Bannews 2015 10

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Distribuição interna 42 O vaso partido pág. 4 À espera do filho "A mãe do cais" pág. 11 pág. 6 Tsuito Hoyo 2015 Ban News Outubro/Novembro de 2015 O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM A RAÇA HUMANA? Hoje estamos vivendo num clima de tensão em níveis globais, quando, em qualquer direção que se veja sentimos minar as esperanças de um mundo melhor... 2 pág. Ilustração de Sumie Saito inspirada na obra "O Grito", de Edward Munch

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Distribuição internan° 42

O vaso partido pág.4

À espera do fi lho"A mãe do cais"

pág.11

pág.6Tsuito Hoyo 2015

BanNewsOutubro/Novembro de 2015

O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM

A RAÇA HUMANA?

Hoje estamos vivendo num clima de tensão em níveis globais, quando, em qualquer direção que se veja sentimos minar as esperanças de um mundo

melhor...

2pág.Ilustração de Sumie Saito inspirada na obra "O Grito", de Edward Munch

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O que está acontecendo com a raça humana?

Harumi Itoo

Hoje, vivemos num clima de tensão em níveis globais e, em qualquer direção que se olhe, senti-mos minar as esperanças de um mundo melhor, onde reine a paz e a harmonia entre os homens.

Diariamente, assistimos horrorizados a cenas estarrecedoras de levas de refugiados, deixando seus países de origem e invadindo sem nenhuma cerimônia outras localidades, simplesmente em busca de algum refúgio mais seguro para sua sobre-vivência e a de seus familiares.

Uma onda migratória de multidões como nunca se viu antes se locomove, ora por mar, ora por terra. Vemos grupos de refugiados no mar, largados à própria sorte, como bandos de animais indesejados e explorados por outros homens, que se aproveitam dessa situação desesperadora para lucrar, sem nenhum sinal de humanidade.

A cena de uma das capas da revista Veja, mostrando uma criança morta, levada à praia pelas ondas, como qualquer animal encontrado morto por aí, foi chocante.

Outra cena revoltante foi a de uma cinegrafi sta húngara dando rasteira nos refugiados, sem ne-nhum sinal de pena ou remorso, como se estivesse impedindo a fuga de animais que tentassem escapar de seu cerco.

Numa outra reportagem, vemos soldados lançando a esmo pedaços de pães disputados desesperadamente por esses refugiados, tais como animais famintos, desprotegidos e escorraçados em seus novos cativeiros.

É o próprio egoísmo escancarado. O que está acontecendo com a raça humana? Estamos chegan-do ao limite da condição do ser humano?

Ilustração de Sumie Saito inspirada na obra "O Grito", de Edward Munch

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Essas cenas me fizeram lembrar de um episódio que aconteceu no fim da Segunda Guerra Mundial, contado por um sobrevivente:

Hoje vivemos na paz e já se passaram muitos anos desde o fim da guerra. No entanto, até este momento, o meu espírito nunca mais teve tranquili-dade. Eu pertencia à Marinha quando o nosso navio afundou, bombardeado por aviões inimigos. Fui um daqueles que conseguiram embarcar nos botes salva-vidas que foram jogados ao mar juntamente com milhares de companheiros que ficaram boiando em desespero à procura de socorro.

Vi muitos colegas vindo em direção ao nosso bote para serem resgatados, porém, qual não foi o nosso desespero, pois já estávamos no limite da capacidade do bote. Se os salvássemos com certeza o bote afun-daria e estaríamos todos perdidos. O que fizemos então? Desembainhamos nossas espadas e fomos decepando um a um as mãos que se agarravam ao bote. Lembro-me de seus olhares incrédulos que foram se transformando em ódio enquanto eram engolidos pela água, que foi se tingindo de vermelho a nossa volta. Essas lembranças nunca me permiti-ram usufruir da paz que estamos vivendo hoje.

Quem nesse contexto juraria nunca agir como esse soldado? Quem não teria receio de ter que dividir seu espaço e sua tranquilidade com refugiados? Na reali-dade, o Brasil foi formado por nós, invasores. Fomos encurralando seus antigos moradores e tomando seus lugares. A história se repete e sempre se repetirá enquanto existir a raça humana, com sua ganância e seu egoísmo, que na realidade retratam a verdadeira essên-cia do homem. O homem é egoísta por natureza e, em tempos de paz e abundância, camufla essa imagem, mas se a escassez aparece, esta natureza logo fica evidente.

A Alemanha vive hoje uma prosperidade invejável. Tal como outros países considerados ricos e em situação estável, são as metas dessa onda de refugia-dos. Percebemos um esforço, apesar de com muita relutância, em ajudar esses novos imigrantes. Quem sabe tenhamos algumas esperanças de melhorar essa situação de caos social.

A paz custa caro e é preciso ser conquistada. Por causa dessa natureza cruel do homem, torna-se necessário muito sacrifício para conquistá-la. Para que possamos viver em harmonia e ter um mundo um pouco melhor, será que não deveríamos tentar ir contra nossa natureza e começar a dividir um pouco do que temos?

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O vaso partidoSuzana Oguro

Diante do espelho, sentindo o gosto salgado das lágrimas chegar a seus lábios, Karina olhava para a cicatriz que dividia seu seio direito em dois. Já fazia meses que ela não conseguia olhar para aquela marca sem fi car com os olhos marejados. Para ela, o câncer de mama havia tirado de si uma parte essencial de sua feminilidade, e isso a levava a pensar que ela havia deixado de ser a Karina de sempre. Era outra pessoa que a encarava do outro lado do espelho.

Enquanto Karina lamentava seu triste destino, o relógio da sala anunciou que já eram nove horas. Saindo de seu devaneio, a jovem de 27 anos terminou de se vestir apressadamente. Ela não podia chegar atrasada à aula de cerâmica mais uma vez.

Desde que fi zera a mastectomia, Karina havia parado de trabalhar. E, como ainda morava com os pais, podia fi car um tempo sem uma atividade remunerada. Porém, passar os dias em casa não era uma opção, já que tudo lhe lembrava que não era mais a garota alegre e extrovertida que fazia todos se sentirem bem. Agora ela se considerava uma mulher mutilada, que não tinha nada a oferecer a ninguém, muito menos ao noivo, que aguardava pacientemen-te que ela voltasse a pensar no casamento.

O que ajudava Karina a acalmar a mente era o curso de cerâmica. Lá o que importava era que ela conseguia dar forma à argila e moldá-la a seu bel-prazer. Nesta altura, era uma das poucas coisas que ela podia controlar.

A jovem já dominava o manejo do torno, e conseguira criar um belo vaso, que pensava em usar para colocar fl ores no altar budista que tinha em casa. O vaso já havia passado pelo forno e estava secando, agora só restava pintá-lo.

Chegando à casa onde fazia o curso, Karina parou para respirar fundo e afastar os pensamentos melancólicos. Agora era hora de se dedicar à pintura

da cerâmica. Ela atravessou o portão e encontrou algumas colegas. Trocou alguns cumprimentos e logo se dirigiu para a sala onde estava secando o vaso. Ela o pegou na mão, sentiu sua textura e sorriu, satisfeita com o resultado. Foi então que Karina ouviu a voz rouca do professor, chamando todos os alunos para o quintal dos fundos, pois lá é que pintariam os objetos que cada um havia criado.

No quintal, os alunos se sentaram com suas peças e ouviam atentamente as instruções do pro-fessor. Ele explicou a técnica que usariam e mostrou uma mesa cheia de pincéis, pigmentos, esmaltes que os alunos poderiam utilizar para pintar os objetos. Karina já sabia que cores usaria: azul-marinho e preto. Ela queria um vaso sóbrio, que combinasse com o altar, deixando assim o tom alegre para as fl ores do arranjo que faria.

Assim que começou a parte prática da aula, al-gumas senhoras se levantaram afobadas, com pressa para pegar o material de pintura. Nisso, uma delas acabou esbarrando no braço de Karina, fazendo com que o vaso caísse e se partisse em vários pedaços. Quando Karina viu o objeto estraçalhado, não pôde conter as lágrimas e chorou sem dizer nada. Aquele não era um vaso qualquer, era o resultado da terapia que ela havia proposto a si mesma quando resolvera fazer o curso de cerâmica. Era esse vaso que evitava com que ela pensasse no sofrimento que vivia dia-riamente desde que se recuperara da mastectomia. E agora, o vaso estava como ela: imperfeito, quebrado, feio.

O professor, ao ver a agonia de Karina e o pesar da senhora, aproximou-se e abrindo um sorriso disse:

— Agora, sim, temos um objeto singular.Os alunos olharam perplexos para o professor.

Como ele podia dizer aquilo? Não via que a garota estava sofrendo?

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Então, o professor acenou aos alunos, pedindo que se sentassem, e disse:

— Vou lhes contar uma história.

Como sabem, nasci no Japão, mas moro aqui no Brasil há muitos anos. Quando era criança, durante uma brincadeira, quebrei a tigela preferida da minha mãe. Mas, em vez de se zangar, ela ficou contente e me disse que agora aquele seria um objeto singular.

Ela então me pediu que forrasse uma mesa com jornal. Sem entender, eu obedeci. Minha mãe juntou todas as peças da tigela e colocou-as cuidadosamente sobre o jornal. Depois, ela sumiu atrás da porta do quarto de pintura que tínhamos e voltou de lá trazendo um pote com laca e outro com um pó dourado. Eu fiquei curioso, e me sentei junto à mesa com a tigela.

Enquanto ia trabalhando com seus materiais de pintura, ela me explicou que agora poderia aplicar uma técnica chamada kintsugi, que é a arte de reparar cerâmica quebrada com laca misturada a pó de ouro, prata ou platina.

O kintsugi tem semelhanças com a filosofia japonesa do wabi-sabi, que é uma visão estética centrada na aceitação da transitoriedade e da imperfeição. Isto pode ser visto como uma razão para manter um objeto mesmo que ele se quebre, destacando-se as rachaduras e os reparos, como se fossem um evento comum na vida do utensílio.

Assim, minha mãe colou todas as peças da tigela usando laca e pó de ouro, criando um novo desenho na cerâmica.

É por isso que eu digo que agora temos a oportunidade de criar um objeto singular.

Os alunos aplaudiram o professor e riram, contentes, porque agora Karina teria a chance de criar um vaso único. Logo, todos se dispersaram, voltando a se concentrar na pintura de seus próprios objetos. Karina, agora conformada, juntou os cacos do vaso e combinou com o professor que outro dia eles trabalhariam juntos, aplicando a técnica kintsugi.

O que somos hoje é a soma de todas as cicatrizes e marcas que reunimos durante a vida, sejam elas físicas ou emocionais. Esses sinais todos nos mostram que somos transitórios e imperfeitos. Hoje não somos a mesma pessoa que fomos ontem nem que seremos amanhã. E não somos perfeitos, mas podemos me-lhorar a cada dia. Assim, não nos deixemos abater pelos tropeços e quedas que levamos na vida, mas levantemo-nos, tentemos andar melhor, prestando mais atenção ao caminho e, sobretudo, confiantes em nosso objetivo final.

Foto PomaxVaso com técnica kintsugi

Mais tarde, naquele mesmo dia, já em casa, Karina começou a pensar que talvez pudesse aplicar essa mesma filosofia em sua própria vida. A cirurgia no seio lhe deixara uma cicatriz grande. Mas, além de ser resultado da terrível doença que sofrera, a marca era um lembrete de que ela sobrevivera e vencera o câncer. Pensando nisso, Karina decidiu que faria uma tatuagem aproveitando o desenho da cicatriz, dando-lhe assim novo significado e importância. E, pela primeira vez em muito tempo, a jovem conseguiu se olhar no espelho sem lágrimas nos olhos.

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Tsuito HoyoMemorial aos entes falecidos

Tradicionalmente no mês de agosto é realizado o memorial aos familiares e amigos falecidos na sede da Jodo Shinshu Shinrankai em São Paulo.

É um momento de muitas recordações dos pais, avós, irmãos, filhos e amigos que partiram desta vida e deixaram muitas saudades.

Para aqueles que perderam recentemente alguém, a dor da perda é como uma ferida aberta. Porém nenhuma ferida permanece aberta para sempre e a profunda tristeza aos poucos é substituída pela saudade e pelas lembranças.

Para aqueles que amamos, o que mais desejamos é que sejam felizes. Nenhum pai deseja que seu filho seja infeliz.

Mas o que devemos buscar para sermos felizes? Alcançar a felicidade, essa seria a melhor

Naomi Asada

forma de demonstrar gratidão aos nossos antepassados.

Há cerca de 2600 anos, Buda Sakyamuni ensinou sobre a razão de nossa existência, que é exatamente alcançarmos a verdadeira felicidade.

E, durante o evento, o professor Yamamoto nos ensinou claramente essa questão primordial da vida.

Somos engolidos na correria do dia a dia por problemas no trabalho, dificuldades de relacionamento, falta de dinheiro, doenças etc. Se enumerarmos todas as nossas aflições, terminaremos com uma lista infindável.

Por isso, no Budismo, a nossa vida é chamada de mar de sofrimento. As dificuldades aparecem uma após a outra, como as ondas do mar.

Palestra do prof. Yamamoto Público assistindo a palestra

Homenagem aos antepassadosPlacas com os nomes dos familiares

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Após a palestra no período da ma-nhã, tivemos um delicioso almoço com um prato típico japonês, o kare raisu, ou curry rice.

E, para completar nossa refeição, a barraca de doces caseiros oferecia dife-rentes pudins, bolos, canjica, dorayaki, entre outras saborosas sobremesas.

No período da tarde, o famoso bazar da Shinrankai, com diversos artigos e ótimos preços, completou o dia.

Agora o bazar é permanente, o ano todo você poderá conferir os produtos e também trazer artigos que não utiliza mais. Vamos reutilizar e promover a economia circular!

Mas o mestre Shinran nos ensina a existência de um grande navio que nos proporciona uma viagem segura e tranquila nesse mar turbulento da vida, através da seguinte frase:

"O voto imenso e inconcebível de Buda Amida é um grande navio que nos faz

atravessar o mar de sofrimento da vida"

Em outras palavras, foi ensinado que o Buda Amida, mestre de todos os budas do universo, fez uma promessa que diz "salvarei com certeza todas as pessoas para a felicidade absoluta".

Quando percebemos que mais um ano se passou (assim como este ano que já está terminando), fica uma sensação de vazio no ar. Será que busquei algo verdadeiro?

Como não há uma resposta, deixamos promessas para o próximo ano.

O mestre Shinran nos ensina que devemos concluir o objetivo da vida agora, neste momento, que é ouvir sobre a existência desse grande navio de Buda Amida e embarcar nesse

Palestra do prof. Yamamoto Homenagem aos antepassados

navio, alcançando a verdadeira felicidade. Uma vez dentro desse grande navio, por maiores que sejam as ondas de sofrimento, estaremos seguros durante a viagem.

Que não percamos um minuto sequer e ouçamos este ensinamento até a conclusão do objetivo da vida.

Fotos Fernando Fortes

Almoço e bazar

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PRECIPÍCIOPROFUNDO

CASTELOROKUJI

CAMPO DOSVENTOS

MONTANHA DA ROCHA GIGANTE

PORTALDO DESTINO

Leão Gao

Estamosaqui!

ILHA BUDISMO

Elefante Pao

ILHA BUDISMOquAndo Acontece Algo ruim,

de quem é A culpA?

isto tAmBém foi umA semente plAntAdA por mim?

resumo da históriaresumo da históriaresumo da história

Em companhia do garoto takeru, Gao e Pao Em companhia do garoto takeru, Gao e Pao Em companhia do garoto takeru, Gao e Pao Em companhia do garoto takeru, Gao e Pao Em companhia do garoto takeru, Gao e Pao Em companhia do garoto takeru, Gao e Pao tentam ir além do Portal do Destino. Numa vila tentam ir além do Portal do Destino. Numa vila tentam ir além do Portal do Destino. Numa vila tentam ir além do Portal do Destino. Numa vila tentam ir além do Portal do Destino. Numa vila tentam ir além do Portal do Destino. Numa vila

próxima, eles salvam uma mulher que sofre próxima, eles salvam uma mulher que sofre próxima, eles salvam uma mulher que sofre próxima, eles salvam uma mulher que sofre próxima, eles salvam uma mulher que sofre próxima, eles salvam uma mulher que sofre por causa do marido, mas em seu caminho por causa do marido, mas em seu caminho por causa do marido, mas em seu caminho por causa do marido, mas em seu caminho por causa do marido, mas em seu caminho por causa do marido, mas em seu caminho

são impedidos pelos fantasmas da culpa são impedidos pelos fantasmas da culpa são impedidos pelos fantasmas da culpa são impedidos pelos fantasmas da culpa são impedidos pelos fantasmas da culpa são impedidos pelos fantasmas da culpa e da acusação que controlam a vila.e da acusação que controlam a vila.e da acusação que controlam a vila.

Ouvindo o Princípio da Causalidade que ensina que tanto a felicidade como o sofrimento são consequências da semente plantada pela própria pessoa; a princípio talvez concordemos, porém a realidade é que existem muitas coisas que não conseguimos aceitar.

Por exemplo, ao morrerem passageiros num acidente de carro que aconteceu por culpa da direção irresponsável do motorista, o que acontece? todos pensam que as vítimas não fi zeram nada de errado, o culpado é o motorista.

Exatamente. Com certeza o responsável pelo acidente foi o motorista. Então, neste caso, os passageiros passaram por essa situação terrível por culpa de outrem (outros plantam e eu colho).

No Budismo ensina-se que nesse

caso também é "quem planta colhe"?

Como passaram por essa situação difícil por causa

do motorista, não seria "outro

planta e eu colho"? FANtASMA DA

ACuSAÇÃOFANtASMA DA

CuLPA

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A consequênciA difere porque A cAusA é diferente

por que eu estAvA nAquele momento, nAquele lugAr?

Se as pessoas que morreram estives-sem se concentrado na parte da frente do ônibus, poderemos dizer que a posição dos assentos foi a causa que separou os mortos dos sobreviventes.

Se estivessem sentadas nos fundos do ônibus, com certeza o destino seria diferente.

Então como foram decididos os assen-tos no ônibus?

Quando fazemos reservas no ônibus, geralmente comparamos algumas e se-guimos nossas preferências, como sentar à janela ou ao corredor. Se no dia houver bancos vazios, talvez possamos nos mudar para o lugar que quisermos. Ou pode acontecer de fazermos a reserva quando o ônibus já está lotado e só resta determina-do assento.

Além disso, as pessoas podem ter se salvado porque o cinto de segurança foi consertado um pouco antes da saída do ônibus.

Nesse ônibus havia outros passageiros além daqueles que morreram.

O Princípio da Causalidade prega que se a causa for igual, a consequência também será semelhante.

Se o único motorista fosse a causa, todos os passageiros teriam recebido a mesma consequência. Então as pessoas pensariam: "Por isso todos passaram pelo mesmo acidente". Porém, pensem melhor, apesar de passarem pelo mesmo acidente, uns morreram, outros se feriram e alguns ficaram completamente ilesos. Por que ocorreram essas diferenças no destino?

Buda Sakyamuni pregou que as con-sequências diferem porque as causas são distintas.

Afinal, o que determinou a morte ou a leveza dos ferimentos dos passageiros?

A causa disso será explicada agora.

A responsabilidade pelo acidente,

evidentemente é do motorista, porém a consequência recebida é bem diferente de um para o outro.

Isto porque a causa é bem diferente de

um para o outro.

pessoas mortas

motorista

pessoas feridaspessoas ilesas

Até haver o acidente, aconteceram todas essas

coisas.

por causa de problemas com

as transa-ções, tenho que sair às

pressas.

vou com esse

ônibus mais

barato.

quero meu assento no corredor. Hein?

já está lotado?

como fiz a reserva em

cima da hora, não posso fazer nada.

este cinto de segurança

está quebrado. Mas tudo

bem!

tAkEru

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é nAturAl o esforço pArA eliminAr A condição ruim

Pensando dessa maneira, até coisas pequenas e insignificantes como o as-sento que a gente vai ocupar uma única vez na vida estão relacionadas fortemen-te com o nosso destino. Além do mais, pode-se perceber que isso é determi-nado por uma força que não podemos enfrentar. Esta é exatamente a força cár-mica que cada um possui.

O que determinou o assento de cada um, com certeza, é o go-in (ação realiza-da no passado) da própria pessoa.

Foi uma triste "consequência" que re-sultou da junção da "causa" com a "con-dição" chamada motorista desatento.

Evidentemente, tais condições ruins, devem ser punidas rigorosamente e também devemos nos dedicar à sua erradicação.

Precisamos saber muito bem a rela-ção entre a causa e a condição ensinada no Budismo.

Pois é, vou pensar bem sobre a relação da causa com a condição.

Porém, coisas que não têm nenhuma relação com a gente jamais acontecerão.

Sim, não é à toa que se fala como é importante o esforço de acabar com os elos ruins (negativos).

Quando se ouve falar em fatos ou acidentes tristes, todos ficam igualmente desolados.

resumo dos tesouros que encontrAmos nestA edição

Para toda consequência, com certeza existe

uma causa.

As consequências diferem porque as causas são

distintas.

todas as consequências ocorrem pela junção

da causa com a condição.

Tente lembrar-se

atenta-mente de

tudo o que aconteceu até hoje.

O que é causa e o que é

condição?é impor-

tante fazer a

distinção.

Oh!takeru! socorro!

ainda não terminou!

takeru você sofre por

culpa de seus pais, não é?venha para junto de

nós.

Semente plantada no pas-

sado

condi-ção

conse-quênciA

cAusA

Quem planta colhe

Outro planta e eu colho

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Em 1954, o enka1 "A mãe do cais" se tornou hit. Ao escutar a transmissão da rádio NHK sobre a tristeza daquela mulher, o compositor Masato Fujita fi cou profundamente tocado e, tomado de inspiração, escreveu a letra em um fôlego.

A mãe que aguardava a volta do fi lho no porto de Maizuru era Ise Hashino.

Em 1944, a derrota japonesa na Guerra do Pacífi co2 era imi-nente. Ise morava com seu único fi lho, Shinji, no bairro de Ôta, em Tóquio.

— Os estudantes estão sendo convocados para a guerra. Caso permaneça no país, podem me mandar para qualquer lugar. A melhor coisa é me alistar e, assim, ir para a Manchúria3, onde é mais seguro. Deixe-me ir, mãe, não se preocupe.

E assim foi. Quando cruzou o mar, Shinji tinha 19 anos.

À espera do fi lho"A mãe do cais"

Em 15 de agosto do ano seguin-te, o Japão capitulou. Ato contínuo, iniciou o repatriamento dos seus mais de 6 milhões de soldados e civis. Bastava um navio ancorar no porto de Maizuru, no Mar do Japão, para atrair famílias de todo o país, ansiosas por rever maridos e fi lhos.

As comunicações entre Ise e Shinji foram interrompidas tempos antes, então a mãe tateava no escuro. Nas listas de tripulantes, o nome do fi lho nunca constava, mas a esperança permanecia. Sempre que um navio atracava, ela viajava de Tóquio a Maizuru e, no cais, gritava o nome de Shinji até não restar mais ninguém. E lá fi cava um longo tempo, solitária e triste. Era de fazer chorar.

O amor de Ise pelo fi lho era palpável em suas anotações.

Quando a guerra acabou, eu perambulava pela estação de Shinagawa, a mais próxima de casa, à sua procura. Então, escutei uma conversa sobre os navios, larguei tudo e fui para Maizuru.

Consegui pagar duas viagens. Isso me deixava sem dinheiro para o dia a dia, mas meu coração não fi caria em paz se permanecesse em Tóquio. Eu acreditava que seria da

próxima vez, e queria ver seu rosto o quanto antes. Então vendia meus quimonos e arcava com os custos.

Não me recordo quantas vezes fi z isso. Ele não retornava nem mandava notícias. Eu voltava para casa com um aperto no peito, levantava no meio da noite e meu instinto me guiava até a estação. Embarcava no trem para Maizuru e misteriosamente me sentia bem.

Para mim, seu retorno era uma certeza. Fantasiando esse momento, assava seu bolo favorito e saía. No cais, a multidão de sempre. Talvez ele estivesse entre os doentes e feridos. Me espremia nas primeiras fi las gritando o nome de Shinji, olhava as padiolas uma a uma e nada. Em seguida, desem-barcavam as pessoas saudáveis e, após algum tempo, não havia mais ninguém. Nada e ninguém.

Então, eu chorava.

Enquanto esperava, vieram um, dois, três anos-novos. Do começo ao fi m do ano, eu era apenas ansiedade. Perguntava do Shinji aos soldados do mesmo destacamento na União Soviética, mas ninguém sabia de nada.

Eu acreditava que ele estava vivo. Mas que houvesse alguma notícia, por favor.

Chegou a primavera, época de apreciar as cerejeiras em fl or. Para quê, se meu coração não se enternece? Nas noites estreladas,

A mãe veio onteme hoje também.Aqui neste cais,hoje também.

1. Tradicional balada popular japonesa.2. 1941-1945.3. Atual região nordeste da China.

Koichi Kimura

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De mãos dadas no caminho Os laços entre pais e filhos

de Koichi Kimurapág. 101

eu, a insone, saía de madrugada ao relento, contemplava o céu e perguntava: "Onde estiver, meu fi lho, será que também olha para essas mesmas estrelas? Responda para sua mãe, mesmo que em sonho". Monologava com o céu na esperança de que transmitisse meu recado. Retornava para a cama, onde permanecia em vigília até o raiar de um novo dia.

Quando chove sem parar no outono, fi co ansiosa e rezo para que esteja agasalhado. Quando o outono dá lugar ao inverno, me preocupo ainda mais. Como será que você está enfrentando esse frio tremendo no estrangeiro? Debaixo das cobertas, me sinto culpada e não consigo dormir.

Shinji, por que me faz chorar assim? Penso em desistir e me conformar, mas é a criança a quem dei a vida e criei.

Ele não está ferido nem morto, eu sei.

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De mãos dadas no caminho

Em setembro de 1954, Ise Hashino recebeu do Ministério da Assistência Social o atestado de óbito do fi lho. Anexado, o testemu-nho de um companheiro de armas, que afi rmara haver presenciado Shinji dizer instantes antes de morrer: "Diga a minha mãe que a amo".

Dois anos depois, recebeu novo atestado de óbito, dessa vez do governador de Tóquio. De nada adiantou: Ise seguia acreditando que o fi lho vivia. Escrevia cartas àqueles que retornavam do front e aparecia em programas de televi-são, onde apelava por notícias.

Em outubro de 2000, a desco-berta: Shinji estava vivo, morando na China. Alguns soldados, ex-prisioneiros de guerra na Sibéria, encontraram-no em Xangai.

Sua mãe estava certa.Pena que a confi rmação se deu

dezenove anos após sua morte. Ise Hashino falecera em julho de 1982, aos 81 anos.

Shinji feriu-se em uma batalha contra o exército soviético, fora capturado pelo inimigo e enviado à Sibéria. Os detalhes posteriores são desconhecidos.

Quem acredita que o outro vive quando todas as probabilida-des afi rmam o contrário? A mãe.

A devoção incondicional de Ise atravessou os mares e zelou pelo fi lho.

O evento Hoonko é um dos maiores eventos da comunidade budista.Todo ano é realizado em memória ao falecimento do mestre Shinran,

que dedicou a vida a divulgar o Budismo corretamente.

Neste ano, teremos a participação especial do professor Eishi Kodama, chefe do Setor Internacional da

Jodo Shinshu Shinrankai, que virá do Japão para o evento.

Venham participar e ouvir a resposta do mestre Shinransobre o real propósito da vida.

Convite ao evento Shinran Shonin Hoonko do Brasil

Datas: 21 (sáb) e 22 (dom) de novembro de 2015 Horário: 9:30 às 16:00

Local: Sede da Jodo Shinshu Shinrankai do BrasilMaiores detalhes: (11) 2276-8865

prof. Eishi Kodama