: UMA PRÁTICA POUCO CONHECIDA Cláudia Graner Módes 1 Aida Asunción Arias Gonzáles 2 Jair Pereira de Melo Junior 3 Resumo O Movimento Escoteiro é uma prática existente no mundo todo; criada em 1907 na Inglaterra, porém pouco conhecida e difundida. A prática pedagógica é orientada de maneira informal pelo programa educativo do escoteiro e desenvolvida principalmente ao ar livre, em espaços de socialização. Diante da existência de práticas que contribuam com a educação formal, foi realizado um estudo exploratório de abordagem qualitativa/quantitativa, tendo como referência, o Grupo Escoteiro 5 de Agosto em Rio Verde Goiás. A amostra contendo 30 participantes foi definida pelo critério de aceitabilidade. Os escotistas menores de idade só participaram com autorização dos pais ou responsáveis. A coleta de dados foi realizada em junho de 2015 por intermédio de um questionário previamente elaborado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Os resultados foram representados em análise gráfica em termos percentuais das percepções dos integrantes do grupo, por ramos: lobinho, escoteiro, sênior, pioneiro e participantes chefe escotista. Dos participantes do ramo lobinho, 95% relacionaram escotismo a acampamentos e brincadeiras e 5% associaram como lugar de fazer amigos, os demais ramos foram unânimes quanto à aprendizagem. Quanto à importância do grupo 5 de Agosto para a cidade de Rio Verde, todos os ramos responderam que é muito importante, sendo uma referência para a cidade. Todos os participantes afirmaram categoricamente que estão muito satisfeitos de serem membros do movimento escoteiro e 98% asseguraram que as atividades do método escoteiro influenciam no desenvolvimento das próprias virtudes e respeito à natureza. Quando questionados sobre a utilidade do que se aprende no escotismo ser útil para a vida, 100% de todo grupo pesquisado concordaram totalmente. Palavras-chave: Movimento Escoteiro. Educação não formal. Práticas Educativas. Pesquisa exploratória. Abstract The Boy Scout Movement is a worldwide practice, created in 1907 in England, but little known and widespread. The Pedagogical Practice is informally oriented by the Boy Scout educational program and is mainly developed outdoors and socialization spaces. Given the existence of practices that contribute to formal education, an exploratory study of qualitative and quantitative approach was conducted, based on the “5 de Agosto Scout Group”, in Rio Verde city, state of Goiás. The sample containing 30 participants was defined by the acceptability criterion. Underage Boy Scouts participated only with permission from parents or guardians. Data collection was performed in June 2015 through a questionnaire previously prepared and approved by the Research Ethics Committee. The results came from the graphical analysis in percentage terms of the group members' perception by section: cub, scout, senior, pioneer and scout leader participants. The cub section, 95% of them, related scouting to camps and play and 5% associated it to a place of making friends. All the other sections were unanimous relating that topic to a way of learning. When all the members were asked about the importance of the 5 de Agosto Scout Group, they answered that it was very important and a reference for Rio Verde. They were categorical that all of them are very pleased to be members of the Scout Movement in their city and 98% assured that the activities and method of this group directly influence the development of their 1 Mestranda em Ciências da Educação, Universidad Interamericana - PY. Professora e Coordenadora de área de ciências humanas. 2 Dra. Aida Asunción Arias Gonzáles - Orientadora. Professora da Universidad Interamericana - PY 3 Dr. Jair Pereira de Melo Júnior - Coorientador, Biofísico. Departamento de Biofísica, Universidade de Rio Verde-UniRV.

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O MOVIMENTO ESCOTEIRO NO GRUPO 5 DE AGOSTO DE RIO VERDE-GO: UMA PRÁTICA POUCO CONHECIDA

Cláudia Graner Módes 1

Aida Asunción Arias Gonzáles 2 Jair Pereira de Melo Junior 3

Resumo O Movimento Escoteiro é uma prática existente no mundo todo; criada em 1907 na Inglaterra, porém pouco conhecida e difundida. A prática pedagógica é orientada de maneira informal pelo programa educativo do escoteiro e desenvolvida principalmente ao ar livre, em espaços de socialização. Diante da existência de práticas que contribuam com a educação formal, foi realizado um estudo exploratório de abordagem qualitativa/quantitativa, tendo como referência, o Grupo Escoteiro 5 de Agosto em Rio Verde Goiás. A amostra contendo 30 participantes foi definida pelo critério de aceitabilidade. Os escotistas menores de idade só participaram com autorização dos pais ou responsáveis. A coleta de dados foi realizada em junho de 2015 por intermédio de um questionário previamente elaborado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Os resultados foram representados em análise gráfica em termos percentuais das percepções dos integrantes do grupo, por ramos: lobinho, escoteiro, sênior, pioneiro e participantes chefe escotista. Dos participantes do ramo lobinho, 95% relacionaram escotismo a acampamentos e brincadeiras e 5% associaram como lugar de fazer amigos, os demais ramos foram unânimes quanto à aprendizagem. Quanto à importância do grupo 5 de Agosto para a cidade de Rio Verde, todos os ramos responderam que é muito importante, sendo uma referência para a cidade. Todos os participantes afirmaram categoricamente que estão muito satisfeitos de serem membros do movimento escoteiro e 98% asseguraram que as atividades do método escoteiro influenciam no desenvolvimento das próprias virtudes e respeito à natureza. Quando questionados sobre a utilidade do que se aprende no escotismo ser útil para a vida, 100% de todo grupo pesquisado concordaram totalmente.

Palavras-chave: Movimento Escoteiro. Educação não formal. Práticas Educativas. Pesquisa exploratória.

Abstract The Boy Scout Movement is a worldwide practice, created in 1907 in England, but little known and widespread. The Pedagogical Practice is informally oriented by the Boy Scout educational program and is mainly developed outdoors and socialization spaces. Given the existence of practices that contribute to formal education, an exploratory study of qualitative and quantitative approach was conducted, based on the “5 de Agosto Scout Group”, in Rio Verde city, state of Goiás. The sample containing 30 participants was defined by the acceptability criterion. Underage Boy Scouts participated only with permission from parents or guardians. Data collection was performed in June 2015 through a questionnaire previously prepared and approved by the Research Ethics Committee. The results came from the graphical analysis in percentage terms of the group members' perception by section: cub, scout, senior, pioneer and scout leader participants. The cub section, 95% of them, related scouting to camps and play and 5% associated it to a place of making friends. All the other sections were unanimous relating that topic to a way of learning. When all the members were asked about the importance of the 5 de Agosto Scout Group, they answered that it was very important and a reference for Rio Verde. They were categorical that all of them are very pleased to be members of the Scout Movement in their city and 98% assured that the activities and method of this group directly influence the development of their

1 Mestranda em Ciências da Educação, Universidad Interamericana - PY. Professora e Coordenadora de área de ciências humanas. 2 Dra. Aida Asunción Arias Gonzáles - Orientadora. Professora da Universidad Interamericana - PY3 Dr. Jair Pereira de Melo Júnior - Coorientador, Biofísico. Departamento de Biofísica, Universidade de Rio Verde-UniRV.

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own virtues and their sense of respect for the nature. When they were asked about the usefulness of learning in scouting for life, 100% of the group agreed that it was extremely important. Key-words: Boy Scout Movement. Non formal education. Educational practices. Exploratory research.

Introdução � �

É consensual a necessidade de se discutir práticas pedagógicas que contribuam para a

formação integral dos jovens, de modo que sejam cidadãos participativos e responsáveis,

capazes de enfrentar e dar respostas eficazes às dificuldades e desafios encontrados no meio

social. O Movimento Escoteiro apresenta uma proposta pedagógica onde o espaço/lugar

contribui para a formação de crianças e adolescentes.

Assim, faz-se pensar o estudo de práticas pedagógicas alternativas que estimulem a

percepção dos aprendizes em relação ao que acontece no cotidiano do espaço em que vive.

Essas experiências podem�ocorrer fora da sala de aula, a partir de atividades extraescolares que

estimulem os jovens a combaterem a vida sedentária e a dependência de aparelhos tecnológicos

que os deixam cada vez mais reféns da tecnologia.

Portanto, é necessária a investigação de diferentes métodos pedagógicos, sem ignorar o

imenso valor que a escola tradicional, enquanto instituição formal, tem em relação aos saberes

historicamente acumulados. A educação não acontece apenas na escola, são inúmeros os

espaços educativos.

Dessa perspectiva, chama-se atenção o Grupo Escoteiro 5 de Agosto, uma instituição

de ensino não formal, onde acontecem atividades pedagógicas que extrapolam os limites da

escola e que trabalha com a formação do indivíduo, tendo por base os princípios do escotismo,

despertando um olhar diferenciado e investigativo nos seus integrantes.

Pouco se conhece sobre o método escoteiro, principalmente a existência do Grupo

Escoteiro 5 de Agosto na cidade de Rio Verde - GO, não só como instituição, mas enquanto

prática pedagógica. Associar Movimento Escoteiro como proposta pedagógica que contribui

para a formação de jovens é, ainda, uma realidade muito distante do conhecimento da maioria

das pessoas.

A motivação, para o estudo do método escoteiro, surgiu a partir da necessidade de

encontrar diferentes propostas metodológicas de aprendizagem que ocorram fora dos “muros

da escola” e que despertem nos jovens o senso de autoeducação. Assim, objetivou-se com este

trabalho reportar sobre a influência do Movimento Escoteiro e suas contribuições na educação

não formal, por meio de um estudo exploratório envolvendo os participantes desse movimento.

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O campo de estudo teve como foco o Grupo Escoteiro 5 de Agosto situado na cidade de Rio

Verde - GO.

1. Breve Histórico do Movimento Escoteiro

O Escotismo foi criado na Inglaterra por Robert Stephenson Smith Baden-Powell (1857-

1941), que quando jovem participou de vários agrupamentos militares, era considerado um

estrategista e escreveu alguns livros sobre o tema.

Pensando no público infantil, como futuros soldados e como cidadãos úteis à Pátria,

Baden-Powell passa a ser defensor de um método educacional, que pudesse efetivamente

contribuir para a formação produtiva e forte da juventude britânica, considerando o ponto de

vista moral e físico.

Nesse ambiente, o escotismo, pensado por Baden-Powell, surgiu com o intuito de

combater severamente hábitos viciosos em nome da saúde, da moral, da regeneração dos

cidadãos e da sociedade europeia da época (BADEN-POWELL, 2007).

No Brasil aconteceu algo semelhante, o escotismo surgiu nas primeiras décadas do

século XX, quando a história do Brasil foi marcada por intensas mudanças políticas,

econômicas, sociais e culturais. Ressalta Carvalho (1988) que a República se impõe a partir de

um discurso pejorativo sobre a realidade brasileira imperial, trazendo para si a tarefa de

reconstruir o país e fazer uma nova nação.

Os republicanos com o intuito de construir uma nova nação, receberam com bons olhos

o movimento escoteiro, visando contribuir para a valorização do sentimento nacionalista em

benefício da construção de um Brasil civilizado e desenvolvido nos moldes europeus. Dessa

forma, as ideias originais de Baden-Powell encontraram ressonância nas terras brasileiras

(CARVALHO, 1988).

1.2 - O Movimento Escoteiro em Goiás e o contexto histórico do Grupo 5 de Agosto

O estado de Goiás é composto por 3 Distritos, o sudoeste goiano é o 3º distrito da região,

composto por Jataí, Mineiros, Chapadão de Céu e Rio Verde, estando vinculados, quanto a sua

organização, ao nível nacional (ESCOTEIROS DO BRASIL, 2014).

A expansão do Movimento Escoteiro em Goiás teve a contribuição da transferência da

capital brasileira do Rio de Janeiro para Brasília. Nesse cenário, o escotismo cresceu no Estado

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de Goiás. No sudoeste goiano, surgiu primeiramente na cidade de Jataí. Em agosto de 1961,

fundou-se o “Grupo Escoteiro 5 de Agosto”.

Segundo Machado (2007), um fato que marcou a história do escotismo em Rio Verde

ocorreu em 1972 com a doação de um terreno para a construção da sede, através do prefeito

Eurico Veloso do Carmo. Tudo isso se tornou possível através de doações e campanhas,

juntamente com o apoio de empresas e da comunidade. A sede continua funcionando no mesmo

local. O prédio sede, completou 47 anos em 2019, tornando-se um patrimônio da cidade de Rio

Verde, sendo a parte administrativa ligada à organização mundial dos escoteiros.

2. O método escoteiro e o ensino � �

A partir da leitura do projeto educativo escoteiro, percebeu-se algumas características e

elementos de métodos educativos defendidos e colocados em prática por teóricos da educação.

Rousseau (2004) propõe estimular a criança a fazer perguntas, respeitando sua liberdade

de expressão com o intuito de formar um homem livre. Pestalozzi (1946, p.15), fundamenta-se

na educação pela observação, pela experiência e pelo sentido, características estas do método

intuitivo. Segundo ele, se aprende a fazer e a conhecer fazendo. Já para Montessori (1965), com

o Método Ativo, estimula-se a atividade física e manual para o desenvolvimento da criança.

Tais teóricos trazem reflexões sobre a educação integral do jovem, onde a autoeducação

acontece ao realizarem atividades que envolvam lugares fora do espaço da escola, como no

movimento escoteiro. Isso, todavia, não desconsidera o imenso valor que a educação escolar

desempenha, enquanto instituição formal, na construção dos conhecimentos historicamente

acumulados.

O projeto educativo escoteiro apresenta uma proposta diversificada, onde o jovem

recebe instrução contínua e é estimulado a tornar um protagonista jovem. Nesse sentido,

fundamenta-se em uma educação não formal, onde se entende que ocorrem atividades e

experiências diversas, praticadas fora da escola e que complementam a aprendizagem escolar.

As atividades escoteiras são planejadas e executadas de acordo com o seu Projeto

Educativo, respeitando a organização do grupo, o qual contém orientações gerais para que cada

ação realizada reproduza a essência do escotismo. O conhecimento é construído coletivamente,

por meio de ações e interações entre todos os integrantes do grupo, proporcionando várias

problematizações sobre um determinado assunto.

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Os integrantes participam efetivamente da elaboração do programa de ensino, o qual,

no geral, se resume a jogos, brincadeiras, práticas educativas e atividades desenvolvidas para

que ocorra a mediação da aprendizagem frente ao objetivo da instrução técnica.

O Método Escoteiro propõe ações educativas que contribuem para o equilíbrio das

diversas áreas da personalidade dos jovens, para a formação do caráter, requisito para o êxito

em qualquer profissão, na formação da família e na vida em sociedade (UEB, 2012).

As ideias de Pestalozzi e Montessori para o escotismo

Baden-Powell o fundador do escotismo, ao pensar sua metodologia pedagógica, colocou

em prática elementos de aprendizagem plantados e pensados por educadores famosos como

Pestalozzi, que influenciou a educadora contemporânea Montessori.

Pode-se verificar no surgimento do método educacional, proposto por Pestalozzi (1946),

que as experiências com crianças nas cidades de Neuhof (1780) e Stanz (1799), na Suíça,

indicam aproximação entre os dois segmentos educacionais, ou seja, o método educacional de

Pestalozzi e o escotismo de Baden-Powell.

Percebe-se a identidade do pensamento de Pestalozzi na metodologia pensada por

Baden-Powell no escotismo, não só pela vivência da prática com crianças e jovens, mas também

sobre o discurso de fazer analogia com a natureza.

Como o educador, Pestalozzi iniciou seu trabalho em 1767, na de cidade de Berna, na

Suíça. Sua proposta pedagógica, inspirada em Jean Jacques Rousseau (1712-1768), tem por

referência a concepção da educação como processo que deve seguir a natureza. Fundamenta-se

em princípios como liberdade e bondade, características inatas ao ser, além de valorizar a

personalidade individual de cada criança.

Pestalozzi defendeu a educação não repressiva, o ensino como meio de desenvolvimento

das capacidades humanas e o cultivo do sentimento, da mente e do caráter. Seu propósito era

descobrir leis que propiciassem o desenvolvimento integral da criança e, para isso, concebeu

uma educação com as dimensões intelectual, profissional e moral, estreitamente ligadas entre

si (PESTALOZZI, 1946).

Tanto o Escotismo, quanto as primeiras publicações de Pestalozzi, propunham a ideia

de instrução libertária, ou seja, as duas abordagens tinham como proposta uma educação que

levasse o indivíduo ao conhecimento de maneira autônoma para a sua formação.

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A educação deve ser uma forma de ação que permita a cada um trilhar sua formação

naquilo que se deseja ser. Pestalozzi enfatiza que a função da educação é viabilizar um projeto

de autonomia para os sujeitos (PESTALOZZI, 1946). Tal ideia, encontra-se no método

escoteiro, onde cada integrante tem total liberdade e autonomia para fazer escolhas a respeito

de sua formação dentro do grupo e de sua formação social.

A pedagogia do método escoteiro também buscou a proposta de uma educação onde as

crianças e jovens pudessem ter mais liberdade e, ao mesmo tempo, aprendessem os valores

humanos que muitas vezes são esquecidos ou mal aplicados nos currículos escolares, pois são

a base para a formação de uma sociedade equilibrada e feliz.

Neste contexto de entendimento da construção e aplicação do método escoteiro,

considera-se também a contribuição do pensamento de Montessori acerca da concepção de

educação da criança e do jovem.

Sobre Montessori e a identidade de seu trabalho, percebe-se que sua metodologia na

educação utiliza elementos como o aprender fazendo, vida em equipe, valorização de um código

de ética próprio e de atividades progressivas, atraentes e variadas. Para Montessori, �

[...] educação não é empregada aqui no sentido de ensinamento, mas no de auxílio ao desenvolvimento psíquico da criança. Acredita-se atualmente que a criança possui desde o nascimento, uma autêntica vida psíquica, pois faz-se distinção entre consciente e subconsciente. Essa ideia de um subconsciente cheio de impulsos e de realidades psíquicas praticamente já entrou para a linguagem popular (MONTESSORI, s.d., p. 41-42)

Seu trabalho é decidir como aplicar tudo o que aprendeu nas várias situações da vida e,

somado ao trabalho de sua consciência, implica no exercício de sua responsabilidade. A

educação pensada por Montessori propicia liberdade para que as crianças coordenem suas

ações; esta prática também é contemplada no método do escotismo.

3.1- Paulo Freire no viés libertador da pedagogia e o diálogo com o escotismo

Paulo Freire, nascido em Recife (PE), em 1921, é autor de mais de 20 livros, sendo

reconhecido internacionalmente como um dos maiores educadores do Século XX. A obra de

Paulo Freire é referência para educadores que se dedicam à investigação e criação de

pedagogia crítica que tenha compromisso com a humanização, com a liberdade e com a

justiça social (NÓVOA, 1988).

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Não há nenhuma referência documentada e publicada no Escotismo que remonte aos

ideais do pernambucano Paulo Freire. No entanto, tal fato é justificado pelo contexto histórico,

político e social em que ocorreu a origem do movimento escoteiro e o momento em que surgem

as ideias de Freire no cenário atual da educação.

Essa não referência documentada, explica-se pelos diferentes momentos históricos e

contextos que precederam as correntes de ensino em questão. Enquanto o escotismo teve origem

em um contexto de expansionismo britânico, a ideia de Freire refere-se ao paradigma emergente

da atualidade. Portanto, o intuito é construir pontes entre a epistemologia de Paulo Freire e as

ideias do escotismo.

Foi de interesse dessa pesquisa relacionar a ideia freireana com a proposta do escotismo.

Observa-se que o diálogo é utilizado no escotismo para criar um ambiente onde todos possam

participar e dar suas opiniões, criando um espaço aberto.

O diálogo para Freire implica numa troca de saberes, mas não se esgota nela. É condição

para a construção de conhecimento, porque na situação dialógica a comunicação entre os

sujeitos que estão dialogando problematiza o objeto de conhecimento, questionando, criticando,

avaliando, trazendo novos aportes de informação, enfim, ampliando as dimensões do que é

possível saber sobre o objeto a ser conhecido. Para Paulo Freire:

O diálogo deve ser entendido como algo que faz parte da própria natureza histórica dos seres humanos. É parte de nosso progresso histórico do caminho para nos tornarmos seres humanos. Está claro este pensamento? Isto é, o diálogo é uma espécie de postura necessária, na medida em que os seres humanos se transformam cada vez mais em seres criticamente comunicativos. O diálogo é o momento em que os humanos se encontram para refletir sobre sua realidade tal como a fazem e refazem (FREIRE, 1986, p.64).

O diálogo está presente no escotismo e, por meio dele, é possível a construção de

conhecimento de forma coletiva e colaborativa. Esse modo de construir conhecimento permite

trabalhar de forma integrada. O aprendizado de conceitos, valores, habilidades e atitudes vão

sendo construídos através do diálogo e da troca de saberes que são indispensáveis na educação

integral.

No escotismo os chefes e aprendizes conseguem se colocar na posição do outro, tendo

a consciência de que, ao mesmo tempo, são educandos e educadores, chefes escotistas e

escoteiros no processo de construção da cidadania. Nesse aspecto, a pedagogia freireana

aproxima-se do escotismo, pois este é um recorte claro da importância do diálogo e da troca de

saberes no processo de formação do indivíduo (FREIRE, 1986). �

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3. Procedimento experimental

Tendo em vista o objetivo da pesquisa, a abordagem utilizada foi a

qualitativa/quantitativa e o estudo exploratório. Nesse sentido, a metodologia adotada

possibilitou retratar a realidade de forma contextualizada, considerando as interações,

percepções, sensações das pessoas relacionadas às situações específicas onde ocorreram.

O projeto de pesquisa foi elaborado no 1º semestre de 2015, após submissão ao Comitê

de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade de Rio Verde UniRV, via Plataforma Brasil e

devidamente aprovado em 11/06/2015.

A pesquisa foi realizada tendo como espaço amostral o Grupo Escoteiro 5 de Agosto

situado na rua 2, Qd. A, Lt. 13 na Vila Moraes, localizado na cidade de Rio Verde em Goiás.

Atualmente há 55 (cinquenta e cinco) escotistas cadastrados distribuídos nos ramos: 20

lobinhos, 12 escoteiros, 10 sêniors, 2 pioneiros e 11 adultos escoteiros e chefes.

Como forma de preservar a identidade dos participantes, optou-se por usar o estudo

classificado em ramos do grupo escoteiro: lobinho, escoteiro, sênior, pioneiro e chefe escotista,

mantendo assim, o sigilo de suas identidades.

Utilizou-se como critérios de inclusão, a aceitabilidade de todos os membros e ramos e

ter mais de um ano de participação no grupo. Para todos os escotistas que consentiram participar

da pesquisa foi disponibilizado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para os

maiores de idade, onde o mesmo foi assinado em duas vias, ficando uma com o pesquisado.

Para os participantes menores de idade o TCLE foi assinado pelos pais ou responsáveis. Foi

feita uma Carta de Anuência onde os chefes responsáveis pelo Grupo Escoteiro 5 de Agosto

assinaram autorizando a pesquisa.

Utilizou-se a pesquisa bibliográfica para elaborar a construção histórica do Grupo

Escoteiro 5 de Agosto e toda a fundamentação teórica e, a pesquisa exploratória por apresentar

maior afinidade com o tema. Como a prática educativa do movimento escoteiro envolve todos

os que estão ativos no grupo, tornou-se importante conhecer a percepção relativa de cada

participante. Assim, através de um questionário contendo questões objetivas, utilizou-se uma

amostra de trinta (30) escotistas, sendo, nove (9) do ramo lobinho, sete (7) ramo escoteiro, cinco

(5) ramo sênior, um do ramo (1) pioneiro e oito (8) participantes chefes escotistas.

O questionário foi aplicado objetivando coletar as percepções dos sujeitos pesquisados,

bem como configurar o contexto em que emergem os significados, as crenças e os valores

elaborados por eles, que serviram para instrumentalizar suas concepções referentes à temática

estudada. Coletou-se dados que possibilitaram categorizar as variáveis fundamentais da

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investigação. O questionário foi aplicado no espaço da sede do Grupo Escoteiro 5 de Agosto no

horário das atividades do movimento escoteiro.

Durante o processo de pesquisa de campo para coleta de dados a postura foi de não

intervenção nas situações vividas, pois se assume, no desenvolvimento da pesquisa, uma atitude

indireta da realidade estudada.

Com o volume de informações obtidas, procurou-se desenvolver um formato de análise

que ajudasse a compreender as variáveis abordadas, permitindo estabelecer relações entre o

referencial teórico e o material empírico coletado.

Os questionários foram analisados por ramos do GRE 5 de Agosto, considerando todos

os escoteiros entrevistados. A partir das respostas obtidas foram elaborados gráficos para

representar a ideia dos participantes e em seguida a discussão dos mesmos.

O tratamento dos dados, ou seja, a interpretação dos resultados gráficos foi feita com

base nas ideias de referenciais teóricos, como por exemplo, Paulo Freire e a Pedagogia

Libertadora (FREIRE, 1996) dentre outros.

Por meio de hipóteses e inferências, a partir das respostas dos sujeitos envolvidos na

pesquisa foi possível verificar e identificar concepções, crenças e significações sobre a

influência do movimento escoteiro na formação dos participantes do grupo e a importância

desse movimento escoteiro para a cidade de Rio Verde.

4. Resultados e discussão

O espaço da sede do Grupo Escoteiro 5 de Agosto é um patrimônio da cidade de Rio

Verde, sendo a parte administrativa ligada à organização mundial dos escoteiros e propõe aos

participantes atividades que estão no método escoteiro. Para esta pesquisa, observou-se trinta participantes com idades entre 7 e 55 anos,

distribuídos em quatro ramos do grupo escoteiro: lobinho, escoteiro, sênior, pioneiro e os

participantes do grupo chefe escotista, como pode ser visto no gráfico 1. �

Gráfico 1 - Distribuição dos participantes no Grupo 5 de Agosto

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Foi observada a percepção de cada ramo e o grupo de chefe escotista em relação aos

princípios do método escoteiro. Todos os participantes da pesquisa têm mais de um ano de

vivência no Grupo 5 de Agosto de Rio Verde-GO. Não há limites de idade para ingressar neste

movimento e uma vez que o participante se torna escoteiro é livre para desligar quando sentir

vontade, a autonomia é totalmente respeitada.

Em relação ao sexo não há distinção para ingressar no grupo, tornando-se escotista as

regras são as mesmas para migrar de ramo, o critério utilizado é a faixa etária da criança ou

adolescente. O adulto pode se tornar membro do grupo com qualquer idade.

Outro fator avaliado foi a visão e a percepção dos integrantes do 5 de Agosto, para

entender o que eles pensam em relação ao movimento escoteiro. Sabe-se que esse método

escoteiro tem o intuito de proporcionar uma educação complementar. O gráfico 2 mostra a

ideia dos participantes do grupo 5 de Agosto sobre o que eles pensam a respeito do escotismo.

Gráfico 2 - Respostas dadas em termos percentuais quanto ao conceito de escotismo

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�De acordo com o gráfico o conceito sobre escotismo variou de acordo com a percepção

de cada ramo escoteiro e do grupo de chefe escotista, sendo este conceito representado em

termos percentuais. Nota-se que no ramo dos lobinhos (30%), formado por participantes com

idade entre 7 e 10 anos, 33% responderam que quando pensam em escotismo o que vem à

cabeça é acampamento, 33% brincadeira, 24% responderam que pensam em fazer amigos e

uma parcela menor equivalente a 10% disseram que escotismo está relacionado com

aprendizado.

Como visto no gráfico 1, 23% dos participantes são do ramo escoteiro, 30% deles

(gráfico 2) entendem que o escotismo está relacionado com acampamento. Neste ramo, a faixa

etária é de 10 a 14 anos, caracterizada por atividades ligadas a aventura, onde o fundo motivador

da proposta do ramo é aprender com aventura.

Ainda no ramo escoteiro (gráfico 2), 70% dos participantes entendem que o escotismo

está relacionado ao aprendizado. O método escoteiro propõe aprender com jogos e brincadeiras,

portanto, a maioria dos participantes desse ramo escoteiro, apontou que aprendizagem é o que

vem à cabeça quando falam em escotismo.

Do ramo sênior com número de entrevistados de 17% do total, com idade entre 14 e 17

anos (gráfico 1), pode-se notar que no gráfico 2, 18% relacionaram escotismo com

acampamento e 18% oportunidade de fazer amigos, e a maioria, 64% apontam como resposta,

o aprendizado. O estudo mostra, também, que todos os participantes (gráfico 2) do ramo

pioneiro com 3% do total dos entrevistados (gráfico 1), relacionaram escotismo com

aprendizado.

Os integrantes do grupo chefe escotista que representam 27% dos participantes (gráfico

1), quando questionados com relação ao que pensam sobre escotismo, todos eles (gráfico 2)

responderam que escotismo remete ao aprendizado. No gráfico 3, solicitou-se aos participantes

que informassem a importância do Grupo Escoteiro 5 de Agosto para a cidade de Rio Verde-

GO.

Gráfico 3 - Contribuição do Grupo 5 de Agosto para a cidade de Rio Verde-GO

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O gráfico 3 mostra que 90% dos participantes do ramo lobinho e todos os ramos:

escoteiro, sênior, pioneiro e os participantes do grupo chefe escotista, reconhecem que o grupo

5 de Agosto é muito importante para a cidade de Rio Verde, apenas 10% do ramo lobinho não

souberam responder. Considerando a faixa etária desse ramo entre 7 e 10 anos, nota-se que o

ramo lobinho já têm a percepção da importância do grupo 5 de Agosto para sua cidade.

A proposta do método escoteiro é contribuir para que os jovens aprendam bons

princípios e que sejam bons cidadãos. O gráfico 4 mostra o nível de satisfação em termos

percentuais dos ramos e os chefes escotistas.

��Gráfico 4 - Nível de satisfação quanto à participação no grupo de escoteiros

A maioria dos membros do ramo lobinho, 57% estão muito satisfeitos e 33% se

declararam satisfeitos, uma parcela muito pequena, equivalente a 10% responderam estarem

pouco satisfeitos. Esse percentual de insatisfação pode ser explicado pela faixa etária dos

lobinhos, já que de 7 a 10 anos de idade a criança não está muito disposta a seguir disciplinas e

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regras. Todavia, com a maturidade isso muda levando em conta os benefícios adquiridos, pois

se sentirão mais íntegros e capazes.

O ramo escoteiro tem como um dos objetivos educativos a formação da autonomia;

neste ramo 56% estão satisfeitos e 44% muito satisfeitos, considera-se a faixa etária 11 a 14

anos. Isso reforça que a satisfação está ligada ao nível de maturidade dos participantes.

De acordo com gráfico 4, o grupo sênior e o pioneiro estão muito satisfeitos em

participarem do 5 de Agosto, já o grupo do chefe escoteiro apresentou o resultado onde 50%

estão satisfeitos e 50% muito satisfeitos. Os chefes são adultos que oferecem seu trabalho

voluntário, sem vínculos político-partidários, pois o grupo não visa fins lucrativos. Chefes são

integrantes que colaboram com movimento escoteiro para realizarem a proposta do projeto

educativo.

Quanto a opinião dos participantes sobre a existência de valores humanos, como:

respeito, disciplina e confiança no movimento escoteiro, o gráfico 5 mostra em termos

percentuais a percepção de cada um dos entrevistados.

Gráfico 5 - Opinião quanto à existência de valores humanos no escotismo

��

Como pode ser visto no gráfico 5, a maioria concorda totalmente que existem valores

humanos presentes nas atividades do escotismo. O ramo lobinho 77% concordam totalmente,

12% concorda um pouco e 11% não tem opinião formada sobre a existência de valores humanos

no escotismo. Este ramo é formado por integrantes que estão envolvidos com a fase das

brincadeiras pela faixa etária que se encontram. O gráfico 6 mostra os resultados da opinião dos

participantes sobre a contribuição do escotismo para o desenvolvimento social e afetivo dos

participantes͘�

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Gráfico 6 - A contribuição do escotismo para o desenvolvimento social e afetivo

O gráfico 6 mostra que 90% do ramo lobinho concordam totalmente com a contribuição

do escotismo para o desenvolvimento social e afetivo do participante, apenas 10%

manifestaram que não tem opinião formada.

Do ramo escoteiro, 86% dos participantes concordam totalmente que o escotismo

desenvolve habilidades sociais e afetivas, enquanto que uma parcela menor, 14% concordam

um pouco. O gráfico 7 mostra a percepção dos participantes do grupo escoteiro 5 de Agosto em

relação às próprias virtudes e respeito à natureza.

Gráfico 7 - Opinião dos participantes em relação às próprias virtudes e respeito à natureza

A análise inicial do gráfico 7 reporta aos princípios do escotismo que estão definidos na

“Promessa Escoteira”, base moral que se ajusta aos progressivos níveis de maturidade da pessoa

humana, onde o participante desenvolve suas próprias virtudes, com participação no

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desenvolvimento da sociedade com respeito à dignidade do homem e da Natureza, segundo a

Organização Mundial do Movimento Escoteiro (UEB, 2012).

Do ramo lobinho, 90% concordam totalmente que o escotismo envolve a questão do

desenvolvimento das próprias virtudes e respeito à natureza. Somente 10% não tem opinião

formada sobre o tema. Considerando o ramo escoteiro, 43% concordaram totalmente e 57%

concordam um pouco.

Dos entrevistados do ramo sênior, 78% concordam totalmente e somente 22% disseram

que concordam um pouco. Todos do ramo pioneiro e chefe escotista concordam totalmente que

o desenvolvimento das próprias virtudes acontece no escotismo. Para avaliar a contribuição do

que se aprende no escotismo à aspectos da vida pessoal dos entrevistados, foram feitos alguns

questionamentos como mostra o Gráfico 8.

Gráfico 8 - Utilidade do que se aprende no escotismo na vida pessoal

Observa-se que 90% dos lobinhos concordam totalmente que o aprendizado que

adquirem no escotismo é útil para sua vida e apenas 10% do ramo lobinho concorda um pouco,

o que quer dizer que todos concordam. No caso do segundo grupo, o ramo escoteiro, 86%

concordam totalmente de acordo com as informações e somente 14% concordam um pouco. Os

grupos dos ramos sênior, pioneiro e chefe escoteiro, todos concordam totalmente que o

aprendizado do escotismo é útil para suas vidas.

Ao interpretar os resultados do gráfico 8, tendo em vista o que propõe a UEB (2012),

quanto ao método escoteiro, deve-se entender que no escotismo se aprende fazendo e as tarefas

são desenvolvidas em equipe. Estas são habilidades de autogerenciamento para a formação ética

dos participantes.

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Os resultados do estudo apresentados no gráfico 8 estão de acordo com as ideias de

Baden-Powell (2007), onde cada jovem participante desenvolve habilidades que contribuem

para se tornarem cidadãos saudáveis e úteis para a sociedade.

O gráfico 8 reflete, também, a ideia de Pestalozzi (1946) que concebeu uma educação

com dimensões, intelectual e moral, ligadas entre si e estão em sintonia com a proposta da

prática no Grupo Escoteiro.

Dessa forma, sobre o aprendizado no grupo ser útil para a vida, os entrevistados em sua

maioria declaram que concordam com a ideia, o que está de acordo com o pensamento de Freire

(1996) no que tange a formação da autonomia do cidadão. Portanto, nota-se que ao participarem

do grupo escoteiro 5 de Agosto, os integrantes recebem ensinamentos que são úteis para a vida

em vários aspectos.

Considerações finais

A partir do estudo sobre a influência do Movimento Escoteiro, algumas contribuições

foram observadas, não só para a formação dos jovens, mas para cidade de Rio Verde onde

localiza o grupo estudado.

A primeira delas refere-se à concepção que os participantes têm do escotismo, que é de

um espaço em que se aprende com jogos, brincadeiras, atividades ao ar livre na companhia de

escoteiro de vários ramos e da companhia supervisionada e amiga dos chefes escoteiros.

Isso converge para a efetivação da ideia de que toda instrução dentro do espaço escoteiro

acontece sob a premissa da utilidade e da prática, unindo também valores pessoais como o

desenvolvimento autônomo e solidário do aprendiz, que desperta para aprender e conhecer

através das atividades escoteiras.

A pesquisa mostrou também que o Movimento Escoteiro mantém vivo o seu ideal e seu

método, atravessando gerações e gerações e se mantém aberto, ativo e com um programa de

aplicação do método escoteiro, que nasceu do ideal de Baden-Powell, a partir do seu espírito

alegre e criativo, que foi se reestruturando para atender às mudanças sociais e locais.

Em relação à importância do escotismo para Rio Verde, o movimento escoteiro é

caracterizado como um processo educativo informal, onde quer que ele ocorra, sendo que os

participantes do grupo 5 de Agosto consideram o grupo importante e uma referência para a

cidade, pelos valores que passam esta instituição aos jovens, uma formação que não é obtida na

escola, cumprindo assim, a função de complementação à instrução escolar.

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Tendo a contribuição de oferecer atividades diversas, motiva os participantes a pensar

o que está acontecendo em sua cidade e sua região e também influencia o integrante do grupo

a “desgrudar” um pouco dos eletrônicos. Nessa perspectiva, deduz-se que é uma entidade de

complementação educacional e uma referência para as famílias.

Verificou-se, ainda, a percepção dos participantes sobre o movimento, que estão muito

satisfeitos em sua maioria e que o conhecimento é otimizado de forma criativa, que trabalha

com o relacionamento interpessoal, o que favorece a educação com a participação do meio

social.

Assim, percebe-se que o Método Escoteiro é formado por um conjunto de métodos

educacionais guiados por valores éticos, que contribuem para a formação do crescimento de

crianças e jovens como pessoa, ser humano e, portanto, participantes do seu papel social perante

sua comunidade e diante do mundo, para uma sociedade equilibrada.

Nota-se, também, que os participantes exprimiram a necessidade de preparar os jovens

retomando os valores enfraquecidos pela sociedade, porém desejados e necessários para as

mudanças sociais do século XXI, para a construção da fraternidade, cidadania, criatividade,

ética, a compreensão, a amizade ao próximo e com os povos e a esperança no ser humano.

Este estudo evidenciou a importância de se propor atividades que retomam a

aprendizagem e o conhecimento de forma significativa através de uma Pedagogia Libertadora

e incentivadora da autonomia, tendo a parceria do Método Escoteiro, a contribuição da

educação informal e institucionalizada com objetivos e princípios próprios e normalmente

oferecida pelo terceiro setor, com o trabalho de adultos voluntários, como é o caso do

Movimento Escoteiro.

Sugere-se que o método escoteiro seja conhecido por um maior número de jovens,

podendo despertar neles o interesse em ingressar no movimento, visando acrescentar a eles

mudanças positivas que contribuam para sua formação integral.

Em uma sociedade sedentária e ligada à tecnologia e eletrônicos é de extrema

importância compartilhar lições sociais e ambientais, além de exercitar corpo e mente das

crianças e jovens que estão em processo de formação.

Referências

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