BARRAGENS QUE SE ROMPERAM NO ESTADO DA PARAÍBA EM...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS BARRAGENS QUE SE ROMPERAM NO ESTADO DA PARAÍBA EM 2011 DIEGO NUNES VALADARES João Pessoa 2011

Transcript of BARRAGENS QUE SE ROMPERAM NO ESTADO DA PARAÍBA EM...

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA

DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS

BARRAGENS QUE SE ROMPERAM NO ESTADO DA

PARAÍBA EM 2011

DIEGO NUNES VALADARES

João Pessoa

2011

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DIEGO NUNES VALADARES

BARRAGENS QUE SE ROMPERAM NO ESTADO DA PARAÍBA EM 2011

João Pessoa

2011

3

VALADARES, Diego Nunes.

BARRAGENS QUE SE ROMPERAM NO ESTADO DA PARAÍBA EM

2011

VALADARES, Diego Nunes. João Pessoa: UFPB,

2011.

48p.

Monografia (Graduação em Geografia) Centro de

Ciências Exatas e da Natureza – Universidade Federal

da Paraíba.

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DIEGO NUNES VALADARES

BARRAGENS QUE SE ROMPERAM NO ESTADO DA PARAÍBA EM 2011

Monografia apresentada à Coordenação do

Curso de Geografia da Universidade

Federal da Paraíba, para obtenção do grau

de bacharel no curso de Geografia.

Orientador: Prof. Ms. Paulo Roberto de Oliveira Rosa

Co-orientador: Geógrafa Fransuelda Viera de Farias

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA

DGEOC

DIEGO NUNES VALADARES

BARRAGENS QUE SE ROMPERAM NO ESTADO DA PARAÍBA EM 2011

Aprovada em:_____/_____/_____

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BARRAGENS QUE SE ROMPERAM NO ESTADO DA PARAÍBA EM 2011

BANCA EXAMINADORA

______________________________________

Prof. Ms. Paulo Roberto de Oliveira Rosa

Orientador

________________________________________

Prof. Msc. Maria Odete

Professora da FIP – Faculdades Integradas de Patos

Examinador

________________________________________

Prof. Msc. Pablo Rodrigues Rosa

Professor da FIP - Faculdades Integradas de Patos

Examinador Convidado

João Pessoa

2011

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Dedicatória

A minha filha Júlia, o “divisor de águas” na minha vida...

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente aos meus pais, Fernando e Tânia, que sempre me impulsionaram para

vencer na vida, e que me motivam todos os dias a conquistar as minhas realizações.

Agradeço a minha primeira e maior Amiga, a quem conheci ainda dentro da barriga da minha

mãe, a minha irmã Diana.

Agradeço a Renata, que me acompanha em todas as minhas aventuras, de 0 até mais de 6 mil

metros de altitude, e quem tem me dado muitas alegrias e me completado com bastante amor.

Agradeço ao professor Paulo Rosa por me ensinar a ser um Geógrafo de verdade e ter me

orientado na busca por essa “luz no fim do túnel”, onde tive que desconstruir todos os mitos que

existiam antes, e adentrar a caverna, mais conhecida como GEMA, onde pude aprender tudo que

sei hoje sobre Geografia.

Agradeço toda a equipe GEMA pelo apoio ao longo do meu período de incubação, nas pessoas

de Maria, Odete, Pablo, Conrad, Liése, Henrique, Di Lorenzo, Ivo, Cristiane, Aninha, Cleytiane,

Fransuelda, Francicléia, Gutemberg, Ítalo, Hawick e Jorge.

Quero agradecer ao Dr. Brito que representando a Defesa Civil da Paraíba e ao Professor José

Paulo representante do Neud, me forneceram os dados necessários para esta pesquisa.

A todos vocês que ajudaram na minha jornada de exploração pelo caminho do conhecimento,

desde os primeiros anos de vida até os dias de hoje, citados aqui ou não, quero dizer do fundo do

meu coração: Muito Obrigado!

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“... – Sou Geógrafo – respondeu o

velho.

– Que é um geógrafo? – perguntou o

principezinho.

– É um especialista que sabe onde se

encontram os mares, os rios, as

cidades, as montanhas, os desertos.

– Isto é bem interessante – disse o

pequeno príncipe. – Eis, afinal, uma

verdadeira profissão! ...”

Antoine de Saint-Exupéry

10

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 13

PRIMEIRA PARTE

1 – Abordagem conceitual 16

2 – Metodologia 20

SEGUNDA PARTE

Resultados e discussão dos resultados dados

2.1. Rede de Drenagem do Estado da Paraíba 22

2.2. Território Paraibano sob o ponto de vista Geomorfológico 24

2.3. Extensão das Áreas das Bacias Hidrográficas cujas Barragens foram

rompidas

27

2.4. Volume de precipitação que se abateu sobre as Bacias em epígrafe 29

2.5. Situação do Estado em relação as enchentes que ocorreram em 2011 a

partir da visão do órgão de Defesa Civil

39

CONSIDERAÇÕES 41

REFERÊNCIAS 42

Apêndices 44

Anexos 44

11

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Diagrama demonstrativo da composição dos cenários na paisagem. 14

FIGURA 2 – Rede de drenagem no Estado da Paraíba. 23

FIGURA 3 – Perfil longitudinal diagramado em gradientes de declividade do rio

Mamanguape.

24

FIGURA 4 – Mapa da pluviometria media do estado da Paraíba – 2006 29

IMAGEM 1: Mosaico de imagens de satélite. (Hipsometria da Paraíba). 25

IMAGEM 2: Mosaico de imagens de satélite.(Bacia Hidrográfica do rio Mamanguape). 28

IMAGEM 3: Rio Paraíba. Trecho na BR 230. 30

IMAGEM 4: Ponte do Quincé, Interrompida.(Lagoa Seca-PB) 39

IMAGEM 5: Barragem de barreiros rompida. (Lagoa Seca-PB) 40

IMAGEM 6: Deslizamentos de terra em vertentes ao longo da BR 104. 44

IMAGEM 7: Ponte do Quincé, Interrompida.(Lagoa Seca-PB) 45

IMAGEM 8: Ponte do Quincé, depois da passagem da água (Lagoa Seca-PB) 46

IMAGEM 9: Detalhe da Ponte do Quincé, Interrompida.(Lagoa Seca-PB) 47

IMAGEM 10: Rompimento de barragem provocou cratera em rodovia estadual na

Paraíba.

47

MAPA 1 – Mapa de localização das barragens rompidas na Paraíba em 2011. 48

LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 – Pluviometria do Município de Alhandra-PB. 31

GRÁFICO 2 – Pluviometria do Município de João Pessoa-PB. 32

GRÁFICO 3 – Pluviometria do Município de Cruz do Espírito Santo-PB. 32

GRÁFICO 4 – Pluviometria do Município de Rio Tinto-PB. 33

GRÁFICO 5 – Pluviometria do Município de Itabaiana-PB. 34

GRÁFICO 6 – Pluviometria do Município de Mulungú-PB. 34

GRÁFICO 7 – Pluviometria do Município de Areia-PB. 35

GRÁFICO 8 – Pluviometria do Município de Lagoa Seca-PB. 36

GRÁFICO 9 – Pluviometria do Município de Campina Grande/São José da Mata-PB. 36

GRÁFICO 10 – Pluviometria do Município de Queimadas-PB. 37

GRÁFICO 11 – Pluviometria do Município de Barra de Santana-PB. 38

12

RESUMO

A alta pluviosidade concentrada em determinados locais e períodos de tempo, o relevo

característico e obras de barramento de água sem manutenção e em desconformidade com

aspectos técnicos são os fatores decisivos para um evento de desastre no nordeste da Paraíba,

durante o ano de 2011. Não é de hoje que a Paraíba está inserida no cenário dos desastres

naturais, porém a tendência vem se modificando uma vez que deixa de ser somente um estado

com eventos de estiagem de chuvas e acrescenta a essa realidade cenários de excesso de água

causando enchentes e inundações. No ano de 2011 foram registrados casos de barragens

rompidas, devido a fatores climáticos, geomorfológicos e antrópicos, que proporcionaram

eventos como pontes rompidas, trechos de rodovias estaduais fechadas, alagamentos, deixando

populações desabrigadas e cidades isoladas das suas vizinhas. Os municípios mais afetados com

esses desastres estão situados nas mesorregiões da zona da mata e agreste da Paraíba e as duas

principais bacias hidrográficas em que ocorreram os eventos foram a bacia do rio Mamanguape e

a bacia do rio Paraíba. Estudos com relação a desastres como esses ainda carecem de mais

pesquisas na região, uma vez que os transtornos envolvidos são de grandes proporções, e

precisa-se de trabalhos técnicos e mapeamentos para diminuir a vulnerabilidade envolvida no

sistema para enfrentar assim os desastres de maneira mais eficaz possível e reduzir os níveis de

ocorrências.

Palavras Chave: Desastres, Bacia hidrográfica, Barragens.

ABSTRACT

The high rainfall concentrated in certain locations and time periods characteristic relief and dam

constructions without maintenance and not in accordance with the technical aspects are decisive

factors for an event of disaster in northeastern Paraiba, in the year 2011. It is not today that

Paraiba is included in the scenario of natural disasters but the trend has been changing since it is

no longer just a state of dry season of rainfall events and adds to this reality scenarios excess

water causing floods and floods. In the year 2011 were registered cases of broken dams, due to

weather, geomorphological and anthropogenic, that provided events such as broken bridges,

closed stretches, of state highways, flooding, leaving people homeless and cut off from their

neighboring cities. The cities most affected by these disasters are located in the regions of Zona

da Mata and Agreste of Paraiba and two major river basins in with the events occurred were

Mamanguape basin and the basin of the Paraiba River. Studies in relation to disasters such as

these still need further research in the region, since the disorders involved are of great

proportions, and one technical work and mappings to reduce the vulnerability involved in the

system to cope with disasters like the way effectively as possible and reduce the levels of

occurrence.

Keys Word: Disasters, Hydrographic Basin, Dam.

13

INTRODUÇÃO

Quando proprietários de terras não somente se utilizam das águas que por suas terras passam,

mas também constroem barragens ao longo do curso de determinados rios, afluentes ou leitos de

água, muitas vezes não imaginam o prejuízo que poderão causar aos demais a jusante da sua

área. A pluviosidade intensa em determinados períodos do ano faz com que sua barragem sangre,

gerando uma carga muito grande sobre a construção, que se não foi bem construída ou se não

possuir uma manutenção adequada, poderá levar ao rompimento da mesma, fazendo com que

aquela água antes ali retida escoe de forma rápida e intensa seguindo o relevo em direção as suas

áreas mais baixas no leito fluvial. O que geralmente ocorre é que essa barragem rompida vai

causar um “efeito dominó”, em que todo o material antes represado agora vai seguir em direção a

próxima barragem mais a jusante, que não irá suportar o volume de material sobre a mesma (seja

pelo fato de quando da sua construção não foi projetada para aquela nova carga, ou pela questão

da falta de manutenção que fará com que a barragem esteja numa situação de limiar a ser

rompido) e assim romperá também, sendo adicionada aquela quantidade ao material anterior.

Desse modo, o efeito dominó está feito e o resultado é o desastre que vai causando através das

várias barragens que vão se rompendo ao longo do seu percurso até que toda a energia gerada

pelo evento seja dissipada ao longo do processo.

A equação básica de um desastre pode ser resumida em duas variáveis, a vulnerabilidade e o

risco (que é a probabilidade), dessa forma para se atuar previamente em um desastre tem que se

trabalhar com fatores que irão agir sobre essas duas variáveis, para que as diminuindo o desastre

venha a não ocorrer, ou se ocorrer, causar os menores transtornos possíveis. Já se tornou comum

durante certos períodos do ano a mídia divulgar desastres ocorridos em vários municípios e

órgãos como a Defesa Civil juntamente com as prefeituras decretarem estados de calamidade

pública para cidades prejudicadas pelas chuvas severas que ocorrem nos períodos de chuvas. A

AESA – Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba, através de seus dados

climatológicos mostra que no ano de 2011 o índice pluviométrico foi maior do que nos anos

anteriores, nas regiões afetadas pelos desastres envolvendo o rompimento de barragens ao longo

da rede de drenagem nas bacias hidrográficas. A dinâmica superficial da terra é representada pela

intersecção entre a troposfera, atmosfera e hidrosfera (Fig. 01) em que o balanço dos três

elementos fundamentais, nesse sistema vai resultar nesta dinâmica superficial, que na realidade é

mais frágil do que aparenta ser quando envolve o homem. (ROSA, 2011)

14

Toda a paisagem é composta por conjuntos que podem ser modelados

Atmosferaclima

Hidrosferaágua

Troposferarelevo

vida

Fig. 01 – Diagrama demonstrativo da composição dos cenários na paisagem

Fonte: PPT de aula Planejamento e Gestão Geo-ambiental, curso de Geografia – UFPB. 2011

15

PRIMEIRA PARTE

16

1 – ABORDAGEM CONCEITUAL

Sistema de acordo com a definição de Christofoletti (1980) “é o conjunto dos elementos e das

relações entre si e entre os seus atributos.”. Dessa forma o sistema composto por uma bacia

hidrográfica possui como elementos o rio principal, os seus afluentes, o relevo que o delimita e a

pluviometria da região da bacia hidrográfica formando dessa forma um sistema não-isolado,

sendo aquele que mantém relações com os demais sistemas no universo no qual funciona

(CHRISTOFOLETTI, 1980). Sendo a bacia hidrográfica um exemplo de sistema não-isolado

aberto, já que nela ocorrem constantes trocas de energia e matéria tanto recebendo quanto

perdendo através de seus afluentes.

O principal objetivo da bacia hidrográfica é o escoamento das águas superficiais que de acordo

com o relevo em que estão condicionadas, vão buscar o seu nível de menor energia formando um

fluxo que segue em direção aos menores níveis altimétricos da sua área. Uma bacia hidrográfica

tem na sua nascente a provedora de água que será a entrada do sistema, através de seu curso o rio

vai tomando formas diferentes e vai processando esta água que entrou no sistema de acordo com

o lugar em que está, pelos alto, médio ou baixo curso do rio, daí por diante a água vai sair do

sistema na foz do rio que irá desaguar no mar, ou até mesmo em outro rio, dando início a outro

sistema. O homem em sua ocupação e transformação dos ambientes em que se utiliza vai gerar

alterações no sistema de forma que as barragens construídas irão quebrar o equilíbrio do sistema,

já que são as responsáveis pela quebra da energia do rio. Drew (1986) aponta que todo sistema

está em um equilíbrio dinâmico, e que dependendo da mudança/alteração ocorrida irá ultrapassar

o limiar de recuperação desse sistema e ele tenderá a se reorganizar de uma forma totalmente

nova, já que ao romper este equilíbrio o sistema procura uma nova forma de se arranjar até

chegar a um novo equilíbrio.

Estando o sistema em equilíbrio, ele a qualquer momento pode ter esta situação de equilíbrio

alterada e isto ocorre quando são construídas as barragens, deste modo o sistema que agora foi

modificado, precisa se alterar até encontrar o seu novo ponto de equilíbrio, mas quando se

somam diversas variáveis como relevo, grande precipitação, ação antrópica ao sistema em seus

pontos vulneráveis existe a mudança e esta se faz de forma repentina trazendo efeitos intensos e

gerando desastres.

Em se tratando de um ambiente natural a bacia hidrográfica é classificada como uma paisagem,

que de acordo com Dolfuss (1979) a paisagem representa o aspecto visível, diretamente

perceptível do espaço e esta paisagem vai ser descrita e explicada através da sua morfologia.

Para se estudar a morfologia da paisagem precisamos estar com os nossos sentidos bem atentos.

Essa paisagem é bastante mutável de forma que sua morfologia se altera a cada nova percepção.

Precisamos decompor a paisagem para que possamos classificar elemento a elemento dela e

assim localiza-la e saber o seu significado. Uma paisagem vem carregada de elementos e

significados, podemos citar uma paisagem como um Rio, que é dinâmico, já que este rio muda a

17

sua paisagem em pouco tempo, modelando o relevo por onde passa. Mas também o homem

altera a paisagem de forma agressiva e rápida, já que em poucos dias ele pode construir uma

barragem alterando todo o cenário que ocorria anteriormente, não somente naquele local, mas

por todo o percurso do rio a jusante, já que o seu barramento vai causar a diminuição do fluxo

superficial de água e a diminuição do transporte de sedimentos pelo rio. Após uma

decomposição da paisagem para análise e para um melhor entendimento da mesma, haverá duas

classificações em que o rio principal que é um agente transportador, pode ser classificado de

acordo com sua forma (Linear), mas depois do rio ser barrado se mudarmos a escala de

observação e a aumentarmos poderemos classificar aquele trecho barrado do rio como uma

poligonal já que constará do reservatório de água que vai se diferenciar na paisagem fazendo

com que o rio não exerça sua função de transporte em sua totalidade como antes o fazia.

Levando em consideração a definição de paisagem de Dolfuss, a paisagem da bacia hidrográfica

vai se caracterizar pela sua morfologia, onde podemos analisar que devido a rugosidade do

terreno a princípio este fornece um caminho para o percurso do escoamento das águas pelo rio,

que posteriormente como uma forma de manutenção do sistema e um mecanismo de

retroalimentação além de ocorrer a entrada de elementos pelos afluentes, também há a erosão

regressiva por parte do rio, gerando um recuo de cabeceira nos canais ao longo do percurso,

assim o rio moldando o relevo ao longo de seu percurso sendo ele o agente modelador da

paisagem e proporcionando a manutenção do sistema ao longo do trajeto da bacia hidrográfica.

A paisagem formada por uma bacia hidrográfica terá como elementos a interface entre a

troposfera (relevo), atmosfera (clima) e hidrosfera (água). Estes elementos interligados irão se

relacionar para o funcionamento do sistema, até que o homem se apodere da área e a transforme

adicionando novos elementos ao sistema e gerando mudanças que variando de acordo com a

intensidade podem gerar diferentes respostas por parte do sistema em seu mecanismo de auto-

regulação. Tendo a auto-regulação como o mecanismo de um sistema responsável por retornar

este sistema ao seu estado natural anterior a mudança ocorrida.

Devido ao pouco estudo nos dias atuais a temática dos Desastres ainda carece de mais estudos e

discussões, principalmente no estado da Paraíba que sofre anualmente com eventos que são

caracterizados como desastres naturais. Atualmente com a questão das mudanças climáticas,

vários países e seus estados vêm sofrendo com as consequências, que variando da localização

geográfica vai resultar em diferentes tipos de desastres. No nosso estado os dois principais

eventos são as secas e as inundações/enchentes.

Resultado de eventos adversos naturais ou humanos sobre um ecossistema vulnerável, causando

danos humanos, materiais, ambientais e consequentes prejuízos econômicos, culturais e sociais.

(ARAÚJO, 2010) esta é a definição de desastre, que nada mais é do que o resultado de duas

variáveis: risco e vulnerabilidade, em que os riscos, podem ser classificados em naturais e

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antrópicos, como o próprio nome já diz naturais são aqueles causados por eventos da natureza

sobre o homem e antrópicos são os eventos dos quais o homem foi o responsável.

Vulnerabilidade tem significados diferentes para diferentes pessoas e o significado muda

consoante o contexto. Vulnerare, a raiz latina de vulnerabilidade, significa “ferir” e a associação

conceptual básica entre vulnerabilidade e ferimento, como declínio no bem-estar, mantém-se.

(PNUD 2010) Com relação a vulnerabilidade, esta seria a capacidade que temos de sofrer danos

diante de um desastre ocorrido, assim todos nós temos vulnerabilidades, nas mais variadas

situações.

Na equação: Desastre = Risco + Vulnerabilidade, podemos agir sobre a variável vulnerabilidade,

de tal forma que é o fator mais rápido de ser ajustado na equação, pois se aumentarmos a nossa

percepção ao risco, a modificação de nossos hábitos, podem nos tornar mais imunes/ou menos

vulneráveis aos desastres, porém eles ainda ocorrerão uma vez que o risco ainda existe. O Risco

afeta a todos. Pessoas, famílias e comunidades estão em permanente exposição a riscos que

podem ameaçar seu bem-estar. (PNUD, 2008)

Já com relação à variável Risco também há meios de agir sobre ela, mesmo esse risco sendo

natural ou antrópico. O risco vem a ser natural quando é provocado através de mudanças

ambientais, como por exemplo, alterações climáticas, e se caracteriza como um risco antrópico

quando este é ocasionado por fatores como alterações do homem sobre a natureza, para

melhorias para si próprio ou em seu ambiente, por exemplo, gerando riscos para o próprio

homem.

No Brasil, bem como no Nordeste, ainda há uma cultura de um país sem muitos riscos naturais,

porém esta cultura vem se alterando ano após ano e tende a mudar no cenário futuro já que o

Nordeste vem “acordando” para o tema dos desastres. Avalia-se que, no Brasil, os desastres

naturais mais comuns são as enchentes, a seca, a erosão e os escorregamentos ou deslizamentos

de terra. (ARAÙJO, 2010). Uma vez que os desastres no Nordeste não são recentes, somente de

alguns anos para cá se mudou o seu escopo, onde antes o que predominava nessa região eram os

desastres relacionados as secas, ou grandes períodos de estiagem, a situação nos dias atuais de

maior alarde com relação a desastres são as enchentes e inundações devido a grande quantidade

de chuvas concentradas em poucos dias, ou até mesmo poucas horas em determinadas regiões.

Intensidade, densidade e frequência, são conceitos que devemos abordar nessa pesquisa, pois os

eventos de desastres se baseiam também nesses conceitos, pois um desastre relacionado a uma

enchente é causado por uma interação entre um tipo de relevo, uma precipitação local, e um

período de tempo específico. Intensidade seria o fenômeno relacionado com o tempo, assim

temos a intensidade de chuvas que ocorrem, já se tratando de densidade que é o fenômeno

relacionado com uma espacialização, temos a concentração de chuvas em uma determinada

região do espaço, e para falar de frequência que é a relação do fenômeno em sua capacidade

19

sistêmica de ocorrência em ciclos, percebe-se que alguns eventos pluviométricos de grande

intensidade ocorrem em ciclos de tempo na natureza, se tornando repetitivos.

20

2 – METODOLOGIA

A metodologia estabelecida para perseguir o tema: a dispersão das barragens que se romperam

no estado da Paraíba em 2011 requereu um trabalho com caráter técnico em que foi necessário se

estabelecer como meta: localizar as barragens que se romperam no estado da Paraíba no ano de

2011. Desse momento em diante se construiu pressupostos com caráter hipotético para o

balizamento do trabalho, assim sendo foi proposto:

a. As barragens que se romperam eram de barreiros e estavam em bacias hidrográficas de

elevada declividade;

b. A grande carga de água precipitada de forma concentrada durante curto período de

tempo.

A partir desse balizamento se estabeleceu como objetivos específicos:

1. Caracterizar a rede de drenagem do Estado da Paraíba

2. Caracterizar o território paraibano sob o ponto de vista geomorfológico

3. Identificar a extensão das áreas das bacias hidrográficas cujas barragens foram rompidas

4. Caracterizar o volume de precipitação que se abateu sobre as bacias em epígrafe

5. Verificar junto ao órgão de Defesa Civil a situação do Estado em relação as enchentes que

ocorreram em 2011

Esse escopo metodológico permitiu a utilização de outras técnicas para se construir o trabalho

em busca de sua meta e, consequentemente o cumprimento de seus objetivos específicos.

As técnicas que permitiram o desenvolvimento do trabalho de ordem investigativa foram a partir

da utilização de imagens disponibilizadas pelo sistema Google Earth, pois com essa ferramenta

pudemos avançar de forma avançada para visualizarmos a região de toda a bacia hidrográfica

assim como a distinção das localidades que abrigam a rede de drenagem e consequentemente às

localidades em que as barragens estavam implementadas. Sendo utilizadas também imagens de

satélite da Paraíba e da bacia hidrográfica do Rio Mamanguape, no caso desta um mosaico

disponibilizado pela SUDEMA. A partir do AUTOCAD foi possível gerar uma localização e

espacialização dos municípios que tiveram barragens rompidas na Paraíba no ano de 2011.

Num outro momento a utilização dos mapas já estabelecidos pela Agência Estadual de Águas

(AESA) foi de enorme serventia, haja vista que a visualização do Estado com suas manchas

relativas à precipitação nos dão uma visão mais compreensiva desse modo de ocorrência.

A utilização dos dados climatológicos tanto da AESA como da série estatística da SUDENE nos

foi de real serventia para que pudéssemos gerar gráficos para melhor visualização das

precipitações isso com a grande utilização da ferramenta EXCEL, pois a partir do tratamento dos

dados foi possível a geração de gráficos de elevada pertinência e realce.

21

SEGUNDA PARTE

22

2.1. Rede de Drenagem do Estado da Paraíba

De acordo com a Lei nº 9433/ 97 que dispõe no seu art. 1º, inciso V, “a bacia hidrográfica é a

unidade territorial para implementação da política nacional de recursos hídricos e atuação no

sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos.”, a bacia hidrográfica tem assim sua

função política marcante e delimitada para a gestão dos recursos hídricos. Desta forma para falar

de rede de drenagem não se pode fazê-la sem tratar do aspecto jurídico de bacia hidrográfica. E

quando se fala em bacia hidrográfica como unidade territorial, este conceito vem carregado de

poder, pois um território é aquele que possui relações de poder com si próprio e com seus

vizinhos. Rafesttin (1983) vai dizer que o território é: “o resultado de uma ação conduzida por

um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um

espaço concreta ou abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator territorializa o

espaço”. Vemos então que essa rede de drenagem passa através de um espaço territorializado que

são as terras dos seus proprietários e que possuem essas águas superficiais como de sua

propriedade e essas terras delimitadas, demarcadas, representando o seu território.

A drenagem fluvial é composta por um conjunto de canais de escoamento inter-relacionados que

formam a bacia de drenagem, definida como a área drenada por um determinado rio ou por um

sistema fluvial. (CHRISTOFOLETTI, 1980). De acordo com a definição supracitada podemos

inferir que uma rede de drenagem nada mais é que um conjunto interligado de elementos

hídricos como nascentes, canais, riachos, rios e afluentes formando assim uma rede em que estes

elementos se comunicam entre si para dar continuidade ao ciclo hidrológico na superfície da

troposfera. As redes de drenagem são divididas por bacias hidrográficas variando assim de

acordo com o seu tamanho e com a escala adotada para uma melhor classificação e estudo. A

presente pesquisa tem como escala a rede de drenagem do estado da Paraíba, mais

especificamente as bacias hidrográficas do rio Mamanguape e do rio Paraíba.

A Paraíba possui 11 bacias hidrográficas de acordo com a Resolução Nº 02, de 05 de novembro

de 2003, do CERH- Conselho Estadual de Recursos Hídricos, em seu artigo 1º. Que vai limitar

as áreas de influência de cada bacia no estado. Destas bacias, sete desaguam no litoral paraibano

que são: Abiaí, Gramame, Paraíba, Miriri, Mamanguape, Camaratuba e Jacu. Estas bacias que

desaguam no nosso litoral abastecem as microrregiões do Litoral sul, João Pessoa, Litoral norte,

Sapé, Itabaiana, Guarabira, Brejo, Esperança, Campina Grande, Umbuzeiro, Cariri oriental e

Cariri ocidental (Figura. 02).

O estado da Paraíba é de uma situação ímpar com relação a sua rede de drenagem, pois a maioria

de suas bacias possui nascente e desaguam dentro do próprio estado, podendo ser no seu litoral,

dentro de outros canais fluviais, (caracterizando um padrão de drenagem exorreico) ou

caracterizando um padrão de drenagem endorréico dentro de corpos de água como os açudes

(ex.: Açude mãe d’água e açude Boqueirão) e posteriormente suas bacias seguem para

23

desembocar diretamente no mar configurando o estado da Paraíba como um território

independente com relação ao corpo hídrico.

O planalto da Borborema é um grande divisor de águas no estado já que por sua altimetria ele

influencia no escoamento de águas do nosso estado, quando consideramos as bacias dos rios

Mamanguape e Camaratuba, por exemplo, vemos que suas águas são drenadas desde suas

nascentes, pelos seus afluentes na escarpa oriental da Borborema e através de serras e inselbergs

que formam o planalto da Borborema. Sendo estes acidentes topográficos os divisores de águas e

agentes que vão direcionar esta água por toda a bacia.

A rugosidade do terreno que possui o compartimento dos baixos planaltos costeiros é

aproveitada pelos moradores que residem nessas localidades para o barramento da água que

passa por suas propriedades para os mais diversos usos, sendo os mais comuns à agricultura,

abastecimento humano e dos animais. A situação aqui exposta é prática comum no nosso estado

devido aos fatores físicos aqui citados e também por conta de fatores sócio espaciais, como a

falta de saneamento e abastecimento no meio rural.

Fig. 02 – Rede de drenagem no Estado da Paraíba/Bacias Hidrográficas da Paraíba.

Fonte: Atlas digital da SECTMA - AESA

24

2.2. Território Paraibano sob o ponto de vista Geomorfológico

A geomorfologia tem como fatores predominantes o estrutural e o climático, em primeiro lugar

ergue-se o relevo em sua questão estrutural através de processos endogenéticos e depois disso

segue-se com o clima atuando sobre este relevo para equilibrar suas cotas. Várias teorias

explicam esse conceito como a de Davis, (1899) e o seu ciclo geográfico e teorias mais recentes

em se tratando de neotectônica. Assim na Paraíba atualmente o fator predominante na

geomorfologia é o clima através da pluviosidade e os rios que vem esculpindo o relevo de forma

bastante intensa principalmente nas mesorregiões da zona da mata e agreste.

Em se falando de Agreste a Paraíba possui na bacia hidrográfica do rio Mamanguape o seu alto

curso em que de acordo com Lima (2002): A erosão no rio em relação ao seu perfil longitudinal

será regressiva (Figura 3), pois as áreas de maior energia estarão sempre determinando o

comportamento do rio de montante para jusante.

Fig.03: Perfil longitudinal diagramado em gradientes de declividade do rio Mamanguape.

Fonte: Lima (2002).

25

A Paraíba apesar de ser um estado pequeno comparado a outros estados do Brasil possui sua

geomorfologia de forma polimorfa uma vez que seu território é composto desde planícies

litorâneas até topos de colinas com altimetrias maiores que 1000 m. Como se pode ver pela

imagem de satélite com a hipsometria do estado paraibano (Imagem 1) com a hipsometria do

estado paraibano, o estado possui na sua parte central elevações topográficas relativas ao

planalto da Borborema que dividem a Paraíba em dois compartimentos, nas suas extremidades,

com características distintas, tanto em altimetria, relevo e clima predominantes.

A altimetria vai assim influenciar fatores que incidem sobre o relevo, como a precipitação, a

vegetação e biótico revelando ambientes e cenários característicos em diferentes localidades do

estado.

Imagem 1: Mosaico de imagens de satélite. (Hipsometria da Paraíba).

Fonte: (MIRANDA, 2004) <http://www.cdbrasil.cnpm.embrapa.br> Acesso em: 11 nov. 2011.

De acordo com Rodriguez, (2002) a geomorfologia da Paraíba se divide em compartimentações

geomorfológicas as quais são: planície litorânea, baixos planaltos costeiros, depressão

sublitorânea, depressão do Curimataú, depressão de rio Paraíba, planalto da Borborema,

pediplano sertanejo e depressão sertaneja.

26

Possuindo extensos arqueamentos, relacionados à tectônica regional de falhas como é o caso do

planalto da Borborema, situado em sua mesorregião Agreste, a Paraíba tem nos seus processos

de erosão uma forma de atuação com relação à modelagem de relevo aonde através dos fatores

climáticos vai retirando sedimentos do interior do continente e transportando-os através de sua

rede hidrográfica em direção ao oceano. Ainda com relação a tectônica regional, mais

especificamente os compartimentos sedimentares que sofreram movimentos estruturais devido às

reativações no período cenozóico que se encontram atualmente com altimetrias variadas e com

formato geralmente tabular, citamos o compartimento geomorfológico dos baixos planaltos

costeiros que de acordo com VALADARES (2011, p. 5):

Compreende platôs de origem sedimentar, que apresentam grau de

entalhamento variável. Ora com vales estreitos e encostas abruptas. Ora abertos

com encostas suaves e fundos com amplas planícies. Os baixos planaltos

costeiros são sustentados pelos sedimentos areno-argilosos mal consolidados da

Formação Barreiras, constituindo assim unidades geomorfológicas de

superfícies aplainadas e geralmente inclinadas para o leste.

Nos baixos planaltos costeiros as suas vertentes possuem um modelado variado que de acordo

com Carvalho, (1982), essas vertentes que se apresentam alongadas, côncavas e

predominantemente, convexas, são bem dissecadas, com sulcos e ravinas alargadas pela ação do

escoamento superficial pluvial e pela interferência humana.

O planalto da Borborema tem em seu relevo muita importância, pois é ele quem vai reter as

massas de ar vindas do litoral (ventos alísios) e vai haver uma precipitação concentrada devido a

chuvas orográficas na região a barlavento do planalto. Formado por uma estrutura dominante por

rochas cristalinas (magmáticas e metamórficas) que compõem o escudo pré-cambriano do

Nordeste.

Carvalho, 1982, apresenta que o maciço da Borborema atua como um distribuidor de redes

hidrográficas em todas as direções, mas o traçado geral dos seus vales reflete a forte interferência

das direções das linhas de fratura. Com uma orientação geral Leste - Oeste estende-se de

Alagoas ao Rio Grande do Norte.

Há vários fatores naturais que podem interferir e modificar o equilíbrio entre a energia absorvida

e a emitida pela Terra. (OLIVEIRA e BRITO, 1998). A geomorfologia e o clima se inter-

relacionam de forma que um influi sobre o outro em uma análise sistemática, em que essa

dinâmica gera diferentes efeitos sobre a Terra em períodos de tempo geológicos e humanos.

27

2.3. Extensão das Áreas das Bacias Hidrográficas cujas Barragens foram

rompidas

O estado da Paraíba é dividido em onze bacias hidrográficas das quais no ano de 2011 houve

barragens rompidas em sete bacias, que foram: Curimataú, Mamanguape, Miriri, Paraíba,

Gramame e Abiaí. A maior concentração de eventos como estes ocorreu nas mesorregiões da

zona da mata e do agreste Paraibano que no presente ano registraram uma intensa quantidade de

desastres relacionados a enchentes e inundações, pois essas mesorregiões mais localizadas ao

Leste da Paraíba possuem fatores naturais como clima e solos diferenciados do resto do estado,

sendo característicos os desastres relacionados a grande quantidade de chuvas concentradas em

um curto período de tempo. Porém não é a chuva somente quem causa a cheia, quem vai causar a

cheia é o próprio ser humano que habita o lugar, já que são as suas alterações na paisagem ou até

mesmo a sua ocupação irregular em um dado cenário que farão com que esses fatores naturais se

transformem em um desastre.

As formas anteriormente modeladas pelos processos fluviais de acumulação são arrasadas pelas

águas, e os sedimentos carreados e depositados ao longo do leito e planícies adjacentes.

(CARVALHO, 1982) A área das bacias hidrográficas em que houve os rompimentos de

barragens se estende desde o planalto da Borborema até o litoral paraibano. De maneira que o

estado da Paraíba se caracteriza como um limite espacial e as bacias hidrográficas como limites

geográficos. A dispersão de eventos ocorridos, com relação ao rompimento de barragens, foi

maior nas bacias do rio Mamanguape e rio Paraíba, sendo assim se faz necessário saber

características físicas e locacionais dessas respectivas bacias hidrográficas.

O rio Mamanguape, situado no extremo leste do estado da Paraíba, possui sua bacia hidrográfica

delimitada entre as latitudes: 6º 41’ 57” e 7º 15’ 58” sul e 34º 54’ 37” e 36º 00’ 00” oeste.

Limitando-se ao norte com a bacia do rio Curimataú, a oeste com as bacias do Curimataú e do

Paraíba, ao sul com a bacia do rio Paraíba e a leste com o oceano atlântico.

O rio Mamanguape é de regime intermitente, nascendo na microrregião do Agreste do planalto

da Borborema e vai desaguar no Oceano Atlântico no município de Rio Tinto, ao longo do seu

curso recebe contribuições de cursos de água como os rios Guariba, Guandu, Araçagi, Saquaiba

e o riacho Bloqueio. Dessa forma a bacia do rio Mamanguape drena uma área que mede cerca de

3.525,00 km2

(Imagem 2).

A bacia hidrográfica do rio Paraíba possui uma área de 20.071,83 km2

sendo compreendida entre

as latitudes: 6º 51’ 31” e 8° 26’ 21” sul e as longitudes 34º 48’ 35” e 37º 02’ 15” oeste.

Abrangendo desde o litoral paraibano e chegando até o planalto da Borborema a bacia do rio

Paraíba é a segunda maior do estado já que perfaz 38% do seu território. Sendo composta pela

sub-bacia do Rio Taperoá e regiões do alto, médio e baixo curso do rio Paraíba.

28

Imagem 2: Mosaico de imagem de satélite da Bacia Hidrográfica do Rio Mamanguape.

Fonte: SUDEMA.

29

2.4. Volume de precipitação que se abateu sobre as Bacias em epígrafe

Figura 4 : Mapa da pluviometria media do estado da Paraíba – 2006

Fonte: Atlas digital da SECTMA - AESA

A região costeira da Paraíba possui um clima subtropical úmido com chuvas variando nos meses

de abril e julho, e umidade relativa do ar em torno de 80%. Essa precipitação que ocorre no

estado tem se mostrado com característica concentrada, uma vez que as chuvas caem durante

várias horas em poucos dias seguidos saturando o solo e não tendo mais onde infiltrar a água

precipitada vai escoar procurando o seu menor nível de energia, que seria aquele com uma

topografia mais baixa em relação ao patamar atual.

No ano de 2011 a situação em relação a precipitação não foi diferente daquela dos anos

anteriores como em 2004, 2008 e 2009. De acordo com o site da AESA (Agência Executiva de

Gestão das Águas do Estado da Paraíba) os totais de chuva nos meses de março, abril, maio e

junho oscilam, respectivamente, em torno de 138,1 mm, 155,7 mm, 157,5 mm e 161,1 mm no

Agreste/Litoral, 112,0 mm, 118,3 mm, 57,7 mm e 44,4 mm no Cariri/Curimataú e 219,1 mm,

177,6 mm, 76,2 mm e 33,6 mm no Sertão.

30

O clima úmido favorece uma rede de drenagem perene, com intenso poder

erosivo que festona seus bordos. Na frente oriental do Maciço da Borborema

localizam-se alguns formadores das bacias dos rios Paraíba, Curimataú e

Mamanguape, principalmente deste último. São afluentes do Mamanguape os

principais responsáveis pela intensa dissecação que modela as cristas dispostas

paralelamente uma às outras [...] (CARVALHO, 1982).

Locais como a Zona da mata e Agreste, regiões estas, com maiores índices pluviométricos do

estado, foram também as mais afetadas pelas enchentes e barragens rompidas no ano de 2011.

Estando elas nas bacias dos rios Mamanguape, Abiaí e Paraíba.

Através das tabelas geradas com dados de precipitação fornecidos pela AESA, o volume de

precipitação que se abateu principalmente sobre as bacias do rio Mamanguape e do rio Paraíba,

foi acima das médias, já que se comparou este volume com valores de chuvas dos últimos 17

anos e chuvas do ano de 2010. Abaixo a imagem 3 mostra um momento de cheia do Rio Paraíba

no ano de 2011.

Imagem 3: Rio Paraíba. Trecho na BR 230.

Data: 19:07.11. Foto Acervo Paulo Rosa.

31

Dos 52 municípios atingidos pelas chuvas em 2011, 25 tiveram registros de barragens rompidas.

Destes 25 municípios foram escolhidos dez, mais um (Lagoa Seca), de forma variada por cada

Mesorregião Geográfica, para aqui representar os índices pluviométricos como mostrados nas

tabelas que se seguem.

Gráfico 1: Pluviometria do Município de Alhandra-PB.

32

Gráfico 2: Pluviometria do Município de João Pessoa-PB.

Gráfico 3: Pluviometria do Município de Cruz do Espírito Santo-PB

33

Gráfico 4: Pluviometria do Município de Rio Tinto-PB.

Os quatro primeiros gráficos tratam de municípios localizados na zona da mata paraibana e

próximos ao litoral, dessa forma nota-se que a curva de cor verde que representa as chuvas de

2011, tem índices maiores do que as outras duas curvas. Assim percebesse facilmente que no ano

de 2011 choveu mais do que no ano anterior em todos os quatro municípios. E os picos de

precipitação do ano de 2011 são diferentes das tendências dos picos das chuvas de 2010 e da

média dos últimos 17 anos. João Pessoa registrou máxima de 518,5 mm no mês de abril,

enquanto que Rio Tinto teve sua máxima também no mês de abril com 360,5 mm.

Os gráficos de Mulungú, Itabaiana, Areia, Lagoa Seca, Campina Grande, e Queimadas, por se

tratar de municípios localizados no agreste paraibano têm suas curvas com aspectos parecidos,

porém com valores diferenciados dos anteriormente citados.

34

Gráfico 5: Pluviometria do Município de Itabaiana-PB.

Gráfico 6: Pluviometria do Município de Mulungú-PB.

35

No gráfico de Mulungú nota-se que o seu pico de chuvas no ano de 2011 se deu no final do mês

de Abril com valores de 390,6 mm, diferentemente de Itabaiana onde este valor máximo ocorreu

no mês de Junho com valor de 379,3 mm.

Nos municípios de Areia, Lagoa Seca, Campina Grande, e Queimadas também houve maior

precipitação no ano de 2011 comparado com valores do ano anterior. E os municípios de

Campina Grande e Areia as curvas estão com seus picos bem mais distantes das outras duas

curvas, (média nos últimos 17anos e chuvas de 2010) mostrando que no ano de 2011 a carga de

água precipitada foi exponencialmente maior do que o que vinha ocorrendo nos anos anteriores.

Gráfico 7: Pluviometria do Município de Areia-PB.

36

Gráfico 8: Pluviometria do Município de Lagoa Seca-PB.

Gráfico 9: Pluviometria do Município de Campina Grande/São José da Mata-PB.

37

Gráfico 10: Pluviometria do Município de Queimadas-PB.

38

Gráfico 11: Pluviometria do Município de Barra de Santana-PB.

O único município da mesorregião da Borborema que sofreu com o rompimento de barragens foi

Barra de Santana e seus índices pluviométricos se fazem representar no gráfico de número 11. O

valor de 153,1 mm foi o máximo de chuvas apresentado por este gráfico no ano de 2010,

mostrando assim que o município de Barra de Santana foi a sentido contrário aos outros

municípios aqui citados os quais tiveram suas máximas de precipitação registradas nas chuvas de

2011.

39

2.5. Situação do Estado em relação às enchentes que ocorreram em 2011 a

partir da visão do órgão de Defesa Civil

De acordo com a defesa civil do estado da Paraíba, as ocorrências de desastre de maior

prevalência no Estado da Paraíba são causadas por chuvas (enxurradas /inundações) ou estiagens

(seca), ambas geradoras da decretação de Situação de Emergência ou Estado de Calamidade

Pública. São eventos cíclicos, pois todo ano durante os períodos de estiagem e de chuvas vários

munícipios são atingidos por estes fenômenos. Imagem 4 mostra a ponte do Quincé inundado

pelas águas. O estado da Paraíba no ano de 2011 foi marcado por várias enchentes ocorridas em

diversos municípios em que a defesa civil esteve presente e gerenciou a situação junto com

outros órgãos do governo estadual e federal. Contribuíram para o agravamento dos danos, o

caráter intempestivo da ocorrência do fenômeno e a intensidade das chuvas concentradas em

curto espaço de tempo.

Imagem 4: Ponte do Quincé, Inundada pelas águas. (Lagoa Seca-PB)

Data: 17:07.11. Foto: Acervo Paulo Rosa.

40

De uma Situação de Emergência em 104 municípios (cento e quatro) municípios por estiagens,

passou-se para uma situação totalmente inversa. Esta súbita inversão climática exigiu uma

radical mudança de estratégia da Gerência Executiva Estadual de Defesa Civil e da Secretaria de

Estado da Infra-Estrutura, mobilizando Coordenadores dos Grupos de Trabalho da Defesa Civil,

Órgãos Colaboradores, somando esforços e buscando soluções, objetivando solucionar os graves

problemas das populações atingidas pelas fortes chuvas. Segue imagem 5 que mostra

rompimento de uma barragem Lagoa Seca.

Imagem 5: Barragem de barreiros rompida. (Lagoa Seca-PB)

Data: 18:07.11. Foto Acervo Paulo Rosa.

41

CONSIDERAÇÕES

As barragens são obras hídricas de contenção de águas para uso e abastecimento humano, mas

como toda e qualquer construção deve ter sua capacidade delimitada pela carga determinada no

projeto e deve haver toda uma manutenção periódica, para a sua confiabilidade de uso. A

dinâmica natural de uma barragem é totalmente intensa uma vez que é determinada pela égide da

natureza, que se transforma constantemente. Quando se constrói uma barragem em um relevo

com certa inclinação, por exemplo, os sedimentos transportados pela água até aquele local vão se

acumular a montante da barragem e vão assorear a mesma gerando um novo perfil com

inclinação mais suave. Mas na região da represa da barragem a água que por ali passa sem os

sedimentos vai assim fazer com certa velocidade que vai variar de acordo com a região da

barragem (se é no alto, médio ou baixo curso do rio) assim essa água que vai passar por esta

represa vai erodindo abaixo da barragem gerando assim um novo perfil, dessa vez mais íngreme.

Mas o que observamos em obras como essa, aqui no nosso Estado, é que essa situação tem sido

negligenciada aparentando um descaso por parte de quem deve fazer essas manutenções, seja por

questões políticas, seja por falta de conhecimento, muitas vezes ocorre que um pequeno produtor

rural barra um trecho de um rio que por suas terras passa e não tem o conhecimento necessário

para avaliar os fatores que podem prejudicar sua construção. Fatores como a própria declividade

do terreno, fatores biológicos, como raízes de plantas, ou animais que como as formigas fazem

seus formigueiros próximos as barragens e abaixo delas cavam suas galerias, retirando materiais

do solo e o deixando “oco” gerando uma pressão negativa.

O desastre é dividido em três fases: pré-desastre, o desastre em si e o pós-desastre. Quando

falamos em desastres envolvendo o rompimento de barragens, precisamos saber que as ações

devem ser realizadas na fase do pré-desastre, pois é ali que se tem o melhor resultado. Atuações

de planejamento e acompanhamento dessas obras farão com que consiga se reduzir as

vulnerabilidades envolvidas nesses eventos, para que “se” ainda assim vier a ocorrer o desastre

possa haver uma melhor atuação nas fases do desastre e do pós-desastre, por parte dos órgãos

responsáveis e da sociedade civil minimizando assim o número de vítimas.

O estado da Paraíba durante os meses de Janeiro a Agosto de 2011 teve um total de 52

municípios afetados pelas chuvas e 25 deles tiveram problemas com barragens rompidas, que

perfizeram um total de 86 barragens rompidas. E a maior densidade de municípios afetados se

deu nas mesorregiões da zona da mata e agreste da Paraíba, nas bacias do rio Mamanguape (com

8 municípios afetados) e do rio Paraíba (com 16 municípios atingidos). Mostrando assim que o

clima através da intensa precipitação concentrada em poucos dias, somado ao relevo típico dos

baixos planaltos costeiros e planície costeira vai influenciar de maneira exponencial as obras de

barramento de água que são construídas no estado, principalmente aquelas feitas em barreiros ou

sem seguir nenhuma normatização, para gerar através de um efeito dominó desastres

relacionados a enchentes e inundações completando assim o ciclo de causa e efeito.

42

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44

ANEXOS E/OU APÊNDICES

Relatório de Campo

Um exemplo observado in loco com relação ao resultado de barragens rompidas é relatado no

seguinte relatório de campo realizado no dia 19.07.11:

No dia de hoje saí por volta das oito horas de João Pessoa, com destino a Lagoa Seca, e durante a

passagem pelo rio Paraíba, na BR 230 este se encontrava bastante cheio, devido às intensas

chuvas que vem ocorrendo por toda a região. Passamos em Campina Grande e seguimos pela BR

104, rodovia que liga o município de Campina Grande a Lagoa Seca. Durante o trajeto observei

que vários pedaços das encostas laterais a estrada haviam tido movimentos de massa, e

deslizamentos, próximos ao posto da Manzuá, com alguns chegando até a pista (BR), mas já

haviam sido retirados os materiais por tratores da prefeitura/DNIT. (Imagem 6)

Imagem 6: Deslizamentos de terra em vertentes ao longo da BR 104.

Data: 19:07.11. Foto do Autor.

45

Ao chegar ao município de Lagoa Seca, observa-se que a água passou com bastante força por lá

também, e conversando com o representante do sindicato dos trabalhadores rurais de Lagoa Seca

ele me disse que 30 barragens estavam sangrando, ali pelos arredores.

Depois ao me dirigir para o município de São Sebastião da Lagoa de Roça e seguir viagem para

a cidade de Esperança, mais um trecho da BR 104, que liga as cidade de Lagoa Seca e Lagoa de

Roça, na altura do km 311 estava interrompido devido à força das chuvas que causaram estragos

estruturais na ponte do Quincé e a mesma foi fechada pelo DNIT. (Imagem 7). A água que por

ali passou o fez com bastante força como se pode ver nas fotos, de acordo com o relato de um

morador local, foi resultado da bifurcação de dois rios que de um lado vieram águas de 12

barragens que se romperam e do outro lado de duas se juntando e causando os desastres.

Imagem 7 : Ponte do Quincé, Interrompida.(Lagoa Seca-PB)

Data: 19:07.11. Foto do Autor.

46

Imagem 8: Ponte do Quincé, depois da passagem da água (Lagoa Seca-PB)

Data: 19:07.11. Foto do Autor.

Assim tivemos que fazer uma volta contornando o trecho interditado pelo distrito de Floriano

(Lagoa Seca). Ali se pega a PB-097, e depois um trecho por estradas sem pavimentação até

chegar novamente a BR 104 e seguir para Esperança, perfazendo um trecho de mais de 12 km de

extensão.

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Imagem 9: Detalhe da Ponte do Quincé, Interrompida.(Lagoa Seca-PB)

Data: 19:07.11. Foto do Autor.

Imagem 10: Rompimento de barragem provocou cratera em rodovia estadual na Paraíba

Data: 19.07.11. Foto: José Marques/Secom-PB.

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Mapa 1: Mapa de localização das barragens rompidas na Paraíba em 2011.