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  • 7/23/2019 Barroso - Palestra

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    A VIDA BOA

    Lus Roberto Barroso

    Talvez fosse intuitivo supor que eu lhes falaria esta noite sobre Direito. Ou sobre teoriasda justia. Ou ainda, quem sabe, sobre carreiras jurdicas. Mas seria excessivamente

    bvio. !uem veio at" aqui por uma dessas raz#es, tem todo o direito de pedir o dinheirode volta. Eu gostaria de lhes falar hoje sobre a vida boa. Sobre o sucesso e afelicidade.$ os caminhos possveis para che%ar at" l&. H trs marcos esse camiho.O !rimeiro deles " #cohecer$se a si mesmo#.

    I. %O&HE%E'$SE A SI (ES(O

    'a entrada do Or&culo de Delfos, templo dedicado a (polo, na )r"cia anti%a,encontrava*se a se%uinte inscri+o #%ohece$te a ti mesmo e cohecers o )iversoe os Deuses#.( frase, que foi popularizada por -crates, " atribuda a Tales de Mileto,tendo sido proferida h& mais de ./00 anos. 1 considerada o marco do nascimento da

    filosofia ocidental, ao passar o homem e sua capacidade de reflex+o para o centro dosacontecimentos. %abe a cada idiv*duo defiir a sua rela+,o cosigo mesmo- com osoutros e com o mudo.

    'o entanto, na pressa aflita dos tempos modernos, as pessoas est+o excessivamentevoltadas para o exterior. 2ma busca permanente por fama, riqueza e poder. Mas h!ortas ue s/ abrem !or detro. Etre elas- a do autocohecimeto- a costru+,oda !r/!ria idetidade- a auto$reali0a+,o.(quilo que faz cada um de ns ser 3nico ecom uma miss+o prpria. 1 preciso que cada um ou+a o cora+,o e a mete !aradescobrir sua verdade iterior- seus setimetos mais !rofudos- o seu lugar omudo. $ seus desejos mais reais. Mas aten+o uase todos os desejos s,o !oss*veis.1or isso mesmo- " !reciso estar cosciete do ue se deseja.

    $u insisto o ue voc ,o ecotrar detro de si mesmo- ,o ecotrar em !artealguma. (o localizar a sua estrela, si%a*a sem temer. 'o caminho, ir& descobrir quaiss+o as suas virtudes e fraquezas. Efrete e su!ere auilo ue ,o gostar em voc.Transforme*se na pessoa que deseja verdadeiramente ser. ( vida " feita do que a %ente

    pensa, do que a %ente diz e do que a %ente faz. Tudo isso " passvel de controle. 'ssomos cria#es de ns mesmos. !uem conhece a si mesmo e domina as prpriasemo#es, compreende melhor o outro e coloca*se melhor no mundo. Oautoconhecimento d& empatia e se%urana nos caminhos da vida.

    $m resumo descubra dentro de voc4 o que faz o seu cora+o bater, qual " o seu sonhopessoal, onde mora a sua estrela. $m se%uida, trace o rumo e v& busc&*la. O mundoconspirar& a seu favor.

    O se%undo marco no caminho rumo ao sucesso e 5 felicidade " 6ser bom6.

    II. SE' BO(

    -er bom si%nifica viver uma vida boa, uma vida "tica. 'ela se incluem o amor prprio,o respeito pelas demais pessoas e a pr&tica dos valores que promovam o bem. -er bom "

    cultivar um padr+o %eral de fraternidade, diri%ido a todas as pessoas, fundado na boa*f"7n+o querer passar nin%u"m para tr&s8, na boa*vontade 7uma atitude construtiva emrela+o a todos8 e na compaix+o 7solidariedade com o sofrimento alheio8. O

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    compromisso com o bem est& presente em todas as %randes tradi#es filosficas ereli%iosas universais, materializado na re%ra de ouro trate os outros como %ostaria deser tratado.

    9mmanuel :ant, um dos maiores filsofos da histria da humanidade, enunciou amesma ideia em uma frase memor&vel 6(ja de tal forma que a m&xima que inspira a

    sua conduta possa se transformar em uma lei universal6. ;arece complexo, mas " muitosimples. Diante da d3vida razo&vel acerca do modo certo de a%ir, duas per%untas, comore%ra %eral, poder+o resolver o problema 6$ se fizessem isso comi%oorrer atr&s, mer%ulhar fundo, voar alto.

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    Muitas vezes, ser& necess&rio voltar ao ponto de partida e comear tudo de novo. (scoisas, eu repito, n+o caem do c"u. Mas quando, aps haverem empenhado c"rebro,nervos e cora+o, che%arem 5 vitria final, saboreiem o sucesso %ota a %ota. -em medo,sem culpa e em paz. 1 uma delcia. -em esquecer, no entanto, que nin%u"m " bomdemais. !ue nin%u"m " bom sozinho. $ que, no fundo no fundo, por paradoxal que

    parea, as coisas caem mesmo " do c"u, e " preciso a%radecer.

    IV. O S)%ESSO E A 2E5I%IDADE

    !uem conhecer a si mesmo, for bom e fizer bem feito E t+o bem quanto possa fazer E,estar& pronto para viver uma vida completa. $sses tr4s marcos apontam um bomcaminho para o sucesso e a felicidade. - falta convencionar o que seja, exatamente, osucesso e a felicidade. ( se%uir, uma tentativa.

    -ucesso " a capacidade de nos tornarmos aquilo que verdadeiramente queremos epodemos ser. 2m equilbrio entre raz+o, sentimento e realiza#es. 1 viver em harmoniacom as outras pessoas, com a natureza e consi%o mesmo. 2ma sensa+o inabal&vel de

    paz interior e autoconfiana. -erena e sem pretens+o. O sucesso vem de dentro, masaumenta a capacidade de olhar para fora de si. $, desse modo, apreciar a diversidade davida, e n+o querer que todos sejam i%uais a si prprio. Fespeitar o outro na sua inteirezae alteridade e, ainda assim, n+o precisar da aprova+o de nin%u"m para ser o que se ".@'in%u"m te d& quem "sA, escreveu ernando ;essoa. -ucesso " n+o precisar %anhar omundo para ser feliz. Mas ", sobretudo e em qualquer caso, n+o perder a alma jamais.

    ;or fim, todas as pessoas existem para serem felizes. 1 este o fim 3ltimo da exist4ncia.( felicidade " feita de paz interior, prazeres le%timos e sentido para a vida. Muitoimportante nin%u"m " deposit&rio da felicidade dos outros. 'em pai, nem m+e, nemesposa, nem marido. >ada um tem a prpria chave para esta porta. $ tamb"m ela s abre

    por dentro. 1 voc4 seu ami%o ou inimi%o. -e%undo as pesquisas, h& tr4s in%redientesque costumam ajudar a ser feliz riqueza, sa3de e ami%os. 1 bom qualificar cada umdeles.

    Fiqueza s de dinheiro n+o faz nin%u"m feliz. Todos conhecer+o a histria do sujeitoque foi ficando t+o pobre, t+o pobre, que no final s tinha dinheiro. >onforto ese%urana s+o muito bons, mas as coisas materiais certamente n+o est+o no topo dahierarquia de uma exist4ncia feliz. Fiqueza de verdade " a do esprito. -a3de fsicaajuda, mas 5s vezes fo%e ao nosso controle. Mas sa3de da mente e do esprito est+o aoalcance da nossa inteli%4ncia. 9nteli%4ncia emocional e inteli%4ncia espiritual operam

    mila%res no corpo fsico. $, por fim, amizades %enunas fazem parte de uma vidacompleta. $las exi%em confiana e afeto. ;ortanto, sejam confi&veis e afetuosos.2nilateralmente. Os ami%os vir+o. (s rela#es pessoais s+o espelhos de ns mesmos.

    Termino aqui, meus queridos ami%os, a%radecendo, comovido, a lembrana do meunome e a acolhida que me deram. ;essoas como voc4s foram abenoadas pela vida eest+o condenadas ao sucesso e 5 felicidade. ;or isso, ousei fazer al%umas reflex#es. Mascada um " feliz 5 sua maneira. Boc4s encontrar+o o prprio caminho. Despeo*metomando emprestado uma frase inspiradora de Mahatma )andhi @-eja voc4 a mudanaque deseja para o mundoA. B+o em paz, cumpram o seu destino, faam o mundo melhor.

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    A vida e o Direito: breve manual de instrues

    I. Introduo

    Eu poderia gastar um longo tempo descrevendo todos os sentimentos bons que vieram aomeu esprito ao ser escolhido patrono de uma turma extraordinria como a de vocs. Mas

    ns somos vocs e eu militantes da revoluo da brevidade. creditamos na utopia deque em algum lugar do !uturo "uristas !alaro menos# escrevero menos e no sero toapaixonados pela prpria vo$.

    %or isso# em lugar de muitas palavras# basta que ve"am o brilho dos meus olhos e sintama emoo genuna da minha vo$. E ningu&m ter d'vida da !elicidade imensa que meproporcionaram. (elebramos esta noite# nessa despedida provisria# o pacto que unir

    nossas vidas para sempre# selado pelos valores que compartilhamos.

    ) lugar comum di$er*se que a vida vem sem manual de instru+es. %or&m# no resisti ,tentao mais que isso# , ilimitada pretenso de sanar essa omisso. -elevem ainsensate$. Ela & !ruto do meu a!eto. %or certo# ningu&m vive a vida dos outros. (ada umdescobre# ao longo do caminho# as suas prprias verdades. ai aqui# ainda assim# nocurto espao de tempo que me impus# um guia breve com ideias essenciais ligadas , vidae ao /ireito.

    II. A regra n 1

    0o nosso primeiro dia de aula eu lhes narrei o multicitado 1caso do arremesso de ano1.(omo se lembraro# em uma localidade prxima a %aris# uma casa noturna reali$ava umevento# um torneio no qual os participantes procuravam atirar um ano# um de!iciente!sico de baixa altura# , maior dist2ncia possvel. 3 vencedor levava o grande prmio danoite. (ompreensivelmente horrori$ado com a prtica# o %re!eito Municipal interditou a

    atividade.

    ps recursos# idas e vindas# o (onselho de Estado !rancs con!irmou a proibio. 0aocasio# di$ia*lhes eu# o (onselho a!irmou que se aquele pobre homem abria mo de suadignidade humana# deixando*se arremessar como se !ora um ob"eto e no um su"eito dedireitos# cabia ao Estado intervir para restabelecer a sua dignidade perdida. Em meio aoassentimento geral# eu observava que a histria no havia terminado ainda.

    E em seguida# contava que o ano recorrera em todas as inst2ncias possveis# chegando

    at& mesmo , (omisso de /ireitos 4umanos da 305# procurando reverter a proibio.6ustentava ele que no se sentia o trocadilho & inevitvel diminudo com aquelaprtica. %elo contrrio.

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    %ela primeira ve$ em toda a sua vida ele se sentia reali$ado. 7inha um emprego# amigos#ganhava salrio e gor"etas# e nunca !ora to !eli$. deciso do (onselho o obrigava avoltar para o mundo onde vivia esquecido e invisvel.

    ps eu narrar a segunda parte da histria# todos nos sentamos divididos em relao aqual seria a soluo correta. E ali# naquele primeiro encontro# ns estabelecemos quepara quem escolhia viver no mundo do /ireito esta era a regra n8 9: nunca !orme umaopinio sem antes ouvir os dois lados.

    III. A regra n 2

    0s vivemos em um mundo complexo e plural. (omo bem ilustra o nosso exemploanterior# cada um & !eli$ , sua maneira. vida pode ser vista de m'ltiplos pontos deobservao. 0arro*lhes uma histria que li recentemente e que considero uma boaalegoria. /ois amigos esto sentados em um bar no las;a# tomando uma cerve"a.(omeam# como previsvel# conversando sobre mulheres. /epois !alam de esportesdiversos. E na medida em que a cerve"a acumulava# passam a !alar sobre religio. 5mdeles & ateu. 3 outro & um homem religioso. %assam a discutir sobre a existncia de/eus. 3 ateu !ala: 10o & que eu nunca tenha tentado acreditar# no. Eu tentei. indarecentemente. Eu havia me perdido em uma tempestade de neve em um lugar ermo#

    comecei a congelar# percebi que ia morrer ali. # me a"oelhei no cho e disse# bem alto:/eus# se voc existe# me tire dessa situao# salve a minha vida1. /iante de taldepoimento# o religioso disse: /eus no deu nem sinal. sorteque eu tive & que vinha passando um casal de esquims. Eles me resgataram# meaqueceram e me mostraram o caminho de volta. ) a eles que eu devo a minha vida1.0ote*se que no h aqui qualquer d'vida quanto aos !atos# apenas sobre comointerpret*los.

    ?uem est certo@ 3nde est a verdade@ 0a !rase !eli$ da escritora nais 0in#

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    mandou chamar um sbio que o a"udasse a interpretar o sonho. 3 sbio !e$ um arsombrio e exclamou: 15ma desgraa# Ma"estade. 3s dentes perdidos signi!icam queossa lte$a ir assistir a morte de todos os seus parentes1. Extremamente contrariado# o6ulto mandou aplicar cem chibatadas no sbio agourento. Em seguida# mandou chamaroutro sbio. Este# ao ouvir o sonho# !alou com vo$ excitada: 1e"o uma grande !elicidade#

    Ma"estade. ossa lte$a ir viver mais do que todos os seus parentes1. Exultante com arevelao# o 6ulto mandou pagar ao sbio cem moedas de ouro. 5m corteso queassistira a ambas as cenas vira*se para o segundo sbio e lhe di$: 10o consigoentender. 6ua resposta !oi exatamente igual , do primeiro sbio. 3 outro !oi castigado evoc !oi premiado1. o que o segundo sbio respondeu: 1a di!erena no est no que eu!alei# mas em como !alei1.

    %ois assim &. 0a vida# no basta ter ra$o: & preciso saber levar. ) possvel embrulhar osnossos pontos de vista em papel spero e com espinhos# revelando indi!erena aos

    sentimentos alheios. Mas# sem qualquer sacri!cio do seu conte'do# & possvel# tamb&m#embal*los em papel suave# que revele considerao pelo outro.

    Esta a nossa regra n8 D: o modo como se !ala !a$ toda a di!erena.

    V. A regra n 4

    0s vivemos tempos di!ceis. ) impossvel esconder a sensao de que h espaos navida brasileira em que o mal venceu. /omnios em que no parecem !a$er sentido no+escomo patriotismo# idealismo ou respeito ao prximo. Mas a histria da humanidadedemonstra o contrrio. 3 processo civili$atrio segue o seu curso como um riosubterr2neo# impulsionado pela energia positiva que vem desde o incio dos tempos. 5mahistria que nos trouxe de um mundo primitivo de aspere$a e brutalidade , era dosdireitos humanos. ) o bem que vence no !inal. 6e no acabou bem# & porque no chegouao !im. 3 !ato de acontecerem tantas coisas tristes e erradas no nos dispensa deprocurarmos agir com integridade e correo. Estes no so valores instrumentais# mas

    !ins em si mesmos. 6o requisitos para uma vida boa. %ortanto# independentemente doque estiver acontecendo , sua volta# !aa o melhor papel que puder. virtude no precisade plateia# de aplauso ou de reconhecimento. virtude & a sua prpria recompensa.

    Eis a nossa regra n8 : se"a bom e correto mesmo quando ningu&m estiver olhando.

    VI. A regra n 5

    Em uma de suas !bulas# Esopo conta a histria de um galo que aps intensa disputa

    derrotou o oponente# tornando*se o rei do galinheiro. 3 galo vencido# dignamente#preparou*se para deixar o terreiro. 3 vencedor# vaidoso# subiu ao ponto mais alto dotelhado e pFs*se a cantar aos ventos a sua vitria. (hamou a ateno de uma guia# que

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    arrebatou*o em vFo rasante# pondo !im ao seu triun!o e , sua vida. E# assim# o galoaparentemente vencido reinou discretamente# por muito tempo. moral dessa histria#como prprio das !bulas# & bem simples: devemos ser altivos na derrota e humildes navitria. 4umildade no signi!ica pedir licena para viver a prpria vida# mas to*somenteabster*se de se exibir e de ostentar. o lado da humildade# h outra virtude que eleva o

    esprito e tra$ !elicidade: & a gratido. Mas ateno# a gratido & presa !cil do tempo: temmemria curta G=en"amin (onstantH e envelhece depressa GristtelesH. %ortanto# nessamat&ria# se"am rpidos no gatilho. gradecer# de corao# enriquece quem o!erece equem recebe.

    Em quase todos os meus discursos de !ormatura# desde que a vida comeou a meo!erecer este presente# eu incluo a passagem que se segue# e que & pertinente aqui. 1scoisas no caem do c&u. ) preciso ir busc*las. (orrer atrs# mergulhar !undo# voar alto.Muitas ve$es# ser necessrio voltar ao ponto de partida e comear tudo de novo. s

    coisas# eu repito# no caem do c&u. Mas quando# aps haverem empenhado c&rebro#nervos e corao# chegarem , vitria !inal# saboreiem o sucesso gota a gota. 6em medo#sem culpa e em pa$. ) uma delcia. 6em esquecer# no entanto# que ningu&m & bomdemais. ?ue ningu&m & bom so$inho. E que# no !undo no !undo# por paradoxal queparea# as coisas caem mesmo & do c&u# e & preciso agradecer1.

    Esta a nossa regra n8 I: ningu&m & bom demais# ningu&m & bom so$inho e & precisoagradecer.

    VII. on!luso

    Eis ento as clusulas do nosso pacto# nosso pequeno manual de instru+es:

    1. 0unca !orme uma opinio sem ouvir os dois ladosJ

    2. verdade no tem donoJ

    3. 3 modo como se !ala !a$ toda a di!erenaJ

    4. 6e"a bom e correto mesmo quando ningu&m estiver olhandoJ

    5. 0ingu&m & bom demais# ningu&m & bom so$inho e & preciso agradecer.

    qui nos despedimos. ?uando meu !ilho caula tinha 9I anos e !oi passar um semestreem um col&gio interno !ora# como parte do seu aprendi$ado de vida# eu dei a ele algunsconselhos. %ai gosta de dar conselho. E como vocs so meus !ilhos espirituais# peolicena aos pais de vocs para repass*los textualmente# a cada um# com toda a energiapositiva do meu a!eto:

    GiH Kique vivoJ

    GiiH Kique inteiroJ

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    GiiiH 6e"a bom*carterJ

    GivH 6e"a educadoJ e

    GvH proveite a vida# com alegria e leve$a.

    o em pa$. 6e"am abenoados. Kaam o mundo melhor. E lembrem*se da advertnciainspirada de /israeli: 1 vida & muito curta para ser pequena1.

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    ()&DO AOS SE)S 16S

    Lus Roberto Barroso

    9. 9'TFOD2GHO

    I& coisas na vida que n+o se repetem. -+o sempre como se fora a primeira vez. -er paraninfo de

    uma turma como a de voc4s " uma delas. ( ale%ria profunda que senti quando Thia%o e Julia Erepresentando toda a turma E me trouxeram a notcia da escolha do meu nome e a emo+o %enuna

    que eu sinto nessa tribuna documentam que esse " um momento 3nico. )ostaria de dizer a voc4s

    nessa hora de despedida al%umas coisas que talvez possam ajud&*los a viver uma vida boa, uma

    vida "tica, uma vida feliz. (l%uns valores e crenas que cultivo. '+o crenas reli%iosas, que a

    reli%i+o " um espao da vida privada. Mas uma f" racional, uma atitude diante da vida.

    (qui v+o elas >reio no bem, na justia, no amor e na toler?ncia. $ creio na %entileza e no bom

    humor como uma boa forma de realiz&*los.

    99. C$M

    >reio no bem, mesmo quando n+o posso v4*lo. Mesmo quando n+o consi%o entender exatamente

    porque as coisas acontecem. >reio no bem como uma ener%ia permanente e crescente, desde o

    incio dos tempos. ( fora propulsora do processo civilizatrio, que nos levou de uma "poca de

    aspereza, de sacrifcios humanos e de tiranias diversas 5 era dos direitos humanos, da democracia,

    da busca da di%nidade da pessoa humana. Minha crena sofre, mas n+o se abala, com o fato de que

    estas n+o s+o realidades concretas em todas as partes do mundo nem para toda a %ente. (s id"ias

    demoram um tempo razo&vel desde quando conquistam cora#es e mentes at" se incorporarem

    efetivamente 5 vida das pessoas. Mas o rumo certo " mais importante do que a velocidade .

    O Cem " feito da boa*f", essa conquista do esprito, que consiste em n+o querer passar os outros

    para tr&s. $ de bons sentimentos, que " a atitude positiva e unilateral de querer bem 5s pessoas em

    %eral. 2m dos se%redos da vida " jamais dar reciprocidade a mau*sentimento. (h, sim quando falo

    do Cem, n+o me refiro a um bem asc"tico, sisudo, circunspecto, que n+o perde o vinco nem

    desmancha o cabelo. alo de um Cem que n+o sacrifica a ale%ria de viver, que tem olhos de ver, que

    se amassa e se descabela. !ue sabe escolher bem. $ que acredita, com ernando -abino, que no

    final, tudo acaba bem. -e ainda n+o est& bem, " porque n+o che%ou ao fim. $is a minha primeira

    crena essencial querer bem, fazer bem, viver bem. $ dormir bem.

    999. J2-T9G(

    >reio E com reservas, mas empenhadamente E na justia dos homens. -ei que ela tarda, 5s vezes

    falha e tem uma queda pelos mais ricos. Mas eu conheo uma le%i+o de pessoas decentes, juzes,

    promotores, defensores, advo%ados que se dedicam ao seu ofcio com tal inte%ridade, que n+o posso

    deixar de acreditar no que eles fazem. )ente que cumpre bem o seu papel, %rande ou pequeno.

    >onsidero que este " outro se%redo da vida fazer bem feita a parte que lhe toca. Tudo o que merece

    ser feito merece ser bem feito. Mas creio, sobretudo, na Justia do universo, no curso da histria, no

    processo civilizatrio, em um futuro de fraternidade e delicadeza. >reio na redistribui+o paulatina

    do poder e da riqueza e creio na pro%ressiva inclus+o social dos excludos. -obre a justia, %ostariade dizer*lhes ainda duas coisas.

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    ( primeira a justia n+o " incompatvel com o perd+o, com a compaix+o, com a solidariedade 5s

    vidas que n+o deram certo. Ouvi de um %rande juiz a se%uinte confiss+o @(o lon%o da vida, j& me

    arrependi de ter sido justo, mas nunca de ter sido bomA. ( se%unda a justia n+o " feita de certezas

    absolutas ou de verdades plenas. ( vida tem muitos pontos de observa+o. Ks vezes, cada um de

    ns ter& d3vida interna real sobre o que " certo e justo. Lembro*me sempre da histria do advo%ado

    que, aps haver vencido a causa, comunicou ao seu cliente @ez*se justiaA. (o que o clienterespondeu @Bamos recorrer imediatamenteA.

    9B. (MOF

    >reio no amor. O que vale a vida s+o nossos afetos. >reio no amor dos pais pelos filhos, dos filhos

    pelos pais. 7!uanto tempo a %ente leva nessa vida para descobrir que quem sabia das coisas eram

    nossos pais8. >reio no amor prprio, que d& paz e se%urana nos caminhos da vida. Mas n+o no

    amor narcsico, na obsess+o de si. >reio no amor ao prximo, na b4n+o que " o sentimento de

    fraternidade. )ostar das pessoas como uma atitude padr+o. -ejam %enerosos. 'o balano final da

    vida, a %ente " jul%ado pelo que faz de %raa, por amor ou compaix+o. ( propsito, creio no amorapaixonado, de um homem por uma mulher, de uma mulher por um homem. De uma pessoa por

    uma pessoa. >reio que qualquer maneira de amar vale a pena e que todo amor deve ousar dizer seu

    nome. $ desejo a cada um de voc4s que encontre o amor como o que foi imortalizado por Jor%e

    Luis Cor%es nessa linda declara+o @$star com voc4 ou n+o estar com voc4 " a medida do meu

    tempoA.

    B. TOL$FN'>9(

    >reio na toler?ncia. 'a capacidade de compreender e respeitar o outro, aquele que " diferente da

    %ente. O mundo contempor?neo " feito de pluralismo e diversidade. I& muitos projetos de vidale%timos. I& m3ltiplas raas, reli%i#es, ideolo%ias. 1 preciso escolher os prprios valores e

    conviver em harmonia com as escolhas alheias. '+o falo de um relativismo moral, que n+o tenha

    uma id"ia do que " bom, certo e justo. '+o estejam ao sabor dos ventos ou 5 merc4 de aventureiros.

    alo da rejei+o ao perfeccionismo moral, que acha que deve universalizar e impor os prprios

    valores, os seus projetos de vida, como se fossem os 3nicos. '+o creio em verdades absolutas, em

    do%mas que n+o podem ser questionados. >reio na raz+o, na capacidade de compreender e justificar

    fenmenos e a#es. $ creio na f", na capacidade de acreditar no que n+o pode ser visto ou tocado.

    >ada um com a sua.

    -ou filho de m+e judia e pai catlico. -ou tecnicamente judeu em um pas crist+o. 'o final daadolesc4ncia, fiz um interc?mbio acad4mico nos $stados 2nidos e morei com uma ador&vel famlia

    protestante, presbiteriana. ;assados mais de P0 anos, continuamos ami%os e nos freqQentamos.

    Durante minha temporada de estudos em Rale, meu vizinho de porta era da (r&bia -audita e,

    portanto, muulmano. 'a noite em que eu che%uei no apartamento da universidade, a luz ainda n+o

    havia sido li%ada. O -heiS E era assim o que cham&vamos E fez uma extens+o l& da casa dele e

    tivemos uma l?mpada em casa na primeira noite. Depois, me ajudou a montar todos os mveis. -ou

    eternamente %rato 5quela curiosa fi%ura, sempre de camisol+o e que eu diversas vezes fla%rei na

    %ara%em tomando um bom conhaque escondido.

    $u creio honesta e sinceramente na i%ualdade das pessoas. ( vida me provou que submetidas 5s

    mesmas condi#es, aos mesmos estmulos ou 5s mesmas press#es, as pessoas tendem a rea%ir da

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    mesma forma. -+o i%uais na sua humanidade, nos seus medos, nas suas falhas e nas suas virtudes.

    ;or fim, dois temperos importantes para a vida.

    B9. )$'T9L$(

    O primeiro " a %entileza. -er %entil " como fazer a vida acontecer ao som de uma boa m3sica.

    ;recisar n+o precisa, mas faz toda a diferena. 9ma%inem um filme, uma novela sem trilha sonora. (%entileza " um toque de classe em um mundo pra%m&tico, apressado, indiferente. $la " uma forma

    mais doce, mais am&vel de dizer a mesma coisa. ;or exemplo, em vez de falar @'unca ouvi nada

    t+o est3pidoA, considerem de uma prxima vez a se%uinte alternativa @'unca tinha pensado nisso

    sob essa perspectivaA. Bejam tudo, deixem passar muita coisa, corrijam um pouco . ( %entileza n+o

    rende tributo 5 falsidade. ( falsidade " incompatvel com todos os valores substantivos de que falei

    antes. 'a vida, na maior medida possvel, a %ente deve conservar a sinceridade, a autenticidade.

    ;oder ser o que se " e viver o que se pre%a " uma b4n+o, uma liberta+o.

    B99. COM I2MOF

    ;or fim, tenham bom humor. '+o se levem a s"rio demais. Trafe%uem pela vida com leveza, que era

    uma das propostas de 9talo >alvino para o prximo mil4nio. O humor pode ter malcia, mas n+o

    maldade. Lembro*me quando era criana que um dos cole%as da rua tinha o apelido de @FebouasA.

    9ntri%ado, meu pai per%untou a raz+o do apelido. 1 que o indi%itado tinha um nariz enorme e o t3nel

    Febouas havia sido inau%urado h& pouco tempo, como o maior do mundo. 'unca esqueci da frase

    carinhosa do meu pai @( %ente n+o deve criticar defeito fsico de nin%u"m. ( pessoa n+o tem culpa

    nem pode modificar a realidadeA. Ou seja se a crtica n+o pode ser construtiva, " preciso refletir se

    ela " cabvel e necess&ria. Iiptese diferente " a da barbearia que havia l& em Bassouras E minha

    querida terra natal E e que quase foi 5 fal4ncia. 'a porta do estabelecimento havia uma placa@>orto cabelo e pintoA. ;elas d3vidas, a clientela n+o se arriscava l& dentro. 2ma alma bem

    intencionada, com um pouco de domnio da lin%ua%em, su%eriu pequena altera+o nos dizeres

    @>orto e pinto cabeloA. O barbeiro viu renascer a clientela. O episdio, ali&s, adverte para uma das

    dificuldades do mundo jurdico nunca subestimem o poder das palavras e os riscos da ambi%Qidade

    da lin%ua%em.

    B999. D$-;$D9D(

    1 boa hora de terminar. Desde o discurso de posse de CaraS Obama ficou estabelecido que nin%u"m

    deve falar mais do que vinte minutos. (li&s, em mat"ria de discursos na presid4ncia dos $stados2nidos, tenho passado a vida assombrado desde que li o se%uinte )eor%e Uashin%ton fez o menor

    discurso de posse na histria americana, com apenas VPP palavras. Uilliam IenrW Iarrison fez o

    maior, com X.YPP palavras, num dia frio e tempestuoso em Uashin%ton, D.>. $le morreu um m4s

    depois, de uma %ripe extremamente severa, que contraiu naquela noite. >reio que esta seja a

    maldi+o que recai sobre oradores que falam al"m do seu tempo.

    -enhores pais, de san%ue e de afeto somos ns que estamos no palco, mas esta noite " de voc4s.

    (qui se celebra o sucesso da educa+o que deram aos seus filhos. $les est+o criados, bem criados.

    Daqui eles partir+o para conquistar o mundo. Fespirem fundo.

    Meus queridos afilhados n+o se esqueam de ser felizes. Lembrem*se que a felicidade tem mais a

    ver com atitudes do que com circunst?ncias. Boem alto, mer%ulhem fundo, encontrem o prprio

  • 7/23/2019 Barroso - Palestra

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