B VERÃO 2008 Word...praticamente toda a área que viria a ser Portugal antes das 5 modificações...

32
A FLORESTA RELÍQUIA DA SERRA DE SINTRA CONVENTO DOS CAPUCHOS BIOLOGIA NO VERÃO 2008

Transcript of B VERÃO 2008 Word...praticamente toda a área que viria a ser Portugal antes das 5 modificações...

A FLORESTA RELÍQUIA DA SERRA DE SINTRA

���� CONVENTO DOS CAPUCHOS

BIOLOGIA NO VERÃO 2008

2

3

BIOLOGIA NO VERÃO – PROGRAMA CIÊNCIA VIVA A Biologia no Verão é uma iniciativa do programa Ciência Viva do Ministério da Ciência e da Tecnologia, na qual participam várias instituições portuguesas, que durante alguns dias abrem as portas para ensinar o que é a biologia a todos os que tiverem curiosidade. Neste âmbito, a Parques de Sintra – Monte da Lua, S.A. convida-vos a fazerem uma viagem ao mundo da Biologia através da realização de um percurso no Convento dos Capuchos, orientado por biólogos durante o qual o visitante terá a oportunidade de conhecer a preciosa Mata do Convento dos Capuchos, último reduto da floresta original da Serra de Sintra. Será dado destaque ao longo da visita aos factores específicos que contribuíram para a preservação desta mata relíquia e aos factores de risco que eventualmente poderão comprometer o futuro da sua existência e da importante Biodiversidade que a constitui.

4

A SERRA DE SINTRA

1. A ORIGEM GEOLÓGICA DA SERRA DE SINTRA Ao contemplarmos a magnífica serra de Sintra, tudo nos leva a crer que este imponente e luxuriante monumento natural sempre existiu na forma que hoje conhecemos. Não é essa a realidade, porém. A serra de Sintra formou-se há cerca de 60-70 milhões de anos, e deve a sua origem a um fenómeno denominado intrusão magmática. Este processo consiste no aprisionamento de uma bolha de magma no interior da crosta terrestre que solidifica lentamente, permitindo a formação dos cristais que constituem o granito. Devido às movimentações da crosta terrestre, esta massa de granito acaba, eventualmente, por emergir à superfície, formando, no caso de Sintra, uma serra.

2. UM CLIMA MUITO ESPECIAL Por se erguer perpendicularmente à linha de costa, a serra de Sintra é o primeiro obstáculo natural que os ventos carregados de humidade, vindos do oceano Atlântico, encontram a interceptar o seu percurso. Este facto permite a existência neste local de um microclima mediterrânico de feição oceânica, com níveis de humidade característicos dos climas subtropicais. A evapotranspiração gerada pela floresta e a protecção constante proporcionada pelas suas copas, bem como a manta morta gerada pela queda das folhas e dos ramos, contribuem para a manutenção de temperaturas e de níveis de humidade no solo propícias ao desenvolvimento da grande diversidade de espécies que aqui podemos encontrar.

3. A VEGETAÇÃO EXUBERANTE A vegetação exuberante da Serra de Sintra está longe de ser um vestígio da floresta primitiva que cobria praticamente toda a área que viria a ser Portugal antes das

5

modificações de paisagens impostas pela acção do Homem. De facto, devido às intervenções ao longo dos tempos, como as explorações agrícola, florestal e a utilização da terra para pastagens, a serra encontrava-se, em pleno século XIX, praticamente despida de vegetação. Foi com a chegada do Romantismo a Sintra que a situação se inverteu.

4. O ROMANTISMO

O romantismo foi um movimento cultural europeu, que surgiu nos finais do século XVIII e cuja influência se consolidou até meados do século XIX. A estética romântica aliou a busca pelo exotismo a uma importância crescida dos sentimentos, o gosto da natureza, o culto do misticismo e o regresso ao passado. Foi neste contexto que se deu início à plantação dos parques românticos em Sintra, exemplos únicos que influenciaram diversas paisagens na Europa.

6

O CONVENTO DOS CAPUCHOS

A Mata do Convento dos Capuchos, com os seus velhos carvalhos e arbustos de grande porte, foi durante séculos protegida pelos Frades Franciscanos que aqui viviam e acarinhavam todos os seres vivos porque os consideravam sagrados como obras do Criador. Numa altura em que praticamente toda a serra de Sintra foi desflorestada, por causa da pressão humana e da necessidade de pastagens e de madeira para construir as naus dos descobrimentos, esta pequena mancha de floresta sobreviveu e é, hoje, uma autêntica relíquia que é importante proteger. Nos nossos dias, quase toda a serra é povoada por espécies vindas dos quatro cantos do globo, introduzidas nos jardins que aqui foram criados no século XIX. Mas podemos encontrar no interior da cerca do Convento dos Capuchos um exemplo do conjunto vegetal que deveria cobrir toda a serra. O clima muito especial deste local, muito húmido, fresco e sombrio, permitiu que esta mancha sobrevivesse a vários incêndios que devastaram a serra de Sintra ao longo dos tempos. É muito importante que todos reconheçamos a importância de áreas como esta e nos esforcemos por preservá-las.

FIGURA 1 – Imagens do Convento dos Capuchos

7

A BIODIVERSIDADE A biodiversidade é uma necessidade, não um luxo. Nos anos mais recentes, o desaparecimento de espécies e de áreas naturais, consequência da actividade humana, tem ocorrido a uma velocidade sem precedentes. Não mencionando os problemas éticos, frequente e justificadamente referidos, a extinção adicional de mais uma espécie representa uma perda irreversível de códigos genéticos únicos, que estão muitas vezes ligados ao desenvolvimento de medicamentos, à produção de alimentos e a diversas actividades económicas. Por estes e outros motivos, foram criadas leis de protecção específica de determinadas espécies, algumas das quais se encontram seriamente ameaçadas no nosso país, sendo os Parques de Sintra um dos poucos refúgios em Portugal onde ainda podem ser apreciados alguns exemplares.

AS PLANTAS A conservação do próprio ser e a tendência para propagar a sua existência por todo o espaço são as características originais de todas as formas de vida, materializa-se este instinto de sobrevivência de modo diferente em cada uma delas. As plantas são no nosso planeta, desde o principio da vida, a condição indispensável para toda a existência sobre a Terra. A sobrevivência dos seres humanos e dos animais depende tanto da sua presença, que toda a vida superior desapareceria se uma catástrofe imprevista as eliminasse um dia do nosso planeta. Nenhum invento da humanidade, por grande que fosse, permitiria reconstruir o que o mundo vegetal realizou, calmamente, ao longo de milhões de anos e que, todavia, continua a desenvolver dia após dia. A luta pela conservação, quer dizer, a luta pela pura e simples existência, converteu formas de vida muito diversas em companheiras de destino, constituindo comunidades indissolúveis e dependentes umas das outras.

8

1. Fitossociologia

A Fitossociologia é a ciência das comunidades que possuem qualidades florísticas peculiares, como sejam espécies próprias ou uma combinação característica de espécies (estatisticamente significativa para ser distinta entre outras combinações) e que também possuam qualidades ecológicas, fitogeográficas, dinâmicas e históricas peculiares. Estas unidades representam comunidades de composição florística determinada, de fisionomia homogénea e que vivem em condições ecológicas uniformes. A classificação fitossociológica também compreende unidades hierárquicas (Divisão; Classe; Ordem; Aliança; Associação). Esta abordagem à vegetação centra-se na determinação estatística de bioindicadores dos tipos e complexos de vegetação como meio de diagnóstico ecológico do território. Esta constitui uma das ferramentas contemporâneas ao estudo cientifico da vegetação natural e da Paisagem Cultural mais difundidas na Europa com aplicações no ordenamento, planeamento e gestão territorial, em geral, e do espaço florestal em particular. Braun-Blanquet (1956) descreveu as Alianças de Portugal (que englobam as Associações) que são: Juniptero-Ericetum e Juniperion nana, Quercion occidentale, Quercion fagineae (também designada de Quercion broteri) e Oleo-Ceratonion. O tipo de vegetação potencial arbórea ou arbustiva dos bosques mediterrânicos da Serra de Sintra pertence fitossociologicamente à classe Quercetea ilicis e à aliança fagineae (ou Quercion broteri). Estes bosques são indiferentes à natureza química do substrato, prosperam em qualquer tipo de solo, sendo no entanto limitados pela hidromorfia permanente ou temporal deste.Para além de Quercus faginea (Carvalho-cerquinho ou Carvalho-português) dominante, a aliança Quercion fagineae é caracterizada por Q. coccifera (Carrasco), Q. suber

9

FIGURA 3 – Avelãs

FIGURA 2 – Folha de aveleira

(Sobreiro), Arbutus unedo (Medronheiro), Olea europeana (Oliveira) e Pistacia lentiscus (Aroeira).

A FLORA DO CONVENTO DOS CAPUCHOS

1. AVELEIRA Nome científico: Corylus avellana L. Origem: Europa Características: • arbusto ou árvore pequena com

ramos erectos; • folhas quase circulares e frutos

num invólucro verde e com bordos sem dentes;

• floração de Janeiro a Abril e frutificação de Setembro a Outubro;

Curiosidades: A avelã, fruto desta árvore, é comestível crua ou cozinhada, inteira ou moída em farinha para fazer pão, bolos ou biscoitos. Também pode ser liquidificada para produzir um líquido leitoso que pode substituir o leite. É um fruto rico em óleo podendo este também ser extraído para usos medicinais (tratamento de infestações de parasitas intestinais) ou para culinária. Por ter tantas aplicações possíveis era, com certeza, uma espécie muito útil para os frades deste Convento.

10

FIGURA 4 – Folhas de buxo

2. BUXO Nome científico: Buxus sempervirens L. Origem: Norte de África, sudoeste da Ásia e Europa Características: • arbusto de crescimento lento e

folhas perenes; • a época de floração decorre de

Abril a Maio – esta espécie tem flores femininas e flores masculinas que existem em simultâneo na mesma árvore;

• o amadurecimento das sementes ocorre em Setembro

Curiosidades: Esta espécie é muito utilizada para ornamentar jardins. Hoje em dia é muito raro encontrar espécimens espontâneos de porte arbóreo. As inúmeras propriedades medicinais desta espécie tornaram-na, provavelmente, muito útil para os frades Franciscanos. O Buxo era usado como sedativo, anti-reumático, febrífugo, etc. No entanto, os antigos remédios extraídos do Buxo já não são utilizados porque todas as partes desta planta são tóxicas e podem provocar convulsões, vómitos e até mesmo a morte. As folhas também são irritantes e podem provocar reacções alérgicas.

11

Figura 5 – Carvalho-alvarinho

3. Carvalho-alvarinho ou Carvalho-roble Nome científico: Quercus robur L. Origem: Europa – da Rússia até Portugal, incluindo as Ilhas Britânicas. Características: • árvore de grande porte (até

30-40m); • folhas caducas de 3 a 6

lóbulos com o bordo ondulado e uma pequena saliência na base (aurículas);

• os frutos são bolotas que ficam maduras no período de Setembro a Outubro)

• o período de floração vai de Abril até Maio.

Curiosidades: Esta espécie existe em bosques, sobretudo em solos não calcários, siliciosos de toda a Europa, excepto nos extremos norte e sul. Em Portugal aparece desde o norte litoral até ao vale do Zêzere, sendo muito frequente na Serra de Sintra. As bolotas desta árvore são comestíveis. Mas são ricas em taninos, substâncias com sabor amargo. No entanto, os taninos podiam ser lavados colocando as bolotas dentro de um pedaço de tecido durante vários dias num ribeiro de água corrente. Mas esta lavagem também lavava grande parte dos sais minerais do fruto que perdia a sua parte da sua qualidade alimentícia. Outra forma de eliminar a adstringência das bolotas consistia em enterrar a semente num terreno alagado durante o Inverno. Quando ela começava a germinar na Primavera já podia ser desenterrada e consumida.

12

Das bolotas de carvalho fazia-se, antigamente, farinha que podia ser usada para engrossar guisados ou misturada com cereais para fazer pão É possível que as bolotas também fizessem parte da alimentação dos frades Franciscanos. Para além de servir para comer, este fruto também tem aplicações medicinais diversas pelas suas propriedades antisépticas, anti-inflamatórias e descongestionantes. Era usado para tratar doenças tão diversas como a diarreia crónica, e febres intermitentes e também para lavar feridas, erupções cutâneas e pés inchados.

13

FIGURA 6 – Folhas de castanheiro

4. CASTANHEIRO Nome científico: Castanea sativa L. Origem: Norte de África, Sudoeste da Ásia e Sul da Europa Características: • árvore de grande porte e ramos

muito abertos; • folhas grandes que podem ter

até 25 cm de comprimento; • as flores dispõem-se em

amentilhos que são pequenos cachos com flores de ambos os sexos – as flores femininas são verdes e estão na base do amentilho e as masculinas, amarelas, distribuem-se a todo o comprimento;

• a floração dá-se em Julho a frutificação ocorre de Outubro a Novembro - os frutos (castanha) encontram-se dentro de uns cálices verdes e espinhosos (ouriços) que, ao se abrirem, os libertam.

Curiosidades: Esta espécie não é considerada nativa da nossa floresta. Pensa-se que foram os romanos que a introduziram, a partir do sudoeste asiático. Nos Capuchos, pensa-se que poderá ter sido cultivada pelos monges uma vez que existe com alguma frequência na mata. A castanha era utilizada como base alimentar na Europa antes do aparecimento da batata. As batatas, originárias dos Andes, foram introduzidas na Europa apenas no século XVIII. Em Portugal crê-se que a primeira plantação ocorreu em Trás-os-Montes em 1760. Antes desta data, o alimento que era utilizado para o acompanhamento da maior parte dos pratos em que hoje se utiliza a batata era a castanha.

FIGURA 7 – Ouriços de castanheiro

14

FIGURA 8 – Folhas e flores de loureiro

5. LOUREIRO Nome científico: Laurus nobilis L. Origem: Mediterrâneo Características: • arbusto denso ou árvore

pequena; • folhas verdes escuras, perenes,

lustrosas, com pecíolos vermelho escuros; exalam uma fragrância aromática quando moídas;

• flores pequenas de cor amarelo pálida, aos pares nas axilas das folhas - a floração dá-se entre Março e Abril;

• os frutos são bagas verdes que, com o tempo, se tornam pretas - a frutificação dá-se entre Agosto e Outubro;

Curiosidades: Esta planta é originária do mediterrâneo e é vulgarmente plantada como ornamental porque é muito utilizada na culinária – as folhas podem ser usadas como condimento ou como chá, o fruto seco do Loureiro pode, também, ser usado como condimento e das folhas pode extrair-se um óleo essencial. Esta espécie não é considerada nativa da nossa floresta primitiva e pensa-se que poderá ter sido introduzida pelos romanos. É muito frequente na mata do Convento, pelo que poderá ter sido plantada pelos frades.

15

FIGURA 9 – Folhas e frutos de medronheiro

6. MEDRONHEIRO Nome científico: Arbutus unedo L. Origem: Região mediterrânica até Sul da Inglaterra e Sul da Irlanda Etimologia: Arbutus = de Arbor que significa arbusto; Unedo = um e mais nenhum e foi adoptado para esta espécie porque os seus frutos, ainda que comestíveis, quando estão verdes possuem um sabor desagradável, levando a que, quem os prove, não tencione repetir a experiência uma segunda vez. Descrição: • arbusto ou uma árvore de pequena dimensão que pode

atingir os 8 a 10 m (usualmente não ultrapasse os 5 m); • o tronco possui uma casca avermelhada delgada, muito

escamosa, caduca em pequenas placas nos exemplares mais antigos;

• a copa desta espécie é oval e as folhas são persistentes, verde escuras na página superior e mais claras na página inferior;

• as flores encontram-se reunidas em cachos compostos, terminais e pendentes e são esverdeadas;

• os frutos – medronhos - são baciformes, globosos, granulosos ou eriçados na superfície. Medem entre 20 a 25 mm, são vermelhos quando estão maduros e possuem sementes pequenas, angulares e de cor castanha.

Curiosidades: O medronheiro é explorado no Algarve, sobretudo nas Serras de Monchique e do Caldeirão, para a produção de aguardente, a chamada “aguardente de medronho”, um produto regional de destaque. Para produzir 1l de aguardente é necessário destilar em alambique 1 kg de medronhos. Estes frutos são ainda conhecidos pela capacidade de provocar dores de cabeça e embriaguez a

16

quem os consome em excesso, uma vez que, quando maduros, possuem uma certa quantidade de álcool. As folhas e a casca do medronheiro são ricas em taninos que são utilizados para curtir as peles e, na medicina popular, para curar as diarreias, as desinterias e as infecções urinárias e a sua madeira é um excelente combustível.

17

FIGURA 11 – Folhas e flor de caledónia

7. CALEDÓNIA Nome científico: Chelidonium majus L. Origem: Europa Etimologia: Chelidonium = do grego chelidon que significa andorinha e o seu período de floração coincide com a chegada destas aves. Descrição: • planta vivaz e pilosa, formada por vários caules

quebradiços que contêm uma seiva alaranjada e cáustica;

• folhas compostas por 5 a 7 folíolos dentados e ovados; • flores amarelas de quatro pétalas; • os frutos são cápsulas alongadas que encerram uma

fiada de sementes pretas e carnudas. Curiosidades: Diurética, anti-espasmódica, sedativa, purgante. Em infusão acalma os espasmos, trata a dispepsia e a icterícia e estimula o fluxo biliar. Também alivia a asma. Em forma de unguento é um remédio eficaz contra as verrugas e a tinha.

18

FIGURA 12 – Flores de dedaleira

8. DEDALEIRA Nome científico: Digitalis purpurea L. Origem: Europa Ocidental Descrição: • planta bienal perene com

produção de roseta de folhas no primeiro ano e depois caule floral erecto;

• folhas grandes, aveludadas, ovadas ou lanceoladas;

• espigas de grandes flores violeta, como dedais, com manchas escuras no seu interior.

Curiosidades: A digitalina (veneno mortal) utiliza-se como medicamento. Regulariza e alivia o ritmo cardíaco, aumenta a tensão arterial. Diurético poderoso. Utilizada pela indústria farmacêutica desde a Idade Média.

19

FIGURA 13 – Folhas e frutos de azevinho

FLORA AUTÓCTONE AMEAÇADA 1. AZEVINHO Nome científico: Ilex aquifolium L. Origem: Europa e Mediterrâneo Etimologia: Ilex = nome latino da azinheira, por ser parecido com as suas folhas; Aquifolium: acus = agulha e folius = folha, aludindo aos espinhos das mesmas. Descrição: • Planta perene facilmente

reconhecida através do verde-escuro e brilhante da sua folhagem;

• Pode atingir os 20 m de altura e as suas folhas apresentam uma forma variada com as margens espinhosas, característica que é mais evidente nos indivíduos jovens;

• flores pequenas e brancas ou tingidas de púrpura, nascendo agrupadas na axila da folha, no final da Primavera;

• a frutificação, no final do Outono, é composta por pequenas bagas vermelhas.

Curiosidades: O azevinho entre os Romanos era trocado como presente por ser considerado símbolo de paz e de felicidade. Liga-se à história cristã como a planta que permitiu a Jesus esconder-se dos soldados de Herodes. Em compensação, diz a lenda, foi-lhe dado o privilégio de conservar as suas folhas sempre verdes, mesmo durante o mais rigoroso Inverno. No início a Igreja proibiu as verduras; mais tarde acabou por consenti-las como símbolo de vida e, portanto, de Cristo. Por este motivo tornou-se a principal planta tradicional de Natal. Mas a elevada procura de que acabou por ser alvo fez

20

com que o azevinho espontâneo quase desaparecesse das florestas portuguesas, pois o corte intenso não só pode acabar por matar a planta como os ramos que são procurados são aqueles que têm bagas, impossibilitando os exemplares de se reproduzirem. O arbusto, caracterizado pelo aspecto espinhoso das suas folhas, apresenta uma aparência diferente no estado arbóreo. Com o desenvolvimento do porte da árvore, o rebordo das folhas suaviza-se, pois os espinhos não são mais do que uma defesa contra predadores que poderiam desfolhar completamente esta planta na sua fase juvenil. Como planta de propriedades medicinais pode ser utilizado como adstringente, espectorante e febrífugo. Uma decocção de folhas faz baixar a febre e combate o catarro e a gripe. Eficaz também contra a artrite, bronquite e o reumatismo. Legislação: Desde 4 de Dezembro de 1989, através da promulgação do decreto-lei 423/89, que é proibido, em todo o território do continente, o arranque, o corte total ou parcial, o transporte e a venda do azevinho espontâneo Ilex aquifolium L., também conhecido por pica-folha, visqueiro ou zebro. Por isso é necessário que nos certifiquemos, ao comprarmos azevinho em estufas ou floristas, que este foi criado em estufas. Todo o azevinho que é vendido tem de ser acompanhado por um certificado do viveiro de origem!

21

FIGURA 14 – Cladódios e frutos da gilbardeira

2. GILBARDEIRA Nome científico: Ruscus aculeatus L. Origem: Mediterrâneo Etimologia: aculeatus = com espinhos ou ferrões. Descrição: Este pequeno arbusto não apresenta folhas. Os caules são espalmados, terminando em espinhos (a que se dá o nome de cladódios), que tomam a aparência de folhas. No centro de cada cladódio surgem as pequenas flores de coloração violeta e depois as bagas vermelhas. Pode crescer até cerca de 70 cm de altura e 1m de largura. Não suporta temperaturas negativas, pelo que se adapta muito bem ao clima da serra de Sintra, onde temperaturas tão baixas raramente são atingidas. Floresce desde o Outono até à Primavera. Curiosidades: Para além de possuir grande número de propriedades medicinais (anti-inflamatório, vasoconstritor, laxante e diurético), em alguns locais consomem-se os rebentos jovens de forma similar aos espargos. As sementes podem ser utilizadas como substitutas do café. Noutros tempos utilizavam-se os ramos maduros como vassouras, com as quais os talhantes limpavam os blocos de cortar a carne.

22

3. FETO-FOLHA-DE-HERA Nome científico: Asplenium hemionitis L. Origem: Açores, Madeira, ilhas Canárias, Península Ibérica Descrição: Planta herbácea, vivaz, de rizoma curto e frondes persistentes com 10-35cm, dispostas em tufo frouxo, semelhantes a folhas de hera. Na página inferior das frondes é possível observar os soros lineares e alongados. Esta espécie encontra-se apenas nas regiões de Mafra e Sintra, em sítios húmidos e sombrios, nas fendas de muros ou nas paredes musgosas de tanques e poços. É frequentemente confundida com a hera que ocupa o mesmo habitat.

FIGURA 15 – Folha de Feto-folha-de-hera

23

FIGURA 16 – Feto-dos-carvalhos

4. FETO-DOS-CARVALHOS Nome científico: Davallia canariensis Origem: Ilhas Canárias, Ilha da Madeira Etimologia: Davallia = em homenagem ao botânico suíço Edmund Davall, do séc. XVIII; canariensis = oriundo das Canárias. Descrição: Feto decíduo ou semi-persistente cujas frondes triangulares e de aspecto rendilhado podem atingir cerca de 50cm de comprimento. Os rizomas, habitualmente conspícuos, parecem estar cobertos por pequenas escamas que fazem lembrar papel. Trata-se de uma espécie epifítica que cresce sobre troncos de árvores, evitando a competição com outras espécies no solo e procurando condições ideais de insolação, normalmente logo abaixo da copa. É um dos fetos mais tolerantes ao frio, nunca suportando, porém, temperaturas negativas. O seu nome comum deve-se ao facto de crescer preferencialmente sobre os troncos dos carvalhos por estes apresentarem rugosidades propícias ao desenvolvimento de musgo que retém a água e os nutrientes necessários à sua sobrevivência Curiosidades: Durante muito tempo utilizou-se para baixar a febre e como sudorífero, assim como na cura de doenças venéreas. Hoje em dia está demonstrado que não é uma planta muito activa e já pouco se utiliza em preparados farmacêuticos.

24

O PERIGO DAS EXÓTICAS O problema coloca-se quando as espécies exóticas se tornam invasoras, ameaçando a sobrevivência das espécies indígenas, e não forçosamente pela introdução controlada de espécies exóticas. As espécies invasoras são, pois, aquelas que têm a capacidade de competir e, frequentemente, substituir outras espécies nos seus habitats naturais. Adaptam-se eficazmente aos novos ambientes e distribuem-se rapidamente para além dos locais onde foram introduzidas, passando a interferir com o desenvolvimento natural das comunidades invadidas. Legislação Em Portugal, tal como em muitos outros países, existe legislação que proíbe a introdução de qualquer espécie sem que, para o efeito, sejam requeridas as autorizações necessárias. No dia 21 de Dezembro de 99 foi aprovado na Assembleia da República um Decreto-Lei nº 565/99 elaborado pelo ICN. Este decreto regulamenta a introdução de espécies exóticas da flora e da fauna em Portugal. Faz a listagem das espécies que já foram introduzidas, das que são invasoras e também das espécies exóticas que têm interesse para arborização. Pretende, também, focalizar o problema da chamada "globalização" do Planeta, pois sem a existência deste tipo de legislação as espécies deixariam de ser "típicas" de um dado local, e passariam a não existir fronteiras entre as várias zonas ambientais. Exemplo 1. ACÁCIAS As acácias são árvores invasoras devido à enorme facilidade que têm de se propagarem, à sua capacidade de competirem com outras espécies de árvores e à grande adaptabilidade a vários tipos de solos e climas. Mesmo quando cortadas pela raiz conseguem voltar a rebentar e as

25

suas sementes estão adaptadas a permanecer anos no solo à espera de condições propícias para germinarem (≅ 600 anos). São consideradas pirófilas, isto é, são beneficiadas pelo fogo. De facto, em zonas ardidas em que existam sementes de acácias no solo, estas costumam ser as primeiras e únicas a germinar após o incêndio, graças à sua resistência ao fogo. É por esse motivo que vastas áreas ardidas se tornam posteriormente acaciais. Como crescem muito rapidamente, ensombrando o solo, não permitem a recolonização de outras espécies. Ao mesmo tempo não fornecem alimento e habitat às espécies animais autóctones. Por esse motivo são uma espécie de “deserto verde”. Foi o que aconteceu em muitas zonas da serra de Sintra, afectadas pelos incêndios e, posteriormente, dominadas por povoamentos densos de Acacia melanoxylon R. Br.. Por volta de 1880, terão sido introduzidos alguns exemplares de Acacia melanoxylon R. Br. na Tapada do Mouco (anexa ao parque da Pena). Este local funcionou como foco de expansão de carácter invasor desta espécie, que actualmente se encontra dispersa por toda a serra de Sintra.

FIGURA 17 – Folhas e flores de acácia

26

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Coombes, A. J. (1992). Trees. Dorling Kindersley, 320 pp. London

Lopéz-Gonzaléz, G. (2001). Los árboles y arbustos de la Península Ibérica e Islas Baleares (Especies silvestres y las principales cultivadas. Ed. Mundi-Prensa, 1727 p. Madrid Mitchell, A.; Wilkinson, J. (1983). Los árboles de Europa. Omega, 271 pp. Barcelona.

27

CONSULTAS ON-LINE Costa, José Carlos. Conceitos e métodos da Fitossociologia: Formulação contemporânea e métodos numéricos de análise da vegetação. Silva.Lus. [on-line]. jun 2004, vol.12, no12, no.1. [citado 08 Agosto 2006], p.131-131. Disponível na World Wide Web: http://scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870 63522004000200016&Inq=pt&nrm=isso Freitas, Helena. Exóticas e Invasoras [on-line]. Disponível na World Wide Web: http://www.naturlink.pt/canais/artigo.asp?iCanal=1&iSubCanal=11&iArtigo=7600&iLingua=1

28

GLOSSÁRIO

• Anfíbio – Pequeno animal de pele mole, permeável, geralmente húmida e sem escamas que podemos encontrar na água e em locais húmidos. Possui, geralmente, a capacidade de respirar dentro e fora de água.

• Autóctone – Originário do local onde se encontra. • Biodiversidade – Variedade de organismos vivos de

todas as origens, compreendendo, entre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte. Compreende, ainda, a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas.

• Biologia – Ciência que estuda a vida. • Caducifólio – ver Decíduo. • Canibalismo – Relação entre organismos da mesma

espécie em que um se alimenta do outro. • Cladódio – Porção de caule dilatado e que apresenta o

aspecto de uma folha. • Clorofila – Pigmento verde, existente nas plantas e

noutros organismos fotossintéticos que desempenha um importante papel na captação da energia luminosa durante a fotossíntese.

• Competição – Relação entre seres vivos, que podem ou não ser da mesma espécie, em que se prejudicam mutuamente.

• Córnea (placa) – Estrutura de consistência rija, semelhante a uma escama, que cobre a pele de alguns répteis.

• Decíduo ou caduco – Diz-se de qualquer parte de um vegetal que cai depois do seu completo desenvolvimento.

• Desovar – Fazer uma postura. • Dimorfismo sexual – Distinção dos machos e das

fêmeas de uma dada espécie pelas características externas que apresentam.

29

• Dióica – Espécie vegetal em que as estruturas reprodutoras masculinas e femininas se encontram separadas em árvores diferentes.

• Ecolocalização – Modo de orientação semelhante ao de um radar que consiste na emissão e recepção de ondas.

• Ecossistema – Sistema ecológico formado pelo ambiente e pelos seres vivos que nele vivem e com o qual se relacionam.

• Endemismo – Fenómeno que consiste na ocorrência de espécies ou de subespécies animais ou vegetais numa única área restrita e relativamente isolada.

• Entomófila – Diz-se da polinização assistida pelos insectos.

• Entomologia – Ciência que estuda os insectos. • Epidérmico – Relativo à pele. • Epifítico – Vegetal que cresce sobre outro vegetal sem

que se verifique parasitismo. • Espécie – Conjunto de organismos anatómica e

fisiologicamente semelhantes e que, em condições naturais, se cruzam entre si, dando origem a descendentes férteis.

• Esporos - Células reprodutoras dos fetos e outros organismos.

• Evapotranspiração – Libertação de vapor de água pelos organismos vegetais.

• Exótico – Animal ou planta que não é natural do local para o qual foi transportado.

• Flor (estruturas) – ver figura – Constituição de uma flor completa:

30

• Fotossíntese – Processo que consiste na utilização da energia luminosa, para libertar a energia química contida em substâncias inorgânicas, de modo a permitir a produção de substâncias orgânicas.

• Fronde – Nome que se dá à folhagem dos fetos e das palmeiras.

• Habitat – Local que oferece as condições apropriadas à vida de um ser vivo.

• Herbácea – Planta cujo caule é mole e não produz madeira. Geralmente mais pequena que os arbustos e as árvores.

• Inflorescência – Disposição das flores e das folhas no caule.

• Intrusão magmática – Aprisionamento de uma bolha de magma no interior da crosta terrestre, que depois de solidificar emerge à superfície .

• Invertebrado – Animal que não possui esqueleto interno.

• Magma – Material fundido, rico em gases, que se encontra no interior da Terra.

• Manta morta – ver Húmus. • Metamorfose – Conjunto de transformações que ocorre

no corpo de alguns animais desde que nascem até à fase adulta.

• Microclima – Conjunto de condições climatéricas específicas de um local, geralmente devido às condições geográficas existentes.

• Nutriente – Substância que constitui os alimentos e que é necessário à vida.

• Ovíparo – Animal que se desenvolve fora do corpo materno, dentro de um ovo que lhe fornece as substâncias necessárias ao seu desenvolvimento.

• Ovovivíparo – Animal que se desenvolve dentro de um ovo, no interior do corpo materno.

• Pecilotérmico – Animal de sangue frio. • Perene – Que dura todo ano. • Polinização – Transporte de pólen desde as anteras até

ao estigma de uma flor.

31

• Predação – Relação entre organismos de espécies diferentes em que um sai beneficiado e o outro sai prejudicado a ponto de ser eliminado.

• Queratina – Proteína fibrosa, principal componente das unhas, do cabelo, da camada exterior da pele, das penas, dos chifres, etc.

• Rizoma – Caule subterrâneo alongado, que cresce na posição horizontal e acumula substâncias de reserva.

• Romantismo – Movimento cultural que surge no século XVIII e que se caracteriza pela exaltação da subjectividade, do individualismo, da natureza e do mundo medieval e oriental.

• Sazonal – Que se verifica numa época ou estação do ano.

• Sedentário – Animal que não necessita de efectuar deslocações de grandes distâncias (migrações) para assegurar a sua sobrevivência.

• Semi-persistente – Estado intermédio entre decíduo e perene dependendo das condições ambientais.

• Simbiose – Relação de cooperação duradoura e obrigatória entre dois organismos de espécies diferentes.

• Soros – Receptáculos de esporos que se encontram na página inferior das frondes dos fetos.

• Taxonomia – Classificação científica. • Ubiquista – Indivíduo bem adaptado a uma grande

diversidade de condições ambientais. • Unissexuado – Que só possui um sexo.

32

© Parques de Sintra – Monte da Lua, SA Núcleo de Programação e Ambiente

Parque de Monserrate, 2710 – 405 Sintra Tel.: 21 923 73 15 l Fax: 21 923 73 60

E-mail: [email protected]