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Trigo no Brasil/19 Bases para produção competitiva e sustentável de trigo no Brasil Gilberto Rocca da Cunha João Leonardo Fernandes Pires Leandro Vargas Introdução O trigo faz parte do seleto grupo de commodities agrícolas que domina tanto a produção quanto o comér- cio mundial de grãos. Na safra 2010/2011, por exemplo, conforme estimativas do USDA - world Agriculture Supply and De- mand Estimates (USDA, 2011), foram, pro- duzidos 648,21 milhões de toneladas desse cereal no mundo, sendo 19,5% (126,40 mi- lhões de toneladas) comercializados en- tre as nações. O Brasil, nesse contexto, tem suas peculiaridades, uma vez que faz par- te tanto do clube de países importadores quanto exportadores de trigo. As estatís- ticas da Companhia Nacional de Abasteci- mento (CONAB,2011) demonstram que, em 2010, a realidade do País no tocante ao tri- go não se coaduna com o desempenho glo- bal da agricultura brasileira. Para o aten- dimento do consumo de 10,465 milhões de toneladas, foram produzidos 5,882 milhões de toneladas, importados 5,907 milhões de toneladas e exportados 2,398 milhões de to- neladas. Produção e exportação de trigo, se- guramente, estão muito aquém das poten- cialidades brasileiras para com esse cultivo. Historicamente, produzir trigo no Bra- sil de forma competitiva e sustentável tem sido um dos principais desafios de nossa agricultura. Há registros do cultivo de tri- go no País desde os primórdios do descobri- mento. Embora uma triticultura tecnologi- camente embasada, não sem controvérsias, tenha sido efetivamente consolidada a par- tir da segunda metade do século 20, foi so- mente após 1990 que essa ficou expos- ta exclusivamente às leis de mercado. Não obstante dispormos de condições adequa- das de ambiente (clima e solo), de estrutura de produção, de agricultores e assistentes técnicos capacitados e com domínio tecno- lógico pleno (cultivares e práticas de ma- nejo), como bem atestam os desempenhos em rendimento e em qualidade tecnológica do trigo produzido no Brasil, há quem ain- da ponha dúvida, mais por desconhecimen- to de causa que por qualquer outra coisa, sobre a viabilidade de produção desse cere-

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Trigo no Brasil/19

Bases para produçãocompetitiva e sustentávelde trigo no Brasil

Gilberto Rocca da CunhaJoão Leonardo Fernandes PiresLeandro Vargas

Introdução

O trigo faz parte do seleto grupo decommodities agrícolas que dominatanto a produção quanto o comér-

cio mundial de grãos. Na safra 2010/2011,por exemplo, conforme estimativas doUSDA - world Agriculture Supply and De-mand Estimates (USDA, 2011), foram, pro-duzidos 648,21 milhões de toneladas dessecereal no mundo, sendo 19,5% (126,40 mi-lhões de toneladas) comercializados en-tre as nações. O Brasil, nesse contexto, temsuas peculiaridades, uma vez que faz par-te tanto do clube de países importadoresquanto exportadores de trigo. As estatís-ticas da Companhia Nacional de Abasteci-mento (CONAB,2011) demonstram que, em2010, a realidade do País no tocante ao tri-go não se coaduna com o desempenho glo-bal da agricultura brasileira. Para o aten-dimento do consumo de 10,465 milhões detoneladas, foram produzidos 5,882 milhõesde toneladas, importados 5,907 milhões detoneladas e exportados 2,398 milhões de to-

neladas. Produção e exportação de trigo, se-guramente, estão muito aquém das poten-cialidades brasileiras para com esse cultivo.

Historicamente, produzir trigo no Bra-sil de forma competitiva e sustentável temsido um dos principais desafios de nossaagricultura. Há registros do cultivo de tri-go no País desde os primórdios do descobri-mento. Embora uma triticultura tecnologi-camente embasada, não sem controvérsias,tenha sido efetivamente consolidada a par-tir da segunda metade do século 20, foi so-mente após 1990 que essa ficou expos-ta exclusivamente às leis de mercado. Nãoobstante dispormos de condições adequa-das de ambiente (clima e solo), de estruturade produção, de agricultores e assistentestécnicos capacitados e com domínio tecno-lógico pleno (cultivares e práticas de ma-nejo), como bem atestam os desempenhosem rendimento e em qualidade tecnológicado trigo produzido no Brasil, há quem ain-da ponha dúvida, mais por desconhecimen-to de causa que por qualquer outra coisa,sobre a viabilidade de produção desse cere-

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al no País. Esse livro presta-se sobremanei-ra para demonstrar quão equivocada é essavisão que, lamentavelmente, pode ser en-contrada com relativa facilidade em falasde alguns atores da agricultura brasileira.

Muitas das variações em desempenhodo trigo - rendimento, qualidade tecnoló-gica e retorno econômico - entre países oumesmo entre regiões brasileiras são refle-xos de diferenças associadas à disponibili-dade de recursos do ambiente (clima e so-lo), ao uso de tecnologia e à estrutura deprodução e qualidade de gestão do processoprodutivo, envolvendo preponderantemen-te o elemento humano. Em agricultura, umdos papéis da Ciência, Tecnologia e Inova-ção (CT&I) é, pela via tecnológica, promo-ver a melhoria na eficiência de uso de re-cursos, que são fornecidos pelos insumose pelas disponibilidades do ambiente, porunidade de produto colhido nas lavouras.Nesse livro, pode ser encontrado o que háde melhor em CT&Ipara a produção de tri-go no Brasil. O foco da obra é a criação dacapacidade para se produzir trigo no Bra-sil, de forma competitiva e sustentável, apartir de um modelo de gestão de produ-ção baseado em tecnologia e inovação e,acima de tudo, em sintonia plena com osdiversos segmentos que formam o comple-xo agroindustrial desse cereal no País. São18 capítulos assinados por especialistascom vasta experiência na cultura, cobrin-do os mais variados aspectos do complexoagroindustrial de trigo no Brasil, desde osetor de insumos, passando pelo processode produção e manejo de cultivo em esca-la de lavoura, pelos agentes de comerciali-zação e da indústria de processamento deingredientes à base de trigo, até a mate ria-lização do produto, seja na forma de pão,bolo, biscoito, macarrão ou qualquer ou-tra, que atinge o consumidor final.

Trata-se de uma obra orientada, aprincípio, aos assistentes técnicos que atu-am em escala de lavoura, bem como aos de-mais agentes ligados a diversos segmentosque compõem o complexo agroindustrialdo trigo no Brasil. Não é um livro texto, naacepção da palavra, porém serve para usoacadêmico, tanto em cursos de graduaçãoquanto de pós-graduação nas ciências agrá-rias, por cobrir, com profundidade e rigor,todo o complexo agroindustrial desse cere-al, valendo-se do que há de melhor em co-nhecimento científico sobre trigo no Brasil.

Em um livro como esse, em que há mui-tos autores e uma vastidão de assuntos co-bertos, em alguns pontos o leitor pode sedefrontar com a repetição e até mesmocom pequenas discordâncías entre capítu-los, embora tratem do mesmo tema. Os edi-tores estão conscientes disso, e, nesse ca-pítulo inicial, buscam, a partir da marcade inovação e atualidade que caracteriza aobra, contextualizar o seu lugar mais ade-quado, em meio a outras similares, ante-riormente publicadas sobre trigo no Brasil.

o lugar desse livro

A importância da cultura do trigo - his-tórica e econômica - a exemplo de outrospaíses, tem servido para justificar uma vas-ta bibliografia sobre esse cereal no Brasil.Desde o último quartel do século 19, comrelativa facilidade são encontrados textosque, em função de formato da publicação,estrutura de linguagem, da abrangência detópicos e da característica de síntese do co-nhecimento de uma época, podem ser clas-sificados como livros que tratam do cultivode trigo em terras brasileiras.

Dentre as obras seminais dessa natu-reza, vale pinçar o capítulo sobre o culti-vo de trigo no livro Cultura dos Campos, de

Joaquim Francisco de Assis Brasil, cuja pri-meira edição data de 1897 (ASSIS BRASIL,1977). Depois, há destaque para as publi-cações de A. Gomes Carmo: O Problema Na-cional da Produção do Trigo (CARMO, 1911)e A Cultura do Trigo (CARMO, 1918), que sesomam ao livro do professor de geografiahumana na Faculdade de Filosofia da Uni-versidade do Rio Grande do Sul, LourençoMário Prunes, intitulado O Trigo, de 1939(PRUNES, 1939). Todas, apesar de embasa-das principalmente em conhecimentos ge-rados no exterior, cobrem os aspectos re-lacionados com a produção desse cereal noPaís, e, inclusive, dão ares de contempora-neidade ao apresentarem discussões e da-dos econômicos, além de tecerem conside-rações operacionais sobre a indústria demoagem de trigo.

Depois, no contexto do estímulo à pro-dução de trigo no Brasil, patrocinado ini-cialmente pelo Governo Federal com a cria-ção, em 1919, das Estações Experimentaisde Ponta Grossa, no Paraná, e de AlfredoChaves (atualmente Veranópolís), no RioGrande do Sul, somadas à contratação dosespecialistas estrangeiros Carlos Gayer eIwar Beckman, foram produzidos novosdocumentos sobre tecnologia de produçãode trigo, como A cultura do trigo no Brasil(BECKMAN,1949) e Cultura prática do trigo(GAYER,1950). Vale referir, também, o li-vro de Edgar Fernandes Teixeira, de 1948, AProdução de Trigo no Brasil (TEIXEIRA,1948)que, seguindo o molde dos antes referidos,inclui informações oriundas da, na época,ainda incipiente experiência brasileira emcultivo de trigo. No tocante aos aspectossocioeconômicos e políticos relacionadoscom o complexo agroindustrial do trigo,têm-se os livros A tragédia do trigo brasilei-ro (COMPAGNONI,1958), que reúne os dis-curso em prol da triticultura nacional do

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então deputado federal pelo Rio Grandedo Sul Luiz Compagnoni, e O trigo no Bra-sil (FREITAS;DELFIMNETTO, 1960), de LuizMendonça de Freitas e Antonio Delfim Net-to, publicado, em 1960, por iniciativa daAssociação Comercial de São Paulo.

As obras O Trigo no Sul do Brasil(TEIXEIRA,1958), de Edgar Fernandes Tei-xeira, e o livro Trigo (BAYMA, 1960), emdois volumes, de Cunha Bayma, publica-do pelo Serviço de Informação Agrícola(SIA), instituição vinculada ao Ministérioda Agricultura, foram, sob o ponto de vis-ta do uso do enfoque de sistema de produ-ção, as obras mais completas publicadas noPaís, até então.

A partir dos anos 1970, as principaisorientações tecnológicas para produção detrigo passaram a ser disponibilizadas naspublicações derivadas das reuniões das co-missões de pesquisa (Comissão Sul-Brasi-leira de Pesquisa de Trigo, Comissão Cen-tro-Sul-Brasilera de Pesquisa de Trigo eComissão Centro-Brasileira de Pesquisade Trigo) que, a partir de 2007, foram in-tegradas na Comissão Brasileira de Pesqui-sa de Trigo e Triticale. Tais indicações sãoautênticos manuais para a assistência téc-nica, anualmente atualizados, cobrindo osmais variados aspectos da produção de tri-go, da pré-serneadura à pós-colheita. Essaspublicações pelo caráter de aplicação e atu-alização permanente, até certo ponto nãoestimularam a necessidade de novos livrossobre trigo no Brasil (REUNIÃO..., 2005a,2005b,2005c, 2010).

De qualquer forma, surgiram, dos anos1980 até os tempos atuais, diversos livros, al-guns específicos e outros mais abrangentes,sobre trigo no Brasil. Muitos desses são, notocante à tecnologia de produção, majori-tariamente baseados em compilações de in-formações derivadas das publicadas das co-

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missões de pesquisa de trigo. Nesse grupo,incluem-se os livros: Cultivo dos cereais deestação de fria: trigo, cevada, aveia, centeio, al-piste, triticale (MUNDSTOCK, 1983), Trigo:da lavoura ao pão (BASTOS, 1987), A culturado trigo (OSÓRlO, 1992), Trigo para o abaste-cimento familiar; do plantio à mesa (SILVAetal., 1996), Planejamento e manejo integra-do da lavoura de trigo (MUNDSTOCK,1998),Tecnologia para produzir trigo no Rio Gran-de do Sul (CUNHA; BACALTCHUCK,2000) e,mais recentemente, Manual da cultura do tri-go (FORNASIERIFILHO, 2008). Ainda, desseperíodo, tratando de aspectos socioeconô-micos e políticos relacionados com o com-plexo agroindustrial do trigo, têm-se os li-vros Trigo no Mercosul (CUNHA;TROMBINI,1999), Estratégias para o trigo no Brasil (ROSSI;NEVES, 2004) e A competitividade do tri-go brasileiro diante da concorrência argentina(BRUM; MÜLLER,2006); entre outros.

Em língua inglesa, há algumas obrassobre trigo, que alcançaram grande su-cesso editorial e com as quais essa apre-senta similaridades. É o caso do livroWheat and wheat improvement, lançadoem 1967 (QUISENBERRY; REITZ, 1967),e sua segunda edição, revista e ampliada(HEYNE, 1987), e, em, tempos mais recen-tes) as obras wheat: ecology and physiologyaf yield determination (SATORRE; SLAFER,1999) e Wheat: science and trade (CARVER,2009).

Até quanto conhecemos, desde o livroTrigo no Brasil (OSÓRlO, 1982), publicadosob os auspícios da Fundação Cargill, com acoordenação do professor Eduardo AlgayerOsório, nenhum outro veio a público comas características desse que ora está sen-do disponibilizado, razão que, ao nosso ver,somada à necessidade de atualização de in-formações e ampliação do alcance daque-la obra seminal em áreas do conhecimen-

to avançado, justifica e define o lugar dessenovo livro no ambiente configurado pelocomplexo agroindustrial do trigo no Brasildo século 21.

Conteúdo dos capítulos

Neste capítulo 1, é apresentada, peloseditores, uma justificativa para o livro Tri-go no Brasil: bases para produção competitiva esustentável, sendo buscada, a partir dos di-ferenciais que possui - inovação, atualiza-ção de informações, foco em todos os seg-mentos do complexo agroindustrial dotrigo no Brasil e expertise dos autores - adefinição do lugar mais adequado para essecompêndio, em meio a outros similares an-teriormente publicados no País. Inclui, ain-da que resumidamente, aquilo que forma aessência da cada capítulo, dando uma visãogeral da obra aos leitores.

O Brasil, em termos de orientação pa-ra pesquisa e transferência de tecnologia, édividido em três regiões tritícolas: Sul-Bra-sileira (RS e SC), Centro-Sul-Brasileira (PR,MS e SP) e Centro-Brasileira (GO, DF, MG,MT e BA). O capítulo 2 contempla a regio-nalização para determinação do Valor deCultivo e Uso (VCu) de cultivares de tri-go no Brasil, em que se delimita a regiãoúmida, que vai do Rio Grande do Sul atéo norte do Paraná, com pelo menos du-as divisões: uma parte fria e outra quen-te. A região moderadamente seca e quen-te, porém passível de cultivo de trigo semirrigação, é identificada no norte do PR,sul de SP e parte do território do MS. Porúltimo, uma região quente e seca envol-ve parte dos estados de SP e MS, além deGO, DF, MG, MT e BA. O capítulo tambéminclui uma síntese de trabalhos sobre zo-neamento agrícola para trigo no Brasil eindicações de épocas de semeaduras mais

favoráveis, com destaque para os riscosde natureza climática inerentes ao cultivodesse cereal no País.

O capítulo 3 descreve o complexoagroindustrial de trigo, apresentando visãoglobal do negócio no País e no mundo. Des-taque para análise do panorama do merca-do mundial e brasileiro, que possibilita oentendimento da dinâmica de produção, dobalanço de oferta e demanda e de comércioexterior. Também são incluídas seções so-bre comportamento de preços e custos deprodução.

A filosofia de práticas sustentáveis demanejo em trigo pode ser decisiva tan-to para a obtenção de pequenos ganhosde rendimento e/ou eficiência econômica(práticas promotoras) quanto para redu-ção de perdas, via gestão técnica de pro-cessos e de uso de insumos. No capítulo 4são tratados alguns pontos consideradosrelevantes para o sucesso da cultura de tri-go no Brasil, com o enfoque de sistema deprodução. Na sua elaboração, serviram debase apenas resultados de pesquisas quedão sustentação a tecnologias efetivamen-te validadas e de uso consolidado, nas dife-rentes regiões em que esse cereal é cultiva-do no País.

No capítulo 5, os autores discutem asbases eco fisiológicas para a obtenção derendimentos elevados em trigo. É apresen-tado o processo de formação do rendimen-to de grãos em trigo ao longo do ciclo dedesenvolvimento desse cereal. Destaqueé dado à influência do ambiente na dura-ção das fases vegetativa, reprodutiva e en-chimento de grãos e dos subperíodos entreestádios críticos para a definição de com-ponentes do rendimento, em função de res-postas à temperatura e ao fotoperíodo.

O conceito de fertilidade de solo e suasimplicações para a cultura do trigo no Bra-

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sil é objeto do capítulo 6, onde são apresen-tadas as principais reações químicas que,em princípio, definem as variáveis de men-suração de status da fertilidade dos solos,tanto sob o ponto de vista de diagnósticoquanto de orientação de manejo de aduba-ções e nutrição de cultivos. Complementamo capítulo orientações sobre o manejo dacorreção de solos e da adubação em trigo.

O sistema plantio direto na palha, comdiferentes graus de obediência aos seusprincípios - cobertura permanente do solo,revolvimento apenas na linha/cova de se-meadura, rotação de cultivos e intensifica-ção no uso da terra - é, atualmente, práticapreponderante nos sistemas de produçãoque incluem o trigo no Brasil. No capítulo7 são tratados aspectos históricos desse sis-tema, origem na agricultura mundial e in-trodução no Brasil, os requisitos para a suaimplementação, além de apresentadas al-gumas práticas conservacionistas passíveisde utilização na agricultura brasileira.

No capítulo 8, é enfatizado o uso doenfoque sistêmico como base de elevaçãoda produtividade do trigo no Brasil. Dis-cutem-se os efeitos de esquemas de rota-ção de cultura e de práticas de integraçãolavoura-pecuária sobre aspectos fítopa-tológicos (doenças radiculares, principal-mente) e sobre o rendimento de trigo, sobsistema plantio direto, no sul do Brasil. Asconclusões são embasadas em análises eco-nômicas e de risco.

A intensificação da agricultura nomundo, cada vez mais, manifesta-se pelavia da integração de sistemas, a exemplo delavoura-pecuária-floresta (iLPF). Nesse tipode sistema integrado, o chamado trigo deduplo propósito ajusta-se plenamente, porse prestar, na mesma safra, tanto à produ-ção de forragem quanto de grãos. Algumascaracterísticas, como ciclo mais longo, po-

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tencial elevado de perfilhamento, maiorvigor e maior taxa de desenvolvimentoinicial da cultura, diferenciam essas culti-vares. No capítulo 9 é apresentado o siste-ma de manejo de trigo para duplo propósi-to, desde a escolha de cultivares e manejode animais até práticas culturais específi-cas desse sistema, além de tecidas compa-rações econômicas e de produção de for-ragem, envolvendo o desempenho de trigode duplo propósito versus outras opções decultivo de inverno.

As plantas daninhas, quer seja pe-la competição por recursos do ambien-te (água, luz e nutrientes), por causaremefeitos alelopáticos ou, indiretamente, pe-la contaminação de grãos com materiaisestranhos, estão entre os agentes respon-sáveis por baixos rendimento e menor va-lor econômico do produto que é colhido emmuitas lavouras. No capítulo 10, são des-tacadas as principais plantas daninhas emtrigo no País, identificados os períodos crí-ticos de competição e detalhados os méto-dos de controle que podem ser utilizadosde forma conjunta ou isolada. Também fo-ram incluídas informações sobre reaçõesde cultivares de trigo a herbicidas.

O capítulo 11 trata dos principais inse-tos que se enquadram na categoria de pra-gas do trigo no Brasil. As espécies, pragasprincipais e secundárias, são caracteriza-das quanto à bioecologia, ocorrência e da-nos. Ainda, para aquelas classificadas comoprincipais, são sugeridas medidas de con-trole, seguindo princípios de manejo inte-grado de insetos-praga (MIP).

O trigo, a exemplo de outros cultivos, éacometido por inúmeras doenças, sejam vi-roses, doenças bacterianas ou doenças fún-gicas, que afetam o desempenho produtivodo cultivo, com maior ou menor predomi-nância de cada tipo conforme a região do

País ou as condições climáticas predomi-nantes nas safras. No capítulo 12 são des-critas as principais doenças do trigo noBrasil, com ilustrações de sintomas típicos,informações sobre os agentes etiológicos,epidemiologia e formas de controle.

A expectativa de retorno dos investi-mentos na lavoura de trigo começa, efe-tivamente, a materializar-se no momentoda colheita. É por isso que essa operaçãopode representar o diferencial entre o su-cesso e o fracasso do empreendimento.No capítulo 13 são apresentadas técnicase metodologias de retirada da produçãode trigo da lavoura, garantindo a qualida-de genética/tecnológica e minimizando oefeito negativo do ambiente.

O capítulo 14 trata, especificamente,de questões relacionadas com a produçãode sementes de trigo. Apesar das aparen-tes similaridades, são muitas as diferençasque envolvem a condução de uma lavouracuja finalidade é a produção de grãos de ou-tra, destinada à produção de sementes. Oscuidados, desde o manuseio da semente ge-nética, com origem nos programas de me-lhoramento genéticos orientados para acriação de cultivares, até as categorias co-mercias, são minuciosamente descritos, po-rém com senso de aplicação prática.

A qualidade tecnológica, em geral, de-fine a orientação industrial de uso para otrigo. No capítulo 15 são apresentados tes-tes padrões, conforme normas internacio-nais, envolvendo descrição de métodos (fí-sico-químicos, reológicos e de uso final),incluindo o detalhamento do instrumentalempregado na avaliação de qualidade te c-no lógica de trigo e de farinhas, com vistasà tipifícação para uso. Também há destaqueaos fatores que afetam a qualidade de trigo,desde genéticos, ambientais e de práticasde manejo da cultura, até a pré-colheita.

o foco do capítulo 16 é a gestão da qua-lidade de trigo na pós-colheita. Questõesrelacionadas com qualidade, segurança dealimentos, segregação e identidade de pro-dutos são discutidas, conceitualmente, àluz da legislação brasileira, regulamentosinternacionais e princípios de gestão ope-racional. Ênfase é dada à preservação daqualidade e identidade do trigo brasileiro,sendo apresentados os principais contami-nantes - pragas e fragmentos, fungos toxi-gênícos e resíduos de inseticidas - e descri-tos os sistemas de gestão da qualidade quepriorizam a segurança dos produtos, alémde tecidas considerações sobre segregaçãode trigo e certificação de produto e de uni-dades armazenadoras.

Um relato da história do melhora-mento genético do trigo no Brasil, in-cluindo instituições, pessoas e cultiva-res elites, métodos de melhoramento deplantas, gestão de recursos genéticos etodo o processo de criação de cultivares,desde a experimentação até o registro deproteção, é, com detalhamento inédito eorientação prática, contemplado no capí-tulo 17.

Por fim, a visão de futuro do melhora-mento genético de trigo, integrando o quese costuma chamar de melhoramento ge-nético convencional com ferramentas debiologia molecular, é tratada no capítulo18. Da citogenética clássica, passando pelatecnologia do DNA recombinante, pelo se-quenciamento de DNA até análises de ex-pressão genética e transcricionais, são en-fatizadas as reais e potencias contribuiçõesda biologia avançada. Ênfase é dada na sele-ção assistida por marcadores moleculares eem protocolos laboratoriais para a supera-ção de antigos e de novos entraves ao culti-vo de trigo no Brasil.

Trigo no Brasil 125

Agradecimentos

Os editores agradecem, de forma es-pecial, aos autores dos diversos capítulos,pois estão convictos que cada colaboradordeste livro deu o melhor de si, buscando, nasua área do conhecimento, a realização deum trabalho crítico e atualizado sobre tri-go no Brasil.

Também são gratos aos revisores que,anonimamente, como requer o processode revisão por pares, contribuíram efeti-vamente para a melhoria dessa obra, e, porfim, àqueles que, em diferentes etapas doprocesso editorial - desde o recebimento epreparação dos originais para envio aos re-visores, implementação das sugestões/ cor-reções, revisão gramatical, diagramação erevisão de provas - não mediram esforçospara que esse livro se materializasse, co-mo Aldemir Pasinato, Ana Lucia MacielWeinmann, Everaldo Siqueira, João CarlosHaas, Leila Maria Costamilan, LicianeToazza Duda Bonatto, Maria Regina CunhaMartins e Marialba Osorski dos Santos.

A todos, o nosso Muito Obrigado!Passo Fundo, 1º de dezembro de 2011.

Gilberto Rocca da Cunha,João Leonardo Fernandes Pires e

Leandro VargasEditores

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