baladas, Adriano, Freire, Mário Branco

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Baladas (Adriano, Freire e Mário Branco) Arquivo de música de língua portuguesa 21 de Dezembro de 2002 1

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Letras e cifras.

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Baladas (Adriano, Freire e MárioBranco)

Arquivo de música de língua portuguesa

21 de Dezembro de 2002

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Conteúdo

As Armas do Amor . . . . . . . . . . . . . . . . . 3As canseiras desta vida . . . . . . . . . . . . . . . 7As mãos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9Canção com lágrimas . . . . . . . . . . . . . . . . 10Canção da fronteira . . . . . . . . . . . . . . . . . 11Canção tão simples (Quem poderá domar ...) . . . . 12Canção terceira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13Cantar de emigração (este parte, aquele parte) . . . 14Cantiga da velha mãe e dos seus dois filhos - Mãe

coragem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15Cantiga do fogo e da guerra . . . . . . . . . . . . . 16Cantiga para pedir dois tostões . . . . . . . . . . . 17Capa negra, rosa negra . . . . . . . . . . . . . . . 19Capotes brancos, capotes negros . . . . . . . . . . 20Casa comigo Marta . . . . . . . . . . . . . . . . . 21E alegre se fez triste . . . . . . . . . . . . . . . . . 22Eh! Companheiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23Ei-los que partem . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25Emigração (Quando no silêncio das noites de luar) . 26Erguem-se muros . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27Eu vim de longe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28Fado da tristeza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29Fala do Velho do Restelo ao astronauta . . . . . . . 30Lágrima de preta . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31Lira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32Livre (não há machado que corte) . . . . . . . . . . 33Menina bexigosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34Menina dos olhos tristes . . . . . . . . . . . . . . 35O charlatão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36Onde vais ó caminheiro . . . . . . . . . . . . . . . 38Pátria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40Pedra filosofal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41Pedro Só . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43Pensamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44Pequenos deuses caseiros . . . . . . . . . . . . . . 45Poema da malta das naus . . . . . . . . . . . . . . 46Por Aquele Caminho . . . . . . . . . . . . . . . . 48Porque . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50Quando eu for grande (carta aos meus netos) . . . . 51Quatro quadras soltas . . . . . . . . . . . . . . . . 53Queixa das almas jovens censuradas . . . . . . . . 56Sant’Antoninho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58Tejo que levas as águas . . . . . . . . . . . . . . . 60Tiro-no-liro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62Trova do vento que passa . . . . . . . . . . . . . . 63

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ÍndiceAdriano Correia de Oliveira,

9–14, 19, 22, 26,27, 32, 35, 40, 44,48, 50, 60, 63

António Cabral, 11António Ferreira Guedes,

27, 40António Gedeão, 31, 41,

46António Portugal, 12, 19,

40, 44, 63

balada açoreana, 32

Carlos Oliveira, 33Curros Henriquez, 26

fado de Coimbra, 19, 40Fernando Assis Pacheco, 43Francisco Fanhais, 50

Jean Sommer, 58José Mário Branco, 7, 15–

17, 20, 21, 23, 28,29, 36, 38, 51, 56,58, 62

José Niza, 14, 22, 26, 31José Saramago, 30

Luís Cília, 13

Manuel Alegre, 9, 10, 12,13, 19, 22, 44, 63

Manuel da Fonseca, 60Manuel Freire, 25, 30, 31,

33, 34, 41, 43, 45,46

Manuel Jorge Veloso, 43Manuela de Freitas, 51

Natália Correia, 56

popularAçores, 32

Reinaldo Ferreira, 35Rosalia de Castro, 14

Sérgio Godinho, 3, 15–17,21, 23, 36, 53

Sidónio Muralha, 34, 45Sofia de Melo Breyner, 50

Zeca Afonso, 35, 48

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As Armas do Amor

Letra e música: Sérgio Godinho;

Desarmemos campos minados da ignorânciaonde se infiltra friamenteo preconceito, esse sim, fatal, letal, brutale não há senso que lhe valhao preconceito desempalhaanimais incongruentesatacando pela trilhade uma ilha outrora virgemAparência da virtudeO preconceito nunca falhaflecha certeirana esteirada inocênciaaparência de virtudeE por mais que se escudena justificação pseudo-éticacosmética, caquéticado seu valor de guardião das moraisvitais pra lá do ano 2000o preconceito não tem estado civilé casado com a mortedivorciado da vidaé viúvo de si mesmoé solteiro e por junto separadosuicida

Desarmem o preconceito!

Armem por favor as armas do amoramor no sentido primeiro e seculararmem o mararmem o vento p’ro uso depoisvão e regressem depoismas por quem soismas por quem soisarmem as armas do amorarmem as armas do amorarmem as armas do amorarmem por favoras armas do amor

Desarmemas metralhadoras côr-de-cinzaque defendem

0In: “domingo no mundo”,1997;

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a condescendênciacautelosa, lacrimosadas decisões oficiaiscarimbadas despachadase só por isso legaismas que vão milhas atrásdas atrozes realidadesque o corpo gritae a alma berraA condescendência não desferraNo cofre forte onde se encerraa planificação ponderadade um problema complexohá soluções de fachada2 mil mortos perfilados na paradahá palestras sobre sexoé um problema complexonosso dano se ninguém resolve nadaano após ano2 mil mortos perfilados na parada1 por anonossa escada em caracol para o nirvana

Desarmem a condescendência!

Armem por favor as armas do amoramor no sentido primeiro e seculararmem o mararmem o vento p’ro uso depoisvão e regressem depoismas por quem soismas por quem soisarmem as armas do amorarmem as armas do amorarmem as armas do amorarmem por favoras armas do amor

Desarmema pose altivaemproada gargalhadaque veste a incompetênciaincipiênciadisfarçada de sumasabedoriaquem diriaquem diria que debaixo de umasó alegoriatanto exemplo existiriaExemplos de incompetência

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F G Dm A7 Fm

Nota - Alternativamente A7/D/G (refrão em D/A7) ou G7/C/F (re-frão em C/G7)

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Vi minha pátria na margemdos rios que vão pró marcomo quem ama a viagemmas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir(minha pátria à flor das águas)vi minha pátria florir(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignoradae fale pátria em teu nome.Eu vi-te crucificadanos braços negros da fome.

E o vento não me diz nadasó o silêncio persiste.Vi minha pátria paradaà beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novose notícias vou pedindonas mãos vazias do povovi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentrodos homens do meu país.Peço notícias ao ventoe o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevoliberdade quatro sílabas.Não sabem ler é verdadeaqueles pra quem eu escrevo.]

Mas há sempre uma candeiadentro da própria desgraçahá sempre alguém que semeiacanções no vento que passa.

Mesmo na noite mais tristeem tempo de servidãohá sempre alguém que resistehá sempre alguém que diz não.

Versos de segunda; Creissac (jeito de jj), Fernando Faria (Nem todas as

quadras aparecem na canção; as ausentes estão entre [])

C7 Am C D G7

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são aos montes, são às serrasimpossíveis de escalarpassos vãos, inúteis guerrasA incompetência é incapaz de se olharo cadáver inocenteé olhado pelo soldado incontinentepelo menos é um olhara incompetência, nem pensarnem pensarem juntar o resultado à vontadeo sonhadoà realidadee do realpartir para a utopiamenos malassim seriamenos mal

Desarmem a incompetência!

Armem por favor as armas do amoramor no sentido primeiro seculararmem o mararmem o vento p’ro uso depoisvão e regressem depoismas por quem soismas por quem soisarmem as armas do amorarmem as armas do amorarmem as armas do amorarmem por favoras armas do amor

Desarmema boa consciência arrogantealtissonante, complacenteda intolerância religiosada intolerância civilda intolerância, tanto fazdesdenhosa e incapazde intuir na diferençaa trave-mestra desta vidasal da vidaA intolerância é uma água envenenadarota em jorros mas dos gritossó sai água silenciosaa mais perigosaengrossa rios, traz detritostraz a caixa das esmolasflutuando já tombada

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penetra casas e escolasleva livrosditos sagradosmas levadosmais à letraque a própria letradas suas margense assim pondo-se à margemdos próprios rios sagrados

Desarmem a intolerância!

Armem por favor as armas do amoramor no sentido primeiro e seculararmem o mararmem o vento pro uso depoisvão e regressem depoismas por quem soismas por quem soisarmem as armas do amorarmem as armas do amorarmem as armas do amorarmem por favoras armas do amor

“praça das flores”

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Trova do vento que passa

Música: António Portugal; Letra: Manuel Alegre; Intérprete:Adriano Correia de Oliveira;

C

PerG

gunto ao vento queC

passa

noG

tíciG7

as do meu paC

ísC7

e oF

ventoFm

cala a desC

graçaAm

oDm

ventoG

nada meC

diz.C7

oDm

ventoG

nada meC

diz.

D A7 D

La-ra-lai-lai-lai-la, la-ra-lai-lai-lai-la, [Refrão]La-ra-lai-lai-lai-la, la-ra-lai-lai-lai-la. [Bis]

Pergunto aos rios que levamtanto sonho à flor das águase os rios não me sossegamlevam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoasai rios do meu paísminha pátria à flor das águaspara onde vais? Ninguém diz.

[Se o verde trevo desfolhaspede notícias e dizao trevo de quatro folhasque morro por meu país.

Pergunto à gente que passapor que vai de olhos no chão.Silêncio – é tudo o que temquem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramosdireitos e ao céu voltados.E a quem gosta de ter amosvi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nadaninguém diz nada de novo.Vi minha pátria pregadanos braços em cruz do povo.

0In: trova ao vento que passa(1963);

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Tiro-no-liro

Letra e música: José Mário Branco;

Na zoologia do fala-sóHá muitos animais de tiroHá o tiro-liro e não sóTambém o tiro-liro-ló

Seja tiro-liro ou tiro-lóO tiro-liro leva tiroQue é o mesmo que três liros e um lóFeridos por um tiro só

Quem dá o tiro no liroVai p’ró chilindróQuem dá o tiro no lóAnda de pó-pó

Lá em cima está o tiro-liro-liroCá em baixo o tiro-liro-ló

Mas o liro que eu prefiro é o lóQue ao liro-liro tira o tiroPois enquanto o ló transpira no póO liro tira o pão do ló

Há-de vir o dia em que o liro-lóSerá igual ao liro-liroCom a concertina e o sol-e-dóUnidos por um tiro só

Quem dá o tiro no liroVai p’ró chilindróQuem dá o tiro no lóAnda de pó-pó

Lá em cima está o tiro-liro-liroCá em baixo o tiro-liro-ló

Victor Almeida

0In: “A Noite”, 1985;

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As canseiras desta vida

Letra e música: José Mário Branco;

As canseiras desta vidatanta mãe envelhecidaa escovara escovara jaqueta carcomidafica um farrapo a brilhar

Cozinheira que se esmerafaz a sopa de misériaa contara contaros tostões da minha fériae a panela a protestar

Dás as voltas ao suorfim do mês é dia 30e a sexta é depois da quintasempre de mal a pior

E cada um se lamentaque isto assim não pode serque esta vida não se aguenta-o que é que se há-de fazer?

Corta a carne, corta o peixenão há pão que o preço deixea poupara poupara notinha que se queixatão difícil de ganhar

Anda a mãe do passarinhoa acartar o pão pró ninhoa cansara cansarcom a lama do caminhosó se sabe lamentar

É mentira, é verdadevai o tempo, vem a idadea esticara esticara ilusão de liberdadepra morrer sem acordar

É na morte ou é na vidaque está a chave escondidado portão

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do portãodeste beco sem saída-qual será a solução?

Victor Almeida (baseado em “A mãe” de Bertold Brecht)

Nota - José Mário Branco compôs para a peça “A Mãe” de BertoltBrecht (um dos meus favoritos) pelo grupo de teatro A Comuna egravou um disco com o nome da peça, isto em 1978. Esta é uma dascanções que como todas tem musica do Zé Mário e as letras tambémbaseadas nos textos de Brecht.

8

Leva nas águas as grades...

Das camas de amor compradodesata abraços de lodorostos corpos destroçadoslava-os com sal e iodo

Tejo que levas nas águas...

A. Guimarães

G h7 Em Am C

D

61

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Tejo que levas as águas

Música: Adriano Correia de Oliveira; Letra: Manuel da Fon-seca; Intérprete: Adriano Correia de Oliveira;

Em

Tejo que levas as águasD

correndo de par emG

par

lava a cidade deC

mágoas

leva asAm

mágoas para oh7

mar

Lava-a de crimes espantosde roubos, fomes, terrores,lava a cidade de quantosdo ódio fingem amores

Leva nas águas as gradesde aço e silêncio forjadasdeixa soltar-se a verdadedas bocas amordaçadas

Lava bancos e empresasdos comedores de dinheiroque dos salários de tristezaarrecadam lucro inteiro

Lava palácios vivendascasebres bairros da lataleva negócios e rendasque a uns farta e a outros mata

C

Tejo que levas asD

águas

correndo de par emG

par

lava a cidade deC

mágoas

leva asAm

mágoas para oh7

mar

Lava avenidas de víciosvielas de amores venaislava albergues e hospícioscadeias e hospitais

Afoga empenhos favoresvãs glórias, ocas palmasleva o poder dos senhoresque compram corpos e almas

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As mãos

Música: Adriano Correia de Oliveira; Letra: Manuel Alegre;Intérprete: Adriano Correia de Oliveira;

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.Com mãos tudo se faz e se desfaz.Com mãos se faz o poema - e são de terra.Com mãos se faz a guerra - e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.Não são de pedras estas casas, masde mãos. E estão no fruto e na palavraas mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no tempo como farpasas mãos que vês nas coisas transformadas.Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor, cada cidade.Ninguém pode vencer estas espadas:nas tuas mãos começa a liberdade.

Victor Almeida

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Canção com lágrimas

Música: Adriano Correia de Oliveira; Letra: Manuel Alegre;Intérprete: Adriano Correia de Oliveira;

Em C B7 Em

Em

Eu canto para ti o mês das giestas

OD

mês de morte e crescimento ó meu aG

migo

ComoAm

um cristal parD#7dim

indo-se planEm

gente

NoC

fundo da meB7

mória perturEm

bada

Eu canto para ti o mês onde começa a mágoaE um coração poisado sobre a tua ausênciaEu canto um mês com lágrimas e sol o grave mêsEm que os mortos amados batem à porta do poema

Porque tu me disseste quem em dera em LisboaQuem me dera me Maio depois morresteCom Lisboa tão longe ó meu irmão tão breveQue nunca mais acenderás no meu o teu cigarro

Eu canto para ti Lisboa à tua esperaTeu nome escrito com ternura sobre as águasE o teu retrato em cada rua onde não passasTrazendo no sorriso a flor do mês de Maio

Porque tu me disseste quem em dera em MaioPorque te vi morrer eu canto para tiLisboa e o sol, Lisboa com lágrimasLisboa à tua espera ó meu irmão tão breveEu canto para ti Lisboa à tua espera...

Fernando Pais Abreu, Tó Campos (Canção para um amigo que morreu na

guerra)

G Em D#7dim Am C

D B7

10

da incarnação

J.João

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Page 11: baladas, Adriano, Freire, Mário Branco

Sant’Antoninho

Música: Jean Sommer; Letra: José Mário Branco; Intér-prete: José Mário Branco;

Meu Sant’Antoninhoonde te hei-de pôrdeixa-me limpar o póMeu Sant’Antoninhodou-te o meu amorcom chazinho e pão-de-ló

Deixa a vovó apertar o nó [bis]

Pra voar mais vale ter uma na mãoe um cheirinho a naftalina no salãoe a filha do juizpõe pozinho no narize sapatos de vernizpra ir à comunhão

Meu Sant’Antoninhoonde te hei-de pôrfica do lado de cáMeu Sant’Antoninhomeu senhor doutorassina-me um alvará

com a caneta do teu papá [bis]

Foi a guerra que me deu a ilusãode subir quando caí no alçapãoe a madrinha do políciapisca o lho com malíciapra tentar canonizaros pretos do Japão

Meu Sant’Antoninhoonde te hei-de pôrpara me lembrar de tiMeu Sant’Antoninhodá-me o teu tambore um lencinho de organdi

e uma medalha para pôr aqui [bis]

Eu a pôr flores de papel no teu jarrãoe o comboio a apitar na estaçãojá não o posso apanharfico aqui a descansarmeditando no mistério

0In: “Margens de certa maneira”;

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Canção da fronteira

Música: Adriano Correia de Oliveira; Letra: António Ca-bral;

Moça tão formosanão vi na fronteiracomo uma ceifeiraque cantava, Rosa

Foi em Barca d´Alvaquando o sol nasciauma ceifeira cantavacantando vertiatrovas na fronteiraquando o sol nascia

A saia de chitarosinha, limãoque coisa bonitasobre o coraçãonos ramos da luzum fruto limão

De foice na mãosuspensa de um sonhomordendo dois bagosrubros de medronhoseus olhos dois bagossuspensos de um sonho

Devia ser pobremas cantava Rosaromã que se abriana manhã formosaQue canto que sonhoque engano de rosa

Foi em Barca d´Alvaquando o sol nasciauma ceifeira cantavacantando vertiatrovas na fronteiraquando o sol nascia

Moça tão formosanão vi na fronteiracomo uma ceifeiraque cantava Rosa

Fernando Pais

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Page 12: baladas, Adriano, Freire, Mário Branco

Canção tão simples (Quem poderá do-mar ...)

Música: António Portugal; Letra: Manuel Alegre; Intérprete:Adriano Correia de Oliveira;

Quem poderá domar os cavalos do ventoquem poderá domar este tropeldo pensamentoà flor da pele?

Quem poderá calar a voz do sino tristeque diz por dentro do que não se diza fúria em ristedo meu país?

Quem poderá proibir estas letras de chuvaque gota a gota escrevem nas vidraçaspátria viúvaa dor que passa?

Quem poderá prender os dedos farpasque dentro da canção fazem das brisasas armas harpasque são precisas?

Versos de Segunda

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para organizar já o enterrodo nosso corpo mais adiante

Dão-nos um nome e um jornalum avião e um violinomas não nos dão o animalque espeta os cornos no destino

Dão-nos marujos de papelãocom carimbo no passaportepor isso a nossa dimensãonão é a vida, nem é a morte

Versos de segunda

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Page 13: baladas, Adriano, Freire, Mário Branco

Queixa das almas jovens censuradas

Música: José Mário Branco; Letra: Natália Correia;

Dão-nos um lírio e um canivetee uma alma para ir à escolamais um letreiro que prometeraízes, hastes e corola

Dão-nos um mapa imaginárioque tem a forma de uma cidademais um relógio e um calendárioonde não vem a nossa idade

Dão-nos a honra de manequimpara dar corda à nossa ausência.Dão-nos um prémio de ser assimsem pecado e sem inocência

Dão-nos um barco e um chapéupara tirarmos o retratoDão-nos bilhetes para o céulevado à cena num teatro

Penteiam-nos os crâneos ermoscom as cabeleiras das avóspara jamais nos parecermosconnosco quando estamos sós

Dão-nos um bolo que é a históriada nossa historia sem enredoe não nos soa na memóriaoutra palavra que o medo

Temos fantasmas tão educadosque adormecemos no seu ombrosomos vazios despovoadosde personagens de assombro

Dão-nos a capa do evangelhoe um pacote de tabacodão-nos um pente e um espelhopra pentearmos um macaco

Dão-nos um cravo preso à cabeçae uma cabeça presa à cinturapara que o corpo não pareçaa forma da alma que o procura

Dão-nos um esquife feito de ferrocom embutidos de diamante

0In: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”; 1971;

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Canção terceira

Música: Luís Cília; Letra: Manuel Alegre; Intérprete: Adri-ano Correia de Oliveira;

Quando desembarcarmos no Rossio cançãoVão dizer que a rua não é um rioVão apresar o teu navioCarregado de vento carregado de pão

Dirão que trazes tempestadesDirão que vens de espada em risteDirão que foi sangue o vinho que pedisteQuando desembarcarmos no Rossio

Vão vestir-te com gradesQue é um vestido para todas as idadesNa pátria dos poetas em Rossio triste

Virão em busca do teu sonho e do teu pãoE vão exigir a nossa rendiçãoMas eu cançãoEu gritarei de pé no teu navioNão

Vão vestir-te com gradesQue é um vestido para todas as idadesNa pátria dos poetas em Rossio tristeMas eu cançãoEu gritarei de pé no teu navioNão

Fernando Pais Abreu

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Page 14: baladas, Adriano, Freire, Mário Branco

Cantar de emigração (este parte, aqueleparte)

Música: José Niza; Letra: Rosalia de Castro; Intérprete:Adriano Correia de Oliveira;

Este parEm

te, aquele parG

te

e toC

dos, toAm

dos seD

vão

GaliD

za fiC

cas sem hoEm

mens

que poC

ssam coAm

rtar teu pãoh7

C C h7+

C C h7

Tens em trocaórfãos e órfãstens campos de solidãotens mães que não têm filhosfilhos que não têm pai

Coraçãoque tens e sofrelongas ausências mortaisviúvas de vivos mortosque ninguém consolará

jj(Jan 96)

G h7 Em Am C

D h7+

14

polide” e numa das canções cantavam, Adriano Correia de Oliveira,Zeca Afonso e Fausto. Essa canção chama-se “Quatro quadras sol-tas” e nas quadras, cada um dos convidados canta conforme o men-cionado.

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Page 15: baladas, Adriano, Freire, Mário Branco

Das restantes quadras soltasnão tinha sequer noticiadirigi-me a uma esquadrae descrevi-as a um policia

Respondeu-me: com efeitonós temos aqui retidauma quadra sem papeisque encontramos na má vida

Diz que é uma quadra oralsem identificaçãoque uma quadra popularnão precisa de cartão

Se diz que pertence ao povoo povo que venha cáque eu quero ver a licençao registo e o alvará

[Fausto:]O i o, Quando se embebeda o pobreo i o ai, dizem olha o borrachãoo i o ai, quando se emborracha o ricoacham graça ao figurão

Fui com a quadra popularÀ procura da restantequando o policia de longedisse: venha aqui um instante

Temos aqui uma outranão sei se você conhecedesrespeita a autoridadee diz o que lhe apetece

Tem uma rima forçadae palavras estrangeirase semeia a confusãoentre as outras prisioneiras

Se for sua leve-a jáque é pior que erva daninhaolhe bem pra ela é sua?Olhei bem pra ela: é minha

O i o ai, nós queremos é justiçao i o ai, e dinheiro para o bifeo i o ai e não esta coboiadaem que é tudo do sherife

Victor Almeida

Nota - Em 1979 Sérgio Godinho gravava um disco chamado “Cam-

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Cantiga da velha mãe e dos seus dois fi-lhos - Mãe coragem

Música: José Mário Branco; Letra: Sérgio Godinho;

Ai o meu pobre filho, que rico que éai o meu rico filho, que pobre que énascidos do mesmo ventreum vive de joelhos pr’ó outro passar à frentee esta velha mãe pr’áqui já no sol poente

Um dia há muito tempo, vi-os partirlevando cada um do outro o porvirseguiram pla estrada foraum voltou-se pra trás, disse adeus que me vou emboravoltaremos trazendo connosco a vitória

De que vitória falas, disse eu entãoda que faz um escravo do teu irmão?ou duma outra que rebentacomo um rio de fúria no peito feito tormentaquando não há nada a perder no que se tenta?

Passaram muitos anos sem mais sabernem por onde paravam, nem se por tercriado os dois no mesmo chãoeram ainda irmãos, partilhavam ainda o pãoe o silêncio enchia de morte o meu coração

Depois vieram novas que o que viviada miséria do outro, se enriquecianão foi pra isto que andeidias que foram longos e noites que não conteia lutar pra ter a justiça como lei

Às vezes rogo pragas de os ver assimsinto assim uma faca dentro de mimsei que estou velha e doentemas para ver o mundo girar dum modo diferente’inda sei gritar, e arreganhar o dente

Estou quase a ir embora, mas deixo aquiduas palavras pra um filho que perdinão quero dar-te conselhosmas s’é o teu próprio irmão que te faz viver de joelhosdoa a quem doer, faz o que tens a fazer

Luís Miguel Alçada

0In: “Sobreviventes”; 1971 / “Margem de certa maneira”;

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Page 16: baladas, Adriano, Freire, Mário Branco

Cantiga do fogo e da guerra

Música: José Mário Branco; Letra: Sérgio Godinho; Intér-prete: José Mário Branco;

Há um fogo enorme no jardim da guerraE os homens semeiam fagulhas na terraOs homens passeiam co’os pés no carvãoque os Deuses acendem luzindo um tição

Pra apagar o fogo vêm embaixadorestrazendo no peito água e extintoresExtinguem as vidas dos que caiem na redee dão água aos mortos que já não têm sede

Ao circo da guerra chegam piromagosabrem grande a boca quando são bem pagossoltam labaredas pela boca cariadafogo que não arde nem queima nem nada

Senhores importantes fazem piqueniqueschurrascam o frango no ardor dos despiquesEngolem sangria dos sangues fanadosE enxugam os beiços na pele dos queimados

É guerra de trapos no pulmão que cessado óleo cansado que arde depressaOs homens maciços cavam-se por dentroe o fogo penetra, vai directo ao centro

Victor Almeida

0In: José Mário Branco, “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”;

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Quatro quadras soltas

Letra e música: Sérgio Godinho;

Eu vi quatro quadras soltasÀ solta lá numa herdadeamarrei-as com uma cordae carreguei-as p’rá cidade

Cheguei com elas a um largoe logo ao largo se puseramforam ter com a famíliae com os amigos que ainda o eram

Viram fados, viram virasviram canções de revoltae encontraram bons amigosem mais que uma quadra solta

Uma viu um livro chamado’Este livro que vos deixo’e reviu velhas amizadeseram quadras do Aleixo

[Adriano:]O i o ai, há já menos quem se encolhao i o ai, muita gente fala e cantao i o ai, já se vai soltando a rolhaque nos tapava a garganta

Ora bem tinha marcadoencontro com as quadras soltaspois sim, fiquei penduradocomo um tolo ali às voltas

Chegou uma e disse: Andeia cumprimentar parentese eu aqui a enxotar moscasvocês são mesmo indecentes

Respondeu-me: ó patrãozinhodesculpe lá esta secaestive a beber um copinhocom uma quadra do Zeca

[e é o próprio sôr Zeca Afonso que vai cantar aqui]O i o ai, disse-me um dia um carecao i o ai, quando uma cobra tem sedeo i o ai, corta-lhe logo a cabeçaencosta-a bem à parede

0In: “Campolide”, 79;

53

Page 17: baladas, Adriano, Freire, Mário Branco

Do meu exacto tamanho

52

Cantiga para pedir dois tostões

Música: José Mário Branco; Letra: Sérgio Godinho; Intér-prete: José Mário Branco;

Nos carrisvão dois comboios paradosfoste longe e regressastetrazes fatos bem cuidadosE já pensasem dourar o teu portãose és senhor de dez ou vinteés criado de um milhãoRegressasteCom um dedo em cada anele projectos num papele amigos esquecidosTempos idossão tempos que voltarãoem que pedirás ao chãoos banquetes prometidos

Milionário que voltastedois tostões p’rós que atraiçoaste

Fazes pontessobre rios e valadosmas quando o cimento secajá morremos afogadosFazes fontesno silêncio das aldeiase a sede é tal que bebemosaté ter água nas veiasInstituísteguarda-sóis e manda-chuvaslambe-botas, beija-luvaspedras-moles e águas-durasinaugurasmonumentos ao passadoque está morto e enterradoentre naus e armaduras

Milionário que voltastedois tostões p’rós que atraiçoaste

Quanto a nósnós cantores da palideznosso canto nunca fezfilhos sãos a uma mulher

0In: José Mário Branco “Muda-se os tempos, mudam-se as vontades”;

17

Page 18: baladas, Adriano, Freire, Mário Branco

Nem sequerpassa mel nos nossos ramospois a abelha que cantamosserá mosca até morrer

Milionário que voltastedois tostões p’rós que atraiçoaste

Victor Almeida

18

Quando eu for grande (carta aos meusnetos)

Música: José Mário Branco; Letra: Manuela de Freitas;

Quando eu for grande quero serUm bichinho pequeninoP’ra me poder aquecerNa mão de qualquer menino

Quando eu for grande quero serMais pequeno que uma nozP’ra tudo o que eu sou caberNa mão de qualquer de vós

Quando eu for grande quero serUma laje de granitoTudo em mim se pode erguerQuando me pisam não grito

Quando eu for grande quero serUma pedra do asfaltoO que lá estou a fazerSó se nota quando falto

Quando eu for grande quero serPonte de uma a outra margemPara unir sem escolherE servir só de passagem

Quando eu for grande quero serComo o rio dessa ponteNunca parar de correrSem nunca esquecer a fonte

Quando eu for grande quero serUm bichinho pequeninoQuando eu for grande quero serMais pequeno que uma noz

Quando eu for grande quero serUma laje de granitoQuando eu for grande quero serUma pedra do asfalto

Quando eu for grande...Quando eu for grande...

Quando eu for grande quero terO tamanho que não tenhoP’ra nunca deixar de ser

0In: José Mário Branco: “Correspondências”, 1991;

51

Page 19: baladas, Adriano, Freire, Mário Branco

Porque

Música: Francisco Fanhais(?); Letra: Sofia de Melo Breyner;Intérprete: Francisco Fanhais, Adriano Correia de Oliveira(?);

Porque os outros se mascaram mas tu nãoPorque os outros usam a virtudePara comprar o que não tem perdãoPorque os outros têm medo mas tu não

Porque os outros são os túmulos caiadosOnde germina calada a podridão.Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendemE os seus gestos dão sempre dividendo.Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigosE tu vais de mãos dadas com os perigos.Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia de Mello Breyner

50

Capa negra, rosa negra

Música: António Portugal, Adriano Correia de Oliveira; Le-tra: Manuel Alegre; Intérprete: Adriano Correia de Oliveira;(fado de Coimbra)

Capa negra, rosa negraRosa negra sem roseiraAbre-te bem nos meus ombrosComo o vento numa bandeira.

Abre-te bem nos meus ombrosVira costas à saudadeCapa negra, rosa negraBandeira de liberdade.

Eu sou livre como as avesE passo a vida a cantarCoração que nasceu livreNão se pode acorrentar.

Fernando Carvalho

19

Page 20: baladas, Adriano, Freire, Mário Branco

Capotes brancos, capotes negros

Letra e música: José Mário Branco;

Capote preto, capote brancoQuem dá o flancoNunca se defende bem

Capote branco, capote pretoO Xico-espertoUsa a cor que lhe convém

Em tempos que já lá vãoVinham uns homens de mãoA soldo da reacçãoArmar brigas e banzéJunto ao Palácio de Sebastião JoséMas o Pombal, sabidoEstava prevenidoE tinha preparadoO seu esquadrão privado

E não pisavam o riscoNo Bairro Alto os brigões de S FranciscoEnquanto o povo assistiaÀs contradições que haviaNo seio da fidalguiaVinha a bófia endireitarO Bairro Alto que ela andava a entortarOs reaccionários, de um ladoCapote preto, cruzadoDo outro lado, os brancosQue os punham logo a fancosE não sei porque razãoQuem se lixava era sempre o mexilhão

Victor Almeida

0In: “José Mário Branco ao vivo”, 1997;

20

Versos destinados à página literária de “Voz de Moçambique”. Amúsica peca por manifesta ausência de identificação com os espíritodos ritmos e temas africanos.

49

Page 21: baladas, Adriano, Freire, Mário Branco

Por Aquele Caminho

Letra e música: Zeca Afonso; Intérprete: Adriano Correia deOliveira;

Por aquele caminhoDe alegria escravaVai um caminheiroCom sol nas espáduas

Ganha o seu sustentoDe plantar o milhoAquece-o a chamaDe um poder antigo

Leva o solitárioSob os pés marcadoUm rasto de sangueDe sangue lavado

Levanta-se o ventoLevanta-se a mágoaSoltam-se as esporasDe uma antiga chaga

Mas tudo no rostoDe negro nascidoIndica que o negroÉ um espectro vivo

Quem lhe dá guaridaMostra-lhe a pinturaDuma cor que valhaPara a sepultura

Não de mão beijadaPara que não vivaNele toda a raivaDessa dor antiga

Falta ao caminheiroDentro da algibeiraUm grão de sementeDe outra sementeira

O sol vem primeiroGrande como um sinoPensa o caminheiroQue já foi menino

Fernando Pais

Comentário do autor in “Cantares” - Lourenço Marques 1956.

48

Casa comigo Marta

Música: José Mário Branco; Letra: Sérgio Godinho;

Chamava-se ela MartaEle Doutor Dom GasparEla pobre e gaiataEle rico e tutelarGaspar tinha por Marta uma paixão sem parMas Marta estava farta mais que farta de o aturar- Casa comigo MartaQue estou morto por casar- Casar contigo, não maganãoNão te metas comigo, deixa-me da mão

Casa comigo MartaTenho roupa a passajarTenho talheres de prataQue estão todos por lavarTenho um faisão no forno e não sei cozinharCamisas, camisolas, lenços, fatos por passar- Casa comigo MartaTenho roupa a passajar- Casar contigo, não maganãoNão te metas comigo deixa-me da mão

Casa comigo MartaTenho acções e rendimentosTenho uma cama largaNum dos meus apartamentosTenho ouro na Suíça e padrinhos aos centosEmpresto e hipoteco e transacciono investimentos- Casa comigo MartaTenho acções e rendimentos- Casar contigo, não maganãoNão te metas comigo deixa-me da mão

Casa comigo MartaTenho rédeas p’ra mandarTenho gente que trataDe me fazer respeitarTenho meios de sobra p’ra te nomearRainha dos pacóvios de aquém e além mar- Casas comigo MartaQue eu obrigo-te a casar- Casar contigo, não maganãoSó me levas contigo dentro de um caixão

Victor Almeida

0In: José Mário Branco “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”;

21

Page 22: baladas, Adriano, Freire, Mário Branco

E alegre se fez triste

Música: José Niza; Letra: Manuel Alegre; Intérprete: Adri-ano Correia de Oliveira;

Aquela clara madrugada queViu lágrimas correrem no teu rostoE alegre se fez triste como sechovesse de repente em pleno Agosto

Ela só viu meus dedos nos teus dedosMeu nome no teu nome e demoradosViu nossos olhos juntos nos segredosQue em silêncio dissemos separados

A clara madrugada em que partiSó ela viu teu rosto olhando a estradaPor onde o automóvel se afastava

E viu que a pátria estava toda em tiE ouviu dizer adeus essa palavraQue fez tão triste a clara madrugadaQue fez tão triste a clara madrugada

Fernando Pais

22

do sonho, esse, fui eu.

O meu sabor é diferente.Provo-me e saibo-me a sal.Não se nasce impunementenas praias de Portugal.

Versos de Segunda, Luís Nunes

F Eb

3

Dm Bb A

C

47

Page 23: baladas, Adriano, Freire, Mário Branco

Poema da malta das naus

Música: Manuel Freire; Letra: António Gedeão;

LanF

cei ao mar um maC

deiro,

espeBb

tei-lhe um pau e um lenF

çol.

Com palA

pite marinheiroDm

medi aBb

altura do Sol.A

Deu-me o vento de feição,levou-me ao cabo do mundo.pelote de vagabundo,rebotalho de gibão.

DormiBb

no dorso dasDm

vagas,

pasmeiBb

na orla das praiasDm

arEb

reneguei, roguei praDm

gas,

mordiEb

peloirosA

e zagaias.Dm

Chamusquei o pêlo hirsuto,tive o corpo em chagas vivas,estalaram-me a gengivas,apodreci de escorbuto.

Com a mão esquerda benzi-me,com a direita esganei.Mil vezes no chão, bati-me,outras mil me levantei.

Meu riso de dentes podresecoou nas sete partidas.Fundei cidades e vidas,rompi as arcas e os odres.

Tremi no escuro da selva,alambique de suores.Estendi na areia e na relvamulheres de todas as cores.

Moldei as chaves do mundoa que outros chamaram seu,mas quem mergulhou no fundo

0In: “Fala do Homem nascido”, 72; In: “Teatro do Mundo”, 1958;

46

Eh! Companheiro

Música: José Mário Branco; Letra: Sérgio Godinho;

Eh! Companheiro aqui estouaqui estou pra te falarEstas paredes me tolhemos passos que quero daruma e feita de granitonão se pode rebentaroutra de vidro rachadop’ras duas pernas cortar

Eh! Companheiro respostaresposta te quero darSó tem medo desses murosquem tem muros no pensartodos sabemos do pássarocá dentro a qu’rer voarse o pensamento for livretodos vamos libertar

Eh! Companheiro eu faloeu falo do coraçãoJá me acostumei à cordesta negra solidãojá o preto que vai bemjá o branco ainda nãonão sei quando vem o ventopra me levar de avião

Eh! Companheiro respondorespondo do coraçãoser sozinho não é sinanem de rato de porãofaz também soprar o ventonão esperes o tufãopõe sementes do teu peitonos bolsos do teu irmão

Eh! Companheiro vou falarvou falar do meu parecerVira o vento muda a sortetoda a vida ouvi dizersoprou muita ventanianão vi a sorte crescermeu destino e sempre o mesmodesde moço até morrer

Eh! Companheiro aqui estou

0In: “Margem de Certa Maneira”, 1982;

23

Page 24: baladas, Adriano, Freire, Mário Branco

aqui estou p’ra responderSorte assim não cresce a toacomo urtiga por colhercresce nas vinhas do povoleva tempo a amadur’cerquando mudar seu destinoestá ao alcance de um viver

Eh! Companheiro aqui estouaqui estou pra te falarDe toda a parte me chamamnão sei p’ra onde me viraruns que trazem fechaduracom portas para espreitaroutros que em nome da paznão me deixam nem olhar

Eh! Companheiro respostaresposta te quero darPortas assim foram feitasp’ra se abrir de par em parnão confundas duas coisascada paz em seu lugarpela paz que nos recusammuito temos de lutar.

Victor Almeida

24

Pequenos deuses caseiros

Música: Manuel Freire; Letra: Sidónio Muralha; Intérprete:Manuel Freire;

Pequenos deuses caseirosque brincais aos temporais,passam-se os dias, semanas,os meses e os anose vós jogais, jogaiso jogo dos tiranos.o jogo dos tiranos.o jogo dos tiranos.

Pequenos deuses caseiroscantai cantigas maciastomai vossa morfina,perdulai vossos dinheirosderramai a vossa raivagozai vossas tiranias,pequenos deuses caseiros.pequenos deuses caseiros.

Erguei vossos casteloselegei vossos senhoresespancai vossos criados,violai vossas criadas,e bebei,o vinho dos traidoresservido em taças roubadasservido em taças roubadas

Dormi em colchões de pena,dançai dias inteiros,comprai os que se vendem,alteai vossas janelas,e trancai as vossas portas,pequenos deuses caseiros,e reforçai, reforçai as sentinelas.e reforçai, reforçai as sentinelas.e reforçai, reforçai as sentinelas.e reforçai, reforçai as sentinelas.

(esta música esteve proibida de ser tocada pela censura)

0In: “Pedra filosofal”, 1993;

45

Page 25: baladas, Adriano, Freire, Mário Branco

Pensamento

Música: Adriano Correia de Oliveira, António Portugal; Le-tra: Manuel Alegre;

[Refrão:]Meu pensamentopartiu no ventopodem prendê-lomatá-lo não

Meu pensamentoquebrou amarraspartiu no ventodeixou guitarrasmeu pensamentopor onde passaestátua de ventoem cada praça

[Refrão]

Foi à onquistade um novo mundofoi vagabundocontrbandistafoi marinheiromaltês ganhãofoi prisioneiromas servo não

[Refrão]

E os reis mandaramfazer muralhastecer as malhasde negras leishomens morreramestátuas ao ventopor ti morrerammeu pensamento

Fernando Pais

44

Ei-los que partem

Letra e música: Manuel Freire; Intérprete: Manuel Freire;

Ei-los que partemnovos e velhosbuscando a sortenoutras paragensnoutras aragensentre outros povosei-los que partemvelhos e novos

Ei-los que partemde olhos molhadoscoração tristee a saca às costasesperança em ristesonhos douradosei-los que partemde olhos molhados

Virão um diaricos ou nãocontando históriasde lá de longeonde o suorse fez em pãovirão um diaou não

jj, prh (Escrito de memória - quem me corrige esta letra?)

25

Page 26: baladas, Adriano, Freire, Mário Branco

Emigração (Quando no silêncio das noi-tes de luar)

Música: José Niza; Letra: Curros Henriquez; Intérprete:Adriano Correia de Oliveira;

Quando no silêncio das noites de luaria uma estrela pelos céus a correrdizia minha mãe de mãos erguidas [bis]Deus te salve por bem [bis]

Desde então quando vejo que um homemdeixa a terra onde infeliz nasceue fortuna busca noutras praias digo [bis]que te leve Deus também [bis]

Não o acuso coitado não o acusonem lhe rogo pragas nem castigosnem de que é dono de escolher, me esqueço [bis]o que lhe convier [bis]

Porque quem deixa o seu país natale fora dos seus caminhos põe os pése se troca o certo pelo incerto [bis]motivos há-de ter [bis]

Fernando Pais

26

Pedro Só

Música: Manuel Jorge Veloso; Letra: Fernando Assis Pa-checo; Intérprete: Manuel Freire;

Em

Passaram anos eD

anos

sobreC

esta roda daEm

vida,D

farinha que foiEm

moída,C

vai-se a ver, são desenh7

ganos

Atou-me a sorte este nó,cobriu-me com estes panos.

AoEm

peso dos meus enD

ganosh7

sai a farinha daEm

mó.

Na palma da mão estendidaleio um caminho de pólembranças do homem sóSão as andanças da vida

Foram dias, foram anos,foi uma sorte moída,vida que tenho vivida,(vai-se a ver são desenganos)[bis]

Foram dias, foram anos,for a sorte apodrecida.Dentro da roda da vidasinto roer os fusanos

Lembranças da minha vidaperdem-se em nuvens de pó.Bem me chamam Pedro Só,(nome de roda partida)[bis]

jj (música do filme “Pedro Só” de Alfredo Tropa 1970)

h7 Em C D

43

Page 27: baladas, Adriano, Freire, Mário Branco

passarola voadorapára-raios, locomotivabarco de proa festivaalto-forno, geradora

cisão do átomo, radarultra-som, televisãodesembarque em foguetãona superfície lunar

Eles não sabem nem sonhamque o sonho comanda a vidae que sempre que o homem sonhao mundo pula e avançacomo bola coloridaentre as mãos duma criança

jj , Fernando Faria, José Martins

G A F#7 Em A7

D

42

Erguem-se muros

Música: Adriano Correia de Oliveira; Letra: António Fer-reira Guedes;

Erguem-se muros em voltado corpo quando nos damosamor semeia a revoltaque nesse instante calamos

Semeia a revolta e o diacobrir-se-á de navios (bis)há que fazer-nos ao marantes que sequem os rios

Secos os rios a noitetem os caminhos fechados (bis)Há que fazer-nos ao marou ficaremos cercados

Amor semeia a revoltaantes que sequem os rios...

Fernando Pais

27

Page 28: baladas, Adriano, Freire, Mário Branco

Eu vim de longe

Letra e música: José Mário Branco;

Quando o avião aqui chegouquando o mês de Maio começoueu olhei para tientão entendifoi um sonho mau que já passoufoi um mau bocado que acabou

Tinha esta viola numa mãouma flor vermelha n’outra mãotinha um grande amormarcado pela dore quando a fronteira me abraçoufoi esta bagagem que encontrou

Eu vim de longede muito longeo que eu andei p’ra’qui chegarEu vou p’ra longep’ra muito longeonde nos vamos encontrarcom o que temos p’ra nos dar

E então olhei à minha voltavi tanta esperança andar à soltaque não exiteie os hinos canteiforam feitos do meu coraçãofeitos de alegria e de paixão

Quando a nossa festa s’estragoue o mês de Novembro se vingoueu olhei p’ra tie então entendifoi um sonho lindo que acabouhouve aqui alguém que se enganou

Tinha esta viola numa mãocoisas começadas noutra mãotinha um grande amormarcado pela dore quando a espingarda se viroufoi p’ra esta força que apontou

A. Guimarães

28

Pedra filosofal

Música: Manuel Freire; Letra: António Gedeão; Intérprete:Manuel Freire;

(A)

Eles não sabem que oD

sonho

é uma constante daF#7

vida

tão concreta e definidaG

como outra coisa qualquerA

como esta pedra cinzentaem que me sento e descansocomo este ribeiro mansoem serenos sobressaltos

como estes pinheiros altosque em verde e oiro se agitamcomo estas árvores que gritamem bebedeiras de azul

eles não sabem que sonhoé vinho, é espuma, é fermentobichinho alacre e sedentode focinho pontiagudo

que fuça através de tudoEm A7

no perpétuo movimentoD

Eles não sabem que o sonhoé tela é cor é pincelbase, fuste ou capitelarco em ogiva, vitral

Pináculo de catedralcontraponto, sinfoniamáscara grega, magiaque é retorta de alquimista

mapa do mundo distanteRosa dos Ventos Infantecaravela quinhentistaque é cabo da Boa-Esperança

Ouro, canela, marfimflorete de espadachimbastidor, passo de dançaColumbina e Arlequim

41

Page 29: baladas, Adriano, Freire, Mário Branco

Pátria

Música: António Portugal; Letra: António Ferreira Guedes;Intérprete: Adriano Correia de Oliveira; (fado de Coimbra)

A minha boca é um cravona tua boca desfeitooutro cravo é o coraçãodesfolhado no teu peito

O coração só desfolhase lhe apodrece a raiztriste destino o destinoda gente do meu país

A minha boca é um cravona tua boca desfeitonascem cravos murcham cravosdesfolhados no teu peito

Fernando Pais

40

Fado da tristeza

Letra e música: José Mário Branco;

Não cantes alegrias a fingirSe alguma dor existirA roer dentro da tocaDeixa a tristeza sairPois só se aprende a sorrirCom a verdade na boca

Quem canta uma alegria que não temNão conta nada a ninguémFala verdade a mentirCada alegria que inventasMata a verdade que tentasPois e tentar a fingir

Não cantes alegrias de encomendaQue a vida não se remendaCom morte que não morreuCanta da cabeça aos pésCanta com aquilo que ésSó podes dar o que é teu

Victor Almeida (o fado mais bonito que eu já ouvi)

0In: “Ser Solidário”, 82;

29

Page 30: baladas, Adriano, Freire, Mário Branco

Fala do Velho do Restelo ao astronauta

Música: Manuel Freire; Letra: José Saramago; Intérprete:Manuel Freire;

Aqui, na Terra, a fome continua,A miséria, o luto, e outra vez a fome.

Acendemos cigarros em fogos de napalmeE dizemos amor sem saber o que seja.Mas fizemos de ti a prova da riqueza,Ou talvez da pobreza, e da fome outra vez.E pusemos em ti nem eu sei que desejoDe mais alto que nós, e melhor e mais puro.

No jornal soletramos, de olhos tensos,Maravilhas de espaço e de vertigem:Salgados oceanos que circundamIlhas mortas de sede, onde não chove.

Mas o mundo, astronauta, é boa mesa(E as bombas de napalme são brinquedos),Onde come, brincando, só a fome,Só a fome, astronauta, só a fome,

Versos de Segunda

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Sem glória nem dinheiroNum lençol amortalhado

Onde vais ó caminheiroCom o teu passo apressadoEra príncipe ou sendeiroSebastião o desejadoVou ao cais do terreiroVer o rei Sebastião primeiroNum lençol amortalhadoEra príncipe herdeiroNevoeiroO príncipe agoireiroo príncipe mal esperado

Onde vais ó caminheiroCom o teu passo apressadoPorque paras caminheiroSe é Sebastião finadoVoltou no seu veleiroNo nevoeiroSem leme nem gageiroNum lençol amortalhadoVou ao cais do terreiro,Nevoeiro,Pra ficar bem certeiroDe que é morto e enterrado

jj (Esta música tem uma excelente cadência para caminhadas)

39

Page 31: baladas, Adriano, Freire, Mário Branco

Onde vais ó caminheiro

Letra e música: José Mário Branco (?);

Onde vais ó caminheiroCom o teu passo apressadoOnde vais ó caminheiroCom o teu passo apressadoVou ao cais do terreiroVer o rei Sebastião primeiroNum lençol amortalhadoVoltou no seu veleiroNo nevoeiroSem leme nem gageiroE com o casco arrebentado

Onde vais ó caminheiroCom o teu passo apressadoCom teus olhos em braseiroE teu rosto afogueadoVou ao cais do terreiroVer o rei Sebastião primeiroPor alcunha a desejadoVoltou no seu veleiroNo nevoeiroSem leme nem gageiroNum lençol amortalhado

Onde vais ó caminheiroCom o teu passo apressadoPorque levas caminheirotanta pressa no cajadoVou ao cais do terreiroVer o rei Sebastião primeiroNum lençol amortalhadoVoltou no seu veleiroNo nevoeiroEsperado primeiroE depois desesperado

Onde vais ó caminheiroCom o teu passo apressadoQue traz ó caminheiroEsse príncipe encantadoVou ao cais do terreiroVer o rei Sebastião primeiroÀ tanto tempo esperadoVoltou no seu veleiroNo nevoeiro

0In: Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades; 1971;

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Lágrima de preta

Música: José Niza; Letra: António Gedeão; Intérprete: Ma-nuel Freire;

Encontrei uma pretaque estava a chorarpedi-lhe uma lágrimapara a analisar

Recolhi a lágrimacom todo o cuidadonum tubo de ensaiobem esterilizado

Olhei-a de um ladodo outro e de frentetinha um ar de gotamuito transparente

Mandei vir os ácidosas bases e os saisas drogas usadasem casos que tais

Ensaiei a frioexperimentei ao lumede todas as vezesdeu-me o qu’é costume

Nem sinais de negronem vestígios de ódioágua (quase tudo)e cloreto de sódio

jj

31

Page 32: baladas, Adriano, Freire, Mário Branco

Lira

Letra e música: popular: Açores; Intérprete: Adriano Cor-reia de Oliveira; (balada açoreana)

Morte que mataste Lira,A E7

Morte que mataste Lira,A

Morte que mataste Lira,A7 D Bm

Mata-me a mim, que sou teu!

Morte que mataste liraMata-me a mim que sou teuMata-me com os mesmos ferrosCom que a lira morreu

A lira por ser ingrataTiranamente morreuA morte a mim não me mataFirme e constante sou eu

Veio um pastor lá da serraÀ minha porta bateuVeio me dar por notíciaQue a minha lira morreu

jj, Fernando Faria

A E7 A7 D Bm

32

(É entrar,...)

Na travessa dos defuntoscharlatões e charlatonasdiscutem dos seus assuntosrepartem-s’em quatro zonasinstalados em poltronas

Pr’á rua saem toupeirasentra o frio nos buracosdorme a gente nas soleirasdas casas feitas em cacosem troca d’alguns patacos

(É entrar,...)

Entre a rua e o paísvai o passo dum anãovai o rei que ninguém quisvai o tiro dum canhãoe o trono é do charlatão

(É entrar,...)

É entrar, senhoriasÉ entrar, senhoriasÉ entrar, senho...

Luís Miguel Alçada;Artur Miguel Dias

G7 F G Dm Am

C

37

Page 33: baladas, Adriano, Freire, Mário Branco

O charlatão

Música: José Mário Branco; Letra: Sérgio Godinho;

G C G C F C F G G C G Am F G7 C

NumaC

rua deF

máC

famaG

faz neC

gócio umF

charlaC

tão

vendeF

perfuG

mes deC

lamaAm

anéisDm

d’ouro aG7

um tosC

tãoAm

enriDm

quece oG7

charlaC

tão

G C G C

No beco mal afamadoas mulheres não têm maridoum está preso, outro é soldadoum está morto e outro f’ridoe outro em França anda perdido

G

É enC

trar,G

senhoC

rias

aF

ver o queC

cá seG

lavraC

seteG

ratos,C

três enF

guias

umaF

cabra aC

bracaG

dabra

C G Am F G C

Na ruela de má famao charlatão vive à largachegam-lhe toda a semanaem camionetas de cargarezas doces, paga amarga

No beco dos mal-fadadosos catraios passam fometêm os dentes enterradosno pão que ninguém mais comeos catraios passam fome

0In: “Sobreviventes”, 1971 ; “Mudam-se os tempos, mudam-se as vonta-des”;

36

Livre (não há machado que corte)

Música: Manuel Freire; Letra: Carlos Oliveira; Intérprete:Manuel Freire;

(Não há machado que cortea raíz ao pensamento) [bis](não há morte para o ventonão há morte) [bis]

Se ao morrer o coraçãomorresse a luz que lhe é queridasem razão seria a vidasem razão

Nada apaga a luz que vivenum amor num pensamentoporque é livre como o ventoporque é livre

33

Page 34: baladas, Adriano, Freire, Mário Branco

Menina bexigosa

Música: Manuel Freire; Letra: Sidónio Muralha; Intérprete:Manuel Freire;

A menina bexigosa viu-se ao espelhosoltou-se do vestido e viu-se nuaestá agora vestida de vermelho,inerte, no passeio da rua

Antes fora alegria e alvoroçomas num baile ninguém a foi buscarmorreu o sonho no seu corpo moçopassou a noite a chorar

Tanto chorou que lhe chamaram loucacada qual lhe levava o seu conselhomas ninguém ninguém ninguém lhe beijou a bocae a menina bexigosa viu-se ao espelho

Depois, fecharam a janelavieram os vizinhos: ’Pobre mãe...’vieram oa amigos: ’Pobre dela...’’era tão boa e simples tão honesta,... portava-se tão bem’E dão-lhe beijos na testabeijos correctos pois ninguém, ninguémsoube em vida matar a sua sede

’A menina bexigosa portava-se tão bem’O espelho continua na parede.

0In: “Pedra filosofal”, 1993;

34

Menina dos olhos tristes

Música: Zeca Afonso; Letra: Reinaldo Ferreira; Intérprete:Adriano Correia de Oliveira, Zeca Afonso;

Em

Menina dos olhos tristesD

o que tanto a fazEm

chorarG

o soldadinho nãoAm

voltah7

do outro lado doEm

marEm h7 Em

Vamos senhor pensativoolhe o cachimbo a apagaro soldadinho não voltado outro lado do mar

Senhora de olhos cansadosporque a fatiga o tearo soldadinho não voltado outro lado do mar

Anda bem triste um amigouma carta o fez choraro soldadinho não voltado outro lado do mar

A lua que é viajanteé que nos pode informaro soldadinho já voltaestá mesmo quase a chegar

Vem numa caixa de pinhodo outro lado do mardesta vez o soldadinhonunca mais se faz ao mar

jj(fev.96)

G h7 Em Am D

Nota - Zeca Afonso: “Menina dos Olhos Tristes” Single Orfeu STAT-803 1969 Zeca Afonso: “De Capa e Batina” CD Movieplay JA-80001996

35