Barragem subterrânea: garantia de alimento para as famílias agricultoras

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Pernambuco Ano 6 | nº 968 | Novembro | 2012 Afogados da Ingazeira - PE Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Barragem subterrânea: garantia de alimento para as famílias agricultoras 1 Barragem do agricultor foi construída em 2010 pelo P1+2 Os dias para o agricultor Denílson de Souza Cardoso, 40 anos, são longos. E nada fáceis. Morador da comunidade de Serrinha, em Afogados da Ingazeira, no Sertão do Pajeú de Pernambuco, Denílson levanta, pontualmente, às 5h. Às 5h30, se desloca até uma pedreira próxima a sua propriedade, onde cumpre uma jornada de 8h diárias de trabalho, quase sempre sob forte calor e um sol escaldante. Depois de um dia exaustivo, ainda precisa enfrentar uma nova maratona: gasta mais duas horas para pegar água na Barragem de Serrinha, localizada a cerca de três quilômetros da sua casa. Uma “viagem” feita, todos os dias, em carro de boi. È com essa água que o agricultor mantém viva sua produção de frutas, hortaliças, mandioca e macaxeira, conquistada graças à construção de uma barragem subterrânea pelo Projeto Uma Terra e Duas Águas (P1+2), gerenciado pela Articulação no Semiárido pernambucano (ASA-PE), e executado pela Diaconia. Em virtude da maior seca registrada no Nordeste nos últimos 47 anos, a barragem subterrânea do seu Denílson não tem, hoje, água para regar a plantação. Mesmo assim, o agricultor vem conseguindo preservar os pés de acerola, banana, coco, goiaba, manga, mamão, laranja e cana de açúcar que plantou, de 2010 para cá, quando foi contemplado com a tecnologia de convivência com o Semiárido. Seu Denílson conta que em 2011, quando a chuva não deixou de cair na região, a produção na barragem garantiu alimentos para toda a família, o ano todo. Não faltaram frutas, hortaliças e raízes na mesa do agricultor, da sua esposa, Edvânia de Alves Rodrigues, e do casal de filhos, Alan Cardoso e Alane Cardoso. Durante 12 meses, ele também não precisou cumprir a rotina de buscar água na Barragem de Serrinha. Através da barragem subterrânea, tinha água para empregar na plantação e, em casa, utilizava a água da cisterna de 16 mil litros que a Diaconia ajudou a construir. Duas horas a menos de desgaste, físico e emocional, a cada dia. Seca comprometeu o armazenamento de água na barragem

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Pernambuco

Ano 6 | nº 968 | Novembro | 2012Afogados da Ingazeira - PE

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Barragem subterrânea: garantia de alimento para as famílias agricultoras

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Barragem do agricultor foi construída em 2010 pelo P1+2

Os dias para o agricultor Denílson de Souza Cardoso, 40 anos, são longos. E nada fáceis. Morador da comunidade de Serrinha, em Afogados da Ingazeira, no Sertão do Pajeú de P e r n a m b u c o , D e n í l s o n l e v a n t a , pontualmente, às 5h. Às 5h30, se desloca até uma pedreira próxima a sua propriedade, onde cumpre uma jornada de 8h diárias de trabalho, quase sempre sob forte calor e um sol escaldante. Depois de um dia exaustivo, ainda precisa enfrentar uma nova maratona: gasta mais duas horas para pegar água na Barragem de Serrinha, localizada a cerca de três quilômetros da sua casa. Uma “viagem” feita, todos os dias, em carro de boi. È com essa água que o agricultor mantém viva sua produção de frutas, hortaliças, mandioca e macaxeira, conquistada graças à construção de uma barragem subterrânea pelo Projeto Uma Terra e Duas Águas (P1+2), gerenciado pela Articulação no Semiárido pernambucano (ASA-PE), e executado pela Diaconia.

Em virtude da maior seca registrada no Nordeste nos últimos 47 anos, a barragem subterrânea do seu Denílson não tem, hoje, água para regar a plantação. Mesmo assim, o agricultor vem conseguindo preservar os pés de acerola, banana, coco, goiaba, manga, mamão, laranja e cana de açúcar que plantou, de 2010 para cá, quando foi contemplado com a tecnologia de convivência com o Semiárido. Seu Denílson conta que em 2011, quando a chuva não deixou de cair na região, a produção na barragem garantiu alimentos para toda a

família, o ano todo. Não faltaram frutas, hortaliças e raízes na mesa do agricultor, da sua esposa, Edvânia de Alves Rodrigues, e do casal de filhos, Alan Cardoso e Alane Cardoso. Durante 12 meses, ele também não precisou cumprir a rotina de buscar água na Barragem de Serrinha. Através da barragem subterrânea, tinha água para empregar na plantação e, em casa, utilizava a água da cisterna de 16 mil litros que a Diaconia ajudou a construir. Duas horas a menos de desgaste, físico e emocional, a cada dia.

Seca comprometeu o armazenamento de água na barragem

“Tivemos uma seca muito feia em 1993, mas, igual a essa, nunca vi. Pegou toda a região”, observa o agricultor, que espera por dias melhores para, novamente, poder abandonar a rotina de viagens em busca de água. Além de plantar para consumo próprio, assim que a chuva voltar a cair, seu Denílson também espera ampliar a produção e poder comercializá-la nas feiras dos municípios vizinhos. Seu sonho é largar a vida na pedreira. “Se essa ideia vingar, deixo o trabalho na pedreira na hora. Lá, é muito desgastante”, conta.

Mesmo com a dura rotina, o agricultor diz nunca ter pensado em sair de Afogados da Ingazeira. “Não quero sair daqui. Quero, apenas, ter água para a vida ficar melhor”, afirma, destacando que isso é apenas uma questão de tempo. “Já tenho a barragem. Agora, é só esperar a chuva voltar a cair para acabar com o sacrifício”, finalizou.

Tecnologia - A barragem subterrânea é uma tecnologia alternativa de captação e armazenamento da água de chuva no interior do solo. Ela é instalada em um ponto estratégico do terreno, de preferência arenoso, onde escorre o maior volume de água no momento da chuva. Sua construção é fe i ta escavando-se uma vala perpendicular ao sentido da descida das águas até a profundidade onde se encontra a camada mais endurecida do solo.

Dentro da vala, é colocada uma lona impermeável por toda a extensão da

parede, que barra o escorrimento da água da chuva e provoca a sua infiltração no solo, o que reduz a evaporação. Desta forma, cria-se uma vazante artificial onde a umidade do solo se mantém por longo tempo. O tamanho e tempo de construção da barragem variam de acordo com o terreno e a forma de escavação (manual/máquina). A do seu Denílson, por exemplo, possui 70 metros de comprimento e três de profundidade. Foi construída em pouco mais de 15 dias.

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Pernambuco

Agricultor planeja comercializar a produção

Seu Denílson aguarda com ansiedade o retorno das chuvas

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