Aventuras_espirito (1).PDF. Iluminismo

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CLIO História - Textos e Document AS AVENTURAS DO ESPÍRITO A Revolução Filosófica dos Séculos XV Despertar de uma Nova Consciência 1. MAQUIAVEL Nicolò Machiavelli (no português, Maquiavel) nasceu em Florença, Itá- lia, no ano de 1469 e morreu em 1527. O período de sua vida coincidiu com uma época ruim para a política na península italiana. Com efeito, a Itália era nesse período um conjunto desarticulado de cidades estados, isto é, não havia um Estado ún acontecia na Inglaterra, em Portugal, em certa forma na França. Florença, como za, entre outras cidades, possuía uma v pendente, apesar das inúmeras disputa volvendo famílias de patriciados - bem c internacionais, que levam à falência qua de unificação italiana - o que só se verif metade do século XIX. Maquiavel, ao longo de sua vida, desem tantes funções públicas, iniciadas em 14 celer da República de Florença, sendo m do como Segundo Chanceler da Repúbli experiências propiciadas pelo exercício avel desenvolveu aprofundadas reflexõe las das repúblicas italianas, acarretando tais contribuições para a teoria política a história da renascença italiana. Nesse como a mais importante obra de Maqui simo O Príncipe, escrito em 1513, no exí ano. A IMPORTÂNCIA DO PRÍNCIPE Mediante a leitura dessa obra pode-se e or contribuição de Maquiavel para as ci Isso porque Maquiavel pretendeu fazer manual da arte de governar, o que lhe f lecer reflexões capazes de fornecer inst cos para a ação . dos governantes. Sem da reside aí o caráter polêmico da obra, vel efetivou a tarefa com o mínimo de c to, a obra assemelha-se a um jogo de en na busca de compreensão do maior núm conseqüências de cada ato se vêem for constranger os seus raciocínios com con rais. Muitos condenaram a obra de Maq dessa característica marcante, como a I incluir O Príncipe no índex dos livros pro re (1694-1778), cujo julgamento negativ Frederico II da Prússia (1712-1786) a es Maquiavel. A tônica dominante nas críticas é o cará obra, o que gerou um termo muito utili maquiavélico (tipo de ato ou pessoa im tos VII e XVIII e o nico, tal como já m Espanha e de Nápoles e Vene- vida política inde- as internas - en- como das cobiças alquer tentativa ficou na segunda mpenhou impor- 494, como chan- mais tarde indica- ica. Através das do cargo, Maqui- es sobre as maze- o em fundamen- bem como para e âmbito, figura uiavel o famosís- ílio em San Casci- encontrar a mai- iências sociais. r uma espécie de forçou a estabe- trumentos práti- m sombra de dúvi- a, já que Maquia- censura. Portan- nxadristas, que mero possível de rçados a não nsiderações mo- quiavel em razão Igreja Católica, ao oibidos, e Voltai- vo influenciou screver o Anti- áter imoral da izado ainda hoje: moral, sem barrei- ras de qualquer tipo quando terminado objetivo). Entretanto, pode-se compre sob um outro prisma. Para ta conjunto de princípios prese em primeiro lugar, Maquiave ação de governar; em segund deu arrolar na obra um leque serem empregadas pelo gove zou profundas reflexões sobr Romano, notadamente de se terceiro lugar, Maquiavel pro argumentativa selecionar as uma determinada conjuntur ria se encontrar. Conseqüentemente, não se p Maquiavel ele proceda a um política. Ao contrário, mesm de caráter negativo que pod governante, ele alerta para a de tal ação, sendo constante resultados são perigosos par nante. Ou seja, em que pese ações possíveis, é dado ao go para aquela determinada con que ser feita da melhor man reflexão racional da conjuntu xão, deve ser estudada a hist poderá encontrar situações p e a forma como um determin naquele momento. Assim, a quiavel como um laboratório empregadas, disponíveis ao l xão racionalmente empregad Os conceitos de Virtú (Virtud leitura de O Príncipe, podem endidos. A Virtude, de acord capacidade do governante d tégia para a ação de seu gov à qualidade intelectual e em Fortuna era, segundo Maqui minado pela vontade human aleatoriamente. As idéias de ximadas do que Maquiavel e ele, a história humana é gove ceitos, isto é, pela ação comb Virtú, de. Uma nação pode s te pela ação da Fortuna - pos para Maquiavel - como pode sua história influenciada pela dade desejada por Maquiave jamais a história pode ser tot ação da Virtude, pois tal con verdadeiro Deus. Como se pode concluir, Maq obra acerca da arte política, assumirem um papel ativo n responsabilidade, Nesse sent o pretende atingir um de- eender a obra de Maquiavel al toma-se fundamental este entes na obra de Maquiavel: el escreveu um livro para a do lugar, Maquiavel preten- e de ações possíveis de ernante - para tal ele reali- re a história do Império eus principais líderes; em ocurou de forma racional e ações mais indicadas para ra à qual o governante pode- pode afirmar que na obra de m exercício de imoralidade mo quando ele avalia ações dem ser empregadas pelo as conseqüências advindas e a conclusão de que os ra a estabilidade do gover- e a existência de um leque de overnante escolher uma njuntura. Tal escolha tem neira possível, mediante a ura. No momento da refle- tória passada, pois ali se parecidas com a do presente nado governante procedeu história era vista por Ma- o vivo de ações e estratégias leitor através de uma refle- da. de) e Fortuna, básicos na m ser agora melhor compre- do com Maquiavel, seria a de escolher a melhor estra- erno. Diz respeito, portanto, mocional do governante, iavel, um contexto não do- na, que se desenvolveria e sorte e/ou azar são apro- entendia por Fortuna, Para ernada por esses dois con- binada da Fortuna e da ser dominada completamen- ssibilidade aterrorizadora e ter pelo menos metade de a ação da Virtude - possibili- el. Porém, segundo ele, talmente dominada pela ndição faria do homem um quiavel escreveu uma bela da capacidade dos homens na história, com sabedoria e tido se conseguem entender

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Textos e exercícios sobre o Iluminismo

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    AS AVENTURAS DO ESPRITO A Revoluo Filosfica dos Sculos XVII e XVIII e o Despertar de uma Nova Conscincia 1. MAQUIAVEL Nicol Machiavelli (no portugus,

    Maquiavel) nasceu em Florena, It-

    lia, no ano de 1469 e morreu em

    1527. O perodo de sua vida coincidiu

    com uma poca ruim para a poltica

    na pennsula italiana.

    Com efeito, a Itlia era nesse perodo

    um conjunto desarticulado de cidades

    estados, isto , no havia um Estado nico, tal como j

    acontecia na Inglaterra, em Portugal, em Espanha e de

    certa forma na Frana. Florena, como Npoles e Ven

    za, entre outras cidades, possua uma vida poltica ind

    pendente, apesar das inmeras disputas internas

    volvendo famlias de patriciados - bem como das cobias

    internacionais, que levam falncia qualquer tentativa

    de unificao italiana - o que s se verificou na segunda

    metade do sculo XIX.

    Maquiavel, ao longo de sua vida, desempenhou impo

    tantes funes pblicas, iniciadas em 1494, como cha

    celer da Repblica de Florena, sendo mais tarde indic

    do como Segundo Chanceler da Repblica. Atravs das

    experincias propiciadas pelo exerccio do cargo, Maqu

    avel desenvolveu aprofundadas reflexes sobre as maz

    las das repblicas italianas, acarretando em fundame

    tais contribuies para a teoria poltica bem como para

    a histria da renascena italiana. Nesse mbito, figura

    como a mais importante obra de Maquiavel o famos

    simo O Prncipe, escrito em 1513, no exlio em San Casc

    ano.

    A IMPORTNCIA DO PRNCIPE Mediante a leitura dessa obra pode-se encontrar a maor contribuio de Maquiavel para as cincias sociais. Isso porque Maquiavel pretendeu fazer uma espcie de manual da arte de governar, o que lhe forou a establecer reflexes capazes de fornecer instrumentos prtcos para a ao . dos governantes. Sem sombra de dvda reside a o carter polmico da obra, j que Maquivel efetivou a tarefa com o mnimo de censura. Portato, a obra assemelha-se a um jogo de enxadristas, que na busca de compreenso do maior nmero possvel de conseqncias de cada ato se vem forados a no constranger os seus raciocnios com consideraes mrais. Muitos condenaram a obra de Maquiavel em razo dessa caracterstica marcante, como a Igreja Catlica, ao incluir O Prncipe no ndex dos livros proibidos, e Voltare (1694-1778), cujo julgamento negativo influenciou Frederico II da Prssia (1712-1786) a escrever o AntiMaquiavel. A tnica dominante nas crticas o carter imoral da obra, o que gerou um termo muito utilizado ainda hoje: maquiavlico (tipo de ato ou pessoa imoral, sem barre

    Textos e Documentos

    A Revoluo Filosfica dos Sculos XVII e XVIII e o

    nico, tal como j

    acontecia na Inglaterra, em Portugal, em Espanha e de

    certa forma na Frana. Florena, como Npoles e Vene-

    za, entre outras cidades, possua uma vida poltica inde-

    pendente, apesar das inmeras disputas internas - en-

    bem como das cobias

    internacionais, que levam falncia qualquer tentativa

    o que s se verificou na segunda

    Maquiavel, ao longo de sua vida, desempenhou impor-

    1494, como chan-

    celer da Repblica de Florena, sendo mais tarde indica-

    do como Segundo Chanceler da Repblica. Atravs das

    experincias propiciadas pelo exerccio do cargo, Maqui-

    avel desenvolveu aprofundadas reflexes sobre as maze-

    nas, acarretando em fundamen-

    tais contribuies para a teoria poltica bem como para

    a histria da renascena italiana. Nesse mbito, figura

    como a mais importante obra de Maquiavel o famoss-

    simo O Prncipe, escrito em 1513, no exlio em San Casci-

    se encontrar a mai-or contribuio de Maquiavel para as cincias sociais. Isso porque Maquiavel pretendeu fazer uma espcie de manual da arte de governar, o que lhe forou a estabe-

    zes de fornecer instrumentos prti-cos para a ao . dos governantes. Sem sombra de dvi-da reside a o carter polmico da obra, j que Maquia-vel efetivou a tarefa com o mnimo de censura. Portan-

    se a um jogo de enxadristas, que de compreenso do maior nmero possvel de

    conseqncias de cada ato se vem forados a no constranger os seus raciocnios com consideraes mo-rais. Muitos condenaram a obra de Maquiavel em razo dessa caracterstica marcante, como a Igreja Catlica, ao incluir O Prncipe no ndex dos livros proibidos, e Voltai-

    1778), cujo julgamento negativo influenciou 1786) a escrever o Anti-

    A tnica dominante nas crticas o carter imoral da o muito utilizado ainda hoje:

    maquiavlico (tipo de ato ou pessoa imoral, sem barrei-

    ras de qualquer tipo quando pretende atingir um dterminado objetivo). Entretanto, pode-se compreender a obra de Maquiavel sob um outro prisma. Para tal tomaconjunto de princpios presentes na obra de Maquiavel: em primeiro lugar, Maquiavel escreveu um livro para a ao de governar; em segundo lugar, Maquiavel pretedeu arrolar na obra um leque de aes possveis de serem empregadas pelo governante zou profundas reflexes sobre a histria do Imprio Romano, notadamente de seus principais lderes; em terceiro lugar, Maquiavel procurou de forma racional e argumentativa selecionar as aes mais indicadas para uma determinada conjuntura ria se encontrar. Conseqentemente, no se pode afirmar que na obra de Maquiavel ele proceda a um exerccio de imoralidade poltica. Ao contrrio, mesmo quando ele avalia aes de carter negativo que podem ser empregadas pelo governante, ele alerta para as conseqncias advindas de tal ao, sendo constante a concluso de que os resultados so perigosos para a estabilidade do govenante. Ou seja, em que pese a existncia de um leque de aes possveis, dado ao governante escolher umpara aquela determinada conjuntura. Tal escolha tem que ser feita da melhor maneira possvel, mediante a reflexo racional da conjuntura. No momento da reflxo, deve ser estudada a histria passada, pois ali se poder encontrar situaes parecidas com ae a forma como um determinado governante procedeu naquele momento. Assim, a histria era vista por Mquiavel como um laboratrio vivo de aes e estratgias empregadas, disponveis ao leitor atravs de uma reflxo racionalmente empregada.Os conceitos de Virt (Virtude) e Fortuna, bsicos na leitura de O Prncipe, podem ser agora melhor comprendidos. A Virtude, de acordo com Maquiavel, seria a capacidade do governante de escolher a melhor estrtgia para a ao de seu governo. Diz respeito, p qualidade intelectual e emocional do governante, Fortuna era, segundo Maquiavel, um contexto no dminado pela vontade humana, que se desenvolveria aleatoriamente. As idias de sorte e/ou azar so aprximadas do que Maquiavel entendia por Fortunele, a histria humana governada por esses dois coceitos, isto , pela ao combinada da Fortuna e da Virt, de. Uma nao pode ser dominada completamete pela ao da Fortuna - possibilidade aterrorizadora para Maquiavel - como pode ter pelo mesua histria influenciada pela ao da Virtude dade desejada por Maquiavel. Porm, segundo ele, jamais a histria pode ser totalmente dominada pela ao da Virtude, pois tal condio faria do homem um verdadeiro Deus. Como se pode concluir, Maquiavel escreveu uma bela obra acerca da arte poltica, da capacidade dos homens assumirem um papel ativo na histria, com sabedoria e responsabilidade, Nesse sentido se conseguem entender

    ras de qualquer tipo quando pretende atingir um de-

    se compreender a obra de Maquiavel sob um outro prisma. Para tal toma-se fundamental este conjunto de princpios presentes na obra de Maquiavel: em primeiro lugar, Maquiavel escreveu um livro para a ao de governar; em segundo lugar, Maquiavel preten-deu arrolar na obra um leque de aes possveis de serem empregadas pelo governante - para tal ele reali-zou profundas reflexes sobre a histria do Imprio Romano, notadamente de seus principais lderes; em terceiro lugar, Maquiavel procurou de forma racional e argumentativa selecionar as aes mais indicadas para uma determinada conjuntura qual o governante pode-

    Conseqentemente, no se pode afirmar que na obra de Maquiavel ele proceda a um exerccio de imoralidade poltica. Ao contrrio, mesmo quando ele avalia aes de carter negativo que podem ser empregadas pelo

    nte, ele alerta para as conseqncias advindas de tal ao, sendo constante a concluso de que os resultados so perigosos para a estabilidade do gover-nante. Ou seja, em que pese a existncia de um leque de aes possveis, dado ao governante escolher uma para aquela determinada conjuntura. Tal escolha tem que ser feita da melhor maneira possvel, mediante a reflexo racional da conjuntura. No momento da refle-xo, deve ser estudada a histria passada, pois ali se poder encontrar situaes parecidas com a do presente e a forma como um determinado governante procedeu naquele momento. Assim, a histria era vista por Ma-quiavel como um laboratrio vivo de aes e estratgias empregadas, disponveis ao leitor atravs de uma refle-xo racionalmente empregada.

    conceitos de Virt (Virtude) e Fortuna, bsicos na leitura de O Prncipe, podem ser agora melhor compre-endidos. A Virtude, de acordo com Maquiavel, seria a capacidade do governante de escolher a melhor estra-tgia para a ao de seu governo. Diz respeito, portanto, qualidade intelectual e emocional do governante, Fortuna era, segundo Maquiavel, um contexto no do-minado pela vontade humana, que se desenvolveria aleatoriamente. As idias de sorte e/ou azar so apro-ximadas do que Maquiavel entendia por Fortuna, Para ele, a histria humana governada por esses dois con-ceitos, isto , pela ao combinada da Fortuna e da Virt, de. Uma nao pode ser dominada completamen-

    possibilidade aterrorizadora como pode ter pelo menos metade de

    sua histria influenciada pela ao da Virtude - possibili-dade desejada por Maquiavel. Porm, segundo ele, jamais a histria pode ser totalmente dominada pela ao da Virtude, pois tal condio faria do homem um

    concluir, Maquiavel escreveu uma bela obra acerca da arte poltica, da capacidade dos homens assumirem um papel ativo na histria, com sabedoria e responsabilidade, Nesse sentido se conseguem entender

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    a contemporaneidade da obra de Maquiavel, extremmente importante para as modernas reflexes sobre teoria poltica. Questes 1. Analise a situao da poltica italiana na poca de Maquiavel. 2. Qual a importncia dos conceitos de Virt e Fortuna para o pensamento poltico moderno? Se possvel, xemplifique com fatos atuais. 2. CONTRATO SOCIAL

    O contrato social um termo refere

    te a uma forma especfica de se pe

    sar e explicar o fenmeno da const

    io de uma sociedade, e que foi el

    borada no decorrer dos sculos XVII a

    XVIII, mediante as obras de Th

    Hobbes, Jean-Jacques Rousseau, John

    Locke e Immanuel Kant, para citar os

    mais expressivos. Os contratualistas, como se conve

    cionou cham-los, elaboraram um modo so

    pensamento poltico e social, no qual a sociedade e

    tendida como uma ordem civil e econmica, constituda

    pela ao vigorosa dos indivduos que a compem. A

    sim, entidades como o mercado, o Estado e a sociedade

    no so consideradas como algo posto acima e exte

    namente aos indivduos: ao contrrio, essas entida

    so produzidas pelo tipo de ordenamento efetuado pelos

    indivduos em torno de seus prprios atos, e pode ser

    continuamente renovado pelos mesmos.

    A lio simples, porm fundamental: uma sociedade

    depende do resultado da soma diria das aes empr

    endidas pelos seus membros constituintes. Se o result

    do final e dirio for o da renovao das bases anterio

    mente fixadas, a ordem estar mantida; se o resultado

    final e dirio for de uma contestao das antigas bases

    fixadas, dois fatos podem ser gerados: a reestruturao

    (parcial ou total) da ordem social, em novas bases; ou a

    desintegrao da ordem social, ou o que Hobbes desi

    nou de estado da natureza.

    AS CONDIES DA SOCIABILIDADE Um dos aspectos fundamentais nas formulaes dos contratualistas a caracterizao do indivduo. H neles a tendncia a consider-lo como um ator social que formula estratgias de comportamento mediante o uso da razo. Portanto, o indivduo tem um comportamento universal, isto , que se mantm em um mesmo nvel independente do meio em que ele estiver inserido. Dese modo, a ao do indivduo pode ser tratada em difrentes pocas, tanto da histria como em diferentes culturas, pois a partir dela que uma ordem social se constitui. Prosseguindo, as condies de sociabilidade so aquelas que permitem a instituio da ordem social como algo estrategicamente perseguido pelo conjunto dos indivduos. Enquanto isso for algo desejado por eles, a Ordem

    Textos e Documentos

    a contemporaneidade da obra de Maquiavel, extrema-importante para as modernas reflexes sobre

    1. Analise a situao da poltica italiana na poca de

    2. Qual a importncia dos conceitos de Virt e Fortuna para o pensamento poltico moderno? Se possvel, e-

    O contrato social um termo referen-

    te a uma forma especfica de se pen-

    sar e explicar o fenmeno da constitu-

    io de uma sociedade, e que foi ela-

    rer dos sculos XVII a

    XVIII, mediante as obras de Thomas

    Jacques Rousseau, John

    manuel Kant, para citar os

    tualistas, como se conven-

    m modo sofisticado de

    pensamento poltico e social, no qual a sociedade en-

    vil e econmica, constituda

    duos que a compem. As-

    do, o Estado e a sociedade

    no so consideradas como algo posto acima e exter-

    uos: ao contrrio, essas entidades

    namento efetuado pelos

    indivduos em torno de seus prprios atos, e pode ser

    continuamente renovado pelos mesmos.

    A lio simples, porm fundamental: uma sociedade

    depende do resultado da soma diria das aes empre-

    os constituintes. Se o resulta-

    do final e dirio for o da renovao das bases anterior-

    mente fixadas, a ordem estar mantida; se o resultado

    final e dirio for de uma contestao das antigas bases

    fixadas, dois fatos podem ser gerados: a reestruturao

    ial ou total) da ordem social, em novas bases; ou a

    desintegrao da ordem social, ou o que Hobbes desig-

    Um dos aspectos fundamentais nas formulaes dos indivduo. H neles

    lo como um ator social que formula estratgias de comportamento mediante o uso da razo. Portanto, o indivduo tem um comportamento universal, isto , que se mantm em um mesmo nvel

    le estiver inserido. Des-se modo, a ao do indivduo pode ser tratada em dife-rentes pocas, tanto da histria como em diferentes culturas, pois a partir dela que uma ordem social se

    Prosseguindo, as condies de sociabilidade so aquelas ermitem a instituio da ordem social como algo

    estrategicamente perseguido pelo conjunto dos indiv-duos. Enquanto isso for algo desejado por eles, a Ordem

    social ter condies de perdurar; quando no mais desejada, haver grandes riscos de desestabilizConseqentemente, uma primeira condio para a sua manuteno seria a da necessidade da ordem social para todo e qualquer indivduo.Tal necessidade seria entendida por cada um como um objetivo bsico de sobrevivncia a ser estrategicamente alcanado: a melhor forma de garantir o seu futuro seria atravs de sua insero no interior de uma coletividade, devidamente instituda para proteger a vida de cada um de seus elementos constituintes. Se h algo que o indvduo cobra de sua sociedade a garantia rana, como pensava a maioria dos contratualistas. Quando ela garantida, podeindivduos integrantes da sociedade um comportamento mais pacfico entre si, capaz de assegurar a vigncia da ordem social. Assim, atravs do clculo racionalmente orientado, e feito por cada indivduo, uma estratgia de ao cotdianamente estabelecida, objetivando a perpetuao da ordem social j naquele instante. Assemelharcontrato (da o nome de contratualistas) social, eslado por cada membro da sociedade na forma de expetativas de comportamento. Um exemplo: o mnimo que eu posso esperar de um indivduo andando na mesma rua que eu que ele no vai me atacar impunemente. Se ele assumir uma atitude anormal devo tomar uma atitude normal constitudas. O problema quando aquela atitude cosiderada anormal se banaliza, ou mesmo quando a cofiana nas autoridades to nfima que o indivduo prefere no perder o seu tempo avisandopercebe a forma como o contrato social pode existir em uma sociedade, atravs do comportamento dos indivduos e das expectativas por eles compartilhadas.Finalmente, quando a confiana dos indivduos na odem social se enfraquece, poder se genetimento da ausncia da ordem, resultando em aes carregadas de clculo egosta. Cada indivduo tomar como estratgia de ao a busca de condies prprias de sobrevivncia, j que no pode mais contar com nenhuma autoridade, segundo a sua exquer indivduo que lhe cruze o caminho pode ser um inimigo em potencial: quem agora lhe garante que ele no vai agredi-lo? a quem recorrer em caso de agreso? Tal situao foi caracterizada por Hobbes como o estado de natureza, ou a ausncientre os indivduos. Quem analisa a atual histria da Bsnia perceber o estado de natureza de Hobbes. A impresso a de que no h autoridade alguma no mundo confivel para os habitantes desse territrio. Cada um se volta para os smbolos mais fortes de identificao, como a religio e a etnia, o que agrava ainda mais o esprito belicista. A desconfiana generalizada. Esse exemplo prova que os contratualistas no estariam pensando em como o mundo era antes da sociedade, mas o que shumana sem sociedade. Tal perigo repousa em toda e

    social ter condies de perdurar; quando no mais desejada, haver grandes riscos de desestabilizao. Conseqentemente, uma primeira condio para a sua manuteno seria a da necessidade da ordem social para todo e qualquer indivduo. Tal necessidade seria entendida por cada um como um objetivo bsico de sobrevivncia a ser estrategicamente

    : a melhor forma de garantir o seu futuro seria atravs de sua insero no interior de uma coletividade, devidamente instituda para proteger a vida de cada um de seus elementos constituintes. Se h algo que o indi-vduo cobra de sua sociedade a garantia de sua segu-rana, como pensava a maioria dos contratualistas. Quando ela garantida, pode-se alcanar da maioria dos indivduos integrantes da sociedade um comportamento mais pacfico entre si, capaz de assegurar a vigncia da

    s do clculo racionalmente orientado, e feito por cada indivduo, uma estratgia de ao coti-dianamente estabelecida, objetivando a perpetuao da

    j naquele instante. Assemelhar-se-ia a um contrato (da o nome de contratualistas) social, estipu-lado por cada membro da sociedade na forma de expec-tativas de comportamento. Um exemplo: o mnimo que eu posso esperar de um indivduo andando na mesma rua que eu que ele no vai me atacar impunemente. Se ele assumir uma atitude anormal - atacar-me - eu devo tomar uma atitude normal - avisar as autoridades constitudas. O problema quando aquela atitude con-siderada anormal se banaliza, ou mesmo quando a con-fiana nas autoridades to nfima que o indivduo prefere no perder o seu tempo avisando-as. Por a se percebe a forma como o contrato social pode existir em uma sociedade, atravs do comportamento dos indiv-duos e das expectativas por eles compartilhadas. Finalmente, quando a confiana dos indivduos na or-dem social se enfraquece, poder se generalizar o sen-timento da ausncia da ordem, resultando em aes carregadas de clculo egosta. Cada indivduo tomar como estratgia de ao a busca de condies prprias de sobrevivncia, j que no pode mais contar com nenhuma autoridade, segundo a sua expectativa. Qual-quer indivduo que lhe cruze o caminho pode ser um inimigo em potencial: quem agora lhe garante que ele

    lo? a quem recorrer em caso de agres-so? Tal situao foi caracterizada por Hobbes como o estado de natureza, ou a ausncia de uma ordem social

    Quem analisa a atual histria da Bsnia perceber o estado de natureza de Hobbes. A impresso a de que no h autoridade alguma no mundo confivel para os habitantes desse territrio. Cada um se volta para os

    mbolos mais fortes de identificao, como a religio e a etnia, o que agrava ainda mais o esprito belicista. A desconfiana generalizada. Esse exemplo prova que os contratualistas no estariam pensando em como o mundo era antes da sociedade, mas o que ser da vida humana sem sociedade. Tal perigo repousa em toda e

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    qualquer ordem instituda, sendo o medo da ausncia da ordem um dos principais elementos que asseguram um comportamento social mais pacfico da maioria dos membros de uma sociedade qualquer. OuHobbes, para evitar o reino do "homem o lobo do homem" que os indivduos apostam em uma ordem social... Questes 1. Defina o estado da natureza segundo a concepo de Hobbes. 2. Em que medida os textos dos chamados contratualitas ameaaram a ordem tradicional na Europa ocidental do perodo moderno? 3. O ESPRITO DO ILUMINISMO: SNTESE DA RAZO, DA PAIXO E DO NATURALISMO

    O Iluminismo foi um amplo movmento literrio, cientffico que levou a civilizao eurpia, XVIII, conquista

    da idade da razo. De fato, foram os filsofos do Sculo das Luzes os responsveis diretos pelo estabelecimento de novas idias sobre o mundo natural e a sociedade que ajudariam a sepultar definitivamente o velho e antiquado Ancien Rgime, perodo marcado pela persitncia de antigas crenas e pela autoridade tradicional da monarquia absolutista. Afastando as idias pr, cocebidas e orientando o indivduo acerca das inmeras virtudes da razo, os filsofos do sculo XVIII acabapor fundar a noo de progresso e felicidade: "o paraso aqui onde eu estou", dizia Voltaire, e no nas fices e miragens fabricadas pela Igreja. Mas o triunfo do livre pensamento s haveria de ser assegurado aps um longo e intenso combate, travado contra a Igreja e a fora da tradio durante todo o sculo XVIII. Aps a morte de Lus XIV, ocorrida em 1715, Paris rconquista a hegemonia sobre a vida cultural francesa, supremacia que perdera para o Palcio de Versalhes desde a consolidao do reinado do Rei Sol, a partir de 1661. Longe de uma corte devota e de um rei excessvamente austero e caprichoso, a nobreza fez novamente de Paris o seu turbilho de prazeres. Este alegre estilo de vida, conhecido como "douceur de vivre", ou a suavdade do viver, refletia o ideal de uma existncia absoltamente deliciosa e despreocupada, transcorrida entre os sales, os bailes e o teatro. O sculo XVIII, principalmente a sua segunda metade, foi o perodo mais glorioso da nobreza, poca denominada de a Idade da Magnificncia. E os sales parisienses constituram-se nos centros privilegiados da vida mudana dessa alta aristocracia. O grande Voltaire, talvez a maior expresso da literatura francesa do sculo XVIII, exerceu nestes ambientes uma verdadeira realeza. S

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    qualquer ordem instituda, sendo o medo da ausncia da ordem um dos principais elementos que asseguram um comportamento social mais pacfico da maioria dos membros de uma sociedade qualquer. Ou, como diria Hobbes, para evitar o reino do "homem o lobo do homem" que os indivduos apostam em uma ordem

    1. Defina o estado da natureza segundo a concepo de

    2. Em que medida os textos dos chamados contratualis-tas ameaaram a ordem tradicional na Europa ocidental

    3. O ESPRITO DO ILUMINISMO: SNTESE DA RAZO, DA

    O Iluminismo foi um amplo movi-mento literrio, cientfico e filos-fico que levou a civilizao euro-pia, no sculo XVIII, conquista

    da idade da razo. De fato, foram os filsofos do Sculo das Luzes os responsveis diretos pelo estabelecimento de novas idias sobre o mundo natural e a sociedade

    vamente o velho e cien Rgime, perodo marcado pela persis-

    tncia de antigas crenas e pela autoridade tradicional tando as idias pr, con-

    cebidas e orientando o indivduo acerca das inmeras virtudes da razo, os filsofos do sculo XVIII acabaram por fundar a noo de progresso e felicidade: "o paraso aqui onde eu estou", dizia Voltaire, e no nas fices e miragens fabricadas pela Igreja. Mas o triunfo do livre pensamento s haveria de ser assegurado aps um

    contra a Igreja e a fora da tradio durante todo o sculo XVIII. Aps a morte de Lus XIV, ocorrida em 1715, Paris re-conquista a hegemonia sobre a vida cultural francesa, supremacia que perdera para o Palcio de Versalhes

    o do Rei Sol, a partir de 1661. Longe de uma corte devota e de um rei excessi-vamente austero e caprichoso, a nobreza fez novamente de Paris o seu turbilho de prazeres. Este alegre estilo de vida, conhecido como "douceur de vivre", ou a suavi-

    refletia o ideal de uma existncia absolu-tamente deliciosa e despreocupada, transcorrida entre

    O sculo XVIII, principalmente a sua segunda metade, foi o perodo mais glorioso da nobreza, poca denominada

    gnificncia. E os sales parisienses se nos centros privilegiados da vida mun-

    dana dessa alta aristocracia. O grande Voltaire, talvez a maior expresso da literatura francesa do sculo XVIII, exerceu nestes ambientes uma verdadeira realeza. Se-

    gundo sua prpria caracterizao dos sales, "havia em Paris um grande nmero de pequenas sociedades onde presidia sempre alguma mulher que, com o apagar de sua beleza, desejava fazer brilhar o seu esprito. Um ou dois homens de letras ocupavam a o posto dministro destes pequenos reinos". Nestes osis literrios no havia tema que no fosse discutido livre e acalordamente. Desde a religio, passando pela economia e a poltica, todo assunto encontrava rapidamente seus detratores e simpatizantes. Foi num desses gorjeios filosficos com um elemento da alta nobreza que Voltaire foi surrado e teve que se exilar na Inglaterra para no ser preso novamente na Bastilha. Os sales acabaram por alcanar um carter universalita e liberal constituindo-se, 'cafs, na base da formao da opinio pblica do sculo XVIII. De seu centro dinmico, Paris, as novas idias filosficas, literrias e econmicas se espalharam pelas provncias, ganhando rapidamente um terreno internacional. Alio pensamento iluminista no teve o seu bero na Fraa: nasceu na Inglaterra e na Holanda. Mas as principais correntes filosficas do Sculo das Luzes encontraram em Paris seu ncleo irradiador. Aos filsofos e escritores franceses coube o trabalho de daforma literria agradvel e acessvel aos homens cultos daquele tempo. Foi a partir da Frana que tais idias se difundiram e puderam ser assimila, das por toda a Eurpa. Em meados do sculo XVIII Paris j havia se transformdo na capital cultural da Europa. A fama de seus sales literrios e o prestgio de seus escritores e filsofos exerceu um poderoso fascnio sobre vrios pases. Assite-se ao advento da "Europa Francesa", o francs tonando-se a mais prestigiada lngua de culturdisse Frederico II, da Prssia, o francs "o passaporte que introduz as pessoas em todas as casas e em todas as cidades" da Europa. Os homens do sculo XVIII se tornaram mais cultos e bem informados. Os jornais tambm prestaram a sua contribuio ao desabrochamento da opinio e do esprito pblico. Pequenas gazetas e hebdomadrios (jornais semanais) tratavam de todo tipo de assunto, inclusive aqueles que colocavam expostas as mazelas do regime absolutista. medida que transcorria o sculo XVIII,jornalismo panfletrio tornavafisso. Alimentados por artigos de homens de expresso como Voltaire, Rousseau e Diderot, os jornais eram aguardados ansiosamente nas mais distantes provncias do reino. A difuso dos livros tambm foiXVIII, e meio seguro para a propagao dos valores mergentes. Estratos sociais como comerciantes e o baxo clero tomaram-se por esta poca leitores muito assduos. Forma-se de maneira intensa na Europa um vedadeiro comrcio do esprito: "o comrcio dos pensmentos se tornou prodigioso. No h nenhuma boa casa

    undo sua prpria caracterizao dos sales, "havia em Paris um grande nmero de pequenas sociedades onde presidia sempre alguma mulher que, com o apagar de sua beleza, desejava fazer brilhar o seu esprito. Um ou dois homens de letras ocupavam a o posto de primeiro ministro destes pequenos reinos". Nestes osis literrios no havia tema que no fosse discutido livre e acalora-damente. Desde a religio, passando pela economia e a poltica, todo assunto encontrava rapidamente seus

    Foi num desses gorjeios filosficos com um elemento da alta nobreza que Voltaire foi surrado e teve que se exilar na Inglaterra para no ser preso novamente na Bastilha. Os sales acabaram por alcanar um carter universalis-

    se, 'junto com os clubes e os cafs, na base da formao da opinio pblica do sculo

    De seu centro dinmico, Paris, as novas idias filosficas, literrias e econmicas se espalharam pelas provncias, ganhando rapidamente um terreno internacional. Alis o pensamento iluminista no teve o seu bero na Fran-a: nasceu na Inglaterra e na Holanda. Mas as principais correntes filosficas do Sculo das Luzes encontraram em Paris seu ncleo irradiador. Aos filsofos e escritores franceses coube o trabalho de dar aos novos ideais uma forma literria agradvel e acessvel aos homens cultos daquele tempo. Foi a partir da Frana que tais idias se difundiram e puderam ser assimila, das por toda a Euro-

    Em meados do sculo XVIII Paris j havia se transforma-apital cultural da Europa. A fama de seus sales

    literrios e o prestgio de seus escritores e filsofos exerceu um poderoso fascnio sobre vrios pases. Assis-

    se ao advento da "Europa Francesa", o francs tor-se a mais prestigiada lngua de cultura. Como

    disse Frederico II, da Prssia, o francs "o passaporte que introduz as pessoas em todas as casas e em todas as

    Os homens do sculo XVIII se tornaram mais cultos e bem informados. Os jornais tambm prestaram a sua

    o ao desabrochamento da opinio e do esp-rito pblico. Pequenas gazetas e hebdomadrios (jornais semanais) tratavam de todo tipo de assunto, inclusive aqueles que colocavam expostas as mazelas do regime absolutista. medida que transcorria o sculo XVIII, o jornalismo panfletrio tornava-se uma promissora pro-fisso. Alimentados por artigos de homens de expresso como Voltaire, Rousseau e Diderot, os jornais eram aguardados ansiosamente nas mais distantes provncias

    A difuso dos livros tambm foi muito sensvel no sculo XVIII, e meio seguro para a propagao dos valores e-mergentes. Estratos sociais como comerciantes e o bai-

    se por esta poca leitores muito ass-se de maneira intensa na Europa um ver-

    sprito: "o comrcio dos pensa-mentos se tornou prodigioso. No h nenhuma boa casa

  • CLIO Histria - Textos e Documentos

    em Paris, nenhum castelo que no tenha a sua bibliotca", afirmava Voltaire em 1769. Por meio de uma f obstinada na razo como o meio mais certo e seguro para libertar os homens dos antigos desvarios do pensamento, os iluministas ergueram um mundo regido por princpios inteiramente novos. Mas o verdadeiro esprito do Sculo das Luzes, alm da esprana depositada na onipotncia da razo, rene idias que seguiram em muitas direes. Voltaire, Rousseau e a Enciclopdia so os emblemas mais clssicos do sculo XVIII. Mas este perodo viu nascer tambm a filantropia, a moderna pedagogia e a exaltao do sentimento hmano, atravs da literatura. Os romances patticos e sentimentais encontraram na Frana e em muitos pases uma ampla audincia. A atrao pela natureza selvagem substituiu as belas praas e jardins principescos, como os de Versalhes. Na segunda metade do sculo XVIII o culto da emoo e do amor fez poca na literaturaDesse modo, justo enfocar o sculo XVIII como um tempo responsvel pela sntese entre naturalismo, setimento e razo. Apesar de tantas inovaes trazidas pelo Iluminismo, no se pretendeu destruir o mundo para colocar outro em seu lugar, mas regeneradade pelo afastamento da superstio e do fanatismo. Questes 1. De que maneira o Sculo das Luzes se distingue do Antigo Regime? 2. Quais os principais veculos de divulgao das novas idias no sculo XVIII? 4. O SCULO XVII O sculo XVII representa um perodo de grandes tranformaes na Europa ocidental. Economicamente, ocoreu o deslocamento do eixo econmico do sul para o norte da Europa, mediante a decadncia das economias das cidades italianas e dos pases ibricos, notadamente da Espanha. Concomitantemente, a Inglaterra e a "Hlanda" (ou "Provncias do Norte Reunidas") assumem uma acirrada disputa em tomo da liderana econmica da Europa. Politicamente, houve a consolidao dos Estados, exemplificada na concentrao dos poderes militar, econmico e poltico das burocracias estatais.Culturalmente, inicia-se o processo de diviso do cristinismo ocidental, atravs do processo da "Reforma", cujo resultado foi o aparecimento de igrejas crists mas no catlicas, como a Luterana, a Calvinista, a Presbiteriana, Batista e outras alcunhadas grosseiramente como "Prtestantes". Outra importante manifestao cultural foi o "Iluminismo", cuja preocupao fundamental era a idia de que os acontecimentos na Terra eram oriundos no de um arbtrio divino inconquistvel, mas obedeciam a princpios lgicos e dedutveis, mediante o uso adestrdo da razo. Em vez de vontades indecifrveis, leis natrais, ordenadoras do universo fsico, biolgico e humno. Como se v, o sculo XVII foi rico em manifestaeshistricas de diversos tipos e quilates.

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    em Paris, nenhum castelo que no tenha a sua bibliote-

    Por meio de uma f obstinada na razo como o meio omens dos antigos

    desvarios do pensamento, os iluministas ergueram um mundo regido por princpios inteiramente novos. Mas o verdadeiro esprito do Sculo das Luzes, alm da espe-rana depositada na onipotncia da razo, rene idias

    irees. Voltaire, Rousseau e a Enciclopdia so os emblemas mais clssicos do sculo XVIII. Mas este perodo viu nascer tambm a filantropia, a moderna pedagogia e a exaltao do sentimento hu-mano, atravs da literatura. Os romances patticos e

    is encontraram na Frana e em muitos pases uma ampla audincia. A atrao pela natureza selvagem substituiu as belas praas e jardins principescos, como os de Versalhes. Na segunda metade do sculo XVIII o culto da emoo e do amor fez poca na literatura. Desse modo, justo enfocar o sculo XVIII como um tempo responsvel pela sntese entre naturalismo, sen-timento e razo. Apesar de tantas inovaes trazidas pelo Iluminismo, no se pretendeu destruir o mundo para colocar outro em seu lugar, mas regenerar a socie-dade pelo afastamento da superstio e do fanatismo.

    1. De que maneira o Sculo das Luzes se distingue do

    2. Quais os principais veculos de divulgao das novas

    representa um perodo de grandes trans-formaes na Europa ocidental. Economicamente, ocor-reu o deslocamento do eixo econmico do sul para o norte da Europa, mediante a decadncia das economias das cidades italianas e dos pases ibricos, notadamente

    anha. Concomitantemente, a Inglaterra e a "Ho-landa" (ou "Provncias do Norte Reunidas") assumem uma acirrada disputa em tomo da liderana econmica da Europa. Politicamente, houve a consolidao dos Estados, exemplificada na concentrao dos poderes

    r, econmico e poltico das burocracias estatais. se o processo de diviso do cristia-

    nismo ocidental, atravs do processo da "Reforma", cujo resultado foi o aparecimento de igrejas crists mas no

    sta, a Presbiteriana, Batista e outras alcunhadas grosseiramente como "Pro-testantes". Outra importante manifestao cultural foi o "Iluminismo", cuja preocupao fundamental era a idia de que os acontecimentos na Terra eram oriundos no

    ino inconquistvel, mas obedeciam a princpios lgicos e dedutveis, mediante o uso adestra-do da razo. Em vez de vontades indecifrveis, leis natu-rais, ordenadoras do universo fsico, biolgico e huma-no. Como se v, o sculo XVII foi rico em manifestaes

    AS CARACTERSTICAS PRINCIPAIS

    No decorrer do sculo XVII desenvolveramrebelies sociais, decorrentes do crescente poder de mobilizao do Estado em pases como a Frana, a Inglterra, a Espanha, o Portugal e os Pases Baixos do Sul e do Norte - que no comeo do sculo, atravs de uma rebelio contra a Espanha, conquistou a autonomia poltica e passou a se chamar Provncias do Norte Renidas. A possibilidade do Estado, com polticas de tribtao, recolher boa parte da produo existente nos territrios era um motivo suficiente para o incio de protestos violentos contra um verdadeiro saque. Mas outros ingredientes se misturaram a essa receita de revoltas... A religio foi um dos ingredientes fundamentaInglaterra, nas primeiras dcadas do sculo, o monarca Carlos I procurou imprimir um modelo do tipo francs na sua relao com a aristocracia inglesa. Porm, em 1639, Carlos I exagerou ao convocar o Parlamento, aps dez anos de dissolvio, no intuia sua proposta de invaso da Esccia, que era majoritriamente presbiteriana. A inteno declarada de Carlos I era fazer da Esccia um terreno favorvel religio anglicana, criada por Henrique VIII. Os fatos posteriores comprovaram o erro fatal de Carlos I: no intuito de sujugar a Esccia, ele acabou renascendo o Parlamento ingls e forneceu ao mesmo um poderoso aliado militar, que era a aristocracia escocesa, que foi a principal fora militar atuante nos episdios sangrentos da "Inglesa". Outro ingrediente importante foi a prpria poltica. Alm da possibilidade de tributar com mais vigor e cpacidade, o Estado foi um insupervel adversrio para a nobreza europia. Pases como a Frana, os pases ibrcos e a Rssia, por exemplo, desenvolveram estruturas polticas bem centralizadoras, onde o poder de gerencamento da economia, da poltica, e das foras armadas capacitava s suas monarquias um poder de fogo e de persuaso bem eficiente. Sem sombra de dvida, foi no transcorrer do sculo XVII que o modelo do Estado abslutista se configurou, o que possibilitou a afirmao das bases administrativas e polticas do Estado contemporneo. Em vez de um sistema poltico descentralizado e extremamente federativo, vingou o modelo detema poltico centralizado e soberano. Por fim, resta o ingrediente da economia. Foi no sculo XVII que a Inglaterra, por volta da dcada de setenta, assume o controle de fato das rotas martimas fundmentais para o comrcio ultramarino, especialmeaquele dedicado s trocas com as chamadas "ndias ocidentais" (o continente americano) e as "ndias orietais" (o sudeste asitico, a ndia, a China e o Japo).Paralelamente, a economia inglesa se dinamiza com o desenvolvimento da produo do ferro (sproduzia 5.000 toneladas de ferro, em 1600 j produzia 18.000 toneladas). Mas a grande vedete ainda era a l, responsvel por 40% das exportaes inglesas no final do sculo XVII. Nesse caso, foi fundamental a derrota

    AS CARACTERSTICAS PRINCIPAIS

    No decorrer do sculo XVII desenvolveram-se diversas rebelies sociais, decorrentes do crescente poder de mobilizao do Estado em pases como a Frana, a Ingla-

    tugal e os Pases Baixos do Sul e que no comeo do sculo, atravs de uma

    rebelio contra a Espanha, conquistou a autonomia poltica e passou a se chamar Provncias do Norte Reu-nidas. A possibilidade do Estado, com polticas de tribu-

    her boa parte da produo existente nos territrios era um motivo suficiente para o incio de protestos violentos contra um verdadeiro saque. Mas outros ingredientes se misturaram a essa receita de

    A religio foi um dos ingredientes fundamentais. Na Inglaterra, nas primeiras dcadas do sculo, o monarca Carlos I procurou imprimir um modelo do tipo francs na sua relao com a aristocracia inglesa. Porm, em 1639, Carlos I exagerou ao convocar o Parlamento, aps dez anos de dissolvio, no intuito de que fosse apoiada a sua proposta de invaso da Esccia, que era majorita-riamente presbiteriana. A inteno declarada de Carlos I era fazer da Esccia um terreno favorvel religio anglicana, criada por Henrique VIII. Os fatos posteriores

    m o erro fatal de Carlos I: no intuito de sub-jugar a Esccia, ele acabou renascendo o Parlamento ingls e forneceu ao mesmo um poderoso aliado militar, que era a aristocracia escocesa, que foi a principal fora militar atuante nos episdios sangrentos da "Revoluo

    Outro ingrediente importante foi a prpria poltica. Alm da possibilidade de tributar com mais vigor e ca-pacidade, o Estado foi um insupervel adversrio para a nobreza europia. Pases como a Frana, os pases ibri-

    r exemplo, desenvolveram estruturas polticas bem centralizadoras, onde o poder de gerenci-amento da economia, da poltica, e das foras armadas capacitava s suas monarquias um poder de fogo e de persuaso bem eficiente. Sem sombra de dvida, foi no

    orrer do sculo XVII que o modelo do Estado abso-lutista se configurou, o que possibilitou a afirmao das bases administrativas e polticas do Estado contempor-neo. Em vez de um sistema poltico descentralizado e extremamente federativo, vingou o modelo de um sis-tema poltico centralizado e soberano. Por fim, resta o ingrediente da economia. Foi no sculo XVII que a Inglaterra, por volta da dcada de setenta, assume o controle de fato das rotas martimas funda-mentais para o comrcio ultramarino, especialmente aquele dedicado s trocas com as chamadas "ndias ocidentais" (o continente americano) e as "ndias orien-tais" (o sudeste asitico, a ndia, a China e o Japo). Paralelamente, a economia inglesa se dinamiza com o desenvolvimento da produo do ferro (se em 1550 ela produzia 5.000 toneladas de ferro, em 1600 j produzia 18.000 toneladas). Mas a grande vedete ainda era a l, responsvel por 40% das exportaes inglesas no final do sculo XVII. Nesse caso, foi fundamental a derrota

  • CLIO Histria - Textos e Documentos

    que as Provncias do Norte Reunidas (a "Holanda") sfreram frente concorrncia inglesa, consolidada com os "Atos de Navegao" proclamados no governo de Oliver Crommwell em 1651, que em sntese impulsionou a marinha mercante inglesa, com a proibio de comcio na Inglaterra de mercadorias trazidas por tripulaes que no fossem pelo menos compostas de 2/3 de inglses, A somatria desses fatores levou a Inglaterra ao ritmo acelerado de produo econmica que ficou histricamente conhecido como "Revoluo Industrial".Conclusivamente, o sculo XVII aparece como um perdo de intensas transformaes na estrutura social da maioria dos pases europeus. Tal quantidade de energia desprendida pode ser avaliada no desenvolvimento da economia monetarizada (favorecida pela intensificao do comrcio internacional), na afirmao dos Estados burocrticos e nas violentas disputas entre Estados bem como entre as monarquias e as aristocracias e os caponeses. Quanto famosa burguesia, ainda cedo para se falar dela enquanto um ator poltico ce Questes 1. Descreva o estado da economia europia no sculo XVII. 2. Qual a importncia da crise religiosa nas transformes polticas ocorridas nesse sculo?

    Textos e Documentos

    te Reunidas (a "Holanda") so-freram frente concorrncia inglesa, consolidada com os "Atos de Navegao" proclamados no governo de Oliver Crommwell em 1651, que em sntese impulsionou a marinha mercante inglesa, com a proibio de comr-

    mercadorias trazidas por tripulaes que no fossem pelo menos compostas de 2/3 de ingle-ses, A somatria desses fatores levou a Inglaterra ao ritmo acelerado de produo econmica que ficou histo-ricamente conhecido como "Revoluo Industrial".

    ente, o sculo XVII aparece como um pero-do de intensas transformaes na estrutura social da maioria dos pases europeus. Tal quantidade de energia desprendida pode ser avaliada no desenvolvimento da economia monetarizada (favorecida pela intensificao

    o comrcio internacional), na afirmao dos Estados burocrticos e nas violentas disputas entre Estados bem como entre as monarquias e as aristocracias e os cam-poneses. Quanto famosa burguesia, ainda cedo para se falar dela enquanto um ator poltico central...

    1. Descreva o estado da economia europia no sculo

    2. Qual a importncia da crise religiosa nas transforma-