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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com

INSTITUTO TEOLGICO GAMALIEL

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com CURSO BACHAREL EM TEOLOGIA Matria: HISTRIA DA IGREJA

INTRODUO: O panorama que se nos apresenta no cenrio religioso moderno seja talvez uma das muitas razes que nos levou a fazer um acurado e profundo estudo da Igreja do Novo Testamento, assim como o seu posterior desenvolvimento histrico. Portanto so dois assuntos de importncia: (1) A forma e modelo da Igreja do Novo Testamento e... (2) Seu posterior desenvolvimento dentro da histria. E nesse estudo histrico comprovamos, com surpresa, que j a partir do segundo sculo a grande maioria da Igreja trilhou o caminho da apostasia. Era, sem lugar a dvidas, as palavras do apstolo Paulo que estavam tendo seu cumprimento: Eu sei que, depois da minha partida, entre vs penetraro lobos vorazes, que no pouparo o rebanho. E que, dentre vos mesmos, se levantaro homens falando coisas pervertidas para arrastar os discpulos atrs deles. Atos 20:2930. Todo historiador que procura pesquisar os primeiros 500 anos da Igreja concorda com o fato de que realmente aconteceu esse lamentvel quadro de apostasia e desvio da verdade. Estes eventos histricos devem ser sucessivamente colocados diante do povo honesto, para que Deus, de alguma maneira, atravs do ensino desses tristes fatos possa mover o corao de alguns para corrigir os desvios, endireitar as veredas e se esforar na restaurao. Uma lembrana que a Bblia insiste em fazer: "Lembrate dos dias da antigidade, atenta para os anos de muitas geraes: pergunta a teu pai e ele te informar, aos teus ancios e eles te diro" Deuteronmio 32:7. Devemos voltar ao passado para examinar acuradamente os fatos e assim comprovar como eram os acontecimentos reais, e aprender com os apstolos como era a Igreja que Jesus fundou. Um longo e exaustivo trabalho poderia ser apresentado usando o grande acervo de documentos em nossos arquivos, mas isso seria cansativo e erudito demais. Um trabalho, quem sabe, de uma tese posterior. O propsito, portanto, desta disciplina outro, apresentar, uma sntese, um resumo dos fatos principais, retendo as idias bsicas. Tendo em vista

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com apresentar de forma clara os fatos como eles so, sem procurar encobrir a verdade por mais dura e triste que seja. O plano e estrutura desta disciplina: O plano desta disciplina fcil de se ver. Ele dividido em trs partes, cada uma desenvolvendo um tema determinado e especfico, o que facilita o estudo individual ou em grupo. Pensamos fazer assim, pois, importante o estudo e a compreenso de uma parte para logo em seguida passar para a segunda parte.

Acreditamos ser a Bblia a autntica Palavra de Deus, a qual foi escrita para nosso conhecimento e aperfeioamento na f, conforme afirmam as seguintes passagens: Na verdade fez Jesus diante dos discpulos muitos outros sinais que no esto escritos neste livro. Estes, porm, foram registrados para que creiais que Jesus o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo tenhais vida em seu nome. Joo 20:3031. Fiel a Palavra e digna de inteira aceitao. 1 Timteo 4:9. A mensagem de Deus est completa na Bblia e nos fornece todo o necessrio para nossa vida e salvao. No precisamos de qualquer revelao ou nova doutrina, seno unicamente as diretrizes de Cristo e dos apstolos. Algumas consideraes que so importantes em relao com a Igreja. Em primeiro lugar faremos uma breve resenha do Imprio Romano, pois foi neste cenrio histrico que a Igreja se desenvolveu, estudamos alguma coisa tambm das leis e processos da legislao romana para compreender melhor o julgamento ao qual Jesus foi submetido e as razes pelas quais a igreja foi perseguida pelo Imprio. 1. 0 que conhecemos hoje como "Cristianismo" ou religio crist comeou com Cristo entre os anos 25 e 30 da nossa era, dentro dos limites do Imprio Romano. Este foi um dos maiores imprios que o mundo tem conhecido em toda a sua histria. 2. O Imprio Romano abrangia quase a totalidade do mundo conhecido e habitado. Nessa poca Tibrio Csar era o seu imperador.

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com 3. Quanto religio o Imprio Romano era pago. Tinha uma religio politesta, isto , de muitos deuses. Alguns eram deuses que representavam as foras da natureza e outros deuses eram imaginrios. Havia muitos devotos e adoradores desses deuses. No era simplesmente uma religio do povo, mas tambm do Imprio. Era uma religio oficial. Estabelecida pela lei e protegida pelo governo. Apresentamos a seguir uma sntese do Imprio Romano, para um panorama bblico que fornece dados histricos e culturais para compreender o ambiente em que se desenvolveu a Igreja. IMPRIO ROMANO (27 a.C. a 476 d.C.) Depois de um sculo de lutas civis, o mundo romano estava desejoso de paz. Octavius Augustus se encontrou na situao daquele que detm o poder absoluto num imenso imprio com suas provncias pacificadas e em cuja capital a aristocracia se encontrava exausta e debilitada. O Senado no estava em condies de oporse aos desejos do general, detentor do poder militar. A habilidade de Augustus nome adotado por Octavius em 27 a.C. consistiu em conciliar a tradio Repblica de Roma com a de monarquia divinizada dos povos orientais do imprio. Conhecedor do dio ancestral dos romanos instituio monrquica, assumiu o ttulo de imperador, por meio do qual adquiriu o Imperium, poder moral que em Roma se atribua no ao rei, mas ao general vitorioso. Sob a aparncia de um retorno ao passado, Augustus orientou as instituies do estado romano em sentido oposto ao republicano. A burocracia se multiplicou, de forma que os senadores se tornaram insuficientes para garantir o desempenho de todos os cargos de responsabilidade. Isso facilitou o ingresso da classe dos cavaleiros na alta administrao do imprio. Os novos administradores deviam tudo ao imperador e contribuam para fortalecer seu poder. Pouco a pouco, o Senado at ento domnio exclusivo das antigas e grandes famlias romanas passou a admitir italianos e, mais tarde, representantes de todas as provncias. A cidadania romana ampliouse lentamente e somente em 212 d.C. o imperador Marcus Aurelius Antoninus, dito Caracalla, reconheceu todos os sditos do imprio. O longo perodo durante o qual Augustus foi senhor dos destinos de Roma, entre 27 a.C. e 14 d.C., caracterizouse pela paz interna (Pax Romana), pela consolidao das instituies imperiais e pelo desenvolvimento econmico. As fronteiras europias foram fixadas no Reno e no Danbio, completouse a dominao das regies montanhosas dos Alpes e da Pennsula Ibrica e empreendeuse a conquista da Mauritnia.

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com Imperador Octavius Augustus. O maior problema, porm, que permaneceu sem soluo definitiva, foi o da sucesso no poder. Nunca existiu uma ordem sucessria bem definida, nem dinstica nem eletiva. Depois de Augustus, se revezaram no poder diversos membros de sua famlia. A histria salientou as misrias pessoais e a instabilidade da maior parte dos imperadores da Dinastia JuliusClaudio como Caius Julius Caesar Germanicus, Calgula, imperador de 37 a 41 d.C., e Nero, de 54 a 68 d.C. provvel que tenha havido exagero, pois as fontes histricas que chegaram aos tempos modernos so de autores que se opuseram de frente a tais imperadores. Mas se a corrupo e a desordem reinavam nos palcios romanos, o imprio, solidamente organizado, parecia em nada se ressentir. O sistema econmico funcionava com eficcia, registravase uma paz relativa em quase todas as provncias e alm das fronteiras no existiam inimigos capazes de enfrentar o poderio de Roma. Na Europa, sia e frica, as cidades, bases administrativas do imprio, cresciam e se tornavam cada vez mais cultas e prsperas. As diferenas culturais e sociais entre as cidades e as zonas rurais que as cercavam eram enormes, mas nunca houve uma tentativa de diminulas. Ao primitivo panteo romano juntaramse centenas de deuses e, na religio como no vesturio e em outras manifestaes culturais, difundiramse modismos Egpcios e Srios. A partir de suas origens obscuras na Judia, o cristianismo foise aos poucos propagando por todo o imprio, principalmente entre as classes baixas dos ncleos urbanos. Em alguns momentos, o rgido Monotesmo de Judeus e cristos se chocou com as convenincias polticas, ao oporse divinizao, mais ritual que efetiva, do imperador. Registraramse ento perseguies, apesar da ampla tolerncia religiosa de uma sociedade que no acreditava verdadeiramente em nada. O imprio romano s comeou a ser rgido e intolerante em matria religiosa depois que adotou o cristianismo como religio oficial, j no sculo IV. O sculo II, conhecido como o Sculo dos Antoninus, foi considerado pela historiografia tradicional como aquele em que o Imprio Romano chegou a seu apogeu. De fato, a populao, o comrcio e o poder do imprio se encontravam em seu ponto mximo, mas comeavam a perceberse sinais de que o sistema estava beira do esgotamento. A ltima grande conquista territorial foi a Dcia e na poca de Trajanus (98117 d.C.) teve incio um breve domnio sobre a Mesopotmia e a Armnia. Depois dessa poca, o imprio no teve mais foras para anexar novos territrios. A da causa da decadncia de Roma. Apesar da paz interna e da criao de um grande mercado comercial, a partir do sculo II no se registrou nenhum desenvolvimento econmico e provavelmente tambm nenhum crescimento populacional. A Itlia continuava a registrar uma queda em sua densidade demogrfica, com a emigrao de seus habitantes para

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com Roma ou para as longnquas provncias do Oriente e do Ocidente. A agricultura e a indstria se tornavam mais prsperas quanto mais se afastavam da capital. No fim do sculo II, comeou a registrarse a decadncia. Havia um nmero cada vez menor de homens para integrar os exrcitos, a ausncia de guerras de conquista deixou desprovido o mercado de escravos e o sistema econmico, baseado no trabalho da modeobra escrava, comeou a experimentar crises em conseqncia de sua falta, j que os agricultores e artesos livres haviam quase desaparecido da regio ocidental do imprio. Nas fronteiras, os povos brbaros exerciam uma presso crescente, na tentativa de penetrar nos territrios do imprio. Mas se terminaram por conseguilo, isso no se deveu a sua fora e sim extrema debilidade de Roma. O sculo III viu acentuarse o aspecto Militar dos Imperadores, que acabou por eclipsar todos os demais. Registraramse diversos perodos de anarquia militar, no transcurso dos quais vrios imperadores lutaram entre si devido diviso do poder e dos territrios. As fronteiras orientais, com a Pseia, e as do norte, com os povos germnicos, tinham sua segurana ameaada. Bretanha, Dcia e parte da Germnia foram abandonadas ante a impossibilidade das autoridades romanas de garantir sua defesa. Cresceu o banditismo no interior, enquanto as cidades, empobrecidas, comeavam a fortificarse, devido necessidade de defenderse de uma zona rural que j no lhes pertencia. O intercmbio de mercadorias decaiu e as rotas terrestres e martimas ficaram abandonadas. Um acelerado declnio da populao ocorreu a partir do ano 252 d.C., em conseqncia da peste que grassou em Roma. Os imperadores Aurelianus, regente de 270 a 275 d.C., e Diocletianus, de 284 a 305 d.C., conseguiram apenas conter a crise. Com grande energia, o ltimo tentou reorganizar o imprio, dividindoo em duas partes, cada uma das quais foi governada por um Augusto, que associou seu governo a um Caesar (Csar), destinado a ser o seu sucessor. Mas o sistema da Tetrarquia no deu resultados. Com a abdicao de Diocletianus, teve incio uma nova guerra civil. Constantino I favoreceu o cristianismo, que gradativamente passou a ser adotado como religio oficial. O desgaste do mundo romano era tal que a antiga diviso administrativa se transformou em diviso poltica a partir de Theodosius, imperador de 379 a 395 d.C. O ltimo a exercer sua autoridade sobre todo o imprio. Este adotou a Ortodoxia Catlica como religio oficial, obrigatria para todos os sditos, pelo edito de 380 d.C. Theodosius I conseguiu preservar a integridade imperial tanto ante a ameaa dos brbaros quanto contra as usurpaes. No entanto, sancionou a futura separao entre o Oriente e o Ocidente do imprio ao entregar o governo de Roma a seu filho Honorius, e o de Constantinopla, no Oriente, ao primognito, Arcadius. A parte oriental conservou uma maior vitalidade demogrfica e econmica, enquanto

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com que o imprio ocidental, no qual diversos povos brbaros efetuavam incurses, umas vezes como atacantes outras como aliados, se decomps com rapidez. O rei godo Alarico saqueou Roma no ano 410 d.C. As foras imperiais, somadas s dos aliados brbaros, conseguiram, entretanto uma ltima vitria ao derrotar tila nos Campos Catalanicos, em 451 d.C. O ltimo imperador do Ocidente foi Romulus Augustus, deposto por Odoacrus no ano 476d.C., data que mais tarde viria a ser vista como a do fim da antigidade. O imprio oriental prolongou sua existncia, com diversas vicissitudes, durante um milnio, at a conquista de Constantinopla pelos Turcos, em 1453.

AS DINASTIAS E OS IMPERADORES DE ROMA

DINASTIA DOS JULIUS E CLAUDIUS (27 a.C. a 68 d.C.)

DINASTIA DOS FLAVIUS E ANTONINUS (68 a 193 d.C.)

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DINASTIA DOS SEVERUS (193 a 235 d.C.)

IMPERADORES MILITARES E USURPADORES (235 a 284 d.C.)

TETRARQUIA (284 a 307 d.C.)

CASA DE CONSTANTINUS I O GRANDE (307 a 392 d.C.) CASA DE THEODOSIUS I E FIM DO IMPRIO (392 a 476 d.C.)

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DIREITO ROMANO: "AES DA LEI" INTRODUO. Trs perodos abrangeram a histria do processo compreendendo cada um seu sistema processual tpico: 1. Processo das aes da lei. 2. Processo formulrio. 3. Processo extraordinrio. Essa delimitao apenas convencional, pois apesar das trs fases especficas e distintas, em momentos de mudana, coexistiram dois sistemas processuais diferentes at que o mais antigo casse em desuso. Em nosso estudo abordaremos o sistema das aes da lei, utilizado no direito prclssico. Porm, antes disso, a fim de um melhor entendimento da matria, fazse necessrio o conhecimento de alguns conceitos e da evoluo histrica do processo civil romano. PROCESSO CIVIL ROMANO. O Processo civil romano (Jus actionum) era o conjunto de regras que o cidado romano deveria seguir para realizar seu direito. Para os romanos o vocbulo Jus encerrava, tambm, o sentido que os modernos emprestam a direito subjetivo, ou seja, faculdade ou poder permitido e garantido pelo direito positivo. O direito subjetivo tutelado pela ao (actio) que, no sentido restrito que ainda hoje lhe atribuem, nada mais do que atividade processual mediante a qual o particular procura concretizar a defesa dos direitos, pondo em movimento o aparelho judicirio do Estado. Para isso executa uma srie de atos jurdicos ordenados, o processo. Direito e ao eram conceitos estritamente conexos no sistema jurdico romano. O romano concebia e enunciava o direito mais sob o aspecto processual que material. Durante toda a poca clssica, o direito romano era mais um sistema de actiones e de meios processuais do que de direitos subjetivos. Hoje, temos um conceito genrico de ao; em Roma, a cada direito correspondia uma ao especfica. CARACTERSTICAS DAS AES DA LEI. civil romano,

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com O mais antigo dos sistemas de processo civil romano o das aes da lei (legis actiones), do qual a maior parte das informaes provm das Institutas de Gaius. As aes da lei eram instrumentos processuais exclusivos dos cidados romanos tendo em vista a guarda de seus direitos subjetivos previsto no ius quiritarium, e este sistema processual possua uma estrutura individualizada para situaes expressamente reconhecidas. O processo nesta poca histrica era marcado pela extrema rigidez de seus atos, onde as aes tomavam a forma da prpria lei, conservandose imutveis como esta. Durante este perodo, o direito em Roma vinha de hbitos, costumes, e o conhecimento das regras jurdicas eram monoplio dos sacerdotes, que detinham o conhecimento do calendrio e das normas jurdicas. Conjugavamse o ius e o faz, ou seja, o elemento laico e o elemento religioso. Cercada de formalismo, solenidade e oralidade, com um ritual de gesto e palavras prestabelecidas. A justia romana passa por um processo de secularizao, provocada por alguns aspectos como: a) pela Lei das XII tbuas, consolidando o direito consuetudinrio antigo; b) pela bipartio do procedimento; c) pela criao do pretor urbano em 367 a.C. d) por dois personagens: Appius Claudius, o Cegus (cnsul em 307 e 296 a.C.) e seu escriba Gneo Flavius, que tornou pblico aos cidados os formulrios das aes da lei, antes, detidos apenas pelos pontfices e pelo rex, nicos conhecedores das palavras sacramentais de cada actio. . a dvida do tribunus aerarii em relao ao soldo (stipendium) do soldado; . a dvida das pessoas responsveis para contribuir com a compra e manuteno do cavalo para com o soldado de cavalaria; . a dvida do comprador de animal para com o vendedor; . a dvida do locatrio de um animal de carga em relao ao locador desde que este animal estivesse destinado a sacrifcio religioso; . a dvida do contribuinte para com o publicano no tocante aos impostos.

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com O apossamento extra judicial dos bens do devedor no conferia direito de uso da coisa ao credor, mas somente de mantla em seu poder at que fosse honrada a dvida. LEGADO DE ROMA A civilizao romana foi original e criadora em vrios campos: o Direito Romano, codificado no sculo VI, ao tempo do imperador Justinianus, constituiu um corpo jurdico sem igual nos tempos antigos e forneceu as bases do direito da Europa medieval, alm de ter conservado sua vigncia, em muitas legislaes, at os tempos modernos. As estradas romanas, perfeitamente pavimentadas, uniam todas as provncias do imprio e continuaram a facilitar os deslocamentos por terra dos povos que se radicaram nas antigas terras imperiais ao longo dos sculos, apesar de seu estado de abandono. Conservaramse delas grandes trechos e seu traado foi seguido, em linhas gerais, por muitas das grandes vias modernas de comunicao. As obras pblicas, tais como pontes, represas e aquedutos ainda causam impresso pelo domnio da tcnica e o poderio que revelam. Muitas cidades europias mostram ainda em seu conjunto urbano os vestgios das colnias romanas que foram no passado. Se, em linhas gerais, a Arte Romana no foi original, Roma teve o mrito de haver sabido transmitir posteridade os feitos dos artistas gregos. Os poucos vestgios que sobreviveram da pintura romana mostram que as tradies gregas continuavam vivas. Os temas indicam a crescente preocupao religiosa, a servio dos imperadores divinizados; referemse, principalmente, imortalidade da alma e vida de almtmulo. O cristianismo se valeu do Imprio Romano para sua expanso e organizao e depois de vinte sculos de existncia so evidentes as marcas deixadas por ele no mundo romano. O latim, idioma que a expanso romana tornou universal, est na origem das atuais lnguas romnicas, tais como o espanhol, o italiano, o portugus, o francs, o catalo e o romeno. Depois de quase dois mil anos, podese ainda falar de um mundo latino de caractersticas bem diferenciadas.

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com ROMA

ARTE ROMANA Roma um dos centros culturais mais importantes do Ocidente e boa parte de seus monumentos remonta antiguidade. Caius Mecenas, conselheiro do imperador Augustus, que reinou no final do sculo I a.C., foi o primeiro dos grandes patronos da arte. Em sua poca surgiram o conhecedor de arte e o turista em busca de tesouros culturais e, pela primeira vez, os artistas obtiveram o mesmo prestgio que polticos e soldados. Arte romana o conjunto das manifestaes culturais que floresceram na pennsula itlica do incio do

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com sculo VIII a.C. at o sculo IV d.C., quando foram substitudas pela arte crist primitiva. As criaes artsticas dos romanos, sobretudo a arquitetura e as artes plsticas, atingiram notvel unidade, em conseqncia de um poder poltico que se estendia por um vasto imprio. A civilizao romana criou grandes cidades e a estrutura militar favoreceu as construes defensivas, como fortalezas e muralhas, e as obras pblicas (estradas, aquedutos, pontes etc.). O alto grau de organizao da sociedade e o utilitarismo do modo de vida romano foram os principais fatores que caracterizaram sua produo artstica. COLISEU

Vista lateral do Coliseu detalhe em maquete da antiga Roma. "Enquanto o Coliseu se mantiver de p, Roma permanecer; quando o Coliseu ruir, Roma cair e se acabar o mundo". A profecia do monge ingls Venervel Beda d a medida do significado que teve para Roma o anfiteatro Flvio, ou Coliseu (Colosseo em italiano), nome que alude a suas propores grandiosas. O Coliseu erguese no lugar antes ocupado pela Domus Aurea, residncia do imperador Nero. Sua construo foi iniciada por Vespasianus por volta do ano 70 da era crist. Titus inaugurouo em 80 e a obra foi concluda poucos anos depois, na poca de Domitianus. A grandiosidade desse monumento testemunha o poderio e o esplendor de Roma na poca dos Flvios, famlia

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com a que pertenciam esses imperadores. O edifcio inicial, de trs andares, comportava mais de cinqenta mil espectadores. Dois sculos depois, sua capacidade foi ampliada para quase noventa mil, quando os imperadores Severus Alexander e Gordianus III acrescentaram um quarto pavimento. O Coliseu foi construdo em mrmore, pedra travertina, ladrilho e tufo (pedra calcria com grandes poros). Sua planta elptica e os eixos medem aproximadamente 190 por 155m. A fachada se compe de arcadas decoradas com colunas dricas, jnicas e corntias, de acordo com o pavimento. Os assentos so de mrmore e a cavea, escadaria ou arquibancada, dividiase em trs partes, correspondentes s diferentes classes sociais: o podium, para as classes altas; as maeniana, setor destinado classe mdia; e os portici ou prticos, para a plebe e as mulheres. A tribuna imperial ou pulvinar ficava no podium e era ladeada pelos assentos reservados aos senadores e magistrados. Por cima dos muros ainda se podem ver as msulas que sustentavam o velarium, grande cobertura de lona destinada a proteger do sol os espectadores.

MOEDA ROMANA As moedas romanas oferecem uma viso nica da antiga vida romana, porque eram usadas diariamente por todos, do imperador ao mais simples cidado de Roma ou de alguma Provncia e Colnia do Imprio. As moedas nos mostram muito sobre o que era importante para o povo romano: como eles celebravam suas festas, seus feriados, ocasies religiosas e seus deuses; como os imperadores queriam ser vistos pelo seu povo atravs das "virtudes" cunhadas em suas moedas; alm de nos dar excelentes retratos dos

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com imperadores, de suas esposas e filhos, dos famosos edifcios e templos h muito tempo transformados em runas. COMO ERAM FEITAS AS MOEDAS ROMANAS: Durante o imprio romano as moedas eram "golpeadas". No havia nenhum processo de cunhagem atravs de mquinas ou algum processo sistemtico, cada moeda era "golpeada mo". Primeiro o gravador criava dois punes feitos em bronze, um para o verso (onde aparecem comumente as "efgies" dos imperadores) e um para o reverso (onde aparecem as "propagandas" da poca). O gravador esculpia os desenhos da moeda atravs de entalhes feitos nos punes. O puno do verso era colocado em uma mesa, ento um disco de metal, que normalmente era aquecido, era colocado sobre ele. O puno reverso era colocado em cima do disco de metal e era ento "golpeado" por um martelo. BIBLIOGRAFIA ALVES, J. C. M. Direito Romano; Editor Borsoi, RJ, 1965, vol. 1, c. XVII E XVIII. TRICI, J. R. C.; AZEVEDO, L.C. Lies de Histria do Processo Civil Romano; Ed. Revista dos Tribunais, c. 3,4 e 5 JNIOR, J. CRETELLA Curso de Direito Romano; 19 edio; Ed. Forense; Rio, 1995. Consideremos brevemente o mundo judaico na poca de Jesus. 4. O povo judeu deste perodo no constitua propriamente uma nao separada, uma vez que se encontravam judeus espalhados atravs de todo o Imprio. Eles tinham ainda o seu templo em Jerusalm e ali vinham adorar a Deus; estavam, pois, at orgulhosos de sua religio. Mas, semelhantemente aos pagos encheramse de formalismo e perderam seu poder. A Igreja e seu panorama histrico. 5. A Igreja de Cristo em seus primrdios no procurou secularizarse, nem buscar qualquer apoio de qualquer governo. Ela no procurou destronar a Csar. Disse Jesus: "Dai pois a Csar o que de Csar e a Deus o que de Deus" (Mateus 22:1922; Marcos 12:17; Lucas 20:20). Sendo uma religio espiritual, no visava rivalizar com os governos terrenos. Seus aderentes, ao contrrio, eram ensinados a respeitar todas as leis civis, como tambm

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com os governos. (Romanos 13:17, Tito 3:1, I Pedro 2:1316). Havia, portanto, uma clara distino entre igreja e estado. Isso permaneceu assim nos primeiros trs sculos. 6. A seguir, desejamos chamar sua ateno para algumas das caractersticas ou sinais da Igreja de Cristo a religio crist. Neste curso vamos traar uma linha atravs destes 21 longos sculos, e com especial ateno, vamos nos concentrar nos 1.200 anos, conhecidos pelos historiadores como anos de trevas espirituais e estagnao intelectual. Foram estes 1.200 anos os que marcaram o estabelecimento definitivo de um sistema religioso opositor da verdade. Verdade que foi muitas vezes escurecida e terrivelmente desfigurada. No obstante haver sempre alguma caracterstica indelvel, alguns poucos fieis, esparsos. Alguns fatos lamentveis de perseguio, mas, que nos deixaro de sobreaviso, cuidadosos e suplicantes para que esses fatos no voltem a se repetir. Encontraremos dos opositores da verdade muita hipocrisia como tambm muita farsa.

PARTE 1 1. A Igreja do Novo Testamento. A histria da Igreja o mais interessante estudo que pode ser encontrado em qualquer literatura, no s para aprender sobre a origem e misso da Igreja, como tambm de suas lutas e triunfos. A Igreja a instituio pela qual Jesus Cristo deu sua vida, foi por ela que Jesus morreu na cruz. Jesus curou muitos doentes, que possivelmente tiveram outras doenas, envelheceram e morreram. Jesus tambm ressuscitou a muitos, os quais voltaram a morrer. Porm, o nico que permaneceu foram Seus ensinos deixados para a Instituio da qual ele falou que o inferno no prevaleceria contra ela. Isto demonstra o lugar que a igreja ocupa no corao do Salvador. Alm disso, dada importncia que Jesus Cristo deu a Sua Igreja impossvel ficar indiferente diante do lamentvel quadro apresentado nos dias de hoje pelos professos seguidores do Mestre Jesus. Talvez a maioria pense que a Igreja sempre foi assim, do jeito que a vemos hoje, da forma e maneira em

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com que as denominaes a apresentam, isso acontece porque se est ocultando do povo a forma e maneira em que a Igreja do Novo Testamento era. 2. O Propsito da Investigao. Nosso primeiro alvo ser para obter uma clara compreenso do que e como era a Igreja de Cristo na poca do Novo Testamento. Se nos pudermos identificar como era a Igreja do Novo Testamento teremos ento o modelo de Igreja que Jesus estabeleceu, e poderemos medir por esse modelo a organizao, culto e adorao da igreja moderna. ALGUMAS CARACTERSTICAS CERTAS Se atravessando os sculos encontramos um grupo ou grupos de pessoas fugindo observncia destas caractersticas distintivas e enunciando outras coisas alm das doutrinas fundamentais, ento devemos tomar cuidado. 1. Cristo, o autor da religio crist, reuniu seus seguidores numa organizao, a que chamou "Igreja". E aos discpulos competia a tarefa de organizar e expandir essa organizao com uma metodologia chamada de: "fazer discpulos". Em primeiro lugar percebemos que h UM AUTOR para a organizao da Igreja, e se esse Criador da Organizao chamada Igreja Jesus, poderamos discutir que ela imperfeita? Poderamos alegar que o que Jesus fez precisa se modernizar, porque j est ultrapassada? Acreditamos que a Organizao estabelecida por Jesus e pelos apstolos perfeita e no necessita que homens venham a colocar defeitos e ter assim argumentos para acrescentar modernizao. 2. Nesta organizao chamada Igreja de Cristo (Romanos 16:16), de acordo com o Novo Testamento e com a prtica dos apstolos, desde cedo foram criadas algumas classes de oficiais para o exerccio da liderana: pastores ou presbteros ou ancios (Atos 20:17, etc.); diconos (Atos 6:16; 1 Timteo 3:8); evangelistas (Atos 21:8; Efsios 4:11; 2 Timteo 4:5); mestres (1 Corntios 12:29; Efsios 4:11). O pastor era tambm chamado "bispo". Todos eram escolhidos pela Igreja, e para servirem Igreja. A finalidade e propsito destes chamados: encargos de ministrio sero estudados em detalhes. 3. As Igrejas Locais no seu governo e disciplina eram centralizadas como podemos perceber na deciso que devia ser tomada somente por Jerusalm

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com (veja em Atos 15). A histria comprova que a Igreja que tinha sede centralizada em Jerusalm teve que mais tarde competir com uma outra organizao centraliza em Roma, com certeza uma ficou desmerecida e outra prevaleceu. Era Jerusalm contra Roma. Vamos estudar esta luta entre a transigncia com o mundo, de um lado, e a f e coragem para manter a pureza da f por outro lado, em detalhes na Segunda parte desta disciplina. 4. Igreja de Cristo foram dadas duas ordenanas, e somente duas, o Batismo e a Ceia do Senhor. So memoriais e perptuas. Ordenanas da Igreja sero analisadas luz do Novo Testamento. 5. Somente os "Salvos" eram recebidos para ser membros das Igrejas. (Atos 2:47). Eram salvos unicamente pela graa, sem qualquer obra da lei (Efsios 2:5, 8, 9). Os salvos e eles somente deviam ser imersos em nome do Pai e do Filho e do Espirito Santo (Mateus 28:19). E unicamente os que eram recebidos e batizados participavam da Ceia do Senhor, sendo esta celebrada somente pela Igreja. 6. Somente as Escrituras Sagradas e, em realidade, o Novo Testamento so a nica regra de f e de vida, no somente para a Igreja como organizao, mas tambm para cada crente como indivduo. 7. Cristo Jesus, O fundador da Igreja e O Salvador de seus componentes, o seu nico sacerdote e rei, seu Senhor e legislador e nico cabea da Igreja. Esta executava simplesmente a vontade do Seu Senhor expressa em suas leis completas como inseridas no Novo Testamento, nunca a Igreja legislou ou emendou ou abrigou velhas leis (do Velho Testamento) ou formulou novas. 8. A religio de Cristo era individual, pessoal e puramente voluntria. Sem nenhuma compulso fsica ou governamental. A f era uma matria de exame individual e de escolha pessoal. "Escolhei" a ordem das Escrituras. 9. Note bem! Nem Cristo nem os Seus apstolos deram em qualquer tempo aos seus seguidores designaes como "Catlico". Jesus Cristo chamou "discpulo" ao indivduo que o seguia. Dois ou mais seguidores eram chamados "discpulos", uma mulher que seguia os ensinamentos de Jesus era chamada de discpula (Atos 9:36). A assemblia de discpulos, quer em Jerusalm ou Antioquia ou outra qualquer parte era chamada "Igreja". O conjunto de todas as Igrejas era denominado assim: Igrejas de Cristo (Romanos 16:16). Isto significa que a organizao geral era denominada: Igreja de Cristo. Se nos acreditamos que Cristo Deus, e

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com que Ele resgatou Sua Igreja com seu prprio sangue, ento no h nenhuma contradio em Paulo chamar a Igreja de Cristo como Igreja de Deus (Atos 20:28). A Igreja de Cristo, de Deus, pois foi Ele que diz: edificarei a minha Igreja... (Mateus 16:18), portanto, nada mais justo de que esse nome: Igreja de Cristo, que lembra as primeiras palavras de Jesus em relao a Sua organizao. Tinha a Igreja de Cristo um modelo ou padro a ser seguido? Esse nosso alvo nesta pesquisa histrica e principalmente bblica. Nosso alvo justo, honesta nossa inteno e santo nosso propsito, pois se pudermos determinar com exatido o modelo e padro da Igreja Primitiva, ento nos teremos uma viso do modelo e padro de Igreja pela qual Jesus deu Sua vida. E se esse um modelo e padro a ser imitado, devemos imitar. Nesta pesquisa inicial queremos saber se havia esse modelo de Igreja, com um culto e adorao que servisse de paradigma, isto , de modelo. Uma organizao e administrao estabelecida pelos apstolos e da qual no pudessem se desviar. Queremos saber se qualquer inovao acrescentada a esse modelo seria possvel e ao mesmo tempo permitido. Ou se qualquer acrscimo era visto pelos apstolos como apostasia. INCIO DA APOSTASIA

A formao do cristianismo e a sua propagao como religio histrica foi resultado exclusivo do testemunho e da interpretao da pessoa de Jesus Cristo. Notar este fato essencial orientao da obra de evangelizao e missionria em qualquer tempo e lugar. O Cristianismo implantouse e propagouse pelo mtodo que Jesus Cristo mesmo seguiu no Seu exemplo e ensino. Os discpulos, por exemplo, eles foram escolhidos e treinados por Jesus para que dessem muito fruto e fruto que fosse permanente. Os discpulos tiveram convvio com Jesus, essa experincia, mais tarde foi interpretada pelo Esprito Santo e tornouse vida e poder neles. A tarefa dos discpulos era a de serem testemunhas de Jesus em Jerusalm, na Judia, em Samaria e at os confins da terra. Este era tambm o mtodo e o programa geogrfico para a sua obra. mediante o testemunho e a interpretao da pessoa de Jesus Cristo feita pelos apstolos e outros cristos que o Cristianismo se estabeleceu e , nesta mesma base, a nosso ver, que a histria da Igreja precisa ser estudada. Destacamos sempre a palavra ensino, como mtodo eficaz para o estabelecimento da Igreja de Cristo.

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com Voc comprovar neste estudo que a tnica da mensagem era a didtica, o ensino e exposio da palavra em forma de estudo bblico. Quando a igreja, a partir do segundo sculo em diante perdeu a metodologia por Jesus para seu crescimento, ento se enveredou pelo caminho da apostasia. Quando a igreja comeou a usar outros mtodos e deixou o ensino da Palavra como prioridade, se perdeu no mtodo especulativo. Mateus 4:23 demonstra que a prioridade no ministrio de Jesus era o ensino, pois Mateus coloca esta metodologia em primeiro lugar, (veja o texto paralelo em Mateus 9:35). O longo discurso registrado em Mateus captulos 5, 6 e 7, conhecido como Sermo da Montanha, na verdade no um sermo, pois se prestamos ateno Mateus declara o seguinte: E, abrindo a sua boca os ensinava, dizendo: (Mateus 5:2). Portanto, o mtodo empregado por Jesus na montanha no de um sermo e sem o de um Mestre ensinando. As palavras ali registradas so a apresentao de um ensino, na forma de um estudo bblico, um ensinamento (veja Mateus 5:2 e compare com Mateus 5:19). Principalmente notamos que na narrativa que Mateus faz dos captulos 5, 6, e 7 faz questo de deixar claro que se trata de mtodo de ensino de princpio a fim (veja para o incio Mateus 5:2 e para o final, Mateus 7:29) De princpio a fim ensinamento e no um sermo. Em Mateus 11:1 de novo o apstolo, ao narrar as atividades de Jesus coloca em primeiro lugar o ministrio de ensino Compare com Mateus 13:54. Em Mateus 22:16, podemos ver o reconhecimento que as pessoas fazem do ministrio de Jesus, e de novo deixa claro que era o ensino. Finalmente, devemos ponderar o trecho que conhecido como a Grande Comisso Mateus 28:1920. A ordem dos fatos : 1. Fazei discpulos. 2. Batizandoos. 3. Ensinandoos. Notamos de novo a ordem para que os seguidores de Jesus, aqueles que deveriam continuar o trabalho da Igreja no poderiam inventar moda e criar outros mtodos diferentes.

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com A Igreja de Cristo, aquela que Ele fundou, segue a mesma orientao dada pelo Seu Mestre, dando prioridade e a devida importncia ao ensino das verdades bblicas. Aqui se comprova uma tarefa enorme, a tarefa de ensinar o povo de Deus. Ministrar no apenas belos sermes, mas principalmente, e acima de tudo ENSINAR. Mais estudo e menos diverso. Na declarao de Jesus: sermeeis testemunhas (Atos 1:8) est implicitamente revelado que o Cristianismo essencial o Cristo implantado no corao dos homens atravs da sua experincia com Jesus, esta obra interior, que em palavras mais bblicas podese chamar de Justificao pela F, ao ser interpretada pelo Esprito Santo tem como resultado natural o testemunho cristo. Portanto, o testemunho cristo, que era o impulso e motivao dos crentes do primeiro sculo, era a alegria de ser justificado. Cristianismo consiste primariamente na presena do prprio Cristo nos cristos, logo em seguida no ensinamento de doutrina, e s depois a instituio. pela obra do Esprito Santo que Jesus foi feito Cristo e Senhor. Pela interpretao e divulgao deste fato pelos apstolos surgiu o Cristianismo como religio histrica. O Cristianismo essencial ou histrico, repitamos, o Jesus da histria como Cristo nos homens. Este fato nem sempre tem recebido de ns a devida ateno. Para compreendermos a situao do Cristianismo em qualquer perodo da histria, precisamos verificar o destaque que nele foi dado pessoa de Jesus Cristo. Tambm, se desejamos avivar nosso trabalho de testemunho, precisamos dar a devida ateno pessoa de Jesus Cristo. Precisamos distinguir entre o Cristianismo essencial ou histrico e o Cristianismo moderno que muitas vezes procuramos implantar nos homens. O mtodo e xito para isto no depende de formularmos uma doutrina ou teologia de evangelizao, nem do aperfeioamento dos nossos meios de comunicao. Tudo isto, certamente, tem o seu lugar ou utilidade. O mtodo essencial, porm, deve ser ensinar as pessoas atravs de nosso prprio testemunho do que significa Jesus Cristo para ns. Freqentemente proclamamos hoje, como Igreja, uma mensagem de justificao, em essncia, Justificao pela F, o que bsico e essencial. Mas, que sentido exato tem esta afirmao para nos mesmo e para o mundo? Que testemunho de interpretao nos poderamos ento dar e realmente damos sobre essa mensagem to diferenciada e importante? Temos uma experincia de justificao? Desejamos aqui despertar a ateno dos alunos para este assunto, mas no podemos examinar em pormenores a sua importncia. Chamamos a ateno

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com para que, no estudo sobre a histria da Igreja, verifiquemos o lugar que a pessoa de Cristo tem tido nos vrios perodos da histria. Abordamos, aqui, apenas o destaque que a pessoa de Jesus Cristo teve na propagao do Cristianismo no perodo do Novo Testamento. 1. A Propagao do Cristianismo em Jerusalm. O Cristianismo como realidade histrica surgiu definitivamente em Pentecostes, se bem que ao certo ela j estava organizada de forma embrionria durante o ministrio de Jesus. O desenvolvimento comeou com a vinda do Esprito Santo sobre os apstolos e com a interpretao que estes fizeram depois da pessoa de Jesus com quem tiveram convvio durante o seu ministrio. No Pentecostes os apstolos tornaramse e passaram a atuar como testemunhas de Jesus Cristo e do que Deus fizera com Ele. Eram Testemunhas, por exemplo, de que Deus o ressuscitou dos mortos. Este testemunho dos apstolos inicialmente era acompanhado pelas maravilhas com que Deus glorificou o Seu Filho. Como resultado da obra do Esprito Santo nos apstolos e do testemunho que estes deram de Jesus Cristo, surgiu em Jerusalm uma nova comunidade espiritual cujas caractersticas esto descritas em Atos 2:42 47 e 4:3234. Os que creram em Jesus Cristo formaram esta Comunidade que foi denominada Igreja. A formao da Igreja era um movimento espontneo, era fruto da sua experincia interpretada. Essa Comunidade que mais tarde foi chamada Igreja de Cristo (Romanos 16:16). Esse nome estava em completo acordo com o testemunho essencial dos cristos, eles testemunhavam da obra de Jesus em favor deles, e de como o Jesus Homem, era o Cristo anunciado pelos profetas, eles anunciavam o Cristo que os tinha justificado pela obra na realizada e consumada na cruz. O testemunho dos apstolos e o crescimento da Igreja inicialmente eram acompanhados pelos sinais operados por Deus como, por exemplo, a cura do coxo junto porta do templo, cuja finalidade era glorificar a Jesus Cristo. A Igreja cresceu at que a cidade de Jerusalm toda tinha conhecimento da doutrina sobre a salvao por meio da Justia de Deus (Atos 5:28). Os adversrios admitiram que a causa do movimento estava no fato de que os discpulos haviam estado com Jesus (Atos 4:13). Isto revela que o que estava em foco na pregao era a pessoa de Jesus que era o Cristo predito nas Escrituras Hebraicas. Inevitavelmente surgiu a oposio dos que eram responsveis

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com pela crucificao de Jesus e de quem os discpulos testemunhavam que tinha sido ressuscitado por Deus. O Cristianismo histrico surgiu e propagouse como resultado do testemunho que os apstolos deram de Jesus Cristo. A Igreja primitiva era espontnea e espiritual e no um efeito de atividades de entretenimento para os membros, ou seja, a espiritualidade no era imposta por leis e mandamentos, mas por causa de vida de Jesus em cada membro. Sobre a atuao dos apstolos, a narrativa era a seguinte: E todos os dias, no templo (dos judeus) e nas casas, no cessavam de ensinar e de anunciar a Jesus Cristo (Atos 5:42) Um destaque devemos fazer sobre esta passagem. Trs palavras em destaques: templo, casas e ensinar. Os primeiros discpulos no construam templos, esta palavra usada aqui para se referir ao grande templo dos judeus, o que nos leva a acreditar que a narrativa de Atos 5 est situada antes da destruio do Templo judaico no ano 70 d. C. O trabalho missionrio era concentrado nas casas, pois as reunies da igreja primitiva seguia esse modelo, desde que eles acreditavam que no mais Deus habitava em templos feitos de mos humanas (Atos 7:48 e 17:24) e a nfase da atividade missionria dos discpulos era o ensino, em especial anunciando a salvao provida mediante a f em Jesus Cristo. O centro do movimento e das atividades dos primeiros discpulos era Cristo. A expanso do Cristianismo em Jerusalm trouxe perseguio por parte dos adversrios, que culminou com a morte de Estevo. Em face das perseguies o Cristianismo passou a se propagar fora de Jerusalm e o nome de Jesus Cristo foi divulgado em toda parte. 2. A propagao do Cristianismo na Judia e Samaria. Quanto ao destaque pessoa de Jesus Cristo na propagao do Cristianismo na Judia e Samaria e na obra missionria de Paulo at o final do perodo da histria do livro de Atos, vamos mencionar apenas alguns exemplos desta propagao sem entrar em pormenores. Disperso devido s perseguies em Jerusalm, Filipe chegou a Samaria, e pregava ali a Cristo. Os samaritanos, que j conheciam a Jesus, ouvem agora de Felipe que esse Jesus era o Cristo. Depois disso, Filipe, divinamente dirigido, encontrouse com um etope que, na sua viagem de regresso para a sua terra, lia a Escritura Hebraica, e lhe ensinou a correta interpretao do texto da Bblia, ou seja, fez uma exegese correta e anunciou a Jesus. Filipe ensinou sobre a pessoa histrica de Jesus como cumprimento da profecia que o etiope estava lendo. O etiope creu e se converteu. Na converso de Saulo no caminho de Damasco aparece em grande destaque a ao da prpria pessoa de Cristo glorificado junto a Saulo. Aparece a ele como Jesus histrico. Aparece tambm junto a

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com Ananias instandoo para ir orientar a Saulo com referncia ao que ele devia fazer. Logo depois, Saulo comeou a ensinar em Damasco que Jesus era o filho de Deus. O que se v nestes casos o destaque ao ensino da f, ensino centralizado na pessoa de Jesus como Filho de Deus. Igualmente, tambm, a pessoa de Jesus foi o ensino ministrado por Pedro na casa de Cornlio, quando o Cristianismo transcendeu as fronteiras da nacionalidade. Pedro fez um estudo de como Jesus de Nazar, ungido de Deus com virtude, andou fazendo o bem (Atos 10:38) como fora crucificado e ressuscitado e como todos aqueles que aceitassem essa ddiva divina de salvao em Cristo receberiam a justificao. Este estudo bblico sobre a ao salvadora de Deus em Cristo foi o ponto mximo no ensino de Pedro na casa de Cornlio quando o Cristianismo passou para o meio dos gentios. Notamos que o Cristianismo se expandia como resultado direto do ensino das verdades bblicas relativas a Jesus e no de programas que visam apenas divertir e entreter multides. 3. A Propagao do Cristianismo at os Confins da Terra. Na propagao do Cristianismo tambm entre os gentios em geral, a nica mensagem ensinada pelos crentes em toda parte era a pessoa de Jesus Cristo. Sem entrar em mincias, chamamos a ateno dos alunos apenas para alguns casos concretos. Quando, por exemplo, Lucas fala dos crentes dispersos pelas perseguies em Jerusalm (Atos 8:1), ele fala que alguns vares chprios e cirenenses ensinavam aos gregos em Antioquia e como fruto desses ensinos grande nmero se converteu ao Senhor (Atos 11:2021 e 24). Foi na base destes ensinamentos que se implantou o Cristianismo em Antioquia e foi constituda ali a Igreja. Tambm pela mesma razo os discpulos em Antioquia foram chamados de cristos. A Igreja de Cristo que estava em Antioquia pouco depois se tornou um centro de expanso missionria, pois era fundamentada sobre um alicerce correto, essa base era o ensino correto e apropriado da Justificao pela F em Cristo, mensagem essa que alegrou o corao dos gentios, que viram a inutilidade das obras tanto para o judasmo como para todo o sistema religioso pago. Os missionrios que saram de Antioquia estavam sob a orientao do Esprito Santo (Atos 13:13). digno de destaque saber que quando Paulo e Barnab regressaram de sua primeira viagem relataram (fizeram um relatrio) de como Deus tinha aberto aos gentios a porta da f (Atos 14:27). Na histria da obra missionria de Paulo, temos muitos exemplos de como, em momentos especiais e marcantes no seu trabalho, ele apresentou a mensagem da Justificao pela F na pessoa de Jesus Cristo.

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com Ao carcereiro de Filipos disse, por exemplo, Cr no Senhor Jesus Cristo e sers salvo (Atos 16:31). A Igreja de Cristo em Filipos era composta de crentes em Jesus Cristo (Filipenses 1:1), isto digno de nota, pois a converso era a Cristo Jesus e no a qualquer sistema de doutrinas. Em Tessalnica Paulo ensinou que convinha que o Cristo padecesse e ressuscitasse dos mortos. Explicou que esse Jesus o Cristo (Atos 17:3). Depois, no arepago de Atenas, o ponto culminante da mensagem de Paulo foi o ensino de que Deus destinou um varo que foi ressuscitado dos mortos. Tambm no seu longo ministrio em Corinto, o nico assunto de sua pregao era Cristo e esse crucificado. Em sua defesa perante o rei Agripa, Paulo afirmou que o seu ensino era que Cristo devia padecer e que Ele era o primeiro a ressurgir dos mortos, e que devia anunciar essa mensagem somo se fosse uma luz para o povo judaico e aos gentios. Verificamos, portanto, que no ensinamento de Paulo e dos cristos primitivos em geral, era a ao salvadora de Deus na pessoa de Jesus Cristo. E que foi por meio dessa qualidade de ensino que o Cristianismo penetrou e implantou se nos principais centros do imprio romano. Foi nesta base que a expanso do Cristianismo chegou ao ponto mximo na sua marcha essencialmente didtica e sem problemas de natureza especulativa. No ensino dos apstolos e dos outros cristos do primeiro sculo at esta altura a pessoa de Jesus Cristo e de Sua obra salvadora eram apresentadas como fatos de experincia sem qualquer tentativa para interpretaes doutrinrias e especulativas. O ensino e a didtica, como j comprovamos, eram essencialmente o testemunho de como a Justificao era uma realidade pessoal dos cristos, o testemunho cristo era em essncia a experincia da justificao. Na parte final do primeiro sculo da era crist, porm, em face das provaes e desnimo causados pelas perseguies, muitos cristos de origem judaica comearam a enfraquecer na f e a se inclinar para voltar ao judasmo, esse movimento de volta ao judasmo, to combatido por Paulo nas Epstolas aos Romanos, aos Efsios e em especial aos Glatas, foi conhecido na histria como judaizante. Diante dessa situao, surgiu ento, a necessidade de uma defesa do Cristianismo e de exaltar a salvao crist em contraste com o judasmo. a situao refletida no Livro aos Hebreus, por exemplo. Sua finalidade e didtica fortalecer os crentes e mostrar o final do velho sistema de culto e ritos judaicos. Nela podese ver claramente o ensino da superioridade da Nova Aliana, portanto, do cristianismo sobre o judasmo.

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com No final do primeiro sculo, o Cristianismo histrico na revelao do Apocalipse aparece com suas formas e atividades externas estabelecidas como sejam, por exemplo: A observncia do Domingo como dia do Senhor (Apocalipse 1:10), a posio das igrejas comparadas a castiais de ouro, o que demonstra o valor de cada uma, apesar dos problemas que cada uma enfrentavam, cada igreja local identificada como tendo uma liderana composta e nunca uma nica pessoa, uma liderana responsvel comparada a um anjo. O Cristianismo apresentase organizado e em condies de prosseguir como religio histrica. Alm da situao j existente, a revelao de Cristo a Joo prediz tambm as coisas que ainda ho de acontecer e a necessidade de a Igreja de Cristo ouvir a mensagem de Jesus atravs dos seus pastores sob a orientao do Esprito Santo. Porm, o mais descuidado na leitura de Apocalipse, que desde o incio podemos notar o claro ensino da Justificao pela F o que torna o ltimo Livro do Novo Testamento tambm um Livro de didtica espiritual e salvadora (veja como exemplo: Apocalipse 1:56 e 22:11, 14, 21 Desde o incio at o fim o tema do Livro tambm a experincia da justificao pela f, os benefcios do sangue de Cristo e a graa divina) A partir do segundo sculo, com o desaparecimento dos apstolos e da influncia pessoal dos cristos primitivos, comearam a surgir entre alguns lderes do Cristianismo, em face de perseguies e heresias, vrias tendncias de interpretar criticamente ou em termos racionais a pessoa de Jesus Cristo, para Ele poder ter a capacidade de operar a Justificao provida por Deus. Eram tendncias despertadas pela filosofia e idias religiosas pags. Mesmo assim, durante esta transio para o mtodo especulativo, perdurou ainda por algum tempo o ensino correto sobre o tema e a apresentao do testemunho de cristos que tinham a experincia da justificao em suas vidas. Isto significava, que mesmo nos primrdios da Igreja de Cristo, enquanto de maneira progressiva era introduzida uma outra forma de salvao, muitos fieis permaneceram do lado da verdade. A obra salvadora de Jesus no primeiro sculo ainda no era interpretada de forma doutrinria, mas de maneira prtica. Os cristos primitivos (do primeiro sculo) apenas aplicavam vida os benefcios da Justificao, sem se perguntar como se explica essa doutrina?. A morte e a vida de Cristo era aplicada na vida como benefcios de Deus ao homem e essa aplicao prtica era o ponto mximo e nico do ensino teolgico, dessa forma que podemos extrair das Cartas de Paulo para a Igreja. (1 Corntios 15:34). A f era a base e alicerce da salvao.

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com Porm, a partir do segundo sculo, comeou a surgir em algumas igrejas o ensino de uma interpretao da pessoa de Cristo. Ao invs de apenas acreditar na obra salvadora, muitos comearam a analisar criticamente essa obra de redeno. E no intuito de explicar se inicia um sem nmero de especulaes. Por exemplo: Foi ento que se comeou a perguntar se Jesus Cristo era divino ou humano; se era Filho de Deus ou era filho do homem, e como essas idias podiam ser harmonizadas. Esta mudana no interesse, no pensamento e no ensino maior do que podemos imaginar, as mudanas foram se ampliando at que culminou num sistema cristo que ensinava a salvao pelas obras. Mencionaremos algumas causas e como isso aconteceu: Quando o ensino apostlico passou para o ensino dos sculos posteriores foi bvio que no s o ensino original foi se perdendo, como tambm a influncia do verdadeiro cristianismo. Precisamos reafirmar que esta tendncia crtica surgiu em face de heresias, umas negando, por exemplo, a divindade de Jesus Cristo, e outras negando sua humanidade. Havia necessidade de doutrinar as igrejas em face de tais problemas e outros semelhantes, vindos de fora. Quando, porm, o cristo precisa se defender contra os ataques do mundo, ou quando ele precisa defender aquilo em que cr em face de desafio das heresias, ele corre o perigo de abandonar a sua f genuna e pessoal e se enveredar para a especulao. O ensino realmente cristo era um testemunho prtico da f em Cristo e no uma resposta doutrinria perguntas dos que em Jesus no acreditam. No ensino cristo, jamais a exposio doutrinria est isolada do testemunho da f e da experincia pessoal com Cristo. Nos primeiros sculos depois do perodo apostlico, at 320 d. C., por exemplo, os telogos, embora j tivessem os seus pensamentos despertados para assuntos de controvrsias cristolgicas, mantiveram ainda uma posio genuinamente evanglica com referncia pessoa e obra de Jesus Cristo. Jesus Cristo continuou a ser crido e ensinado como o nico e suficiente mediador entre Deus e os homens. A sua morte na cruz era considerada fato essencial na obra redentora. O sofrimento de Cristo era considerado vicrio e Sua vida substitutiva. Os escritos dos telogos deste perodo geralmente pouca referncia fazem idias especulativas. No havia ainda esforos para se formar algum sistema de teologia. Tambm os assuntos bsicos do Cristianismo ainda no eram estudados em profundidade ou exaustivamente. A aceitao da pessoa e obra de Jesus Cristo era essencialmente prtica. Clemente de

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com Roma diz, por exemplo, que o sangue de Cristo foi derramado para a nossa salvao e trouxe a graa de Deus e a chamada ao arrependimento dirigido ao mundo inteiro. A morte de Cristo traz, diziam os telogos, a salvao e a vida eterna. Era o perodo da expanso do cristianismo, esse era o poder de Deus, era o evangelho de Cristo para salvao (Romanos 1:16). Era simples, singelo, sem ostentao, nem shows para arrastar multides. Nessa poca, que agora passaremos a chamar de Cristianismo Histrico, as Igrejas de Cristo atuavam na maior humildade, com apenas um testemunho pessoal, era a demonstrao do poder do evangelho que podia transformar um pecador em uma pessoa que desfrutava dos benefcios da Justificao pela F, esse ensino transformou o mundo de ento e abalou o Imprio Romano. J explicamos que o Cristianismo Histrico apresentava um ensino simples sobre a condio do homem sem Deus, e a soluo provida na obra salvadora de Jesus, era essa a nica nfase, nada havia de interpretao especulativa. Como resultado desse ensino simples, humilde e singelo o Cristianismo Histrico estendeu suas fronteiras e chegou a predominar no Imprio Romano. Porm, e isto lamentvel, e tambm um tremendo ensinamento para nossos dias, algumas igrejas comearam a sofrer neste perodo, depois da morte dos apstolos, depois do segundo sculo, a influncia de tendncias para o sacramentalismo com reunies cheias de programaes, cerimnias e paramentos, dando demasiada importncia ao batismo, ao ascetismo, obras externas como atributos de salvao e a perda da viso da Justificao pela F. Por exemplo: A celebrao da missa mais uma encenao que um culto cristo, veja como Martinho Cochm descreve o cerimonial no livro: Explicao da Missa, pgina 40 O sacerdote durante uma s missa benzese 16 vezes, voltase para o povo outras 16 vezes, beija o altar 8 vezes, levanta os olhos 11 vezes, 10 bate no peito, ajoelhase outras 10 vezes e junta as mos 54 vezes. Faz 21 inclinaes com a cabea e 7 vezes com os ombros, inclinase 8 vezes e beja a oferta 36 vezes! Pe as mos sobre o peito 11 vezes e oito vezes olha para o cu, faz 11 rezas em voz baixa e 13 em voz alta, descobre o Clix e o cobre novamente 5 vezes e muda de lugar 20 vezes!.

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com Veja como o desvio da f se iniciou quando movimentos de cenrio comearam a substituir as singelas reunies de ensino da Palavra. A f se perdeu quando o culto era uma programao para entreter as pessoas e no para ensinar as pessoas. Tudo isso comeou a enfraquecer a f e a vitalidade inicial, aquilo que no Apocalipse chamado de primeiro amor (Apocalipse 2:4). O primeiro amor era a f crist como aceitao da graa de Deus. Devemos notar com cuidado que esta religio especulativa e cheia de cerimnias tomou corpo, muito mais quando sua Sede se estabeleceu em Roma, em contradio com a Sede de Jerusalm. Sabemos pela leitura atenta de Atos, que as Igrejas de Cristo, em seus primrdios tinham como organizao centralizada a cidade de Jerusalm, importante notar que o relato de Atos 8:1 explica assim: e fezse naquele dia uma grande perseguio contra a igreja que estava em Jerusalm; e todos foram dispersos pelas terras da Judia e de Samaria, exceto os apstolos. Os apstolos deveriam permanecer em Jerusalm, apesar da grande perseguio, pois Jerusalm era a Sede da organizao e ali deveria permanecer a liderana. Durante o primeiro sculo, enquanto os apstolos estavam ainda vivos a hierarquia da Igreja de Cristo repousava sobre uma liderana trplice, veja com ateno Glatas 2:9 E conhecendo Tiago, Cefas e Joo, que eram considerados como as colunas.... Notese com ateno que quem est fazendo este reconhecimento Paulo, ele que muito bem poderia querer, dada a sua importncia, estabelecer um ministrio individual. Mas, pelo contrrio notamos que ele se reportou liderana de Jerusalm para dar o seu relatrio e solucionar o problema criado com o ensino da Justificao pela F aos gentios (Atos 15 todo o captulo). Sim! No ano 49 d.C., foi preciso que eles se reunissem em Jerusalm para resolver questes que afetavam os cristos em geral. O relato de Atos nos diz que, depois duma considerao aberta, ento pareceu bem aos apstolos e aos ancios (Presbteros), com toda a igreja, eleger homens dentre eles e envilos com Paulo e Barnab a Antioquia, a saber Judas, chamado Barsabs, e Silas, homens distintos entre os irmos. A Igreja aqui mencionada o reconhecimento que havia uma nica Igreja, cuja sede estava em Jerusalm. Nesta reunio notamos tambm que quem falou foi Pedro (Atos 15:7), que como vimos formava parte da liderana trplice, assim como

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com tambm quem falou dando sua opinio foi Tiago (Atos 15:13), um dos outros apstolos da diretoria geral. Aps a resoluo, a Bblia relata que essa resoluo deveria ser aceita por todas as igrejas locais que estavam sob a jurisdio de Jerusalm (Atos 15:23; 16:4). Evidentemente os trs apstolos serviam como rgo diretor para as congregaes dispersas das Igrejas de Cristo (Romanos 16:16). Ento, visto que aquela trplice liderana em Jerusalm era o modelo cristo primitivo para a superviso geral sobre todos os discpulos. Se a Igreja desejar seguir o padro e modelo original, ele indicado com clareza nas pginas do Novo Testamento. A Igreja no pode se perder na busca de outros modelos a no ser aquele que Jesus estabeleceu para sua Igreja. Desde que a Igreja estava em formao, enquanto Jesus ainda estava com seus discpulos j tinha estabelecido essa hierarquia (Veja com ateno Mateus 17:1; Mateus 26:37 e Marcos 5:37). Devemos ainda destacar que depois que os perguntaram ao Salvador: ... Dizenos, quando sero essas coisas, e que sinal haver da tua vinda e do fim do mundo? Mateus 24:3. Como resposta a essa pergunta, o primeiro que Jesus lhes disse foi: Acautelaivos que ningum vos engane Mateus 24:4 E a continuao lhes explica que o engano consistiria num engano religioso; assim, o sinal era caracterizado pelo maior engano que o mundo j viu! Portanto, o engano religioso seria o primeiro e mais importante sinal para indicar as cousas que aconteceriam aps a morte dos apstolos. As conseqncias de ser enganados pela falsa religio so muito piores do que ser vtimas da fome, enfermidade ou guerra. A conseqncias so de valor eterno. Jesus advertiu dizendo que seriam enganados se for possvel at os escolhidos, os prprios eleitos (Mateus 24:24). De acordo com o Livro de Apocalipse essa falsa religio, o grande engano, teria muita autoridade e uma adorao mundial ou universal (Deuselhe ainda autoridade sobre cada tribo, povo, lngua e nao; e adorlao todos os que habitam sobre a terra Apocalipse 13:78). Ano 321 O Estabelecimento Definitivo da Igreja O Apoio do Imperador Constantino. Comeando com o Conclio de Nicia, o grande Conclio que foi convocado pelo imperador romano Constantino, ento se iniciava assim, um programa sistemtico e progressivo para perpetuar a tradio, rejeitando toda e qualquer oposio doutrina estabelecida pela igreja de Roma.

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com Reconstruir a histria sem a tica do pensamento de Roma, restaurar os fatos e os colocar na sua real posio, no deixar a tradio influenciar a pesquisa, no tarefa fcil, pois a fora das tradies no permite ao leitor enxergar os fatos reais, a fora das tradies faz com que a verdade seja ofuscada, distorcida e se incline para o que j foi estabelecido durante mais de dois milnios. A maioria, diante das interrogaes da histria, prefere uma atitude conformista, de fatal acomodao. Muitos desprezam qualquer pesquisa histrica que venha a colocar em risco suas crenas. Muitos chegam a afirmar que o passado histrico no tem importncia alguma; mas, podemos Ter certeza absoluta de que esses fatos so relevantes e muito importantes ainda em nossos dias, pois, foram esses fatos do passado que determinaram o surgimento de um sistema religioso mundial que teve influncia durante muitos e muitos anos, e ainda exerce poderosa influncia na mente de muitos. possvel, depois de acurada, meticulosa e exaustiva pesquisa encontrar a linha correta em que os acontecimentos se desenvolveram. Bblia e histria so as bases de nossas pesquisas. Partimos do pressuposto de que Jesus Cristo deixou a verdade aos cuidados de alguns homens confiveis, os apstolos, e que estes zelariam por manter essa verdade na sua pureza original. Se esse pressuposto no for correto, ento no h nada a pesquisar e deveramos nos acomodar com o que nos foi dado como verdade. Acomodao histrica no uma atitude correta. Devemos, portanto, investigar para saber se o que nos foi legado como herana de f verdadeiro e corresponde exatamente com o que os apstolos, depositrios dessa verdade, conservaram como original. Devemos, e isso se nos impe como que uma obrigao, conhecer os acontecimentos emergentes, iniciais e formativos dos primeiros sculos da Igreja de Cristo. A poca de maior conflito foi o ano de 312 d.C. Muitos acreditam geralmente que foi nesse ano que o imperador Constantino se converteu ao cristianismo. Como ocorreu essa converso? Em 306, Constantino sucedeu a seu pai e, por fim, junto com Licnio, tornouse coregente do Imprio Romano. Ele foi influenciado pela devoo de sua me ao cristianismo e pela prpria crena na proteo divina. Antes de ir para uma batalha perto de Roma, na ponte Milvius, em 312, ele afirmou que lhe fora dito num sonho que pintasse o monograma cristo as letras khi e rho as primeira letras do nome Cristo em grego nos escudos de seus soldados. Com esse talism ... as foras de Constantino derrotaram seu inimigo Maxncio. Pouco depois de vencer a batalha, Constantino afirmou que se tornara

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com crente, embora no fosse batizado seno pouco antes de sua morte, uns 24 anos mais tarde. Ele passou a obter o apoio de professos cristos em seu imprio pela adoo das letras KhiRho como seu emblema ... O Khi Rho j tinha, contudo, sido usado como ligadura (juno de letras) em contextos pagos. O Crisol do Cristianismo, Editado por Toybee, pg. 154. A partir dessa pretensa converso, o imperador Constantino comeou a exercer poderosa influncia nos assuntos relacionados com a igreja. a partir daquele ano 312, Constantino atua como um governante adito igreja, a qual ele honra, protege e favorece com todas as suas foras Enciclopdia Labor, Vol. 5 Artigo: O Cristianismo Triunfante. O historiador Gibbon escreve a respeito de Constantino: A devoo de Constantino foi mais peculiarmente dirigida para o gnio do sol, o Apolo da mitologia grega e romana. O altar de Apolo foi consagrado com as ofertas votivas de Constantino... o sol foi universalmente honrado como o invisvel guia e protetor do imperador Constantino. Histria do Declnio e Queda do Imprio Romano, Gibbon, captulo 20. Podese notar que o imperador Constantino era um fiel adorador do sol (Apolo). Graves mudanas aconteceram em razo desse paganismo. O Cristianismo sustentado por muitos sculos pela igreja de Roma e na sua atual configurao o resultado de manobras astutas de um imperador pago, que terminou corrompendo o Cristianismo Histrico. O fanatismo tomou conta da igreja e a procura de privilgios outorgados pelo estado se tornou um hbito: Alguns bispos, cegados pelo esplendor da corte, foram ao ponto de louvar o imperador como um anjo de Deus, como um ser sagrado, e a profetizar que ele, assim como o Filho de Deus, reinaria nos cus. Catholic Encyclopedia. Sobre a compreenso do imperador em relao s discusses do Conclio de Nicia um documento afirma: Constantino basicamente no tinha entendimento algum das perguntas que se faziam em teologia grega. A Short History of Christian Doctrine. Note o leitor que a pesquisa aponta para o Conclio de Nicia como sendo uma grande encenao. O imperador que preside o Conclio nada entende, continua sendo um pago, adorador do sol, e percebemos que o que prevaleceu nessas reunies foi, no a verdade, mas o que o Conclio determinou que seria verdade sob a influncia do imperador.

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Constantino chegou alguma vez a ser cristo? O historiador Paul Johnson declara: Uma das principais razes de ser tolerado o cristianismo foi, possivelmente, por isso deu a ele mesmo e ao Estado a oportunidade de controlar a poltica da Igreja em relao ortodoxia... Constantino nunca abandonou a adorao do sol e manteve o sol em suas moedas. A Catholic Encyclopedia observa: Constantino favoreceu de modo igual ambas religies (a dele que era pag e a do cristianismo). Como sumo pontfice (de Zeus) ele velou pela adorao pag e protegeu seus direitos. Constantino nunca se tornou cristo diz a Enciclopdia Hidria, e acrescenta: Eusbio de Cesaria, que escreveu a biografia dele, diz que ele (Constantino) se tornou cristo nos ltimos momentos da vida. Isso no convincente, visto que, no dia anterior ( morte de Constantino) fizera um sacrifcio a Zeus porque tambm tinha o ttulo de Sumo Pontfice. A farta documentao sobre a poca de Constantino e sobre o Conclio de Nicia podese resumir a um nico fator: A igreja, com o apoio imperial, ela se enveredou definitivamente pelo caminho da apostasia, segue o rumo do desvio da f verdadeira, e esquecendo por completo as origens da verdadeira f, abandona finalmente a verdade. A voz dos apstolos fora silenciada, a herana de f que eles tinham recebido e conservado com amor, agora estava sendo ofuscada pela sombra do paganismo. Na poca de Constantino, no imprio Romano fervilhava um turbilho de atividades msticas, era um verdadeiro caldeiro no qual se misturavam as doutrinas judaicas, mitraica, zoroastriana, pitagrica, hermtica e neoplatnica, todas se difundiam e se misturavam uma com a outra. Diante desse confuso panorama religioso, a prpria igreja de Roma, estava em situao precria. Se a igreja de Roma quisesse sobreviver e, alm disso, exercer poderosa influncia e autoridade, ela necessitava do apoio de uma figura secular na corte imperial que pudesse representla. Essa figura foi o prprio imperador Constantino. Ele como imperador, com a igreja de Roma como aliada, empenharamse na tarefa de implantar definitivamente a doutrina determinada por eles, disseminandoa por todo o Imprio com a finalidade de extirpar finalmente toda f que fosse contrria aos, agora chamados: Dogmas, estabelecidos pelos inmeros Conclios. Ao Conclio de Nicia, outros se seguiram (Constantinopla [381], feso [431], Calcednia [451], no para corrigir os males, mas para

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com aumentlos, pois se apelava para a autoridade da tradio ou autoridade da igreja. O prprio papa se tornou infalvel nas suas determinaes: Todos os decretos dogmticos do papa, feitos com ou sem seu conselho geral, so infalveis ... Uma vez feito, nenhum papa, ou nenhum conclio pode revoglos ... Este o princpio catlico, de que a Igreja no pode errar na f The Catolic World, junho de 1871, pgs. 422 e 423. Esta pode parecer uma declarao muito antiga (1871), mas mesmo assim, o princpio da infalibilidade papal mantida at hoje, vejamos por exemplo: Como devem ser perdoados nossos pecados? Esta pergunta to fundamental da doutrina da Justificao pela F que ns j sabemos a resposta. Porm, note agora esta informao histrica. A igreja de Roma convocou um outro Conclio de Nicia, em 787 d.C., que deveria estabelecer a doutrina do perdo dos pecados, neste novo Conclio se estabeleceu por decreto que o perdo deveria ser outorgado unicamente atravs dos sacerdotes, e no diretamente com o Pai Celestial. mantido esse princpio at hoje? Joo Paulo II ... disse terafeira aos catlicos romanos que busquem o perdo atravs da Igreja e no diretamente de Deus ... o requerimento para confisso de pecados atravs dos sacerdotes um dos princpios fundamentais do Catolicismo Romano. The Associated Press, 11 de Dezembro de 1984. Este apenas um dos muitos exemplos que podemos citar para comprovar como a igreja entrou na vereda da apostasia. Chegou um tempo em que tudo isso acabaria? Chegou sim, aps muitas lutas e conflitos, esse tempo chamouse Reforma. Esse ser o assunto de nossa terceira parte. A REFORMA PROTESTANTE INTRODUO

Podemos dizer que a Reforma um marco histrico no s no contexto religioso, mas tambm no poltico, social e econmico da Europa e mais tarde do mundo. Este incio de um novo tempo no veio sem derramamento de sangue, mas com mortes e perdas irreparveis, com destruio e aniquilao de inocentes; muitos dos personagens desta histria real no tiveram seus nomes escritos em nenhum livro, em nenhum lugar se ouviu falar deles. Tivemos muito valentes lutando contra covardes que detinham o poder, alguns so conhecidos outros simplesmente no existem. Famlias inteiras destrudas, casas queimadas, torturas, massacres, tudo isso por amor a Deus e sua Palavra.

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com Os frutos conquistados pelos reformadores so por ns vividos a cada culto em nossas igrejas onde temos a oportunidade louvar a o Senhor com liberdade e de ter a Bblia em nossa prpria lngua, hoje podemos pregar a palavra de Deus como ela , viva, eficaz, e como disse Paulo o poder de Deus para salvao de aquele que cr. Que esse livro possa trazer um novo nimo a sua vida espiritual, que atravs do exemplo dado por nossos irmos do passado venhamos a querer uma igreja guiada pelas Escrituras e no por costumes, tradies ou dogmas totalmente gerados por mentes perniciosas. O que trataremos aqui no fico ou um comentrio tendencioso dos fatos, mas sim a veracidade outrora oculta mas que a cada dia vem tona quando algum se empenha em descrever os eventos hericos que muitas vezes se assemelham s estrias dos trovadores por terem como personagens principais mocinhos e bandidos.

CAPTULO 1 PRLOGO

A reforma protestante no foi algo que veio de repente ou de uma s vez, muito pelo contrrio, o processo para chegar at ela foi doloroso e lento, porm incessante. Para entender os porqus da reforma se faz necessrio olharmos para igreja desde sua poca Apostlica at mais precisamente o ano 1000 d.C. onde o poder papal havia chegado ao seu clmax. Desde a morte do apstolo Joo (100 d.C.) iniciouse o perodo das perseguies que durou at o ano 313 d.C. isso no quer dizer que antes no houve perseguies, muito pelo contrrio, no governo de Nero o imperador (54 a 68 d.C.) houve uma perseguio muito grande devido ele ter atribudo aos cristos a culpa do incndio em Roma, isso desencadeou uma verdadeira caada a todo aquele que se dizia seguidor dos ensinos de cristo; sob sua ordem o apstolo Paulo foi executado. Aps Nero, j sob o governo de Vespasiano (69 a 79 d.C.) Jerusalm foi invadida por seu filho Tito que mais tarde se tornou imperador no lugar de seu pai. A invaso de Tito custou muitas vidas e inclusive a destruio do templo de Jerusalm.

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com Domiciano (81 a 96 d.C.) foi o imperador que exilou o apstolo Joo mandandoo para ilha de Patmos onde teve as vises e revelaes contidas o livro de apocalipse, este tambm perseguiu os cristos de uma forma violenta. Todas estas so ainda na fase Apostlica a que veio a seguir ficou conhecida como a fase das perseguies (100 a 313 d.C.). Neste perodo houve doze perseguies, mas a igreja cresceu e se expandiu rapidamente entre 98d.C. e 161d.C. A partir de 162d.C. a perseguio continuou, porm com alguns perodos de tolerncia, j no eram caados, eram mortos apenas quando denunciados. De todo o perodo a maior de todas se deu sob o governo do imperador Diocleciano, este foi implacvel e incansvel em tentar destruir os cristos, homem mal e sem escrpulos aniquilou comunidades crists inteiras.

O imperador e o cristianismo Quando em 313d.C. o imperador Constantino filho de Constncio Cloro entra em batalha contra Maxncio que disputava o trono imperial com ele, seu exrcito era pequeno e despreparado vendo que no tinha chances de vencer comea orar a Deus quando tem uma suposta viso de uma cruz que tinha uma inscrio in hoc signo vinces que significa por este sinal vencereis revestido de confiana lutou bravamente, Maxncio morreu afogado no rio Tibre e seu exrcito foi vencido. Declarando o edito de Milo trouxe a liberdade religiosa e proteo aos lderes eclesisticos e tambm combateu a morte de escravos por seus senhores, o adultrio como tambm o concubinato. Em 325 convocou o Conclio de Nicia. Mesmo tendo exortado por diversas vezes seus sditos a serem cristos, no fim de sua vida retornou ao arianismo. Em 366d.C. o imperador Valentiniano (governou de 364 a 375) declarou a supremacia da jurisdio eclesistica de Roma, mas foi somente por volta de 379 d.C. que o imperador Flvio Teodsio declarou o cristianismo como religio oficial do imprio Romano. Em 381 convocou o conclio de Constantinopla que reafirmou as doutrinas estabelecidas no conclio de Nicia e tambm a deciso de tratar o arianismo como heresia.

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A paganizao do cristianismo Aps o cristianismo ser oficializado iniciouse uma paganizao acelerada na igreja, apesar de que isso j comeara por volta de 251d.C. quando a igreja de Roma j no ensinava sobre a justificao pela f, mas sim pelas obras. O que viria a seguir seria a degenerao dos conceitos bblicos que seriam substitudos por dogmas e tradies criadas pelos homens.

CAPTULO 2 ANO 1000. O AUGE DO PODER PAPAL

Os papas nem sempre tiveram o poder que detinham durante a idade mdia alta e baixa, nos primeiros quase quinhentos anos de histria da cristandade a igreja era controlada por bispos que na sua maioria no tinha a menor pretenso de ser o lder absoluto da igreja. Os primeiros vultos de tentativa de colocar a igreja de Roma como a chefe das outras surgiram a partir de 164 d.C. com Anicleto bispo da igreja de Roma, este queria que a data da celebrao da pscoa fosse mudada. A partir disso todos os bispos romanos seguintes comearam a requerer para si autoridade diferenciada, ou seja, mais poder que os outros por estar na capital do imprio romano. Foi somente em 455 que o bispo de Roma chegaria liderana total da igreja sob o ttulo de papa (pai). Com o apoio do imperador Valentiniano tudo ficara mais fcil para obter a supremacia, claro que tudo no passava de um jogo de interesses j que a partir da os cargos eclesisticos eram de total influncia na poltica.

A diviso do imprio e o feudalismo

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com Teodsio foi o ltimo imperador a dominar sob o imprio em sua totalidade, pois o dividiu em dois formando o imprio do ocidente cuja capital era Roma, e o do oriente com capital em Constantinopla, hoje Istambul.

Com a queda do imprio Romano ocidental em 476, ficaram ainda alguns fragmentos de seu governo em Roma, servindo de base para o desenvolvimento do poderio papal que chega a seu auge com a virada do milnio.

A Europa sofria muitas dificuldades devidas tantas guerras contra os brbaros que eram uma ameaa constante, o povo gemia diante dos reflexos de alianas feitas pelo clero e imperadores, o feudalismo desde o sculo IX dominava todo o continente e o povo era massacrado. A expectativa de vida era pequena demais devido o trabalho forado, tantas doenas e pestes que assolavam o mundo da poca, um homem morria geralmente por volta de 30 anos enquanto as mulheres no duravam nem isso, a cada 100 crianas que nasciam vivas 45 destas morriam ainda na infncia, no entanto, o que pode parecer contradio, o crescimento demogrfico comeava a se avolumar, em 1050 o mundo tinha a mdia de 46 milhes de pessoas, duzentos e cinqenta anos depois era de 73 milhes. Com este incio de crescimento populacional se fez necessrio um desenvolvimento de tcnicas agrcolas para aumentar a produo e atender a demanda.

A evoluo do papado

O papado vinha numa evoluo de poder muito grande e chega ao incio do ano 1000 com o papa Hidelbrando que defendia com todas as foras o absolutismo papal, este trouxe ao papado sua Idade urea que durou de 1049 a 1294. Em 1054 acontece a diviso da igreja no chamado Cisma do oriente onde ouve a mtua excomunho entre Miguel Cerulrio e o papa Leo IX gerando o surgimento da igreja grega e a latina.

O novo milnio comeara e logo nos seus primeiros sculos o mundo era dominado por papas terrveis, dentre os quais Inocncio III (1198 a 1216)

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com que se denominou vigrio de Cristo e ainda disse: todas as coisas na terra, no cu e no inferno esto sujeitas ao vigrio de Cristo. Crimes de simonia, que era a venda de cargos eclesisticos, prostituio, abortos, assassinatos, mentira, luxria etc. so palavras que no conseguem descrever os feitos papais e de seu clero.

O mundo poderia permanecer desta forma por muito tempo no fosse a determinao dentro de um propsito estabelecido por Deus sob os quais muitos homens levantaram a bandeira da luta contra todas essas foras opressoras, a terrvel usurpao de poder do papado e toda forma de poltica que esmagava a minoria comearam a ser combatidas, j que todo o clero tinha os camponeses nas mos devido pregarem todo tipo de condenao vinda de Deus a aqueles que tentassem desobedecer as sua ordens. Surge ento movimentos mais tarde chamados de Pr reformistas que ascenderam uma chama em muitos coraes que desejavam ardentemente por mudanas, libertao fsica e principalmente espiritual.

CAPTULO 3

A PRREFORMA

A reforma to esperada no viria sem que houvesse desbravadores que dessem suas vidas em sacrifcio por causa de um ideal, no algo filosfico ou idealista, mas sim o desejo de que cada homem e cada mulher tenham a oportunidade de se relacionar com seu criador sem ter que passar pelo controle rgido e fraudulento da santa igreja romana. O contexto poltico em que a Europa se encontrava na baixa idade mdia desenvolvia sentimentos nacionalistas em diversas regies, ou seja, os governantes, os nobres e o povo estavam cansados de serem comandados e ter o territrio nacional invadido e terem terras tomadas pela igreja ou qualquer aliana politicoreligiosa, toda a poltica econmica e social sofria influncia externa. Esse sentimento estava presente em quase todos os grandes pases da poca

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com fazendo com que se iniciasse a preparao para o que para muitos paises representava uma liberdade jamais experimentada.

O que segue so os principais nomes do incio da preparao daquilo que mudaria a histria da Europa e do mundo.

Petrobrussianos

Este movimento surgiu por volta do ano 1110 no sudoeste da Frana, quem liderava a igreja catlica nesta poca era o papa Pascoal II (1099 a 1118) que estava em guerra contra o imperador alemo Henrique IV, a qual j durava mais de quinze anos. Os Petrobrussianos receberam este nome devido seu fundador que se chamava Pedro de Bruys o qual foi discpulo de Abelardo Pierrel telogo e filsofo. Bruys era padre, porm tomado de indignao devido tanta imoralidade o deixou de ser e comeou a pregar o evangelho genuno de Cristo em 1104. Sendo ajudado por Henrique de Lausane que havia sido monge, Bruys declarou guerra ao papado e os dogmas de sua igreja, esta que estava no auge de poder e depravao; combateu fortemente a prostituio e perverso do clero declarando que os ministros deveriam se casar. Os petrobrussianos rejeitavam a missa e afirmavam que a comunho ou santa ceia era um memorial, negando o dogma da transubstanciao que a transformao literal do po e do vinho na carne e no sangue de Jesus.

O movimento teve seu incio numa poca estratgica, pois havia poucos anos que crises entre o papa de Roma e o de Constantinopla culminaram no chamado cisma do oriente (1054), originando a Igreja Ortodoxa de Constantinopla. Devido a este acontecimento e problemas morais que a igreja sofria veio a fortalecer os Petrobrussianos que tiveram um bom apoio do povo e estes cresceram vastamente. Em 1126 Pedro de Bruys foi denunciado e sendo preso foi queimado vivo numa fogueira. Henrique de Lausane foi preso e condenado no Conclio de Reims, falecendo em 1148.

Albigenses

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No princpio eram chamados de Ctaros (puros), surgiram por volta de 1167, por serem da regio Langedoc (sul da Frana) mais precisamente da cidade de Albi receberam por volta de 1181 o nome de Albigenses. Albi era uma cidade bastante religiosa e situada ao norte da Espanha e Itlia por isso o movimento constitua a maioria no sul da Frana e em 1200 j havia penetrado no norte da Itlia.

Os Albigenses combatiam fortemente a grande imoralidade do clero; no aceitavam a submisso a Roma que era imposta a fora; eram contra as peregrinaes a Roma e a Jerusalm; o culto de imagens e aos santos.

Em 1208 o papa Inocncio III organizou uma cruzada contra o movimento Albigense devido terem apoiado Anacleto que havia disputado o papado contra ele e tambm, dizem alguns historiadores, que foi devido o conde Raimundo VI que os apoiava, ser acusado do assassinato de Pierre de Castelnal . Esta guerra foi conduzida por Simon Montfort que liderava 300 mil soldados e durou de 1208 a 1229. O primeiro dia de batalha foi na cidade de Beziers dia 22 de Julho de 1209, s neste dia foram mais de 60 mil mortes. Cidades inteiras foram massacradas na caada aos albigenses. Tudo o que pertencesse a eles era destrudo inclusive mulheres e crianas, nem os templos escaparam tudo que estava pela frente era devastado. Com a instituio da Inquisio em 1229 tudo ficou ainda mais difcil.

Depois desta terrvel cruzada os albigenses que sobreviveram continuaram suas atividades na cidade de Montsgur, at que esta foi tomada em 1244 dando o golpe final nos albigenses. Valdenses

Do sul da Frana, mais precisamente da cidade de Lyon, muito parecidos com os Albigenses os Valdenses tem este nome devido seu fundador Pedro

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com Valdo; este era um mercador muito rico que ao ver um amigo morrendo repentinamente percebeu a fragilidade da vida e converteuse ao cristianismo. Este movimento foi fundado na mesma poca que os Albigenses, mais precisamente em 1176.

Depois de convertido Pedro Valdo comeou a no aceitar as imposies de Roma e aps ter doado suas propriedades saiu a pregar o evangelho. Chamado de herege pregava contra Roma e sua terrvel imoralidade, dizia Pedro Valdo que os padres, bispos e papas no tinham a menor condio de ensinar as Escrituras. Condenava o ensino referente ao purgatrio, combatia a missa e as oraes pelos mortos e ao combater as indulgncias foi excomungado em 1184.

Era um, grande pregador por isso despertou no povo o desejo de ler as Escrituras e entender o verdadeiro ensino de Cristo, ensinava que a Bblia era a nica regra de f a ser seguida pelo homem. Devido a falta de escritos sagrados em uma lngua que o povo pudesse ler os valdenses produziram manualmente pores da Bblia para serem distribudas.

Durante a inquisio foram praticamente exterminados, exceto nos vales alpinos onde tiveram contato com os Hussitas e os irmos Morvios que tambm protestavam contra o papado, sculos depois aderiram reforma protestante.

Aps atravessarem a idade mdia os valdenses continuavam fortes trabalharam em pequenas comunidades agrcolas na Amrica e Itlia, hoje constituem a maior igreja evanglica italiana.

Arnaldo de Brscia

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Pr. Flvio Nunes. Instituto Teolgico Gamaliel [email protected] www.institutogamaliel.com Arnaldo nasceu em Brscia, Itlia no fim do sculo XI tambm como Pedro de Bruys foi discpulo de Abelardo. Foi um grande pregador e se unindo aos Petrobrussianos e aos Albigenses promoveram grande infortnio a Roma. Pregou contra a corrupo do clero, que a igreja no poderia acumular bens e propriedades, pregou o retorno simplicidade da igreja primitiva, atacou o batismo de crianas, a missa, ensinava que a relao entre o homem e Deus deveria ser direta e tambm lutava a favor da separao da igreja e o estado.Arnaldo no era s um reformador religioso, mas tambm poltico, em seus discursos dizia que o governo civil pertencia ao povo. Obteve o domnio de Roma por pouco tempo, pois a mando do papa Adriano IV Frederico Barbaroxa veio Roma para derrotar Arnaldo. Em 1139 aps ter sido julgado como herege fugiu para a Frana e mais tarde para a Sua onde foi denunciado sendo preso, enforcado e queimado em 1155 na cidade de Roma pelo papa Adriano IV.

John Wiclyff

Este ao lado de John huss talvez seja o maior nome da pr reforma, seu ministrio teve incio em um momento difcil na Inglaterra esta que havia passado por crises devido s guerras que vinham de muito antes. Em 1066 aps se libertar dos reis anglosaxes, a Inglaterra dava incio a formao de sua monarquia. O rei Ricardo I (11891199) conhecido como Ricardo corao de leo iniciou uma guerra contra a Frana na qual as batalhas eram constantes; foi substitudo por seu irmo o rei Joo sem terra (11991216) que praticou a mesma poltica. Tudo isso fazia com que os impostos aumentassem cada vez mais, afim de que, com o dinheiro arrecadado, pudessem custear as guerras.

Aps a revolta dos senhores feudais em 1215 sendo apoiados pela burguesia impuseram a carta magna ao rei Joo que proibia o aumento de impostos ou a alterao de leis exceto sob autorizao do grande cons