Avivamento bispo-nelson

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DESCUBRA AGORA COMO ALCANÇAR O GENUÍNO AVIVAMENTO Nelson Luiz Campos Leite DESCUBRA... - A Igreja em busca de novas formas - O momento em que vivemos - Aprendendo com o profeta habacuque - Marcas do genuíno avivamento - Instrumentos para o genuíno avivamento - Referências bibliográficas

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DESCUBRA AGORA COMO

ALCANÇAR O GENUÍNO

AVIVAMENTO

Nelson Luiz Campos Leite

DESCUBRA... - A Igreja em busca de novas formas - O momento em que vivemos - Aprendendo com o profeta habacuque - Marcas do genuíno avivamento - Instrumentos para o genuíno avivamento - Referências bibliográficas

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A IGREJA EM BUSCA DE NOVAS FORMAS Vivemos num mundo de contínuas

transformações. Essa situação tem afetado a vida das pessoas, famílias e das instituições sociais. A Igreja como parte do contexto social vive no meio destas transformações e procura adaptar-se e responder a essa situação.

Há várias formas de participar do presente

momento como Igreja. Umas se fecham em torno de si mesmas, procurando auto-defender-se; algumas procuram entender e assimilar os sinais dos tempos, buscando configurar-se de forma que, sem perder a sua dinâmica e identidade, possam ser parte integrante desse processo, através de novas maneiras no expressar a sua vivência e missão; outras buscam uma nova dinâmica de espiritualidade, procurando com isso dar segurança a si próprias e aos seus seguidores.

Hoje há uma busca contínua e dinâmica pela

espiritualidade. Após um momento de negação dos valores espirituais e da auto-afirmação humana e social, sem a presença do fator religioso, há um forte impulso pessoal e social pelo elemento místico-espiritual.

Movimentos de todas as índoles religiosas

estão presentes na atualidade oferecendo o seu produto no grande mercado da fé. Há um oferecimento de respostas a tudo e a todas as situações através de religiosidades as mais diversas possíveis. A Igreja Cristo tem sido confrontada por essa situação. A sua resposta varia de acordo com a sua forma de ser, com a sua tradição histórica, com a forma de perceber e interpretar a realidade e com a criatividade com que responde a essa situação.

Em todos os tempos e épocas a Igreja tem

sido desafiada a tomar novas formas. O apóstolo Paulo já desafiava a não nos conformarmos... mas a nos transformarmos, permitindo ao Espírito de Deus realizar em nós a transformação de nossas mentes, de todo o nosso ser e de nossa maneira de expressar a nossa espiritualidade missionária (Rm 12.2). Desta forma, estaríamos vivendo e experimentando a vontade divina para a vida e para a vivência missionária da fé. A única vontade, que significa para o ser humano a totalidade da vida boa, agradável e perfeita, conforme o querer divino expresso nos valores do seu Reino.

No século 16, a Reforma era a resposta para

a realidade de sua época. Neste contexto surge a máxima "Ecclesia reformata et semper reformanda". Este princípio contínuo de reforma significa a forma para poder responder de uma maneira criativa ao desafio apresentado pelas

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novas situações históricas. Ele afirma que nosso Deus é um Deus Vivo, ativo no mundo para transformá-lo e que nossa lealdade a Deus demanda novas respostas por parte da comunidade da fé, sempre renovada... não presa ao passado para poder responder às demandas que surgem do futuro. (1)

No decorrer da História muitos movimentos

de renovação têm surgido. Podemos rememorar o movimento wesleyano, que originou posteriormente a Igreja Metodista. No início do século 20 surgem os movimentos pentecostais trazendo consigo uma força inovadora e transformadora muito grande. A partir dai inicia-se a formação de uma multiplicidade de movimentos distanciados das Igrejas históricas. Esse movimento tem expressado uma configuração de religiosidade popular, ligado no seu início às classes mais pobres. Com o decorrer dos anos, novos movimentos surgem e atingindo a classe média, formando comunidades carismáticas de grande realce.

Toda essa agitação religiosa atinge

diretamente as Igrejas históricas, que sofrem com esse processo, perdem a sua dinâmica, são levadas, no início a uma posição de defesa e auto-preservação, passando a seguir a procurar se rearticular, abrindo espaços para movimentos de renovação no seu interior. Surgem os movimentos avivalistas intra-Igreja com

características carismáticas, criando em muitas Igrejas um fracionamento e uma ruptura, e em outras uma nova configuração de sua maneira de ser, da dinâmica de sua espiritualidade e na sua expressão missionária.

Vivemos um momento no Brasil, que muitos

têm chamado de Avivamento. Um avivamento que alcançou o nosso país, como resposta aos clamores e orações do povo de Deus. Esse avivamento há de mudar a configuração da Igreja e a forma dela expressar--se junto ao povo e à Nação.

Novos movimentos, Igrejas ou Comunidades

têm surgido como uma forma de expressar esse novo momento ou como ruptura com a Igreja Institucional, representada pela tradição histórica do Protestantismo Brasileiro.

Dentro das Igrejas históricas e tradicionais, o

movimento avivalista está presente com suas ênfases e sua maneira de ser. Há uma diversidade de sinais e formas avivalistas, oriundas da espiritualidade e da prática pentecostal e carismática, que se expressam nos cultos públicos e familiares e em outros aspectos da vivência da fé.

Alguns interpretam o presente como um

momento pré-avivalista, afirmando que toda essa movimentação e toda essa gama de diversidade

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de expressões e forma de ser são antecessores de um avivamento que está por vir. há práticas, ênfases de todos os tipos e matizes que têm produzido tensões, confusões, perturbações e divisões.

Nas Igrejas históricas, desde há muito tempo,

a dinâmica dessa espiritualidade tem estado presente, recebendo respostas e reações as mais diversas. Uns se abrem a essa ação, denominada do Espírito, outros se fecham em seus mecanismos de defesa, enquanto alguns tentam interpretar e responder à sua maneira a essa realidade. Programação de avivamento tem ocorrido nas Igrejas tradicionais, com acompanhamento ou não de suas lideranças.

É à luz desta realidade que procuramos

sinalizar o que significa o genuíno Avivamento, sob a ótica da Palavra divina. Nosso propósito é sinalizar alguns elementos considerados fundamentais para um avivamento que possa ser uma resposta dinâmica e adequada para o momento presente em que vivemos, como pessoas, famílias, pátria e continente latino-americano. Um movimento onde há a presença dinâmica e forte da ação do Espírito nos atos chamados de piedade e nas obras de misericórdia mantendo-se um equilíbrio dinâmico entre a expressão de uma espiritualidade pessoal e comunitária, com a sua expressão missionária social transformadora.

Tendo em mente uma rápida visão da

realidade, procuraremos interpretar o significado do avivamento à luz do profeta Habacuque. A partir dai sinalizaremos marcos considerados fundamentais para uma espiritualidade, em cujo bojo está presente um genuíno avivamento. Com isso não estamos querendo negar a relevância, o lugar e a expressividade de movimentos avivalistas, e nem estabelecer com eles uma apologética. O nosso referencial é a Palavra de Deus, a forma de compreender a presença e a atuação do Espírito Santo hoje, e o contexto histórico e social onde ocorre movimento avivalista.

CITAÇÃO:

(1) SHAULL, Richard. I, Reforma y la Teologia de la Liberation. San José: Dei, 1993.

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O MOMENTO EM QUE VIVEMOS Como cristãos, cremos que o Senhor está

presente conosco. Ele não muda e continuará presente conosco. Deus em Cristo reconciliou consigo o mundo e todas as coisas (2Co 5.18-19). Não somente reconciliou, mas através da vida, morte e ressurreição de Cristo tornou-se o Senhor de todas as coisas. Ele está acima de todo nome, poder, autoridade e potestade (Ef 1.19-23). Nele tudo subsiste (2Co 3.17).

A graça e a misericórdia de Deus

manifestam-se de forma transformadora, renovadora e restauradora. O Senhor sempre está fazendo novas todas as coisas.

Neste momento histórico, apesar de todos os

sinais de morte, injustiça, destruição e pessimismo., o Senhor nos diz: "Não vos lembreis de coisas passadas, nem considereis as antigas. Eis que faço coisa nova, que está saindo à luz; porventura não o percebeis? Eis que porei um caminho no deserto e rios no ermo" (Is 43.18-19). O Espírito do Senhor faz com que as situações possam ser mudadas.

O momento em que vivemos é pleno de

crise. Há crise em todos os níveis da vida: pessoal, eclesial, social, institucional, econômica,

política, ética, moral... Crise não significa necessariamente um momento de agonia. Ela pode ser sinal de vitalidade, de reação contra as circunstancias atuais presentes na vida. Uma crise pode ser um momento de oportunidade de transformação. Indica um sinal de perigo, levando-nos a diagnosticá-lo e a buscar caminhos de transformação. Há crise na vida pessoal: falta de identidade, de sentido, de valores, de perspectivas. Todas elas provocadas por fatores os mais diversos: humanos, sociais, econômico, emocional...

A crise em nível pessoal leva as pessoas a

terem crise em nível relacional. Os relacionamentos humanos estão tremendamente truncados. Falta comunhão, diálogo, unidade, afetividade, solidariedade, altruísmo e autêntico amor nos relacionamentos humanos. Neste espaço relacional entra a crise da família.

A família vive um momento difícil de

adaptação, transformação e de busca de solidificação. Há um esfacelamento familiar nos dias de hoje em boa parte dos lares. Essas crises são afetadas pela crise de valores: valores morais, éticos e espirituais. Apesar de todo o anseio por espiritualidade presente nos dias de hoje, há um vazio existencial e relacional na vida humana.

Na área da religiosidade vivemos uma

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grande busca pela espiritualidade. Surgem as oportunidades para os movimentos plenos de messianismo que levam o povo à busca desesperada por soluções mágicas. A própria religiosidade evangélica entrou no mercado do consumo, oferecendo na prateleira mercadológica todo tipo de produto disponível. Essa é uma grande tentação para um povo desesperado e carente que busca colocar sua fé e esperança em soluções messiânicas e mágicas. Há uma religiosidade sem compromisso, estéril, sem solidariedade, centrada em si mesma e na pessoa, usando Deus como um instrumento útil para atingir as suas próprias aspirações.

A crise de moralidade é seria e afeta a todos

o níveis da vida pessoal, familiar, institucional, trabalhista relacional. Falta confiabilidade nos dias de hoje. A corrupção campeia em todas as partes. A vida política, econômica e social vive momentos críticos. Boa parte do povo sofre a falta de recursos mínimos e básicos para sua sobrevivência. Cada dia mais se descaracteriza o sentido sagrado dado por Deus à vida. O ser humano é desumanizado. Os sistemas têm marginalizado as pessoas e os agrupamentos sociais. Caem certos sistemas, outros passam a assumir o fio condutor da História, mas a carência humana continua. Há ausência de habitação, de terra para se plantar, de educação, assistência médica, alimentação, justiça e

salários dignos. No meio desta situação vivemos próximos de sinais de morte. Jesus disse que veio nos trazer vida plena e abundante em todos os sentidos (Jo 10.10). Tem faltado essa plenitude de vida.

O Salmo 40.17 afirma a respeito de nossa

realidade: "Eu sou pobre e necessitado, porém o Senhor cuida de mim; tu és o meu amparo e o meu libertador; não te detenhas, ó Deus meu". Este texto fala de nossa realidade de pobreza em todos os sentidos: econômico, social, espiritual, moral, relacional... Carecemos de recursos adequados para cada área da vida, visando sair desta triste realidade. Realidade que contraria o princípio divino para a vida. Somos necessitados em todos os sentidos. Carecemos de amor, justiça, verdade, solidariedade, afetividade, auto-estima, espírito dadivoso e serviçal no lugar dos valores do individualismo e do egocentrismo, dominantes nos dias de hoje. A centralidade do viver esta no EU (minha pessoa, o meu prazer, a minha realização, a minha auto-expressão), mesmo que seja em detrimento das outras pessoas ou dos grupos.

Se essa é a nossa realidade, uma outra

verdade é expressa: "porém o Senhor cuida de mim". Deus como pai, mantenedor, salvador e senhor, deseja propiciar-nos vida com plenitude de sentido. Uma vida em que a sua graça está presente ensejando comunhão, perdão, amor,

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reconciliação e restauração. Nas diversas circunstâncias em que vivemos o Senhor é o nosso amparo e sustento.

Não apenas isso: em muitas outras, ele é o

nosso libertador. O mesmo Deus que libertou o seu povo da escravidão e do sofrimento no Egito está presente para nos libertar de tudo quanto nos escraviza e transtorna o seu propósito para esta vida e a vida do seu Reino. Onde há pecado, existe uma dosagem superior da graça divina. Jesus nos diz: "Conhecereis a verdade e ela vos libertará... Se o filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres" (Jo 8.32-36).

No contexto do momento de crise há o

momento da graça. Muitos clamam ao Senhor nessas circunstâncias da vida de hoje: "não te detenhas, ó Deus meu". O Espírito do Senhor está presente consolando, animando, fortalecendo, restaurando, mantendo viva a esperança e nos mobilizando para sermos parte neste processo histórico de restauração.

Os tempos têm nos mostrado o grande

avanço da ciência, da educação, da tecnologia, das comunicações e até da economia. Todavia, estes avanços significativos não têm beneficiado a todas as pessoas e nem a todos os países. Ao contrário, têm mais discriminado, descaracterizado e mais marginalizado do que libertado. Uma pequena elite pessoal, social,

racial, nacional, cultural é que tem sido beneficiada por estes avanços.

Hoje se fala em neoliberalismo, em

globalização, todavia essas realidades não têm propiciado vida plena, justa, digna, humana para todos. A graça divina tem questionado pessoas, grupos, ideologias e instituições. O mesmo Deus da graça é o Deus da justiça, do direito, da verdade, da liberdade, da responsabilidade, da solidariedade, do compromisso e da vida plena. E esse Deus, que é Senhor, está presente neste tempo, questionando as pessoas, os sistemas e as instituições, motivando-os a se aproximarem da sua graça e a receber o poder transformador do Evangelho Restaurador e Renovador. O mesmo Espírito que pairava sobre as águas no ato histórico da criação (Gn 1.2) está pairando sobre nós e a História, inclusive sobre a própria Igreja — Comunidade e Corpo vivo do Senhor.

De modo geral, podemos afirmar que a

existência dos sinais de morte que hoje enfrentamos em nossa realidade deve-se principalmente à falta de valores espirituais, éticos e morais que dignificam a vida. Os valores hoje amplamente difundidos na sociedade brasileira, latino-americana e mundial, produzem muita dor, sofrimento e morte, corrompendo a sociedade e as pessoas. (2)

O povo de Deus é conclamado hoje a ser um

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instrumento de sua graça no meio desta situação e neste momento. Um povo, uma comunidade, um corpo de Cristo, muito mais do que mera instituição religiosa. Uma comunidade plena do Espírito Santo, possibilitando uma vivência evangélica, transparente, comprometida com o ser humano e a realidade, atuando de forma pastoral e pedagógica, plena de amor e compaixão como viveu o seu Senhor Jesus Cristo.

E diante deste quadro e contexto que surge a

grande carência de um genuíno avivamento bíblico, pleno da graça divina, restaurador, junto, amoroso, santificador e compromissado.

O avivamento dentro da genuinidade

evangélica toma-se um elemento vital. No seu pleno sentido, avivar significa trazer-se novamente à vida. Ilustrativamente significa fazer numa pessoa morta a massagem cardiológica necessária para voltarem os batimentos do coração. Também, fazer a respiração boca a boca, que visa re-oxigenar os pulmões, o cérebro e todo o ser. Em suma: recriar a vida, trazê-la de volta, ressuscitando-a!

É algo semelhante ao narrado em Ezequiel

37.114. A ação do Espírito divino no vale de ossos secos, simbólico ao povo de Israel. É o sopro do Espírito do Senhor que possibilita o surgimento novamente da vida.

No contexto tão dramático em que vivemos

no Brasil, na América Latina e em outros continentes e países onde os poderes da morte rondam a vida é que há lugar para surgir um genuíno Avivamento.

• Um avivamento bíblico, evangélico, não

manipulador e nem dominador, mas participativo, pleno da graça e da ação divinas.

• Um avivamento onde o Senhor age através

do Cristo Ressuscitado e do vigor do seu Espírito proporcionando vida plena e abundante a todas as pessoas, comunidades, Igreja, povo, História, natureza e todo o universo de Deus.

A Igreja cristã é desafiada a descobrir e a

vivenciar uma nova realidade pastoral junto com o povo, ao lado do povo, a partir do povo e dentro da realidade em que vive o povo. A Igreja Corpo Vivo do Senhor Jesus Cristo é chamada a ser GRAÇA no meio da DES-GRACA

CITAÇÃO:

(1) Cf. Pronunciamento do Colégio Episcopal da Igreja Metodista do Brasil.

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APRENDENDO COM O PROFETA HABACUQUE

Do texto do livro de Habacuque surge o

clamor pela manifestação do avivamento por parte de Deus: "Aviva a tua obra, ó Senhor, no decorrer dos anos, e no decurso dos anos faze-a conhecida; na tua ira, lembra-te da misericórdia" (Hc 3.2).

O profeta clama pelo avivamento. Esse

clamor acontece após ele ter ouvido as declarações de Deus e sentir-se alarmado. O que o leva a esta situação?

Vamos tentar analisar o texto. Os estudiosos

não chegaram a uma conclusão com respeito a quem era Habacuque. Sabe-se que o seu nome deriva de uma planta de jardim. O texto fala a respeito do poder dos caldeus que estava crescendo. Alguns concluem que Habacuque profetizou em Judá no reinado de Jeoaquim pouco antes da invasão de Nabucodonosor. Uns afirmam, à luz do cântico do capítulo 3, que ele deveria ser um cantor ou um levita. A data aproximada do momento histórico está entre os anos 605 a 626 a.C. Há comentários que afirmam estar o texto localizado após a batalha em que os caldeus derrotam os Egípcios e marcham em direção ao oeste a fim de subjugar o rei

Jeoaquim, de Judá. Há polêmica quanto a isto, sendo que há colocações que localizam o texto com o ressurgimento do poder dos babilônicos. Não se tem conclusão quanto a autoria do texto.

O livro apresenta o clamor do profeta junto a

Deus devido a iniqüidade que se vê ao seu redor, levando-o a perguntar por quanto tempo ela durará. Judá está em processo de julgamento da parte do Senhor. Deus está erguendo os caldeus, reconhecidos pela ferocidade do seu exército, para aplicar o seu juízo. O profeta questiona aqui a justiça divina. Como Deus pode permitir tal brutalidade? O seu questionamento leva-o a esperar na torre de vigia a resposta divina. No futuro os próprios caldeus receberão o julgamento divino e o justo triunfara pela graça e misericórdia do Senhor. Os cinco Ais revelam o julgamento divino sobre a injustiça, a crueldade, a idolatria, a posse de bens tirados dos outros, a violência. O Senhor não está ausente ou calado. Ele age com justiça a começar do seu próprio povo, atingindo outras nações que se rebelam contra a sua soberania. A esperança tem o seu fundamento por esperar-se pelo Senhor. A alma do soberbo não é reta... mas o justo viverá pela sua fé, colocada na soberania e na misericórdia divina (Hc 2.4).

Aqui se inicia a mensagem de consolação e

esperança. O capítulo 3, conhecido como uma oração em forma de cântico, após o sentido de

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indignação e alarde do profeta, torna-se um cântico de esperança e consolação. O Senhor virá julgar as nações e o seu povo será salvo. E um cântico de louvor e uma oração cujo objetivo era o de animar, consolar e nutrir a esperança. A misericórdia divina os libertaria no futuro. Neste contexto surge um final de confiança, espera e louvor:

Ainda que a figueira não floresce, nem há fruto na vide; o produto da oliveira mente, e os campos não produzem mantimento; as ovelhas foram arrebatadas do aprisco e nos currais não há gado, todavia EU ME ALEGRO NO SENHOR, EXULTO NO DEUS DA MINHA SALVAÇÃO. O SENHOR DEUS ÉA MINHA FORTALEZA E FAZ OS MEUS PÉS COMO OS DA

CORÇA, E ME FAZ ANDAR ALTANEIRAMENTE. Um final cheio de esperança e consolação.

Há aqui um sentido escatológico na espera contra todas as esperanças e no meio de uma situação de violência, injustiça e morte.

O que teria tudo isso a ver conosco nos dias

de hoje? Vivemos um momento em que temos

clamado ao Senhor. Clamamos pedindo justiça,

paz, retidão e vida plena para todas as pessoas, povos, classes, etnias, culturas... O profeta contemplava a violência e questionava ao Senhor por não haver salvação. Ele vê perante si uma situação onde há iniqüidade, opressão, destruição, violência. Há contenda e litígio em todos os lugares. A lei se afrouxa e a justiça está longe de se manifestar. O perverso age contra o justo e o cerca por todos os lados e sob todas as formas. A justiça é distorcida. Estas são grandes interrogações diante do Senhor. E pior, a resposta divina contra a presença destes sinais de morte e anti-vida no povo de Judá será manifesta e corrigida através de um outro povo, os caldeus (Hc 1.6).

Isto é questionado pelo profeta. Ele se coloca

na sua torre de vigia esperando uma resposta divina plena de graça e misericórdia. Deus responde afirmando que a visão ainda está para se cumprir. Ela há de vir... o "já" é será transformado naquilo que “será”. O Senhor faz as suas declarações e isto deixa o profeta alarmado. "Tenho ouvido, ó Senhor, as tuas declarações e me sinto alarmado". Neste contexto ele clama pelo avivamento, não um avivamento expresso num só momento, mas de forma continuada no decorrer dos anos, fazendo-o conhecido. A sua justificativa baseia-se na misericórdia do Senhor.

Avivar é trazer-se novamente à vida; é

ressuscitar a velha vida marcada pelos sinais de

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morte, para uma nova vida, cheia dos sinais de vida, justiça, verdade, reconciliação, solidariedade, amor e paz.

Avivar é voltar-se novamente para o Senhor,

aceitar a sua soberania, viver e expressar a sua justiça, ser uma benção para todos os povos e expressar o louvor verdadeiro, através dos lábios, do coração e da vida.

Ezequiel 37 descreve a situação

desesperadora do povo de Deus e o compara a um vale de ossos secos. A vida foi perdida. Há que se profetizar a favor de uma nova vida. A profecia visa juntar os ossos, colocar tendões, fazer crescer a carne e soprar o Espírito de uma nova vida. Após o juntar-se dos ossos, o formar-se do esqueleto, o colocar-se dos tendões e da carne e o sobrepor-se da pele, a vida ainda não havia sido manifesta. Havia toda uma estrutura, porém sem vigor, vitalidade e energia. Ai surge a profecia no sentido de insuflar no corpo o soprar do Espírito para que ele possa dar vida ao corpo morto. O Espírito torna-se o sinal de vida e esperança do povo. Houve um avivamento. A vida retomou ao corpo e uma nova realidade surge.

No contexto em que vivemos hoje, onde são

grandes os sinais de morte e da anti-vida, semelhantes a situação do contexto de Habacuque, surge diante de nos um grande

clamor, pois o povo esta desesperado, aflito, angustiado, oprimido, marginalizado, alarmado.

Nós, como cristãos, não podemos ter outro

sentimento senão o de dizer: “Até quando, Senhor, clamarei, gritarei e Tu

não escutas e nem salvas? Por que me fazes ver e vivenciar tanta iniqüidade, opressão, injustiça, violência, contendas, litígios, exploração, abandono e morte? Estou alarmado, chocado e indignado e diante disto a minha esperança leva-me a clamar:”

AVIVA A TUA OBRA, Ó SENHOR, NO DECORRER DOS ANOS E NO DECURSO DOS ANOS FAZE-A CONHECIDA; NA TUA IRA, LEMBRA-TE DA MISERICÓRDIA (Hc 3:1-2). No momento presente necessitamos de um

genuíno avivamento, centrado em Cristo, tendo como força motriz o Espírito Santo. Há em muitos lugares movimentos chamados de avivalistas que contradizem a Palavra de Deus. A Bíblia é nosso referencial básico. Não somente ela mas a História, a realidade em que vivemos e nos encontramos, tanto da Igreja como da sociedade. Há necessidades múltiplas nas pessoas, na família, nas comunidades eclesiais, nos agrupamentos sociais e na sociedade que se

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tornam desafios para um avivamento histórico e contextualizado.

O pastor luterano Valdir Steuernagel

apresenta uma análise muito bem conceituada que visa objetivar a missão da Igreja em relação não apenas a chegar ao ano 2000, mas a partir dele. Ao relatar sua viagem à Índia e a reflexão sobre a agenda missionária, ele afirma à luz da realidade de sua experiência:

Multidão, pobreza, e pluralismo poderiam ser

considerados palavras-chave para descrever a realidade e o desafio missiológico vividos pela igreja. Menciono este fato para justificar a necessidade de se ter num genuíno avivamento um referencial histórico e contextual em que se possa refletir a luz da Bíblia os elementos fundamentais do avivamento sem tirar os nossos pés da realidade em que vivemos. (1)

O avivamento não significa colocar a Igreja

em movimento. Fazer um grande barulho... Um louvor estridente... Buscar sinais miraculosos e uma série de outras manifestações. Tudo isto pode existir, sem contudo, estar havendo um genuíno avivamento. Como, da mesma forma, podem existir dentro do contexto de um genuíno avivamento.

O pastor presbiteriano Hernandes Dias Lopes

elenca aquilo que considera não ser um

avivamento. Não é: • um programa agendado pela Igreja, • uma mudança doutrinaria, • uma mudança litúrgica, • uma ênfase carismática unilateral, • um modismo, • uma visão dicotomizada da vida, ou • uma campanha de evangelização. O avivamento é uma urgente e profunda

necessidade da Igreja e que os avivamentos ocorrem sempre em tempos de crise: crise econômica, política, social, moral, familiar, institucional, espiritual. Hernandes Dias Lopes afirma:

“O nosso maior problema não é a falta de

ortodoxia, mas de ortopraxia; não é a falta de pregação, mas a de unção. Precisamos aspergir a gloriosa doutrina bíblica que temos com o óleo do Espírito e ter uma vida de santidade que recomende a doutrina que pregamos. Avivamento, portanto, é a junção do binômio puritano: ortodoxia e piedade. Ortodoxia sem piedade gera aridez. Piedade sem ortodoxia gera misticismo. Não podemos separar o que Deus uniu. Avivamento portanto, não é desvio, é volta. Avivamento não é sair da rota, é voltar para o caminho. Avivamento não é inovação, é restauração. Avivamento não é fuga da Bíblia, é volta para a Bíblia. Avivamento não é anacronismo histórico, mas sintonia com o que

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Deus tem feito na História”. (2) João Wesley, no desenrolar do seu

movimento avivador ocorrido na Inglaterra no século 18, fundamenta a espiritualidade do movimento na ação dinâmica da Graça Divina. Surge aqui uma espiritualidade oriunda da Graça, espiritualidade esta que traz como resultado na vida do que crê e da Igreja os ATOS DE PIEDADE e as OBRAS DE MISERICÓRDIA, presentes nas dimensões eclesiais da Intra-Igreja, Inter-Igreja e Extra-Igreja (sua vivência é missão fora dos seus limites internos e dentro do contexto da realidade histórica humana e social).

Oremos a favor das pessoas, da sociedade,

do mundo e da Igreja de Cristo através dos lábios de Habacuque: "Aviva a tua obra, ó Senhor. No decorrer dos anos e no decurso dos anos, faze-a conhecida; na tua ira, lembra-te da misericórdia" (Hc 3.1-2).

A obra é do Senhor. Nos somos parte dela e

instrumentos da sua graça. Em nome de Jesus e sob a unção do Santo Espírito doador da Vida vivemos a fé e desenvolvemos a missão.

CITAÇÕES:

(1) STEUERNAGEL, Valdir. A Igreja rumo ao ano 2000. Belo Horizonte: Missão, 1993. (2) LOPES, Hernandes Dias. Avivamento urgente. Vitória, 1994, p. 41s.

MARCAS DE GENUÍNO AVIVAMENTO 1. O genuíno avivamento, acima de tudo, é

bíblico, ou seja, está centrado na mensagem total da Bíblia.

A Bíblia torna-se a revelação dos atos históricos de Deus a favor da pessoa, dos povos, das raças, das nações, do gênero humano: a mulher e o homem. A Palavra divina expressa na tríplice forma: escrita, proclamada e encamada. Neste último sentido é vivenciada em Cristo, que a encarna num momento histórico concreto. Essa Palavra será a luz para o nosso caminhar. Colossenses 3.16 afirma: "Habite ricamente em vós a palavra de Cristo; instrui-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria"... Sob a inspiração do Espírito Santo a Palavra deixa de ser mera e morta letra para ser vida vivificada. Lendo e fazendo a releitura da Bíblia à luz do contexto histórico de onde ela surge e confrontando-a com a nossa realidade, teremos dimensionado o caminhar do genuíno avivamento.

2. O genuíno avivamento está centrado em

Cristo, sua encarnação, vida, missão, cruz, morte, ressurreição, ascensão.

Vida movida pelo amor divino, na unção do Santo Espírito e plena de graça e misericórdia para com o ser humano, em especial para com

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os mais frágeis e marginalizados. Cristo é o referencial do genuíno avivamento que é cristológico. Paulo em sua vivência procurava ser achado em Cristo, perder toda a sua glória, ser achado nele, mediante a fé e a justiça divina, conhecê-lo pessoalmente, ter o poder da sua ressurreição e comungar com o seu sofrimento, conformando-se com ele na sua morte (Fp 3.8-10).

3. O genuíno avivamento é uma

manifestação do Espírito Santo. Não é uma manipulação humana ou uma

série de programações, estimulações e coações psicológicas. É atuação do Espírito, prometido por Cristo para ser o companheiro, o consolador, o defensor, o animador, aquele que guiaria o discipulado à verdade e glorificaria a Cristo. O Espírito que habitaria em nós, não nos deixando órfãos no meio do abandono existencial e que vivificaria, com o mesmo poder em que ressuscitou a Cristo, os nossos corpos mortais. João (capítulos 14, 15 e 16) nos dá o referencial básico da natureza e realidade do Espírito. Atos testifica o nascer e a vivência da comunidade apostólica o Novo Israel, a Igreja, através da vida gerada pela dinâmica do Espírito. Paulo (Rm 8.9-11) nos fala do vivificar pelo Espírito. Este mesmo Espírito é o agente divino do genuíno avivamento junto aos cristãos, da Igreja, da História e de todo o Universo, obra divina.

4. O genuíno avivamento proporciona uma mudança de vida na pessoa e na sua vivência em comunidade.

Uma profunda “metanóia”, levando a pessoa a viver pela graça e a oferecer a graça em todos os seus relacionamentos. Uma nova vida gerada pelo amor divino e fundamentada por este mesmo amor em seus relacionamentos para com o próximo, consigo mesmo, com a sociedade, e todos os demais relacionamentos; em especial o seu relacionamento com Deus, através de Cristo e na força do Espírito. Agora há uma nova condição de vida somos adotados por Deus. "O próprio Espírito testifica que somos filhos de Deus... herdeiros... co-herdeiros com Cristo... se com ele sofrermos, para que também com ele de sejamos glorificados" (Rm 8.15-17; Rm 11.1-2).

Em Cristo somos novas criaturas... não

devemos viver mais centrados em nós mesmos, mas para aquele que por nós morreu e ressuscitou (2Co 5.14-17).

5. O genuíno avivamento produz frutos. Jesus disse: Pelos frutos os conhecereis.

Frutos que são o resultado da presença e do testemunho do Espírito Santo em nós, na comunidade eclesial e na sociedade. Somos guiados a viver uma vida plena no Espírito, a estar plenos da sua presença, cheios da sua graça, conforme a abundância de testemunhos dos textos bíblicos (G1 5.16-26; Ef 5.18, Atos dos

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Apóstolos, etc). Wesley perguntava aos seus pregadores leigos: "Tens a graça? Tens os dons? Tens os frutos?" Os frutos resultantes da unção e presença do Santo Espírito produzem uma santificação progressiva, contínua, pessoal e social e uma ação missionária plena de compromisso com Deus, com o ser humano, com a História e com o reino de Deus.

6. O genuíno avivamento é missionário. Não está centrado em si mesmo, no seu

movimento “intra”. Ele existe para ser um instrumento da missão divina nas pessoas, entre as pessoas, nos agrupamentos humanos, na vida eclesial, na vivência da comunidade histórica e humana. O “ide” (indo) de Jesus em seus mandatos missionários está aqui presente: "Assim como o Pai me enviou eu vos envio a vós"...; uma forma encarnacional, sacrificial, de esvaziamento e tornando-se servo, sofrendo, abraçando a cruz e não fugindo da maldição da morte (Jo 20.21; Fp 2.5-11). Há um autêntico compromisso com Deus, consigo, com a missão, com o ser humano e com a História.

7. O genuíno avivamento é emocional e

racional. Não podemos negar o caráter emocional do

ser humano. Todavia este caráter não pode deixar de lado o sentido racional. A razão é criação divina e, quando submissa ao Senhor e à Palavra, é critério avaliatório do avivamento e da

vivência cristã. A razão humana é objeto da revelação divina e da atuação do Espírito Santo em todas as pessoas. O estado emocional da pessoa é considerado com respeito e seriedade, à luz da sua vitalidade e dos seus limites. O avivamento age no emocional, mas também proporciona uma contínua transformação na mentalidade e no comportamento humano e social em relação a Deus, a si próprio, ao próximo e para com a sociedade.

8. O genuíno avivamento age no ser total. Neste aspecto, complementa o que foi dito

anteriormente. Proporciona a mudança do coração, da mente, da vontade e do Espírito da pessoa. Todos os aspectos constituintes do ser humano são alcançados pela graça divina. Assim entendemos a promessa profética (Jr 31.31-33; Ez 36.25-28; cf. I Ts 5.23 e cf. o pensamento judaico) que vê a pessoa em sua totalidade. O ser bio-psico-social-mental-emocional-espiritual... e o objeto do amor e da graça transformadora divina.

9. O genuíno avivamento produz unidade

cristã. Tem como resultado a unidade, a diversidade

e a mutualidade (1Co 12.4-7). A sua realidade responde à oração sacerdotal de Jesus (Jo 17.20-23). Há na comunidade da fé um só coração e uma só alma (At 4.32). Há autêntica comunhão que proporciona a unidade da mente,

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no amor, no sentimento e na alma, conforme Paulo afirma ser o seu desejo e alegria (Fp 2.1-2). Há relacionamento amorável entre as pessoas, respeito mútuo, comunhão eclesial e unidade na ação missionária. Uma unidade cujo centro é Cristo e é mantida pela ação do Espírito Santo. Neste sentido, o avivamento nos leva a preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz (Ef 4.3).

10. O genuíno avivamento não divide, nem

cria ressentimentos, marginalizações, divisões, discórdias e preconceitos.

Cristo é o poder que quebra todas as nossas barreiras pela ação do Espírito Santo que nos unifica (Ef 2.13-22). No Espírito somos levados a nos aceitar, uns aos outros, apesar de nossas diferenças e maneiras de ser. Nele somos um só Corpo em Cristo e membros uns dos outros (Rm 12.5).

11. O genuíno avivamento não é

orgulhoso e nem cria espírito de superioridade de uns sobre os outros.

Segue o Espírito paulino de... nada fazer por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Levando-nos a não ter em vista o que e propriamente nosso, senão também o que é dos outros (Fp 2.4).

12. O genuíno avivamento é obra da graça

divina. A graça é maior do que a vida (Sl 63.3). Pela

graça somos salvos, santificados e esperamos a concretização do Reino. Enquanto esperamos, desenvolvemos a ação missionária do Reino. A graça é apropriada pela fé (Ef 2.8-9). Fé centralizada em Cristo, no Espírito Santo e na soberania divina. Não é a fé colocada na fé ou em nossa própria fé. É uma fé que, firmada em Cristo, é obediente, amorosa, e plena de obras. Esse avivamento é ato contínuo da graça divina. Os momentos chamados de picos no avivamento são mais decorrentes das condições humanas, pois o Espírito nunca deixa de agir e manifestar nos cristãos, na Igreja, no mundo e na História, a graça divina e os frutos decorrentes de sua presença. Podemos presenciar o avivamento de forma mais dinâmica em certos momentos históricos e em certas situações humanas, mas nem por isso deixa de ser uma ação continuada da graça divina.

13. O genuíno avivamento, como

dependente da graça divina, não é auto-suficiente e auto-glorificante.

Aceita a sustentação e inspiração do Espírito Santo e vive a sua vida e testemunho na interdependência de uns para com os outros e na mútua cooperação dos membros de todo o Corpo. Cristo é quem nos dá sentido e sustento. Ele é o nosso inspirador e a nossa força, através da ação do Espírito Santo. Sem ele nada

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podemos fazer (Jo 15.4-5). 14. O genuíno avivamento tem a oração

como um de seus elementos fundamentais. A oração é a sua força, através da qual o

Senhor se manifesta. A oração nos leva a um contínuo estado de vigília com o Senhor fazendo-nos vigiar sem cessar. A oração que louva, confessa, adora, intercede, clama e curva-se perante a graça e o poder divinos está continuamente presente no avivamento. A oração como meio de graça divina, uma das chaves fundamentais do avivamento.

Perseveremos na oração (Rm 12.12; Cl 4.2),

orando em todo o tempo, intercedendo uns pelos outros, pela Igreja, pelo mundo, pelos que nos governam... (1Tm 2.1-2). Através da oração nos abrimos para Deus e uns para com os outros. Ela significa intimidade e comunhão com o Senhor e conosco mesmos, com o próximo e a vida.

15. O genuíno avivamento não eleva os

olhos apenas para o alto, observando a Cristo e a sua glória.

Ele nos leva a ver a nós mesmos em nossa realidade e a olharmos ao nosso redor as pessoas, a Igreja, a comunidade, a História, o mundo — seus acontecimentos e realidades com compaixão, amor, solidariedade e graça divina. Leva-nos a avaliar todas estas situações e a não nos conformarmos (tomarmos a forma) com a

situação e valores deste século que contradizem o Evangelho. Ao contrário, leva-nos a permitir a Deus transformar a nossa mente e todo o nosso ser e ação, através de uma mudança contínua para que possamos experimentar e vivenciar a vontade divina, a única que é boa, agradável e perfeita para esta vida (Rm 12.2).

16. O genuíno avivamento cria contrição.

Produz um autêntico quebrantamento perante o Senhor.

É penitencial pela contínua confissão de pecados pessoais e sociais. Leva-nos a nos humilharmos perante Cristo (1Pe 5.6; Sl 51.112) e dele receber perdão, reconciliação e paz (Rm 5.1; Ef 2.16-18). Diária e continuamente colocamos as nossas vidas, a vida e missão da Igreja e a realidade humana, humildemente perante o Senhor para que ele nos perdoe, purifique, transforme e nos de a paz. Sem quebrantamento não pode haver um genuíno avivamento. Afirmemos como Isaias ao ver a santidade divina (Is 6.18). "Ai de mim porque sou homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de impuros lábios". O perdão de Cristo e a purificação do Espírito são fundamentais para a vida do cristão e da Igreja do Senhor. Esse perdão necessita ser estendido às outras pessoas, levando-nos a perdoar uns aos outros como Cristo nos perdoou (Ef 4.32).

17. O genuíno avivamento e pleno dos

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dons e ministérios do Espírito existentes para a edificação pessoal e da comunidade local; na vida familiar e profissional, e em especial visando equipar as pessoas e a Igreja para o serviço do Corpo de Cristo a ser prestado no mundo.

Este serviço ou ministério é expresso através da diversidade de dons, concedidos não para a glória ou o engrandecimento humano, mas para que em tudo seja Deus glorificado (1Pe 4.10-11; 1Co 11.1-11; 27-31; Rm 12.3-8; Ef 4.7-16). A diversidade de dons e ministérios não menospreza o sentido básico da unidade de todo o Corpo de Cristo e da mutualidade existente neste corpo, através da mútua cooperação de todos os seus membros.

18. O genuíno avivamento considera o

mundo e a História como palco da ação divina.

Por isso, não foge do mundo mas age no mundo, testificando o poder reconciliador e transformador do Evangelho (2Co 5.18-19; Jo 17.1517). Leva em consideração o momento histórico em que vivemos, procura interpretá-lo, partilhar de suas angustias e desafios, sendo sal, luz e fermento de transformação do reino de Deus junto da sociedade. Reconhece que o mundo foi criado por Deus e que, pela sua graça, ele o sustenta e salva. Partilha, em nome de Cristo, das dores e alegrias; derrotas e vitórias; bênçãos e sofrimentos, aceitando os desafios

históricos para através deles manifestar os sinais da vida divina em contraposição aos sinais da morte existentes na vida, de forma contradizente.

19. O genuíno avivamento é obra divina

junto da comunidade humana. Partilha em nome de Cristo e sob a unção do

Espírito Santo das realidades, necessidades, desafios e tensões do momento histórico em que se situa. Considera com o discernimento divino os sinais dos tempos de nossa real idade presente.

20. O genuíno avivamento acontece não

nas contingências do nosso tempo, de nossa cronologia, mas na abrangência e soberania do tempo de Deus, do seu “kairós” (Sl 90.4; Sl 102.24-27).

O tempo divino invade, quebranta, transforma e age nos limites do tempo humano (cronos). Nem sempre o nosso momento é o momento divino. Da mesma forma, nem sempre o momento divino é o nosso momento. A ele compete toda a soberania sobre o tempo e sobre a vida. Eclesiastes afirma que tudo tem o seu tempo próprio (Ec 3.1-17).

21. O genuíno avivamento não testifica a

respeito de si mesmo, de sua denominação, movimento ou grupo; nem se exalta nos aspectos pessoais e humanos da obra desenvolvida.

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Acima de tudo, Cristo é testificado, proclamado e sinalizado, através da Palavra, da vida cristã, do compromisso missionário e dos atos de piedade e das obras de misericórdia (Jo 5.39; At 10.42; 1Jo 4.14; 1Co 2.1-5).

22. O genuíno avivamento não está

centrado em pessoas, líderes, denominações ou grupos religiosos.

Tudo e todos são instrumentos nas mãos do Senhor. A soberania e a ação fundamental são divinas, através da sua Palavra, da sua presença sacramental na vida e da ativa ação do seu Espírito (1Co 1.10-15).

23. O genuíno avivamento não

menospreza as diferenças. Considera-as com seriedade, em especial

aquelas que são básicas e culturais. Acima de tudo, busca manter uma unidade naquilo que é essencial à fé cristã. Respeita a diversidade em tudo quanto não é essencial. Expressa-se na mutualidade e acima de tudo mantém uma vivência fundada na humildade e no amor (1Co 12.4-12; G1 3.26-28; Rm 12.1-8).

24. O genuíno avivamento cria um estado

e estilo de vida dominados pelo amor. O genuíno amor divino invade os nossos

corações através da ação do Espírito Santo (Rm 5.5). Amor que fundamenta o relacionamento de Deus para conosco, pois ele nos amou primeiro.

E que tem como nossa resposta o nosso amor para com ele (1Jo 4.10-21). Esse amor motiva e nutre as nossas vidas, levando-as a se expressar no autêntico amor para o próximo. Jesus nos guiou a amar ao próximo como a nós mesmos e a amarmos com o mesmo amor com que ele nos amou: "Nisto conhecereis que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns para com os outros"(Jo 13.35). O amor que nos nutre e nos guia tem a tipologia do amor divino, conforme o extraordinário texto do apóstolo Paulo (1Co 13). Amor voltado para Deus, a si mesmo, ao próximo, a natureza e a História. Amor encarnado nas circunstâncias reais da vida, como foi o amor de Cristo. Por isso, tudo crê, tudo espera, tudo suporta e jamais acaba (1Co 13.7-8). Esse tipo de amor (o amor ágape, divino) é a força da vida, dos relacionamentos e dos atos redentores e transformadores.

25. O genuíno avivamento está pleno dos

atos de piedade, através dos quais o Senhor é adorado, louvado, invocado, comungado, obedecido e glorificado.

Esses atos de piedade estão presentes na vida da pessoa e da comunidade cristã. Centram-se na leitura e meditação da Palavra, nos Sacramentos, na vivência da oração, no jejum, nas vigílias, na vida disciplinada, na adoração, no louvor, nas expressões cúlticas, na experiência da justificação e da salvação, no crescimento em graça e santificação (2Pe 1.3; 5-7).

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26. O genuíno avivamento está também

pleno das obras de misericórdia, expressas em nosso amor, solidariedade, sensibilidade e ações concretas a favor do nosso próximo, das famílias, dos grupos sociais e da sociedade.

Testificamos o amor divino através de uma vida frutificada em obras de misericórdia. A fé centrada na graça de Cristo e manifesta na ação do Espírito Santo é operosa, produzindo obras concretas resultantes da ação divina em nós. Tiago enfatiza este aspecto da fé na vida cristã (Tg 2.14-26). João Wesley vivenciou de forma extraordinária esta combinação entre os atos de piedade e as obras de misericórdia. Jesus em seu ministério sinalizou esta verdade demonstrando que não temos dois Evangelhos, um espiritual e um social. Mas um Evangelho que é integral, para todas as pessoas, comunidade, história e mundo e para a totalidade do ser, em todos os seus aspectos constituintes. Numa de suas visões do julgamento final de enfatiza este aspecto (Mt 25.31-46). Em especial na interpretação do seu ministério (Lc 4.16-21).

27. No genuíno avivamento a autoridade

da Igreja está sob o senhorio de Cristo (Ef 4.5; Fp 2.11).

A Igreja, Povo de Deus, Corpo de Cristo e Comunidade do Espírito, é serva e não senhora. À semelhança de Cristo (Jo 13.13), ela existe

para servir ao Senhor, às pessoas, comunidades, mundo e ao Reino. O seu ministério é expresso não com dominação, mas com amor, moderação e compaixão. O referencial de sua missão e ministério é o próprio Senhor Jesus Cristo (Jo 20.21). Ele é o pastor e o Bispo que conduz a sua Igreja (1Pe 2.25). Através do Espírito, concede dons, ministérios e funções com a finalidade de equipar os santos visando o desempenho de seu serviço e a edificação de todo o Corpo (Ef 4.7-12). Há uma concessão de autoridade que, submissa ao seu Senhor, cumpre o seu ministério. O genuíno avivamento não despreza a autoridade: respeita-a, valoriza-a, comunga com ela e a ajuda a exercer de forma bíblica e cristã o mandato conferido pelo Senhor. O cabeça desta comunidade é Cristo (Ef 4.16), em quem devemos crescer e nos aperfeiçoar em todas as coisas e todas as dimensões.

28. O genuíno avivamento reconhece a

dimensão humana e sociológica da Igreja. Neste sentido, afirma a necessidade mínima

de uma estrutura que seja instrumento de vida para a vivência do Corpo e sua ação missionária. O genuíno avivamento não é estrutural. Tem a estrutura da Igreja como algo necessário, mas não como algo que tem objetivo em si mesmo. A estrutura está a serviço da fé e da missão. Ela se ajusta e se transforma às novas realidades da vida pessoal, comunitária e histórica e aos interesses prioritários do reino de Deus. Não

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estando centrado na Instituição, mas tendo-a como um instrumento de serviço, ela se configura através da concessão, pelo Espírito, dos dons e ministérios necessários à vida interior da Igreja, ao inter-relacionamento das Igrejas e à vivência missionária extra-Igreja. Há um lugar de importância para as estruturas eclesiásticas e institucionais, desde que não sejam fins em si mesmas e não se tornem ídolos e objetivos finais. Ninguém vive ou morre para si mesmo. Quer morramos, quer vivamos somos do Senhor e para ele vivemos (Rm 14.8-9).

29. O genuíno avivamento está sob a

soberania de Deus. Ele, em Cristo e através do Espírito, e Senhor

do avivamento. Nele estamos centralizados (1Tm 6.14-15; Ap 17.14). O seu Evangelho é que deve ser anunciado (Rm 15.16) e a sua Palavra de denúncia contra tudo o que menospreza, destrói e rouba da vida e do ser humano a soberania da vida, deve ser expressa. A sua presença contínua, através do Espírito, nas pessoas, na comunidade, na Igreja, na História e no mundo testifica a respeito da sua soberania sobre todas as coisas. Nesse sentido, a soberania divina está centrada na Trindade, colocando-se acima de todas as forças e poderes do mal.

30. O genuíno avivamento produz uma

autêntica vida cristã, em conformidade com o padrão bíblico, testificando continuamente o

estado de vida em Cristo. Por isso, unido a ele, é um estado frutificador.

ÉE uma vida plena dos frutos do Espírito Santo (Gl 5.22-26) continuamente ligada a Cristo, a videira, sem a qual nada tem poder para ser feito (Jo 15.4-5). Esta autêntica vida cristã é resultado do tomar-se nova criatura pela graça do Senhor (2Co 5.1617).

31. O genuíno avivamento produz, como

resultado da vida no Espírito, uma vida plena de obras oriundas da fé.

Essas obras visam glorificar a Deus, em todas as coisas e servir ao ser humano e a humanidade, como expressão da presença do reino de Deus já entre nós (Mt 5.16). A fé torna-se amorosa, obediente e atuante gerando obras plenas da graça, do amor e da justiça divinas. Há uma conjugação entre fé e obras (Ef 2.1; Tg 2.14-23). Essas obras testificam com poder a realidade suprema da graça e da fé. São atos e obras de piedade e de misericórdia, mantendo-se entre si um equilíbrio dinâmico.

32. O genuíno avivamento é ético. Tem a ver com um estilo de vida à luz do

Evangelho de Cristo e de uma vivência cheia do Espírito. Possui uma genuína e autêntica moralidade em todas as áreas do viver pessoal, familiar, trabalhista e social. Não é um mero moralismo e nem um impositivo legalismo, mas um estado ético como resultado da graça divina e

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da vivência do Santo Espírito, levando-nos progressivamente à santificação. O estado de liberdade estabelecido em Cristo leva-nos, com responsabilidade, a viver uma vida de amor, verdade, justiça, perdão, reconciliação e paz.

A liberdade concedida por Cristo não pode

gerar libertinagem, dando ocasião a todas as formas de manifestações dos impulsos da carne (G1 5.1-13). Neste estado ético tudo nos é lícito, mas nem tudo nos convém; tudo nos é licito, mas não nos deixamos ser dominados, tudo nos é lícito, mas somente buscaremos as coisas que nos edificam e edificam uns aos outros. Qualquer coisa que façamos devemos fazer para a glória de Deus e a edificação do ser humano (1Co 7.12; 1Co 10.23-32), sem nos tornarmos pedra de tropeço para o próximo, para a Igreja de Deus ou para o mundo.

33. O genuíno avivamento testifica a

respeito da vida plena e abundante proclamada por Cristo (Jo 10.10).

Já temos em nosso presente viver os primeiros frutos desta vida (Rm 8.23; Tg 1.18), expressos através do amor, da verdade, do perdão, da reconciliação, da justiça e da paz. Nesse sentido, o genuíno avivamento tem como objetivo o reino de Deus que em Cristo já está entre nós e ainda há de se concretizar. Somos comissionados a sinalizar esse Reino em nós, entre nós e através de nós em todas as

dimensões da vida, testificando-o e vivenciando-o à luz da Palavra divina contida nos Evangelhos e na sua totalidade (Mt 6.10; Lc 12.31; 1Co 4.20; 1Ts 2.12; Mt 3.12; Lc 11.20).

34. O genuíno avivamento leva a Igreja a

crescer, em tudo, naquele que é o Cabeça do Corpo da Igreja — Cristo — e através da mútua cooperação de cada parte do corpo (Ef 4.15-16).

Esse crescimento se efetua através da vida em comunhão, piedade, solidariedade, fraternidade, apoio mútuo, amor, justiça e na vivência da ação missionária da Igreja (At 2.42-47; 4.32-35). Um crescimento qualitativo e quantitativo, através do qual o Senhor acrescenta àqueles que vão sendo alcançados pela graça e salvos pela fé no Senhor Jesus.

35. O genuíno avivamento faz da Igreja

uma comunidade de fé, adoração, com fraternidade, reconciliação, solidariedade, amor e serviço.

Há na vida Intra-Igreja (interna) uma mutualidade de vida expressa nos frutos e dons do Espírito; na Inter-Igreja (mútua comunhão, unidade e cooperação entre as Igrejas) um Espírito de respeito, reconhecimento, solidariedade, mútua cooperação e ação missionária, que traz como conseqüência uma expressão de serviço ministerial; extra-Igreja (no mundo, na sociedade, junto às pessoas, famílias,

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grupos sociais, pátria, natureza, história e mundo). Essa comunidade expressa, encarna e transparece a contínua presença de Cristo na vida humana, através da inspiração e poder do Santo Espírito. Uma comunidade que, através da vida de seus membros e da totalidade do seu corpo, sinaliza o reino de Deus no presente momento histórico e anuncia a sua consumação final (Fp 2.1-11; Ef 5.1-2; Cl 3.12-17).

36. O genuíno avivamento aceita com

responsabilidade o partilhar da cruz de Cristo. Vive sob o poder transformador do Senhor

oriundo da cruz e da Ressurreição. Aceita a Cristo e carrega com Cristo a sua cruz, seguindo os mesmos caminhos e vivendo o Evangelho da mesma forma que ele viveu. Não teme a cruz, mas carrega-a junto com as pessoas e a sociedade. Na obra da cruz nos gloriamos e com o nosso ministério completamos os sofrimentos de Cristo a favor do mundo (Mc 8.34; Lc 9.23; 1Co 1.17, 2.2; Gl 6.14; Ef 2.16). Consideramo-nos crucificados com Cristo (Gl 2.20), permitindo fazer com que o Cristo ressurreto viva em nós. É um avivamento que não visa buscar apenas bênçãos, mas que consente em dar-se a si mesmo ao Senhor e uns aos outros. Acima de tudo, busca ao Senhor antes que suas bênçãos e corre o risco de partilhar com Cristo de seu sofrimento a favor das pessoas e todo o mundo (1Pe 4.12-19).

37. O genuíno avivamento é bênção e não maldição.

Centra-se na bênção e na vitória de Cristo sobre todos os poderes, nomes e autoridades terrestres ou celestes, desta vida ou do porvir. Crê mais no poder da graça salvadora de Cristo do que na força das instituições do mal. Proclama já e ainda espera a plena manifestação do senhorio de Cristo. Todavia, mesmo dentro das limitações humanas, históricas, pessoais e sociais, vive e testifica que Jesus é Senhor, para a glória de Deus Pai e que ele está colocado acima de toda a autoridade (Ef 1.15- 23).

38. O genuíno avivamento além de ser

fruto do Espírito Santo, concedido pelo Pai e pelo filho aos que crêem e à Igreja (Jo 14.16-19, 25-26, Jo 15.26-27, Jo 16.13-14, Jo 20.22; At 1.7-8, 2.14) bem como a todo o mundo, como universo do seu Criador é graça sustentadora e partilhadora.

O Espírito nos fortalece com a sua inspiração, sua presença e seu poder, levando--nos pela fé e pela receptividade da graça, a, sermos cheios de sua presença (Ef 5.18). Essa presença do Espírito guia-nos a sermos o suporte, o apoio e o auxílio mútuo uns para com os outros. Os mais fortes amparando os mais fracos, levando as cargas uns dos outros e solidarizando-se com os que estão à margem da vida na sociedade (Gl 6.1-5).

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39. O genuíno avivamento não se vangloria em si mesmo; nem se ufana e nem se ensoberbece.

A sua glória é a cruz de Cristo e o poder do Cristo Ressuscitado expressos em comunhão, amor, humildade e unidade. Não tem em vista apenas o que é seu ou de sua comunidade, mas também, cada qual o que é dos outros (Fp 2.4). Tem como o seu referencial o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus (Fp 2.5-11).

40. O genuíno avivamento tem no diálogo

justo, sincero, honesto, leal e transparente a força da unidade, da comunhão, da compreensão, da mutualidade e do respeito à diversidade.

Um diálogo feito em nome de Cristo e sob a inspiração do Espírito Santo, tendo na Palavra divina o seu elemento central de discernimento e julgamento.

41. O genuíno avivamento leva em

consideração a importância da experiência pessoal com Cristo e com o Espírito, tanto na vida pessoal como na vida da comunidade de fé (At 9.1-19).

Todavia esta experiência está sujeita a avaliação da Palavra de Deus, da comunidade da fé e da razão humana, iluminada pela graça e submissa ao Senhor.

42. O genuíno avivamento é pleno de

louvor, de adoração e de glorificação ao Senhor.

Ele produz alegria, gozo e exaltação ao Senhor, levando-nos sempre e, em todas as circunstâncias, a dar graças e glória a Deus, pois em tudo Cristo nos fortalece e nos guia à vitória (Sl 136.1-26, Sl 145.1-4, Sl 146.1-2, Sl 147.1, Sl 149.1-6, Sl 150; Ef 5.18-21; Cl 3.16-17; 1Ts 5.16-18). Esse louvor não menospreza o lugar, a autoridade e o supremo valor da Palavra divina (Mt 4.4; Am 8.11-12; Tt 1.9; He 4.12).

43. O genuíno avivamento nos fortalece

através da presença e ação do Espírito Santo, sustentando-nos em todas as situações e nos tornando fortes para enfrentar com ousadia as lutas da vida, os sofrimentos decorrentes dela, as perdas e os desafios do presente momento.

Leva-nos a participar de forma plena, em nome de Cristo e na unção do Espírito, desses momentos como uma expressão da missão divina junto da Igreja e da comunidade humana. No meio dessas situações difíceis e contraditórias somos assistidos pelo Santo Espírito e temos a consciência de que, em Cristo, somos conduzidos à vitória. Cheios de esperança cremos que todas as coisas concorrem para o bem de todos que são amados por Deus e que correspondem a esse amor com a sua afetividade (Rm 8.18-25, 26-28, 31-39).

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44. O genuíno avivamento não nos fecha em torno de nós mesmos ou de nossos grupos ou posições.

Ele quebra o isolamento, a solidão, a insensibilidade e o egocentrismo. Leva-nos a ser uma Igreja de portas abertas, que não está centrada em si mesma, mas abre-se para o Senhor, para a comunhão uns com os outros e a uma vida eclesial missionária pessoal e eclesial voltada para fora, onde estão as pessoas e a sociedade (Rm 12.9-21, Rm 13.8-10, Rm 14.7-9; 2Co 5.14-15; Ap 3.8). Somos levados pelo Espírito a acolhermos uns aos outros, da mesma forma que Cristo nos acolheu.

45. O genuíno avivamento é reconciliador. Não é cismático, nem quebra a comunhão e

a unidade na comunidade da fé e no relacionamento humano. Reconcilia-nos com Deus, através de Cristo, conosco mesmo, com o próximo, com o mundo e a sociedade. Leva-nos a sermos embaixadores da reconciliação, em nome de Cristo (2Co 5.18, 6.1). Guia-nos a uma vida de compreensão, tolerância, perdão, comunhão e reconciliação uns com os outros, na família, na Igreja, no trabalho e na comunidade humana. Manifesta ao mundo e a todas as pessoas a reconciliação que Deus realiza com toda a humanidade, através de Cristo. É também uma força reconciliadora entre as Igrejas, levando-as a proclamar e sinalizar o ministério da reconciliação à luz da verdade, do amor, do

perdão, da solidariedade, da justiça e da paz. O Espírito Santo é Espírito de reconciliação e unidade, que quebra todas as barreiras de divisão, vaidade, orgulho, ressentimento, amargura, auto-suficiência e leva-nos a uma comunhão, em amor, uns com os outros e a mútua cooperação (Ef 2.10-22; 1Co 12.12-27).

46. O genuíno avivamento e honesto e

transparente no relacionamento entre as pessoas e os grupos cristãos.

Em especial, é honesto e transparente para com o Senhor. A verdade e a confiabilidade são fundamentais e constantes nessa vivência. O verdadeiro amor, oriundo da graça divina, dá-nos a compreensão, o entendimento e o aprofundamento em nossos relacionamentos, criando em nós um só coração e uma só alma, apesar das diferenças com respeito àquilo que somos, temos, pensamos e expressamos em nossa forma de ser e celebrar a nossa religiosidade (Ef 4.15; Jo 8.32, Jo 14.6, Jo 16.13; Ef 4.21-25, Ef 5:1; At 2.44, 4.32).

47. O genuíno avivamento não nos lança

no vazio doutrinário. Ele se fundamenta na doutrina bíblica e

essencial da fé cristã. Tem sobre si a autêntica tradição da fé cristã, cuja origem vem desde os tempos apostólicos e segue até hoje, sempre em conformidade com a verdade bíblica interpretada em sua totalidade à luz de Cristo e inspiração do

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Santo Espírito. Como a comunidade apostólica o avivamento aplica-se a sã doutrina, centrada no kerygma (pregação) apostólico expresso especialmente no livro de Atos (At 3.11-26, At 13.26-41, At 2.42-47, At 33; Tt 2.1; 2Tm 4.1-5). A Igreja não pode viver agitada e levada por todos os ventos de doutrinas. Necessitamos chegar à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo (Ef 4.13-15). Seguindo a verdade em amor, precisamos crescer, em tudo, naquele que é o cabeça, Cristo.

48. O genuíno avivamento tem a sua

autoridade no Senhor Jesus, através do Espírito Santo.

A autoridade do avivamento não vem de uma pessoa, um nome, uma Igreja, uma tendência doutrinária, um grupo ou um modismo de uma época. não vem dos louvores, das formas litúrgicas e nem mesmo do estado emocional e entusiasmado de uma pessoa ou grupo. A autoridade genuína do avivamento é a do Espírito Santo, confirmada através da Sua presença na vida da pessoa e da comunidade da fé, na concessão dos seus dons e ministérios e no comprovar de seus frutos na vivência pessoal, eclesial e comunitária. Em Deus Pai, Filho e Espírito Santo encontramos a certeza e a segurança do genuíno avivamento. A Trindade torna-se autoridade final e genuína de todo o avivamento (I Pe 5.12; Ef 1.13-14; Fp 1.27-30, Fp

4.1, Fp 2.12-13; 1Ts 1.2-10; Ef 1.15-23). 49. O genuíno avivamento assume

compromissos para com Deus, sua missão, o Evangelho, o ser humano, a história e o mundo.

Avivamento sem compromisso não é genuíno. Somos levados a um compromisso autêntico com Deus e seu Reino. Um compromisso histórico com o ser humano e a sociedade em suas próprias realidades e necessidades, e à luz do seu contexto histórico. A vida cristã assume compromisso com o Senhor Jesus e sua missão. O compromisso assumido pela vida de Cristo, testificado nos Evangelhos, na comunidade primitiva interpretado nas cartas e outros textos neo-testamentários, são referências e guias para direcionar o nosso compromisso. É importante considerar-se a ação histórica de Deus no Amigo Testamento, a fidelidade do seu compromisso e o compromisso missionário conferido ao seu povo de ser uma benção para todas as nações (Gn 12.14; Lc 4.16-21; Mt 5.14-16, Mt 28.18-20) e todos os textos do comissionamento missionário (I Pe 2.9-10; Mt 6.33; Lc 17.21).

50. O genuíno avivamento é missionário. Vai em direção a Cristo e sai em direção à

missão, às pessoas, aos grupos sociais e ao mundo. O “ide” de Jesus está continuamente presente, levando-nos a testemunhar, anunciar,

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proclamar, sinalizar e viver os princípios do Evangelho do Reino. Todo o genuíno avivamento é missionário em nome do Senhor Jesus, na sua autoridade e sob a unção do Santo Espírito. Há na missão um comprometimento com Cristo, com a vida, com o ser humano, com a História, com a cultura e com o mundo. Acima de tudo, há um compromisso com o reino de Deus (At 1.8; Jo 20.21-23; Lc 24.44-49; Mc 16.14-18; Mt 28.1820; 2Co 5.18; 6.3).

51. O genuíno avivamento como

decorrência da Missão é evangelizador. Compartilha, testifica e encarna, sob as

formas e os meios mais diversos, o poder da graça e do amor perdoador, reconciliador e transformador de Deus, expressos em Cristo e testificados pelo Espírito Santo. O poder do Evangelho transformador atinge a todas as pessoas, famílias, comunidades, culturas e sociedade em geral. Este é o autêntico alcance genuíno do avivamento. A força motivadora missionária e evangelizadora é o amor e a compaixão de Cristo (Mt 9.35-38). O Evangelho como boa nova do amor divino é oferecido a todas as pessoas (Tt 2.1-13) e as diversas situações de vida ao homem, à mulher, às crianças, aos juvenis, aos jovens, aos adultos, aos anciãos, aos pobres, aos ricos, às raças e etnias, às culturas, às classes... O Evangelho é anunciado e testificado a todos, confrontando as estruturas da sociedade com a graça e a justiça

divinas e levando cada pessoa a uma resposta de fé e aceitação do senhorio de Jesus Cristo sobre a sua vida e sobre as situações em que se encontram. Ao mesmo tempo que o cristão e a Igreja evangelizam, somos evangelizados pela ação do Espírito Santo, pois a boa nova de amor do Evangelho sempre tem algo a nos comunicar e nos transformar. Um exemplo claro disso é o de Pedro ao evangelizar Cornélio (At 10.1-48). O Senhor o evangelizou mudando a sua maneira de ver e ser. Isto acontece continuamente com a Igreja e seus fiéis, quando humildemente proclamamos o Evangelho e somos confrontados por novas situações reveladas pelo Espírito Santo.

52. O genuíno avivamento ilumina a mente

e a razão humanas com a Palavra e com o Espírito.

Não rejeita a razão, o estudo, a reflexão, mas coloca-os submissos à autoridade do Senhor e usa-os para a sua glória, para o amor ao próximo e o bem-estar do ser humano na sociedade (Rm 11.1-2; 1Ts 5.23; 2Pe 3.18; Ec 7.25; 1Co 2.14-16; Pv 1.5, Pv 3.13, Pv 4.5, Pv 14.33, Pv 19.8; Ec 9.16-18; Cl 1.9; Tg 1.5, Tg 3.17).

53. O genuíno avivamento leva-nos a nos

ofertamos totalmente a Deus, oferecendo-lhe tudo quanto somos e temos, nosso ser, bens, recursos, posses, dons, ministérios... visando a glória do Senhor e a solidariedade ao

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próximo. Tornamo-nos mordomos de tudo quanto

somos e possuirmos e de tudo o que Deus nos tem dado: a vida, o tempo, os recursos, o trabalho, a família e a nossa religiosidade (Rm 12.1-2, 6.11-14; Mq 6.6-8; Am 5.21-27; Mt 25.15-30).

54. O genuíno avivamento significa ser

enriquecido continuamente pela graça de Cristo em todas as dimensões da vida.

O Cristo que se fez pobre por nós e nos enriqueceu com a sua graça leva-nos a compartilhar com as pessoas em tudo quanto fomos enriquecidos (2Co 8.1-9, 2Co 9.6-15).

55. O genuíno avivamento é terapêutico. Torna a Igreja uma comunidade terapêutica

que liberta, transforma e cura as pessoas em seus aspectos totais: físico, mental, emocional, moral, social e espiritual. Essa terapêutica é feita à luz do ministério de Jesus, em seu nome, usando os meios que o Senhor nos proporciona através da sua graça e os recursos técnicos, científicos e humanos que ele tem concedido ao ser humano e à sociedade, sendo tudo colocado nas mãos de Deus de forma submissa e missionária (Mt 9.35-36, Mt 12.9-14, Mt 17.14-21; At 3.1-10; Tg 5.13-16; Ef 5.1-2, Ef 4.32).

56. O genuíno avivamento revela a ação

histórica divina junto às pessoas, raças,

povos, gêneros, nações, levando-as a se confrontarem com as maravilhas do amor e da graça divinas.

O genuíno avivamento não revela a si mesmo, nem a própria Igreja, mas o Senhor, através das palavras, dos testemunhos, dos atos e dos sinais da presença de Cristo e do Reino junto às pessoas, ao povo, a Deus e à sociedade. Ação histórica testificada pelos atos divinos revelados em sua Palavra, em especial através da encarnação, vida, ministério, morte, ressurreição, ascensão e volta do Senhor Jesus e da dádiva do Santo Espírito. A Igreja, como Corpo e Plenitude de Cristo, testifica a respeito dos atos divinos no passado, no presente e na perspectiva futura. Todavia, a ação divina não se restringe à Igreja, pois ele a expressa através da natureza, e das diversas formas através das quais ele age na vida e a perpetua (Ef 1.22-23; Sl 19.1; Jo 1.1-5, 14, 16-18, Jo 14.6-9).

57. No genuíno avivamento as diferenças

são superadas pela graça divina. Deus não faz acepção de pessoas (Tg 2.1-13).

Ele valoriza a todo o ser humano, minimizando os sentimentos de superioridade e inferioridade. "Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus, porque todos quantos foram batizados em Cristo, de Cristo vos revestistes. Dessarte não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher, porque todos vós sois um em Cristo Jesus" (Gl

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3.26-29). Em Cristo Jesus não há separação e nem superioridade racial, étnica, de gênero (homem ou mulher), de classes, de povos, de nações, de cultura. Pela sua graça estas diferenças são superadas. Em seu ministério ele privilegiou os pobres, as pessoas marginalizadas, as mulheres, as crianças, os pecadores e publicanos... Isso não significa acepção de pessoas, classes, sexo ou situação, mas priorizar aqueles e aquelas que estavam vivendo no desamparo e na marginalidade. A Igreja deve ser como o seu Senhor, seguindo os seus passos, princípios e normas, em todos os seus aspectos. Mesmo privilegiando, na contingência do seu tempo a alguns e algumas, isso não significa deixar outros à margem da graça, ao contrário, todos estão incluídos na ação salvadora e transformadora de Cristo, qualquer que seja a sua situação ou condição humana e social.

58. O genuíno avivamento é profético. Proclama a voz de Deus e seus atos através

da sua Palavra. Revela a vontade divina para as pessoas, familias, sociedade e para a História. A voz profética é anúncio dos atos salvíficos de Deus em favor das pessoas e da humanidade. Pronuncia a visão divina a respeito da nova vida em Cristo. Testifica a respeito do reino de Deus, presente em nós, entre nós e através de nós e no mundo. Essa voz profética é também denúncia. Denúncia com humildade, amor, misericórdia, graça, justiça e firmeza, a respeito de todas as

coisas e situações que nos separam de Deus, uns dos outros, de nos mesmos, da vida e da comunhão do Corpo de Cristo. Denuncia a ausência de amor, verdade, justiça, reconciliação, santidade e paz. Denuncia e combate todas as forças do mal, da dor, da anti-vida e da morte em suas causas e conseqüências. Anuncia a certeza da vitória presente, eterna e final do reino de Deus sobre o reino das trevas, e sinaliza os primeiros frutos desse Reino já no presente (Dt 18.18; Jr 1.5; Am 7.14; Mt 5.17; Jo 6.14, Jo 7.40; At 3.21, At 10.43; Ef 4.11; Hb 1.1; Tg 5.10; 2Pe 1.19; 1Sm 10.10; Ez 34.2, Ez 37.4; 1Co 14.13; 1Pe 1.10).

59. O genuíno avivamento é um sinal

escatológico do reino de Deus. Ele anuncia a volta do Senhor, a plena

restauração de todas as coisas, o senhorio divino sobre todos os poderes e autoridades e a consumação final de todas as coisas (1Co 15.24-28; At 1.6-11; Tt 2.11-15; 2Pe 3.113; Ap 21.1-8; Mt 24). Esta certeza de vitória nos anima, consola e nutre as nossas vidas e a de todo o povo. Essa expectativa escatológica, testificada pelo Espírito de Deus consolador, defensor e animador, leva-nos a viver no presente século, valorizando o nosso momento histórico e a esperar a manifestação gloriosa do Filho de Deus. Maranata. Ora, vem, Jesus! Venha, volte e restaure toda a criação no tempo e no momento divino, segundo a sua longanimidade.

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INSTRUMENTOS PARA O GENUÍNO AVIVAMENTO

A visão contextualizada do profeta

Habacuque leva-nos a perceber que o avivamento representa a presença do fôlego divino trazendo novamente à vida a pessoa, a comunidade histórica, o mundo habitado, o próprio povo de Deus e toda a História. Todas as dimensões da vida são contempladas por esta visitação da graça divina. As pessoas, em sua totalidade, e todas as pessoas, qualquer que seja a sua raça, o seu povo, a sua etnia, a sua cultura, a sua religiosidade, a sua cor, são contempladas pela presença do Reino, através da Encarnação de Jesus Cristo e da presença revitalizadora, confortadora, animadora e vivificante do Santo Espírito.

O Plano Vida e Missão da Igreja Metodista

(1) nos dá uma dimensão dinâmica e abrangente da espiritualidade que deve guiar a Igreja em sua expressão missionária. Destacamos, dentre algumas afirmativas, expressões que reforçam a compreensão mais ampla de um genuíno avivamento:

“1- A Missão de Deus no mundo é

estabelecer o seu Reino. Participar da construção

do Reino de Deus em nosso mundo, pelo Espírito Santo, constitui-se na tarefa evangelizante da Igreja.

2- O Reino de Deus é o alvo da Deus Trino e

significa o surgimento do novo mundo, da nova vida, do perfeito amor, da justiça plena, da autêntica liberdade e da completa paz. Tudo isto está introduzido em nós e no mundo como semente que o Espírito Santo está fazendo brotar, como lemos em Rm 8:23: "nós temos as primícias do Espírito, aguardando a adoção de filhos", ou ainda em 2Co 7:21-22: "mas aquele que nos confirma convosco em Cristo, e no ungiu, é Deus, que também nos elevou e nos deu o penhor do Espírito em nossos corações".

3- Jesus iniciou a sua Missão no mundo com

a pregação: "O Tempo está cumprido e o Reino de Deus está próximo, arrependei-vos e crede no Evangelho" (Mc 1:15).

4- O propósito de Deus é reconciliar consigo

mesmo o ser humano, libertando-o de todas as coisas que o escravizam, concedendo-lhe uma nova vida à imagem de Jesus Cristo, através da ação e poder do Espírito Santo, a fim de que, como Igreja, constitua neste mundo e neste momento histórico, sinais concretos do Reino de Deus.

5- A Missão é de Deus - Pai, Filho e Espírito

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Santo. O objetivo e construir o Reino de Deus. O seu amor é a força motivadora de sua presença e ação. "Ele trabalha até agora" (Mt 28:19; Jo 3:16):

a) criando as pessoas e comunidades,

dando-lhes condições para viver, trabalhar e construir suas vidas como pessoas e como comunidades (Gn 1:26-31; Gn 2; 2Co 5:17);

b) ajudando as pessoas e comunidades a

superar seus conflitos e pecados, trabalhando juntos e participando da vida abundante, concedida em Cristo por meio da reconciliação (Gn 3:8-21; Gn 12:1-13; Jo 10:10; II Co 5:19);

c) possibilitando as pessoas e comunidades

a se encontrarem como irmãos e irmãs, reconhecendo-O e aceitando-O como Pai (Mt 6:8-10);

d) abrindo, pela ação do Espírito Santo,

novas possibilidades e fontes de vida (At 2:17-21; 1Co 12:4-11; Rm 12:6-8);

e) sarando as pessoas e as instituições,

podando delas o que não convém, por meio de seu juízo e graça (Ef 2:11-21; Fp 4:2-9; Jo 15);

f) envolvendo todas as pessoas e

comunidades e todas as coisas neste seu trabalho.

6- Na história, e especialmente na do povo

de Israel, Deus revela a sua ação salvadora a favor das pessoas e do mundo. A concretização plena desta ação deu-se na encarnação de Jesus Cristo. Ele assumiu as limitações humanas, trouxe as boas novas do Reino de Deus, confrontou os poderes do mal, do sofrimento e da morte, vencendo-os em sua ressurreição (Hb 1:1-14).

7- Na construção da vida e na realização

desta obra, as pessoas e comunidades sofrem com o domínio das forças satânicas e do pecado. O pecado e o domínio destas forças manifestam-se de diferentes maneiras em pessoas, grupos e instituições impedindo a vida abundante e contrariando a vontade de Deus.

8- Através de Jesus Cristo, sua vida, trabalho

e mensagem, sua morte, ressurreição e ação redentora podemos compreender a ação de Deus no passado; as oportunidades à esperança da vida plena no futuro que Ele nos oferece no presente, e a possibilidade de se participar na construção deste futuro agora. É de Jesus Cristo que vem o poder para esta participação.

9- A Igreja, fiel a Jesus Cristo, é sinal e

testemunho do Reino de Deus. É chamada a sair de si mesma e se envolver no trabalho de Deus, na construção do novo ser humano e do Reino

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de Deus. Assim, ela realiza sua tarefa de evangelização (Hb 2:18)

10- A Igreja Metodista no Brasil é parte da

Igreja Metodista na América Latina e no mundo, ramo da Igreja Universal de Nosso Senhor Jesus Cristo. Sensível à ação do Espírito Santo, reconhece-se chamada e enviada a trabalhar com Deus neste tempo e lugar onde ela está. Neste tempo, fazemos uma escolha clara pela vida, manifesta em Jesus Cristo, em oposição à morte e a todas as forças que a produzem.”

Nestas declarações temos fundamentos

essenciais que nos dão uma linha pastoral que deve guiar a Igreja em sua vivência intra, inter e extra-Igreja e, em especial, na concretização da tipologia de um avivamento genuíno, bíblico e evangélico que está afinado com a vida em toda a sua plenitude e circunstâncias históricas.

Para ser genuíno, o avivamento precisa ter

entre suas características as seguintes marcas pastorais: (2)

FORTE ESPIRITUALIDADE. Ação dinâmica

da graça divina na pessoa, na comunidade e na História, possibilitando a vivência plena dos atos de piedade.

UMA EVANGELIZAÇÃO DINÂMICA como

resultado da dádiva do amor divino para conosco,

a resposta de nosso amor para com Deus, o próximo, a sociedade e a História.

COMUNIDADE DE APOIO. Estabelecendo a

Igreja na forma de pequenas comunidades, onde o lugar e o valor da pessoa é dignificado, a sua participação é incentivada e respeitada, levando-as a ser o agente histórico de sua libertação. Comunidades onde há um só propósito, coração e alma, vivendo sob a consolação e animação do Espírito Santo.

CRISTIANISMO PRÁTICO. Isso significa a

prática da fé, o vivenciar com a pessoa e com o povo tudo quanto é fundamental para a prática da vida cristã. Tudo sob a direção da Palavra divina e a inspiração e sustentação do Santo Espírito.

MINISTÉRIO GLOBAL DA IGREJA.

Significa em verdade a prática da máxima da reforma: sacerdócio universal de todos os crentes. Isto é o reconhecimento do lugar, do papel, da importância da presença do laicato na vivência da Igreja e das pessoas nos agrupamentos humanos, descaracterizando o clericalismo e as lideranças personalistas. O Espírito tem concedido dons e ministérios visando a mútua cooperação e participação de todo o Corpo na expressão do serviço de Cristo entre as pessoas, nas instituições e na História.

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CONEXIDADE, significando unidade, diversidade e mutualidade. E a expressão da cooperação, do apoio mútuo, do ajuste e da cooperação de cada parte no Corpo da Igreja e nos movimentos sociais. À luz da Conexidade revelada por Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Conexidade não meramente administrativa, financeira, mas missionária, redentora,libertadora. Em outras palavras, conexidade para com a vida, as pessoas e a sociedade em toda a sua plenitude.

EVANGELHO INTEGRAL, alcançando a

todas as pessoas, a pessoa total, a sociedade em geral, todos os aspectos da vida, da História e do mundo. Uma ação salvadora e libertadora da graça divina na totalidade da vida, salvando, santificando, capacitando as pessoas para cumprirem a sua vocação de serem agentes de sua própria libertação. Levando em consideração a realidade e as necessidades históricas, o Evangelho torna-se poder de Deus para a salvação, através de Cristo e da ação do Santo Espírito.

A ação pastoral da Igreja hoje e a de todo o

povo, dos grupos, das comunidades pequenas e, também comunidades institucionalizadas. O povo, com o seu poder aglutinador, a sua criatividade, sua organização, seu poder de resistência, a presença da graça de Cristo e da força do Espírito tornam-se agentes

fundamentais da missão divina do reino de Deus. No genuíno avivamento a linha pastoral deve

ser a de comunhão, do amor, da partilha, da solidariedade, da humildade, da mutualidade dos dons e ministérios, sem dominação de liderança ou de grupos, semelhante à comunidade apostólica onde todos estavam juntos e tinham tudo em comum, sendo um só coração e a alma deles. Nessas condições é que eles davam o testemunho da ressurreição de Jesus Cristo e do seu significado redentor, salvador e libertador para as pessoas, as famílias, as comunidades, a sociedade e o mundo habitado.

O Deus que é pastor, encarnando-se em

Cristo e que conhece as ovelhas pelos seus nomes e dá a sua própria vida pelas ovelhas, e quem nos convida a ter o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus em nossa vivência como cristãos e como Igreja, junto das pessoas, das comunidades, do povo e da sociedade.

A ação pastoral neste momento de

avivamento deve ser, portanto, resultado de: • uma pastoral fundada na realidade em que

vivemos, • uma pastoral bíblica e teológica que leva

em consideração a posição medianeira e cooperativa das ciências sociais, e

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• uma pastoral, que acima de tudo, tenha uma práxis, sendo a sua prática um dos elementos mais desafiadores e importantes. Uma pastoral que luta pela vida, pela dignidade de todo o ser humano, pela redenção ecológica, pela justiça e pela paz. (3)

Conclamamos a Igreja a se associar com o

povo e a sociedade ajudando a si mesma e a sociedade, na ação do Espírito, a alcançar sentido, esperança e vida.

Sob a ação do Espírito, nosso defensor,

consolador e animador, somos enviados a não apenas a clamar ao Senhor pelo Avivamento, mas a ser instrumento divino, no presente momento histórico, que possibilite reanimar, restaurar e trazer novamente à vida as pessoas, as famílias, os diversos grupos sociais, a sociedade, a História e o mundo, concretizando-se assim a presença do reino de Deus em nós, entre nós, através de nós e em todo o Universo. Amém!

CITAÇÕES: (1) Aprovado pelo Concilio Geral em julho de

1982 e publicado nos Cânones da Igreja Metodista, FAO° de 19}2, no item 13 (Fa Itendendo a Vontade de Deus).

(2) O que se segue é um resumo do que apresentei em “As marcas esenciáis da Identidade Metodista”

(3) DUQUE, José. Problematizacion de la pastoral y estructura y eclesialidad de la Iglesia (Ensayo y borrador provisório)

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BITTLINGER, Arnold. Dons e graças. São

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Espírito Santo. São Paulo: ASTE, 1975. COSTAS, Orlando E. Dimensões do

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Pastoral y estructura y eclesialidad de la Iglesia. (Ensaio y Borrador provisório)

DUSEM, H. P. Van. Espírito, Hijo y Padre.

Buenos Aires: La Aurora. LEITE, Nelson Luiz Campos. O Espírito

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Lima/Peru, 1974. LEITE, Nelson Luiz Campos. Espiritualidade

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LEITE, Nelson Luiz Campos. O genuíno

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LOPES, Hernandes Dias Lopes. Avivamento

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SHAULL, Richard. La Reforma y la Teologia

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