Bantu

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1 O Português Língua não Materna como Produto das Estruturas das L1 (Bantu) Rui Marcelino Matsimbe Cumbane (CLUL – Centro de Linguística da Universidade de Lisboa) [email protected] Introdução Consideramos que o conhecimento das causas da produção dos enunciados que sumariamente iremos apresentar é importante quer para os professores de língua Portuguesa cujos alunos são provenientes dos PALOP, assim como outros alunos cuja língua materna pertence ao grupo Bantu (uma vez que grande parte destas línguas apresenta uma estrutura similar, sendo, por isso, os dados 1 mutatis mutandis, generalizáveis para línguas do mesmo grupo), quer para o aprofundamento do conhecimento que se tem das variedades do Português em África. O termo Bantu designa uma família de línguas pertencente ao grupo Níger- Congo. Estas línguas são faladas desde o sul dos Camarões, na região sudeste da 1 Na impossibilidade de exibirmos exemplos de todas as línguas Bantu, seleccionamos o Xitshwa, língua falada no sul de Moçambique que partilha uma pequena parte do vasto leque de características exibidas pelas línguas Bantu.

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sub saharian culture

Transcript of Bantu

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    O Portugus Lngua no Materna como Produto das

    Estruturas das L1 (Bantu)

    Rui Marcelino Matsimbe Cumbane

    (CLUL Centro de Lingustica da Universidade de Lisboa)

    [email protected]

    Introduo Consideramos que o conhecimento das causas da produo dos enunciados que

    sumariamente iremos apresentar importante quer para os professores de lngua

    Portuguesa cujos alunos so provenientes dos PALOP, assim como outros alunos cuja

    lngua materna pertence ao grupo Bantu (uma vez que grande parte destas lnguas

    apresenta uma estrutura similar, sendo, por isso, os dados1 mutatis mutandis,

    generalizveis para lnguas do mesmo grupo), quer para o aprofundamento do

    conhecimento que se tem das variedades do Portugus em frica.

    O termo Bantu designa uma famlia de lnguas pertencente ao grupo Nger-

    Congo. Estas lnguas so faladas desde o sul dos Camares, na regio sudeste da

    1

    Na impossibilidade de exibirmos exemplos de todas as lnguas Bantu, seleccionamos o Xitshwa, lngua falada no sul de

    Moambique que partilha uma pequena parte do vasto leque de caractersticas exibidas pelas lnguas Bantu.

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    Nigria perto da fronteira com os Camares, Gabo, Repblica do Congo, Repblica

    Democrtica do Congo, Uganda, Qunia, Tanznia, Angola, Zmbia, Malawi,

    Moambique, Zimbabu, Nambia, Botswana, Suazilndia e frica do Sul. Esta famlia

    lingustica, como o demonstra o mapa abaixo, a maior de todo o continente africano,

    com cerca de 310 milhes de falantes. O nmero total destas lnguas difcil de definir,

    havendo estimativas dspares que avanam nmeros entre 300 - 600 (as menos

    optimistas) e as 1500 - 2000 (as mais optimistas). Vrios estudos confirmam que o

    termo Bantu foi primeiramente usado por Wilhelm Heinrich Immanuel Bleek (1827-

    1875) e significa pessoas2, sendo que o singular ntu e usado em todas as lnguas

    Bantu para significar pessoa.

    Principais lnguas Bantu (a vermelho). Fonte: MSU (Michigan State University African StudiesCentre)

    Em pleno sculo XXI poucas lnguas Bantu apresentam gramticas

    completamente sistematizadas. As solues para colmatar este atraso inqualificvel

    2 Da o emprego da expresso lnguas bantas, frequente nalguns estudos, poder parecer redundante.

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    encontram-se num estado embrionrio. Os esforos para o ensino das lnguas nacionais

    africanas esbarram em inmeros obstculos, sendo assim previsvel que as lnguas das

    ex-potncias coloniais subsistam por muitos sculos como lnguas de prestgio, contudo,

    parece certo que as variedades africanas se vo distanciando progressivamente das

    europeias. Historicamente, a colonizao que durou 5 sculos afectou seriamente a

    evoluo lingustica, ao encetar, atravs de polticas de assimilao, um processo de

    marginalizao sistemtica das lnguas autctones, enfraquecendo-as na veiculao da

    cultura e da cincia e relegando-as para o plano familiar e cerimnias mgico-religiosas.

    Como se depreende pelo mapa, o continente africano constitudo por estados

    pluri-tnicos e multilingues em que razes histricas determinaram que as lnguas

    oficiais no fossem as lnguas maternas da maioria dos africanos, mas sim as lnguas

    das ex-potncias coloniais, nomeadamente Frana, Inglaterra e Portugal. No caso

    vertente dos PALOP, a Lngua Portuguesa a ponte entre os diferentes povos que

    constituem os pases. De facto, os dados mostram-nos pases heterogneos, constitudos

    por vrias etnias e subsequentes subdivises, todas com diferentes lnguas, culturas,

    valores, tradies. No obstante a administrao colonial portuguesa preconizar a

    eliminao das tradies dos PALOP, dada a sua incapacidade em administrar a

    totalidade dos territrios, a transmisso do conhecimento de gerao em gerao por via

    oral decorreu uniformemente nas zonas rurais at que a sucesso de vrios factores,

    nomeadamente, os conflitos blicos, a inexistncia de quadros habilitados para o ensino

    das lnguas locais; as epidemias que ceifam quadros especializados, a fome e as

    calamidades naturais abriram profundas brechas na escala natural da vida, ceifando os

    detentores da sabedoria os mais velhos e outros estratos vulnerveis. Estes factores

    e as eternas e sensveis questes de ordem sociolingustica e poltica tornam a tarefa do

    desenvolvimento e do ensino abrangente e sistemtico das lnguas nacionais Bantu, nas

    escolas africanas, um desgnio quase virtual.

    Sintaxe

    A ordem linear comum nas lnguas Bantu SVO e exibem positivamente o

    parmetro de sujeito nulo, i.e., quando apagado, o sujeito recupervel atravs de um

    morfema que o controla a partir do verbo, equiparvel desinncia de nmero dos

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    verbos do Portugus. Este morfema, em lingustica Bantu, designado prefixo verbal ou

    controlador de sujeito (CS), e encerra traos de nmero, gnero ontolgico e classe

    nominal a que pertence o nome. Nos exemplos de (1a-b), ocorre, em posio ps-verbal,

    pela ausncia de preposio a reger o objecto indirecto, unicamente a estrutura [V DP3

    DP] o que torna incongruentes as designaes objecto directo e objecto indirecto que,

    para as lnguas Bantu, convencionmos chamar O1 e O2, respectivamente:

    [Xitshwa]

    (1a) Paulo (S) inyikele (V) amakabwe (O1) ambuti (O2).

    Paulo ofereceu irmo (O1) cabrito (O2)

    O Paulo ofereceu cabrito irmo.4

    (b) Paulo (S) inyikile (V) ambuti (O2) amakabwe (O1).

    Paulo ofereceu cabrito (O2) irmo (O1)

    O Paulo ofereceu cabrito irmo.

    Os enunciados acima exibem a ordem linear SVO, com dois objectos sucessivos

    ps-verbais. Estas construes de duplo objecto devem-se capacidade de

    subcategorizao de objectos por parte do verbo. O exemplo de (1a) uma construo

    tpica de duplo objecto em que o O1 um argumento [+ humano] e O2 um argumento

    [ humano]. No entanto, este tipo de construo no se satura neste exemplo. A

    construo de (1b) na qual a disposio daqueles argumentos ocorre revertida tambm

    possvel. Em ambos os contextos brevemente descritos, a semntica de ambas as

    variantes a mesma.

    Esquematicamente, essas construes, na voz activa, apresentam as seguintes

    variaes estruturais: [DP05 V-0/APL/CAUS6 DP1 DP2] e [DP0 V-0/APL/CAUS DP2 DP1].

    As concomitantes estruturas passivas apresentam as seguintes estruturas [S (DP1 = OD)

    V-Pass DP2 PP (SUJ)]/*[S(DP2 = OI) V-Pass DP1 PP (SUJ)]. Estas variveis sintcticas

    3 O mesmo que SN, Grupo Nominal. 4 Os artigos no ocorrem nas lnguas Bantu. 5 DP0, o mesmo que Sujeito. 6 Extenses verbais que potenciam construes no marcadas (0), aplicativas, causativas, etc.

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    associam-se aos factores eminentemente semnticos que caracterizam os objectos 1 e 2,

    nomeadamente, o facto de serem ou no [+ humano], [+ animado] ou [- animado]7.

    Assumimos igualmente que a ocorrncia de um morfema aplicativo (APL) [-il-/-

    elil-/-elel-]8 no interior dos verbos ditransitivos das lnguas Bantu potencia a seleco de

    estruturas de duplo objecto atravs do aumento da valncia do verbo9. No entanto, uma

    estrutura desse tipo passvel de ocorrer em determinadas condies com um morfema

    zero.

    Relativamente atribuio de Caso aos DPs em enunciados activos, como

    tradio em Lingustica Bantu, adoptamos a proposta de Baker (1988b). Nas frases

    activas das lnguas simtricas10 (independentemente da ordem dos objectos), o verbo

    atribui Caso estrutural a ambos os seus argumentos internos (objecto directo e objecto

    indirecto).

    De uma maneira geral, na construo passiva das lnguas Bantu, o verbo retm a

    capacidade de atribuir Caso estrutural a ambos os objectos, sendo que o morfema

    passivo pode absorver um dos Casos. Assim, o morfema passivo absorve o Caso que

    seria atribudo ao DP deslocado para a posio de sujeito passivo, desse modo, esse DP

    no recebe nenhum Caso na posio ps-verbal e forado a mover-se para a posio

    de sujeito para adquirir Caso nominativo. O segundo DP, caso seja [+humano/

    animado], marcado pelo Caso estrutural dativo pelo verbo passivo como se estivesse

    numa construo activa em que o verbo atribui Caso dativo. Se este DP for [-animado],

    ento, marcado pelo Caso acusativo.

    O facto de esta lngua pertencer ao grupo das lnguas Bantu simtricas11, sem

    constrangimentos ocorrncia das estruturas referidas acima, a razo, entre outras,

    que se aponta para a alternncia dos objectos e tambm para a produo de frases 7 Dado carcter divulgativo deste artigo reduzimos as hipteses de combinao dos objectos s frases em que o objecto directo [-animado] e o indirecto [+animado]. 8 Este morfema varia fonologicamente de lngua para lngua. 9

    No entanto, fica do mesmo modo assente que uma estrutura de duplo objecto passvel de ocorrer em determinadas em determinadas lnguas com um morfema zero. 10 11 Em oposio s lnguas assimtricas, que no permitem as operaes mencionadas ao longo deste texto. O Portugus comporta-se como uma lngua assimtrica. Em princpio, os falantes das lnguas Bantu assimtricas apresentam menos desvios na aprendizagem do Portugus, dada a parecena de estruturas sintcticas.

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    passivas que admitem a deslocao para a posio de sujeito de ambos os argumentos

    internos do verbo. A construo de duplo objecto estruturalmente semelhante a de

    dative shift que ocorre com alguns tipos de verbos do Ingls (em Xitshwa e na maioria

    das lnguas Bantu ocorre com todos os verbos ditransitivos).

    Matria

    A associao das estruturas sintcticas aos factores semnticos j referidos

    origina uma profuso de enunciados complexos, alguns de difcil computao que, por

    sua vez so transferidos para o Portugus lngua no materna/materna12, na maioria dos

    casos, por falantes com baixa instruo e por consequncia, sem conhecimentos slidos

    do Portugus padro, grupo a que corresponde a grande maioria dos africanos residentes

    nos ghettos das grandes cidades portuguesas. Seja como for, existe um segmento de

    falantes, grosso modo, com elevada instruo ou simplesmente bem formados e

    integrados, que a par de um bom desempenho na sua lngua materna Bantu, igualmente

    dominam o Portugus padro. Factores sociolingusticos, como, por exemplo, o facto de

    os falantes cultos, em alguns contextos, serem obrigados a errar para serem entendidos,

    podem explicar o decalque das estruturas das lnguas maternas sobre o Portugus e o

    uso simultneo das variedades do Portugus africano e do Portugus padro. A outra

    possibilidade pode ter a ver apenas com a pura oscilao entre as duas possibilidades

    estruturais em co-habitao na marginal comunidade lingustica.

    Abstraindo de aspectos igualmente relevantes como a rica fonologia destas

    lnguas, damos brevemente a conhecer estruturas produtivas a nvel frsico, bem como

    uma vista geral das consequncias derivadas do seu uso em situaes de comunicao

    pelos falantes das lnguas Bantu. Assim, estas lnguas, em princpio, apresentaro as

    seguintes ordens argumentais bsicas:

    [DP0-Suj + V + DP1 (Objecto indirecto) + DP2 (Objecto directo) + Oblquo(s)]

    [DP0-Suj + V + DP2 (Objecto directo) + DP1 (Objecto indirecto) + Oblquo(s)]

    12 Partimos do princpio de que o Portugus designado lngua materna dos PALOP apresenta um conjunto de caractersticas que o diferenciam da variedade europeia padro.

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    As estruturas acima captam a configurao sintctica das frases bsicas das

    lnguas Bantu, maioritariamente SVO. Estas lnguas podem ser classificadas em

    simtricas ou assimtricas consoante as caractersticas que resumidamente

    apresentamos:

    (i) admitem alternncia de posies entre os objectos, como se em Portugus

    fosse gramaticalmente correcto produzir as frases de (2) e (3)13:

    (2a) Joo irhumele Maria papilo.

    [Traduo literal]

    (b) *O Joo enviou Maria uma carta.

    e

    (3a) Joo irhumele papilo Maria.

    [Traduo literal]

    (b) *O Joo enviou carta Maria.

    (ii) admitem a deslocao de ambos os objectos para a posio de sujeito

    passivo:

    (4a) Maria irhumelwe papilo hi Joo.

    [Traduo literal]

    (b) *Maria foi enviada carta pelo Joo

    (5a) Papilo girhumelelwe Maria hi Joo.

    [Traduo literal]

    (b) *Carta foi enviada Maria pelo Joo.

    13 Cf. construes do Ingls: (1) John sent a letter to Mary. (2) John sent Mary a letter (3) *John sent a letter Mary.

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    A estrutura de duplo objecto acarreta problemas srios quando os falantes cuja

    primeira lngua Bantu, falam o Portugus como segunda lngua. Estes falantes, ao

    sobrepor a estrutura sintctica da sua lngua materna sobre o Portugus (lngua segunda)

    produzem enunciados atpicos (2b), (3b), (4b) e (5b) na ptica da sintaxe do Portugus

    padro. Em termos gerais, essa estranhesa originada, por um lado, pelo apagamento da

    preposio inexistente em parte considervel dessas lnguas nessa estrutura

    argumental14 - mas obrigatria nas estruturas do Portugus e, por outro, pela livre

    alternncia dos objectos no interior dessa mesma estrutura.

    Esta construo deve-se ausncia de preposio a reger o chamado objecto

    indirecto15 que, de acordo com a nomenclatura da Lingustica Bantu, ser designado

    sintacticamente como objecto 116 (O1) e, semntica e lexicalmente, como Beneficirio o

    que provoca modificao nos mecanismos de atribuio de Caso e adjacncia dos

    objectos no verbo17.

    Em Portugus, os verbos ditransitivos como dar, seleccionam apenas a estrutura

    ditransitiva com objecto indirecto preposicionado.

    Ex:

    (6) O Joo ofereceu uma bola ao primo.

    Esta estrutura e a de duplo objecto so sintactica e semanticamente diferentes,

    Larson (1988), Bresnan (2001), entre outros. A maioria das lnguas Bantu apresenta

    unicamente uma nica estrutura na qual tanto o Beneficirio18 como o Tema/ Paciente

    so marcados pelo Caso acusativo sem a preposio que em Portugus introduz o

    objecto indirecto. Quanto a questes de interpretao das estruturas argumentais 14 Estrutura argumental designa a relao de correspondncia que se estabelece entre os argumentos seleccionados por um predicador e a posio que ocupam na estrutura sintctica. 15 De acordo com Mateus et al. (1987:165) o objecto indirecto representa a relao gramatical do argumento interno de verbos de dois ou trs lugares que tem, tipicamente, a funo semntica de Recipiente ou Origem. Nas frases bsicas, o objecto indirecto constituinte imediato de um SP que n-irmo direita do constituinte com a relao gramatical de objecto directo ou do verbo. 16 Assim denominado por ser o que privilegiado na adjacncia ao verbo ditransitivo. 17 De acordo com Moskey (1979:63) os verbos benefactivos so aqueles que esto relacionados com ganho, perda ou tranferncia de propriedade [material ou imaterial] e que seleccionam um Caso Beneficirio referente pessoa [+ animado] que possui ou perde algo. Pertencem a este grupo os verbos estativos como pertencer; os processuais como ganhar e os accionais como dar, estando excludos os verbos como dar ou agradar uma vez que seleccionam um Experienciador. 18 Os objectos indirectos so usualmente Alvo/ Destinatrio, confundindo-se, por vezes, com o Beneficirio. i. Ele comprou um livro ao Pedro. (Alvo/Destinatrio) ii. Ele comprou um livro para o Pedro. (Beneficirio)

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    frequentes, em que um dos objectos [+animado] e o outro [-animado], entende-se

    que o primeiro sempre Beneficirio (objecto indirecto) e o segundo o Tema/

    Paciente (objecto directo) (7a-b). Nos enunciados pouco frequentes, em que o grau de

    animacidade dos objectos emparelha, o objecto adjacente ao verbo considerado

    Beneficirio (objecto indirecto), sendo o restante, o objecto directo:

    [DP0 + V + DP1-BEN +DP2-TEMA + (OBLfac)] = F

    (7a) Paulo i-nyik-el-e (V) amakabwe (O1) ambuti (O2).

    Paulo CS-dar-APL-VF irmo (O1) cabrito (O2)

    O Paulo ofereceu cabrito irmo.

    [DP0 + V + DP2-TEMA +DP1-BEN + (OBLfac)] = F

    (7b) Paulo i-nyik-el-e (V) ambuti (O2) amakabwe (O1).

    Paulo CS-dar-APL-VF cabrito (O2) irmo (O1)

    O Paulo ofereceu cabrito irmo.

    Neste contexto, uma das grandes diferenas entre o Xitshwa (e generalidade das

    lnguas Bantu simtricas) e o Portugus Europeu consiste no facto de a primeira lngua,

    em enunciados ditransitivos, admitir a configurao [DP0 + V + DP1 + DP2], estrutura

    impossvel em Portugus Europeu, pois seria equivalente a frases do tipo das que se

    seguem:

    [DP0 + V + DP1 [- HUM] + DP2 [+ HUM]

    (8a) *O Joo ofereceu lpis irmo.

    Joo i-nyik-el-e lapi makabze.

    Joo CS-dar-APL-PAS/VF

    ou

    *[DP0 + V + DP1 [+ HUM] + DP2 [- HUM]

    (b) *O Joo ofereceu irmo lpis.

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    Joo i-nyik-il-e makabze lapi.

    Joo CS-dar-APL-VF irmo lpis

    Na sequncia do que foi apresentado, nenhuma das configuraes hipotticas

    que se seguem exibe uma estrutura de duplo objecto em Portugus Europeu padro:

    [DP0 + V + DP a-DP], [DP0 + V + DP por-DP] e [DP0 + V + DP Frase completiva].

    Em relao construo passiva, as estruturas das lnguas Bantu (neste caso o

    Xitshwa) repercutem-se na expresso dos falantes quando usam o Portugus como

    lngua no materna o que leva produo de enunciados passivos estranhos ao

    Portugus padro:

    [Activa]

    (9a) Joo i-nyik-el-e makabze lapi.

    Joo CS-dar-APL-VF irmo lpis

    *O Joo ofereceu irmo lpis.

    [Passiva]

    (b) Makabze i-nyik-el-w-e lapi hi Joo.

    Irmo CS-dar-APL-PASS-VF lpis por Joo

    *O irmo foi oferecido lpis pelo Joo.

    [Activa]

    (10a) Joo i-nyik-el-e lapi makabze.

    Joo CS-dar-APL-VF lpis irmo

    *O Joo ofereceu lpis irmo.

    [Passiva]

    (b) Amugondzi i-nyik-il-w-e buku hi mugondzisi.

    Professor CS-dar-APL-PASS-VF livro por professor

    *O aluno foi dado um livro pelo professor. [Activa]

    (11a) A me telefonou [a um mdico]OI.

    [Passiva]

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    (b) *Um mdico foi telefonado (pela me).

    Em (9b), (10b), (11a) e (11b) os constituintes o Joo, o aluno, a me e um

    mdico que, na construo activa desempenham a funo gramatical de objecto

    indirecto, ocupam na passiva a posio de Sujeito originando a sua agramaticalidade.

    Partilham, portanto, a mesma propriedade estrutural deslocao do DP-objecto

    indirecto para a posio de Sujeito. Uma vez que devido morfologia passiva o verbo

    deixa de atribuir Caso acusativo, admitir-se-ia que a agramaticalidade de (9b) e (10b) se

    deve ao facto de os DPs-objecto directo, lpis e um livro, no poderem receber Caso

    estrutural do verbo. No entanto, em (11b) com o verbo intransitivo telefonar, no se

    pode invocar o mesmo argumento visto que no existe neste enunciado nenhum DP que

    deixe de receber Caso acusativo por causa da morfologia passiva. A inexistncia do

    movimento dativo nas construes de duplo objecto e na construo passiva

    consequncia de requisitos especficos que regulam a atribuio de Caso ao DP-objecto

    indirecto, e pode igualmente derivar das propriedades dos verbos e das preposies

    como atribuidores de Caso, cf. Gonalves (1990).

    Uma das solues que propomos neste trabalho passaria, segundo o nosso ponto

    de vista, pela definio de polticas lingusticas consequentes; pela insero nos

    manuais dos professores de Portugus de seces dedicadas s estruturas bsicas das

    lnguas Bantu e suas repercusses sobre o Portugus lngua no materna, bem como de

    seces dedicadas influncia da lngua no materna (Portugus) sobre a L1 (Bantu);

    pelo incremento dos estudos sobre a influncia mtua que as estruturas exercem e pela

    criao de um centro especializado em Lingustica Bantu em Portugal, facto que

    tradio nalguns pases europeus.

    Repercusses no Portugus lngua no materna

    Relativamente ao Portugus Europeu, trata-se de uma lngua que, como j o

    referimos, no uma lngua de duplo objecto. Muitas lnguas romnicas comportam-se

    como o Portugus relativamente a este aspecto:

    (12a) O Pedro ofereceu um jantar ao amigo.

    (b) O Pedro ofereceu ao amigo um jantar.

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    (c) *O Pedro ofereceu um jantar amigo.

    (d) *O Pedro ofereceu amigo jantar.

    (e) *O Pedro ofereceu jantar amigo.

    Em Portugus, o Beneficirio tem de ser obrigatoriamente marcado pela

    preposio a. A ordem linear confirma os factos, o argumento Tema aparece adjacente

    ao verbo, imediatamente antes do argumento Beneficirio. Como visto, apesar desta

    uniformidade no comportamento dos objectos, casos em que a ordem inversa so

    possveis (12b). Portanto, em Portugus, o Beneficirio pode preceder o Tema, assim

    como o Tema pode preceder ao Beneficirio, desde que em ambos os casos o

    Beneficirio seja regido pela preposio a. Note-se, no entanto, que os enunciados onde

    formos uma construo de duplo objecto resultaram agramaticais (12c, d, e). As

    lnguas romnicas como o Italiano e o Francs tambm se comportam da mesma forma

    Tendo em vista o estudo das repercusses da estrutura de duplo objecto das

    lnguas Bantu em geral e do Xitshwa, em particular, no Portugus quando falado como

    lngua no materna, baseamo-nos no pressuposto lanado por Gonalves (1998), quando

    sugere que identifica uma mudana paramtrica no sistema de marcao casual do

    Portugus Europeu, com mltiplos efeitos sobre a sintaxe e sobre o lxico desta lngua.

    Considera que caso tal mudana no tivesse ocorrido, no seriam possveis, ou seriam

    menos provveis, as modificaes das propriedades lexicais de verbos do Portugus

    Europeu que seleccionam complementos directos e indirectos, etc. Tomando em linha

    de conta este raciocnio, prope-se como cruciais para o comportamento anmalo das

    estruturas que envolvem verbos ditransitivos do Portugus lngua no materna, trs

    alteraes paramtricas importantes s quais os professores de Portugus devem prestar

    particular ateno:

    i. inexistncia de preposio [a] a reger o objecto indirecto em Xitshwa (e

    lnguas Bantu similares) e consequente apagamento dessa categoria no

    Portugus lngua no materna provocando uma mudana sintctica nesta

    segunda lngua;

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    ii. sobrevalorizao do factor [+ humano/+ animado] na aparente forte

    adjacncia do objecto a V, fenmeno semntico que se transforma em

    sintctico quando transposto para o Portugus lngua no materna;

    iii. uso indiscriminado pelo mesmo falante, quer da norma padro do portugus,

    quer da variedade do Portugus africano, estando subjacente a este

    procedimento o que Nemser (1974:55) citado em Gonalves (1998) designa

    sistema aproximativo, que o sistema lingustico desviante empregue pelo

    aprendente ao tentar apropriar-se da lngua-alvo. Este sistema varia em

    funo do nvel de proficincia do aprendente, da sua experincia de

    aprendizagem, a funo de comunicao, caractersticas pessoais, bem como

    as suas motivaes, o grau de parecenas entre as lnguas em causa, tipos de

    exposio lngua disponveis, etc., cf. Towell & Hawkins (1994:246). A

    este respeito, Slobin (1977:198) sustenta que em situaes de bilinguismo/

    multilinguismo, dada a impossibilidade de manter sistemas lingusticos

    diferentes em coabitao, os falantes procuram uma convergncia gramatical

    entre as lnguas em questo. Segundo Gonalves (1998:25), este contexto

    multilingue ocorre, por exemplo, em Moambique, pelo facto de existirem

    situaes em que os falantes utilizam duas ou mais lnguas Bantu para

    comunicar. Lakshmanan (1994:10) refere que os aprendentes de uma L2

    podem estar expostos a enunciados agramaticais dos seus companheiros,

    sendo que esses enunciados agramaticais podem tambm caracterizar o

    discurso dos falantes nativos da L2, sobretudo quando por razes de

    comunicao fcil com o aprendente da L2 os nativos so obrigados a errar.

    Estes factos levam a que os falantes que dispem de fracos recursos lingusticos

    do Portugus sobreponham as estruturas da L1 sobre a L2, gerando importantes

    problemas sintcticos, j discutidos.

    A questo da ausncia de construes de duplo objecto em Portugus Europeu,

    tambm j explorada anteriormente, parece relevar do facto de a preposio fornecer

    informao semntica relevante, i.e., indispensvel para a semntica do enunciado.

    Porm, Larson (1988) apresenta outra explicao, de acordo com a qual, o facto de

    lnguas como o Portugus no admitirem o apagamento da preposio (em oposio ao

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    Ingls), explica-se pelo facto de a preposio do Ingls atribuir Caso objectivo, o que

    permite que seja apagada e reanalizada com o verbo, que atribui Caso objectivo.

    Tomando como exemplo a frase que repetimos como (13), verificmos que os

    falantes do Xitshwa que tm o Portugus como lngua no materna vo transpor a

    estrutura da sua lngua materna para a segunda, privilegiando, por um lado, em frases

    bsicas, a adjacncia do argumento O1 ao verbo (13b), construindo estruturas quase-

    prximas do Portugus Europeu, mas sem preposio a reger O1 (13c); e por outro,

    construindo estruturas coincidentes com as do Portugus Europeu (13d). Na construo

    passiva, sem descurar a passiva do Portugus Europeu (13e), os falantes em causa

    preferem a passiva dativa (13f):

    (13a) Joo inyikile (V) Maria (OI [+humano]) male (OD[-humano]).

    Joo ofereceu Maria dinheiro

    O Joo ofereceu dinheiro () Maria.

    (b) O Joo ofereceu Maria dinheiro.

    (c) O Joo ofereceu dinheiro Maria.

    (d) O Joo ofereceu dinheiro Maria.

    (e) O dinheiro foi oferecido Maria pelo Joo.

    (f) A Maria foi oferecida dinheiro pelo Joo.

    Concluso

    Esto em curso mudanas profundas em curso no Portugus lngua no materna.

    Essas alteraes desencadeiam um feixe de mltiplos efeitos de superfcie excludos

    pela norma padro do Portugus Europeu, sendo importante que os professores de

    Portugus estejam vigilantes quer para a identificao das estruturas da L1, quer para a

    sua correco construtiva, dando a conhecer ao aluno as diferenas marcantes entre as

    estruturas da L1 e as estruturas da lngua no materna.

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    As nossas concluses confirmam e tornam actual a constatao de Gonalves

    (1998:1) quando afirma que a interaco do Portugus com lnguas de tipo muito

    distinto, as lnguas Bantu, contribui fortemente para o desencadeamento quer de

    fenmenos de flutuao entre diversas opes gramaticais, quer mesmo de casos de

    mudana lingustica, em que certas formas tendem a prevalecer sobre outras com as

    quais competem e alternam.

    O estudo destes e de outros problemas, alm de contribuir para o conhecimento

    cada vez mais aprofundado das lnguas Bantu, melhora o conhecimento que se tem do

    Portugus Europeu e abre caminho para a criao de instrumentos pedaggicos

    adequados quer para o ensino das lnguas Bantu como Lngua materna, quer para o

    ensino do Portugus como L2/Lngua no materna a estes falantes.

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