Bái a casa Bóe: Bái, a casa Bororo Uma história da morada dos...

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José Afonso Botura Portocarrero Bái , a casa Bóe: Bái, a casa Bororo Uma história da morada dos índios Bororo Cuiabá - 2001

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José Afonso Botura Portocarrero

Bái, a casa Bóe: Bái, a casa Bororo Uma história da morada dos índios Bororo

Cuiabá - 2001

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José Afonso Botura Portocarrero

Bái, a casa Bóe: Bái, a casa Bororo

Uma história da morada dos índios Bororo Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação / Mestrado em História, do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em História, área de pesquisa: fronteiras, identidades e transculturação.

Orientadora: Profª. Dr.ª Maria de Fátima Costa

Cuiabá, MT Abril 2001

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Capa: esquema da aldeia Bororo sobre desenho de Leonardo da Vinci, Figura vitruviana.

FICHA CATALOGRÁFICA

P853b Portocarrero, José Afonso Botura

Bái, a casa Bóe: Bái, a casa Bororo: Uma história da morada dos índios Bororo/ José Afonso Botura Portocarrero. -– Cuiabá: Instituto de Ciências Humanas e Sociais da UFMT, 2001.

Xi, 141p.: il. color.

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em História do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da UFMT, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em História, área de pesquisa: fronteiras, identidades e transculturação.

CDU-94(81)(=87):728.1

Índice para Catálogo Sistemático 1. Índios-Bororo-História 2. Habitação-Índios-História 3. Arquitetura indígena-Brasil-História

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Aos Bóe-Bororo;

A Rondon;

A meus pais, José Afonso e Iracy;

A meus filhos, Pedro, Ângela, Carolina, Lucas e Julia;

A minha esposa, Mônica.

A Bela Vista e à Cuiabá, cidades onde nasci.

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Anterioridades

Há alguns anos, em 1992, a convite da diretoria da

Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato

Grosso – ADUFMAT -, tive a oportunidade de projetar a

arquitetura para sua sede, em Cuiabá. A proposta era que a

forma do novo edifício procurasse traduzir a postura

instigadora dos professores no campus da Universidade

Federal de Mato Grosso - UFMT.

Iniciava, desse modo, a ligação com o desenho da habitação

indígena que, a meu ver, representava aquela intenção

perquiridora, proporcionando o cruzamento da tecnologia

contemporânea com as raízes da região. Tal objetivo, penso,

foi atendido, tendo em vista que a obra, uma vez

construída, provocou as demais com a explícita referência à

sua peculiar condição de lugar. Hoje a “oca”, como ficou

conhecida a sede da ADUFMAT, transformada também na

logomarca da associação, contribui para dar visibilidade ao

paradigma fundador da UFMT, a UNI-SELVA, como ficara

conhecida a UFMT à época de sua criação.

Os estudos desenvolvidos para a elaboração do projeto da

“oca”, foram os primeiros a me aproximarem do tema

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habitação indígena; a bibliografia consultada, a pesquisa

de materiais, as visitas em aldeias e os contatos com

índios, prosseguiram, esporadicamente, a partir de então,

na minha vida profissional e acadêmica.

Posteriormente, em 1997, coordenei os estudos para o

projeto do “Memorial Rondon”, a ser edificado na borda do

Pantanal mato-grossense, em Mimoso, lugar onde nasceu o

Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon. Tendo a vida e

obra de Rondon uma relação fundamental com a questão

indígena, o partido arquitetônico do Memorial se definiu

naturalmente como uma reelaboração das habitações dos povos

indígenas com os quais mantivera contato. Essa concepção

conduziu ao aprofundamento das pesquisas anteriores,

proporcionando o resultado plástico que se pretendia, isto

é, ligar a arquitetura do Memorial à obra de Rondon.

Portanto, ao fazer a seleção para o mestrado, em 1999,

imaginava já possuir, como arquiteto, um plano de pesquisas

delineado sobre a arquitetura dos povos indígenas em Mato

Grosso. Era o que pensava. O enfoque da história, do qual

recém me aproximara, reconhecia a identidade de cada grupo

indígena, o que, por sua vez, exigiria pesquisas muito mais

densas e específicas sobre a cultura de cada povo que

pretendesse estudar.

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Seguindo as indicações de minha orientadora foi que a

proposta inicial, que objetivava estudar a casa de trinta e

quatro diferentes povos, sofreu um recorte: deveria estudar

a arquitetura de um único povo. A escolha recaiu então

sobre os Bororo. Ao iniciar a pesquisa, percebi que a opção

Bororo também representava, para mim, a chegada a um ponto

de partida ao qual me ligara, sem saber, há muito mais

tempo. A curiosidade juvenil que despertavam os índios

Bororo, que via muitas vezes no pátio do Colégio São

Gonçalo, em Cuiabá e, depois, ao final do período ginasial,

no Colégio Dom Bosco, em Campo Grande - MT, nos quais

estudei; as estórias que os padres catequistas algumas

vezes contavam, e um certo ar de mistério que parecia

envolver as missões, sempre me fascinaram. Aquelas

impressões ficaram guardadas comigo. Anos depois tornei a

encontrar os Bororo na obra de Esther de Viveiros, Rondon

conta sua vida. Esta leitura, na fase de estudos para o

Memorial, muito me cativou; Rondon parecia ter especial

afeição por esse povo.

E assim, apoiado pelo material que já levantara, ciente das

condições de prazos do programa de mestrado, além da

continuidade dos encargos didáticos, no Departamento de

Arquitetura e Urbanismo da UFMT, dei inicio à pesquisa.

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Comecei, então, a apreender o significado de uma outra

arquitetura, muito diferente daquele que conhecia. Este é o

assunto desse estudo.

Para realizá-lo contei com o apoio e compreensão da

família, amigos e colegas. Agradeço, aqui, a todos que

generosamente me apoiaram nessa incursão especialmente ‘a

Profª. Dr.ª Maria de Fátima Costa, pela paciência e pela

disciplinada e segura orientação que dedicou a um

indisciplinado arquiteto e, pelas prazerosas lições na

desafiadora tarefa da tecitura do texto.

Aos amigos, Ivens Cuiabano Scaff, professor, médico e poeta

e, Luis D’Alkmin, arquiteto e artista gráfico, que viajam

comigo, desde há muito tempo; à FUNAI, pelos acessos

franqueados, especialmente a seus funcionários de Cuiabá e

Rondonópolis; aos salesianos, Me. Mário Bordignon, Pe.

Gonçalo Ochoa pelos esclarecimentos e sugestões que

enriqueceram a minha iniciação Bóe e, Pe. Francisco de Lima

Ribeiro, diretor de Meruri, pela gentil recepção e,

indistintamente, à Missão Salesiana em Mato Grosso, onde

desfrutei momentos de preciosa reflexão na “Casa dos

Sonhos”, em Chapada dos Guimarães; à Profª. Dr.ª Regina

Beatriz, aos demais professores do Mestrado e colegas do

curso, que me receberam, carinhosamente, um arquiteto entre

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historiadores; ao Prof. Clementino Nogueira de Souza,

mágico artesão de amizades entre gente e documentos,

diretor do Arquivo Público de Mato Grosso, o nosso arquivo

vivo, pelas preciosas indicações e, a Dulcineia Martins

pela ajuda com a pesquisa e, a todos os que ali trabalham,

pela acolhida; ao Museu do Índio, no Rio, pela pronta

disponibilidade de material; ao Prof. Dr. Leandro Rocha,

membro da banca nos exames de qualificação, pelas

fundamentais observações, incorporadas à pesquisa;

‘aqueles, os quais sem que sequer percebesse, me ajudaram e

animaram a prosseguir, minha gratidão.

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Resumo

Contatados há quase trezentos anos pelos bandeirantes

paulistas e, desde então, referidos em documentos oficiais,

crônicas coloniais e em narrativas e imagens produzidas por

viajantes, os Bororo se constituem um dos povos indígenas

vivos sobre os quais pode-se encontrar rica variedade de

fonte documental. Os estudos existentes, contudo, pouca

atenção tem dado à sua casa, a quase maioria privilegia a

sua cultura e, principalmente a espacialidade das aldeias,

por estas refletirem o próprio pensamento formador desse

povo. A presente dissertação procura contribuir para o

estudo da habitação dos Bororo, ou Bóe, como se

autodenominam. A planta pré-colonial de suas casas, sua

forma pós-contato e o seu desenho atual, são apresentados

sincronicamente; o esquema construtivo e materiais

utilizados também foram descritos neste estudo. A partir de

sua rica cosmologia, aborda-se o significado da casa Bororo

dentro da espacialidade da aldeia. A pesquisa realizada

teve como suporte a extensa bibliografia disponível sobre

os Bororo; fontes manuscritas foram utilizadas, sendo

complementadas com visitas as principais aldeias hoje

existentes. A sistematização e analise dos dados levantados

possibilitou conhecer as mutações sofridas pela habitação

Bororo: planta ovalada com cobertura cônica; planta

retangular com cobertura em duas águas descendo até o chão;

planta retangular, cobertura com duas águas e quatro

paredes.

Palavras chave: Índio; Bororo; Habitação.

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Abstract

Once they were contacted almost three hundred years ago by

bandeirantes1 from São Paulo and, since then, referred to

in official documents and colonial chronicles as well as in

narratives and images produced by travelers, Bororos are

one of the alive indigenous people about whom we can find

out a rich variety of documental sources. However, the

existing studies have regarded little attention to their

habitation, mostly concerned to their culture and, mainly,

to the spatiality of their villages once these reflect that

people’s own former thought. The present dissertation is

aimed at contributing to studying the habitation of Bororo,

or Bóe, as they call themselves. The pre-colonial plans of

their house, its post-contact form and its present design

are synchronically presented; the constructive scheme and

materials used are also described in this study. From their

rich cosmology, we have likewise approached the meaning of

Bororo’s house inside their village spatiality. The

accomplished research has been based upon the extensive

bibliography available on Bororo; manuscript sources have

been used and these were complemented by local visits to

the main villages existing nowadays. The systematizing and

analysis of collected data have made possible to find out

the changes Bororo’s house has passed through: oval plan

with conic roofing; rectangular plan with two plane roof

descending up to the floor; rectangular plan with two plane

roofing and four walls.

Keywords: Indigenous people; Bororo; Habitation.

1 Members of the expeditions called bandeiras to the hinterland in

conquest of new land, gold and precious stones.

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SUMÁRIO

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Lista de Figuras............................................ 3

Introdução .................................................. 5

Capítulo I. Bóe : Bororo ............................... 17

Contatos ................................................... 22

Situação atual............................................. 29

Capítulo II. Bóe é-wá, a aldeia Bóe ................... 35

Cosmologia e espacialidade: o mapa Bóe ................... 39

Principais aldeias ........................................ 46

Capítulo III. Bái, a casa Bóe.......................... 59

Reconstrução / Referências etnográficas .................. 60

Aproximação................................................ 69

Representação.............................................. 76

Arquitetura mutante ....................................... 85

Considerações finais ..................................... 106

Fontes e bibliografia .................................... 109

Anexo ..................................................... 119

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Lista de Figuras

FIG. 1. Bóe-Moto: Território Bororo – ocupação pré-colonial ...... 20

FIG. 2. População Bororo: idade, aldeia, sexo .................. 33

FIG. 3. Bóe-Moto: Território Bororo – ocupação atual ............ 34

FIG. 4. Esquema gráfico do Bóe é-wa, aldeia Bororo .............. 38

FIG. 5. Croquis da aldeia Perigara ............................ 48

FIG. 6. Foto de Perigara ..................................... 48

FIG. 7. Foto com vista parcial de Córrego Grande................ 49

FIG. 8. Croquis de situação da aldeia Córrego Grande ............ 50

FIG. 9. Orientação sobre foto de Sylvia Caiuby, 1971 ............ 50

FIG. 10. “Rua” de Meruri..................................... 52

FIG. 11. Vista da aldeia tirada do Morro Meruri ................ 52

FIG. 12. Vista da aldeia Garças .............................. 53

FIG. 13. Vista parcial de Tadarimana .......................... 55

FIG. 14. Vista da aldeia com Bái mána gejéwu ................... 55

FIG. 15. Jarudori, 1999...................................... 56

FIG. 16. Planta e corte esquemáticos da casa tradicional ........ 61

FIG. 17. Tabela da dimensões atuais do baíto ................... 67

FIG. 18. Construção do antigo formato do Bái mána gejéwu ........ 68

FIG. 19. Kódo, tipo de esteira usada como vedação .............. 70

FIG. 20. Bái tradicional em Perigara .......................... 72

FIG. 21. Bái, detalhe da cumeeira............................. 73

FIG. 22. Bái, detalhe do amarrio.............................. 73

FIG. 23. Interior do Bái em Tadarimana ........................ 74

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FIG. 24. Interior do Bái em Perigara .......................... 74

FIG. 25. “Janela” aberta em Córrego Grande..................... 75

FIG. 26. Quadro resumo das fichas............................. 88

FIG. 27. Bái, foto de Antonio Colbachinni...................... 91

FIG. 28. “Vista da aldeia dos índios Borôro”, aquarela Taunay .... 95

FIG. 29. “Grupo de índios Borôro”, aquarela Taunay.............. 95

FIG. 30. “Cabana de Borôro”, aquarela Taunay ................... 96

FIG. 31. “Interior de uma cabana”, aquarela Taunay.............. 96

FIG. 32. Colônia Thereza Christina, foto Wilhelm von den Steinen . 99

FIG. 33. Índios Bororo com baíto ao fundo, foto Comissão Rondon . 101

FIG. 34. Dança do Marido Paradu, foto Comissão Rondon ......... 102

FIG. 35. Aldeia Kejári, 1936, foto Claude Lévi-Strauss ......... 103

FIG. 36. Maquetes de estudo do Bái............................105

Nota: Todas as fotos e desenhos das atuais aldeias que aparecem neste

estudo foram realizadas por José Afonso Botura Portocarrero

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Introdução

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Quando da chegada dos europeus à América, os Bororo

ocupavam uma grande extensão do território continental,

localizada no centro da América do Sul, compreendendo o

quadrilátero situado aproximadamente entre os rios Araguaia

e Paraguai no sentido Leste/Oeste e os rios das Mortes e

Taquari no sentido Norte/Sul, equivalente, em termos

atuais, a área do Estado de Mato Grosso do Sul.

Como para os demais povos indígenas que habitavam o

continente recém descoberto, a história do contato entre

Bororo e colonizadores foi sofrida. Ao longo de

praticamente quinhentos anos foram desrespeitados e quase

extintos; atualmente encontram-se reduzidos a algumas

reservas em Mato Grosso, somando no total pouco mais de mil

indivíduos.

A partir da descoberta do ouro pelos bandeirantes

paulistas, e da imediata fundação no mesmo local, em 1719,

do Arrayal que logo se transformaria na Villa Real do

Senhor Bom Jesus de Cuyabá2, esta nação indígena teve a

2 Segundo Carlos Drumond (1965: 126), a origem do nome Cuiabá vem de Ikuiapá: de uma localidade onde antigamente os Bororo costumavam pescar com flecha-arpão, correspondente à foz do Ikuiébo, córrego Prainha, afluente da margem do rio Cuiabá, na cidade homônima.

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maior parte do seu habitat devassado e subtraído, sua

cultura fortemente pressionada e depois desconsiderada;

processo que se prolonga até nossos dias.

Contatados, há quase trezentos anos pelos bandeirantes

paulistas e, desde então, referidos em documentos oficiais,

crônicas coloniais, narrativas e imagens produzidas por

viajantes, os Bororo se constituem um dos povos indígenas

vivos sobre os quais pode-se encontrar rica variedade

documental, o que tem permitido conhecer a história desses

índios e sua importância na formação da nação brasileira.

Os estudos existentes, contudo, privilegiam a cultura

Bororo e, principalmente a espacialidade das suas aldeias

por estas refletirem o próprio pensamento formador desse

povo e, pouca atenção têm dado a sua moradia.

As aldeias Bóe sempre tiveram planta redonda, possuindo

diâmetro aproximado de cem metros e orientação Norte – Sul,

determinada pelo eixo maior da casa dos homens. No século

XVIII começaram as pressões sobre seus territórios

iniciando um processo que viria, deliberadamente, a alterar

o formato das aldeias; ao final do século XIX, aquelas com

Julgamos que o nome da capital de Mato Grosso, Cuiabá, justamente edificada nas duas margens do córrego da Prainha, não seja outra coisa que a corrupção e sonorização Ikuiapá.

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planta circular, ainda existentes, remanescentes do impacto

da colonização, começaram a ser formalmente desconstruídas,

primeiro pelos religiosos da Missão Salesiana e depois pelo

Serviço de Proteção ao Índio (SPI); tentava-se integrá-los

à sociedade nacional já envolvente, impondo-lhes uma

configuração espacial diversa.

Antecedendo esse período, entretanto, no bojo do projeto de

abertura e ocupação do território mato-grossense, o modo de

vida em relação ao meio ambiente dos Bóe já havia sido

bastante descaracterizado. Isto pode ser visto no documento

“Indicações do local mais conveniente para aldeamento dos

Índios Cabaçaes em Jauru”, datado de 1884 no qual o autor,

sugere transferir parte do grupo dos Bororo Cabaçaes e

aldeá-los na faixa fronteiriça entre Brasil e Bolívia3. A

proposta apresentada teve o objetivo inequívoco de utilizar

os indígenas como “guardiães de fronteira”, para usar a

expressão de Denise Meirelles4, durante período de litígio

com a Bolívia. O mais interessante, entretanto, é que a

criação do aldeamento previa um projeto de habitação, cujas

3 Lata 1844, "C". Arquivo Público de Mato Grosso – APMT. 4 Denise Maldi Meirelles, Guardiães da Fronteira: Rio Guaporé, século XVIII. 1989. A propósito desse papel de guardiães desempenhado pelos Bororo, João Augusto Caldas relata que no anno de 1740 tendo chegado a Cuyabá a noticia dada pelos Bororós do rio acima, de que padres castelhanos estavam aldeiando os índios Guaraporés nas cabeceiras do rio Cuyabá ou do Paraguay, o ouvidor convocou uma junta de todo o povo, na qual se resolveu que a nova fundação dos padres fosse arrazada pelos mesmos Bororós. Assim se executou. João Augusto Caldas. Memória Histórica sobre os Indígenas da província de Matto-Grosso. 1887, p.11.

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condições eram completamente estranhas ao modus vivendi dos

Bóe.

Essa postura colonizadora de se alterar a espacialidade da

aldeia e da casa indígena foi desastrosa, particularmente,

no caso Bororo. No desenho circular da aldeia, os Bóe

construíram o arquétipo de sua relação com o universo.

Interferir nessa espacialidade significou o início de um

processo de desintegração e de desestruturação de sua

singular e ancestral cosmologia.

A percepção dos significados da estrutura da aldeia, seus

usos, costumes e rituais e a importância daquele espaço

para o equilíbrio dos Bóe com o meio ambiente, deu-se,

primeiramente, pelas notícias dos viajantes no século XIX

e, em seguida, etnograficamente, pelas observações de

antropólogos, ainda no final daquele século.

Nesse contexto, esta pesquisa tem como objeto a casa dos

índios Bororo. Sobre o título, vale esclarecer que, de

acordo com a Enciclopédia Bororo, Bái significa casa e Bóe

é a forma como os Bororo se autodenominam5. O nome Bororo,

segundo Mário Bordignon, foi dado pelos primeiros

exploradores que, ouvindo no canto destes índios a

5 C. Albissetti e A. J. Venturelli. Enciclopédia Bororo. 1962, p.280.

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repetição freqüente da palavra “bororo”, a adotaram como

epônimo da tribo 6. Surpreende perceber que os Bororo são,

antes, os Bóe. Hoje é impossível pensar numa identidade Bóe

desconectada de sua relação com a sociedade brasileira, com

todas as suas implicações. Os Bororo são Bóe-Bororo. Isto

é: Bóe e Bororo ao mesmo tempo.

Outra observação, de caráter preliminar, se faz necessária,

pois tentar se acercar diretamente da casa Bóe, é tarefa

complexa. A casa, com sua surpreendente singeleza e

despojamento, mantém o pesquisador à distância: requer,

antes, a compreensão da simbologia da aldeia. Percebe-se

então que o caminho para o Bái, a casa, passa pelo Bóe é–

wá, a aldeia. Para chegar até a casa, objeto desse estudo,

é preciso, então, compreender primeiro a aldeia. O

objetivo, entrar nela: entrar no Bái. Conhecer seu modo de

execução; avaliar seu potencial estético como tradutor de

signos; fazer a leitura de seus usos possíveis e suas

inter-relações; identificar as rupturas e interações

ocorridas com a chegada do colonizador e entender o seu

6 Mário Bordignon Enawuréu. Os Bororos na História do Centro-Oeste Brasileiro 1716 - 1986. 1987, p. 1. Colbacchini e Albisetti, também citados por Lúcia Elaine Fagundes, Bororo, como consideras teu espaço? 1995, p. 15, contam que os brancos em sua chegada tentavam entrar nas choupanas e os índios lhes indicavam o pátio gritando: “Ka ba Boe ba?...boróro...boróro”, o que quer dizer: “que quereis?...na praça...ide lá na praça”, onde deveriam ficar e, assim, imaginaram que o nome daquela tribo era bororo. Colbachinni e Albisetti. Os Boróros Orientais. 1942, p.22.

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desenvolvimento através do tempo, sincrônicamente. Esses

foram os caminhos da pesquisa.

Nos domínios da história e da arquitetura, com apoio da

antropologia e da arqueologia, procura-se recompor o

possível desenho original do Bái, observando as

modificações que sofreu até chegar ao seu estágio atual.

Para refazer esse percurso, tornou-se fundamental conhecer

a representação da casa e do universo cosmológico nos quais

ela se insere. Para isso, recorreu-se basicamente a fontes

documentais, pesquisando manuscritos e a intensa

bibliografia a respeito dos Bororo; por meio delas foi

trabalhado, primeiro a construção de um modelo da aldeia,

para depois se chegar à compreensão do desenho da casa.

Grande parte dos autores que estudaram o grupo Bororo

apenas fez referências à habitação. A maioria dos estudos e

pesquisas detiveram-se na riqueza da espacialidade do Bóe

é-wa, a aldeia, ficando o Bái, a casa, quase que invisível

neste primeiro plano. Dessa forma, este trabalho poderá

contribuir, como enfoque de história e arquitetura, para a

constituição de um olhar mais detalhado sobre o Bái,

trazendo à luz aspectos próprios de suas moradas.

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Nessa perspectiva Roger Chartier, Michel de Certeau e Lévi-

Strauss são as referências utilizadas, na pesquisa, para

aproximar e dar suporte às linhas de compreensão da

sociedade Bóe7. A representação, as estratégias de

resistência e complementaridade são respectivamente

conceitos desses autores que possibilitam interpretar o

universo Bororo.

No processo de contato com a civilização ocidental, os

Bororo foram cindidos no século XVIII em Bororo Orientais e

Bororo Ocidentais8. Embora os Bororo Ocidentais, hoje,

sejam considerados extintos, existem relatos e imagens das

suas casas deixados por visitantes que com eles estiveram,

principalmente em meados dos oitocentos, que foram aqui

considerados9.

O objeto, em virtude das fontes e material disponíveis,

apontou um recorte temporal longo, pois busca-se entender a

construção Bororo levando em conta as referências pré-

7 Claude Lévi-Strauss. Tristes Trópicos. 1996; Michel de Certeau. A invenção do cotidiano 1. 1994; Roger Chartier. A História Cultural: Entre Práticas e Representações. 1990. 8 Segundo Colbacchini, os Boróros que habitam ao poente de Cuiabá foram chamados Boróros ocidentais, aos quais pertencem os Cabaçais Barbados e Boróros de Campanha. Os do leste chamaram-nos Boróros orientais, Boróros Coroados ou, como eles mesmos se chamam “Orarimugododoge”, gente que habita o lugar do peixe pintado. Antonio Colbacchini. À Luz do Cruzeiro do Sul. 1939. p. 10. 9 Informes preliminares de pesquisas recentes desenvolvidas pelas professoras Renate Viertler(USP) e Edir Pina(UFMT) e pelo salesiano Mestre Mario Bordignon dão conta de que se encontraram indivíduos

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coloniais até chegar ao século XX, em especial às áreas que

habitam hoje.

Procurando pois, traçar um percurso das mudanças sofridas

pelo desenho da casa Bororo, foram trabalhadas fontes

manuscritas e impressas; realizaram-se também levantamentos

in loco, para documentar os atuais desenhos do espaço

bororo. As principais aldeias remanescentes, todas

localizadas no Estado de Mato Grosso, foram visitadas:

Tadarimana e Córrego Grande, situadas à cerca de quarenta e

cem quilômetros da cidade de Rondonópolis, respectivamente,

e que mantêm a forma circular de disposição das casas; a

aldeia Perigara, a mais afastada dos núcleos urbanos,

situada no Pantanal10; as demais, Meruri, Garças e

Sangradouro, situadas no Leste do Estado e vinculadas à

Missão Salesiana, constituem-se referências complementares

que ajudam a entender o modo de vida Bororo, mesmo aquelas

que tiveram suas estruturas espaciais alteradas. São como

um mosaico, ou caleidoscópio, em que todas as partes contêm

em si o todo e constróem sua riqueza.

Bororo vivendo isoladamente na região da cidade de Cáceres, cercanias da fronteira com a Bolívia, na região de San Matias. 10 Recentemente, jornais de Cuiabá noticiaram o projeto de integração da aldeia Perigara ao programa BID-Pantanal, envolvendo a comunidade indígena, FEMA e FUNAI, para o qual seriam alocados recursos visando à construção de “réplica de uma aldeia” para visitação, dentro da perspectiva do ecoturismo. Diário de Cuiabá 30.8.99. p. A 5.

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14

A Enciclopédia Bororo é a fonte primeira neste trabalho11.

Obra que incorpora décadas de contato e observações dos

missionários Salesianos, a Enciclopédia, como passo a

nominá-la, é referencial básico para qualquer estudo sobre

os Bororo. Os trabalhos de Viertler (1976), Cayubi Novaes

(1983), Wüst (1990), Crocker (1976) e Lévi-Strauss (1955) a

complementam e, em alguns pontos, avançam sobre ela.

Dos viajantes que visitaram a região de Mato Grosso no

século XIX partem referências importantes com relação às

imagens das aldeias e das casas Bororo. É com base nesses

“informantes”, em pesquisas etnoarqueológicas12 e em

observações de campo que se reconstrói modelos da casa Bóe.

O arcabouço do texto foi armado em três capítulos. No

capítulo I, “Bóe : Bororo”, é mostrado um quadro geral da

história do povo Bóe, calcado em fontes manuscritas e

sobretudo impressas. No capítulo II, “Bóe é-wa”, o objeto é

a aldeia, mostrada com base nos estudos das fontes

impressas, basicamente alicerçadas em trabalhos de

historiadores e antropólogos; no capítulo III, “Bái, a casa

Bóe”, são trabalhados os resultados de pesquisas

etnoarqueológicas e as primeiras imagens da morada Bororo

11 C. Albisetti e A. J. Venturelli. Enciclopédia Bororo. 1962. 3 volumes. 12 Sobre o conceito de etnoarqueologia ver Dolores Newton, no seu texto de introdução para a Suma Etnológica Brasileira, 1987 v. 2. p. 24.

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produzidas por viajantes. Estas, confrontadas com as fontes

impressas e com o trabalho de campo, conduzem, finalmente,

à arquitetura da casa, que é o objeto maior deste estudo.

Finalizando nas “Considerações finais”, são retomadas as

observações desenvolvidas nos capítulos. Estas apontam que

a arquitetura do Bái sofreu um desenvolvimento temporal,

passível de ser dividido em três períodos: o pré-colonial,

ou seja, anterior ao século XVIII; o de contato, até meados

do século XX; e o contemporâneo, aqui considerado como da

metade do século XX até os dias de hoje, período em que a

sociedade envolvente - pelas frentes de expansão do capital

baseado na agropecuária - ocupou mais rápida e

agressivamente os antigos domínios Bororo. Ao longo desse

processo de relacionamento, e como seu reflexo, produziram-

se as causas que afetaram os Bororo e, conseqüentemente,

sua moradia.

Complementando este estudo, apresento, como anexo, uma

súmula de fontes manuscritas acerca dos Bororo, existentes

no APMT. Estas fontes, devido ao objeto aqui desenvolvido

foram apenas parcialmente utilizadas neste estudo. Ao

anexá-las, procurou-se contribuir com outros pesquisadores

do universo Bóe.

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I

Bóe : Bororo

Arové-re bataroé-re e-íga parí-ji*

* “Os caçadores, com seu arco, têm a beleza dos joão-pintos, no canto inicial do fogo”.

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A origem dos Bóe parece ser bastante remota. O projeto

“Etnoarqueológico e Arqueológico da Bacia do Rio São

Lourenço”, cujos dados foram originalmente apresentados na

tese de doutoramento da Prof.ª Irmihild Wüst, em 1990,

contribuiu cientificamente para suprir uma lacuna. Segundo

esta autora há vestígios de povos pré-coloniais localizados

a sudoeste do atual Estado de Mato Grosso, que demonstram

que estas terras já eram ocupadas no período Holoceno, e

identifica entre estes os índios etnograficamente

conhecidos como Bororo13. Segundo Wüst observou:

(...) as evidências arqueológicas, etnoarqueológicas e

etno-históricas sugerem que os índios Bororo do sudoeste

de Mato Grosso resultaram da fusão de grupos étnicos e

culturais distintos. A ruptura com os agricultores da

tradição Uru,que ocuparam anteriormente esta área, é

explicada em termos de pressões internas e externas e do

predomínio político de um grupo provavelmente

minoritário, portador de uma nova estratégia de

subsistência, padrão de assentamento e tecnologia,

instaurando-se uma nova ordem social em um nível de

integração regional mais amplo, dramaticamente

interrompido a partir dos primeiros contatos diretos com

a sociedade nacional14.

13 Projeto desenvolvido a partir de 1982 por uma equipe de pesquisadores da Universidade de São Paulo, Universidade Federal de Goiás e professores visitantes de outras instituições coordenados pela arqueóloga Irmihild Wüst. 14 Irmihild Wüst. Contribuições arqueológicas, etnoarqueológicas e etno-históricas para o estudo dos grupos tribais do Brasil Central: o

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No mesmo trabalho, Wüst faz referência à hipótese de

Crocker que, baseando-se em aspectos mitológicos e numa

origem pluricultural, aponta a uma possível existência de

grupos locais espacialmente distintos e que corresponderiam

a grupos protoclânicos15.

Os Bóe ocuparam um vasto território no interior da América

do Sul, que hoje, em sua maior extensão, integra os Estados

de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul - inclusive,

parcialmente, o Pantanal – e alcança um trecho de Goiás, na

região de Aragarças, e a bacia do curso superior do

Paraguai, penetrando ainda a fronteira com a Bolívia16.

Segundo a Enciclopédia, os Bororo ocuparam uma área

aproximada de 350.000 Km2, localizada entre os paralelos

14o – 19o de latitude Sul e 51o – 59o de longitude Oeste de

Greenwich, ou seja: 35 milhões de hectares (FIG 1). Nele

distribuía-se uma população de milhares de índios17.

caso Bororo. In Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia. São Paulo: 2: 13-26, 1992. 15 Idem, p. 16. 16 J. Romão da Silva. A família etno-linguística Bororo. 1968, P. 204. 17 Os dados demográficos encontrados são conflitantes. O mais provável, segundo Mário Bordignon, é que nesta área dividia-se uma população da ordem de "10.000 índios". Os Bororos na História do Centro-Oeste Brasileiro 1716 - 1986. 1987, p. 2. Por outro lado, Irmihild Wüst, cita um estudo de Steward, no qual pressupondo que as tribos atuais já existiam na época da conquista, estima para os Bororo uma população de 16.000 índios no ano de 1500. Wüst. Continuidade e Mudança. 1990, p. 108.

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FIG. 1. Bóe-Moto: Território Bororo – Ocupação pré-colonial

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21

Wüst ressalva, entretanto, que não se pode projetar esta

extensão territorial de forma estática. Salienta que, para

se conceber um passado mais remoto, deve-se considerar os

deslocamentos de outros grupos tribais e dos próprios

grupos que contribuíram na formação dos Bororo

etnográficamente conhecidos18.

Quanto à língua, os Bororo são classificados pela FUNAI e

pela maioria dos lingüistas, como pertencentes ao tronco

Macro-Jê. Irmhild Wüst, no entanto - baseada em Créqui-

Monfort & Rivet -, observa que os Bororo pertencem ao grupo

Otukê, posição endossada por antropólogos como Viertler

(1982). Loukotka (1939), também citado por Wüst, verifica

uma certa semelhança do Bororo com línguas Jê, porém diz

detectar certos elementos lingüísticos tipicamente Tupi.

Estas observações parecem sugerir a hipótese da origem

multitribal dos Bóe.

De acordo com o salesiano Mário Bordignon, eram Bororo os

Porrudos da bacia do rio São Lourenço; os Coxiponês da

bacia do rio Cuiabá, cujo nome deriva de seu afluente o rio

Coxipó; os Araripoconés; os Aravirás ou Bororo de Campanha,

da margem direita dos rios Paraguai e Jauru; os Bororo

Cabaçais, da bacia do rio Cabaçal; os Araés e os

18 Irmihild Wüst. Continuidade e Mudança. 1990, p. 86.

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Coroados19. Antônio Colbacchini observou que foi Augusto

Leverger, o Barão de Melgaço, quem, em 1851, primeiro

percebeu que todos estes grupos pertenciam ao mesmo povo

Bororo20. Ou seja, eram todos Bóe.

Contatos

Segundo a obra de Maria de Fátima Costa, o demarcador

espanhol Félix de Azara supunha, no final do século XVIII,

que os índios Xarayes eram “los mismos a que los

portugueses dan hoy el nombre de bororos”, opinião

corroborada também por João Pedro Gay.21 Ora, se as

primeiras notícias dos Xarayes, como informa Costa, foram

veiculadas na Relación, de Domingo Martinez de Irala, em

1542, e depois voltaram nos textos dos conquistadores

Schmidl, Cabeza de Vaca e Guzmán, e sendo verdadeira a

informação de Azara, poderíamos dizer que os Bororo

constituiriam hoje a mais antiga nação indígena que

19 Mario Bordignon Enawuréu. Os Bororo na história do Centro Oeste brasileiro 1716 - 1986. 1987. p. 2, 3, 8, 19. 20 Paiaguás Coxipones e mais tarde Coroados, Boróros Cabaçaes, Barbados e Boróros de Campanha. O primeiro porém, que ventilou a identidade destes índios foi o presidente barão de Melgaço, em 1851, dizendo que os índios do oeste e noroeste de Cuiabá eram da mesma tribu dos do leste, os famigerados Boróros. A verdadeira identidade foi estabelecida definitivamente pelo Dr. Karl von den Steinen, em 1887 e 1888. Depois dos estudos comparativos deste eminente cientista e explorador foi admitido que estes índios pertencessem a uma só tribu: a dos Boróros. Antônio Colbacchini. À luz do Cruzeiro do Sul. 1939, p. 10. 21 Maria de Fátima Costa. História de um país inexistente: Pantanal entre os séculos XVI e XVII. 1999, p. 136.

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sobreviveu aos primeiros contatos com os europeus no centro

da América do Sul22. Contudo, esta é uma hipótese a ser

pesquisada. Fica aqui apenas o registro.

Para seqüência deste estudo, e por sua especificidade,

trabalhei as fontes documentais mais conhecidas, que falam

dos primeiros contatos entre luso-brasileiros e Bororo em

meados do século XVII, quando os bandeirantes paulistas

adentraram a bacia do Alto Rio Paraguai na busca de ouro e,

principalmente, na tentativa de aprisionar o gentio para

servir de mão-de-obra em São Paulo, como relatou João

Augusto Caldas23.

O trabalho de Caldas, publicado em 1887, é uma fonte ainda

pouco explorada pelos pesquisadores e, até onde pude

acompanhar, é nele que se encontra a primeira referência ao

22 No trabalho de Costa, outra referência também, de forma curiosa, me trazem os Xarayes. Em nome do rei de Espanha, em 1597 esses índios foram recenseados pelo “Me. de Campo Hernando de Loma Portocarrero teniente de governador y justycia mayor y capitan gral. de las provincias de Sta. Cruz de la Sierra”. Idem, p. 135. 23João Augusto Caldas. Memória Histórica sobre os Indígenas da Província de Mato Grosso pelo Capitão João Augusto Caldas. 1887. Sobre esse autor encontrei uma interessante passagem na obra de Karl von den Steinen, "O Brasil Central", quando à p. 93 fala-nos do encontro que manteve com o Capitão da Guarda Nacional, o agrimensor João Augusto Caldas, ocorrido em Cuiabá em meados de abril de 1884. Steinen aparenta um certo ceticismo ao comentar os trabalhos sobre a história da província de Mato Grosso que o Capitão vinha desenvolvendo, como também diz ter sido inútil a sua própria busca por referências ao Xingu nos arquivos de Cuiabá. Num trecho da narrativa conta que nenhum editor se interessara pelos manuscritos de Caldas, cujo trabalho compunha-se em duas partes: "Memórias Cronológicas para a história da Província de Mato Grosso" e “Dicionário Topográfico, Histórico e Descritivo da Província de Mato Grosso”; Steinen diz ter a impressão que se tratava mais de um trabalho de compilação do que

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fato de os Bororo já serem conhecidos mesmo antes da

fundação de Cuiabá. Escreve Caldas:

Antes mesmo do descobrimento de Cuyabá, havia em S.

Paulo índios Bororós tirados destes sertões, os quaes já

domesticados serviam de guia aos sertanistas para a

conquista de outras nações de que não tinham notícias.

E complementa:

A bandeira de Bartholomeo Bueno da Silva, chamado o

Anhanguêra, que penetrou nestes sertões no século 17.°,

foi guiada pelos Bororós 24.

Contudo, para a maioria dos autores o contato com os Bororo

se iniciou há três séculos e pode ser dividido em três

etapas distintas25:

1ª - Descoberta do ouro, do início do século XVIII até o

início do XIX.

"propriamente crítica", porém considera-o como valioso e lamenta seu abandono. Caldas morreu antes da publicação. 24 Caldas, op. cit. p. 18 e p. 46, nota 36. Este dado também foi observado por Bordignon, 1987, p. 7, e Viertler, 1990, p. 28. 25 Sobre o assunto consultar, entre outros, Paulo Marcos Noronha Serpa. Bóe Épa - O cultivo da roça entre os Bororo de Mato Grosso. 1988, p. 46.

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25

Período altamente conflitivo, caracterizado pela guerra

contra o invasor europeu, e que Caldas assim descreveu:

Os paulistas, no seculo passado, depois de terem

domesticado umas e desbaratado outras das innumeras

nações de indios que habitavam o littoral, á frente de

numerosas bandeiras internaram-se pelos territorios que

formam hoje a provincia de Matto Grosso, levando a ferro

e a fogo os infelizes indigenas que encontravam, os

quaes oppunham natural e seria resistencia, afim de que

os invasores não os despojassem das terras por elles

primitivamente occupadas26.

Noutro trecho destaca que:

(...) entre todas as nações, porém, tres tornaram-se

celebres por sua altivez e valentia. Eram ellas as dos

indios Payaguás, Guaycurús e Bororós. (...) Os Bororós,

nação immensa, que se estendia até os sertões de Goyaz,

foram os primeiros contra quem os paulistas investiram,

em conflictos em que tiveram que reconhecer a

superioridade daquelles sobre as demais nações com quem

bateram-se27.

Essa resistência aconteceu mais fortemente por parte dos

Bororo situados a Ocidente, originando um período de

guerras punitivas que, para qualificação do conquistador,

cindiu a tribo em duas – Bororo Ocidentais e Bororo

Orientais.

26 João Augusto Caldas. Op. cit. p. 5. 27 Ibidem. P. 7 e 17 respectivamente.

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No final do primeiro quarto do século XIX, João Pereira

Leite, comandante militar de Villa Maria - atual Cáceres -,

fazendeiro na região, e proprietário da fazenda Jacobina,

solicita e obtém a D. João VI, autorização para “combater”

os Bororo promovendo então uma verdadeira guerra a este

povo, matando oficialmente 450 índios e aprisionando

aproximadamente 50 deles28.

2ª - Processo de ‘pacificação’ dos Bororo Orientais e

extinção dos Bororo Ocidentais, que não conseguem se

adaptar à presença dos “civilizados”. Final do século

XIX.

Neste período os Bororo Orientais conseguiram criar uma

forma de adaptabilidade, um modus vivendi, com a nova

sociedade circundante, tendo, assim, a possibilidade de

sobreviverem e de ajustarem a sua estrutura interna às

novas situações29. Encerram-se as guerras explícitas e são

estabelecidas duas colônias militares, a de “Thereza

Christina” e a de “Izabel”, no médio rio São Lourenço30.

28 Hercules Florence. Viagem Fluvial do Tietê ao Amazonas. 1977, p. 197. Koslowsky, 1895, relata que despues de una guerra vigorosa de cinco á seis años á fines del primer cuarto de este siglo, durante la cual murieron unos 500 Bororós, cayendo prisioneros unos 100, se sometieron e y aceptaron el bautismo. A estes indios los llevó Pereira Leite á la estancia Cambará, donde establecieron sus vivendas. Julio Koslowsky. Algunos datos sobre los Indios Bororós. 1895, p. 381. 29Paulo Marcos Noronha Serpa, Bóe Epa: O cultivo da roça... 1988, p. 48. 30 Conforme Relatório Apresentado a Assembléia Legislativa Provincial ano 1887 - livro no. 24 APMT, as colônias foram criadas por ato do

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Nos primeiros anos da República brasileira, o então Major

Gomes Carneiro, tendo como ajudante o Tenente Cândido

Mariano da Silva Rondon, dá início aos trabalhos de

instalação das linhas telegráficas em território mato-

grossense e, por conseqüência, adentram o espaço Bororo.

Tal projeto, como assinalou Elias Bigio, insere-se como

parte das estratégias do novo regime, que procurava

imprimir uma política de ocupação e defesa das fronteiras

do Brasil, na qual a integração da população indígena era

essencial31. No início do século XX são fundadas as

colônias Salesianas, segundo Mario Bordignon, sempre às

margens de cursos d’água e adotando seus nomes: em 1902, a

de “Tachos”, afluente do rio Barreiro; em 1905, “Aracy”,

afluente do rio Garças e, em 1906 “Sangradouro”, afluente

do rio das Mortes. Em 1910 o processo de incorporação dos

Bororo à sociedade nacional se consolida com a criação do

Serviço de Proteção ao Índio e Localização de Trabalhadores

Nacionais - SPILTN32. O que restou de seu território

tradicional, é então ocupado pelas frentes de mineração,

agricultura e pecuária.

então Presidente da Província Dr. Álvaro Rodovalho Marcondes dos Reis. Em outro Relatório da Assembléia, ano de 1879, livro no. 12 APMT, João José Pedrosa conta que já se pensava na criação de colônias e que solicitara ao Barão de Melgaço para que indicasse a região mais apropriada, e que este indicara as proximidades do rio S. Lourenço, onde de fato vieram a ser fundadas. 31Elias dos Santos Bigio. Linhas telegráficas e integração de povos indígenas: as estratégias políticas de Rondon (1889-1930). 1996, p. 3. 32Serviço de Proteção ao Índio e Localização de Trabalhadores Nacionais, posteriormente, em 1918, transformado em SPI – Serviço de Proteção ao Índio. Elias Bigio, Cândido Rondon. 2000, p. 26.

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28

3ª - “Divisão administrativa dos Bororo Orientais em Bororo

das Missões, Bororo da FUNAI e Bororo Independentes33”.

Processo de depopulação causado principalmente por

epidemias, subnutrição, alcoolismo, e pela perda de terras

e a resistência ao processo de “emancipação” oficial.

Contato permanente com as frentes de expansão da sociedade

brasileira.

O grupo dos Bororo independentes de “São João do Jarudori”,

que ocupava uma área demarcada pelo Estado, já não existe;

segundo Serpa, em 1983, esta área foi totalmente invadida

pela “corrutela” do Jarudori34. O mesmo autor afirma ainda

que, em termos histórico-econômico-regionais, na segunda

metade do século XX se caracteriza a submissão total dos

Bororo Orientais dessa região de Mato Grosso. Para Serpa

essa é a fase mais dolorosa do contato inter-étnico, quando

os Bororo perdem seus territórios de exploração, sofrem uma

depopulação inusitada e passam a depender exclusivamente

dos tutores determinados pela política indigenista oficial

ou dos missionários.

33 Paulo Marcos de Noronha Serpa. 1988, p. 51. 34 Idem, p. 51.

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29

Situação atual

O contato com os novos grupos de colonizadores acelerou o

drástico processo de retração do território, que reduziu o

grupo Bororo a cinco reservas, todas no atual no Estado de

Mato Grosso: Meruri, Tadarimana, Teresa Cristina, Perigara

e Jarudori35, que reunidas ocupam uma área de 133.226,7806

ha. – eqüivalendo hoje a aproximadamente 0,14% do

território mato-grossense.

É interessante ressaltar que todas as reservas Bororo estão

localizadas na faixa entre os paralelos 15° e 20°, onde

acontece uma explosão na agricultura com as culturas de

algodão, arroz e soja; vale lembrar que, atualmente, Mato

Grosso ocupa o primeiro lugar como produtor nacional de

algodão e soja e o segundo em produção de arroz36. Além

disso, é nessa mesma região que se concentra a maior parte

do rebanho bovino do Estado, considerado como o quarto

maior produtor de carne país.

A agressiva ocupação dessa região pela agricultura

mecanizada e pecuária extensiva, com uso das tecnologias

globalizadas mais recentes, e que coloca a sua produção

nos mercados por meio das bolsas de mercadorias

internacionais, localiza-se exatamente sobre os antigos

territórios Bóe; há inclusive a perspectiva de que o

35Reserva que possuía aldeia com o mesmo nome, transformada por invasões numa corrutela e que mantém a denominação antiga dos Bororo. 36 Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB, dezembro 2000.

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traçado da FERRONORTE - ferrovia cujo percurso

originalmente projetado deverá ligar o porto de Santos, no

estado de São Paulo, ao Pacífico, passando por Mato Grosso

-, cruze as atuais reservas deste povo. Certamente tais

impactos implicarão ainda em muitos e novos desafios para

os Bororo37.

Para uma melhor visualização da atual situação do povo

Bororo, apresento a seguir um resumo atualizado da condição

fundiária das cinco reservas:

37 A propósito dessa agressiva ocupação, existe uma profecia de Dom Bosco, o fundador da Ordem dos Salesianos, que conta em seu livro de memórias um sonho que teve, na noite de 29 de agosto de 1883. Dom Bosco relata que se encontrava viajando de trem na cordilheira, olhando para o nascente, o Leste, o Oceano Atlântico. No início da viagem o padre Lago, salesiano, porta-lhe um cesto de figos verdes, convidando-o para os saborear.

- Esses figos estão verdes, não os posso comer. - Faça assim. O padre Lago, tomando os figos, mergulhava-os num

cálice de sangue e noutro de água. Com isso os figos ficavam maduros e saborosos.

- O que significa isto? - Derramando suor e sangue seus filhos evangelizarão a America

Latina. Na viagem Dom Bosco vê com muita exatidão toda a bacia Amazônica com seus rios, florestas, riquezas minerais e presença de petróleo. A um dado momento o personagem que o acompanha chama-lhe a atenção. - Dom Bosco, olhe bem toda essa vasta região, as montanhas e os

espaços que há entre elas. Estamos entre os paralelos 15 e 20. O Santo exclama:

- Estou vendo as montanhas, as grandes como as pequenas, as próximas e as distantes. Então uma voz lhe repetiu várias vezes:

- Quando forem extraidas as riquezas que há nos longos espaços entre os montes, aqui será a TERRA PROMETIDA, onde correrá leite e mel. Será uma riqueza indescritível.

Texto existente em um quadro na residência Salesiana “Casa do Sonho”, em Chapada dos Guimarães, extraído do vol. XVI, Memórias Biográficas, p. 385 e seguintes. Monteiro Lobato ligou esse sonho à descoberta do petróleo; Juscelino Kubistchek à fundação de Brasília e Lucio Costa, intuitivamente, desenhou o seu plano piloto em forma de cruz. Finalmente, a história dos Salesianos no Brasil está intrínsecamente ligada aos Bororo, e alguns deles aqui derramaram seu próprio sangue.

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31

Meruri: 82.301,1363 ha.

Municípios de Barra do Garças e General Carneiro, MT

Homologada/Regularizada

Dec. 94014 de 11/02/87

CRI Processo 3049/87-56

SPU s/n de 06/11/87

Tadarimana: 9.785,00 ha.

Município Rondonópolis, MT

Homologada/Regularizada

Dec. 300 de 29/10/91

CRI 7786 em 14/11/74

CRI 41509 em 06/12/91

SPU em 18/05/87

Teresa Cristina: 25.694,2328 ha.

Município Sto. Antonio de Leverger,MT

Demarcada

Dec. 64.018 de 22/01/69

Portaria FUNAI 1708 de 18/02/92

(reestudo)

Perigara: 10.740,4115 ha.

Município de Barão de Melgaço, MT

Homologada/Regularizada

Dec. 385 de 24/12/91

CRI 46357 em 17/02/92

Jarudore: 4.706,00 ha.

Município de Poxoréu, MT

Homologada/Regularizada

Dec. Est. 664 de 18/08/45

CRI 3547 em 20/08/58

SPU em 18/05/87

Total: 133.226,7806 ha38

38 FUNAI/MT, Cartografia / Áreas Indígenas no Estado de Mato Grosso. 2000.

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32

Nestas reservas reúne-se uma população de pouco mais de mil

indivíduos. Vale salientar que Sangradouro, antiga reserva

Bororo demarcada por Rondon, encontra-se agora reduzida a

uma aldeia dentro da Reserva Sangradouro/Volta Grande, que

atualmente pertence aos Xavante. O salesiano Gonçalo Ochoa,

em meados do ano 2000, realizou um rigoroso levantamento

demográfico, no qual registrou que 53% são menores de 20

anos, 38% deles estão entre 20 e 60 anos e 8% são maiores

de 60 anos. No quadro a seguir pode-se visualizar melhor

esta população:

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33

População Bororo: idade, aldeia, sexo.

Idade / aldeias

Meruri C. Grande

Tadarim. Sangrad. Piebaga GarçasPerigara Cidades T

M 23 32 9 9 7 5 3 88 0 - 4 F 25 22 20 5 8 2 2 84 T 48 54 29 14 15 7 5 172

M 23 23 10 7 10 5 3 81 5 a 9 F 21 24 16 6 7 5 1 80 T 44 47 26 13 17 10 4 161

M 23 15 11 4 2 3 2 60 10 a 14 F 23 17 10 2 2 4 1 59 T 46 32 21 6 4 7 3 119

M 22 14 16 4 0 3 6 65 15 a 19 F 25 19 11 4 4 3 5 71 T 47 33 27 8 4 6 11 136

M 14 11 9 4 2 3 2 45 20 a 24 F 15 13 4 5 2 1 2 42 T 29 24 13 9 4 4 4 87

M 22 13 5 1 2 3 1 44 25 a 29 F 10 12 8 2 5 1 0 38 T 32 25 13 3 7 4 1 82

M 13 7 5 4 2 2 4 37 30 a 34 F 9 5 5 1 2 4 1 27 T 22 12 10 5 4 6 5 64

M 8 5 3 1 3 2 1 23 35 a 39 F 9 5 4 1 1 0 0 20 T 17 10 7 2 4 2 1 43

M 7 5 4 4 1 0 3 22 40 a 44 F 5 8 3 2 0 0 6 24 T 12 13 7 6 1 0 9 46

M 4 4 5 4 0 0 2 19 45 a 49 F 7 3 0 1 0 2 4 17 T 11 7 5 5 0 2 6 36

M 7 2 4 1 1 1 2 18 50 a 54 F 4 2 1 2 0 0 3 12 T 11 4 5 3 1 1 5 30 M 5 1 0 0 0 2 2 10 55 a 59 F 1 2 1 0 2 0 2 8 T 6 3 1 0 2 2 4 18 M 9 10 8 2 2 5 5 41 60 a + F 11 14 11 1 1 4 6 48 T 20 24 19 3 3 9 11 89 M 181 142 89 45 32 34 36 559 Totais F 165 146 93 32 34 26 33 529 T 346 288 182 77 66 60 80* 69 1168

Fonte: Pe. G. Ochoa, 2000 * Devido à dificuldades de acesso, o número de habitantes em Perigara foi estimado em 80 índios. FIG. 2. População Bororo: idade, aldeia, sexo.

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34

FIG. 3. Bóe-Moto: Território Bororo – ocupação atual

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35

II

Bóe é-wa: aldeia Bóe

“Jedes Dasein scheint in sich rund.” Jaspers*

* “Toda existência, em si mesma, parece redonda.” Karl Jaspers

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36

Este capítulo descreve o caminho que conduzirá ao Bái.

Apenas pelo seu percurso é que poderemos adentrar à casa

Bororo. Desvendá-lo é tarefa que requer atenção e

prudência, porque se trata de território cuja leitura está

sujeita a um conjunto de determinantes gravadas em código

edificado na tradição Bororo, inacessível ao visitante

menos atento. Procuro aqui apenas resumir os aspectos que

considerei relevantes para efeito de meu objeto de estudo,

deixando de abordar as questões antropológicas de sua

organização social que, por outro lado, já foram objeto dos

detalhados estudos que me apoiaram como fontes secundárias.

Quanto à sua origem, a aldeia remete à lenda da inundação

geral, da qual sobreviveu um único índio, Merìri Pòro. Este

sobrevivente fica ilhado no cume de um morro39, e ali

acende um fogo, aquecendo pedras que passa a jogar nas

águas; o calor das pedras provoca a evaporação, e faz com

que as águas retornem ao seu nível normal. O índio então

encontra um guaçuetê fêmea (cerva) e com ela procria. Os

primeiros filhos nascem com as características da mãe e são

39 Toroari, morro do gavião Toroa, está localizado nas cercanias de Cuiabá, sendo conhecido como Morro de Sto. Antonio; faz parte da heráldica mato-grossense, figurando nos brasões do Estado de Mato Grosso e da cidade de Cuiabá.

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37

sacrificados. Os que passam a nascer semelhantes ao pai,

sobrevivem e dão nova origem ao povo Bororo. Estes são

dispostos em aldeias circulares, organizadas como antes da

inundação40, realizando uma espécie de refundação das

aldeias Bóe.

Estas aldeias, construídas ao modo tradicional,

circunscrevem-se num diâmetro de aproximadamente cem

metros, em terreno cuja topografia está suavemente

inclinada na direção Oeste, direção em que também deverá

estar localizado o curso d’água. A construção começa,

segundo a lenda, pelo Bái mána gejéwu ou baìto, forma comum

usada pelos Bororo para designar a casa dos homens, que

determina o centro do círculo e que tem seu eixo maior na

orientação Norte / Sul. Seu eixo menor Leste / Oeste divide

a aldeia em duas metades exógamas: Eceráe e Tugarége, mas

que também divide na ordem contrária o seu interior: a

metade dos homens Eceráe fica dentro da metade Tugarége e

vice-versa. Para facilitar a compressão do texto é

apresentado na seqüência um esquema gráfico da aldeia,

construído a partir da Enciclopédia e de Renate Viertler,

FIG. 5:

40 Albisetti, Venturelli. Idem, p. 431.

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38

FIG. 4. Esquema gráfico do Bóe é-wa, aldeia Bororo

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39

Na lateral do Bái mána gejéwu, face Oeste, está o bororo –

o pátio das cerimônias. Há um caminho em linha reta,

perpendicular ao baíto, que liga o bororo ao aíje múga -

lugar dos atores41 -. Este lugar fica afastado, externo ao

círculo das casas, constituindo-se numa clareira de

aproximadamente vinte metros de diâmetro. É lá que os

homens preparam-se, fora das vistas das mulheres, para os

cerimoniais. O caminho que os une é chamado de aije rea, ou

caminho dos espíritos42.

Cosmologia e espacialidade: o mapa Bóe

Jon Cristopher Crockrer, referindo-se ao desenho das

aldeias, diz que para os Bororo ela é como um modelo ideal,

uma planta moral, que estabelece uma ordem normativa e que

regula a sua sociedade. Segundo ele:

As posições dos clãs no círculo da aldeia são

localizadas com referência aos pontos cardeais

determinados pelo curso do sol, de maneira que cada clã

se encontra em relação geográfica definida com todos os

outros. Essas posições refletem aspectos das relações

normativas corretas dos clãs inter se. Os Borôro

consideram muito importante que as posições das casas em

41 Enciclopédia. V.1, p. 26 42 Idem, idem.

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40

determinada aldeia correspondam tanto quanto possível às

indicadas pelo modelo, e entre as obrigações principais

dos dois chefes rituais da aldeia está a de determinar a

localização das cabanas toda vez que a aldeia se

desloca. Na verdade, os clãs que em principio fornecem

estes chefes são conhecidos pelo titulo de `Planejadores

da Aldeia’ (Bado Jebage)43.

Como também observou Sylvia Caiuby Novaes:

a aldeia Bororo tem, nas casas que se situam ao redor do

círculo, a representação das várias linhagens que

compõem esta sociedade. É assim uma espécie de `mapa’ da

sociedade Bororo44.

Portanto, a disposição das moradas no Bóe e-wá, ao redor do

círculo, em torno do Bái mána gejewú, possui uma marcação

bem definida e imutável. Cada casa representa um clã ou

sub-clã, e por isso não poderia estar em outro ponto

diferente daquele definido pelo “mapa” da cosmologia Bóe. A

maioria dos autores que se dedicaram ao estudo dos Bororo,

demonstra que a espacialidade da aldeia é uma representação

vital para aquele povo.

43 Jon Christopher Crocker. Reciprocidade e Hierarquia entre os Bororo Orientais. In Leituras de Etnologia Brasileira. 1976, p. 167. 44 Sylvia Caiuby Novaes. (Org.) As casas na organização do espaço social Bororo. In Habitações Indígenas. 1983, p. 75.

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41

Sobre a separação principal dos partidos, Eceráe -

Tugarége, é que está assentada toda a ordem de igualdade e

complementaridade dos Bóe. Cada metade representa quatro

clãs, e cada clã, por sua vez, três sub-clãs e a partir

destes

um número variável de matrilinhagens nominadas, a

maioria das quais diz manter sua própria constelação de

direitos e obrigações rituais45.

Os funerais dos Eceráe são feitos pelos Tugarége, e os

destes por aqueles. Como são exógamos, cada metade só pode

casar-se com membros da outra, regidos pelo princípio da

matrilinearidade, isto é, o homem Bororo casado passa a

morar na casa da mãe da sua mulher; como solteiro morava no

baíto. A criança pertence ao lado e ao clã de sua mãe e a

cada clã pertence um conjunto de espécies naturais,

animadas e inanimadas que configuram seu patrimônio de

cantos, danças, enfeites, armas e outros objetos, nomes

pessoais e primazias sobre determinadas matérias primas. A

esse conjunto denomina-se aroe ou iedaga-mage46.

No seu cotidiano, em suas festas e cerimônias, o caráter da

divisão desenhada pela espacialidade da aldeia regula o

45 Jon Christopher Crocker. Idem, p. 165. 46 Renate Brigitte Viertler. As aldeias Bororo. 1976, p. 23.

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42

equilíbrio entre as partes, numa troca constante de

energias. Este movimento chamou a atenção de Claude Lévi-

Strauss, que a descreveu comparando-a a um balé:

(...) em que duas metades da aldeia obrigam-se a viver e

a respirar uma por meio da outra, trocando as mulheres,

os bens e os serviços, em meio a uma fervorosa

preocupação de reciprocidade, casando seus filhos entre

si, enterrando mutuamente seus mortos, garantindo uma a

outra que a vida é eterna, o mundo caridoso, e a

sociedade justa. Para comprovar essas verdades e manter

essas convicções, seus sábios elaboraram uma cosmologia

grandiosa; inscreveram-na na planta de suas aldeias e na

repartição das habitações. As contradições em que

esbarravam, enfrentaram-nas e reenfrentaram-nas, jamais

aceitando uma posição a não ser para negá-la em favor de

outra, dividindo e separando os grupos, associando-os e

defrontando-os, fazendo de toda a sua vida social e

espiritual um brasão em que a simetria e a assimetria se

equilibram, como nos elaborados desenhos com que uma

bela Cadiueu, mais obscuramente torturada pela mesma

preocupação, fere o próprio rosto47.

A divisão do círculo é feita, portanto, em duas metades.

Essas metades, por sua vez, são subdivididas em pequenos

setores de terras, assinalados no solo, onde são

construídas as casas.

47 Claude Lévi-Strauss. Tristes Trópicos. 1996, p. 229. (grifo meu).

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43

Nos extremos Leste e Oeste do semicírculo, formado pelo

lado ecerae, estão localizados respectivamente os setores

que abrigam as casas, ou clãs, dos construtores da aldeia

de cima - Baadojebage Cobugiwuge - e dos construtores da

aldeia de baixo - Baadojebage Cebegiwuge -, chefes

tradicionais da aldeia. Situados entre eles, os Kie - os

antas - à esquerda dos Cebegiwuge, e os Bokodori - os tatu-

canastras -, a direita dos Cobugiwuge. O outro lado do

círculo, a metade Tugarege, possui as seguintes

subdivisões: no extremo Leste, os Paiwoe - os bugios -, e a

sua esquerda os Apiborege - os os donos da palmeira acuri;

no extremo Oeste do semicírculo, os Iwagududoge - os

gralhas -, e a sua direita os Aroroe - os larvas48.

Segundo a Enciclopédia, o termo bororo pode significar uma

porção do pátio onde se realiza a maior parte das

cerimônias ao ar livre, toda a praça, ou mesmo a aldeia

completa49. Podemos analisar que, se do ponto de vista

hermenêutico o que foi traduzido pelos bandeirantes como

Bororo não é a mesma coisa que o Bóe, como eles se

autodenominam, essa forma acabou por obter um significado

que traduz a essência do modo de vida e da cultura daquele

povo. Como assinalou Sylvia Caiuby Novaes:

48 Renate Viertler. 1976, p. 22. E ainda, os nomes nos modelos são sempre masculinos porque se trata de distribuir terras subordinadas a homens e não choupanas possuídas pelas mulheres. Idem, p. 148. 49 Albisetti, Venturelli. 1962, V. 1, p. 434.

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44

Boe, a autodenominação dos bororo, efetivamente pode ser

traduzida por gente, ser humano, e neste sentido, todos

os não Bóe situam-se fora desta categoria50.

A expressão bororo, como construída pelos Bóe, foi

apropriada pela sociedade envolvente, e hoje está

assimilada por eles. Isto é, adotaram também a

representação da própria imagem segundo a concepção

utilizada pelos que chegaram.

Tomando Roger Chartier51 como referencial, podemos

interpretar esta assimilação como uma estratégia de

representação dos Bóe que se enuncia em termos de poder e

de dominação, e que se impôs desde os primeiros contatos,

daí a resposta dos colonizadores pelas armas e de uma

designação, quase aleatória, do povo Bóe que não era aquela

que os mesmos tinham como sendo formadora de sua própria

identidade. Por outro lado, essa designação afirmava o

bororo - pátio –, que, segundo a Enciclopédia, pode

significar a aldeia completa, termo capaz de denominar

aquele povo, o que não deixava de ser também uma referência

direta aos Bóe, uma vez que sua imagem estava impressa

nessa espacialidade, ou mapa da cosmologia Bóe.

50 Sylvia Caiuby Novaes. Idem, p. 115. 51 Roger Chartier. A História Cultural: entre Práticas e Representações. 1988, p. 17.

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45

Nessa relação dialética Bóe / Bororo, Eceráe / Tugarége,

eles parecem ter escolhido, resolvendo o dilema, como nas

palavras de Lévi-Strauss, onde o homem, ante as

perspectivas que poderiam seduzir sua imaginação, deve

decidir-se a preferir o equilíbrio e a periodicidade das

estações52. Entre serem Bóe extintos ou Bororo vivos, este

povo parece ter adotado como estratégia de resistência o

ciclo das estações, no qual não estão sozinhos, sendo ora

Bóe, ora Bororo. Michel de Certeau, ao chamar atenção a

respeito da inversão e subversão pelos mais fracos, lembra

também que os indígenas da América do Sul, submetidos aos

espanhóis, subvertiam a ordem dominante fazendo funcionar

as suas leis e suas representações num outro registro, no

quadro de sua própria tradição53.

Paralelamente a estas apreensões da representação do espaço

da aldeia, no desenvolvimento dos trabalhos, foram

realizadas visitas às comunidades Bororo, durante as quais

se reproduziu em fotos e desenhos a espacialidade e

processos construtivos do Bái. Pôde-se então observar que

as atuais “aldeias” incorporaram modificações diversas,

sobretudo nas últimas décadas em que, o processo de

52Claude Levi-Strauss. Antropologia estrutural dois. 1976. P. 31. Também citado por Catherine Clément, no texto de James Boon in El retorno de la Gran Teoria en las ciencias humanas, de Quentin Skinner. 1988, P. 156. 53 Michel de Certeau. A invenção do cotidiano. Vol. I. 1994. p. 18.

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46

ocupação acarretado pela forte expansão da agropecuária e

agroindústria, somado ao incrível avanço dos meios de

comunicação (radio – TV), acabaram por intensificar os

contatos, produzindo mudanças, tanto na aldeia como na

habitação tradicional.

Principais aldeias

A partir das visitas realizadas, se apresenta,

resumidamente na seqüência, uma visão de cada uma dessas

aldeias, tentando traçar um quadro geral e atual de suas

espacialidades, na procura de oferecer uma melhor

compreensão espacial dos territórios Bóe. Esta incursão

acaba por retratar também, parcialmente, o quadro social

desse povo, deixando transparecer as dificuldades dos

organismos oficiais, até hoje, em apreender e interpretar

os desígnios dos povos indígenas. Porém, apesar dos

desencontros acarretados pelos salesianos e pela FUNAI,

nota-se que o desenho tradicional do Bóe é-wa, a aldeia,

ainda se encontra vivo. Em algumas das aldeias é

perceptível o esforço em manter a planta circular, como uma

tentativa consciente de que reside aí a chance de guardar

impressa na terra a última marca de posse de seus tão

reduzidos territórios, mas uma marca tão profunda que é

capaz de perpetuar sua presença.

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Perigara, visitada em 16.3.00

Designação de certo espírito; de um trecho de 60 km do Pogubo Cereu r. S. Lourenço, antes de se unir ao r. Cuiabá, denominado Furo do Perigara ou Furo do Tarigara; da Reserva e da Aldeia Bororo, situadas na margem direita deste trecho do Pogubo Cereu54.

Situada no pantanal mato-grossense, dentro da Área Indígena

do mesmo nome com 10.740,4115 ha., é a mais isolada das

aldeias Bororo. Seu acesso na estação das águas só e

possível de barco ou por avião, tendo as seguintes

coordenadas 15º 42’ 0’’ S e 56º 02’30 3’’ W. Sua disposição

espacial assemelha-se a um retângulo, no qual um dos lados

menores está aberto em direção ao rio Perigara. Compõe-se

de dez casas, sendo que a maioria delas está distribuída

nos lados maiores do pátio retangular. Chama atenção a

inexistência do Bái mána gejéwu, a casa dos homens. Possui,

além das casas, o posto da FUNAI, construído segundo os

moradores pelo Marechal Rondon, uma escola junto a um

pequeno posto de saúde e mais uma casa do Summer Institute;

comunica-se pelo equipamento de rádio que funciona com

baterias de energia solar. Apenas uma das casas mantém o

desenho do Bái tradicional, sendo as demais quase todas

barroteadas e algumas com telhas de fibrocimento.

54Pe. Gonçalo Ochoa C. SDB. Pequeno Dicionário Bororo - Português. 1997, p. 205.

Comentário:

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FIG. 5. Croquis da aldeia Perigara onde se observa sua atual configuração espacial.

FIG. 6. Foto de Perigara, com baterias solares e caixa dágua.

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49

Córrego Grande, visitada em 19.4.00

Situada à cerca de 100 quilômetros da cidade Rondonópolis,

esta aldeia é parte da Área Indígena Teresa Cristina,

antiga Colônia Militar, e possui 25.694,2328 ha. Localizada

na região de influência do distrito de São Lourenço de

Fátima, atualmente encontra-se ilhada por fazendas

agrícolas. Esta aldeia foi considerada por Sylvia Caiuby,

que a visitou em 1971, como a única que sempre manteve a

forma circular55, disposição que conserva até hoje, apenas

com acréscimo de novas casas e que se espalham

aleatoriamente fora do círculo principal. Compõe-se de

aproximadamente 50 habitações, a maioria tradicional, com

algumas pequenas alterações. Seu baito, o bororo e o aije

muga permanecem como no modelo padrão já descrito. Possui

eletrificação rural e algumas construções de alvenaria, um

pouco afastadas, localizadas na chegada da aldeia. O posto

da FUNAI fica distante aproximadamente 800 m. após o campo

de futebol e a antiga pista de pouso. Perto da aldeia há

uma cultura mecanizada de arroz, cultivada pelos Bororo.

FIG. 7. Vista parcial de Córrego Grande, com o baíto no centro.

55 Sylvia Caiuby Novaes. Habitações Indígenas. 1983, p. 61.

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50

FIG. 8. Croquis de situação da aldeia Córrego Grande.

FIG. 9. Orientação sobre foto de Sylvia Caiuby, 1971

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51

Meruri, visitada em 8-9.06.00

Morro da raia: morro à margem esq. do Kujibo Pó Rurureu, frente ao qual se encontra a Aldeia de Meruri, com a Missão Salesiana56

Aldeia fundada pelos salesianos em 1923, em substituição à

antiga Colônia do Sagrado Coração, que havia sido iniciada

em 1902, no lugar denominado pelos Bororo de Tachos; a

mudança ocorreu pela maior riqueza de água existente em

Meruri57. Está localizada no Leste do Estado, faz parte da

Área Indígena Meruri com 82.301,1363 ha, distante

aproximadamente 120 km da cidade de Barra do Garças e a 50

km de General Carneiro, e na ocasião da visita, um dos

seus moradores, o Bororo Tuborekia, Domingo Sávio, tinha

assento na Câmara Municipal desse município. A aldeia

Meruri possui formato retangular, quase quadrado, e todas

as casas no entorno do pátio são de alvenaria, com divisões

internas, inclusive o baíto, junto ao qual está o bororo;

do lado oposto uma quadra de concreto e na sua frente

Tugarege um campo de futebol. Existe uma segunda rua de

casas, no lado oposto ao que se situam as construções das

missões; essas casas possuem desenho tradicional. Em

15.7.1976 morreram assassinados aí o índio Simão Bororo e o

missionário salesiano Rodolfo Lunkenbein, em conflito com

fazendeiros pela posse de terras. Atualmente residem em

56 Pe. Gonçalo Ochoa C. SDB. Idem. 1997, p. 174. 57 Mario Bordignon. Os Bororo na História do Centro-Oeste Brasileiro. 1987, p. 29.

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52

Meruri o Pe. Gonçalo Ochoa e o diretor Pe. Francisco de

Lima, além de outros religiosos dessa ordem e freiras,

Filhas de Maria Auxiliadora da Missão do Sagrado Coração de

Meruri. A Missão Salesiana provê infra-estrutura comparável

a de um núcleo urbano, com captação e distribuição de água

encanada, eletrificação nas casas, e na sede existe um

telefone, além das instalações da própria Missão, como

Igreja, escola, posto de saúde, oficinas, e tratores.

FIG. 10. “Rua” de Meruri

FIG. 11. Vista da aldeia tirada do Morro Meruri

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53

Garças, visitada em 9.06.00

Localizada a 3 km da margem esquerda do rio Garças, também

faz parte da Área Indígena Meruri, distando daquela aldeia

aproximadamente 18 km. Conserva a disposição circular sendo

constituída atualmente por apenas sete casas, todas

tradicionais; o baíto lá existente incorporou algumas

alterações interessantes, tendo sido construído pelos

índios com ajuda do salesiano Mestre Mario Bordignon, que

na época morava na aldeia; o piso foi cimentado com uma

pequena mureta nos lados e a cobertura é de zinco,

conservando porém as paredes de esteiras de broto de

Babaçu. Esse desenho híbrido é agradável e o ambiente no

seu interior, apesar do material usado, se mantêm

surpreendentemente fresco mesmo em horas de muito calor.

Fora do círculo das casas, logo à chegada, foi construída

uma escola. Por ter poucos moradores, recentemente um

funeral teve que ser transferido para a aldeia de

Tadarimana. Existe o aíje muga como manda a tradição

Bororo.

FIG. 12. Vista da aldeia Garças, com o baíto no centro.

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54

Tadarimana, visitada em 28.8.00

Tipo de batata grande; r. tadarimana: afl. esq. do Pogubo, r. Vermelho; Reserva Bororo na margem esquerda do r. Tadarimana; Aldeia Bororo na margem esquerda do r. Tadarimana58.

Localizada à cerca de 40 km de Rondonópolis, a aldeia tem o

mesmo nome do rio pelo qual é banhada e também da Área

Indígena onde se situa e que mede 9.785,00 ha. Possui uma

bonita planta circular; está situada no meio de um cerrado

baixo, lugar descampado, permitindo que a vista alcance

longe. Lá estão o Bái mána gegéwu, Boróro e Aíje réa. As

casas mantêm o desenho do Bái tradicional. Quando da

visita, no centro do círculo havia sido construído um

galpão ao lado do baíto, no qual os salesianos Gonçalo

Ochoa e Francisco de Lima celebraram uma missa na língua

Bóe. Como infra-estrutura, possui água encanada distribuída

por algumas torneiras que encontram-se espalhadas pelo

pátio, do lado oposto do bororo; no outro lado do baíto os

índios usam o pátio como campo de futebol. Esta aldeia está

ligada à rede de eletrificação rural e, fora do círculo,

na chegada, há um posto de saúde de madeira; a escola é de

alvenaria, ficando porém mais afastada, aproximadamente 200

m. O posto da FUNAI fica distante 2 km da aldeia.

Dentro da mesma Terra Indígena de Tadarimana existem ainda

mais quatro pequenas aldeias que não foram visitadas:

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55

Pobore, com 39 habitantes; Praião, com 28 e Jurigue, com

apenas 8 moradores por ocasião de minha estada em

Tadarimana. A aldeia, denominada Paulista, não possui

nenhum morador ou habitação atualmente59. Hoje o local é

utilizado apenas esporadicamente na época da pesca, quando

recebe moradores das outras aldeias60.

FIG. 13. Vista parcial de Tadarimana.

FIG. 14. Vista da aldeia com o Bái mána gejéwu, a casa dos homens.

58Pe. Gonçalo Ochoa C. SDB. Idem. 1997, p. 222. 59 Informante Valdinei Cândido de Oliveira, Chefe do Posto da FUNAI em Tadarimana (5.12.00). 60 Informante Sandra Rosa da Silva, técnica da FUNAI em Rondonópolis (5.12.00).

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56

Jarudori

Morro dos Mandi. Grande rocha na margem esq. do r. Vermelho; área

Bororo no município de Poxoreu. – Jarudori Bororo. Antiga importante aldeia bororo nas vizinhanças do morro Jarudori, hoje substituída por moradores brancos morando dentro da reserva bororo do mesmo nome61.

Localizada à cerca de 50 km da cidade de Poxoréu, é hoje um

distrito onde moram perto de 300 famílias, com rua

asfaltada, urnas nas eleições, colégio estadual, posto de

gasolina e muitos bares. Demarcada inicialmente por Rondon,

a reserva possuía 100 mil hectares, cuja maior parte,

entretanto, foi posteriormente destinada pelo presidente

Getúlio Vargas à reforma agrária pelo projeto Colônia

Agrícola do Leste, restando demarcados apenas 4.706 ha. A

criação dessa colônia fez com que as invasões começassem, a

ponto de, em 1981, ter saído o último morador, de uma

aldeia onde já viveram 300 índios, segundo o Centro

Indigenista Missionário (CIMI)62.

FIG. 15. Jarudori, 1999. Foto José Luiz Medeiros, Diário de Cuiabá.

61 Pe. Gonçalo Ochoa C. SDB. Idem. 1997, p. 130. 62 Pierini, Joanice. Diário de Cuiabá, 10-11.1.1999. Caderno Cidades p. B1.

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57

Piebaga Um certo tipo de ariranha63

Aldeia situada dentro da Terra Indígena de Teresa Cristina,

na margem esquerda do curso do rio São Lourenço, distante

80 km da cidade de Rondonópolis. Segundo o chefe do posto,

Arídio, com quem foi mantido contato na sede regional da

FUNAI em Rondonópolis, esta aldeia é constituída por nove

casas desalinhadas, não configurando portanto o círculo

tradicional, embora exista o baíto. Possui ainda as

instalações do posto de saúde, casa do rádio e um barracão

de ferramentas. Moram em Piebaga 66 habitantes64.

63 Informante Arídio Apó, chefe do posto da FUNAI. Esta aldeia não foi visitada; a entrevista com o chefe do posto aconteceu no escritório da FUNAI, na cidade de Rondonópolis, em 5.12.00. 64 Cf. levantamento do Pe. Gonçalo Ochoa.

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58

Em busca da casa, ao estudar o desenho das aldeias, tanto

de forma documental como em pesquisa de campo, foi também

possível, inicialmente, perceber que ocorreram

significativas alterações na espacialidade de algumas

delas. Estas mudanças, artificiais e intencionalmente

produzidas, entretanto, não foram capazes de quebrar o

modelo cosmológico construído pelos Bóe, nem o encanto

visual da tradicional aldeia redonda. Sylvia Caiuby Novaes

relata que, mesmo naquelas aldeias que foram construídas de

forma diferente da tradicional, os Bóe continuaram a

referir-se aos clãs como a sua ancestral localização no

modelo circular, como eles se representam65.

Podemos, concluindo o capítulo, afirmar que, certamente, a

travessia do Bóe é-wa, a aldeia Bóe, encerra uma etapa

indispensável para a compreensão do Bái, a casa Bóe. Esse

procedimento de aproximação, mesmo que resumidamente aqui

apresentado, contém elementos que tornam o Bái decifrável,

situando a casa dos Bororo num contexto único e particular

dentro da rica e singular cosmologia por eles inventada.

Esta casa, para além de abrigar a família matrilinear, é a

morada do clâ, e por isso tem seu locus préviamente

demarcado, como indicado no mapa ancestral que a situa

dentro da sua metade: Tugarege ou Exeráe. Bóe: Bororo.

65 Sylvia Cayubi Novaes (org.) Habitações indígenas. 1983, p. 61.

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59

III

Bái, a casa Bóe

Arquitetura é uma invenção contínua, onde a história

entra como memória para ser transformadora.

Paulo Mendes da Rocha

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60

Reconstrução / Referências etnográficas

Herbert Baldus, no seu precursor trabalho, Aldeia, casas,

móveis e utensílios entre os índios do Brasil, propôs um

pertinente roteiro para o pesquisador que realiza suas

primeiras incursões etnográficas às aldeias em terras

brasileiras66. O esquema de Baldus foi tomado aqui, como

guia para essa tarefa; é por meio dele que as questões

etnográficas da casa Bororo foram sendo primeiramente

respondidas; mantendo-as como propostas por Baldus, na sua

seqüência e formato originais, a pesquisa ordenou suas

respostas de maneira clara, abrindo espaços para reflexão.

Assim, mesmo com o risco de alterar o ritmo da narrativa

até aqui adotado, porém, considerando que seria

interessante mostrar o texto na forma como foi escrito por

Baldus, as perguntas foram transcritas como no original,

apenas acrescidas das respostas da pesquisa:

1. Indispensável é fazer uma planta da casa para mostrar

a forma de sua base, a divisão de seu interior, a

situação dos lugares para dormir, cozinhar,

66Herbert Baldus. Aldeia, casas, móveis e utensílios entre os índios do Brasil. 1942. p. 161-172.

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61

etc..Igualmente devemos traçar tanto o corte transversal

para demonstrar a construção e altura das paredes e a

inclinação do telhado, como também um ou vários aspectos

laterais67.

FIG. 16. Planta e corte esquemáticos da casa tradicional em perigara. Fonte nomenclatura: Albisetti e Venturelli. Enciclopédia, V. 1, p.446. A maioria das casas que foram visitadas, têm uma porta aberta para o pátio - é desta porta (social / ritual) que sai a “comida das almas”, aróe ké. A outra porta (a privativa) dá para o quintal, ou para a casa dos outros, e fica num dos lados menores do retângulo.

67 Baldus. 1942, p. 161.

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62

2. Há na aldeia ou nas aldeias da mesma tribu diferentes

formas de casa?68

No caso das aldeias Bóe, existe apenas um tipo de casa,

o Bái, cujo desenho é o mesmo do Bái mána gegéwu, apenas

diferenciando-se quanto às proporções que são maiores no

baíto.

3. É necessário descrever o processo de construção da

casa em todas as suas fases, desde a escolha e o

preparo do lugar para o edifício.69

A escolha do terreno para construção do Bái, se dá em

função da localização do Bóe é-wa, a aldeia, como

descrito no capítulo anterior. Uma vez determinado o

sítio apropriado, geralmente em terreno com ligeira

declividade na direção Oeste, a mesma onde deverá estar

o curso d’ água, é executado o Bái mána gejéwu. Somente

após o baíto pronto é que se inicia a construção dos bái

doge – as casas. Estas possuem, como já visto, sua

localização determinada no mapa da aldeia de acordo com

a cosmologia Bóe, onde cada uma delas representa um clã:

68 Baldus. 1942, p. 162. 69 Idem, p. 164.

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63

Os clãs atingem o total de oito, distribuídos quatro na

metade dos Ecerae e quatro na metade dos Tugarege. Cada

clã é subdividido em três sub-clãs distintos e pode

ocupar três choupanas, uma para cada sub-clã. Na

pratica, todavia, pela limitação de elementos humanos,

ocupa uma só habitação em que, porém, mantém-se as

subdivisões virtuais. Cada um dos três sub-clãs citados

depende da posição que ocupa com relação ao leste. Assim

o sub-clã mais ao leste dos outros dois do mesmo clã

recebe o nome cobugiwu i. e. o de cima; o sub-clã mais

a oeste dos outros dois do mesmo clã designa-se de

cebegiwu i. e. o de baixo; o sub-clã que fica no meio

dos outros dois denomina-se Bóe e-iadadawu, ou seja

aquele que está entre os outros dois sub-clãs70.

4. As questões sociológicas mais importantes a respeito

da construção da casa e das preparações para isso são

as seguintes: Quem participa destes trabalhos e, sendo

eles coletivos, como são organizados? Colaboram as

mulheres?71

Conforme a lenda, as aldeias que conhecemos foram

construídas como antes da inundação e assim divididas em

metades e clãs72.

O processo tem como ponto de partida lógico a construção

do bai mana gejewu73.

70 Albisseti e Venturelli. Enciclopédia Bororo, V. 1. 1962, p. 435 71 Baldus. 1942, p. 164. 72 Albisseti e Venturelli. Enciclopédia Bororo, V. 2. 1969, p.15 73 Renate Briggite Viertler. Idem, p. 146.

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64

Este, segundo a Enciclopédia, é trabalho executado pelos

homens74.

A choupana, o bai, é construída pelo casal. O teto

destinado a cobrir os enfeites e objetos rituais usados

pelo iedaga, é feito pelo marido, enquanto as paredes,

traço incorporado após o contacto, provavelmente

associadas ao armazenamento de utensílios de propriedade

privada incrementado após o contato, são feitas pelas

mulheres75.

Para Colbacchini,

a casa, qualquer que seja, em que habitam, é propriedade

das mulheres; os homens têm obrigação de a construir76.

5. Há especialistas em construção de casas que dirigem o

trabalho? Há cerimônias antes, durante ou depois da

construção ou por ocasião de os habitantes se

instalarem na casa? O que é feito com a casa depois da

morte de seu dono ou se alguém morre dentro dela? É

queimada ou somente abandonada?77

Existem dois clãs, denominados “construtores da aldeia de

cima” e “construtores da aldeia de baixo”, baadogebaje

cobegiwuge e baadogebaje cebugiwuge, respectivamente, e que

74 Albisetti e Venturelli. Idem, p. 445. 75 Renate Briggite Viertler. Idem, p. 159. 76 Antonio Colbacchini. À luz do Cruzeiro do Sul. 1939, p. 15. 77 Baldus. 1942, p. 164.

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são os responsáveis pela determinação dos lugares a serem

ocupados pelos bái doge no círculo da aldeia. Não há uma

especialização na construção propriamente dita e, nem

tampouco alguma cerimonia especial que a celebre. A casa,

por ocasião do funeral de seu dono, é incinerada exigindo

que os enlutados vivam como hóspedes em casa adjacente78.

Tudo o que pertenceu a um indivíduo deverá ser destruído

após sua morte e, evidentemente, sua casa não poderia

permanecer intacta: também ela deverá ser queimada.

Neste sentido é possível ver a casa Bororo e todo seu

ciclo de transformações como uma das expressões

materiais da concepção que os Bororo têm da vida e de

sua organização social.

Se a morte põe fim a vida de um homem concreto, também

sua casa devera desaparecer. No entanto, assim como a

identidade social de um indivíduo devera permanecer após

sua morte, através do aroe maiwu (indivíduo da metade

oposta ao morto e que é escolhido para ser seu

representante social no mundo dos vivos), também a

categoria social que aquela casa representa devera

permanecer. Uma nova casa será então construída naquele

mesmo espaço79.

6. É a casa habitada por uma única “família-pequena”,

isto é, família consistindo somente em pai, mãe e

filhos não adultos, ou moram nela várias famílias ou

uma “família-grande”.80

78 Renate Briggite Viertler. Idem, p. 160. 79 Sylvia Caiuby Novaes. Habitações Indígenas. 1983, p. 74. 80 Baldus. 1942, p. 165.

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66

Cada casa pode abrigar uma família, até duas ou três81,

sempre pertencentes ao mesmo clã ou sub-clã.

7. Há divisão de lugares dentro da casa de acordo com a

posição social dos habitantes?82

Com relação aos espaços sociais da casa Bororo nota-se

que, embora haja numa mesma casa duas ou três famílias

nucleares, cada uma delas mantém uma nítida separação

espacial, tanto de dia quanto de noite. O espaço de cada

família sempre se localiza nas extremidades da casa,

nunca no centro. Nestes lugares guardam todos os seus

pertences, e é aí que dormem e comem, aí recebem suas

visitas cotidianas. Tem-se, às vezes, a impressão de que

são duas ou três casas distintas numa única casa83.

8. Têm todas as casas o mesmo ou diferente tamanho, e por

quê?84

Todas as casas são iguais, ou quase, à exceção do Bái mána

gejéwu, que difere apenas nas proporções, é maior, porém de

dimensões variáveis em função do número de habitantes da

aldeia. De acordo com levantamentos de campo, os baíto,

81 Sylvia Cayubi Novaes, op. cit. p. 65. 82 Baldus. 1942, p. 165. 83 Sylvia Cayubi Novaes, op. cit. p. 74. 84 Baldus. 1942, p.165.

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hoje, são menores do que há alguns anos quando a população

das aldeias era maior, e chegavam a possuir uma dimensão de

24 x 8 m85.

Tabela das dimensões atuais dos baíto em metros

Aldeia largura x comprimento

Córrego Grande 7.0 x 12.0

Tadarimana 7.0 x 12.0

Garças 7.0 x 11.5

Meruri86 8.0 x 17.0

Fonte: pesquisa de campo.

FIG. 17. Tabela das dimensões atuais dos baíto em metros

9. Há além das casas que servem para morar, outras casas

com outra finalidade, e distinguem-se estas daquelas

também pelo tamanho ou por particularidades da

construção?87

Além dos bái doge, as casas Bóe, como vimos, há o Bái mána

gegéwu, a casa dos homens, que corresponde segundo Caiuby,

à esfera jurídica, política e ritual da aldeia.

85Albisseti e Venturelli. Idem, V. 1. 1962, p. 445. 86Construção de alvenaria. Perigara e Sangradouro atualmente não possuem baíto. 87Baldus. 1942, p. 165.

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68

A aldeia circular, constituída de casas que mantêm, não

apenas a mesma distância entre si, mas também a mesma

distância do centro da aldeia (da esfera política e

jurídica) denota claramente que esta é uma sociedade

igualitária e que os diversos grupos que a compõem

mantêm entre si uma relação de complementaridade nas

suas diferenças88.

Bái mána gejéwu: casa dos homens

Legenda Fo n tes : En c icl op éd ia B oro ro :Al b ise tt i, C . & Ve nt ur el li , A . J.

A F amí li a Et no lin gü ís ti ca B oro r o: Si l va, J .R om ão

1

2

3

4

5

6

1 - Esteio com forquilha2 - Linha de esteios3 - Esteios com cumeeira4 - Cumeeira com caibros5 - Caibros com ripas-taquara6 - Ripas com folhas de babaçu

Esq ue ma construtivo

Fo n teAl b ise tt i, C . & Ve nt ur el li , A . J.En c icl op éd ia B oro ro

FIG. 18. Construção do antigo formato do Bái mána gejéwu

88 Sylvia Caiuby Novaes. Habitações Indígenas. 1983, p. 59.

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69

1. Quanto ao processo construtivo e materiais utilizados,

os bái doge e Bái mána gegéwu, são idênticos, e foram

descritos nas questões anteriores. Segundo o esquema

proposto por Baldus temos, pois, o lugar da casa e seu

desenho no interior da aldeia.

Aproximação

À primeira vista, a casa Bororo surpreende o visitante: é

uma construção modesta como arquitetura, de caráter quase

efêmero, feita de palha; quatro paredes como vedações; duas

portas e cobertura com duas águas; janelas não as há;

tampouco existem divisões internas.

A casa “tradicional” , como é conhecido o formato que

conhecemos, tem planta retangular chegando a medir 5 m de

largura por 9 m de profundidade. O pé direito atinge 5 m na

cumeeira, que conforma um ângulo de aproximadamente 45° com

suas águas. A estrutura é, geralmente, constituída por doze

esteios de Burudú í89 (Aroeira), fincados em três linhas,

espaçados transversalmente pela metade entre si, de modo

que as duas linhas externas, mais baixas, apoiam vigas de

managúru í90 (Aricá) que funcionam como frechais,

89 Schinus therebintifolius. Tekla Hartmann. Nomenclatura botânica dos Borôro. 1967, p.19. 90 Albisetti e Venturelli. 1962, p. 781.

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suportando as duas águas que descem da cumeeira, que por

sua vez se apoia na linha central, mais alta. No sentido

longitudinal os esteios são afastados de três em três

metros. O material de recobrimento, a cobertura

propriamente dita, é constituído por folhas de Iwagúdu

coréu (Babaçu91), bem como as quatro paredes; estas,

entretanto, possuem uma diferença quanto ao seu acabamento,

pois as folhas mais novas, noidóro92 (broto de Babaçu), são

trabalhadas como se fossem parte de uma esteira, kódo, e

apenas o talo da folha é mantido para ser usado na sua

fixação.

FIG. 19. Kódo, tipo de esteira usada como vedação

91 Xipholena lamellipennis lamellipennis. Albisetti e Venturelli. 1962, p.673. 92 Idem, p. 815.

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71

O Bái, a casa, possui duas aberturas opostas, como portas,

no sentido longitudinal da sua planta. Não existem janelas,

como ocidentalmente as conhecemos. Na casa tradicional essa

aparente falta é suprida pela escolha apropriada do

material que compõem suas vedações verticais, a que

chamamos de paredes: pode-se abrir um vão e observar o lado

externo, ou deixar a brisa fresca penetrar no interior,

simplesmente afastando as esteiras sobrepostas umas sobre

as outras.

A disposição das esteiras permite uma certa transparência,

produzida pelo seu próprio trançado e pelas frestas

aleatoriamente dispostas, penetrando por entre elas uma luz

difusa, que aliada ao vão das portas e ao fato de não

existirem divisões internas, mantém dentro uma luminosidade

agradável. No Bái, pode-se ouvir tudo que se passa do lado

externo: os avisos, os cantos dos rituais, acontecimentos e

fofocas que são publicisados por essas paredes-esteira, que

isolam e expõem ao mesmo tempo (a intimidade do casal se dá

geralmente fora do Bái, na roça, no banho de rio, na caça,

etc.)93.

93 Estas observações foram parcialmente extraídas através dos contatos com Me. Mario Bordignon, a quem agradeço pelas indicações; são frutos de seu olhar atento e de muitos anos de convívio entre os Bororo.

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FIG. 20. Bái tradicional em Perigara

Conhecendo um pouco mais o Bái, aquela primeira impressão,

de aparente simplicidade, vai sendo desconstruída quando se

apreende quão adequada e funcional é o seu desenho. A

estrutura, de aroeira, foi feita para durar, em contraste

com seu revestimento que pode ser considerado um refil,

descartável, como um produto globalizado. Seu desenho

inteligente é extremamente adequado e pode ser considerado

ambientalmente correto. Toda a matéria prima utilizada na

construção foi selecionada para poder ser extraída na

região do entorno da aldeia, e é biodegradável, sendo

possível sua reposição ao meio-ambiente94.

94Atualmente, em face das agressivas condições de ocupação de seu território pelas frentes de expansão da sociedade envolvente, os Bororo têm encontrado dificuldades para extrair o material necessário à construção nas proximidades das suas aldeias, e por isso obrigados a buscá-lo cada vez mais distante.

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FIG. 21. Bái, detalhe da cumeeira em construção

FIG. 22. Bái, detalhe do amarrio da cobertura de babaçu

Conhecendo os antecedentes pré-coloniais dos Bóe, através

da etnoarqueologia e da história, podemos avaliar que a

técnica construtiva, ou tecnologia, utilizada na construção

das suas casas é fruto de variados estágios de

aprimoramento e reconhecimento de materiais, num processo

de maturação que aparentemente foi interrompido com a

chegada do europeu às Américas. Adequada ao clima e ao

relevo, leve e fácil de se levantar, permitia mudanças

rápidas e induzia para a vida comunitária, característica

das aldeias, apropriada, portanto, para o semi-nomadismo

que o Bororo pratica até hoje, como se constata na

variabilidade do número de habitantes das aldeias.

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FIG. 23. Interior do Bái em Tadarimana

FIG. 24. Interior do Bái em Perigara; a luminosidade natural é filtrada através do kódo.

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FIG. 25. “Janela” aberta em Córrego Grande

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Representação

A representação é um conceito da história cultural do qual

me acerquei e, que considero de especial relevância para

que se possa apreender o significado da casa Bóe. Se o que

valora suas práticas e, portanto, dá sentido a suas vidas,

está desenhado no espaço da aldeia e se esse desenho está

inscrito numa cosmologia da qual só eles têm a chave, para

se penetrar nesse espaço, também mítico, torna-se

fundamental o uso de um conceito como o de representação,

entendido aqui como ferramenta para o pesquisador, pois só

por uma construção intelectual é que poderemos ler o texto

dos Bóe, ou seja, aquilo que para nós baráe95 está

invisível. Segundo Chartier o conceito de representação

(...) permite articular três modalidades da relação com

o mundo social: em primeiro lugar, o trabalho de

classificação e de delimitação que produz as

configurações intelectuais múltiplas, através das quais

a realidade é contraditoriamente construída pelos

diferentes grupos; seguidamente as práticas que visam

fazer reconhecer uma realidade social, exibir uma

maneira própria de estar no mundo, significar

simbolicamente um estatuto e uma posição; por fim, as

formas institucionalizadas e objectivadas graças às

quais uns “representantes” (instâncias colectivas ou

pessoas singulares) marcam de forma visível e perpetuada

a existência do grupo, da classe ou da comunidade96.

95Civilizados. Albisetti e Venturelli. 1962, p. 281. 96Roger Chartier. A História Cultural: Entre Práticas e Representações. 1988, p. 23.

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Seguindo essas pegadas é que me aproximei da casa Bororo.

Inicialmente, retive-me nos diversos estudos históricos e

antropológicos existentes e que tratam da espacialidade

Bororo. Como vimos, estes estudos privilegiaram o desenho

da aldeia, espaço coletivo que contém o conjunto das casas,

pouco informando sobre a habitação - unidade primária deste

coletivo.

À primeira vista, esta casa, objeto de estudo, parecia

possuir um sentido estritamente utilitário. Proteger da

chuva e do sol inclemente. As atividades cotidianas

estariam preferencialmente se dando no lado de fora do

abrigo. Depois, iniciado na cosmologia Bóe, apreendi que

cada casa ocupa uma posição especial na aldeia. Cada uma,

ou grupo delas, representa um clã ou um sub-clã. Nessa

trama sutil em que se inscreve a casa, vim a perceber que o

Bái possui um ciclo antropométrico que poderíamos chamar de

transcendental; sendo mais do que uma casa, é como um ser,

um ente , no sentido metafísico do termo.

Portanto, ela nasce, quando é construída com a nova aldeia;

quando os filhos não cabem mais na casa da mãe; quando

acabou o tempo de luto ou quando chegam famílias vindas de

outras aldeias. Ela vive, porque é cheia de vida, de gente,

de animais e com seu fogo quase sempre aceso; dura enquanto

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durar o material e, se apodrecerem, as palhas podem ser

trocadas. Ela morre, quando é incinerada depois do funeral

de um seu morador; um sinal de luto que também é um sistema

de higienização.

No seu estudo sobre a arquitetura dos Tukano, Raul

Rodrigues Lamus afirma que

la maloca conceptualmente para el indígena, tiene um

valor superior al de simple residencia, sendo para eles

la no-selva, es decir, lo que há sido fabricado, y a

ella associa todos los instrumentos de su cultura

material97.

Para os Bóe, sua casa também é assim, porém vai além, é o

centro do mundo. Se a aldeia, Bóe é-wa, é o mapa, como

observou Novaes, a casa, o Bái, é a chave do seu universo

de representação – a casa é o clã; e é a reunião dos clãs

que constrói a aldeia.

Nesse contexto, pelo menos duas questões foram observadas e

se impuseram como fundamentais para o desenvolvimento deste

estudo. Primeira, remete a objetos que aparentemente podem

ter sido encobertos por um olhar que, como dissemos na

apresentação do texto, concentrou-se na riqueza e na

cosmologia das representações do espaço do Bóe é-wa, a

97Raul Rodriguez Lamus. La Arquitectura de los Tukano. 1958, p. 263.

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aldeia Bororo, deixando a casa num outro plano. Tentando

entender o objeto, a casa, inicialmente passou-se a defini-

lo como a casa-choupana, junção de dois termos usados

indistintamente pelos autores consultados. A partir de

determinado momento da pesquisa, já possuindo uma certa

compreensão do universo Bóe, passamos a denominá-lo por

Bái, como os Bóe. Este agrega dois valores distintos para

nós, civilizados. Enquanto apenas a casa é designada como

lar, a choupana, parece não obter esse significado,

restringindo-se à função de abrigo temporário ou

transitório, espécie de cabana. Bái, entretanto, pode ser a

somatória, e mais, agrega um terceiro valor cosmológico de

representação clânica que não encontra similar em nossas

casas. Desse modo, o Bái se constitui na morada/abrigo da

família nuclear e ao mesmo tempo num lugar especial na

ordem mítica dos Bóe. Não é um lugar sagrado, mas parte de

um lugar lendário, que é a aldeia. Para construir ou

reconstruir o Bái é preciso considerar essas três

dimensões: espaço da prática, do uso, do fazer; espaço da

família, do núcleo, do convívio; e, por fim, a dimensão

mítica, exclusiva, de que o Bái é parte por pertencer ao

espaço do Bóe é–wa.

Em segundo lugar, ao rever a estrutura do espaço mítico da

aldeia Bóe para buscar apreender o significado do Bái,

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tornou-se necessário refazer o percurso que já havia

desenvolvido, lembrando Bordieu, quando fala em pensar

relacionalmente, comparativamente, interrogar

sistematicamente o caso particular, romper com o senso

comum. Questionar, para construir o objeto.

Esse percurso conduziu lentamente, ou naturalmente, para

dentro de um sistema de significados diferentes daqueles da

arquitetura como disciplina “prática de projetar”.

Cartesiana. Penetrar nesse universo é ter em conta novos

referenciais. Pensar a arquitetura Bóe (ou indígena,

primitiva, vernacular) é um exercício prático que responde

ao modo proposto por Bourdieu, isto é, quebra de lugares

comuns98. É como se estivéssemos atravessando uma ponte ao

mesmo tempo em que a construímos. Tentar ver o Bái como um

Bóe constituiu-se no maior desafio da pesquisa e penso que

apenas aproximou-se o olhar dessa pretensiosa hipótese.

98 “a construção do objeto – pelo menos na minha experiência de investigador – não é uma coisa que se produza de uma assentada, por uma espécie de acto teórico inaugural, e o programa de observações ou de análises por meio do qual a operação se efectua não é um plano que se desenhe antecipadamente, à maneira de um engenheiro: é um trabalho de grande fôlego, que se realiza pouco a pouco, por retoques sucessivos, por toda uma série de correções, de emendas, sugeridos por o que se chama o ofício, quer dizer, esse conjunto de princípios práticos que orientam as opções ao mesmo tempo minúsculas e decisivas.” Pierre Bourdier. O poder simbólico. 1998. p. 26.

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Por outro lado essa incursão estrutural remeteu também à

conceitos da Teoria da Arquitetura99, nos quais, revendo os

textos de Filarete foi possível perceber uma tangência da

cabana do homem primitivo com o Bái. O desenho atual deste

representa a ponta de uma “cadeia evolutiva” da qual

conhecemos apenas parcialmente, a versão pós-contato, e que

não a podemos mais recompor; os vestígios conhecidos mais

anteriores seriam aqueles, frutos preliminares, das

pesquisas arqueológicas desenvolvidas pela Profa. Irmihild

Wüst100. O Bái seria o resultado de um longo período de

manipulação do que poderíamos chamar de “tecnologia

apropriada” para as condições de vida Bóe e que remonta ao

holoceno.

Filarete, seguindo os princípios de Vitruvio e de

Alberti101, baseia as origens da arquitetura no necessitas,

fazendo uma analogia entre as necessidades humanas de

99 Recomendação sugerida pelo Prof. Dr. Pablo Diener durante os exames de qualificação. 100 Irmihild Wüst. Continuidade e mudança. 1990. 101 Cf. Hanno-Walter Kruft, uma definição essencialmente mais restritiva de teoria da arquitetura poderia ser entendida como a soma daquilo que foi formulado expressamente como teoria da arquitetura: uma história da reflexão sobre a arquitetura tal como tenha sido formulada por escrito. - Vitruvio (84-14 a. C.) não foi o primeiro a escrever sobre arquitetura, mas todos os escritos anteriores ao seu se perderam; sua obra “De Architectura Libri Decem” é o único tratado de arquitetura que se conservou. Leon Batista Alberti (1404-72), escreveu obras teóricas fundamentais sobre pintura, escultura e também sobre arquitetura; seu tratado de arquitetura “De Re Aedificatoria” foi impresso pela primeira vez em Florença, em 1485. Antonio Averlino, conhecido como Filarete(1400-...) escreveu o seu “Trattato di Architettura”, dividido em 25 livros, provavelmente entre os anos de 1461-1464. H.-W. Kruft. Historia de la teoria de la arquitectura. 1990.

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habitar e de comer, associando as origens da casa com a

tradição cristã: depois da expulsão do paraíso, Adão será o

primeiro arquiteto e construtor da cabana primitiva.

Posteriormente Filarete associa os troncos da estrutura da

cabana primitiva com a origem das colunas; segundo ele o

comprimento destas peças de sustentação tem sua origem nas

medidas do homem, significando que as proporções da cabana

primitiva foram concebidas de acordo com as proporções

humanas.

De este modo, la cabaña primitiva de Filarete adquire

un valor relevante para la arquitectura. No solo

constituye su comenzo, sino que contiene además

proporciones y ordenes arquitectónicos. Para Filarete

las proporciones humanas son un sistema referencial

decisivo. El es el primer representante de una franca

antropometría: “lo edificio si è derivato da l`uomo,

cioè dalla forma e membri e misura...102

Suas idéias antropométricas se põem claras quando utiliza a

figura vitruviana (a figura humana inscrita em um círculo e

um quadrado) para derivar inclusive as formas geométricas

básicas das medidas do homem:

Ma quello che sai, el circolo, tondo, e’l quadro e ogni

altra misura è derivata da l`uomo103.

102 H.-W. Kruft. Historia de la teoria de la arquitectura. 1990, p. 63.

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As propostas antropométricas de Filarete estabelecem ainda

uma associação com a idéia de organismo:

Para él, la arquitectura no solo tiene una relación com

el hombre en lo referente a medidas, sino también existe

identidad de comportamiento com el organismo humano. La

arquitectura vive, enfierma y muere como los hombres104.

Portanto, se a casa ocidental teria tido sua gênese quando

Adão foi expulso do paraíso e, possui um fundamento

antropométrico fundador na cabana primitiva, o Bái aparece

na lenda da grande inundação e suas medidas e proporções

são relacionadas diretamente ao espaço determinado pelo

círculo da aldeia e pelo Bái mána gegéwu. Sem querer

estabelecer nenhuma relação diretiva, porém, constatando a

tangível similaridade entre o Bái e a cabana primitiva, a

que Filarete se referiu, é quase impossível deixar de

refletir sobre o tempo e o espaço que as separam. Nesse

percurso, a diversidade cultural se encarregou de misturar,

mesclar e amalgamar técnicas e tecnologias, sobrepondo,

suprimindo ou revelando diferenças e representações

próprias.

Em que ponto dessa cadeia estaremos? Podemos, antes, nos

colocar como o viajante de Lévi-Strauss, indeciso sobre o

103 H.-W. Kruft. Idem. p. 64. 104 Idem. p. 65.

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que viu e o que deixou de ver105, para chegar como ele ao

último parágrafo de Tristes Trópicos e perceber que

assim como o indivíduo não está sózinho no grupo e cada

sociedade não está sózinha entre as outras, o homem não

está só no universo106.

Sabemos que a relação ambiente – sociedade tem sido objeto

de muitos estudos e discussões, principalmente nos últimos

anos do século XX. Alguns povos, entretanto, processaram de

forma natural essa ligação ao longo de séculos de

observação/aprendizado/prática. Entre esses, os Bóe

parecem ter imprimido um paradoxal caráter de

complementaridade nessa relação. E o fizeram de maneira

bastante particular, inscrevendo na morfologia da aldeia

seu universo cosmológico, o que se transformou num fator

diferencial em relação a outros grupos indígenas. Para

penetrar na esfera do pensamento Bóe, é necessário primeiro

105 E eis, diante de mim, o circulo intransponível: quanto menos as culturas tinham condições de comunicar entre si e, portanto, de se corromper pelo contato mútuo, menos também seus emissários respectivos eram capazes de perceber a riqueza e o significado dessa diversidade. No final das contas, sou prisioneiro de uma alternativa: ora viajante antigo, confrontado com um prodigioso espetáculo do qual tudo ou quase lhe escapava – pior ainda, inspirava troça e desprezo -, ora viajante moderno, correndo atrás dos vestígios de uma realidade desaparecida. Nessas duas situações sou perdedor, e mais do que parece: pois eu, que me lamento diante das sombras, não seria impermeável ao verdadeiro espetáculo que está tomando forma neste instante mas para cuja observação meu grau de humanidade ainda carece de sensibilidade necessária? Dentro de algumas centenas de anos, neste mesmo lugar, outro viajante, tão desesperado quanto eu, pranteará o desaparecimento do que eu poderia ter visto e me escapou. Vítima de uma dupla inaptidão, tudo o que percebo me fere, e reprovo-me em permanência não olhar o suficiente. Lévi-Strauss. Op.cit. p. 40. 106 Claude Lévi-Strauss. Op. cit. p. 392.

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reconhecer o valor de suas construções simbólicas. Como

demonstrou Lévi-Strauss,

nos privaríamos de todos os meios de compreender o

pensamento mágico se pretendêssemos reduzi-lo a um

momento ou a uma etapa da evolução técnica e científica.

Mais como uma sombra que antecipa a seu corpo, ela é,

num sentido, completa como ele, tão acabada e coerente

em sua imaterialidade quanto o ser sólido por ela

simplesmente precedido107.

Arquitetura mutante

Após a primeira tentativa de aproximação do Bái, procurou-

se não mais perder de vista o pensamento dos Bóe,

assimilando a compressão de que suas casas são parte de uma

representação clânica, e portanto, indissociáveis de sua

construção cosmológica; incorporando ferramentas da

arquitetura à pesquisa, pôde-se entrar definitivamente,

finalmente, na casa, pelo procedimento de confrontar os

estudos, as imagens e as impressões relatadas pelos

diversos autores ao longo de um amplo período sincrônico,

que se inicia no pré-colonial e alcança até nossos dias.

107 Lévi-Strauss. O pensamento Selvagem. 1976, p. 33.

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Tomando como referência a importante obra de Thekla

Hartmann sobre iconografia dos índios brasileiros, que

assinala:

Além de registrarem tipos físicos e cenas de vida

tribal, as gravuras muitas vezes, representam objetos da

cultura material das tribos figuradas. Os artefatos nas

gravuras, como uma coleção de museu, são verdadeiras

fontes primarias, como produtos da cultura que

documentam. Sendo concretos, objetivos e aparentemente

neutros em significado ao observador não treinado, estão

menos sujeitos a distorções pessoais ou etnocêntricas108.

podemos dizer que, em consonância a esta a afirmação, com

as imagens das habitações indígenas sucede o mesmo,

prevalecendo aí também a sua assertiva

de que os aspectos materiais das culturas são

normalmente mais sujeitos à mudança do que as esferas

não-materiais109.

Assim, inicialmente, como metodologia de trabalho, foi

feita uma ficha de caracterização do Bái, por autor, na

qual cada item foi resumidamente detalhado, e sempre que

possível, dando origem a desenhos correspondentes no caso

de existirem apenas relatos. Esse procedimento descritivo e

gráfico permitiu que as imagens mais próximas pudessem ser

comparadas, formando um quadro esquemático único ao final.

108 Thekla Hartmann. A contribuição da iconografia para o conhecimento de índios brasileiros do século XIX. 1975. P. 11. 109 Idem, idem.

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Como num processo de taxidermia, os desenhos obtidos

passaram a ser o roteiro nos quais se pôde acompanhar o

percurso do Bái até o século XX.

Cada ficha contém a identificação do autor, período da

descrição e discriminação de aspectos selecionados como

referenciais, por Baldus (1942) e pela própria pesquisa,

tais como: processo construtivo, material empregado,

desenho de planta, desenho de cobertura, aspecto exterior,

aspecto interior, situação do terreno, conforto ambiental,

uso de outros objetos ou artefatos existentes, além do

desenho, croquis correspondente ou simplesmente cópia do

documento gráfico anexado.

A escolha dos autores para essas fichas de caracterização

da casa Bóe se apoiou basicamente nas fontes documentais

que alicerçaram o trabalho nos capítulos anteriores, o que

representou inicialmente um numero razoável de relatos. Na

medida em que a pesquisa passou a solicitar informações

mais especificas sobre a habitação propriamente dita,

considerada agora sua construção como objeto de

arquitetura, esses relatos e imagens foram sendo

qualificados e tiveram sua quantidade reduzida, conforme o

quadro resumo apresentado a seguir, com classificação

quanto ao período aproximado das observações:

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Quadro resumo das fichas

Sec. XX

Autor Título da obra / Ano de referência (Data aproximada das observações)

Sec. XIX 1ª met 2ª met

Albisetti C. e Venturelli A. J. “Enciclopédia Bororo”

1962

Caiuby Novaes, Sylvia “Habitações Indígenas”

1971

Castelnau, Francis “Expedição às Regiões Centrais da América do Sul”

1845

Crocker, J. C. “Reciprocidade e hierarquia entre os Borôro orientais”

1965

Florence, Hercule “Viagem fluvial do Amazonas ao Tietê de 1825 1829”.

1827

Lévi-Strauss, Claude “Tristes Trópicos”

1936

Rondon, Cândido Mariano da Silva “Índios do Brasil: do Centro ao Noroeste e Sul de Mato Grosso”.

1890 1917

Steinen, Karl von den “Entre os aborígenes do Brasil Central”

1882

Taunay, Aimé-Adrien “Expedição Langsdorff ao Brasil 1821-1829”

1827

Wüst, Irmihild “Continuidade e Mudança:...” Tese de Doutorado

1990

Viertler, Renate “As aldeias Bororo:...”

1970

FIG. 26. Quadro resumo das fichas

As informações mais remotas sobre a habitação Bóe aparecem

nos trabalhos arqueológicos e etnoarqueológicos

apresentados na tese de doutorado de Irmihild Wúst que,

como visto anteriormente, permitiram cientificamente o

recuo dos estudos aos estágios de desenvolvimento da

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habitação Bororo desde o período pré-colonial110. Embora,

como a própria autora ressalte, os dados devam ser

considerados como de natureza essencialmente exploratória,

quando cruzados com fontes documentais, mostram uma

aproximação segura do possível caminho percorrido pela

habitação dos Bóe ao longo de sua história.

As indicações dos trabalhos arqueológicos de Wüst apontam

uma sobreposição entre os sítios da tradição cerâmica Uru e

os Bororo etnográficamente conhecidos, permitindo a relação

entre as áreas por ambos ocupadas até as imediações do rio

São Lourenço111. Posteriormente informa serem as habitações,

para os sítios da tradição Uru, da fase Aruanã, de planta

circular, com diâmetro de 5 m. Atentando ainda para a

informação da autora, segundo a qual

o interflúvio entre o Araguaia e o Tocantins é

considerado como certa fronteira entre os portadores da

tradição Aratu e Uru, mas os dados sobre aspectos

morfológicos e tecnológicos da cerâmica parecem indicar

a existência de redes de relações sociais entre

portadores de ambas tradições112.

Poderíamos supor que o tamanho das supostas unidades

residenciais na fase Mossâmedes, da tradição Aratu, que

apresentavam forma elipsoidal variando seus tamanhos de 45

110 Irmihild Wüst. Continuidade e Mudança. 1990. Apresentação. 111 Idem, p. 67. 112 Idem, p. 74.

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a 145 m2113, teriam uma possível relação com aqueles da

tradição Uru, corroborando a informações que davam um

formato oblongo para as ancestrais habitações Bororo.

Anterior ao estudo de Wüst, o missionário salesiano Antonio

Colbacchini já apresentara referências explícitas a um

formato cônico, com base aproximadamente circular, que

seria a habitação apropriada para o período da seca; na

estação das chuvas muda de lugar, mais afastada do rio,

tendo sua base como uma seção elíptica ou exagonal

alongada114.

Renate Viertler, endossa essa afirmação, citando o próprio

Colbacchini ao referir-se ao Bái tradicional115; por outro

lado, Castro Faria sustenta que as tribos Jê, levadas pela

repulsa ao contato com os colonizadores, teriam abandonado

um tipo mais elaborado de construção de suas habitações116.

113 Irmihild Wüst, Continuidade e mudança. 1990, p. 70. 114 La capanna è construita rozzamente e nel periodo annuo di siccità è di forma conica, com base pressochè circolare...Durante il periodo annuale delle pioggie, il villagio vien transportato dalla riva del fiume sopra un rilievo di terreno e le capanne vengono d`ordinario fatte sopra una differente impalcatura...Ne risulta una capanna a due spioventi che giungono fino a terra, avanti sul terreno una sezione elittica oppure esagonale allungata. Antonio Colbacchini. I Bororo Orientali, 1925. p. 10. 115O formato tradicional da choupana, de base circular durante o período da seca e base elíptica durante o período das chuvas, permitia maior numero de arranjos internos ao bai do que o permitem as choupanas atuais de Córrego Grande, predominantemente retangulares. Renate Viertler. As aldeias Bororo. 1976, p. 159. 116 L. de Castro Faria. Origens culturais da habitação popular no Brasil. 1951, p.24.

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Embora a Enciclopédia afirme que algumas das primeiras

manifestações de aculturação foi o aparecimento de paredes

nas choupanas117, hoje é possível complementar esta fonte

dizendo que anteriormente ao surgimento das paredes no Bái,

havia se dado o processo da mudança da sua planta, que

seria de formato ovalado no período pré–colonial, para o

desenho retangular, pós-contato, que conhecemos.

FIG. 27. Bái, foto de Antonio Colbachinni, que sugere o formato cônico. Fonte: Colbachinni, A Luz do Cruzeiro do Sul, 1939, entre p. 38 e 39.

Portanto, nota-se que a pesquisa aponta um desenho pré-

colonial diferente do tradicionalmente conhecido,

provavelmente influenciado pelo contato com o europeu,

podendo-se perceber claramente o desenvolvimento temporal

do Bái em três períodos: o pré-colonial; o de contato, até

117 Enciclopédia, p. 449.

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meados do século XX; e o contemporâneo, considerado aqui

como da metade do século XX até os dias de hoje, período em

que a sociedade envolvente - pelas frentes de expansão

baseado na agropecuária - ocupou mais rápida e

agressivamente os antigos domínios Bororo.

No período pré-colonial as casas teriam plantas

arredondadas, nas quais as paredes eram o prolongamento da

cobertura118. No período seguinte, ou de contato, as casas

passam a ter plantas retangulares, mantendo por algum tempo

ainda as coberturas-paredes cônicas e depois passando a

duas águas; finalmente as casas contemporâneas, nas quais

as paredes e a cobertura são formalmente independentes. É

no final período intermediário, o “de contato”, que

acontece a transição cobertura-paredes para cobertura e

paredes. Tal afirmativa se respalda no estudo de imagens

fornecidas pelos viajantes que visitaram aldeias Bororo no

séculos XIX e XX.

Dos viajantes que estiveram com os Bóe, foram selecionados

quatro, considerados essenciais para compreensão do espaço

Bororo. São eles: Adrien Taunay (1827), Karl von den

Steinen (1887), Rondon (1916) e Lévi-Strauss (1936),

respectivamente. Os documentos por eles produzidos durante

118 Castro Faria, a propósito da cobertura parede, cita Walter Edmund Roth, para quem Indians have names for all the different main parts of the house, but do not appear to possess any for “roof” and “wall”as

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suas passagens entre os Bororo, as anotações, desenhos,

fotos e narrativas, muitas vezes tiveram o Bái como pano de

fundo e agora permitem o seu estudo.

Aimé Adrien Taunay119

São de Aimé Adrien Taunay e Hércules Florence, segundo

Thekla Hartmann, os melhores registros iconográficos dos

índios brasileiros no século XIX120. Especialmente com

relação à casa Bororo, os desenhos e aquarelas de Taunay

fazem um conjunto de inestimável valor documental. Hercules

Florence, apesar de fornecer em seus desenhos rico material

sobre os Bororo, não proporcionou, pelo menos que se

conheça, representações das aldeias ou casas destes índios.

distintct from the house itself. L. de Castro Faria, Origens culturais da habitação popular no Brasil, 1951, p. 31. 119 Adrien Taunay foi um artista de espírito aventureiro. Nascido na França, com apenas 16 anos já fizera uma viagem de circunavegação, como desenhista da expedição Freycinet, embarcando em 1818 a bordo da fragata “Urânia”. A fragata acabou naufragando próximo das ilhas Malvinas em fevereiro de 1820. Taunay foi resgatado, voltou ao Brasil onde residia sua familia e tempos depois foi contratado, juntamente com Hercules Florence, como desenhista da expedição organizada pelo Barão Langsdorff, cônsul do governo da Rússia, para viajar ao interior do Brasil. Taunay morreu afogado no dia 05 de Janeiro de 1828, o auge da estação das águas em Mato Grosso, ao tentar atravessar a nado o rio Guaporé, em frente ao porto de Vila Bela. Impaciente, não quisera esperar a canoa que o conduziria. Encerrou assim, tragicamente, sua promissora carreira. Rigoroso destino para ele, que já sobrevivera a um naufrágio marítimo. Fonte: Monteiro e Kaz. Expedição Langsdorff ao Brasil, V. 2. 1988. 120 Adriano Taunay e Hercules Florence foram, sem qualquer dúvida, os melhores desenhadores de índios de todos quantos visitaram o Brasil no século XIX, em termos do valor documental de seus trabalhos. Thekla Hartmann. 1975, p. 97.

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Adrien Taunay esteve entre os Bororo ocidentais em 1827,

como artista da Expedição Langsdorff. Ao retratar aspectos

do cotidiano da aldeia de Pau Sêco, situada a meio caminho

entre Vila Maria e Vila Bela de Mato-Grosso, Taunay nos

apresenta, numa seqüência de pranchas, a aproximação do Bái

como se fora um efeito zoom das modernas máquinas

fotográficas121.

São elas “Vue du village des indiens Bororós nommé Páu

Seco, lequel est situé à 7 liues de paraguay et sur son

côté gauche, sur la route de Villa-Maria à Villa-Bella de

Matto-Grosso” FIG. 30; “Rassemblement d’indiens Bororós de

l’arranchamento apellé Páu-Seco, entre les rivères Paraguay

et Jaurú: ils sont attentifs au récit qui fait l’un d’entre

eux, d’un combat contre une once” FIG. 31; “Hutte de

Bororós” FIG. 32 e pela prancha “Intérior d’une hutte des

indiens Bororós” FIG. 33.

121 O acervo de Taunay faz parte dos arquivos da Academia de Ciências de São Petersburgo, na Rússia. Para efeito da pesquisa, utilizei como fontes as reproduções publicadas em Leonel Kaz e Salvador Monteiro, Expedição Langsdorff ao Brasil, V. 2: aquarelas e desenhos de Taunay, 1988; e em Maria de Fátima Costa et al, O Brasil de Hoje no Espelho do Século XIX: Artistas alemães e brasileiros refazem a expedição Langsdorff, 1995.

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FIG. 28. “Vista da aldeia dos índios Borôro, denominada Pau Seco, situada a 7 léguas da margem esquerda do Paraguai, na estrada de Vila Maria a Vila Bela de Mato Grosso”. Fonte: Monteiro e Kaz, 1988, v. 2.

Aldeia pertencente ao grupo dos Bororo Ocidentais, mostra o

seu cotidiano, numa vista parcial que, entretanto, não permite verificar sua forma circular.

FIG. 29. “Grupo de índios Borôro da aldeia de Pau Seco, entre os rios Paraguai e Jauru atentos ao relato de um deles sobre uma caçada de onça”. Fonte: Monteiro e Kaz, 1988, v. 2.

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FIG. 30. “Cabana de Borôro”. Fonte: Monteiro e Kaz, 1988, v. 2. Mostra o Bái em detalhe, deixando ver sua estrutura e os

jiraus, internamente.

FIG. 31. “Interior de uma cabana dos índios Borôro”. Fonte: Monteiro e Kaz, 1988, v. 2.

Completa a seqüência do zoom, com a vista interna do Bái,

mostrando em detalhe a vedação de babaçu.

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A analise iconográfica da prancha da FIG. 32 apresenta uma

habitação da aldeia de Pau Sêco, com planta retangular e

detalhes da estrutura, que por três esteios centrais

suporta as duas águas da cobertura, que desce até o chão.

Os caibros constituem-se de varas flexíveis fincadas no

chão e que se encontram unidas na cumeeira. Folhas de

palmas cobrem a estrutura e são amarradas com embira; no

seu interior podem ser vistos jiraus encimados por

forquilhas. Percebe-se que essa casa não possuía portas nem

janelas, sendo o acesso pelas extremidades, abertas,

propiciadas pela queda das duas águas da cobertura de

palmas. Essa imagem da casa Bóe, de planta retangular e

duas águas, se apresenta como o primeiro modelo construtivo

conhecido, pós - contato.

Este primeiro modelo, portanto, observado nas aquarelas de

Taunay, mostra claramente as palmas que cobrem o Bái

descendo até tocar o solo, configurando assim uma

“cobertura-parede”, apropriando aqui a palavra parede

apenas num sentido ilustrativo, pois se trata, na verdade,

de uma vedação muito leve e permeável às brisas,

proporcionando sombra, mas que deixava do lado de fora as

águas das chuvas. Observando atentamente as aquarelas,

pode-se notar uma curvatura muito sutil nessa cobertura-

parede. Essa curvatura, provavelmente, era provocada pelos

jiraus que, apoiando as varas - caibros, fincadas no chão e

amarradas na cumeeira, fazia acontecer uma flexão nesse

ponto de apoio.

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Karl von den Steinen122

O segundo conjunto de imagens sobre a morada dos Bororo é

oferecido pelo etnógrafo alemão Karl von den Steinen. Em

março de 1887, durante sua segunda expedição ao Brasil, von

den Steinen visitou a colônia “Teresa Cristina”, deixando

um rico relato e iconografia que referencia a habitação dos

Bororo:

Em redor achavam-se as cabanas dos índios, feitas com

tetos triangulares que chegavam até o solo, de seis

passos de largura e 10 a 13 de comprimento: estavam ao

abrigo do sol e um tanto contra a chuva. Eram muito

simples, e cada uma servia para uma família.

No meio da colônia havia um grande páteo. Aí se elevava

o tal chamado ranchão, o baíto dos índios, de 10 passos

de largo e 26 de comprido. Também este a-pesar-de feito

com auxílio dos soldados, não tinha arte; as paredes

laterais consistiam em paus roliços, negligentemente

revestidos de fôlhas de palmeira, distanciados de modo

que quase em tôda parte ofereciam entrada. Os lados

estreitos quase sempre eram abertos.123

122 Alemão, nasceu em 7 de março de 1855, estudou medicina em Zürich, Bonn e Strassburgo, tendo se especializado em psiquiatria em Viena e Berlim. Viajou ao redor do mundo entre 1879 e 1881. Em 1882 veio a Geórgia Antártica numa expedição meteorológica; ao retornar dessa viagem, na escala em Montevidéu, dá inicio a uma incursão ao interior da América do Sul. Assim, de maio a outubro de 1884, coordena uma expedição que iria explorar o rio Xingú. Pelo interesse que representava para as comunicações, essa expedição vem a ser apoiada pelo Governo de Mato Grosso. Steinen volta em 1887 ao Xingú, dando início, segundo Baldus, às expedições puramente etnográficas, quando visita então os Bororo do rio São Lourenço. Em 1897 esteve nas ilhas Marquesas e em novembro de 1892 morreu na Alemanha. Fonte: Herbert Baldus, A obra de Karl von den Steinen, in Karl von den Steinen. Entre os aborígenes do Brasil Central, 1940. 123Idem, p. 578.

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FIG. 32. Colônia Thereza Christina, em 1887. Foto de Wilhelm von den Steinen. Fonte: Karl von den Steinen, 1940.

Na FIG.34 são mostradas, pela primeira, vez as paredes do

Bái destacadas da cobertura. Uma pista importante para a

pesquisa surge quando o texto acima se refere ao fato do

baíto, a casa dos homens, ter sido executado com “auxílio

dos soldados”. A transição cobertura - parede para

cobertura e paredes independentes, parece nesse caso, ao

que tudo indica, ter tido um componente explicitamente

externo: sua própria mão de obra, representada pelos

soldados que viviam na colônia. Em outras ilustrações, em

gravura, que acompanham o relato de Karl von den Steinen,

podem ser vistas algumas casas que conservam ainda a

cobertura - parede.

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Rondon124

O terceiro informante é o mato-grossense Cândido Mariano da

Silva Rondon. Militar, pesquisador e humanista, contribuiu

para o conhecimento etnográfico, antropológico,

lingüístico, geológico, botânico e zoológico do interior do

Brasil e, ainda ofereceu ensejo a inúmeros cientistas para

suas pesquisas. A Comissão Rondon encaminhou ao Museu

Nacional coleções contendo mais de mil e oitocentos

artefatos indígenas obtidos mediante trocas ou ganhos,

além de vários milhares de espécies de plantas e animais.

Descobriu e assinalou minas e jazidas (sulfato de ferro,

manganês, gipsita, mica e outros).

O material fotográfico produzido pela Comissão ilustra,

neste caso, aspectos do Bái ainda em processo de transição,

124 Cândido Mariano da Silva, nasceu em 1865 no distrito de Mimoso, município de Santo Antônio de Leverger, em Mato Grosso. O sobrenome Rondon foi acrescentado quando de sua formatura na Escola Superior de Guerra, no Rio de Janeiro, em 1890, onde obteve o título de Engenheiro Militar e Bacharel em Matemática e Ciências Físicas e Naturais. Discípulo de Benjamim Constant, participou ativamente do episódio da proclamação da República e logo depois foi designado para trabalhar como ajudante do então major Ernesto Gomes Carneiro na ligação telegráfica de Goiás a Mato Grosso, onde manteve os primeiros contatos com ao Bororo, dando início a uma jornada que só terminaria com sua morte, em 1958, aos 93 anos de idade. Construiu 4.560 Km de linhas telegráficas, incorporando ao ocidente do território brasileiro uma série de explorações, desvendando segredos dos pantanais e das florestas tropicais, executando estudos geográficos, fazendo determinações precisas de coordenadas de pontos para operações geodésicas, classificando flora fauna e, mais, implementando ao longo dessa jornada uma filosofia que se traduziria como uma política indigenista, fundadora do SPI. Morreu, cego, em 1958. Fonte: Mário Garcia de Paiva. A grande aventura de Rondon. 1971.

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ora incorporando ao seu desenho as quatro paredes que

conformam sua planta atual, ora mantendo as coberturas-

paredes, como visto na foto apresentada, durante a dança do

Marido Paradu125. Podemos aferir daí, que esse era um

processo de mudanças em andamento, na arquitetura do Bái.

FIG. 33. Indios Bororo com o baíto ao fundo, notar cobertura e paredes independentes. Foto Comissão Rondon. Fonte: Acervo Museu do Índio.

125 Cândido Mariano da Silva Rondon. Índios do Brasil / do Centro ao

Noroeste e Sul de Mato Grosso. V. 1., 1946.

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FIG. 34. Índios Bororo na dança do Marido Paradu; ao fundo pode-se perceber a forma das casas, com cobertura-paredes. Foto Comissão Rondon. Fonte: Acervo Museu do Índio.

Claude Lévi-Strauss126

São de Lévi-Strauss observações valiosas no reconhecimento

do outro como valor cultural, e, no caso da habitação Bóe,

transcrevo suas palavras, paradigmáticas e poéticas:

126 Nasceu em 1908, na Bélgica. Aos 92 anos vive em Paris, onde estudou e se formou em filosofia na École Normale Supérieure. Em 1934 veio ao Brasil como membro da missão francesa que contribuiu na fundação da USP. Posteriormente, dentro de um acordo cultural entre a França, Governo do Estado e a Prefeitura de São Paulo viajou pelo Oeste do país coordenando uma expedição etnográfica. Em 1936 esteve em Mato Grosso, entre os Bororo da aldeia de Kejari, que não existe mais. Em 1955, 19 anos depois de sua passagem entre os Bororo, publica “Tristes

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Habitações que pelo tamanho se tornam majestosas apesar

da fragilidade, empregando materiais e técnicas

conhecidas nossas como expressões menores, pois essas

residências, mais do que construídas, são amarradas,

trançadas, tecidas, bordadas e patinadas pelo uso; em

vez de esmagar o morador sob a massa indiferente de

pedras, reagem com flexibilidade à sua presença e a seus

movimentos; ao contrario do que ocorre entre nós, estão

sempre subjugadas ao homem. Em torno de seus moradores,

ergue-se a aldeia como uma leve e elástica armadura;

mais próxima dos chapéus de nossas mulheres que de

nossas cidades: ornamento monumental que preserva um

pouco da vida dos ondulados e das folhagens cuja natural

espontaneidade a habilidade dos construtores soube

conciliar com seu plano exigente127.

FIG. 35. Aldeia Kejári, 1936. Fonte: Lévi-Strauss, 1987.

A foto de Lévi-Strauss que apresentamos também é

emblemática, como o texto selecionado; mostra, como se fora

uma vista aérea, toda a aldeia, o Bóe é-wa. Lévi-Strauss

relatou que subiu em uma árvore para fazer essa bela

imagem. Podemos ver aí as casas colocadas em círculo, com a

casa dos homens no centro. Todas elas, inclusive o baíto,

Trópicos”, considerada sua obra mais importante. Fonte: Os pensadores. Lévi-Strauss, 1981. 127Claude Lévi-Strauss. Tristes Trópicos. 1996, p.202.

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possuem agora paredes separadas da cobertura. Havia se

encerrado o período intermediário, de contato: a casa

Bororo completara um novo ciclo de mudanças.

Torna-se forçoso perceber a influência da arquitetura dos

colonizadores sobre o desenho Bóe. Por outro lado, como já

observou Carlos Zibel Costa, ao estudar a casa Guarani, na

arquitetura cabocla,

é mais correto falar do que não lhe corresponde de fonte

indígena, e logo lhe corresponderá de fonte européia, do

que listar uma enormidade de características

indígenas128.

É fundamental, portanto, no processo Bóe – Bororo,

reconhecer que o desenho indígena é fonte de contínua

energia, sendo portador de uma raiz cultural paradigmática,

base para uma possível matriz arquitetônica de

desenvolvimento sustentável, contemporânea e comprometida

com o meio ambiente.

128 Carlos Zibel Costa. O Desenho Cultural da Arquitetura Guarany. 1993, p. 128.

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FIG. 36. Maquetes de estudo do Bái

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Considerações finais

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Tendo tomado a casa como objeto de pesquisa e seguindo as

pistas da cultura material dos Bóe, avancei pela hipótese

de um possível desenvolvimento da habitação Bororo. A

conclusão, calcada nas evidencias documentais e nos estudos

de etnoarqueologia de Irmihild Wüst, mencionados no corpo

do trabalho, aponta um provável caminho por que teria

passado o Bái, a casa Bororo, ao longo de um período

sincrônico.

Sem dúvida, novos estudos poderão completar e ampliar a

dissertação aqui apresentada. Uma analise comparativa com

outros povos penso, seria de grande valia, contudo

remeteria praticamente o trabalho a um outro, diferente do

que a pesquisa realizada se propôs. Esse cuidado se

justifica.

Nordenskiöld, citado por Castro Faria no seu estudo de

sobre as origens da habitação popular no Brasil, considerou

a casa como um dos elementos das culturas aborígenes mais

facilmente alterados pelos civilizados, mantendo, porém

sempre uma postura de extraordinária prudência ao fazer

referências e observações à habitação indígena129.

129 L. de Castro Faria. Idem, p.23.

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Portanto, sem as condições para um estudo de escopo mais

ampliado, que agregasse o comparativo com as habitações de

outros povos indígenas, optei por me ater ao caso da

habitação Bororo, esperando, contudo, que a pesquisa ora

apresentada possa contribuir para o aprofundamento de

trabalhos sobre a casa Bororo ou o desenvolvimento dos

necessários estudos comparativos.

Os documentos pesquisados, as evidencias preliminares dos

estudos arqueológicos citados, confirmam a hipótese da

mutação da habitação Bóe ao longo do tempo. A partir de uma

planta oblonga, o desenho da habitação Bororo teria tido

seu desenvolvimento nos três estágios apontados

anteriormente: planta ovalada com cobertura cônica; planta

retangular com cobertura em duas águas descendo até o chão;

planta retangular, cobertura com duas águas e quatro

paredes.

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Fontes e Bibliografia

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Anexo

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Documentos referentes aos Bororo que fazem parte do acervo do

Arquivo Público de Mato Grosso / APMT

Relatórios falas e mensagens Presidenciais Relatorio do Presidente. Ano 1846. Livro n.º 02 Catechese e Civilização dos índios.

Relatório do Presidente José da Silva Guimarães. Ano 1847. Livro n.º 02 Indios (pp.18 e 19) Discurso recitado pelo Exm.º Vice Presidente da Prov.ª de Mato Grosso Manoel Alves Ribeiro na abertura da Sessão ordinaria da Assemblea Legislativa Provincial em 3 de Maio de 1848. Cathequese (pp. 105v e 106). Discurso recitado pelo Exm.º Sr. Presidente da Provincia de Mato-Grosso, o Coronel João José da Costa Pimentel, na abertura da Sessão Ordinaria da Assembléa Legislativa Provincial em 3 de Maio de 1850. Tranquilidade publica e segurança individual (pp.141, 141v e 142). Cathequese e civilização dos indios (pp.146 e 146 v) Relatorio apresentado a Assemblea Legislativa Provincial em 1864 por Alexandre Manoel Albino Cathequese e civilização de Indios (pp. 17v, 18 e 18v). Relatório apresentado à Assemblea Legislativa Provincial por Hermes Ernesto da Fonseca. Ano 1875–1876. n.º 08. Agressões dos Indios

Relatório Ano 1878. Livro n.º 10 Colonisação e catechese

Relatório apresentado a Assemblea Legislativa Provincial por João José Pedrosa em 1879. Livro n.º12 Catechese e civilisação dos indios (pp. 181 a 189).

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Relatorio com que o Exm. Sr. Coronel Dr. José Maria de Alencastro, Presidente da Provincia de Matto-Grosso, abrio a 1.ª Sessão da 24.ª Legislatura da Respectiva Assembléa, no dia 15 de Junho de 1882. N.º 17 Catechese (pp.32, 33 e 34). Exposição com que o Exm.º Sr. Vice-Presidente Capitão Antonio Augusto Ramiro de Carvalho passou a Administração da Provincia de Mato-Grosso ao Exm.º Senr. Presidente Doutor Alvaro Rodovalho Marcondes dos Reis em 9 de Dezembro de 1886. Livro n.º 22 Catechese

Relatorio Apresentado a Assembléa Legislativa Provincial pelo Exm.º Sr. Presidente da Provincia de Mato-Grosso, Doutor Alvaro Rodovalho Marcondes dos Reis. Ano 1886. Livro n.º 23 Catechese (pp. 14 e 15). Relatorio Apresentado a Assembléa Legislativa Provincial. Ano 1887. Livro n.º 24 Catechese

Relatorio apresentado a Assembléa Legislativa Provincial por Francisco Raphael de Mello Rego em 20 de Outubro de 1888. Livro n.º 25 Catechese e Colonisação

Mensagem dirigida à Assembléa Legislativa pelo Presidente do Estado Dr. Antonio Corrêa da Costa. Ano de 1897. Livro n.º 33 Catechese (pp. 17v e 18). Mensagem dirigida pelo Coronel Pedro Celestino Corrêa da Costa, 1.º Vice-Presidente do Estado, em exercício, á Assembléa Legislativa ao installar-se a 1.ª Sessão da 8.ª Legislatura, em 13 de Maio de 1909 Catechese (p. 10). Mensagem dirigida pelo Coronel Pedro celestino Corrêa da Costa, 1.º vice-Presidente do Estado em exercício, á Assembléa Legislativa ao installar-se a 3.ª Sessão da 8.ª Legislatura em 13 de Maio de 1911. Catechese (p. 21). Mensagem dirigida pelo Doutor Joaquim Augusto da Costa Marques, Presidente do Estado á Assembléa legislativa em 1913. Catechese e Proteção aos Indios (pp. 199 a 203).

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Livros da Secretaria de Governo

Directoria Geral dos Índios. 1848-1860. Livro N.º 101 Bororós da Campanha (pp.7 e 7v). Bororos Cabaçaes (pp. 7v e 8). Coroados (pp. 8 e 8v). Bororós Cabaçaes e Cayapós (p. 13). Ano 1852. Officio (pp. 17 e 17v). Ano 1853. Officio (pp. 32 e 32v). Ano 1853. Relatorio (pp. 37v a 42). Ano 1857. Officio (pp. 75v e 76). Ano 1858. Officio (pp. 88v e 89). Ano 1859. Officio (pp.102v e 103). Directoria Geral dos Índios. Ano 1855–1859. Livro N.º 153

Ano 1855. Officio (pp. 63 e 63v). Ano 1857. Officio (p. 78). Ano 1857. Officio (p. 83v).

Registro de correspondência oficial da Presidência dirigidos as diversas autoridades do interior da província.

Ano 1874-1879. Livro N.º 287 Ano 1875. Officio n.º 70 (pp.63 e 64). Registro da correspondência da Secretaria da Província com

as autoridades. Ano 1879-1882. Livro N.º 320 Ano 1882. Officio n.º 13 (pp. 170 e 171). Livro de registro dos ofícios expedidos pela Secretaria Do

Governo. Ano 1884–1889. Livro N.º 354

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Ano 1884. Officio n.º 94 (pp. 12 e 12v) Ano 1885. Officio n.º 71 (pp. 32 e 33) Livro de officios que a Presidência da Província dirigiu ao Ministério dos Negócios da Justiça. Ano 1884–1889. Livro

N.º 359 Ano 1885. Officio n.º 55 (pp. 26v e 27).

Livro N.º 364 Ano 1885-1887 Ano 1886. Officio n.º 361 (p. 97). Ano 1887. Officio n.º 222 (p. 143). Ano 1887. Officio n.º 242 (pp. 147 e 147v).

Registro de officios expedidos pela Presidencia da Provincia às diversas autoridades do interior. Ano 1885-

1887. Livro N.º 365 Ano 1885. Officio n.º 64 (p.2) Ano 1885. Officio n.º 96 (p. 8v) Ano 1885. Officio n.º 123 (p. 15) Ano 1886. Officio n.º 196 (p. 102)

Livro de correspondência oficial com o Ministério dos Negocios da Agricultura. Ano 1885-1889. Livro n.º 367

Ano 1886. Officio n.º 36 (pp.33v e 34) Ano 1887. Officio s/n.º (pp.55 e 55v) Ano 1888. Officio n.º 14 (pp. 76 a 78) Ano 1889. Officio n.º 11 (pp. 99 e 100)

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Livro de officios expedidos pela Presidencia da Provincia à Thesouraria Provincial. Ano 1886 – 1898. Livro N.º 372

Ano 1886. Officio n.º 93 (p. 1 verso). Ano 1886. Officio n.º 140 (p. 10 verso). Livro de registro de officios expedidos pela Presidência da Província à Thesouraria de Fazenda. Ano 1887-1890. Livro

n.º 384 Ano 1887. Officio n.º 279 (p. 4).

Livro de correspondência do Governo do Estado com a catequese. Ano 1888-1903. Livro n.º 393.

Ano 1888. Officio n.º 11 (pp. 3 a 5). Ano 1891. Officio n.º 16 (p. 24). Ano 1896. Officio n.º 07 (pp.41 e 41 verso)

Documentos avulsos das latas

LATA 1845. “C” Relatório de João Baptista da Silva, encarregado da Bandeira destinada a afugentar os índios selvagens ao Senr. Ricardo José Gomes Jardim, Presidente e Commde. das Armas. Cuiabá, 12 de Novembro de 1845 Carta de Joaquim José Sampaio relatando incidente com os índios Coroados e solicitando proteção ao Senr. Commendador Zeferino Pimentel Moreira Freire, Presidente da Província. Engenho do Itacolomim, 15 de Fevereiro de 1844. Oficio de José da silva Fraga contendo resposta e solicitação de recursos para o aldeamento dos Índios Bororós Cabaçaes em Jaurú, ao Presidente da Provincia,

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Senr. Commendador Ricardo José Gomes jardim. Jaurú, 26 de Agosto de 1845. Copia de Circular com ordens de S. M. O Imperador aos Juizes de Orphãos da Província sobre o tratamento dos indígenas que servem pessôas particulares sem perceber salário. José Carlos Pereira d’Almeida Torres. Rio de Janeiro 2 de Setembro de 1845. Cumpra-se e registre-se. Palacio do Governo de Mato Grosso, 27 de Dezembro de 1845. Gomes Jardim. Participação de Victoriano José do Couto ao Presidente da Província de ataque dos Índios Coroados. S. Lourenço, 11 de novembro de 1845. Participação Joaquim Duarte de Moraes ao Presidente da Província de ataque de índios. Sitio das Antinhas, 1 de Setembro de 1845. Participação do comandante da bandeira ao Presidente e Commandante das Armas da Província Senr. José Gomes Jardim sobre descoberta de aldeamento “de mas de mil barbaros” e posterior ataque dos índios Coroados. Palmeiras, 23 de Setembro de 1845.

Resposta do comandante de Bandeira João Baptista da Silva ao Presidente e Commandante das Armas da Província Ricardo José Gomes Jardim com informações e relação de desertores. Palmeiras, 3 de Outubro de 1845.

LATA 1882. “C”

Informação do Director Geral dos Índios, Thomaz Antonio de Miranda ao Presidente da província Coronel José Maria d’Alencastro, sobre cincoenta índios Bororo Cabaçaes aldeados no lugar denominado Morro, pertencente ao Distrito de S. Luís de Cáceres. Cuiabá, 13 de Janeiro de 1882. Informação do Director Geral dos Índios, Thomaz Antonio de Miranda ao Presidente da província Coronel José Maria d’Alencastro sobre queixa dos índios Bacairis de serem ameaçados pelos bravios Coroados. Cuiabá, 18 de Dezembro de 1882.

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LATA 1884. “D” Proposta do Director Geral dos Índios, Thomaz Antonio de Miranda ao Presidente da província Senr. General Barão de Batovi, para exoneração do director dos índios Bororós João Alves Corrêa e nomeacao do tenente Coronel José Sabo Alves d’Oliveira. Cuiabá, 15 de Abril de 1884.

LATA 1884. “E”

Maço: Colonias Militares:

Relatorio circunstanciado do estado da Colonia Militar de S. Lourenço feito pelo seu director, Mathias Pereira Forte, Capitão Reformado do Exercito, ao Senr. General Conrado Maria da Silva Bittancourt. Colonia Militar de S. Loureço, 20 de Fevereiro de 1884. Relatório do Capm. Director da Colonia Militar do Brilhante ao General Presidente e Comandante das Armas, Barão de Batovi, em que relata das “tres grandes tribus que cercão esta colonia: Guaranys; Cayoas; e Coroados”. Colonia Militar do Brilhante 21 de Março de 1884. Copia N.º 17. Relatório de inspeção do Major Inspetor José Pereira da Graça Junior ao Capitão Director da Colonia Militar de S. Loureço, Mathias Pereira Forte. Inspectoria das Colonias Militares da Provincia de Matto Grosso. São Lourenço, 31 de Março de 1884.

LATA 1885. “E”

Oficio do diretor Geral dos Índios, Thomaz Antº. de Miranda Roiz, ao Presidente da Provincia Senr. General Floriano Peixoto, onde pondera sobre o aldeamento dos Bororós na fazenda nacional Caissara, “distante duas legoas” de S. Luis de Caceres, em virtude de haverem sido expelidos por Jaime Cibilis da fazenda Cambara, antiga propriedade do finado Major João Pereira Leite. Cuiabá, 3 de outubro de 1885. Director Geral dos Indios, Thomaz Antº. de Miranda Roiz ao Presidente Senr. General Floriano Peixoto. Solicitação de recursos para pagar generos “aos tres indios da tribu-Bororó da campanha”. Cuiabá, 23 de Abril de 1885.

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Director Geral dos Indios, Thomaz Antº. de Miranda Roiz ao Presidente Senr. General Floriano Peixoto. Solicitação de recursos para pagamento de despesas “feitas com os indios Coroados por occasiao de serem baptisados”. Cuiabá,10 de Setembro de 1885. Director Geral dos Indios, Thomaz Antº. de Miranda Roiz ao Presidente Senr. General Floriano Peixoto. Solicitação de recursos para pagamento de “generos e roupas fornecidos aos indios – Coroados - prisioneiros existentes na Colonia de S. Lourenço”. Cuiabá, 15 de Setembro de 1885. Director Geral dos Indios, Thomaz Antº. de Miranda Roiz ao Presidente Senr. General Floriano Peixoto. Solicitação de recursos para pagamento de vivers fornecidos a “dous indios Cabaçaes que forão empregados na expedição que seguio Cuyabá acima contra os índios bravios”. Cuyabá, 28 de Setembro de 1885. Director Geral dos Indios, Thomaz Antº. de Miranda Roiz ao Presidente Senr. General Floriano Peixoto. Solicitação de recursos para pagamento de alimentação dos índios - Coroados – prisioneiros das forças expedicionárias no alto certão”. 3 de Outubro de 1885 Director Geral dos Indios ao Presidente da Província Doutor José Joaquim Ramos Ferreira. Solicitação de recursos para pagamento de despesas “com os índios Coroados trasidos ultimamente pelo Alferes Antonio José Duarte”. Cuyabá, 28 de Outubro de 1885. Director Geral dos Indios Thomaz Antº. de Miranda Roiz ao Presidente da Província Doutor José Joaquim Ramos Ferreira. Solicitação de recursos para pagamento de conta “despendida pelo Alferes Antonio José Duarte com alimentação dos indios _ Coroados – apresionados e condusidos á capital pelo mesmo alferes”. Cuyabá, 3 de Novembro de 1885. Director Geral dos Indios Thomaz Antº. de Miranda Roiz ao Presidente da Província Doutor Joaquim Galdino Pimentel. Informação sobre índios Bororós Cabaçaes “para serem empregados como trilhadores nas expedições que se fizerão ultimamente contra os Cororados e servirem de interpretes tambem”. Cuyabá, 21 de Novembro de 1885.

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LATA 1886. “G”

Alferes Commde. Antonio José Duarte ao Presidente da Província Doutor Joaquim Galdino Pimentel. Relata saída da capital seguindo “em demanda do aldeamento denominado - cabaçal – onde pretendo soltar as indias e esperar pelo resultado da catechése que vão promover”. Acampamento da Força Expedicionaria para o Alto S. Lourenço. 8 de Maio de 1886. Alferes Commde. Antonio José Duarte ao Presidente da Província Doutor Joaquim Galdino Pimentel. Solicita “ordens no sentido de ser contratado um curandeiro” e indica o cidadão Joao Ribeiro de Castro. Acampamento Couto de Magalhães em Cuyabá, 6 de Julho de 1886. N.º 10 Relação nominal com as contribuições individuais feita pela Comissão nomeada para arrecadar fundos para catechese do indios Coroados ao Presidente da Província Doutor Joaquim Galdino Pimentel, assinada por Joaquim Vaz de Campos, Antonio Cesario de Figueiredo e Henrique José Vieira. Cuiabá, 3 de agosto de 1886. Relação nominal feita pelo Alferes Antonio José Duarte dos índios Coroados alojados no acampamento Couto de Magalhães e que seguem para o Alto São Lourenço. Acampamento Couto de Magalhães. Cuiabá, 4 de Agosto de 1886. Alferes Commde. Antonio José Duarte ao Presidente da Província Doutor Joaquim Galdino Pimentel. Participa o resultado de sua catechese, “condusindo 330 selvagens entre homens, mulheres e crianças. A catechese que encetei, produzio o mais brilhante resultado. Os selvagens vinhão-se-me apresentar diariamente e recebião brindes. Vierão turmas de diversos aldeamentos e chegarão ao meo acampamento desassombradamente e cheios de confiança...a india Rosa, em vez de auxiliar-me, pelo contrario procurava plantar a desharmonia entre os indios, que eu em acto continuo destruia”. Acampamento da Força Expedicionaria na Colonia de São Lourenço, 13 de Outubro de 1886. Prestação de contas feita por Henrique José Vieira ao Presidente da Província Doutor Joaquim Galdino Pimentel sobre recurso arrecadado para auxilio na catechese dos indios Bororós-Cororados. Cuyabá, 8 de Novembro de 1886. Resultado de Comissão incumbida pela Presidencia (não identificada assinatura, provável Alferes Antonio José

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Duarte) ao D. 2º Vice-Presidente, Snr. Antonio Augusto Ramiro de Carvalho. Cuyabá, 1o de Dezembro de 1886. Calculo aproximado da despeza a fazer com o aldeiamento e conducção dos indios – Coroados” Alferes Commandante Antonio José Duarte. Cuyabá, 11 de Dezembro de 1886. Informação que presta o Alferes Antonio José Duarte ao Presidente da Província Senr. Doutor Alvaro Rodovalho Marcodes dos Reis sobre compra de brindes para os índios Coroados. Quartel do Commando da Força Expedicionaria no Acampamento Couto de Magalhães em Cuyabá, 29 de Dezembro de 1886

LATA 1887. “G”

Maço: Directoria Geral dos Indios

Alferes Commte. Antonio José Duarte ao Presidente da Provincia Senr. Doutor Alvaro Rodovalho Marcondes dos Reis, remete despesa feita com indios Coroados. Quartel do Commando da Força Expedicionaria no Aricá-Mirim, 3 de Janeiro de 1887. Director Geral dos Indios, Thomaz Antº. de Miranda Roiz ao Presidente da Provincia Senr. Doutor Alvaro Rodovalho Marcondes dos Reis, referente a despesas com batismo dos indios Coroados. Cuyabá, 3 de Janeiro de 1887. Director Geral dos Indios, Thomaz Antº. de Miranda Roiz ao Presidente da Provincia Senr. Doutor Alvaro Rodovalho Marcondes dos Reis, additamento ao officio anterior. Directoria Geral dos Indios em Cuyabá, 10 de Janeiro de 1887. Directoria Geral dos Indios em Cuyabá, ao Presidente da Provincia Senr. Doutor Alvaro Rodovalho Marcondes dos Reis com contas de gastos com indios Bororós e Parecis em S. Luis de Caceres e informação da Thesouraria Provincial assinada pelo Chefe Virgilio Joaquim Ribeiro. Cuyabá, 16 de Fevereiro de 1887. Henrique José Vieira, membro da Comissao para agenciar donativos para auxilio na catechese dos indios Bororós Coroados Cuyabá, ao Presidente da Provincia Senr. Doutor Alvaro Rodovalho Marcondes dos Reis. Cuyabá, 4 de Março de 1887.

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Directoria Geral dos Indios em Cuyabá ao Presidente da Provincia Senr. Doutor Alvaro Rodovalho Marcondes dos Reis, apresenta conta de despesas feitas com dous indios da tribu–Bororós- que forao empregados como trilhadores na expedicao contra indios bravios na cidade de Matto Grosso. Cuyabá, 10 de Março de 1887. Esclarecimentos sobre a pacificação dos indios Cororados (assinatura não identificada, provável Alferes Antonio José Duarte) ao Vice-Presidente da Provincia Senr.. Cuyabá, 7 de Junho de 1887. Directoria Geral dos Indios em Cuyabá ao Presidente da Provincia Doutor José Joaquim Ramos Ferreira, com sugestao sobre a pacificaco dos indios Mãibarés e Cabixis que hostilizam a cidade de Matto-Grosso e com referencia a índia Rosa. Cuyabá, 8 de Julho de 1887.

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