Banco Comunitário - 100 Perguntas Mais Frequentes

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1 Banco Comunitrio do Brasil

perguntas mais frequentesRealizao: Instituto Palmas Texto: Equipe Tcnica do Instituto Palmas Informaes: 55 85 3250-8279 [email protected] www.bancopalmas.org.br www.banquepalmas.fr Twitter: JoaquimBPalmas

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A presentaoEsta publicao compe o segundo caderno da srie Banco Palmas 10 anos. A primeira foi publicada em 2008 e diz respeito ao estudo de Avaliao e Impacto de 10 anos do Banco Palmas, realizado pela Universidade Federal do Ceara (UFC), atravs do Laboratrio Interdisciplinar de Estudos em Gesto Social (LIEGS). A estratgia aqui fazer um resumo das 100 perguntas mais freqentes nos 10 anos (agora j so 12) de existncia do Banco Palmas. Calcula-se que neste perodo mais de 1000 (mil) encontros pedaggicos foram realizados, em forma de cursos, oficinas e palestras. Fizemos ento, uma seleo das questes mais freqentes nestes momentos por entender ser essas as que mais despertam interesse no leitor, alm de consistir em uma rica fonte de informao sobre as prticas do Banco Palmas e dos bancos comunitrios. Nosso objetivo no levantar nenhum campo novo de teoria ou reflexo sobre o Banco Palmas (ou os bancos comunitrios), seno de descrever, de forma leve e agradvel, aquilo que j despertou curiosidade naqueles que participaram de algum encontro conosco. Por isso o formato de perguntas e respostas. Como em todos nossos escritos, buscamos uma linguagem popular, simples, direta, de fcil entendimento e compreenso para qualquer pessoa. Esta publicao no segue uma ordem cronolgica por temas nem tem uma seqncia pedaggica entre uma pergunta e outra. Elas esto (des)organizadas de forma aleatria. Do mesmo jeito que normalmente so formuladas numa plenria. Boa leitura.

Indice1- Quem criou o Banco Palmas e de onde veio a idia? 2- A idia do Banco Palmas foi inspirada no Grameen Bank do Muhammad Yunus? Teve algum economista que colaborou para a criao do Banco? 3- Qual o ponto de partida para criao do Banco Palmas? 4- A Violncia diminuiu no Conjunto Palmeira aps a ao do Banco Palmas? 5- Quais so as cinco maiores dificuldades do Banco Palmas? 6- Como se define um Banco Comunitrio? 7- Qual a inovao do modelo do Banco Palmas? 8- O Banco Central permite o funcionamento da moeda social? 9- Como foram os seis primeiros meses do Banco Palmas? 10- De onde vieram os primeiros recursos para iniciar o Banco Palmas? 11- Quando comeou o Banco Palmas? 12- Os grupos produtivos apoiados pelo Banco Palmas conseguem concorrer com as grandes empresas? 13- Quais os empreendimentos financiados pelo Banco Palmas que mais cresceram? 14- Qual a maior frustrao nestes 10 anos de Banco Palmas? 15- Como funciona a moeda social Palmas? 16- Qual o objetivo maior da moeda Palmas? 17- Qualquer morador do bairro pode fazer o cmbio de Palmas por reais? 18- Como um morador tem acesso moeda Palmas? 19- Se todos os moradores j fizessem suas compras no prprio bairro, haveria necessidade de existir a moeda Palmas? 20- O diferencial do Banco Palmas para outras experincias de microcrdito a moeda social? 21- Porque a moeda Palmas produz riqueza? 22- Se o comerciante d descontos, o que ele ganha aceitando a moeda Palmas? 23- Quando um comerciante faz o cmbio de Palmas por Reais, paga alguma taxa? 24- Depois da criao da moeda Palmas, o carto de crdito Palmacard continua funcionando? 25- Por que o Banco Palmas permite a troca de Palmas (moeda solidria) por Reais (moeda capitalista)?

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26- Qual a inadimplncia e o que faz o Banco Palmas quando um cliente fica inadimplente? 27- Expor publicamente o nome do inadimplente no contra a lei? No fere o Cdigo de Defesa do Consumidor? 28- A Expanso dos Bancos Comunitrios pode oferecer risco para a metodologia? 29-Como feita a gesto do Banco Palmas? 30- Os funcionrios do Banco Palmas so todos da comunidade? 31- Qual a vantagem de ter uma equipe local na gesto do Banco Palmas? 32- Existe preocupao do Banco Palmas com a formao da equipe? 33- Como o Banco Palmas fez para a comunidade aderir ao projeto? 34- A comunidade toda aceita o Banco Palmas? 35- Os comerciantes no tm receio de aceitar a moeda social? 36- A comunidade aceitou com tranqilidade as regras do Banco Palmas? 37- O Banco Palmas inibiu as lutas da Associao de Moradores? 38- Qual a relao do Banco Palmas com a Associao de Moradores? 39- O Banco Palmas tem se preocupado em formar tcnicos para multiplicar a metodologia? 40- Qual a relao do Banco Palmas com o Instituto Palmas? 41- Como se d a relao do Instituto Palmas com o Banco Popular do Brasil (BPB)? 42- Como se d a relao entre os mais experientes e os mais jovens no Banco Palmas? 43- Como se organiza a rede do Banco Palmas? 44- Quais so as dificuldades na relao com o Banco Popular do Brasil? 45- Como o Banco Palmas tem conseguido recursos para crdito? Os Banco oficiais tem sido uma alternativa? 46- Existe perigo de um Banco Comunitrio cair em descrdito junto populao? 47- A experincia do Banco Palmas j foi implantada em outros locais? 48- Por que o Banco Palmas aderiu a idia do FIB? 49- Como funciona o Curso de Consultores Comunitrios? 50- O que a Rede de Bancos Comunitrios? 51- Quais so os juros praticados pelo Banco Palmas?

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52- Qual a diferena entre um Banco Comunitrio e uma cooperativa de crdito? 53- J foi realizada alguma pesquisa, estudo cientfico, sobre os resultados do Banco Palmas? 54- Qual a meta do Instituto Palmas para os prximos 10 anos? 55- O Banco Palmas divulga o nome dos tomadores de credito para a comunidade? 56- Como implantar a cultura da solidariedade em uma comunidade? 57- Como ocorre a interface entre a economia do local e a economia do ambiente externo? 58- Como os mercados locais intermedeiam as compras com seus fornecedores de fora do bairro, que no possuem o comprometimento social com os moradores? 59- De onde vem o lastro (em reais) para as moedas sociais? 60- O comrcio local, que adotou a moeda Palmas, tributado? 61- Existe alguma Prefeitura no Brasil que realiza pagamentos em moeda social? 62- O que o Sistema Palmas? 63- O que ser gestor de rede do Banco Popular do Brasil? 64- Qual a vantagem para o Instituto Palmas ser parceiro do Banco Popular do Brasil? 65- O que preciso para iniciar um Banco Comunitrio? 66- Quais so as etapas para criar um Banco Comunitrio? 67- Quantas pessoas trabalham no Banco Palmas? 68- No Banco Palmas, obrigatria a devoluo integral do crdito pelo tomador? 69- Existe um boleto bancrio? Como feito o pagamento dos crditos? 70- As empresas financiadas pelo Banco Palmas podem vender seus produtos fora do bairro? 71- As empresas apoiadas pelo Banco Palmas s podem vender seus produtos em moeda social Palmas? 72- As pessoas beneficiadas pelo Banco Palmas podem ter conta em outro banco? 73- Quantos scios existem no Banco Palmas e no Instituto Palmas? 74- Com tantos bancos, financeiras, lojas comerciais oferecendo crdito, ainda h necessidade do Banco Palmas? 75- Porque o Banco Palmas no trabalha com aval solidrio? 76- Quais as principais caractersticas da metodologia de crdito

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do Banco Palmas? 77- Todos os recursos para crdito do Banco Palmas vem do Banco Popular do Brasil? 78- Como o Banco Palmas controla e cobra a inadimplncia? 79- O Banco Palmas sustentvel? 80- Quais so os passos para uma pessoa tomar crdito no Banco Palmas? feita uma anlise? 81. Qaual a importncia da cultura para as estratgias do Banco Palmas? 82- O Banco Palmas ajuda na comercializao dos produtos do bairro? 83- J houve assalto ao Banco Palmas? Neste caso, existe algum seguro para cobrir o prejuzo? 84- Onde so fabricadas as moeda sociais do Sistema Palmas? 85- J houve falsificao de moeda social? 86- Existe perigo do Palmas se isolar em uma economia fechada? 87- Porque os Bancos Americanos esto quebrando e os Bancos Comunitrios esto crescendo mesmo diante da crise? 88- Qual o marco legal do Banco Palmas? 89- Quais so os desafios do Banco Palmas para os prximos 10 anos? 90- J teve algum Banco Comunitrio que no tenha dado certo, que tenha fechado? 91- O que o Instituto Palmas faz para implantar um Banco Comunitrio quando no existe nenhuma associao/grupo organizado na comunidade? 92- De que forma a populao participa do Banco Palmas? 93- Qual a relao do Banco Palmas com a economia solidria? 94- O que pode ser feito para aumentar a circulao da moeda palmas no Conjunto Palmeira? 95- O Banco Palmas o maior banco da rede de Bancos Comunitrios? 96- Os que vocs no fariam se fossem iniciar o Banco Palmas hoje? 97- Porque o Banco Palmas ainda utiliza um software proprietrio? 98- Para alm dos servios financeiros e bancrios, quais as outras aes que o Banco Palmas oferece a comunidade? 99- Quais so os nmeros do Banco Palmas? 100 Qual a importncia das parcerias e quais foram os parceiros do Banco Palmas nessa caminhada?

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1- Quem criou o Banco Palmas e de onde veio a idia? No teve um criador. Na poca eram cinco pessoas que estavam frente da Associao dos Moradores do Conjunto Palmeira. Foram estas pessoas que sistematizaram a criao do banco. O Conjunto Palmeira era uma grande favela. Durante 25 anos a Associao de Moradores organizou mutires comunitrios e urbanizou o bairro. Construiu um canal de drenagem, redes de esgoto, pavimentou as ruas, construiu praas, creches comunitrias e outros servios. Quando o bairro foi urbanizado (1997), a populao local no teve como pagar as taxas (gua, esgotamento sanitrio, energia eltrica, IPTU, e outras) e ento comeou a vender suas casas e ocupar outras favelas. Para tentar reverter essa situao, a Associao de Moradores tomou a iniciativa de criar um projeto que pudesse gerar trabalho e renda para os moradores, na prpria comunidade. Esse projeto foi o Banco Palmas. 2- A idia do Banco Palmas foi inspirada no Grameen Bank do Muhammad Yunus? Teve algum economista que colaborou para a criao do Banco? No. Todos eram lderes comunitrios, a maioria com ensino fundamental. A idia foi completamente endgena. Houve 96 reunies com produtores, comerciantes e moradores em geral para se definir como seria um projeto para gerao de trabalho e renda no Conjunto Palmeira. A base terica e filosfica veio das leituras que os lideres comunitrios tinham sobre a teologia da libertao (que prima pela organizao da comunidade enquanto portadora de soluo) e dos livros sobre cooperativismo de Paul Singer (princpios de cooperao). Na poca (1997) as idias e a literatura sobre o Yunus ainda eram poucas conhecidas no Brasil. 3- Qual o ponto de partida para criao do Banco Palmas? A pergunta que fazamos na poca era: porque ns somos pobres? Os moradores respondiam: somos pobres porque no temos dinheiro. Era to obvio que no podia ser verdade. Da ento fizemos o Mapa da Produo e do Consumo. Samos perguntando para as famlias o que elas consumiam e em que quantidade, qual a marca dos produtos e em que local realizavam suas compras. O resultado desse mapeamento nos mostrou que mensalmente os moradores consumiam em produtos, ou seja, gastavam com alimentao, vesturio, produtos de limpeza e de higiene e beleza, um total de R$ 1.200.000,00 (um milho e

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duzentos mil reais). O problema era que todas as compras eram feitas fora do bairro. Ento dissemos para os moradores: no somos pobres porque no temos dinheiro, e sim, porque perdemos nossa base monetria, ou seja, perdemos o dinheiro que temos. 4- A violncia diminuiu no Conjunto Palmeira aps a ao do Banco Palmas? Proporcionalmente sim. Antes o Conjunto Palmeira era o bairro mais violento de Fortaleza (dados de 1997). Hoje, ainda enfrentamos problemas de violncia (como em toda periferia urbana), mas a situao j est bem melhor. 5- Quais so as cinco maiores dificuldades do Banco Palmas? a) cultivar nos moradores a cultura da solidariedade e valorizao dos produtos locais; b) o difcil acesso a tecnologia por parte das empresas financiadas pelo banco, principalmente as pequenas indstrias; c) obter carteira de crdito a juros muito baixos (ou subsidiados) para atender a populao de baixa renda; d) profissionalizar a equipe principalmente nos elementos de gesto; e) a ausncia de polticas pblicas especficas e o reduzido apoio do governo. 6- Como se define um Banco Comunitrio? Banco Comunitrio um servio financeiro, solidrio, em rede, de natureza associativa e comunitria, voltado para reorganizao das economias locais, na perspectiva da gerao de trabalho e renda e da Economia Solidria. 7- Qual a inovao do modelo do Banco Palmas? a combinao de 04 produtos operando de forma integrada e simultnea no bairro: i) crdito para a produo, ii) crdito para o consumo (em moeda social), iii) correspondente bancrio, iv) e um forte controle social sobre as atividades do banco. 8- O Banco Central permite o funcionamento da moeda social? No inicio houve muita incompreenso. Chegamos a ser processados pelo Banco Central. Hoje o BC j se coloca como parceiro dos bancos comunitrios e apia as moedas sociais. Em 18 de novembro de 2009 foi assinado um termo de parceria

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entre o BC e o Ministrio do Trabalho (SENAES) para criar um marco regulatrio para o seguimento dos bancos comunitrios e das moedas sociais. 9- Como foram os seis primeiros meses do Banco Palmas? Sofrimento, incertezas e perseverana. Sem recursos para pagar os mnimos custos. Sem funding para crdito. Os comerciantes e produtores locais ainda inseguros para aderirem proposta. As instituies distantes. Foi necessria muita perseverana da equipe do banco (todos voluntrios) e um peregrinar sem fim para conquistar apoios. A Primeira adeso foi de apoiadores internacionais e da Fundao Municipal de Profissionalizao, Gerao e Emprego e Renda e Difuso Tecnolgica da Prefeitura de Fortaleza-PROFITEC (administrada poca pela hoje deputada estadual Rachel Marques). A PROFITEC financiou dois estagirios para trabalhar no banco e um curso de analista de crdito. 10- De onde vieram os primeiros recursos para iniciar o Banco Palmas? Vrias portas se fecharam. Fomos at o Prefeito e o Governador e no conseguimos nada. Naquela poca ningum acreditava na idia de um Banco Comunitrio. A Economia Solidria ainda era pouco conhecida no Brasil, sobretudo no nordeste. Conseguimos apenas R$ 2.000,00 (dois mil reais) emprestado de uma ONG local - Cearah Periferia. Em oito meses pagamos o emprstimo. 11- Quando comeou o Banco Palmas? O Banco Palmas foi inaugurado no dia 20 de janeiro de 1998, s 19h30min, na sede da Associao dos Moradores do Conjunto Palmeira. Uma festa bonita, muita gente, imprensa, glamour e um coquetel popular. Iniciamos disponibilizando um total de R$ 500,00 atravs de 20 cartes de crdito (palmacard) para estimular o consumo local e emprestamos o restante dos recursos, no valor de R$ 1.500,00 para cinco produtores e comerciantes locais. Todo o recurso do banco foi emprestado na solenidade de lanamento. No outro dia o banco amanheceu liso, quebrado! 12- Os grupos produtivos apoiados pelo Banco Palmas conseguem concorrer com as grandes empresas? Na produo (indstria) onde os pequenos empreendedores enfrentam a maior concorrncia com as grandes empresas. No setor de comrcio e de servios essa concorrncia bem menor.

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Os produtos industrializados das grandes corporaes chegam a preos muito baratos na periferia (sabonete, perfume, roupas, calados, material de limpeza, alimentos, e da por diante). No se encontra em um bairro pobre nenhum salo de beleza de uma empresa granfina, nem uma loja de grife famosa. No entanto, os produtos das grandes indstrias esto na prateleira dos mercadinhos e dos pequenos comrcios da periferia. no setor da produo que os empreendimentos de economia solidria principalmente os urbanos mais tm dificuldade de alcanarem sua sustentabilidade. 13- Quais os empreendimentos financiados pelo Banco Palmas que mais cresceram? Os empreendimentos do ramo do comrcio e dos servios. A concorrncia nestes setores bem menor que na produo. Alm do mais, do ponto de vista tecnolgico muito mais fcil comercializar ou prestar algum servio que produzir. Com a dificuldade de acesso s tecnologias existentes, os grupos produtivos tm muita dificuldade de se desenvolverem. No ramo da produo a empresa que mais se destaca a Palma Fashion. 14- Qual a maior frustrao nestes 12 anos de Banco Palmas? No diria frustrao, mas, desafio. Ns no avanamos do ponto de vista tecnolgico. As empresas financiadas pelo Banco Palmas continuam produzindo de forma artesanal. Sem avanar em tecnologia e inovao dificilmente essas empresas sobrevivero por muito tempo. 15- Como funciona a moeda social Palmas? A moeda indexada ao real (1 palmas vale 1 real) e lastreada na moeda nacional. Ou seja, a quantidade de Palmas que temos circulando corresponde a uma quantidade em de reais que temos guardado. 240 empreendimentos (produo, comrcios e servios) do bairro aceitam a moeda e do descontos de 5% a 10% para quem compra com a moeda local. Os empreendimentos cadastrados podem fazer o cmbio (a troca de palmas por reais), na sede do Banco Palmas, caso necessitem de moeda nacional para reabastecerem seus estoques. 16- Qual o objetivo maior da moeda Palmas? Fazer a riqueza circular no prprio bairro. Se um morador tem reais, nada assegura que ele ir gastar esses reais no Conjunto

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Palmeira. Mas se ele tem Palmas, certo que sim, pois o Palmas s aceito no bairro. Dessa forma um compra do outro e fica garantido que o dinheiro circule na comunidade, oxigenando o comrcio, aumentando as possibilidades de trabalho, emprego e renda na comunidade. 17- Qualquer morador do bairro pode fazer o cmbio de Palmas por reais? No. Um morador, nesse caso, considerado um consumidor. Somente os empreendimentos cadastrados podem trocar Palmas por reais. 18- Como um morador tem acesso moeda Palmas? De trs formas: i) fazendo um emprstimo em Palmas (sem juros); ii) recebendo salrios e outros pagamentos em Palmas; iii) trocando reais por Palmas direto no Banco Palmas. 19- Se todos os moradores j fizessem suas compras no prprio bairro, haveria necessidade de existir a moeda Palmas? Teoricamente no teria. Os Palmas so exatamente para estimular as pessoas a comprarem no bairro. Se todo mundo j priorizasse fazer suas compras no prprio bairro utilizando seus reais, no haveria razo para existir uma outra moeda. Contudo, difcil se ter a certeza de que os reais no vo fugir de uma hora para outra, reduzindo novamente a base monetria da comunidade. 20- O diferencial do Banco Palmas para outras experincias de microcrdito a moeda social? No somente. A maior diferena que o Banco Palmas reorganiza as economias do bairro, criando uma rede local de produtores e consumidores. Ou seja, estimula as pessoas a produzirem e consumirem na prpria comunidade, criando um circuito financeiro gerador de desenvolvimento local. 21- Porque a moeda Palmas produz riqueza? Porque ela cria uma poupana interna. Ela no permite que os recursos (o dinheiro) da comunidade migrem para outros territrios. Essa capacidade de gerar poupana (de deixar o dinheiro circulando na comunidade) que gera a riqueza.

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22- Se o comerciante d descontos, o que ele ganha aceitando a moeda Palmas? Ele fideliza o cliente. Quanto mais comerciantes no bairro aceitam a moeda Palmas, mas pessoas se interessam pela moeda. Quando o comerciante oferece um desconto para quem compra com Palmas, os moradores procuram a sede do banco Palmas para trocar Reais pela moeda Palmas. Quanto mais Palmas em circulao, mais compras acontecem no Conjunto Palmeira. Ou seja, a moeda Palmas aumenta o volume de compras no comrcio do bairro. 23- Quando um comerciante faz o cmbio de Palmas por Reais, paga alguma taxa? No. O cambio entre as moedas (Palmas x reais x Palmas) isento de qualquer tipo de taxa. 24- Depois da criao da moeda Palmas, o carto de crdito Palmacard continua funcionando? Continua. Mas, estamos aos poucos estimulando os moradores a trocarem o carto Palmacard pela moeda social. Os dois instrumentos estimulam o consumo local, com a vantagem da moeda social circular com muito mais velocidade que o carto. Quando algum faz uma compra com o Palmacard, assina uma fatura que fica 1 ms parada na gaveta do comerciante, at que ela receba o valor correspondente no Banco Palmas. Quando algum compra com a moeda Palmas, o comerciante pode, na mesma hora, repassar a mesma moeda pra outro morador. 25 - Por que o Banco Palmas permite a troca de Palmas (moeda solidria) por Reais (moeda capitalista)? O Cmbio entre as moedas permite que acontea mais circulao de Palmas. Muitos comerciantes precisam repor os seus estoques e compram insumos que s esto a venda fora do bairro. Se no for permitido a troca de Palmas por Reais estes empreendimentos no aceitariam a moeda do Bairro. Quanto mais Palmas circulam, mais aumenta a renda da comunidade. Quanto mais renda, mais empresas so abertas no bairro e menos dependncia do mercado l de fora. Ou seja, a relao entre as duas moedas fortalece a Rede de Economia Solidrio do Bairro.

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26- Qual a inadimplncia e o que faz o Banco Palmas quando um cliente fica inadimplente? Acima de 90 dias fica entre 1%. e 3%. uma inadimplncia muito baixa quando observado o pblico com o qual trabalhamos. Inadimplncia pra ser combatida e controlada. Melhor que nem existisse. No podemos ficar desesperados e querer esfolar a pessoa que ficou inadimplente. Cada caso um caso e precisa ser tratado desta forma, tendo a solidariedade como princpio. Primeiro tem que se separar quem est inadimplente porque no pode pagar daquele que no pagou porque teve m f com o Banco Comunitrio. No primeiro caso o banco solidrio, ajuda, assessora, negocia, se for preciso at empresta mais dinheiro. No segundo caso, utiliza o controle social e divulga o nome do cliente nos fruns e redes locais. Persistindo a inadimplncia negativamos o nome da pessoa no SPC e protestamos em cartrio. 27- Expor publicamente o nome do inadimplente no contra a lei? No fere o Cdigo de Defesa do Consumidor? Fere sim. Contudo, quando uma pessoa solicita um emprstimo no Banco Palmas ela informada e esclarecida de que o Banco Comunitrio trabalha com regras de controle social. Estas regras esto expressas no contrato que o cliente assina. A comunidade empresta o dinheiro e a comunidade cobra. Isso o que chamamos de uma outra sociabilidade. Mas, importante lembrar que somente aquelas pessoas que comprovadamente agem de m f com o banco, so expostas publicamente. 28- A Expanso dos Bancos Comunitrios pode oferecer risco para a metodologia? Pode. O Banco Palmas criou a metodologia dos Bancos Comunitrios, muitas instituies aprenderam a metodologia e esto reaplicando. Isso bom. O perigo est em perdermos os princpios, os valores, a originalidade da proposta. O Banco Comunitrio no apenas uma instituio de microfinanas. A expanso pode, aos poucos, por exemplo, ir prescindindo da participao ativa da comunidade e do controle social. A que mora o perigo. 29-Como feita a gesto do Banco Palmas? A gesto simples, feita pela prpria comunidade, atravs da Associao dos Moradores. Existe uma equipe de 06 pessoas

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que trabalham diretamente no banco e fazem a coordenao do mesmo. Foi criado um conjunto de ferramentas como planilhas, formulrios, fichas e controles que facilitam o processo de gesto do banco. Essas ferramentas so bastante simples para permitir que a prpria comunidade d conta de fazer a gesto sem grandes dificuldades. 30- Os funcionrios do Banco Palmas so todos da comunidade? A grande maioria sim (95%). Se um Banco Comunitrio tem a maioria de seus trabalhadores e trabalhadoras vindos de fora, dificulta a relao com a comunidade. 31- Qual a vantagem de ter uma equipe local na gesto do Banco Palmas? A grande vantagem que a equipe conhece a histria, a cultura, as pessoas da comunidade. Esta equipe veste a camisa e trabalha com paixo. Reduz os custos com transporte e alimentao e os salrios so menos exigentes. Ter uma equipe local, comprometida com o desenvolvimento do projeto e da comunidade, foi um dos principais motivos de sucesso do Banco Palmas. 32- Existe preocupao do Banco Palmas com a formao da equipe? Muita. Ns temos um cursinho pr-vestibular, aberto para qualquer morador do bairro, gratuito, que tambm freqentado por nossa equipe. Alm disso, o Banco Palmas tem um curso de formao de longa durao (600 horas/aula) chamado Consultores Comunitrios que capacita moradores do bairro nas ferramentas e na filosofia do Banco Palmas. A formao da equipe a curto, mdio e longo prazo fundamental para a sustentabilidade do Banco. 33- Como o Banco Palmas fez para a comunidade aderir ao projeto? J havia no Conjunto Palmeira um trabalho realizado pela Associao de Moradores de resgate da memria do bairro, registrando o nosso passado, as lutas para construir o bairro, as conquistas da comunidade. Esta memria fez com que as pessoas criassem identidade com o bairro. Quando o Banco Palmas foi criado mostramos, atravs de uma comunicao adequada (vdeos, cartilhas, cordis, fotonovelas, programas de

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rdio comunitria), como o projeto seria capaz de melhorar a vida das pessoas e da comunidade. 34- A comunidade toda aceita o Banco Palmas? No. O Conjunto Palmeira tem 32 mil habitantes. So pessoas de vrios lugares, que chegam e que partem. Tem gente que diz que no conhece o banco, ou pensa que uma enganao de lideranas comunitrias. O importante que muita gente acredita, participa e valoriza. 35- Os comerciantes no tm receio de aceitar a moeda social? No comeo foi bastante difcil porque todo mundo estava acostumado a trabalhar s com a moeda oficial (reais). Os comerciantes tinham medo de ter prejuzos. Receavam que a idia no fosse pra frente e que todo mundo deixasse, do dia para noite, de aceitar a moeda social e eles ficassem no prejuzo. A estratgia foi comear com poucos comerciantes e depois ir aumentando gradativamente o numero de adeses. 36- A comunidade aceitou com tranqilidade as regras do Banco Palmas? Foi preciso separar bem as coisas. No inicio a comunidade no entendia quando, por exemplo, negvamos um crdito para uma pessoa muito querida do bairro, justificando que ela no tinha condies de pagamento. A comunidade, por seu passado de lutas sociais, no aceitava essa postura, pois entendiam que o Banco Palmas devia ajudar quem sempre contribuiu com as conquistas do bairro. Demorou fazer a comunidade incorporar as exigncias de retorno econmico que o banco precisa ter. Com o tempo, e somente com o tempo, tudo vai ficando mais claro. 37- O Banco Palmas inibiu as lutas da Associao de Moradores? Ser um Banco Comunitrio fundamentalmente resgatar a historia da comunidade, ratificar suas lutas, dar seguimento a sua cultura, suas tradies e seu desenvolvimento. O passado, no para ser esquecido porque um novo desafio se apresenta. Ao mesmo tempo, preciso se libertar das amarras do que ramos e pensar em criar novas estratgias de lutas, novas prioridades, novas estruturas que dem conta dos novos desafios. preciso no ter medo das mudanas. No Conjunto Palmeira, em

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1997, a Associao de Moradores decidiu que a prioridade para os prximos 10 anos era a luta pelo desenvolvimento econmico do bairro. O Banco Palmas foi esse projeto pensado para gerar desenvolvimento econmico e social. Por isso ficou uma sensao de que as lutas da associao, as lutas comunitrias, ficaram em segundo plano. 38- Qual a relao do Banco Palmas com a Associao de Moradores? A Associao de Moradores do Conjunto Palmeira criou o Banco Palmas. O Banco Palmas se desenvolveu, sua gesto ficou complexa, as atividades financeiras e bancrias atualmente chegam a movimentar 10 milhes de reais por ano. H momentos em que precisamos mudar para que tudo continue como est. O momento chegou. Aos 12 anos de idade, o Banco Palmas entende que precisa ter uma gesto prpria, criar seu prprio CNPJ. Mudar, separar, para poder continuar eternamente irmanado a ASMOCONP e as lutas do bairro. 39- O Banco Palmas tem se preocupado em formar tcnicos para multiplicar a metodologia? Essa uma preocupao permanente. Estamos com um projeto em andamento para criao do Centro Palmas de Referncia, que ser um espao de capacitao e formao na metodologia de finanas solidrias, voltado para os Bancos Comunitrios. O objetivo do Centro de Referencia formar tcnicos para atuarem em todo o Brasil. Essa uma tarefa do Instituto Palmas. 40- Qual a relao do Banco Palmas com o Instituto Palmas? Em 2003 a ASMOCONP criou o Instituto Palmas (uma organizao da Sociedade Civil de Interesse Pblico - OSCIP), cuja funo fazer a difuso tecnolgica do Banco Palmas, ajudando a criar outros Bancos Comunitrios no Brasil (e em outros pases), integrando-os em rede. O Instituto Palmas serve como um guardachuva para os novos Bancos oferecendo crdito e correspondente bancrio. O Banco Palmas se relaciona com o Instituto Palmas do mesmo jeito que os outros Bancos Comunitrios: utilizando as linhas de crdito e o correspondente bancrio do Instituto.

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41- Como se d a relao do Instituto Palmas com o Banco Popular do Brasil (BPB)? O BPB (hoje integrado ao Banco do Brasil) disponibiliza uma carteira de crdito para o Instituto Palmas (valor de 1,5 milho de reais em agosto de 2009), atravs do Programa Nacional de Microcredito Produtivo Orientado PNMPO. Com esta carteira de crdito o Instituto Palmas garante funding para o Banco Palmas e vrios outros Bancos Comunitrios. Alm disso, o Instituto Palmas se tornou gestor de rede do BPB, o que possibilita instalar um ponto de atendimento do BPB em cada Banco Comunitrio criado. Usamos o software da tecnologia bancria do BB e conectamos todos os Bancos Comunitrios. Essa relao nos permite escala (atender um maior nmero de pessoas com servios financeiros) e facilita a expanso da rede de Bancos Comunitrios. 42- Como se d a relao entre os mais experientes e os mais jovens no Banco Palmas? Na equipe de trabalhadores e trabalhadoras /colaboradores/ voluntrios do Banco Palmas convivem 04 geraes (i) os fundadores da ASMOCONP (dcada de 80), (ii) pessoas que iniciaram sua militncia no processo de urbanizao do bairro (dcada de 90), (iii) a gerao que surgiu com o Banco Palmas (dcada de 2000), (iv) a gerao que foi capacitada pelo Banco Palmas. A gerao mais antiga, precursora, da poca de criao da Associao advoga mais liberdade e menos controle. As geraes mais focadas na gesto do banco percebem a necessidade de maior gerenciamento e controle administrativo. Esse um desafio que precisamos conviver com ele e saber gerenci-lo. O Banco Palmas no tem dono e fruto de varias anos de luta e organizao popular. Todas as geraes precisam se sentir confortveis e importantes. 43- Como se organiza a rede do Banco Palmas? A grande rede o bairro. A rede no do Banco Palmas. Criamos a rede de economia solidria do Conjunto Palmeira. Consideramos como integrante da rede os comerciantes, os produtores, os prestadores de servio, as organizaes comunitrias e os consumidores em geral. O Papel do Banco Palmas facilitar as conexes entre todos esses atores, constituindo a rede local de prosumidores (produtores e consumidores). O sucesso do Banco Palmas depende dessa conexo.

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44 - Quais so as dificuldades na relao com o Banco Popular do Brasil? O BPB um banco oficial, portanto, tem que seguir as regras do sistema bancrio. Por si s isso j traz grandes dificuldades para um sistema alternativo como o Banco Palmas. Existem significativas diferenas entre o que ns do Banco Palmas e o Banco do Brasil pensamos sobre a concepo de garantias, inadimplncia, risco, a concepo de sigilo bancrio, desenvolvimento local e tantas outras. 45- Como o Banco Palmas tem conseguido recursos para crdito? Os bancos oficias tem sido uma alternativa? Para iniciar suas aes o Banco Palmas tomou R$ 2.000,00 (dois mil reais) emprestado de uma ONG local chamada Cearah Periferia. Depois recebeu pequenas doaes da cooperao internacional. Em 2005 assinamos um contrato com o BPB e conseguimos inicialmente 50 mil reais (recursos do Programa Nacional de Microcrdito Produtivo Orientado). Hoje nosso contrato com o BPB j est em 1,5 milho de reais, a uma taxa de juros de 1% ao ms. Temos outras duas fontes que so: o Governo do Estado do Cear (atravs do fundo FECOP) e a Sitawi (ONG). Ainda no existe no Brasil uma poltica de crdito especfica e nem mesmo favorvel aos Bancos Comunitrios. O acesso aos bancos oficiais muito burocratizado em funo de exigncias de garantias reais (anlise de patrimnio, fundo garantidor e outras mais). 46 - Existe perigo de um Banco Comunitrio cair em descrdito junto populao? Enorme. Principalmente no comeo. Um Banco Comunitrio sempre ir despertar muita expectativa. preciso ter o que oferecer populao se no o banco cai no descrdito. igualmente importante uma boa gesto e cumprir com o que foi prometido anteriormente. Se o banco cair em descrdito, dificilmente conseguir se recuperar. 47- A experincia do Banco Palmas j foi implantada em outros locais? Sim. No Brasil existem 51 Bancos Comunitrios, em 40 municpios do Brasil. Na Venezuela, com apoio do Instituto Palmas foram implantados 3.600 Bancos Comunitrios. Recentemente lanamos na Frana o livro Viva Favela que narra a histria do

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Conjunto Palmeira e a metodologia do Banco Palmas. A partir do lanamento do livro temos recebido convites para atuar em vrios pases da frica e da sia. 48- Por que o Banco Palmas aderiu a idia do FIB? Felicidade Interna Bruta (FIB) um indicador de desenvolvimento, criado a muitos anos no Buto, pequeno pas asitico. Normalmente utilizamos o Produto Interno Bruto (PIB) para medir o desenvolvimento. O FIB mais completo porque alm do aspecto econmico (da renda) ele mede outros indicadores como: vida comunitria, utilizao do tempo, acesso a escola, lazer, felicidade e outros aspectos da vida humana. Em 2010 vamos fazer, no Conjunto Palmeira, a primeira experincia de FIB do Nordeste do Brasileiro. 49- Como funciona o Curso de Consultores Comunitrios? O Curso de Consultores Comunitrios o grande suporte de sustentabilidade (tcnica e filosfica) do Banco Palmas. neste curso que treinamos pessoas do bairro para se engajarem nas aes do Banco Palmas, voluntrios ou no. um curso de 600 horas aula, tericas e prticas, onde se estuda vrios temas no campo da economia e das finanas solidarias. Dos atuais funcionrios do Banco Palmas, 80% vieram do curso de Consultores Comunitrios. 50- O que a Rede de Bancos Comunitrios? a articulao entre todos os Bancos Comunitrios. Atualmente ainda uma rede de relacionamento, onde trocamos conhecimentos, experincias, redigimos documentos coletivamente, animamos a caminhada um do outro. Estamos muito prximo de sermos tambm uma rede de negcios. Poderemos no futuro produzir e comercializar em rede. Hoje existem 51 Bancos Comunitrios na Rede. 51- Quais so os juros praticados pelo Banco Palmas? Os juros so os mais baixos possveis e depende do valor de captao dos recursos. Atualmente variam de 1% a 3% ao ms. 52- Qual a diferena entre um Banco Comunitrio e uma cooperativa de crdito? Podemos destacar duas diferenas bsicas. i) a cooperativa de crdito compe o sistema financeiro nacional e regulamentada

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pelo Banco Central. O Banco Comunitrio no est dentro do sistema oficial, ii) a cooperativa de crdito de propriedade dos associados j o Banco Comunitrio no tem um dono ( de toda a comunidade). A gesto do Banco Comunitrio feita por uma organizao comunitria. Quanto filosofia, tanto a cooperativa de crdito como os Bancos Comunitrios esto no campo da economia solidria e compartilham os valores da cooperao, da autogesto, da solidariedade e da democracia nas decises. 53- J foi realizada alguma pesquisa, estudo cientfico, sobre os resultados do Banco Palmas? Sim. Em 2008 o Ministrio do Trabalho e Emprego (MTE) contratou a Universidade Federal do Cear para fazer estudo de anlise e impacto do Banco Palmas. Esse estudo foi publicado e encontra-se disposio na Loja Solidria do Banco Palmas. 54- Qual a meta do Instituto Palmas para os prximos 10 anos? A grande meta criarmos um marco legal para os Bancos Comunitrios. Atualmente lutamos pela aprovao do Projeto de Lei Complementar No 93, de 2007, de autoria da Deputada Federal Luiza Erundina, em tramitao no Congresso Nacional, que estabelece a criao do Segmento Nacional de Finanas Populares e Solidrias. A nossa meta criarmos 5.000 Bancos Comunitrios nos prximos 10 anos e implantarmos fluxos econmicos entre os municpios e distritos onde existem Bancos Comunitrios. Quando fizermos isso estaremos criando um grande corredor comercial de economia solidria, fortalecendo as economias populares. 55- O Banco Palmas divulga o nome dos tomadores de credito para a comunidade? Sim. A propriedade do banco coletiva, portanto, todos devem saber para quem o banco est emprestando. Essa transparncia protege o banco de possveis tentavas de fraude e contribui para reduzir a inadimplncia. O banco palmas divulga em sua pgina na internet (www.bancopalmas.org.br) o nome de todos tomadores de credito. Isso contribui para democracia econmica.

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56- Como implantar a cultura da solidariedade em uma comunidade? lento, muito lento. preciso ter pacincia. O Banco Palmas criou vrios instrumentos alternativos para trabalhar diretamente com os moradores a cultura da solidariedade: vdeos, fotonovelas, cartilhas, cordis, alm de um jornal comunitrio que distribudo gratuitamente para a populao todos os meses. Temos ainda dois programas na rdio comunitria do bairro. 57- Como ocorre a interface entre a economia do local e a economia do ambiente externo? O Banco Palmas faz emprstimos em reais para que sejam comprados bens e servios que so produzidos fora da comunidade (importao de tecnologia/mquinas, equipamentos, insumos) e faz emprstimos em moeda social local para que a riqueza produzida circule na prpria comunidade. Por isso a moeda social (que gera e protege a riqueza local), pode ser trocada por reais na sede do Banco Palmas, de forma que produtores e comerciantes possam adquirir novas tecnologias, aumentando o volume das riquezas geradas no bairro. Dessa forma existe uma forte interao entre a economia local e a economia externa. 58- Como os mercados locais intermediam as compras com seus fornecedores de fora do bairro, que no possuem o comprometimento social com os moradores? Os fornecedores de fora do bairro recebem em reais. Alguns poucos fornecedores recebem parte em Palmas e gastam estes Palmas consumindo no Conjunto Palmeira, ou pagando salrios a seus funcionrios (que moram no Conjunto Palmeira). um desafio para o Banco Palmas cada vez mais convencer fornecedores a aceitarem a moeda social 59- De onde vem o lastro (em reais) para as moedas sociais? Atravs de doaes (de pessoas fsicas ou de empresas) e principalmente pela troca de reais por Palmas realizada diretamente pelos moradores na sede do Banco Palmas. Os moradores tm interesse de trocar reais por Palmas porque muitos comerciantes oferecem descontos para quem compra com a moeda local.

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60- O comrcio local, que adotou a moeda Palmas, tributado? Sim. O comrcio local aceita, naturalmente, Palmas e Reais. Est sujeito a carga tributria e recolhem os impostos normalmente como se todas as transaes fossem realizadas em reais. 61- Existe alguma Prefeitura no Brasil que realiza pagamentos em moeda social? Sim. No estado do Piau, no Municpio de So Joo do Arraial. A Prefeitura realiza parte do pagamento dos funcionrios pblicos e terceirizados em moeda social, atravs do Banco Comunitrio Cocais. O Prefeito regulamentou esses pagamentos atravs de uma Lei Municipal, aprovada na Cmara de Vereadores. 62- O que o Sistema Palmas? a articulao de todos os Bancos Comunitrios que esto diretamente ligados ao Instituto Palmas. Esto ligados porque utilizam o mesmo fundo de crdito e porque operam como correspondente bancrio do Banco Popular do Brasil, tendo o Instituto Palmas como Gestor de Rede. 63- O que ser gestor de rede do Banco Popular do Brasil? O Banco Popular do Brasil estabelece parcerias com algumas instituies (empresas e OSCIPS), atravs de um contrato, para atuar como gestores de rede. O papel do Gestor instalar e monitorar pontos de atendimento do Banco Popular. O Instituto Palmas gestor de Rede e desta forma, tem a prerrogativa de implantar um ponto de atendimento do Banco Popular do Brasil nos Bancos Comunitrios. 64- Qual a vantagem para o Instituto Palmas ser parceiro do Banco Popular do Brasil? Podemos destacar trs vantagens: a) conseguimos levar servios bancrios s comunidades completamente excludas do sistema bancrio e financeiro. Em algumas comunidades onde esto localizados os Bancos Comunitrios (assentamentos, comunidades quilombolas, indgenas, pequenos distritos) a populao muitas vezes viaja 20 a 90 km para pagar uma conta de luz, um boleto bancrio, receber a aposentadoria, ou acessar uma conta corrente. Com o BPB possibilitamos que esta populao efetue seus recebimentos e pagamentos na prpria comunidade; b) o Instituto Palmas utiliza o Gerenciador de Dados do Banco

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do Brasil, e atravs desta ferramenta, realiza a governana (o acompanhamento) das operaes bancrias e creditcias dos Bancos Comunitrios, corrigindo e evitando erros; c) alm disso, o recebimento de contas e outras aes bancrias (pagamento de aposentados, abertura de conta corrente e outros) geram receita que contribuem para a sustentabilidade dos Bancos Comunitrios, d) Outra vantagem a carteira de crdito que o BPB concede ao Banco Palmas, hoje no valor de 1,5 mi. 65- O que preciso para iniciar um Banco Comunitrio? a) Ter no territrio uma organizao comunitria em condies de administrar o banco. b) uma sala com computador e internet c) 02 pessoas liberadas (funcionrios); d) recursos financeiros para o lastro inicial da moeda social (aproximadamente R$ 3.000,00) e recursos para crdito produtivo (aproximadamente R$ 30.000,00). 66- Quais so as etapas para criar um Banco Comunitrio? Fase 1 - Sensibilizao da comunidade. Fase 2 - Capacitao da equipe local. Fase 3 - Implantao do banco. Fase 4 Consolidao. A implantao de um Banco Comunitrio deve acontecer ate o terceiro ms depois da realizao dos seminrios de sensibilizao. Normalmente, aps a inaugurao o banco consolidado em um perodo de 06 meses. 67- Quantas pessoas trabalham no Banco Palmas? O Banco Palmas tem uma equipe de 06 pessoas. O Instituto Palmas conta 24 trabalhadores e trabalhadoras. 68- No Banco Palmas, obrigatria a devoluo integral do crdito pelo tomador? Sim. Todos os crditos devem ser devolvidos acrescidos de juros. Embora seja um Banco Comunitrio, os recursos emprestados tm que ser devolvidos para que o banco possa emprestlos novamente e manter-se sempre com suas operaes normalizadas. 69- Existe um boleto bancrio? Como feito o pagamento dos crditos? No existe boleto bancrio. A maioria dos clientes do Banco Palmas abre uma conta corrente no BPB (sem nenhum custo

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de abertura e manuteno) e os pagamentos so feitos atravs desta conta corrente. Essa dinmica reduz os custos e aumenta a governana sobre o sistema de crdito. 70- As empresas financiadas pelo Banco Palmas podem vender seus produtos fora do bairro? Podem sim. Podem e devem. Vender para fora do bairro traz recursos para dentro da comunidade. O que no recomendado comprarmos fora do bairro, produtos que existem a disposio na prpria comunidade. Em resumo: importar somente quando absolutamente necessrio, exportar sim, sempre. 71- As empresas apoiadas pelo Banco Palmas s podem vender seus produtos em moeda social Palmas? No. As empresas vendem em moeda nacional (reais) e em moeda social. Os Palmas tm lastro e so indexados ao real. Por isso possvel vender em uma ou outra moeda. 72- As pessoas beneficiadas pelo Banco Palmas podem ter conta em outro banco? Sim. Preferencialmente estimulamos que elas tenham conta corrente no BB para facilitar as operaes de nossas linhas de crdito. Mas, os nossos clientes so livres para operarem com outros bancos. 73- Quantos scios existem no Banco Palmas e no Instituto Palmas? O Banco Palmas no tem associados. Ele funciona dentro da Associao de Moradores. Atualmente, os moradores atendidos pelo banco somam-se 1.800 famlias. O Instituto Palmas tem um corpo de 30 scios (na sua maioria so moradores do Conjunto Palmeira). 74- Com tantos bancos, financeiras, lojas comerciais oferecendo crdito, ainda h necessidade do Banco Palmas? Sim. Primeiro bom ter claro que essas organizaes s oferecem crdito para quem comprovadamente pode pagar, ou seja, pra quem no oferece risco. Os mais pobres, as comunidades mais afastadas, as populaes diferenciadas (quilombolas, indgenas, assentados) no tem acesso aos bancos oficiais nem as financeiras, porque estas acreditam que esses segmentos no

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oferecem lucro. Depois, a ao do Banco Palmas vai muito alem da simples oferta de crdito. O banco reorganiza as economias locais, estimula crditos para a produo e o consumo local, capacita lideranas comunitrias para serem gestora do banco, capacita jovens e mulheres para o trabalho e a convivncia comunitria, organiza a comunidade, empodera, enfim, gera cidadania. 75- Porque o Banco Palmas no trabalha com aval solidrio? O aval solidrio opcional. Se os tomadores de crdito chegam ao Banco Palmas organizados em um grupo, timo! Mas, muitas pessoas encontram-se desorganizadas e precisam de uma chance, por isso o banco tambm concede crditos individuais. Contudo, para qualquer morador do bairro ter acesso a crdito no Banco Palmas antes feita uma consulta aos seus vizinhos para aferir se aquele tomador uma pessoa honesta (a isso chamamos aval de vizinhana). Desta forma a prpria comunidade quem assume a responsabilidade tica sobre aquele tomador. 76- Quais as principais caractersticas da metodologia de crdito do Banco Palmas? Os crditos devem estimular a produo e o consumo de bens e servios para atender o mercado local. Para isso o Banco Palmas faz a cada dois anos um levantamento socioeconmico chamado mapa da produo e do consumo do Conjunto Palmeira. Esse mapeamento orienta as aes de crdito do banco, evitando a concorrncia entre empreendedores do mesmo seguimento, estimulando a organizao de cadeias produtivas locais. Outra caracterstica da metodologia so os juros, sempre abaixo dos praticados pelo mercado e de forma evolutiva, ou seja, quanto maior o valor do emprstimo, maior o valor do juro (desta forma ajudamos a distribuir a riqueza). Destaca-se tambm o aval de vizinhana, que consiste em uma consulta aos vizinhos sobre a honestidade do tomador de crdito. 77- Todos os recursos para crdito do Banco Palmas vem do Banco Popular do Brasil? No. O Banco Palmas j est trabalhando com outras carteiras de crdito, conseguida atravs de emprstimos a uma organizao do terceiro setor (Sitawi) e recursos oriundos do Governo do Estado do Cear. No momento estamos negociando outras alternativas.

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78- Como o Banco Palmas controla e cobra a inadimplncia? Um dia aps o vencimento da parcela o analista de crdito visita o tomador de crdito lembrando do seu compromisso com o banco. Passados 15 dias ele recebe uma carta de cobrana. Passado um ms, se o cliente no procura o banco para negociar sua divida, o analista comunica aos vizinhos aquela situao de inadimplncia e da indisposio da pessoa para resolver o problema com o banco, em seguida levamos a situao ao conhecimento do Frum Socioeconmico Local FECOL. Por ltimo, negativamos o inadimplente no SPC e protestamos a divida em cartrio. Vele lembrar, que essas medidas so tomadas quando a pessoa tem, comprovadamente, uma ma f com o banco, ou seja, no demonstra interesse em pagar ou negociar a dvida. 79- O Banco Palmas sustentvel? Quando falamos em sustentabilidade temos que compreendla do ponto de vista financeiro, poltico, social, comunitrio, ecolgico e da por diante. Podemos afirmar que o Banco Palmas j sustentvel. Para um Banco Comunitrio se tornar sustentvel (financeiramente) ele precisa, em mdia, operar uma carteira de crdito de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), e realizar oito mil operaes bancrias (correspondente bancrio) por ms. Isso gera uma receita media de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) mensais. O Banco Palmas j atinge esses nmeros. Com relao aos outros aspectos temos fortes indicadores de que tambm j os temos alcanado. 80- Quais so os passos para uma pessoa tomar crdito no Banco Palmas? feita uma anlise? O interessado se dirige ao Banco Palmas, conversa com o a equipe do crdito sobre a sua idia de negcio e faz a solicitao. Em seguida o agente de crdito do Palmas vai at o local de moradia (ou empreendimento) e preenche uma ficha para anlise de crdito. Na mesma ocasio, atravs de uma abordagem especfica, conversa com os vizinhos sobre o comportamento e valores ticos e morais do futuro tomador de crdito. Logo aps, o Comit de Aprovao de Credito (CAC) do Banco Palmas analisa a solicitao com base nas informaes do agente de crdito e nos estudos do mapa da produo e do consumo local. Por ltimo, o interessado recebe a informao quanto aprovao ou no de sua solicitao. Em caso de aprovao, o morador assina um contrato com o banco e recebe os recursos.

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81. Qaual a importncia da cultura para as estratgias do Banco Palmas? H um provrbio popular que diz: No sei se a arte vai mudar o mundo, mas se o mundo mudar vai ser por causa da arte. Compartilhamos desta concepo e damos um lugar privilegiado para arte e a cultura na construo da nossa Rede de Economia Solidria. Temos un Fundo Especial para financiamento de Grupos Culturais e organizamos a Cia. Bate Palmas, que o nosso brao cultural. 82- O Banco Palmas ajuda na comercializao dos produtos do bairro? Sim. Ns temos uma feira mensal com os produtores e produtoras do bairro, realizada no Conjunto Palmeira e uma loja solidaria que comercializa os produtos feitos no bairro. Alm disso, apoiamos os empreendedores locais para participarem de feiras temticas e outras feiras de economia solidaria que acontecem no Cear e em outros estados. 83- J houve assalto ao Banco Palmas? Neste caso, existe algum seguro para cobrir o prejuzo? Sim. Nestes 12 anos, houve 03 assaltos. Infelizmente no podemos evitar. Mas sempre foram praticados por pessoas de outros bairros. O seguro cobre at R$ 6.000,00 (seis mil reais). Esse seguro pago pelo Banco Popular do Brasil, porque operamos como correspondente bancrio do mesmo. Acima desse valor, o Banco Palmas assume o prejuzo. 84- Onde so fabricadas as moeda sociais do Sistema Palmas? O Sistema Palmas tem hoje 42 Bancos Comunitrios. As moedas destes bancos so produzidas em uma grfica de segurana, em Fortaleza. 85- J houve falsificao de moeda social? Nunca. A segurana da moeda social esta na sua fabricao e principalmente no controle social. Alm disso, a moeda tem 05 elementos de segurana. O fato de ser uma moeda local ajuda na fiscalizao e desestimula a fraude. Afinal, se algum falsificar vai ter que usar a moeda falsa no prprio bairro e o risco de ser pego muito grande.

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86- Existe perigo do Palmas se isolar em uma economia fechada? No. Nem desejamos isso. Criar um circuito econmico local, no significa se isolar de outras redes produtivas, ou rejeitar relao com o mercado externo. Isso seria impossvel nos dias de hoje, porque nenhum territrio consegue remontar internamente toda sua cadeia produtiva. Por exemplo, as costureiras da Grife Palma Fashion compram mquinas, insumos e equipamentos em empresas fora do bairro, do mesmo jeito que, tambm, vendem seus produtos para outros consumidores fora do bairro. Da mesma forma, muitos produtos de outras empresas so vendidos no Conjunto Palmeira. 87- Porque os Bancos Americanos esto quebrando e os Bancos Comunitrios esto crescendo mesmo diante da crise? Existem vrias explicaes. A que afirmamos mais fortemente o fato de buscarmos um modelo de consumo responsvel. O crdito concedido pelo Banco Palmas avalia bem a capacidade de pagamento das pessoas e se co-responsabiliza pelo seu sucesso. Alm do mais estamos sempre buscando e promovendo um outro modelo de desenvolvimento. Os americanos, de olho unicamente no lucro, estimularam um consumo alienado, desenfreado. 88- Qual o marco legal do Banco Palmas? Do ponto de vista legal, o Banco Palmas (e a maioria dos Bancos Comunitrios) funcionam resguardados pelo marco legal do Instituo Palmas. O Instituto Palmas uma OSCIP de Microcrdito e atua como um guarda-chuva que d suporte legal a todos os outros Bancos Comunitrios, que, na sua maioria, so associaes locais sem estrutura institucional. Enquanto OSCIP, o Instituto Palmas pode estabelecer contratos e convnios com o poder pblico e bancos oficiais, captando recursos e tecnologias para os Bancos Comunitrios. 89- Quais so os desafios do Banco Palmas para os prximos 10 anos? Podemos destacar quatro desafios: i) levar tecnologia e inovao para os empreendimentos financiados pelo banco (produo, comrcio e servios); ii) criar um amplo projeto de carter ambiental com um forte componente de gerao de renda,

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aproveitando as potencialidades do Conjunto Palmeira nesta rea; iii) reorganizar de forma ampla e consistente nosso centro de documentao e memria; iv) criar um centro de referncia em finanas solidrias que em mdio prazo, avance para uma universidade popular. 90- J teve algum Banco Comunitrio que no tenha dado certo, que tenha fechado? Sim, dois deles. No municpio de Parnaba-PI a entidade local desistiu do banco. O Instituto Palmas est retomando o processo com outras instituies locais. No municpio de Tau-Ce, um dos Bancos ali existentes descumpriu o termo de referncia dos Bancos Comunitrios e foi desligado da Rede. 91- O que o Instituto Palmas faz para implantar um Banco Comunitrio quando no existe nenhuma associao/ grupo organizado na comunidade? Estimula a criao de uma associao comunitria. Nestes casos, o processo de criao do banco mais lento, aja visto que a comunidade precisa se organizar primeiramente. 92-De que forma a populao participa do Banco Palmas? O Banco Palmas criou o Frum Socioeconmico Local-FECOL, que se rene toda quarta-feira s 19h30min, com a participao de produtores, comerciantes, prestadores de servio, representantes de organizaes comunitrias (culturais, esportivas, religiosas) e de instituies pblicas (escolas, postos de sade e outros) e consumidores. Esse Frum discute todas as questes econmicas e sociais do Conjunto Palmeira e faz, tambm, a controladoria social do Banco Palmas. Alm do FECOL, a populao participa atravs de seus projetos especficos, como por exemplo, nas reunies dos feirantes, no Frum de Cultura, nas assemblias da Associao de Moradores e outros. O Jornal Comunitrio (Banco Palmas na Rede) e o programa da radio comunitria tambm so formas concretas de participao dos moradores. 93- Qual a relao do Banco Palmas com a economia solidria? O Banco Palmas um empreendimento de economia solidria no campo das finanas solidrias. Podemos afirmar isso porque i) o banco no tem dono, de propriedade coletiva, pertence comunidade; ii) no se apropria de seus excedentes (lucro na

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linguagem capitalista). Todos os excedentes so reinvestidos em novos crditos para a comunidade; iii) mantm taxas de juros abaixo de mercado; iv) estimula redes de colaborao entre produtores e consumidores; v) realiza analise de crdito com base no aval de vizinha e confia na pessoa humana ao fazer a concesso do crdito. 94- O que pode ser feito para aumentar a circulao da moeda palmas no Conjunto Palmeira? Dentre tantas, podemos destacar trs aes: i) uma intensa campanha educativa, que ajude na formao da conscincia crtica dos moradores, fazendo-os entender a importncia da moeda social para o desenvolvimento do bairro; ii) cursos intensivos nas escolas e nas associaes do bairro sobre educao financeira, colaborando para a populao entender seus ganhos ao utilizar a moeda social, tendo em conta tambm os descontos que os comerciantes oferecem para quem compra com a moeda do bairro; iii) por ultimo, convencer a Prefeitura Municipal que ela pode contribuir de forma decisiva para o desenvolvimento econmico do bairro realizando parte dos pagamentos pblicos em moeda social, por exemplo, pagamento do funcionalismo, bolsas pagas para jovens, pagamento a prestadores de servios terceirizados e outros. 95- O Banco Palmas o maior banco da rede de Bancos Comunitrios? Por enquanto sim. O Banco Palmas foi o 1 Banco Comunitrio do Brasil. Outros Bancos Comunitrios foram criados e cada qual vai aperfeioando-se a partir de suas habilidades e da realidade onde esto inseridos. Hoje existem fundaes, universidades, ongs, sindicatos, igrejas e uma variedade de organizaes que esto refletindo sobre os Bancos Comunitrios. Um vai aprendendo com o outro e a cada dia a tecnologia vai melhorando. Esse o verdadeiro sentido de uma rede. 96- Os que vocs no fariam se fossem iniciar o Banco Palmas hoje? Tudo o que no deu certo foi importante e serviu de aprendizado. O mais difcil for ter passado quase oito anos fazendo o controle e o monitoramento do sistema de crdito sem um software ou planilhas adequadas. Isso muitas vezes nos fez perder dias de trabalho para chegar aos nmeros, aos balanos, a clareza do

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que estvamos fazendo. Portanto, se fosse comear novamente teria bem mais cuidado com o sistema de controle e governana da carteira de crdito. 97- Porque o Banco Palmas ainda utiliza um software proprietrio? Falha nossa. J decidimos utilizar software livre que, alm ser tecnicamente melhor, coerente com as prticas de economia solidria. Estamos nos organizando para fazer a mudana. 98 Para alm dos servios financeiros e bancrios quais as outras aes que o Banco Palmas oferece a comunidade? TTULO DO PROJETO DESCRIO DO PROJETO Incubadora Feminina O projeto objetiva a incluso social de mulheres (25 mulheres por turma) que vivem em situao de risco social e pessoal na comunidade do Conjunto Palmeira. Todas as mulheres recebem alimentao diria e uma bolsa mensal em torno de 100 reais. No final do processo 18 meses - recebem um emprstimo (crdito) concedido pelo Banco Palmas para iniciarem um pequeno negcio produtivo, ou ento so encaminhadas pelo Banco Palmas para o mercado de trabalho. A Escola Popular Cooperativa Palmas EPC Palmas consiste em um projeto do Instituto Palmas voltado para a juventude do conjunto Palmeira, com o objetivo maior de fazer a juventude do bairro ingressar na universidade. Atua com uma pedagogia libertadora que oferecesse aos alunos: conhecimentos tericos para obterem sucesso no vestibular, desenvolvimento da capacidade empreendedora, e sensibilizao para a participao nas atividades comunitrias e de proteo ambiental. Cada aluno recebe um fardamento e todo o material didtico e pedaggico. Cada turma tem 06 meses de capacitao, 600 horas de sala de aula. Os professores, geralmente, ex-alunos, alunos universitrios, professores das escolas pblicas do bairro, recebem uma bolsa do Palmas (em mdia 100 reais).

Incubadora Feminina

Escola Popular Cooperativa Palmas

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TTULO DO PROJETO

DESCRIO DO PROJETO um espao de formao e produo na rea de moda, constituda por jovens do Conjunto Palmeira. A Academia funciona em um ateli existente na sede da Associao dos Moradores do Conjunto Palmeira/Banco Palmas, medindo 80 metros quadrados, equipadas com maquinas e equipamentos adequados. Na Academia de Moda os jovens compreendem os processos bsicos na construo do vesturio, o que lhe permitir ingressar no mercado de trabalho (ou montar seu prprio empreendimento) com conhecimentos tcnicos, antes restritos aos estudantes de moda das universidades e a pessoas que j trabalham na rea. O processo formativo se divide em 3 fases e soma uma carga horria de 380 horas/aula (4 meses). Na primeira fase (Formao Bsica - 60h) a capacitao ocorre com um curso terico onde so passados pela equipe do Banco Palmas noes sobre empreendedorismo, relaes humanas, economia solidria e a histria da comunidade. A segunda fase (Formao Especfica - 300h), o jovem encaminhado a uma empresa do bairro (pequenos comrcios, salo de beleza, marcenarias, borracharias, confeces e outros), onde fica fazendo uma espcie de estgio, durante 3 meses, 4 horas por dia, de segunda a sexta, aprendendo na prtica o dia-a-dia de uma profisso. Na terceira fase (Formao Complementar - 20h) os jovens voltam sala de aula para um curso sobre gesto de negcios e marketing (pessoal e empresarial). Esta fase executada na sede do Instituto Palmas, em uma sala apropriada, com recursos udio-visual.

Academia de Moda Periferia

Bairro Escola de Trabalho

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TTULO DO PROJETO

DESCRIO DO PROJETO um curso de Economia Solidria, destinado a jovens do Conjunto Palmeira que so treinados para prestar pequenas consultorias aos empreendimentos (comrcio, indstria e servio) do Conjunto Palmeira e a Rede de Bancos Comunitrios do Cear. Serve tambm como processo formativo para os futuros trabalhadores e trabalhadores e voluntrios do Banco Palmas. um espao pblico onde so comercializados semanalmente produtos feitos no prprio bairro. tambm um instrumento de reforo a cultura popular, dando oportunidade para apresentao de artistas, cantadores, emboladores, repentistas e outras representaes da cultura local. Propicia um momento de encontro entre as famlias e de troca de experincias entre os feirantes. um espao de comercializao coletiva dos produtos do bairro. A loja tem uma extenso de 30 mt2 e fica anexa a sede do Banco Palmas. Os produtores que colocam seus produtos na loja so pagos na proporo em que os produtos so comercializados, ficando uma taxa de 2% para cobrir os custos operacionais da loja. um fundo solidrio, rotativo, de natureza associativa e comunitria. O repasse de recursos financeiros, sem juros e com formas alternativas de devoluo, feito para que grupos ou associaes possam desenvolver suas idias e transform-las em projetos viveis no campo da economia da cultura e do esporte. A avaliao e aprovao dos projetos so realizadas pelo Frum Socioeconmico Local - FECOL. Cada grupo da comunidade pode apresentar seu projeto e os participantes do Frum fazem seus comentrios e perguntas. Ao final, acontece a aclamao e, quando necessria, a votao. O grupo beneficiado paga apenas 30% do valor solicitado, e os, 70% so pagos com servios comunitrios. Por exemplo, uma banda de msica pode pagar cantando nas feiras do bairro. O grupo de dana, apresentando suas danas, etc. O grupo tem at 12 meses para pagar o credito.

Consultores Comunitrios

Feira Solidria

Loja solidria

FACES- Fundo de Apoio Cultura e ao Esporte Solidrio

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TTULO DO PROJETO

DESCRIO DO PROJETO O Frum Socioeconmico Local - FECOL um espao de dilogo e proposio sobre os aspectos relativos s questes econmicas e sociais , com o intuito de promover o desenvolvimento endgeno do territrio, baseado nos princpios da economia solidria. O objetivo do Frum promover o desenvolvimento socioeconmico da comunidade, atravs de processos de mobilizaes e lutas populares e cabe ao FECOL fazer a controladoria social do Banco Palmas. As reunies do FECOL acontecem todas as quatasfeiras,as 19h30min., na sede do Banco Palmas. um jornal comunitrio, totalmente escrito e diagramado por uma equipe de jovens do Conjunto Palmeira. O Jornal divulga as notcias do bairro, suas lutas, conquistas, desafios, reunies, eventos, alm de dar destaque s lideranas que promovem o desenvolvimento do bairro. No jornal, tambm divulgado os balanos e outros nmeros e aes do Banco Palmas. um instrumento de organizao e luta da comunidade. O jornal tem uma tiragem de 5.000 exemplares, mensalmente. distribudo gratuitamente populao. Consiste em um estdio de msica, uma banda e uma pequena oficina para criao de instrumentos musicais. No perodo carnavalesco, a banda se transforma na bateria da Bloco Bate Palmas.

FECOL

Jornal Banco Palmas na Rede

Cia. Bate Palmas

99- Quais so os nmeros do Banco Palmas?AESCarteira de Crdito em Reais Carteira de Crdito em Palmas

FONTEBanco Popular do Brasil Banco Palmas

200550.000

2006120.000

2007250.000

2008530.000

2009700.000,00

3.000

10.000

20.000

25.000

36.000

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Inadimplncia da carteira de crdito (palmas e reais) acima de 30 dias Nmero de pessoas atendidas com crdito produtivo (em reais) Nmero de pessoas atendidas com crdito para o consumo (em palmas) Nmero de operaes realizadas pelo correspondente bancrio Nmero de empreendimentos que aceitam a moeda palmas Postos de trabalho gerados (formal e informal) Jovens que receberam capacitao profissional Mulheres em situao de risco atendidas (projeto Incubadora Feminina)

Banco Palmas

1,0%

1.8%

2.0%

1.3%

2.5%

Banco Popular do Brasil e Instituto Palmas

70

97

170

310

490

Banco Palmas

70

97

170

310

340

Banco Popular do Brasil e Instituto Palmas

40.000

80.000

95.000

110.000

130.000

Banco Palmas

90

99

130

180

240

Banco Palmas

40

69

110

180

160

Instituto Palmas

90

340

420

860

560

Banco Palmas

40

40

20

0

25

35

Prmios recebidos Feiras realizadas na comunidade (em mdia 25 produtores) Venda na loja solidria - anual (em reais) Consultores Comunitrios treinados (jovens treinados para trabalharem no Banco Palmas) Reunies do FECOL realizadas Alunos formados pela Escola Cooperativa Palmas (cursinho prvestibular)

Instituto Palmas

0

0

2

3

2

Banco Palmas

26

22

28

17

14

Banco Palmas

no se aplica

25.000

53.000

76.000

55.000

Instituto Palmas

no se aplica

25

10

0

13

Instituto Palmas

no se aplica

no se aplica

no se aplica

15

22

Instituto Palmas

no se aplica

no se aplica

no se aplica

40

80

Observao: Nos ltimos trs anos (2007 a 2009) o Instituto Palmas realizou 3.139 operaes de crdito, com um volume emprestado de R$ 4.126.712,79. Ao todo foram beneficiadas 2.500 famlias, tendo mantido 8.000 postos de trabalho e gerados 2.000. O correspondente bancrio realizou 28 milhes de transaes e fez a gesto de quase 80 milhes de reais.

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100 Qual a importncia das parcerias e quais foram os parceiros do Banco Palmas nessa caminhada? Fazer parcerias fundamental. estratgico. O Banco Palmas tem hoje bons parceiros que divulgam o trabalham, apiam concretamente e fazem tambm criticas e sugesto. A parceria ampla, com governos, entidades da sociedade civil e empresas. No se deve ter medo das parcerias e sim ficar atento para no perder a autonomia e a linha estratgica de nossa ao.INSTITUIES FINANCIADOREAS E PARCEIRAS - 1988-2009 Agncia de Desenvolvimento Solidrio ADS da Central nica dos Trabalhadores (CUT) ASHOKA Associaes Comunitrias, Grupos e Empreedimentos Locais Banco do Brasil (Programa Nacional de Microcredito Produtivo Orientado - PNMPO) Banco do Nordeste do Brasil BNB Banco SANTANDER Cmara de Dirigentes Lojistas de Fortaleza CDL Cearah Periferia Coordenadoria Ecumnica de Servios CESE CORDAID FASE Federao de Bairros e Favelas de Fortaleza FBFF Frum Brasileiro de Economia Solidria FBES Fundao Banco do Brasil FBB Fundao da Criana e da Famlia Cidad FUNCI/Prefeitura Municipal de Fortaleza Fundo de Investimento Social FIES/ITAU GRET Grupo Cultural Afro Reggae GTZ-Alemanha

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Governos Estaduais Instituies Pblicas Locais (Escolas, ABC, Circo Escola, Postos de Sade e outros) Instituto Marista de Solidariedade IMS Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria INCRA/Ce Instituto Wal Mart Inter-American Foundation Misereor OXFAM Parlamentares em nvel municipal, estadual e nacional Petrobras Prefeituras Municipais PROFITEC Prefeitura Municipal de Fortaleza Rede Cearense e Brasileira de Socioeconomia Solidria Rappa SEBRAE-CE Secretaria de Cultura de Fortaleza SECULTFOR Secretaria de Desenvolvimento Econmico SDE/Prefeitura Municipal de Fortaleza Secretria do Trabalho e Desenvolvimento Social Governo do Estado do Cear Secretaria Nacional de Economia Solidria SENAES/Ministrio do Trabalho e Emprego Servio Alemo de Cooperao Tcnica DED Servio Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo do Cear SESCOOP-CE Servio Nacional de Empregos-SINE-Instituto de Desenvlvimento do Trabalho IDT Sindicatos de Trabalhadores Rurais STROHALM Universidade Catlica Marista Universidade de So Paulo USP Universidade Federal da Bahia UFBa Universidade Estadual do Cear UECE/PRAE Universidade Federal do Cear

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LEIA MAIS SOBRE O BANCO PALMAS E OS BANCOS COMUNITRIOS

NOME DO MATERIAL

CONTEDO

Narra em detalhes o surgimento da experinLivro: Bairros Pobres Ricas Solues - Banco cia do Banco Palmas e como funciona cada Palmas-Ponto a Ponto produto do Banco. Comenta a importncia de se ter no mesmo territrio um banco comunitrio que atende aos mais pobres e uma cooperativa de crdito para dar sustentabilidade aos empreendimentos. O livro narra a experincia de trs fundos de credito rotativo: o Banco Palmas (em Fortaleza), o Banco PAR em (Paracuru) e o projeto Rede Cidad (com as famlias do PETI). Descreve sobre o funcionamento do sistema de Moeda Social Local Circulante (PALMAS) no Conjunto Palmeira e como se d a relao da mesma com o mercado local. O passo-a- passo de uma metodologia criada pelo Banco Palmas PLIES - que de forma participativa elabora um plano de investimento para o bairro, escrevendo os projetos estratgicos para gerao de renda na comunidade. Detalha, tambm, como o Conjunto Palmeira elaborou o seu PLIES.

Livro: Bancos Comunitrios e Cooperativas de Crdito, uma aliana necessria para potencializar as finanas da periferia

Livro: O Poder do Circulante Local

Livro: PLIES - Plano Local de Investimento Estratgico - Uma Metodologia para Gerar Trabalho em Territrios de Baixa Renda

Apresenta a filosofia, as contribuies, os Livro: Bancos Comunitrios de Desenvolvidiferenciais e a caracterizao dos Bancos mento: uma rede sob controle da comunidade Comunitrios de Desenvolvimento, hoje somados em numero de 51 no Brasil. Livro: Avaliao de Impacto e Imagem: Banco Palmas -10 anos Publica o resultado da pesquisa realizada pela Universidade Federal do Cear-UFC que avaliou os Impactos e a Imagem do Banco Palmas, no Conjunto Palmeira.

Livro escrito e lanado o em Francs. Narra Livro: Viva Favela quand les dmunis com detalhes todas as lutas e conquistas do Conjunto Palmira at a criao do Banco prennent leur destin em main Palmas.

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LEIA MAIS SOBRE O BANCO PALMAS E OS BANCOS COMUNITRIOS

Fotonovela: Santo de Casa Tambm Faz Milagre

Uma histria cmica. Um casal descobre que tudo que precisa para seu casamento tem no seu prprio bairro. Sai visitando os empreendedores locais e dialogando sobre a importncia de consumir no bairro. uma histria onde todos os personagens so reais. Excelente instrumento de comunicao para trabalhar de forma massiva com a populao. Acompanha a fotonovela um encarte com exerccios para realizao de oficinas nas Escolas. Trata-se de cartilhas sobre os produtos do Banco Palmas: Palmatech a Escola de Socioeconomia Solidria do Palmas; Incubadora Feminina um Trabalho com mulheres em situao de risco e o Sistema Integrado de Microcrditos, apresenta as modalidades de crdito do Banco Palmas. Documentrio: Narra a experincia do Banco Palmas. Narra a metodologia PLIES a partir da experincia do Conjunto Palmeira. Documentrio mostrando a importncia de se consumir os produtos do bairro e o potencial de gerao de ocupao e renda que possui os moradores a partir de suas economias domsticas. 10 Msicas que mostram a histria, as melodias de carnaval do Conjunto Palmeira, a cultura do bairro. Totalmente gravado no estdio do Banco Palmas e por artistas locais. Texto da pea teatral encenada por jovens da comunidade estimulando os moradores a comprarem produtos fabricados localmente.

Cartilhas: - Palmatech - Incubadora Feminina - O sistema Integrado de Microcrdito DVD: Banco Palmas uma Prtica de Economia Solidria DVD: PLIES A economia solidria construindo a sustentabilidade local

DVD: A Revoluo do Consumo

CD Cia. Bate Palmas

Pea Teatral: Consumir para o Bem Viver

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