Aves Migratórias e Nômades No Pantanal

download Aves Migratórias e Nômades No Pantanal

of 122

Transcript of Aves Migratórias e Nômades No Pantanal

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    1/122

    AAVVEESS

    MMIIGGRRAATTRRIIAASSEE

    NNMMAADDEESSOOCCOORRRREENNTTEESSNNOO

    PPAANNTTAANNAALL

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    2/122

    Empresa Brasileira de Pesqu isa Agropecuria

    Centro de Pesquisa Agropecuria do Pantanal

    Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

    Aves migratrias e nmades ocorrentes

    no Pantanal

    Alessandro Pacheco NunesWalfrido Moraes Tomas

    Autores

    Embrapa Pantanal

    Corumb, MS2008

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    3/122

    Exemplares desta publicao podem ser adquiridos na:

    Embrapa PantanalRua 21 de Setembro, 1880, CEP79.320-900, Corumb, MS Caixa

    Postal 109Fone: (0xx67) 3233-2430Fax: (0xx67) 3233-1011Home page: www.cpap.embrapa.brE-mail: [email protected]

    Superviso editorial: Suzana Maria de Salis, Alessandro Pacheco Nunese Walfrido Moraes TomasReviso de texto: Suzana Maria de SalisNormatizao bibliogrfica: Viviane de Oliveira SolanoProjeto grfico: Regina Clia Rachel dos SantosEditorao eletrnica: Regina Clia Rachel dos Santos

    Capa:Alessandro Pacheco Nunese Walfrido Moraes TomasFoto:Walfrido Moraes Tomas

    1 edio: Verso online (2008)

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao - CIPEmbrapa Pantanal

    Nunes, Alessandro PachecoAves migratrias e nmades ocorrentes no Pantanal [recurso eletrnico] /

    Alessandro Pacheco Nunes; Walfrido Moraes Tomas Corumb: EmbrapaPantanal, 2008.

    124p.

    ISBN 978-85-98893-13-6

    1. Aves migratrias 2. Ecologia I. Tomas, Walfrido Moraes. II.Ttulo.

    CDD 598 (21.ed.)

    Embrapa 2008

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    4/122

    Autores

    Alessandro Pacheco NunesMestrando em Ecologia e ConservaoLaboratrio de Vida SelvagemEmbrapa PantanalRua 21 de Setembro, 1880, Caixa Postal 109,CEP 79320-900, Corumb, MSTelefone (67) [email protected]

    Walfrido Moraes TomasPesquisador, MSc. Cincias da Vida SelvagemEmbrapa PantanalRua 21 de Setembro, 1880, Caixa Postal 109,CEP 79320-900, Corumb, MSTelefone (67) [email protected]

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    5/122

    Agradecimentos

    Somos gratos s pessoas que muito colaboraram cedendofotos que ilustram grande parte deste trabalho, s quaisdamos os crditos no corpo do livro: Pedro Cerqueira Lima,James Faraco Amorim, Ciro Albano, Fernando Tizianel, VitorPiacintini, Daniel de Granville Manco, Priscila Prudente doAmaral, Tiago Joo Cardorim, Pill Barden, Rafael CsarCavaretto, Marcelo Barreiros, Francisco Pedro Fonseca Neto.

    Agradecemos aos revisores Suzana Maria de Salis, RaquelSoares Juliano e Fernando Augusto Tambelini Tizianel, quecontriburam substancialmente para a verso final do texto.Aos amigos Fernando Costa Straube, pela apresentao dolivro e Miguel Marini, pelas pertinentes sugestes lista deespcies.

    Conservao Internacional do Brasil, Fundao PantanalCom Cincia, Embrapa Pantanal, CNPq e CPP pelo apoiologstico durante a elaborao deste livro.

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    6/122

    Apresentao

    "As garas descem nosbrejos que nem brisas.Todas as manhs".

    (Manoel de Barros)

    Na primeira vez que fui ao Pantanal, em 1984, passei pela mesma experincia dequalquer viajante leigo ou estudioso, dois nveis que - queiramos ou no - teremospara sempre um pouco de ambos. Pela regra, fiquei maravilhado com a riqueza deespcies de aves que podiam ser facilmente observadas. Foi, com certeza, um dosmais fortes indicativos de que as aves estariam para sempre em minha vida. Aomesmo tempo, senti muito pela falta de livros bons e confiveis, para que eupudesse saber o nome e mais algumas informaes sobre aquelas aves quepassavam por cima de minha cabea. E, claro, a sede de conhecimento se estendiapara todo o ciclo de vida destes animais em particular suas migraes,deslocamentos ou simplesmente, de onde vinham e para onde iam a cada ciclo de

    guas, caracterstica peculiar daquela regio.O Pantanal da dcada de 80 era quase desconhecido. Havia asfalto at Miranda es. Mesmo assim, pescadores e caadores vindos de fora se aglomeravam nasbarrancas dos rios e, ao fim do tempo planejado, entupiam congeladores dentro decaminhes levando uma parte daquilo que muito tempo demorou para que fosseconsiderada uma riqueza, um patrimnio de todas as pessoas.

    A figura mais clebre por l era o jaburu que, alis, tuiui no dialeto pantaneiro.Arara-azul? Qu! Nem pensar. Que dizer do arancu, prncipe-negro, joaninha,casaca-de-couro, joo-pinto, ja, quebra-coco, tabuiai, gavio-caramujeiro, taiam,sangue-de-boi, bico-de-prata e todos os outros? Eram meros coadjuvantes de umcenrio quase que desconhecido. As aves pantaneiras, no seu anonimato cientficopassavam mais ou menos pelo que narrou Manoel de Barros: "O nome de um

    passarinho que vive no cisco joo-ningum...".Com o tempo, foram aparecendo muitos meios para se estudar e conhecer as avespantaneiras. Livros, revistas, programas de TV e, modernamente, sites da internet.Mas ainda falta muito; e assim que vejo a presente obra, que tenho a honra deapresentar.

    Alessandro Pacheco Nunes e Walfrido Moraes Tomas; esses dois so tipos daquelaspessoas que vm para ficar. Alessandro, ou udu, estudante de ps-graduao emEcologia e Conservao da UFMS e pesquisador bolsista na Embrapa Pantanal. Temse dedicado h quase uma dcada avifauna do Mato Grosso do Sul, inclusivecoordenando a lista das aves ocorrentes neste to pouco conhecido estadobrasileiro, por ele escolhido como sua segunda localidade-tipo. Nada escapa ao seuolhar atento: vai da ecologia passa ao estudo com comportamento, visitando commais freqencia o campo da composio de avifauna, entremeado na biogeografia,

    que o permitiu escrever vrias contribuies cientficas, inclusive uma monografiasobre as aves ameaadas do Pantanal. Com no menos dedicao costuma

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    7/122

    empoleirar, como aqui o fez, nos estudo da migrao das aves e na importantetarefa de divulgar esses fenmenos para a conservao das aves e de todo o nossoambiente. Walfrido pesquisador da Embrapa Pantanal, na qual atua desde 1990 eonde tantas contribuies, preparou, versando sobre conservao e manejo da vidasilvestre, sustentabilidade e muitos outros assuntos de cunho ecolgico. Dedica-semais aos mamferos, mas sempre - e felizmente - com o olho gordo mirando asaves. Escreveu um guia para identificao de pegadas de mamferos do Pantanal,vrios captulos de livros e muitos artigos sobre eles, em especial sobre o cervo-do-

    pantanal. Mas tambm sua a clssica reviso da avifauna do Pantanal, junto comDrius Tublis, estudo fundamental para a Ornitologia da regio.

    No podia dar coisa melhor. As informaes aqui apresentadas destacam-se sobretodas as outras que j foram publicadas, as quais sempre se concentraram na regiolitornea do Brasil. Temos um apanhado sobre 235 espcies de aves, o quesurpreende pela quantidade. Afinal, postula-se que quase metade das aves doPantanal migratria ou nmade, em larga ou estreita escala. Esse desassossego,poucas vezes abordado em estudos cientficos, caracterstica constante na regioe, ao mesmo tempo, bastante varivel de acordo com as espcies. H as que viajamlongas distncias, milhares de quilmetros; outras migram tambm para bem longe,porm dentro de nosso continente. E h, ainda, as que fazem pequenosdeslocamentos.

    Um importante componente deste estudo a conservao. No simplesmente asaes que mereceriam ser revistas para a proteo das aves migratrias no Brasil,mas tambm o tamanho da responsabilidade brasileira frente necessidade depolticas integradas. Isso porque so tesouros que pertencem a dois, trs ou muitosoutros pases que participam das jornadas migratrias, oferecendo locais adeqadospara sua estada.

    Com isso, graas detalhada obra que acabamos de receber como presente e comofonte tcnica, temos tudo para lutar para que a famosa hospitalidade do povopantaneiro seja igualmente usada para as nossas aves. Por que elas no estosomente por todos os cantos, mas tambm em nossos prprios encantos.

    FERNANDO COSTA STRAUBESociedade Fritz Mller de Cincias Naturais

    Curitiba, Paran

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    8/122

    Sumrio

    Aves migratrias e nmades ocorrentes no Pantanal ..........11Introduo .......................................................................................11O Pantanal ......................................................................................17Aves migratrias e nmades no Pantanal ...............................21

    Migrantes Intercontinentais......................................................25Migrantes Intracontinentais......................................................36Nmades ...............................................................................65Habitats ................................................................................73Guildas trficas ......................................................................80

    Sanidade animal.............................................................................90Conservao...................................................................................93Apndice I .......................................................................................97Glossrio........................................................................................107Referncias ...................................................................................108

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    9/122

    Aves migratrias e nmadesocorrentes no Pantanal

    Alessandro Pacheco Nunes

    Walfrido Moraes Tomas

    Introduo

    A migrao das aves um dos fenmenos mais espetaculares e temintrigado os homens h muitos sculos, dando origem a muitasespeculaes, mistrios, supersties e interpretaes religiosas (Andrade,1997).

    Para o Centro Nacional de Pesquisa para Conservao das Aves Migratrias(IBAMA/CEMAVE, 2008), migrao o termo que define os deslocamentosrealizados anualmente, repetidamente, de forma sazonal, por determinadapopulao animal, que se desloca de um ponto A (rea de reproduo) paraum ponto B (reas de alimentao, descanso, etc), em uma determinadapoca do ano, retornando posteriormente ao ponto A, completando o ciclobiolgico. Ao nomadismo, o (IBAMA/CEMAVE, 2008) atribuem osdeslocamentos no estacionais, que esto associados resposta rpida aalteraes ambietais no antrpicas, tais como chuvas, secas prolongadas,

    incndios, reduo ou aumento na disponibilidade de alimento, dentreoutros fenmenos. O Global Register of Migratory Species (GROMS, 2008),utiliza a definio estabelecida pelo Convention on Migratory Species (CMS,2008), considerando espcies migratrias como o conjunto da populaoou partes geograficamente isoladas da populao, de algumas espcies ougrupo taxonmico de animais silvestres, do qual uma parcela significativaatravessa uma ou mais fronteiras da jurisdio nacional. O nomadismo definido como deslocamento em funo da variao temporal de recursos(GROMS, 2008).

    Mudanas climticas decorrentes das glaciaes no Pleistocenoocasionaram a extino de muitas espcies de aves, mas ao mesmo tempo,

    promoveu a evoluo da migrao peridica, nas escalas mais diversas,como uma adaptao ao intemperismo (Williams e Webb III, 1996; Alerstanet al., 2003).

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    10/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal12

    Fatores endgenos, ou seja, fisiolgicos, relacionados ao ritmo circadianodas aves, bem como exgenos, ligados com o ritmo circanual oufotoperiodismo, induzem o processo de migrao nas aves (Andrade,1997). As aves utilizam vrios tipos de bssolas para se orientar em suasrotas durante os deslocamentos migratrios, dentre elas o sol, as estrelas, orelevo, o instinto e o campo magntico da Terra. A maioria dos migrantesem larga escala se desloca durante a noite e utiliza as estrelas como

    referncia. Os migrantes da Ordem Passeriformes se deslocam dentre avegetao, enquanto os demais, o fazem atravs de reas abertas, taiscomo campos e oceanos. Geralmente as migraes so realizadas abaixo de600 metros de altitude, embora algumas aves possam voar a mais de 3000metros (Pessoa, 1998).

    Anualmente chegam ao Brasil milhes de aves de vrias espcies. Estasespcies realizam migraes sazonais da Amrica do Norte para a Amricado Sul e vice-versa (Sick, 1983; 1997; Morrison e Ross, 1989; Chesser,1994). No outono estas aves deixam suas reas de reproduo rumo aosstios de invernada, onde permanecem at o outono local, ou seja, incio daprimavera em sua rea de reproduo no Hemisfrio Norte. A proximidade

    do inverno e a baixa oferta de alimentos, aliada aos fatores endgenosinduzem a migrao de vrias espcies aos stios de invernada em pasesvizinhos e/ou outros continentes. Os migrantes oriundos do Sul deixam osstios de invernada na primavera na regio austral (Hayman et al., 1986;Antas, 1989; Sick, 1997; Azevedo Jr. et al., 2002).

    Na Amrica do Sul, as aves migratrias so divididas em dois gruposconforme sua origem: do Hemisfrio Norte (Setentrionais) e Hemisfrio Sul(Meridionais). As Setentrionais (aves Nerticas) so consideradas asgrandes migrantes, visto que cruzam hemisfrios, deslocando-se mais de 20mil quilmetros desde os pontos de reproduo no rtico at chegarem aoBrasil, atravs da Rota da Costa Atlntica e da Amaznia. Esta ltima passapelo Pantanal e outras reas midas e, desta forma, estas aves alcanam osul do continente, em direo Patagnia (Argentina e Chile). A Patagnia o principal ponto de concentrao destes migrantes (Sick, 1983; Haymanet al., 1986).

    H uma grande diversidade de estratgias utilizadas pelas diferentes gruposde espcies migratrias (IBAMA/CEMAVE, 2008). Os migrantessetentrionais chegam ao Brasil utilizando as reas de baixa elevao doleste americano para alcanarem o Golfo do Mxico e, a partir da, cruzamas ilhas do Mar das Antilhas, atingindo o continente Sul Americano pelacosta venezuelana e colombiana, podendo ento utilizar uma das quatrorotas conhecidas: a do Pacfico, Cisandina, do Brasil Central (incluindo asrotas do Rio Negro Pantanal e dos Rios Xingu - Tocantins) e Atlntica

    (Antas, 1983; Castro e Myers, 1987; Myers et al., 1985; Morrison et al.,1989; IBAMA/CEMAVE, 2000). Atravs da rota Cisandina, estas aves

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    11/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal 13

    chegam at a regio do Acre, e a partir da utilizam um trajeto que as levamem direo Patagnia ou outro trajeto que adentra a regio oeste doterritrio brasileiro, na qual podem conectar-se com outras rotas, como a doBrasil Central. Estas rotas so vantajosas para estes migrantes uma vez quelhes permitem desviar da Cordilheira dos Andes e da Serra da Pacaraima, naVenezuela (Morrison et al., 1989, IBAMA/CEMAVE, 2000, Luna et al.,2003). Estes migrantes encontram no Brasil vrios stios de invernada

    (Figura 1), que lhes oferecem clima mais quente e abundncia de alimento(Telino Jr. et al., 2003a).

    Os visitantes Meridionais (aves Neotropicais), partindo da Argentina, Chile eUruguai atingem reas mais ao norte do continente Sul Americano, comoColmbia e Venezuela. Dentre os vrios stios de invernada no Brasil,utilizados pelos migrantes setentrionais e meridionais durante seusdeslocamentos destaca-se a Ilha de Campech (MA), a Lagoa do Peixe (RS),a Coroa do Avio (PE) e o Pantanal (MS e MT). Outras reas midas comoas do rio das Mortes (MT) e Araguaia (regio da Ilha do Bananal, no MT eTO), a plancie de inundao do rio Guapor (RO) e as vrzeasremanescentes do Rio Paran (MS e PR), tambm se destacam pela sua

    importncia (Nascimento, 1995; Sick, 1997; IBAMA/CEMAVE, 2000;Nunes e Tomas, 2004a). Os migrantes Setentrionais concentram-se emvrios pontos dentro do territrio nacional, principalmente no norte, noSalgado Paraense (PA) e nas Reentrncias Maranhenses (MA). O terceiroponto de maior concentrao o Parque Nacional da Lagoa do Peixe, noRio Grande do Sul (IBAMA/CEMAVE, 2000).

    Muitas espcies so fiis aos stios de invernada, retornando ao mesmolocal todos os anos (Castro e Myers, 1987; Finch, 1991; Holmes e Sherry,1992; Walkentin e Hernndez, 1996; Pereira et al., 1997; Azevedo Jr. etal., 2001a,b; 2002). Baturas (Charadriidae), maaricos (Scolopacidae) egaivotas (Sternidae), se aglomeram aos milhares todos os anos nessasreas devido riqueza e disponibilidade de recursos trficos (Azevedo Jr. etal. 2001b). Atradas pela abundante oferta de alimento, elas percorremlongas distncias, incluindo os indivduos ainda no sexualmente maduros,que permanecem ao londo do ano em territrio brasileiro. Os demaisdescansam, recuperam as energias gastas na migrao, realizam ciclos demudas de penas e acumulam reservas para seu regresso s reas dereproduo na Amrica do Norte (Andrade, 1997; Sick, 1983, 1997;Azevedo Jr. et al., 2001a,b; Fedrizzi et al., 2004).

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    12/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal14

    Figura 1.Rotas migratrias das aves migratrias setentrionais. (Confeco:Luiz Alberto Pellegrin - Laboratrio de Geoprocessamento, EmbrapaPantanal, adaptado de IBAMA/CEMAVE, 2008).

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    13/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal 15

    No Brasil, foram produzidas algumas publicaes de relevante importnciasobre aves migratrias, tais como a excelente obra intitulada Migraes deAves na Amrica do Sul Continental, elaborada por Sick (1983) e o artigode Antas (1986), Migraes de aves no Brasil, lanado no II EncontroNacional de Anilhadores de Aves, em 1986 na Universidade Federal do Riode Janeiro. Outras publicaes foram produzidas pelos pesquisadores do

    Centro Nacional de Pesquisa para Conservao das AvesSilvestres/CEMAVE (IBAMA/CEMAVE, 2000). No entanto, os estudos comaves migratrias no Brasil esto concentrados na regio costeira donordeste do pas e no Rio Grande do Sul. A partir de 2001 as pesquisascom aves migratrias no Brasil foram impulsionadas pelo Sistema deVigilncia da Febre do Oeste do Nilo Ocidental, criado em parceria com aFUNASA, IBAMA e Secretaria de Defesa Agropecuria do Ministrio daAgricultura (IBAMA/CEMAVE, 2006a,b). Estes rgos vm desenvolvendoestudos em vrios stios de invernada no Brasil, visando deteco precoce epreventiva de infeco em aves migratrias, ao longo das rotas de migraoconhecidas no pas (IBAMA/CEMAVE, 2006a,b; GRIPE..., 2006; Sugimoto,2006).

    Poucos so os estudos com aves migratrias no Pantanal e os trabalhoscom anilhamento se restringiram a apenas algumas espcies (Antas et al.,1993; Valle e Yamashita, 1986; Yamashita e Valle, 1986; Antas, 1994;Morrison et al., 2008). Entre 1996 e 1998, o CEMAVE, em parceria com oCanadian Wildlife Service, e o apoio financeiro do Banco Interamericano deDesenvolvimento e World Wildlife Found (Canad), realizou levantamentosareos tambm no Pantanal Mato-Grossense, buscando identificar osprincipais pontos de ocorrncia e passagem de espcies migratrias, aolongo de suas migraes aps a reproduo no rtico, entre setembro eoutubro (IBAMA/CEMAVE 2008). Um estudo mais abrangente foi realizadopor Antas (1994) e, recentemente, na RPPN Fazenda Rio Negro, noPantanal da Nhecolndia, a Conservao Internacional do Brasil concluiu um

    estudo iniciado em 2005.

    Para a regio do Pirizal, municpio de Nossa Senhora do Livramento, Pinho(2005) lista vrias categorias de aves migrantrias e nmades. Porm esteestudo restrito a apenas uma sub-regio do Pantanal, que possuicaractersticas prprias e diferentes do restante da plancie. Vrias espciestidas pelo autor como migrantes e nmades na sua rea de estudo, sosedentrias e residentes em outras regies, ocorrendo ao longo do anotodo. Morrison et al., (2008) reuniram informaes sobre a distribuio eabundncia de aves limcolas nerticas e outras espcies aquticas noPantanal, entretanto, os autores enfocaram apenas uma pequena parceladas espcies de aves migrantes e nmades no Pantanal.

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    14/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal16

    Devido escassez de informaes, so necessrios investimentos empesquisas e divulgao dos dados obtidos nesta rea da ornitologia, tendoem vista ser a plancie do Pantanal um dos importantes stios de parada einvernada para vrias espcies de aves dos Hemisfrios Norte e Sul. Apesarde reconhecido como extraordinrio e importante refgio de vida selvagem,que ainda abriga populaes viveis de espcies ameaadas, o Pantanal

    sofre vrias presses de ameaa, como perda de habitat, desenvolvimentoindustrial, caa e introduo de espcies exticas (Harris et al., 2005;Nunes et al., 2006).

    Na primeira listagem de aves do Pantanal, Brown Jr. (1986) relaciona 657espcies de aves para a plancie alagvel e reas limtrofes. Coutinho et al.(1997) listaram 656 espcies para o Pantanal. Entretanto, os autorestambm incluram espcies dos planaltos adjacentes, as quais a maioriadestes registros ainda no foram comprovados para a plancie pantaneira.Mittermeier et al. (2003) e Tubelis e Tomas (2003) citam a ocorrncia de463 espcies no Pantanal. Os autores destacam ainda, a existncia devrios outros registros no georefenciados, o que os tornam duvidosos.Revisando as publicaes disponveis sobre a avifauna pantaneira, Junk et

    al., (2006) relacionam 766 espcies, das quais apenas 390 podem serconsideradas como ocorrentes. Os demais registros no apresentamdocumentos comprobatrios que evidenciam suas ocorrncias no Pantanal.Ainda no h um concenso a respeito de quantas espcies realmenteocorrem no Pantanal, o que tem gerado vrios equvocos.

    Considerando-se a literatura disponvel a cerca das aves do Pantanal(Tubelis e Tomas, 2003; Antas e Palo Jr., 2004; Endrigo, 2005; Pinho,2005; Xaras, 2005; Melo, 2006; Cestari, 2006a,b; Straube et al.,2006a,b; Melo et al., 2007; Morrison et al., 2008; Nunes et al., 2008;Vasconcelos et al., 2008), a avifauna na plancie pantaneira ultrapassa 730espcies. Entretanto, a ocorrncia de 200 espcies (27,4% da avifauna)

    questionvel na plancie pantaneira, pois a maioria restrita aos planaltosadjacentes, ou seja, borda do Pantanal. Apenas 553 podem serconsideradas como ocorrentes no Pantanal, embora somente 72% destasespcies apresentam registros comprobatrios de ocorrncia conforme asnormas do CBRO (2008) e as demais ainda aguardam documentaoadequada.

    Considerando-se a avifauna no Brasil, o Pantanal pode ser considerado oquarto macro-ecossistema mais diversificado (Nunes et al., 2008). Harris etal., (2005) relatam que a plancie pantaneira reconhecida como PatrimnioNacional pela Constituio de 1988, rea mida de ImportnciaInternacional pela Conveno de Ramsar, Reserva da Biosfera em 2000 pela

    Unesco e Patrimnio Natural da Humanidade.

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    15/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal 17

    O Pantanal

    O Pantanal brasileiro localizado na poro central da Amrica do Sul, ondeocupa uma rea de aproximadamente 140.000 km2distribudos entre osestados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (Figura 2).

    Vrias publicaes definem o Pantanal como um bioma, entretanto, Tubelis

    e Tomas (1999) o consideram um ecossistema. Nesta publicaoadotaremos o termo macro-ecossistema, uma vez que define melhor acomplexidade de ambientes e condies ecolgicas existentes na planciepantaneira. Os limites do Pantanal podem ser definidos como as reas quesazonalmente inundam, diferentemente do que ocorre nas bordas como asreas de tenso ecolgica entre plancie e planaltos do entorno.

    Caractersticas como solos, a baixa altitude, pouca declividade, alternnciade perodos de cheias e secas, grandes amplitudes trmicas anuais, padressazonais de precipitao e variao pluri-anual de cheias so responsveispela variedade de formaes vegetais e a heterogeneidade da paisagem,que abriga uma rica biota terrestre e aqutica (Pott e Admoli, 1999). Com

    base nestas caractersticas, a plancie de inundao pode ser dividida emdiferentes sub-regies: Corixo Grande, Cuiab, Piquiri/So Loureno,Paraguai, Leque do Taquari, Rio Taquari, Aquidauana/Negro, Miranda,Nhecolndia e Paiagus (Hamilton et al., 1996). A diviso proposta porAdmoli (1982), adota a classificao tradicional usada pela populaolocal, em boa parte dividida por limites de municpios. Porm, aclassificao proposta por Hamilton et al. (1996) parece ser maiscondizente, porque tm como base, as caractersticas ecolgicas das sub-regies e inundao.

    O vero (novembro - maro) destaca-se pelo clima quente e chuvoso,enquanto o inverno mais ameno e seco (Soriano e Alves, 2005). NoPantanal, o pulso de inundao o fator ecolgico que determina padres e

    processos ecolgicos (Junk e Silva, 1999; Oliveira e Calheiros, 2000).

    Na plancie do Pantanal o ciclo anual de inundao e seca regula ofuncionamento desta rea sazonalmente alagvel (Junk et al., 1989). Aestrutura do hbitat fortemente afetada pela flutuao no nvel de gua einfluencia na organizao espacial de sua diversidade biolgica (Da Silva etal., 2001). Os rigores do clima e a imprevisibilidade na durao da estiagemexercem fortes presses sobre as populaes de plantas e animais naplancie do Pantanal, favorecendo espcies dispersivas e migratrias,capazes de aproveitar os recursos abundantes, sazonais e efmeros (BrownJr., 1986).

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    16/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal18

    Figura 2. Plancie do Pantanal dividida em sub-regies de acordo comHamilton et al. (1996). Confeco: Luiz Alberto Pellegrin - Laboratrio deGeoprocessamento, Embrapa Pantanal.

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    17/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal 19

    Os pulsos de inundao seguem ciclos anuais monomodais com durao detrs a seis meses. H um atraso de quatro meses entre os picos de cheia naporo norte em relao a do sul, promovendo seca vigorosa no norte,enquanto o nvel de gua atinge seu pico em junho no Pantanal sul(Heckman, 1999).

    A paisagem, segundo Silva et al., (2000) composta principalmente pelas

    reas abertas como os campos de pastagens nativas e/ou cultivadas ecampos inundveis. O cerrado e cerrado tambm predominam napaisagem, embora em menor representatividade que as reas abertas,sendo seguidas pelas florestas semidecduas (Figura 3), matas de galeria ecapes (Figura 4).

    Os ambientes aquticos so representados por baas e vazantes, salinas(Figura 5), rios, corixos e vazantes.

    A plancie do Pantanal apresenta elevada diversidade de espcies, porm pobre em endemismos, se comparada aos macro-ecossistemas vizinhos.Estes exercem forte influncia na fauna e flora do Pantanal, notadamente oCerrado, seguido pela Mata Atlntica de Interior, a Floresta Amaznica de

    Transio e o Chaco (Brown Jr., 1986; Nunes e Tomas, 2004b; Rodrigueset al., 2005).

    Figura 3. Cordilheiras circundadas por baas e vazantes. Foto: WalfridoMoraes Tomas.

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    18/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal20

    Figura 4. Vista area de capes e campos inundados. Fotos: WalfridoMoraes Tomas.

    Figura 5.Foto area de salina no perodo de cheia. Foto: Walfrido MoraesTomas.

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    19/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal 21

    Aves migratrias e nmades no Pantanal

    Nesta reviso utilizamos como base as listagens disponveis das aves

    ocorrentes no Pantanal (Tubelis e Tomas, 2003; Antas e Palo Jr., 2004;Endrigo, 2005; Pinho, 2005; Xaras, 2005; Melo, 2006; Cestari, 2006a,b;Straube et al., 2006a,b; Melo et al., 2007; Morrison et al., 2008; Nunes etal., 2008; Vasconcelos et al., 2008) e registros de campo dos autores. Asaves da plancie foram consideradas migrantes intercontinentais,intracontinentais e nmades com base na literatura (Ridgely e Tudor, 1989;1994; Sick, 1983; 1997; Antas e Palo Jr., 2004; IBAMA/CEMAVE, 2008;GROMS, 2008). A nomenclatura cientfica e os nomes vernculos esto deacordo com o CBRO (2008). As categorias de migrao, bem como dadosreferentes origem das aves, foram adaptadas do GROMS (2008) e Sick(1983, 1997), respectivamente. As informaes sobre os habitats e guildasseguem as observaes de campo dos autores e Sick (1997). O status de

    conservao das espcies esto de acordo com a Convention on MigratorySpecies (CMS, 2008), Convention on International Trade in EndangeredSpecies of Wild Fauna and Flora (CITES, 2008), International Union forConservation of Nature and Natural Resources (IUCN, 2008) e GlobalRegister of Migratory Species (GROMS, 2008). Desta forma, com base naCMS (2008), considerou-se: Anexo I (espcies migratrias em risco deextino) e Anexo II (espcies migratrias cujo estado de conservao desfavorvel e necessita de acordos internacionais para sua conservao).Com relao aos anexos da CITES (2008), adotou-se como espciespresentes no Anexo I (migrantes ameaados de extino que so oupossam ser afetados pelo comrcio ilegal de animais silvestres), Anexo II(migrantes que, embora atualmente no se encontram necessariamente em

    perigo de extino, podero chegar a esta situao, a menos que ocomrcio de espcimes esteja sujeito regulamentao rigorosa a fim deevitar explorao incompatvel com sua sobrevivncia) e Anexo III(migrantes que requer algum tipo de regulamentao para impedir ourestringir sua explorao, e que necessitam da cooperao de outrasinstituies para o controle do comrcio ilegal).

    Para a categoria de habitats considerou-se: ambientes aquticos (rios,corixos, vazantes, baas e salinas); florestal (matas de galeira, matasciliares, matas secas, matas semidecduas e cerrado); campos (camposinundveis, pastagens nativas e introduzidas); cerrado (campo cerrado,cerrado de murundu e cerrado). Na categoria guilda foram considerados:

    onvoro (aves que incluem matria vegetal e animal na sua dieta); frugvoro(aves cuja dieta baseada primariamente em frutos); granvoro (espciesque consomem principalmente sementes e gros); piscvoro (alimenta-se de

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    20/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal22

    peixes); insetvoro (aves cuja dieta composta de insetos e outrosartrpodes); nectarvoro (espcies que se alimentam de nctar); malacfago(aves que consomem moluscos); carnvoro (alimentam-se de outrosvertebrados).

    Com base nestas informaes foram consideradas 192 espcies de avesmigratrias e nmades ocorrentes na plancie do Pantanal, distribudas em

    12 Ordens e 35 Famlias (87 no Passeriformes e 104 Passeriformes),como pode ser visto no Apndice I. Os migrantes e nmades correspondema 40% da avifauna ocorrente no Pantanal (Nunes et al., 2008).

    Algumas espcies presentes na listagem proposta por Nunes e Tomas(2004a), como Butorides striata, Falco femoralis, Jacana jacana, Florisugafusca, Elaenia flavogaster, Lathrotriccus euleri, Machetornis rixosus,Colonia colonus, Casiornis rufa, Myiarchus tyrannulus, Turdus leucomelaseConirostrum speciosum, no foram inclusas nesta listagem, pois h poucosindcios de seus deslocamentos na plancie do Pantanal. Straube et al.(2006b), apontam erros na identificao atribuda ao maarico-branco(Calidris alba) proveniente de Porto Quebracho (Pacheco e Bauer, 1994;Tubelis e Tomas, 2003), devendo ser convertida em favor de Phalaropustricolor. Desta forma, o maarico-branco (C. alba) foi suprimido destalistagem.

    Das aves citadas como migrantes e nmades (Sick, 1983; GROMS, 2008)algumas espcies no foram consideradas nesta reviso, porque h poucasevidncias de seus deslocamentos migratrios ou nmades na plancie doPantanal. Dentre elas, destacam-se: Ixobrychus exilis, Nycticoraxnycticorax, Syrigma sibilatrix, Pilherodius pileatus, Egretta thula, Theristicuscaudatus, Cathartes aura, Coragyps atratus, Gampsonyx swainsonii, Circusbuffoni, Accipiter striatus, Accipiter bicolor, Heterospizias meridionalis,Heliornis fulica, Zenaida auriculata, Crotophaga major, Tapera naevia,Vanellus chilensis, Ceryle torquata, Colaptes melanochloros, Picoides

    mixtus, Schoenophylax phryganophilus, Synallaxis frontalis, S. albescens,Attila phoenicurus, Attila bolivianus, Troglodytes musculus, Thraupissayaca, T. palmarum, Tachyphonus rufus, Dacnis cayana, Hemithraupisguira, Procacicus solitarius, Cacicus chrysopterus, Zonotrichia capensisePasser domesticus.

    Determinadas categorias do GROMS (2008), tais como migrante local,migrante tcnico, disperso aps o perodo reprodutivo e migrante GROMS,sofreram adaptaes como as espcies tidas como parcialmente migrante,migrante tcnico que foram consideradas nmades.

    Algumas espcies foram incluidas com base em Antas e Palo Jr. (2004),como Busarellus nigricollis, Charadrius collaris, Phaetusa simplex, Claravispretiosa, Patagioneas speciosa, Chrysolampis mosquitus, Xolmis velatus,Fluvicola albiventer, Anthus lutescens, Thlypopsis sordidae Carduelis

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    21/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal 23

    magellanica. Revisando os dados contidos em Sick (1983; 1997), incluimosas seguintes espcies, Sarkidiornis sylvicola, Cairina moschata,Tachybaptus dominicus, Vanellus cayanus, Chordeiles pusillus,Chrysolampis mosquitus, Gubernetesyetapa, Myiozetetes cayanensis,Xenopsaris albinucha, Sporophila nigrorufa, S. angolensis, S. maximiliani eSturnella superciliaris.

    Outras foram incluidas conforme dados apresentados por Pinho (2005) paraa poro norte da plancie do Pantanal. Entretanto, determinadas espciesconsideradas pelo autor como nmades ou migrantes de vazante e seca noforam inclusas pois so residentes nas demais reas da plancie pantaneira.Dentre as espcies destacam-se Rynchotus rufescens, Buteogallusurubitinga, Buteo albicaudatus, B. albonotatus, Spizaetus melanoleucus,Eurypyga helias, Piaya minuta, Phaethornis nattereri, Eupetomena macroura,Hylocharis cyanus, Chloroceryle americana, C. aenea, C. inda, Momotusmomota, Nystalus chacuru, N. striatipectus, Colaptes campestris,Dysithmnus mentalis, Campylorhamphus trochilirostris, Synallaxis scutata,Leptopogon amaurocephalus, Myiornis ecaudatus, Tolmomyiassulphurescens, Lathrotriccus euleri, Pachyramphus polychopterus, Cyclarhis

    gujanensis, Arremon taciturnus, Saltator similis, Gnorimopsar chopi eAgelaioides badius.

    Para macro-ecossistemas vizinhos, tais como o Chaco boliviano, Jahn et al.(2002) registraram 47 espcies de aves migratrias, a maioria migranteaustral, ou seja, do sul do continente Sul Americano. Destas, 83% (39espcies) tambm ocorrem na plancie do Pantanal. Noutro ecossistemavizinho, os Bosques Secos Chiquitanos de Santa Cruz, Bolvia, Flores et al.(2001), registraram a ocorrncia de 25 espcies migratrias austrais.Muitas destas no so consideradas migrantes no Brasil, como a cabur(Glaucidium brasilianum). A sazonalidade do ambiente chaquenho echiquitano pode ser um importante fator influenciando a migrao destasespcies.

    Na maioria das famlias, os migrantes intracontinentais so predominantes,como pode ser visto na Figura 6. A famlia Tyrannidae (papa-moscas) amais representativa entre os migrantes e nmades na plancie pantaneira,com 48 espcies, seguida de Emberizidae (21 espcies), Scolopacidae (18espcies), Anatidae (14 espcies) e Hirundinidae (11 espcies).

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    22/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal24

    FringillidaeCardinalidae

    MotacillidaeMimidae

    VireonidaeRynchopidae

    Aramidae

    FalconidaePandionidaeAnhingidae

    PhalacrocoracidaeParulidae

    TurdidaeRecurvirostridae

    ThraupidaeApodidae

    CuculidaeCiconiidae

    PodicipedidaeColumbidae

    Sternidae

    CharadriidaeThreskiornithidae

    ArdeidaeTityridae

    Trochilidae

    RallidaeAccipitridae

    IcteridaeCaprimulgidae

    Hirundinidae

    AnatidaeScolopacidaeEmberizidae

    Tyrannidae

    0 10 20 30 40 50

    INTER

    INTRANO

    Famlias

    Nmero de espcies

    Figura 6. Diversidade de aves migratrias e nmades ocorrentes na planciedo Pantanal agrupadas por famlias. Inter (migrantes intercontinentais), Intra(migrantes intracontinentais), No (nmades).

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    23/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal 25

    Sick (1997) descreve os Tyrannidae como a maior famlia de aves noHemisfrio Ocidental e o grupo de aves com maior mobilidade constituindo18% dos Passeriformes da Amrica do Sul. Dentre os Passeriformes citadoscomo migrantes na Amrica do Sul por Ridgely e Tudor (1989; 1994), 44%(53 espcies) so Tyrannidae e, Hirundinidae e Emberizidae, juntasrepresentam 10% (12 espcies) destas aves. Das 26 espcies deScolopacidae que migram para o Brasil (IBAMA/CEMAVE, 2008), 73%utilizam a plancie do Pantanal como stio de invernada durante seusdeslocamentos migratrios pela Amrica do Sul.

    Migrantes intercontinentais

    Consideramos migrantes intercontinentais, espcies que realizam grandesdeslocamentos fugindo do inverno rigoroso no Hemisfrio Norte em direos pores mais ao sul do continente Sul Americano. As aves pertencentesa esta categoria representam 20% do total da comunidade migrante enmade, ou seja, 39 espcies, a maioria no Passeriforme. EmboraNascimento et al. (no prelo) no considerem as espcies Elanoidesforficatus, Himantopus melanurus eH. mexicanus como migrantessetentrionais, Nunes et al. (no prelo a) consideram porque outros estudos(Sick, 1983; 1997; IBAMA/CEMAVE, 2008;) incluem essas espcies nalista de migrantes do Hemisfrio Norte.

    guia-pescadora

    Fugindo do inverno no Canad e Estados Unidos, parte da populao deguia-pescadora (Pandion haliaetus) utiliza-se de alguns pontos de paradano interior do Brasil, incluindo o Pantanal, durante sua jornada migratriaem direo Argentina e Chile. Estas guias chegam ao Brasil no final ouincio do ano, e aqui permanecem at o vero de suas reas reprodutivas naAmrica do Norte. Os indivduos observados ao longo do ano em vriosmacro-ecossistemas brasileiros so imaturos e adultos no reprodutivoscom plumagem de descanso (Sick, 1997).

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    24/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal26

    Gavies e falces

    O gavio-tesoura (Elanoides forficatus, Figura 7) tem ampla distribuio nasAmricas, apresentando duas subespcies: a da Amrica do Norte (E. f.forficatus) e da Amrica do Sul (E. f. yetapa). Esta ltima parece realizardeslocamentos mais regionais, enquanto E. f. forficatusse desloca daFlrida at regies mais meridionais do Brasil, como o estado do Paran(Sick, 1997). Na plancie, estas aves podem ser vistas em grandes bandossobrevoando reas abertas durante seus deslocamentos at as poresmais meridionais da Amrica do Sul. Pinho (2005) relata a ocorrncia dosauveiro-do-norte (Ictinia mississipiensis) para a regio do Pirizal, nomunicpio de Pocon, estado de Mato Grosso. Bandos de at 500 indivduosdesta espcie foram avistados no final de 2006 sobrevoando reas abertasna fazenda Nhumirim, Pantanal da Nhecolndia (Nunes et al., 2008; Nuneset al., no prelo b). Estes gavies deixam o sudeste dos Estados Unidosdurante o inverno e partem em direo ao Paraguai e Argentina, passandopela Amaznia (Hayes et al., 1990; Stotz et al., 1992). Olmos et al. (2006)destacam que as rotas migratrias deste gavio no Brasil ainda so poucoconhecidas.

    Espcie cosmopolita e com vrias subespcies, o falco-peregrino (Falcoperegrino), outro importante visitante setentrional no Pantanal. Duas raasgeogrficas invernam no Brasil, F. p. tundrius, procedente do Alasca e F. p.anatum, do sul da Amrica do Norte. Tais subespcies atingem regies maisao sul da Amrica do Sul durante seus deslocamentos migratrios, comoChile, Argentina, Brasil, Paraguai e Bolvia, onde permanecem de setembroa maro (Lara-Resende e Leal, 1982; Hayes et al., 1990; Stotz et al., 1992;Sick, 1997; Herzog e Kessler, 2002; Brooks et al., 2005). Na plancie, osregistros deste falco so mais freqentes na borda oeste, prxima aCorumb.

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    25/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal 27

    Figura 7.Gavio-tesoura (Elanoides forficatus) em vo. Foto: Ciro Albano.

    Os Charadriformes (pernilongos, maaricos, baturas e gaivotas)correspondem ao grupo de aves com a maior representatividade de espciesmigrantes setentrionais. Estas aves caracterizam-se por se reunirem emgrandes agrupamentos e realizarem longas jornadas, algumas vezesdeslocando-se para pontos extremos do continente Americano.

    Reproduzem-se nas regies de altas latitudes do hemisfrio norte e, em suamaioria, deslocam-se acompanhando regies costeiras do continente sulamericano, onde so encontrados stios com grandes concentraes deindivduos (GROMS, 2008).

    Pernilongos

    Nas baas, salinas e campos inundveis do Pantanal, como as da regio daNhecolndia, Fazenda Nhumirim, abundam milhares de pernilongosHimantopus melanurus(Figura 8) e H. mexicanus, que passam dia e noiteforrageando macroinvertebrados aquticos nestes ambientes paludcolas.Entretanto, permanece suspeita a validade dada como espcies plenas, uma

    vez que os exemplares representativos disponveis em colees sugerempolimorfismo no tocante s caractersticas diagnsticas atualmente

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    26/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal28

    consideradas (Straube et al., 2006a,b). Portanto, a incluso destas espciesna listagem de aves do Pantanal deve ser considerada provisria. Aqui elasso tratadas como espcies distintas, de acordo com o CBRO (2008). H.mexicanusforam as limcolas que mais se destacaram nas amostragensrealizadas por Morrison et al. (2008) na regio do rio Negro, Pantanal daNhecolndia, representando 70,7% (15.579) do total observado (22.046) e95,0% do total de aves limcolas neotropicais (16.402).

    Algumas populaes da Amrica do Norte, notadamente aquelaspertencentes s subespcies H. melanurus melanurus, emigram em julho-novembro para a frica e Amrica Central e Amrica do Sul, retornandopara as reas reprodutivas no Hemisfrio Norte, em maro ou maio(GROMS, 2008). Possivelmente h populaes residentes e reprodutivas noBrasil, como verificado por Lima e Santos (2004) em Pernambuco. Naplancie pantaneira, alguns indivduos de H. melanuruspodem ser vistos aolongo do ano todo. Provavelmente, so indivduos sexualmente imaturos oupopulaes sedentrias residentes.

    Figura 8.Pernilongo-de-costas-brancas (Himantopus melanurus). Foto:Priscila Prudente do Amaral.

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    27/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal 29

    Batuiruus e maaricos

    A batuiruu (Pluvialis dominicana) ocorre nas Amricas, enquanto abatuiruu-de-axila-preta (P. squatarola) tem distribuio circumpolar,ocorrendo tanto nas Amricas quanto no Velho Mundo. So visitantes devero e chegam ao Brasil em setembro, aqui permanecendo at maro,quando ento retornam para a Amrica do Norte (Hayman et al., 1986).Morrison et al. (2008), relatam que P. dominicana uma das espciesmigrantes intercotinentais mais abundantes na regio do rio Negro, Pantanalda Nhecolndia, representando 38,4% das aves limcolas nerticas.

    Os Scolopacidae representam 40,5% dos migrantes intercontinentais.Morrison et al. (1989), ressaltam que o Brasil abriga o terceiro maiornmero de maaricos e baturas nerticos do continente Sul Americano. Asaves provenientes do Hemisfrio Norte se reproduzem em cinco reas: ortico, Canad, Baa de Delaware, poro central dos Estados Unidos eFlrida. Estes migrantes atravessam os Estados Unidos e o Brasil emgrandes bandos, rumo Patagnia, entre agosto e setembro, ou na volta,

    entre abril e maio. Outras reas midas tambm se destacam como stiosde invernada para estes migrandes: o Salgado Paraense/PA, as ReentrnciasMaranhenses/MA, o Parque Nacional da Lagoa do Peixe/RS, MangueSeco/BA e a Coroa do Avio/PE (IBAMA/CEMAVE, 2008). Dentre asespcies que invernam ou fazem paradas na plancie do Pantanal, dez sorestritas ao Novo Mundo (Limosa haemastica, Numenius borealis, Bartramialongicauda, Tringa melanoleuca Figura 9,T. flavipes, T. solitaria, Actitismacularia, Phalaropus tricolor, Calidris fuscicollis eCalidris bairdii), trsestendem sua rea de ocorrncia at a Sibria (Calidris melanotos, C.minutila eC. pusilla), enquanto outras tm distribuio circumpolar ouholortica (Calidris canutus e Tringites subruficollis) (Hayman et al., 1986).

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    28/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal30

    Figura 9.Maarico-grande-de-perna-amarela (Tringa melanoleuca). Foto:Francisco Pedro Fonseca Neto.

    Algumas espcies de maarico apenas utilizam reas midas e corpos-dgua da plancie como ponto de parada para descanso e alimentao,durante suas migraes at as rgies mais meridionais da Amrica do Sul,como Argentina, Uruguai e Terra do Fogo. Outros, no entanto, passam todoo perodo de invernada no Pantanal, alimentando-se e armazenandoreservas de gordura para seu regresso ao Hemisfrio Norte. Estas espcieschegam plancie a partir de setembro e permanecem aqui at maro. Noentanto, certos indivduos de determinadas espcies (Actitis macularia,Tringa melanoleuca eT. flavipes), podem ser vistos ao longo do ano emalgumas reas da plancie. Telino Jr. et al.(2003a) tambm fazem meno permanncia de jovens, subadultos e adultos que no concluram asmudas das penas de vo em suas reas de invernada, aguardando aprxima estao reprodutiva para retornarem aos seus locais de origem.

    Arenaria interpres incomum na plancie pantaneira, sendo avistadossomente dois indivduos em salinas da regio do rio Negro, Pantanal daNhecolndia. Outra espcie registrada recentemente para o Pantanal omaarico-galego (Numenius phaeopus). Um grupo com 29 indivduos de N.

    phaeopus foram avistados em uma baa do Pantanal da Nhecoldia(Morrison et al., 2008).

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    29/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal 31

    Os registros do maarico-esquim (Numenius borealis) para a planciecarecem de preciso (Tubelis e Tomas, 2003). A populao atual estimada em pouco mais de 50 indivduos. Estas aves se reproduzem noCanad, migrando atravs da Baa Hudson e Nova Inglaterra nos EstadosUnidos e Caribe at chegarem aos pampas uruguaios e argentinos, bemcomo o Chaco paraguaio, sudeste do Brasil e Patagnia chilena (BirdLifeInternational, 2008a).

    As principais reas de invernada do maarico-de-bico-virado (Limosahaemastica) esto localizadas ao sul da Amrica do Sul, principalmente naPatagnia. Para o Pantanal h apenas um registro desta espcie, baseadoem pele coletada em Cceres, no Mato Grosso (Tubelis e Tomas, 2003).Estudos com o maarico-rasteirinho (Calidris pusilla), em Pernambuco,indicam que esta espcie necessita da aquisio mnima de 25g de massacorporal para realizar o retorno aos seus stios reprodutivos na Amrica doNorte, em abril e maio (Fedrizzi et al., 2004).

    Estas aves chegam ao Brasil com plumagem de eclipse, a partir desetembro (Sick, 1997). Durante as migraes at suas reas de invernadaalguns maaricos no fazem paradas, sendo tidos como nonstop. Dentreeles, destaca-se o maarico-de-papo-vermelho (Calidris canutus), queinverna principalmente na Terra do Fogo (GROMS, 2008). Registros destaespcie na plancie so escassos, sendo restritos regio da RodoviaTranspantaneira, Mato Grosso (Tubelis e Tomas, 2003). O maarico-de-sobre-branco (Calidris fuscicollis) freqentemente passa pela Amaznia eoutras importantes reas midas no pas, durante sua migrao at asregies mais meridionais da Amrica do Sul. Quando do seu retorno aoCanad e Alaska, passa pela Amrica Central e ilhas do Caribe. Caminhosimilar seguido pelo maarico-pernilongo (Tringites subruficollis) (Morrisonet al., 1989).

    Hayes et al. (1990) e Hayes e Fox (1991) listam 16 e 15 espcies de

    maaricos que invernam no Paraguai e Bolvia, respectivamente. Dentreelas, o pisa-ngua (Phalaropus tricolor), o maarico-do-campo (Bartramialongicauda), o maarico-solitrio (Tringa solitaria) e o maariquinho (Calidrisminutilla). H uma segregao sexual durante a migrao de P. tricolor,cujas fmeas deixam as reas reprodutivas na Amrica do Norte (GreatSalt) primeiro, sendo aps algumas semanas, seguidas pelos machos,depois, os imaturos. O maarico-solitrio (Tringa solitaria) apresenta duassubespcies, T. s. solitariae T. s. cinnamomea. Ambas migram para aspores mais meridionais do continente Sul Americano durante o invernoboreal, porm, seguem rotas migratrias distintas na Amrica do Norte. Asubespcie T. s. solitariase desloca seguindo as montanhas do Colorado eVale do Mississippi, enquanto T. s. cinnamomea, pela regio de Atlanta e

    Utah (GROMS, 2008). Na plancie, T. solitaria, B. longicauda e P. tricolortm amplos registros de ocorrncia, enquanto os de C. minutilaparecem ser

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    30/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal32

    restritos poro norte, como em Cceres e na Rodovia Transpantaneira(Tubelis e Tomas, 2003).

    Morrison et al.(2008) relatam que o maarico-de-colete (Calidris melanotos)foi a segunda espcie mais numerosa de ave limcola nertica durante oscensos realizados no Pantanal, notadamente nas baas e salinas da regiodo rio Negro, na sub-regio da Nhecolndia.

    Em 2008, bandos de Phalaropus tricolor contendo mais de 30 indivduosforam avistados nas salinas da fazenda Nhumirim, sub-regio daNhecolndia (Nunes et al., no prelo b). Tais avistamentos podem serconsiderados os primeiros na regio e possivelmente esto relacionados maior disponibilidade de gua nas baas e salinas, atraindo assim maiordiversidade de aves limcolas.

    Trinta-ris-boreal

    O trinta-ris-boreal (Sterna hirundo) outro migrante circumpolar, ocorrendotanto nas Amricas, quanto no Novo Mundo. Hays et al. (1997) ressaltam

    que a ocorrncia deste trinta-ris na Amrica do Sul est mais restrita Argentina, bem como ao litoral norte e regio sul do Brasil. Ainda segundoos mesmos autores, os trinta-ris que invernam no Brasil so provenientesde colnias reprodutivas nas costas leste e norte da Amrica do Norte,Canad e regio dos Grandes Lagos. Outro importante stio de invernadapara esta espcie no Brasil a Lagoa do Peixe, abrigando milhares de aves(Nascimento, 1995). Na plancie pantaneira, os registros de ocorrnciadesta espcie esto concentrados na poro norte (Tubelis e Tomas, 2003).

    Papa-lagarta-de-asa-vermelha

    A migrao noturna do papa-lagarta-de-asa-vermelha (Coccyzusamericanus), desde o sul da Amrica do Norte (Estados Unidos) e AmricaCentral (Mxico e Panam, principalmente), ocorre atravs das formaesvegetais. No Brasil, esta ave chega em outubro, permanecendo at abril,quando inicia a primavera em suas reas reprodutivas (GROMS, 2008).

    Bacurau-norte-americano

    Melo (2006) cita a ocorrncia de Chordeiles minorna Fazenda Caiman,sendo este, o primeiro e nico registro deste migrante na planciepantaneira. C. minorpossui vrias subespcies, entre elas, C. m. champani

    que inverna no Brasil central e norte da Argentina (GROMS, 2008).

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    31/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal 33

    Papa-moscas

    O papa-moscas-de-alder (Empidonax alnorum) foi registrado recentementepara a plancie pantaneira, na Fazenda Figueirinha, sub-regio daNhecolndia (Vasconcelos et al., 2008). Os autores coletaram a espcie noms de novembro, perodo em que a maioria dos visitantes setentrionaisest se deslocando rumo s pores mais ao sul da Amrica do Sul. Sua

    rota migratria inclui reas mais ao sul do que Empidonax trailliiem vrisregies da vertente atlntica da Amrica Central e do Sul, como Panam,Costa Rica, Colombia, Venezuela, Equador, Peru, Bolvia, Paraguai,Argentina e no Brasil. No territrio brasileiro ocorre no Acre, Amazonas,Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, locais onde aparece entre os meses deoutubro a abril. As principais reas de reproduo desta espcie esto noAlaska, Canad e nordeste dos Estados Unidos (BirdLife International,2008b).

    Outro tirandeo setentrional que tem o Pantanal como rota migratriadurante seus deslocamentos at o sul da Amrica do Sul o suiriri-valente(Tyrannus tyrannus), porm no muito comum, sendo registrado somente

    na Fazenda Caiman (Melo, 2006). Sick (1983, 1997) relata que duranteseus deslocamentos migratrios pela Amrica do Sul, o suiriri-valente atingeregies como Paraguai, Bolvia, noroeste da Argentina, costa oeste do Perue no Brasil, os cerrados de Mato Grosso (novembro), Amazonas (outubro) enoroeste da Bahia (dezembro).

    Juruviara

    Vireo olivaceus(Figura 10) tem ampla distribuio no continente americanocom populaes disjuntas, sendo que as da Amrica do Norte e Centralpertencem subespcie V. o. olivaceus(de olhos vermelhos), enquanto as

    da Amrica do Sul, V. o. chivi. Sick (1983, 1997) descreve a subespcie daAmrica do Sul como sedentria. No entanto, estudos efetuados por Pereiraet al. (1997), na Mata Atlntica do estado de So Paulo, contradizem estasafirmaes. Ainda segundo os autores, tais subespcies devem se misturarna Amaznia, Pantanal e outros stios de invernada durante seusdeslocamentos migratrios. No Pantanal, a juruviara pode ser observada apartir de setembro, permanecendo at maro.

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    32/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal34

    Figura 10. Juruviara (Vireo olivaceus). Foto: Ciro Albano.

    Andorinhas

    Com relao aos Hirundinidae setentrionais, duas espcies so restritas sAmricas (Progne subise Petrochelidon pyrrhonota), enquanto a andorinha-do-barranco (Riparia riparia) e a andorinha-de-bando (Hirundo rustica)estendem sua distribuio at o Velho Mundo. Na Fazenda Nhumirim,Pantanal da Nhecolndia, a partir de setembro, bandos de at 20 indivduospodem ser vistos sobrevoando baas a cata de insetos (Nunes et al., noprelo a). Estas aves chegam ao Brasil em setembro e aqui ficam at abril.Antas et al. (1986) relatam ocorrncia da andorinha-azul (P. subis) naplancie pantaneira (Pocon, MT), bem como na regio norte, nordeste esudeste do pas. No Pantanal, a andorinha (Riparia riparia) ocorre de outubroa novembro. Durante suas migraes, a subespcie Hirundo rusticaerythrogasterdesloca-se da Amrcia do Norte at a Terra do Fogo,enquanto a sua representante no Velho Mundo, H. r. rustica, migra para osul da frica durante o inverno europeu (Sick, 1997).

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    33/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal 35

    Sabi

    O perodo de invernada do sabi-norte-americano (Catharus fuscescens) noBrasil ocorre, segundo Remsen Jr. (2001), no final do ano, entre novembroe dezembro. Registros desta espcie no territrio nacional so maisfreqentes no norte, como a regio amaznica (Stotz et al., 1992). Destaforma, a regio de influncia da Floresta Amaznica de Transio serve

    como via de acesso dessa espcie ao Pantanal (Pinho, 2005).

    Mariquita

    A mariquita-de-connecticut (Oporornis agilis) migra exclusivamente a noite echega a Amrica do Sul com plumagem de descanso reprodutivo,assemelhando-se a indivduos imaturos. No Brasil, sua principal rea deinvernada a regio amaznica (Stotz et al., 1992, Curson et al., 1994),mas atinge a poro norte da plancie do Pantanal, no Rio So Loureno,municpio de Pocon, Mato Grosso, durante os meses de dezembro ejaneiro. A forte influncia da Floresta Amaznica de Transio na regio dePocon amplia a distribuio deste paruldeo at o Pantanal.

    Estrela-do-norte

    Sporophila bouvronides uma espcie pouco comum no Pantanal, invernana poro mais norte da plancie, em Pocon (Pinho, 2005), fugindo doinverno boreal na Amrica do Norte (GROMS, 2008). Reproduz-se naColmbia, Venezuela e Guianas (Sick, 1997).

    Triste-piaUma das mais extensas migraes j registradas para aves da OrdemPasseriformes a do triste-pia (Dolichonyx oryzivorus), que deixa a Amricado Norte (Estados Unidos e Canad), seguindo uma rota sem escalas,cruzando o Mar das Antilhas e costa da Venezuela. Na Flrida, estas avesconvergem em grandes bandos at chegarem nas reas de invernada, comoo Pantanal (novembro a maro), nordeste da Bolvia, Paraguai e Pampasargentinos, aps terem atravessado toda a regio Amaznica (Sick, 1983,1997). Na plancie, ocorre em Corumb, sub-regio da Nhecolndia,Paiagus e Aquidauana (Tubelis e Tomas, 2003), e na regio do Pirizal,Mato Grosso (Pinho, 2005).

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    34/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal36

    Migrantes intracontinentais

    Para Antas (1986) a provncia biogeogrfica Andino-Patagnica a origemde muitas espcies migratrias e produz uma srie de migraes, embora

    em menor nmero em relao ao Nertico. Esta regio est sob um regimeclimtico temperado de invernos rigorosos que resultam em quedas cclicasna oferta de alimento, as quais levam vrias espcies a migrarem pararegies mais setentrionais. Estas espcies chegam ao Brasil em abril,quando do inverno austral em suas reas de reproduo (Antas, 1986;Nunes e Tomas, 2004a).

    Aproximadamente 67% da avifauna migrante e nmade ocorrente naplancie do Pantanal, ou seja, 129 espcies tm origem Andino-Patagnica.As aves da Ordem Passeriformes predominam entre os migrantesintracontinentais, principalmente as pertencentes s famlias Tyrannidae (41espcies) e Emberizidae (18 espcies). ExcetuandoCoccyzus euleri,Volatinia jacarinae Sporophila lineola, as demais espcies deslocam-se dasregies mais meridionais como Uruguai, Argentina, Paraguai e Bolvia, emdireo Amaznia.

    Patos e marrecas

    As espcies Dendrocygna bicolor, D. viduatae D. autumnalis so tidascomo migrantes locais de acordo com o GROMS (2008). Entretanto, taisaves so muito sazonais na plancie pantaneira, tendo seus nmerosreduzidos ou desaparecendo completamente no perodo de seca, pararetornarem em nmeros expressivos nas cheias.

    Populaes oriundas de regies mais meridionais, como Rio Grande do Sul,Argentina e Uruguai, principalmente do pato-de-crista (Sarkidiornissylvicola), fugindo de grandes secas ou significativas quedas detemperatura nestas regies, podem se misturar s da plancie do Pantanal.Oliveira (2006) registrou maior abundncia das marrecas Dendrocygnabicolor eD. viduatanos perodos de maior pluviosidade na regio dePocon, MT, demosntrando a forte influncia climtica na dinmica dascomunidades de aves aquticas no Pantanal.

    O capororoca (Coscoroba coscorobaFigura 11) se distribui pela Argentina,Chile, Bolvia e Terra do Fogo, tendo no Brasil grande ponto deconcentrao e reproduo no Rio Grande do Sul (Nascimento et al., 2001).

    Para Antas (1986) a regio patagnica ou mesmo andina, deve ser o localde origem de parte da populao de capororoca que chega ao sul do pas.

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    35/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal 37

    Acreditamos que apenas uma pequena parcela da populao de C.coscorobase dispersa para regies mais setentrionais do pas, como oPantanal. Outros Anatidae, tais como a marreca-de-coleira (Callonettaleucophrys, Figura 12), possui rea de reproduo principalmente no sul daBolvia e Noroeste da Argentina, enquanto a marreca-cricri (Anas versicolor)reproduz-se notadamente na Argentina e no Chile (GROMS, 2008). Emterritrio nacional sua reproduo tem sido reportada para o Rio Grande do

    Sul (Sick, 1997).

    Figura 11. Coscoroba (Coscoroba coscoroba). Foto: Vtor Piacintini.

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    36/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal38

    Figura 12. Marreca-de-coleira (Callonetta leucophrys). Foto: AlessandroPacheco Nunes.

    A marreca-colorada (Anas cyanoptera) distribui-se desde a Amrica doNorte at a Amrica Central e Amrica do Sul. No noroeste dos EstadosUnidos, a marreca-colorada possui populao residente (A. cyanopteraseptentrionalis), enquanto a raa meridional migratria. Esta populaopossui rea de reproduo no Chile e Patagnia, tendo no Brasil os estados

    do RS, SC, PR, SP e MS como principais reas de invernada. Na plancie doPantanal h registrosde sua ocorrncia na Curva do Leque, sub-regio daNhecolndia, no perodo de grande pulso de inundao (Nunes et al., 2008).

    Anas sibilatrix espcie registrada apenas para o Pantanal da Nhecolndia(Melo, 2006), tem como principal rea de ocorrncia na Amrica do Sul, aPatagnia chilena e Argentina, parte do Uruguai e Rio Grande do Sul (Sick,1997). Portanto, a ocorrncia desta marreca na plancie pantaneira deve serconsiderada acidental. Entretanto, refora a importncia deste macro-ecossistema, como rota ou ponto de parada para estes migrantes austrais.

    Nascimento et al.(2000) relatam uma migrao em circuito para omarreco (Netta peposaca), a qual se movimenta entre o sul do Brasil e ovale do baixo rio Paran. Ainda segundo os mesmos autores, aps operodo reprodutivo no Rio Grande do Sul, a populao migra para o

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    37/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal 39

    noroeste da Argentina. Entretanto, uma outra rota migratria ocorre entre osul do pas e o Pantanal, ocasionalmente em anos de frentes friasexcepcionalmente fortes ou devido a efeitos de seca.

    De acordo com Nunes et al. (2006), os anatdeos Sarkidiornis sylvicola,Dendrocygnabicolor eCoscoroba coscorobaso considerados raros epouco abundantes na plancie do Pantanal. Outro tipo de deslocamento

    realizado pelos anatdeos brasileiros o de desagem, quando estas avesprocuram pntanos e outras reas midas pouco acessveis para realizaremmuda em bloco das suas penas de vo. Neste perodo so maissuscetveis a predao e a ao de caadores (Sick, 1983).

    A atividade de caa aos anatdeos mais freqente na regio sul do pas,notadamente no Rio Grande do Sul, onde ocorre maior concentrao dediversas espcies de patos e marrecas (IBAMA/CEMAVE, 2000; Efe et al.,2005). Este o nico estado brasileiro onde a caa desportiva legal eobedece a um programa bem monitorado. Harris et al. (2005) ressaltam queno Pantanal, a atividade de caa atualmente negligencivel,principalmente no que diz respeito a aves.

    Mergulhes

    No Pantanal, os mergulhes Rollandia rolland, Tachybaptus dominicusePodilymbus podiceps so aves incomuns e desaparem completamente emdeterminados perodos do ano, principalmente durante a seca. Sick (1997)ressalta que fora do perodo reprodutivo estas aves so migratrias, tendogrande concentrao no sul do pas em consequncia do inverno e regimevarivel das guas.

    Em 2008, grandes bandos de T. dominicus e P. podiceps, incluindoindivduos adultos e filhotes foram avistados em baas das fazendasNhumirim e Alegria, ambas no Pantanal da Nhecolndia. De modo geral,suas rotas migratrias e sua dinmica ainda so desconhecidas tanto noPantanal, quanto em outra rea do territrio nacional.

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    38/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal40

    Bigu e biguatinga

    Antas e Palo Jr. (2004) destacam que as populaes de biguPhalacrocorax brasilianus(Figura 13), no Pantanal, possivelmente sedeslocam para rios amaznicos, como o Guapor, Madeira e Tapajs, apartir de agosto, perodo de seca na plancie pantaneira.

    Figura 13. Bigu (Phalacrocorax brasilianus). Foto: James Faraco Amorim.

    H tambm um fluxo migratrio do bigu da Argentina para o sul do pas,como verificado por Lara-Resende e Leal (1982). A biguatinga (Anhingaanhinga), assim como o bigu, extremamente dependente de corposdgua e o perodo de seca na plancie do Pantanal, pode desencadearpadro migratrio semelhante ao de P. brasilianus.

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    39/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal 41

    Garas

    As populaes de garas-azuis (Egretta caerulea) dos Estados Unidosrealizam deslocamentos em direo Flrida, Cuba e Mxico, bem comotambm para o Paraguai e Argentina (GROMS, 2008). Entretanto,acreditamos que as populaes da plancie pantaneira desloquem-se emdireo poro norte do continente Sul Americano e outras reas midas,principalmente na Amaznia. No Pantanal tem sido mais freqente emlocais como Pirizal, Descalvados/Fedegoso, Pocon, RodoviaTranspantaneira, Fazenda rio Negro, Pousada Ararauna, Fazenda Caiman(Tubelis e Tomas, 2003).

    Recentemente a espcie tem sido freqente nas salinas da fazendaNhumirim, Pantanal da Nhecolndia, ocorrendo em pequenos bandos (Nuneset al., no prelo b). Os registros recentes desta ave na regio podem estarrelacionados aos pulsos de inundao, tendo o ano de 2008, perodo emque a ave foi avistada na regio, maior disponibilidade de gua nas baas esalinas em relao a perodos anteriores.

    Outra gara, aArdea albadiminui sua abundncia aps o perodoreprodutivo no Pantanal e Antas e Palo Jr. (2004) atribuem este padro disperso para fora do Pantanal durante as cheias. Provavelmente, oprincipal fator para a diminuio da abundncia de garas-brancas-grandes(A. alba) sua distribuio por uma vasta rea alagada do Pantanal, noentanto, ocorrem grandes concentraes em locais adequados dealimentao e reproduo na poca da seca.

    Por outro lado, Olmos e Silva e Silva (2001) observaram flutuao naspopulaes de gara-branca-grande nos manguezais de Cubato-SP. Osmesmos autores atribuem a diminuio no nmero de garas na regio aosmovimentos de disperso dos adultos aps o perodo reprodutivo.

    Tapicuru, carana e colhereiro

    Populaes de tapicuru-de-cara-pelada (Phimosus infuscatus, Figura 14),oriundas de colnias reprodutivas no sul do pas, possivelmente sedeslocam para o Pantanal aps o perdo reprodutivo (Antas e Palo Jr.,2004). Entretanto, a disponibilidade de gua em baas e salinas pode atraire manter populaes desta espcie ao longo do ano em determinadasregies, como verificamos na fazenda Nhumirim e seus arredores.

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    40/122

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    41/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal 43

    de forrageamento para vrias espcies de aves durante seus movimentosmigratrios.

    Filhotes de carana (Plegadis chihi), anilhados na Argentina foramencontrados no Rio Grande do Sul entre setembro e novembro do mesmoano em que foram marcados (Sick, 1997). Embora o Pantanal norte tenhaum dos maiores ninhais de colhereiros no pas, provavel que populaes

    oriundas de colnias reprodutivas mais ao sul, como Argentina e Uruguai,migrem para a plancie aps a estao reprodutiva.

    Tabuiai, cabea-seca e tuiui

    Em Pocon, Yamashita e Valle (1986) verificaram atravs de anilhamento,que o cabea-seca (Mycteria americana, Figura 15) se desloca da plancieem direo s regies mais meridionais, como a Argentina.

    Antas e Palo Jr. (2004) e Anjos e Gimenes (2005) relatam que cabeas-secas chegam ao Pantanal norte entre maro e maio, quando do perodo da

    baixa das guas, quando permanecem at novembro, quando os rioscomeam a inundar a plancie. Neste perodo, migram para o sul,acompanhando as guas do rio Paraguai at chegar ao norte da Argentina esul do Brasil.

    Comportamento contrrio foi verificado para o tuiui (Jabiru mycteria,Figura 16), que se desloca para o Chaco Paraguaio durante a subida dasguas no Pantanal. Possivelmente o maguari (Ciconia maguari) realizadeslocamentos similares a cabeas-secas. O Pantanal pode receberexemplares das populaes de maguaris, tuiuis e cabeas-secas oriundosda Argentina, Uruguai ou do sul do Brasil (Antas e Palo Jr., 2004).

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    42/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal44

    Figura 15. Cabea-seca (Mycteria americana). Foto: Pedro Cerqueira Lima.

    Figura 16. Tuiui (Jabiru mycteria). Foto: Walfrido Moraes Tomas.

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    43/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal 45

    Tais aves renem-se em grandes bandos mistos no final do perodo seco,quando a baixa das guas acumula em lagoas, corixos e meandrosabandonados, enormes quantidades de peixes e outros pequenos animaisaquticos (Oliveira, 2006). O perodo reprodutivo de aves como os cabeas-secas, os tuiuis e os maguaris est diretamente vinculado aos pulsos deinundao e seca na plancie (Antas e Nascimento, 1996). Na Venezuela,Gonzlez (1996) relata a estreita ligao da reproduo, flutuao e

    movimentos de disperso e migrao destas cegonhas sul americanas comos regimes de chuva.

    Gavies

    O gavio-peneira (Elanus leucurus, Figura 17) possui populaes residentese migratrias no Brasil (Antas e Palo Jr., 2004). No perodo do outono-inverno austral, ou seja, entre os meses de maio e julho, passam peloPantanal em direo ao norte do continente Sul Americano. Da planciepantaneira para a Amaznia, migram tambm grandes bandos de gavio-caramujeiro (Rostrhamus sociabilis, Figura 18) no inverno e na seca. Neste

    perodo, a escassez de alimento, exclusivamente moluscos do gmeroPomacea, desencadeia estes movimentos em direo a regies maisalagadas no norte do pas.

    Figura 17. Gavio-peneira (Elanus leucurus). Foto: Marcelo Barreiros.

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    44/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal46

    Figura 18.Gavio-caramujeiro (Rostrhamus sociabilis). Foto: James FaracoAmorim.

    O sovi (Ictina plumbea) migratrio no Pantanal, bem como no sul esudeste do Brasil, mas com populaes residentes na Amaznia.Populaes do sovi oriundas do sul passam pelo Pantanal em direo aonorte em abril, ou no seu retorno, em agosto (Antas e Palo Jr., 2004).

    Caro

    O caroAramus guarauna (Figura 19) desaparece completamente emdeterminadas regies durante a baixa das guas, no perodo seco. Estaespcie, tal como o gavio-caramujeiro (Rostrhamus sociabilis), exclusivamente malacfaga. Este recurso torna-se escasso durante operodo de seca no Pantanal, obrigando o caro a procurar outras reasmidas vizinhas, dentro e/ou fora da plancie (Antas e Palo Jr., 2004).

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    45/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal 47

    Figura 19. Caro (Aramus guarauna). Foto: Walfrido Moraes Tomas.

    Frangos-d'gua

    Aps o perodo reprodutivo, alguns raldeos empreendem deslocamentosmigratrios ainda pouco conhecidos no Brasil (Sick, 1997). Este parece sero caso do turu-tutu (Neocrex erythrops) e dos frangos-dgua (Gallinulachloropuse Porphyrio martinica), que desaparecem em determinadaspocas do ano, notadamente no final do perodo de seca. Telino Jr. et al.(2003b) tambm verificaram flutuaes nas polulaes destas aves nonordeste do Brasil.

    Baturas

    Segundo Antas e Palo Jr. (2004), com as enchentes na plancie do

    Pantanal, a batura-de-colar (Charadrius collaris, Figura 20) abandona ascalhas dos rios pantaneiros e migra para outras reas, dentro ou fora dopas. Tal fato tambm relatado por Rodrigues e Lopes (1997), no

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    46/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal48

    Maranho. O mesmo ocorre com a batura-de-esporo (Vanellus cayanus),espcie tambm dependente de praias de rios, baas e salinas. Nas praias daIlha Comprida-SP, Barbieri e Pinna (2005) verificaram aumento no nmerode C. collaris de maio a agosto, com expressiva queda a partir de setembro.

    Figura 20. Batura-de-coleira (Charadrius collaris). Foto: Pedro CerqueiraLima.

    Narcejas

    A narceja (Gallinago paraguaiae), segundo Sick (1997), reproduz-se em todaa Amrica do Sul. Isso se deve ao fato de que apenas parte da populao migrante de longa distncia, notadamente as das subespcies G. p. andina

    e G. p. magellanica (GROMS, 2008). G. undulata maior que a espcieanterior,ocorrendo do Norte da Amrica do Sul ao Paraguai, Uruguai eBrasil, principalmente na regio oriental e central (Sick, 1997). Na planciedo Pantanal, os nicos registros desta ave foram obtidos na PousadaAguap, municpio de Aquidauana, Pantanal da Nhecolndia (Endrigo,2005).

    Trinta-ris

    Com a subida das guas, as reas ocupadas pelos trinta-ris (Sternulasuperciliaris, Phaetusa simplex e Sterna trudeaui), tais como praias de rios,

    borda de baas e salinas, so inundadas e estas aves se dispersam aprocura de locais mais propcios. Estas aves, assim como o trinta-ris-ano

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    47/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal 49

    (S. superciliaris), tendem a concentrar-se nas reas costeiras do Norte eNordeste do Brasil, sendo possivelmente populaes oriundas do Pantanal eoutras reas do interior do pas (Vooren e Brusque, 1999). Sick (1997)descreve comportamentos similares destes Charadiiformes na Amazniadurante as enchentes anuais.

    A ocorrncia do trinta-ris-de-coroa-branca (Sterna trudeaui) na plancie

    pantaneira pode ser considerada acidental, uma vez que sua rea dedistribuio est restrita ao extremo sul da Amrica do Sul, em regiescomo leste da Argentina e a costa do Chile, Uruguai e Brasil, como nosestados do Rio Grande do Sul (reproduo em novembro), Paran, SoPaulo, Rio de Janeiro e Esprito Santo (Sick, 1997).

    Talha-mar

    Filhotes de Rynchops nigeranilhados no SESC Pantanal, em Baro deMelgao, MT foram recapturadas em laguna Mar Chiquita, prxima a Mardel Plata na Argentina e na Lagoa do Peixe, RS. Nos dois casos percebe-se

    um deslocamento para o sul, muito claro, a exemplo do que ocorre comoutras espcies aquticas do Pantanal durante o perodo de cheia naplancie do Pantanal (SESC Pantanal 2008).

    Nos esturios de Canania-Iguape e Ilha Comprida, estado de So Paulo,Barbieri (2007) verificou maior abundncia de R. niger no vero e outono,sugerindo rota migratria dos grandes rios interioranos como Paran eParaguai, onde nidificam no inverno austral, perodo seco e com menoresvazes, para a regio costeira de estado. Entretanto, em Cubato e Santos,SP, ocorre maior concentrao de talha-mares entre abril e junho quandoento migram para outras reas, talvez para nidificarem nas praias fluviaisque surgem nas bacias dos rios Paran e Paraguai (Olmos e Silva e Silva,

    2001).

    Pombos

    Antas e Palo Jr. (2004) observaram deslocamentos migratrios de maro adezembro, em parte da populao do pombo (Patagioenas picazuro) noPantanal. Rotas migratrias desta espcie em direo s regies maismeridionais do sul da Amrica do Sul, como o Chaco Paraguaio, foramverificadas por Valle e Yamashita (1986) atravs de anilhamento emPocon, MT. Nas demais reas da plancie pantaneira populaes destaespcie flutuam muito ao longo do ano, tendendo a ocorrer nmeros

    expressivos em determinados perodos, notadamente na seca, comoverificamos na fazenda Santana, regio de Aquidauna.

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    48/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal50

    Papa-lagartas

    Coccyzus melacoryphus reproduz-se no sul do Brasil e migra para o norteno outono/inverno, alcanando a Venezuela e a costa caribenha docontinente. No Pantanal, as aves encontradas, tanto podem ser migrantesem seus deslocamentos como haver reproduo localmente. O papa-lagarta-de-euler (Coccyzuz euleri) migra do Pantanal, a partir de outubro, para o sul

    da Amaznia para se reproduzir (Antas e Palo Jr., 2004).No Chaco boliviano o papa-lagarta-acanelado (C. melacoryphus) tido comomigrante austral (Jahn et al.,2002). Sick (1997) atribui a ocorrncia dopapa-lagarta-de-bico-preto (Micrococcyx cinereus) na Amaznia aosmigrantes austrais fugindo do inverno no sul do continente Sul Americano.

    Bacuraus e curiangos

    Deslocamentos em grandes escalas, efetuados pelos caprimulgdeosChordeiles pusillus, Chordeiles acutipennis, Podager nacunda (Figura 21),

    Caprimulgus rufus, Caprimulgus parvulus e Hydropsalis torquata,notadamente as populaes mais meridionais, tambm se deve a fuga doinverno austral (Jahn et al.,2002). Antas e Palo Jr. (2004) tambmrelacionam o aumento nas populaes do bacurauzinho (C. pusillus), dojoo-corta-pau (C. rufus) e do bacurau-tesoura (H. torquata)no Pantanalnorte as migraes austrais. Entretanto, para o coruco (P. nacunda), osmesmos autores atribuem sua ocorrncia na RPPN SESC Pantanal em junho baixa das guas.

    Figura 21. Coruco (Podager nacunda). Foto: Pedro Cerqueira Lima.

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    49/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal 51

    Andorinhes

    Como migrante austral no continente Sul Americano, o andorinho-do-temporal (Chaetura meridionalis), passa pela plancie durante seusmovimentos no outono-inverno, rumo Amrica Central. Seus nmeros

    aumentam principalmente em outubro e maro-abril (GROMS, 2008). Sick(1997) e Antas e Palo Jr. (2004) ressaltam que C. meridionalis migra apso perodo reprodutivo, principalmente as populaes mais meridionais doBrasil, em direo Colmbia e Panam.

    Beija-flores

    Dois trochildeos realizam deslocamentos mais extensos no continente SulAmericano o beija-flor-de-veste-preta (Anthracothorax nigricollis) e o bico-reto-azul (Heliomaster furcifer), embora tais deslocamentos ainda sejampouco conhecidos (Sick, 1997; GROMS, 2008).

    Papa-moscas, guaracavas, bem-te-vis e afins

    Os Tyrannidae so os mais representativos dentro da categoria demigrantes intracontinentais, representando 33,5% das aves que realizameste tipo de deslocamento. Dentre elas, destacam-se os migrantes austraisna Amrica do Sul, Myiopagis viridicata, M. caniceps, Elaenia spectabilis, E.parvirostris, Polystictus pectoralis, Hirundinea ferruginea, Knipolegusstriaticeps, K. hudsoni, Xolmis irupero (Figura 22), Myiodinastes maculatuseTyrannus albogularis (Ridgely e Tudor, 1994; Flores et al.,2001; Jahn etal., 2002). Durante o inverno austral, junho-agosto, a guaracava-de-bico-curto (Elaenia parvirostris) e a guaracava-grande (E. spectabilis) sedeslocam para o norte atravessando o Amazonas, invernando na Colmbia,Venezuela e Guianas (Ridgely e Tudor, 1994).

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    50/122

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    51/122

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    52/122

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    53/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal 55

    A maria-preta-do-sul (Knipolegus hudsoni) reproduz-se em Crdoba eBuenos Aires, na Argentina, e migra durante o inverno austral para o norteda Argentina, Paraguai, Bolvia e Brasil. No Pantanal tem sido observada naregio de Descalvados, no Mato Grosso, e Porto da Manga, sub-regio daNhecolndia (Ridgely e Tudor, 1994).

    Com relao a Knipolegus striaticeps, sua distribuio inclui a Bolvia,

    Paraguai, Argentina e, no Brasil, est restrita aos arredores de Corumb,Mato Grosso do Sul. Estes tirandeos chegam ao Brasil no final do inverno,entre agosto e setembro (Sick, 1997; Tubelis e Tomas, 2003).

    As espcies do gneroAlectrurustm distribuio mais meridional naAmrica do Sul, como Argentina, Uruguai, Paraguai e sul da Bolvia, massuas principais reas reprodutivas esto na Argentina. No Pantanal,invernam duas espcies, o galito (A. tricolor) e a tesoura-do-campo (A.risora). Esta ltima tambm inverna no Rio Grande do Sul e So Paulo e, naplancie do Pantanal, aparece na poro sul, em Porto Murtinho. O galito foirecentemente registrado para o Pantanal, sendo restrito parte sul daplancie, na RPPN fazenda Rio Negro (Cestari, 2006b). A viuvinha-de-culos(Hymenops perspicillatus), foi registrada na plancie do Pantanalrecentemente, na fazenda So Luis, sub-regio do Paiagus (Nunes et al.,2008), Pousada Aguap (Endrigo 2005) e Fazenda Nhumirim (Nunes et al.,no prelo b).

    Os demais Tyrannidae (Xolmis irupero, X. velatus, Gubernetes yetapa,Myiozetetes cayanensis, M. similis, Legatus leucophaius eTyrannusalbogularis) e os Tityridae(Pachyramphus validus eXenopsaris albinucha),desaparecem ou tm suas populaes aumentadas em algumas reas daplancie durante determinadas pocas do ano. Tal fato atribudo aosmigrantes austrais de passagem pelo Pantanal (Ridgely e Tudor, 1994;Antas e Palo Jr., 2004; GROMS, 2008). Durante seus deslocamentosmigratrios para a Amaznia, entre os meses de maro e abril, a peitica-de-

    chapu-preto (Griseotyrannus aurantioatrocristatus) e a peitica(Empidonomus varius) passam pelo Pantanal. O mesmo se d em agosto eoutubro, quando retornam ao sul, Paraguai e Argentina, regies onde sereproduzem (Antas e Palo Jr., 2004). A peitica (G. aurantioatrocristatus),entretanto, se reproduz em algumas de suas reas de invernada, como oscerrados do leste do Mato Grosso do Sul e interior do estado de So Paulo,conforme observaes pessoais dos autores.

    O bem-te-vi-rajado (Myiodinastes maculatus) migratrio no Pantanal,chegando ao final de julho, quando a se reproduz. A partir de marocomeam a migrar para o norte da Amaznia (Antas e Palo Jr., 2004). Airr (Myiarchus swainsoni) desaparece do Pantanal entre os meses de maro

    e abril, e retorna em julho e agosto (Antas e Palo Jr., 2004). A subespcieMyiarchus swainsoni swainsoni, proveniente das regies mais meridionaisda Amrica do Sul, inverna no norte deste continente. As populaes

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    54/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal56

    sedentrias so compostas pelas subespcies Myiarchus swainsoniphaeonotus, do norte da Venezuela e Guiana e M. s. pelzelni, do BrasilCentral (Lanyon, 1982).

    Andorinhas

    Na famlia Hirundinidae o fenmeno de migrao amplamente difundido,sendo as andorinhas consideradas smbolo de migrao (Sick, 1997). Aspopulaes mais meridionais da andorinha-do-rio (Tachycineta albiventer) eda andorinha-serradora (Stelgidopteryx ruficollis) realizam deslocamentosem escalas maiores em direo Colmbia, Venezuela, Guianas, Costa Ricae Panam (GROMS, 2008). Estas populaes devem se misturar,temporariamente, com as residentes na plancie durante estesdeslocamentos. A andorinha-do-campo (Progne tapera, Figura 25),notadamente a subespcie (P. t. fusca), da regio central e sul do Brasil sedeslocam regularmente em grandes bandos rumo Amrica Central.

    Figura 25. Andorinha-do-campo (Progne tapera). Foto: James Faraco

    Amorim.

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    55/122

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    56/122

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    57/122

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    58/122

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    59/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal 61

    Considerada rara na plancie pantaneira (Nunes et al., 2006), o caboclinho-de-chapu-cinzento (Sporophila cinnamomea) tem sua principal rea dereproduo na Argentina, situada entre os rios Uruguai e Paran. NoPantanal, ocorre com maior frequncia no ms de outubro (Antas e Palo Jr.,2004). As populaes meridionais de alguns emberizdeos como a patativa(S. plumbea), o baiano (S. nigricollis), o choro (S. leucoptera, Figura 28), o

    caboclinho (S. bouvreuil), o curi (S. angolensis) e o bicudo (S. maximiliani)so migrantes austrais e migram para regies mais propcias durante oinverno (GROMS, 2008). Essas aves devem passar pela plancie duranteseus deslocamentos em direo Amaznia e norte da Amrica do Sul,misturando-se assim s populaes mais sedentrias do Pantanal. Na RPPNFazenda Rio Negro, Pantanal sul, Cestari (2006a) atribui ocorrncia degrandes bandos de Sporophila collaris, S. lineola, S. nigricollis, S.caerulescens, S. nigrorufa, S. bouvreail, S. hypoxantha, S. ruficollis, S.palustris, S. hypochroma e S, cinnamomea grande disponibilidade desementes do capim rabo-de-burro (Andropogon bicornis).

    Figura 28. Fmea de choro (Sporophila leucoptera). Foto: Pedro CerqueiraLima.

    O caboclinho-do-serto (Sporophila nigrorufa) ocorre em restritas reas daBolvia e Bacia do Alto Paraguai, sendo atribudas tais ocorrncias em

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    60/122

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    61/122

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    62/122

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    63/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal 65

    Nmades

    Na plancie pantaneira, a disponibilidade de alimento muito sazonal,especialmente tambm em funo do pulso de inundao. Muitas espciesrespondem a tais circustncias deslocando-se para outras sub-regies embusca de reas mais favorveis sua sobrevivncia. O regime estacional desubida e descida das guas, ou seja, os pulsos de inundao influenciam

    vrios tipos de migraes no interior e fora da plancie do Pantanal (Antas ePalo Jr., 2004; Figueira et al.,2006). As aves que apresentamdeslocamentos nomdicos ou regionais so representadas por 34 espcies.

    Patos e marrecas

    Na famlia Anatidae, quatro espcies so nmades: o pato-corredor(Neochen jubata), o pato-do-mato (Cairina moschata,Figura 31), o p-vermelho (Amazonetta brasiliensis) e a marreca-de-bico-roxo (Nomonyxdominica). Alguns destes patos e marrecas, principalmente C. moschata eA. brasiliensis, so mais freqentes no perodo chuvoso, aparecendo em

    bandos nos campos inundados, baas, vazantes e corixos, comoobservamos na regio do Pantanal de Aquidauana, nos meses dejaneiro/fevereiro. Tal fato corroborado por Oliveira (2006)no Pantanal dePocon, MT.

    Estudos com anilhamento deAmazonetta brasiliensis, demonstram que estaespcie apresenta grande capacidade de disperso, deslocando-se ao longode sua rea de distribuio, seguindo os regimes de chuvas (Nascimento eAntas, 1990; Nascimento et al., 2005).

    Figura 31. Pato-do-mato (Cairina moschata). Foto: Pedro Cerqueira Lima.

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    64/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal66

    Garas e cor-cor

    A gara-vaqueira (Bubulcus ibis), imigrante da frica iniciou sua colonizaono territrio nacional em 1964, na Ilha de Maraj e atualmente ocorre emvrios estados brasileiros, sendo beneficiada na regio pela da atividadepecuria (Sick, 1997). As populaes desta gara flutuam muito ao longodo ano no Pantanal. De acordo com GROMS (2008) apresenta

    deslocamento intracontinental, entretanto, durante as cheias na planciepantaneira, a gara-vaqueira desloca-se para reas pouco inundadas, umavez que nesse perodo so desalojadas de seus stios de alimentao.

    Aves ecologicamente relacionadas aos ambientes aquticos como a gara-moura (Ardea cocoi) e o cor-cor (Mesembrinibis cayanensis) sodependentes destes ecossistemas para a manuteno de seus ciclosbiolgicos.

    Estas aves experimentam, no decorrer do ano, grande sazonalidade nascondies do habitat e disponibilidade de alimento nas mais variadas sub-regies da plancie pantaneira, o que explica seus deslocamentosmigratrios. Tais aves, principalmente as garas, tambm so beneficiadascom o perodo de baixa das guas, quando peixes e outros animaisaquticos acumulam-se nas lagoas quase secas.

    Gavio-belo

    Durante o perodo de seca em determinadas reas do Pantanal, tal comoverificado na regio do Pantanal do Paiagus, MS, o gavio-belo (Busarellusnigricollis, Figura 32) desaparece completamente, embora Pinho (2005) oconsidere residente no Pantanal de Pocon, MT. A permanncia destaespcie deve estar ligada existncia de habitats aquticos ao longo doano.

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    65/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal 67

    Figura 32.Gavio-belo (Busarellus nigricollis). Foto: Walfrido MoraesTomas.

    Frangos-d'gua

    No Brasil, aps o perodo reprodutivo algumas espcies de aves dispersam-se para reas distantes de seus stios reprodutivos (Sick, 1983; 1997). Esteparece ser o comportamento apresentado pela san-parda (Laterallusmelanophaius) e o frango-dgua-pequeno (Porphyrio flavirostris), cujosdeslocamentos ainda so pouco conhecidos e estudados. Estas aves estoestritamente relacionadas vegetao aqutica de baas e corixos e duranteos perodos de seca, seus stios de forrageio reduzem-se obrigando os aprocurar reas mais favorveis sua sobrevivncia.

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    66/122

  • 7/24/2019 Aves Migratrias e Nmades No Pantanal

    67/122

    Aves Migratrias e Nmades Ocorrentes no Pantanal 69

    Bacuraus

    O bacurau-de-rabo-maculado (Caprimulgus maculicaudatus) consideradosedentrio na maior parte das suas reas de distribuio na Amrica do Sul.Entretanto, determinadas populaes, principalmente as meridionais, ouseja, da regio sul do continente Sul Americano, realizam deslocamentosainda pouco compreendidos (GROMS, 2008). Na plancie pantaneira, o fatorque desencadeia tais movimentos pode ser a cheia. A espcie Nyctiprogneleucopyga, por outro l