Bcrll-Hegel-A Ciencia Da Logica Excertos Miolo -2 (1)

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tradução de Marco A. Werle

Transcript of Bcrll-Hegel-A Ciencia Da Logica Excertos Miolo -2 (1)

  • CINCIA DA LGICA

  • G. W. F. Hegel

    Cincia da Lgica (EXCERTOS)

    Seleo e traduo de

    Marco Aurlio Werle

  • Copyright 2011 Marco Aurlio Werle

    Capa

    Marcelo M. Girard

    Imagem da capa

    Reviso Roberto Alves

    Diagramao

    IMG3

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    ndices para catlogo sistemtico:1. Lgica : Filosofia 160

    2011

    Todos os direitos reservados Editora Barcarolla Ltda.Av. Pedroso de Moraes, 631, 11. andar05419-000 Pinheiros So Paulo SP BrasilTelefone/fax (5511) 3814-4600www.editorabarcarolla.com.br

    Hegel, Georg Wilhelm Friedrich, 1770-1831.Cincia da lgica : (excertos) / G. W. F. Hegel ;seleo e traduo Marco Aurlio Werle. --So Paulo : Barcarolla, 2011.Ttulo original: Wissenschaft der LogikISBN 978-85-98233-58-11. Lgica I. Ttulo.11-09168 CDD-160

  • Sumrio

    Apresentao Marco Aurlio Werle 9

    Primeira Parte A lgica objetiva

    Introduo Conceito geral da lgica 21 Diviso geral da lgica 39

    Primeiro Livro A DOUTRINA DO SER 47Com o que deve ser feito o incio da cincia? 49Diviso geral do ser 62

    Primeira seo Determinidade (qualidade) 65

    Primeiro captulo Ser 69A. Ser 71 B. Nada 71 C. Devir 72

    a. Unidade do ser e do nadaObservao 1: A oposio do ser e do nada na representao 72Observao 2: Deficincia da expresso: unidade, identidade 80 do ser e do nadaObservao 3: O isolamento dessas abstraes 83Observao 4: Impossibilidade de apreender o incio 94

    b. Momentos do devir 96c. Superao do devir 97

    Observao: A expresso superar 98

    Segundo Livro A DOUTRINA DA ESSNCIA 101

    Primeira seo A essncia como reflexo nela mesma 107

    Primeiro captulo A aparncia 111A. O essencial e o inessencial 113B. A aparncia 115

  • C. A reflexo 1191. A reflexo que pe 120 2. A reflexo exterior 122

    Observao 1243. A reflexo determinante 125

    Segundo captulo As essencialidades ou as determinaes de reflexo 129Observao: As determinaes de reflexo na forma de enunciados 132

    A. A identidade 134Observao 1: Identidade abstrata 134Observao 2: A primeira originria lei do pensamento, o enunciado da identidade 136

    B. A diferena 1401. A diferena absoluta 1402. A diversidade 142

    Observao: O enunciado da diversidade 1463. A oposio 148

    Observao: As grandezas opostas da aritmtica 152C. A contradio 156

    Observao 1: Unidade do positivo e do negativo 161Observao 2: O enunciado do terceiro excludo 163Observao 3: O enunciado da contradio 165

    Segunda Parte A lgica subjetiva ou a doutrina do conceito

    Sobre o conceito em geral 173Diviso 194

    Primeira seo A subjetividade 197

    Primeiro captulo O conceito 201A. O conceito universal 204B. O conceito particular 209

    Observao: As espcies usuais dos conceitos 217C. O singular 224

    Terceira seo A idia 229 Primeiro captulo A vida 239 Segundo captulo A idia do conhecer 247 Terceiro captulo A idia absoluta 261

  • 9Apresentao MARCO AURLIO WERLE

    A Cincia da lgica [Wissenschaft der Logik] de Hegel foi publica-da pela primeira vez em Nrenberg, junto ao editor J. L. Schrag, em trs partes, entre os anos de 1812 e 1816. O primeiro volume (a lgica objetiva) foi dividido em dois livros: a doutrina do ser (1812) e a doutrina da essncia (1813) e o segundo volume (a lgica subjetiva) contm a doutrina do conceito (1816). A traduo que ora apresen-tamos incide sobre uma seleo de alguns trechos dessa obra de Hegel, o que corresponde aproximadamente a um quarto do texto integral. Procurou-se contemplar as principais caractersticas e etapas segundo as quais se desenvolve o pensamento lgico de Hegel.

    ***

    Inicialmente foram traduzidos os trechos nos quais Hegel explici-ta o que denomina como sendo o lgico [das Logische], isto , o elemento lgico, aquilo que perfaz a natureza da lgica. Hegel com-preende por lgica no um tratado sobre uma disciplina especfica,

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    sobre a lgica como cincia das regras do pensamento ou at mesmo sobre uma nova lgica, algo como uma lgica dialtica, como pre-tendiam especialmente os ps-hegelianos e certos filsofos marxistas. Pelo contrrio, sua reflexo se move no terreno do puro pensamen-to (tanto subjetivo quanto objetivo), legado pela histria da filosofia e que somente reordenado e redimensionado em sua obra em ter-mos especulativos, conforme lemos no incio da Enciclopdia das ci-ncias filosficas: A lgica especulativa contm a lgica anterior e a metafsica, conserva as mesmas formas de pensamento, leis e obje-tos, mas ao mesmo tempo as desenvolve e transforma com categorias ulteriores1. Assim, o empreendimento hegeliano pode ser considerado como uma metafsica ou uma espcie de metalgica. E a lgica se converte na cincia das puras determinaes do pensar [reinen Bestim-mungen des Denkens].

    A lgica perfaz a primeira parte do sistema hegeliano, sendo a se-gunda a filosofia da natureza e a terceira a filosofia do esprito. Cada uma dessas partes da filosofia, compreendida como sistema, , no en-tanto, um crculo acabado em si mesmo e remete a um crculo maior enquanto manifestao da Idia. Inicialmente, a Idia tomada como determinidade pura, no elemento lgico abstrato do pensamento; a se-guir assume a forma da exterioridade, quando passa pela natureza e, por fim, em terceiro lugar, reencontra sua existncia em si e para si no esprito. O reino espiritual ou a vida cultural se desenvolve tanto no plano puro do pensar quanto no terreno fenomnico, de modo que a Idia est tanto fora do tempo quando no tempo, pois, para che-gar a ser para si o que em si, ela necessita operar um juzo absoluto de diferenciao de si mesma, tem de entrar na existncia e ser ativada.

    Diante disso, a lgica perfaz o projeto de pensar as categorias do pensamento a partir delas mesmas, tomadas no apenas como forma, mas tambm como contedo, em seu processo puro de gnese e de constituio como pensamento, sem que se deva assumir pressupostos previa ou exteriormente fixados sobre o que seja o pensamento e sobre

    1 Enciclopdia das cincias filosficas, Werke, Suhrkamp, Frankfurt am Main, 1986, vol. 8, 9, p. 67.

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    o que seja a prpria lgica. Nesse domnio instaurado pelo ato puro de pensar, tambm no se pode partir de um comeo previamente dado e definido, de um ponto de partida ou mbito temtico delimitado desde o princpio. A lgica no opera como as demais cincias, que j pos-suem seu objeto previamente fixado.

    Esse , em linhas gerais, o assunto dos primeiros textos dessa colet-nea, dedicados ao conceito geral da lgica e ao tema do incio da lgica, que h de ser mediado e imediato ao mesmo tempo.

    Devido ao mbito no qual se move o pensamento hegeliano, de-paramos em sua lgica com uma linguagem inegavelmente complexa, que, no quadro da obra hegeliana, atinge aqui um ponto culminante. Hegel observa que a maneira de apreender o esprito lgico que per-passa a terminologia abstrata das noes de pensamento se assemelha ao modo como se aprende uma lngua por meio das estruturas grama-ticais, pelas quais vive e respira essa mesma lngua2. Essa complexida-de do pensamento hegeliano no idiossincrtica, no advm de uma imposio pessoal, como quer fazer crer, entre outros, Schopenhauer, e sim decorre do assunto, da lgica, que a cincia a mais difcil, pois no se ocupa com intuies nem com representaes sensveis abstra-tas, tal como a geometria, mas com puras abstraes e exige a fora e o treinamento para que consigamos nos retrair no puro pensamento, a fim de apreend-lo e nele se mover3. E essa complexidade no pode ser evitada na traduo para o portugus, sob pena de falseamento da mensagem do original. Acrescente-se a isso as dificuldades naturais de transposio entre a lngua alem e a portuguesa. O leitor ter de fazer um esforo de aproximao, de penetrao no fluxo do pensamento hegeliano e na escrita particular de Hegel, a qual instaura a verdade no prprio processo de apresentao do contedo.

    Na filosofia, a verdade no cabe na estrutura comum do juzo, que lida com um sujeito fixo, ao qual se atribui predicados, e sim se move 2 Cincia da lgica, Werke, Suhrkamp, Frankfurt am Main, 1986, vol. 5, p. 55-56.3 Enciclopdia das cincias filosficas, Werke, Suhrkamp, Frankfurt am Main, 1986, vol. 8, 19, p. 67.

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    segundo o enunciado especulativo [spekulativer Satz]. A unidade do conceito, enquanto um complexo de determinaes internamente opos-tas, mas tambm concordantes, destri a forma do enunciado comum, o que se assemelha relao que temos na poesia entre o ritmo, de um lado, e o metro e o acento, de outro. O ritmo resulta do meio e da unificao que oscila entre ambos [o metro e o acento]4.

    Sem entrar aqui nos detalhes do cerne da concepo de um pensa-mento dialtico, nos restringimos observao de que essa maneira de pensar implica que o leitor no se atenha demasiadamente compre-enso imediata, denotativa, de cada frase ou perodo, pois a verdade se apresenta no e pelo todo, por um conjunto de enunciados postos em movimento de pensamento, de conexes e unificaes a serem pensados em sua reflexividade interna e como auto-estabelecimento de sentido no plano da totalidade. evidente que a compreenso do todo impli-ca, por sua vez, tambm uma compreenso precisa de cada momento particular, pois a exposio do absoluto direta e no indireta, como se pudesse ser mediada pela imaginao e por uma aluso aproximada e imprecisa do todo e das partes. A lgica hegeliana e a linguagem da qual se serve exigem que se tenha em vista, a cada momento de determi-nao, uma plenitude consciente de sentido, que no cabe ser pensada em termos simblicos, como operando uma exposio indireta, tal como Kant caracteriza a noo de smbolo no 59 da Crtica da facul-dade de julgar e cuja noo se tornou central para a apreenso do abso-luto na filosofia de Schelling. No porque interessa o todo que ento o pensamento pode negligenciar o particular ou compreend-lo apenas como potncia ou reflexo do absoluto. Poder-se-ia at dizer que o particular exige ateno redobrada, j que posto e assentado [gesetzt] tanto em seu movimento de individuao quanto de universalizao, apresenta-se, na linguagem hegeliana, como universal concreto ou uni-versal particular. Deixemos, porm, em suspenso essa delicada relao entre o todo e as partes, a trama e a urdidura, a forma e o fundo.

    Seja como for, h que suspender, no ato de leitura, os ditames do

    4 Fenomenologia do Esprito, Werke, Suhrkamp, Frankfurt am Main, 1986, vol. 3, p. 59.

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    entendimento comum, que exige que tudo seja sempre imediatamente claro e distinto, que tudo esteja diante dos olhos para ser identificado em sua finitude, como se fosse uma coisa. Inversamente, o pensamento de Hegel requer que nos coloquemos no patamar no das coisas [Din-gen], mas do incondicionado [Unbedingte], do campo da razo e da compreenso da verdade como algo prprio ao pensamento [Denken]. O pensamento possui um domnio peculiar, no apenas regulativo e ilusrio, e sim irredutvel empiria. Identificado com a verdade mais elevada, ele no carece de uma referncia direta com as coisas, embora exista certamente um parentesco entre o pensamento e as coisas5. Mas o pensamento permanece junto das coisas quando as supera ou nega, quando reconhece a contingncia das coisas e no quando se torna ser-vo delas, ao seu carter de simplesmente dado.

    O pensamento em si e para si (tanto terico quanto prtico) implica uma objetividade que lhe prpria como pensamento, uma ontolo-gia inerente ou imanente e somente se compreende como pensamento, no como algo outro, estranho: o esprito apenas para o esprito6. E isso precisamente que define o ser humano como tal: ele o nico ser vivo que pensa racionalmente, sendo a lgica nada mais do que um questionamento radical daquilo que mais nos distingue como seres hu-manos: nossa atividade consciente. Vivemos nesse mundo no apenas sob o registro do em si da natureza, onde falta um nexo verdadeiro de alteridade e mesmidade entre o fenmeno antecedente e subseqente. O ser humano histrico, vive no para si, onde se conjugam potncia e ato. Temos conscincia, ou melhor, somos conscincia, e estamos ime-diatamente colocados nesse patamar, desde o estgio mais imediato da certeza sensvel, o que implica um nexo de herana entre o presente e o passado. No campo das questes humanas impera a reciprocidade

    5 As coisas [Ding] e o pensamento [Denken] dos objetos (assim como tambm a nossa lngua indica um parentesco entre esses dois termos) concordam em si e para si mesmos: o pensamento em suas determinaes imanentes e a natureza verdica das coisas so um e o mesmo contedo (Cincia da Lgica, Werke, Suhrkamp, Frankfurt am Main, 1986, vol. 5, p. 38.).6 Der Geist ist nur fr den Geist, responde Hegel a Kant diante da exigncia implicada na filosofia kantiana de que se avalie o infinito segundo critrios da experincia (Prelees sobre a histria da filosofia, In: Werke, Suhrkamp, Frankfurt am Main, 1986, vol. 20, p. 353).

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    dos eventos que so um-para-o-outro, possuem uma reflexo-em-si e requerem a ateno ao conceito, a apreenso das diferenas na unidade e da unidade nas diferenas, para alm da representao comum e sua reflexo exterior. No eu, tomado em sua verdade como conceito, a dialtica possui seu domiclio mais prprio como universalidade, parti-cularidade e singularidade. Nasce aqui a personalidade individual ou a pura personalidade, que tudo abrange e mantm em si mesmo, como considera Hegel no fim da Cincia da lgica.

    ***

    Avanando na estrutura da Cincia da lgica, optou-se por traduzir os comeos das partes que a compem, respectivamente: da lgica do ser, da lgica da essncia e da lgica do conceito, culminando com a no-o de idia absoluta. Com isso, o leitor poder ter uma noo dos trs tipos ou modos de pensar imperantes na lgica de Hegel. Inicialmente, na lgica do ser, trata-se de reordenar e de aprofundar as noes das categorias de quantidade e qualidade, ao passo que na lgica da essn-cia a inflexo recai sobre as categorias de relao e de modo. Uma dife-rena especfica entre a lgica do ser e a lgica da essncia est no fato de que na lgica do ser se mostram as identidades ou as determinaes consigo mesmas, numa limitao prpria e sem reflexo, ao passo que na lgica da essncia as determinaes so abordadas principalmente em duplas ou como alteridade (que remete noo de outro): essen-cial e inessencial, identidade e diferena, positivo e negativo, forma e matria etc., sob o registro da reflexo e da aparncia.

    Em ambos os casos, porm, Hegel lida com uma reinterpretao e um rearranjo da lgica transcendental de Kant e dos temas tradicionais da metafisica generalis, e isso tendo como pano de fundo toda a hist-ria da filosofia7. como se Hegel pretendesse afirmar, contra Kant, a necessidade de um exame mais aprofundado das categorias, segundo

    7 As consideraes desse pargrafo baseiam-se na abordagem de Jaeschke, Walter. Hegel-Handbuch, Stuttgart/

    Weimar, Metzler, 2003, p. 221-252.

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    as bases no desprezveis de toda a metafsica ocidental, a qual tem de ser ento reavaliada e reelaborada em seus pressupostos. Trata-se, com efeito, de ultrapassar o lugar comum, sustentado ainda por Kant, de que a lgica j estaria acabada desde Aristteles.

    Em terceiro lugar, a marca da lgica do conceito consiste em operar segundo o pensamento da subjetividade como forma infinita. A lgica do conceito se coloca no lugar da metafisica especialis, a qual se ocupa-va tradicionalmente dos temas da alma (psicologia racional), do mundo (cosmologia) e de Deus (teologia). Na Crtica da razo pura de Kant es-ses temas foram acomodados sob a rubrica da dialtica transcendental. A atividade do eu ou, como diria Hegel, do prprio conceito, opera como identidade e diferena no campo do supra-sensvel. Se a essncia a negao do ser, o conceito a negao da negao ou o ser recons-titudo. Assim, se na lgica do ser temos o domnio do pensamento por assim dizer ontolgico e na lgica da essncia o campo do exerccio das relaes e das duplas, tendo como guia a noo de reflexo (refle-xo-em-si), na lgica do conceito, por fim, adentramos no mbito da doutrina do juzo e do silogismo, da totalidade que se engendra como identidade e diferenciao, tendo como fio condutor a dialtica do con-ceito como universal, particular e singular.

    ***

    Em relao aos trechos traduzidos nessa coletnea, observamos que os mesmos sempre so contnuos, ou seja, a opo foi traduzir seqn-cias inteiras de trechos, de modo que se possa justamente perceber o fluxo do pensamento hegeliano. Por exemplo, junto aos trechos iniciais da lgica do ser torna-se fundamental inserir-se no plano das categorias ser e nada, que Hegel longamente explora, no por definies, mas por meio de uma certa pacincia, insistncia ou demora junto ao sentido prprio destas noes, que usualmente sempre confundimos como tendo uma referncia externa: pensamos sempre no ser de algo, ou no nada de algo. Entretanto, essa no a questo quando se quer apreend-las em si e para si, pois o que se deve pensar ento o puro

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    ser e o puro nada (no formais e abstratos, mas como forma e conte-do neles mesmos), o que exige inserir-se num outro plano de pensar. Somente assim ganha densidade essa sentena que causa arrepios a uns (heideggerianos) e suscita a imaginao de outros (sartrianos): o puro ser e o puro nada so o mesmo. E nesse ponto que interessa traduzir o texto hegeliano sem interrupes, a fim de que no se fique preso a meras definies, mas ao processo de pensamento.

    A deciso por um texto sem notas e sem um glossrio dos princi-pais termos do pensamento hegeliano e sua respectiva verso em portu-gus se justifica precisamente tendo em vista oferecer um texto fluente e relativamente acessvel. Isso no significa que no mantivemos uma coerncia terminolgica e que o texto no reflita decises de ordem interpretativa. Alm disso, temos conscincia de que muitos termos comportam outras opes de traduo. Mas, como sempre, tudo de-pende de como se compreende Hegel. Uma divisa central assumida, certamente controversa, e que mereceria ser muito mais discutida em nosso meio acadmico e intelectual brasileiro, a de que a traduo de textos filosficos alemes para o portugus deve respeitar no somente a lngua alem, mas principalmente a portuguesa, de modo a procurar evitar ao mximo a violncia ao portugus, por meio da criao arbi-trria e indiscriminada de termos novos. Mesmo porque, existe nessa atitude de criao de novos termos muitas vezes uma enorme falta de percepo da funcionalidade de uma lngua e de como ocorre a com-preenso de um texto como um todo. E, no caso do pensamento hege-liano, conforme indicado acima, isso se torna ainda mais grave, j que o texto evita intencionalmente que a compreenso do sentido se perca na atomizao do pensamento.

    Ao longo de todo o texto hegeliano encontramos uma operao no campo da linguagem filosfica que procura trazer de volta a fluidez e a concretude dos principais conceitos da metafsica ocidental, principal-mente no que diz respeito reciprocidade dos mesmos, que de alguma maneira foi perdida ao longo dos tempos, quando a filosofia passou a lidar com uma terminologia fixa e rgida. E nesse procedimento Hegel se faz valer exaustivamente da peculiaridade da lngua alem, segundo

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    vrias incurses lingsticas, ao explorar a familiaridade e a diferena especfica entre grupos de palavras, com seus radicais, sufixos e prefi-xos. Alguns exemplos: Satz, Gegensatz, Gesetzsein, Entgegensetzung entram em movimento, quando se afirma: ein Drittes gebe, das gegen den Gegensatz gleichgltig ist. Note-se nessa aliterao a ambigidade presente no termo gleichgltig, que tanto indiferena quanto valer igual/ ter a mesma validade. No caso da dialtica entre identidade e diferena, percebem-se aluses ao gnero das palavras: Identitt femi-nino e Unterschied masculino. J no campo da relao entre ser e nada e a respectiva passagem para a essncia temos a explorao do passado de ser: gewesen, donde surge o Wesen, a essncia que, por sua vez, gera vrias dificuldades de traduo quando nos deparamos com o Unwe-sen: tanto o inessencial quanto o insignificante (unwesentlich), etc.

    Diante dessas e de outras dificuldades, optou-se por uma traduo no rigidamente terminolgica, pois se acredita que a lgica de Hegel no um conjunto de verbetes e de definies isoladas, algo como um livro delta da Metafsica, sobre o que ser, nada, devir, existncia, fini-tude, infinitude, fundamento, realidade, necessidade, negao etc. No nisso que consiste a originalidade do pensamento hegeliano, e sim no modo como pe essas noes em circulao e indica que o carcter de determinao ou a determinidade [Bestimmtheit] de uma noo passa por uma relao negativa ou de negao determinada com uma outra noo. Todas as noes se caracterizam por uma outra, que no uma outra externa primeira, mas o seu outro, o outro que est nela e que somente ento permite a compreensibilidade da primeira. A rigor, He-gel no inventa ou cria nenhuma categoria lgica nova; ele apenas as pe em conexo e em circulao, para evidenciar nelas o funciona-mento e a evoluo do que ele chama de movimento de si do concei-to [Selbstbewegtheit des Begriffes] em sua negatividade e liberdade.

    Certamente uma seleo como essa de alguma forma acaba muti-lando o pensamento hegeliano. No entanto, a deciso de apresentar uma traduo parcial da Cincia da Lgica de Hegel motivada pelo fato de no haver at o momento nenhuma traduo no Brasil. O que temos a traduo da Pequena Lgica, a verso menor e condensada

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    da Lgica, constante na Enciclopdia das cincias filosficas. Assim, a inteno da traduo a de permitir um primeiro acesso, aos pesqui-sadores, professores, alunos e estudiosos em geral da filosofia, desse importante marco do pensamento humano de todos os tempos. Oxal essa traduo sirva de incentivo ou de motivao para o empreendi-mento, sem dvida necessrio para a nossa cultura, de traduo inte-gral dessa obra.

    Por fim, resta informar que a verso do original empregada na traduo a da edio Suhrkamp: Hegel, G. W. F. Wissenschaft der Logik [vol. 5-6], in Werke in zwanzig Bnden, Frankfurt am Main, Suhrkamp, 1986. Tambm foi consultada, com bastante proveito, a traduo espanhola Ciencia de la lgica, feita por Augusta e Rodolfo Mondolfo, Buenos Aires, Solar/Hachette, 1968.

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    Primeira parte A lgica objetiva

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    Introduo Conceito geral da lgica

    Em nenhuma cincia que no a cincia lgica sente-se mais forte-mente a necessidade de comear com a questo mesma, sem reflexes preliminares. Em todas as outras cincias, o objeto a ser abordado e o mtodo cientfico esto separados um do outro; bem como o contedo tambm no constitui um incio absoluto, mas depende de outros con-ceitos e encontra-se dependente de outras matrias circundantes. Por isso, a essas cincias apenas segundo lemas permitido falar de seu solo e da conexo deste, bem como do mtodo, e aplicar tranqilamente suas formas de definies e dados semelhantes, pressupostos como conheci-dos e admitidos, e servir-se do modo comum de raciocinar para o esta-belecimento de seus conceitos universais e determinaes fundamentais.

    A lgica, ao contrrio, no pode pressupor nenhuma dessas formas da reflexo ou regras e leis do pensamento, pois elas constituem uma parte de seu contedo mesmo e tem de ser primeiramente fundamen-tadas no interior dela. No somente a indicao do mtodo cientfico, mas tambm o conceito mesmo da cincia em geral pertencem ao seu contedo e, na verdade, o conceito constitui seu resultado ltimo. O

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    que a lgica , ela no pode, por conseguinte, dizer previamente, e sim todo o seu tratamento produz primeiramente esse saber dela mesma como algo que sua ltima manifestao [ihr Letztes] e como sua con-sumao. Do mesmo modo, seu objeto, o pensar ou mais determinada-mente o pensamento conceitual, essencialmente tratado no interior da mesma; o conceito do mesmo gera-se a si mesmo em seu decurso e no pode ser presumido. Portanto, aquilo que presumido nessa introdu-o no tem a finalidade de fundamentar o conceito da lgica ou de jus-tificar prvia e cientificamente o contedo e o mtodo do mesmo, mas tornar acessvel representao, por meio de alguns esclarecimentos e reflexes, em um sentido raciocinativo e histrico, o ponto de vista a partir do qual essa cincia tem de ser considerada.

    Se a lgica admitida como a cincia do pensamento em geral, entende-se com isso que esse pensamento constitui a mera forma de um conhecimento, que a lgica se abstrai de todo contedo e que o chamado segundo elemento, que pertence a um conhecimento, a saber, a matria, tem de ser dado de outro modo. Assim, a lgica, da qual esta matria seria total e inteiramente independente, apenas pode indicar as condies formais do conhecimento verdico, mas que no pode con-ter a verdade real mesma e tampouco o caminho para a verdade real, porque justamente o essencial da verdade, o contedo, reside fora dela.

    Em primeiro lugar, porm, j inapropriado dizer que a lgica se abstrai de todo contedo, que ela apenas ensina as regras do pensamen-to, sem poder se dedicar ao que pensado e levar em conta a sua cons-tituio. Pois, uma vez que o pensamento e as regras do pensamento devem ser seu objeto, ela j possui assim imediatamente seu contedo peculiar; ela tambm tem com isso aquele segundo elemento do conhe-cimento, a matria, de cuja constituio ela se ocupa.

    Entretanto, em segundo lugar, as representaes sobre as quais at agora repousava o conceito da lgica em parte j sucumbiram e em parte hora de desaparecerem completamente, para que o ponto de vista dessa cincia seja apreendido de modo mais elevado e para que ela adquira uma configurao totalmente modificada.

    O conceito tradicional da lgica repousa sobre a separao, pres-

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    suposta como definitiva pela conscincia comum, do contedo do co-nhecimento e da forma do mesmo ou da verdade e da certeza. Primei-ramente pressupe-se que a matria do conhecimento est dada em si e para si como um mundo acabado fora do pensamento, que o pen-samento para si vazio, se aproxima exteriormente como uma forma quela matria, se preenche com ela e apenas assim conquista um con-tedo, tornando-se desse modo um conhecimento real.

    Logo, esses dois elementos (pois eles tem de ter a relao de elemen-tos e o conhecimento constitudo a partir deles de modo mecnico ou no mximo em termos qumicos) se encontram um diante do outro na seguinte hierarquia: o objeto algo para si consumado, acabado, que poderia dispensar perfeitamente o pensamento para a sua efetividade; ao contrrio, o pensamento seria algo deficiente, que primeiramente teria de se completar com uma matria e, na verdade, como uma forma dcil e indeterminada, teria de se adaptar sua matria. Verdade a concordncia do pensamento com o objeto e, a fim de produzir essa concordncia pois ela no est em si e para si dada o pensamento deve ajustar-se e acomodar-se ao objeto.

    Em terceiro lugar, na medida em que a diversidade da matria e da forma, do objeto e do pensamento, no abandonada quela indeter-minidade nebulosa, mas tomada de modo mais determinado, assim cada uma uma esfera separada da outra. O pensamento, portanto, no ultrapassa a si mesmo em sua receptividade e enformao [Formie-ren] da matria, sua receptividade e sua acomodao a ela permanecem uma modificao de si mesmo, ele no se torna desse modo o seu outro. E o determinar consciente de si pertence de todo modo apenas a ele; ele tambm no consegue, portanto, em sua relao com o objeto, sair de si mesmo e chegar ao objeto: este permanece, como uma coisa em si, pura e simplesmente um alm do pensamento.

    Essas opinies sobre a relao do sujeito e do objeto um para com o outro exprimem as determinaes que constituem a natureza de nossa conscincia comum, fenomnica. Mas estes preconceitos, transpostos para a razo, como se nela ocorresse a mesma relao, como se essa re-lao tivesse em si e para si verdade, so os prejuzos que a filosofia tem

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    a tarefa de refutar por todas as partes do universo natural e espiritual, ou melhor, tendo em vista que impedem a entrada na filosofia, eles tm de ser abandonados antes da entrada na mesma.

    A metafsica antiga tinha a esse respeito um conceito mais elevado do pensamento do que aquele que se tornou corrente em poca mais recente. Aquela tinha como pressuposto que aquilo que reconhecido nas e pelas coisas por meio do pensamento o que unicamente a ver-dade verdadeira nelas, ou seja, no elevava as coisas em sua imediatida-de, mas primeiramente as elevava na forma do pensamento, como algo pensado. Essa metafsica considerava que o pensamento e as determi-naes do pensamento no eram algo estranho aos objetos, mas antes eram a sua prpria essncia ou que as coisas [Dinge] e o pensamento [Denken] dos objetos (assim como tambm a nossa lngua indica um parentesco entre esses dois termos) concordam em si e para si, que o pensamento em suas determinaes imanentes e a natureza verdica das coisas so um e o mesmo contedo.

    Mas o entendimento reflexionante apoderou-se da filosofia. pre-ciso saber exatamente o que essa expresso quer dizer, a qual muito e de modo variado empregada como um bordo; preciso compreender com isso o entendimento que abstrai e, assim, separa, persistindo em suas separaes. Voltado contra a razo, ele se comporta como enten-dimento humano comum e faz valer sua opinio que a verdade repousa sobre a realidade sensvel, que os pensamentos so apenas pensamen-tos, no sentido de que primeiramente a percepo sensvel lhes d con-tedo [Gehalt] e realidade, que a razo, ao permanecer em si e para si, apenas produz quimeras. Nessa renncia da razo a si mesma perde-se o conceito da verdade; a razo fica restrita a reconhecer somente a verdade subjetiva, apenas o fenmeno, apenas aquilo a que no corres-ponde a natureza da questo mesma; o saber recaiu ao nvel da opinio.

    Contudo, essa inflexo que o conhecimento toma e que aparece como perda e retrocesso, tem como fundamento algo mais profundo, sobre o qual repousa em geral a elevao da razo ao esprito mais elevado da filosofia mais recente. O fundamento daquela representa-o tornada universal tem de ser procurado, a saber, na concepo do

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    conflito necessrio das determinaes do entendimento consigo mes-mo. A j mencionada reflexo feita a seguinte: ultrapassar o imedia-to concreto e determinar e separar o mesmo. Mas ela tem de avanar igualmente alm dessas suas determinaes separadoras e, de incio, relacion-las. No ponto de vista desse relacionar surge o conflito. Esse relacionar da reflexo pertence em si razo; a elevao para alm daquelas determinaes, que alcana a inteleco do conflito das mes-mas, o grande passo negativo para o verdadeiro conceito da razo. Mas a inteleco no realizada recai no equvoco de que a razo que entra em contradio consigo. Ela no reconhece que a contradio precisamente o elevar-se da razo sobre as limitaes do entendimento e a soluo das mesmas. Em vez de dar, a partir daqui, o ltimo passo para o alto, o conhecimento, recuando do que insatisfatrio das de-terminaes do entendimento, se refugiou na existncia sensvel, no atinando com o que h de firme e de unificador nas determinaes do entendimento. No entanto, na medida em que, por outro lado, esse conhecimento se sabe como o conhecimento apenas do que fenom-nico, confessa-se o carcter insatisfatrio do mesmo, embora ao mesmo tempo ele seja pressuposto. Como se, na verdade, as coisas em si no fossem conhecidas corretamente, mas as coisas no interior da esfera do fenmeno, como se nisso apenas a espcie dos objetos fosse, por assim dizer, diferente e que uma espcie, a saber, a das coisas em si, no en-trasse no conhecimento, mas a outra sim, a saber, a dos fenmenos. como se a um homem fosse concedido possuir uma inteleco correta, com o acrscimo de que, todavia, no seria capaz de reconhecer nada de verdadeiro, mas apenas o no verdadeiro. Se isso um absurdo, da mesma forma um absurdo um verdadeiro conhecimento que no co-nhece o objeto tal como ele em si.

    A crtica das formas do entendimento teve o resultado indicado de que essas formas no possuem nenhuma aplicao sobre as coisas em si. Isso no pode ter outro sentido seno que essas formas so nelas mesmas algo de no verdadeiro. Entretanto, na medida em que so deixadas como vlidas para a razo subjetiva e para a experincia, a crtica no operou sobre elas mesmas nenhuma modificao, mas as

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    deixa para o sujeito na mesma configurao como antes valiam para o objeto. Todavia, se elas so insuficientes para as coisas em si, o enten-dimento, a quem elas teriam de pertencer, tampouco teria de aceit-las e no pretender possuir uma predileo por elas. Se elas no podem ser determinaes da coisa em si, elas tampouco podem ser determi-naes do entendimento, ao qual pelo menos deveria ser concedida a dignidade de uma coisa em si. As determinaes do finito e do infinito esto no mesmo conflito, sejam elas aplicadas ao tempo e ao espao, ao mundo, sejam elas determinaes no interior do esprito da mesma forma que o preto e o branco resultam no cinza, sejam misturados um com o outro numa parede ou numa paleta. Se a nossa representao do mundo se dissolve ao serem aplicadas sobre ela as determinaes do infinito e do finito, ento mais ainda o prprio esprito, que as contm ambas em si mesmo, algo em si mesmo contraditrio e se dissolve a si mesmo. Uma diferena no pode ser constituda devido constituio da matria ou do objeto sobre o qual so aplicadas ou no qual se en-contram; pois o objeto tem a contradio nele mesmo apenas por meio de e segundo aquelas determinaes.

    Aquela crtica, portanto, apenas afastou da coisa as formas do pen-samento objetivo, mas as deixou no sujeito tal como as encontrou. As-sim, ela no considerou essas formas em si e para si mesmas segundo seu contedo peculiar, mas as acolheu segundo lemas da lgica subje-tiva; de modo que no se tratou de uma deduo delas mesmas e nelas mesmas ou de uma deduo das mesmas como de formas subjetivas-lgicas e muito menos de uma considerao dialtica.

    O idealismo transcendental executado de modo conseqente reco-nheceu a nulidade do espectro da coisa em si, ainda deixado como resqucio pela filosofia crtica, essa sombra abstrata apartada de todo contedo, e teve como finalidade destru-la completamente. Essa filo-sofia tambm fez o incio que permitiu razo expor suas determina-es a partir dela mesma. Mas a postura subjetiva dessa tentativa no permitiu que chegasse a uma consumao. Alm disso, essa postura e com ela tambm aquele incio e desenvolvimento da cincia pura foram abandonados.

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    Contudo, aquilo que se costuma compreender como lgica consi-derado inteiramente sem significado metafsico. Essa cincia, no estado em que ainda se encontra, no possui certamente nenhum contedo que vale como realidade e como uma questo verdica na conscincia comum. Mas ela no por essa razo uma cincia formal, desprovida de uma verdade de contedo pleno. Entretanto, no se deve procurar o mbito da verdade naquela matria que falta na dita cincia e a cuja falta atribudo o elemento insatisfatrio da mesma. Pelo contrrio, a falta de contedo [Gehaltlose] das formas lgicas reside muito mais no modo como ela considerada e tratada. Na medida em que se separam como determinaes firmes e no so mantidas em unidade orgnica, elas so formas mortas e no possuem o esprito habitando nelas, o qual sua unidade concreta e viva. Mas, com isso, elas carecem do con-tedo consistente de uma matria que fosse nela mesma um contedo [Gehalt]. O contedo de que carecem as formas lgicas no outra coisa seno uma base e uma concreo firmes dessas determinaes abstratas; e uma tal essncia substancial costuma-se procurar fora dela. A razo lgica mesma, porm, o substancial ou o real, que mantm unidas todas as determinaes abstratas e sua unidade consistente, absolutamente concreta. No preciso, portanto, continuar procuran-do por aquilo que se costuma chamar de matria; no culpa do objeto da lgica se ela deve ser desprovida de contedo [gehaltlos], e sim da maneira como o mesmo apreendido.

    Essa reflexo conduz mais precisamente para a indicao do ponto de vista segundo o qual a lgica tem de ser considerada, em que medida ele se distingue dos modos de tratamento tradicionais dessa cincia e o nico ponto de vista verdico sobre o qual ela tem de ser para sempre estabelecida no futuro.

    Na Fenomenologia do esprito expus a conscincia em seu movi-mento progressivo, desde a oposio primeira e imediata dela e do ob-jeto at o saber absoluto. Esse caminho percorre todas as formas da re-lao da conscincia com o objeto e tem como seu resultado o conceito da cincia. Esse conceito (independentemente de nascer da prpria l-gica) no necessita aqui, portanto, de nenhuma legitimao, porque ele

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    a adquiriu no prprio caminho. E ele no passvel de nenhuma outra legitimao seno aquela provinda da prpria produo do mesmo por meio da conscincia, para a qual todas as suas figuras prprias se dis-solvem nele mesmo como estando na verdade. Uma fundamentao raciocinada ou um esclarecimento do conceito da cincia pode no m-ximo realizar o seguinte: que seja levado representao e se provoque um conhecimento histrico do mesmo. Mas uma definio da cincia ou mais precisamente da lgica tem a sua prova unicamente naquela necessidade de seu nascimento. Uma definio, com a qual qualquer cincia constitui o incio absoluto, no pode conter outra coisa seno a expresso determinada, correta, daquilo que se representa como aceito e conhecido do objeto e da finalidade da cincia. Que justamente se represente algo dessa maneira uma asseverao histrica, em rela-o qual unicamente podemos nos reportar a isso e aquilo conhecido ou propriamente apenas expressar como desejo que se prefere deixar que isso ou aquilo seja vlido como algo reconhecido. Mas ocorre sem cessar que aqui e ali se acrescentam um caso e uma instncia, com o que se teria de compreender ainda algo mais e algo diferente nessa ou naquela expresso, em cuja definio ainda , portanto, acolhido uma determinao mais precisa ou mais universal e, segundo isso, teria de se orientar a cincia. O qu e at que limite e amplitude algo deve ser incorporado ou excludo, depende, alm disso, do raciocinar; mas para o raciocinar mesmo permanece aberta a possibilidade a mais variada e diferenciada de admitir algo, com o que, por fim, a arbitrariedade pode consolidar uma firme determinao. Nesse procedimento de iniciar a cincia com a sua definio, no se fala nunca da carncia de que seja indicada a necessidade de seu objeto e, com isso, a necessidade dela mesma.

    O conceito da cincia pura e a sua deduo so dessa maneira pres-supostos no presente tratado, tendo em vista que a Fenomenologia do esprito nada mais do que a deduo do mesmo. O saber absoluto a verdade de todos os modos da conscincia, pois, assim como aquele percurso do mesmo o produziu, apenas no saber absoluto se dissolveu perfeitamente a separao entre o objeto e a certeza de si mesmo e se

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    tornaram idnticas a verdade dessa certeza bem como essa certeza da verdade.

    A pura cincia pressupe, com isso, a libertao da oposio da conscincia. Ela contm o pensamento na medida em que ele igual-mente a questo em si mesma ou a questo em si mesma na medida em que ela igualmente o puro pensamento. Como cincia, a verdade a pura conscincia de si que se desenvolve e tem a figura do si mesmo [Selbst], a saber, que o ente em si e para si conceito sabido, mas o conceito enquanto tal o ente em si e para si. Esse pensamento objetivo , pois, o contedo da cincia pura. Por conseguinte, ela to pouco formal, dispensa to pouco a matria de um conhecimento efetivo e real que, pelo contrrio, seu contedo antes a verdade absoluta ou, se ainda preferirmos nos servir da palavra matria, ela a matria ve-rdica mas uma matria para a qual a forma no algo exterior, j que essa matria muito mais o puro pensamento, em suma, a prpria forma absoluta. A lgica tem de ser desse modo apreendida como o sistema da razo pura, como o reino do puro pensamento. Esse reino a verdade, como ela em si e para si mesma, sem invlucro. Por causa disso podemos exprimir que esse contedo a exposio de Deus, tal como ele em sua essncia eterna antes da criao da natureza e de um

    esprito finito.Anaxgoras celebrado como aquele que expressou pela primeira

    vez o pensamento, ao afirmar que o nus, o pensamento, tem de ser determinado como princpio do mundo e que a essncia do mundo tem de ser determinada como o pensamento. Com isso ele lanou o fundamento de uma viso intelectual do universo, cuja configurao pura tem de ser a lgica. No se trata nela de um pensamento sobre algo, que residiria por si mesmo, como base, fora do pensamento, nem de formas que deveriam fornecer meros indcios da verdade; e sim as formas necessrias e as prprias determinaes do pensamento so o contedo e a prpria verdade suprema.

    A fim de captar esse ponto, pelo menos no nvel da representao, tem de ser deixada de lado a opinio de que a verdade tem de ser algo palpvel. Tal palpabilidade ainda, por exemplo, introduzida nas idias

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    platnicas, que esto no pensamento de Deus, como se elas fossem, por assim dizer, coisas existentes, com a diferena que esto num outro mundo ou regio, no exterior do qual se encontraria o mundo da efe-tividade e que este teria uma substancialidade distinta daquelas idias, primeiramente real por meio dessa diferena. A idia platnica no nada mais do que o universal ou mais determinadamente o conceito do objeto; apenas em seu conceito algo tem efetividade; na medida em que distinto de seu conceito, deixa de ser efetivo e algo nulo, o lado da palpabilidade e do ser-para-si-mesmo sensvel pertence a esse lado nulo. Por outro lado, porm, podemos evocar as prprias representaes da lgica comum; admite-se, com efeito, que definies, por exemplo, no contm determinaes que apenas recaem no sujeito conhecedor e sim as determinaes do objeto que constituem a sua natureza mais prpria e essencial. Ou quando se parte de determinaes dadas se de-duz outras, admite-se que o que foi descoberto no algo exterior e estranho ao objeto, mas que antes pertence a ele mesmo, que a esse pen-samento corresponde o ser. Em geral na base do emprego das formas do conceito, do juzo, da deduo, da definio, da diviso e assim por diante est o fato de que no so apenas meras formas do pensamento consciente de si, mas tambm do entendimento objetivo Pensar uma expresso que aplica a determinao nela contida preferencialmente conscincia. Mas na medida em que dito que o entendimento, que a razo esto no mundo objetivo, que o esprito e a natureza possuem leis universais, segundo as quais se fazem sua vida e modificaes, ento admitido que as determinaes do pensamento igualmente tm um valor e uma existncia objetivos.

    A filosofia crtica, na verdade, j transformou a metafsica em lgi-ca, mas, como j foi lembrado anteriormente, ela, assim como o idea-lismo posterior, por temor diante do objeto, deu s determinaes l-gicas uma significao essencialmente subjetiva. Com isso, elas perma-neceram ao mesmo tempo presas ao objeto, do qual fugiram, e restou nelas uma coisa em si, um bloqueio [Anstoss] infinito enquanto um alm. Mas a libertao da oposio da conscincia, que a cincia tem de poder pressupor, eleva as determinaes de pensamento acima deste

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    ponto de vista medroso e no consumado e exige a considerao das mesmas tal como so em si e para si o lgico, o puramente racional, sem uma tal limitao e considerao.

    Kant, de resto, aprecia a lgica, a saber, o agregado de determina-es e enunciados que no sentido comum se chama de lgica, como afortunada, por ter obtido uma consumao to cedo, antes das outras cincias. Desde Aristteles ela no teria dado nenhum passo atrs, mas tambm nenhum passo frente; esse ltimo passo ela no deu porque parecia estar acabada e consumada em todos os sentidos. Se a lgi-ca desde Aristteles no sofreu nenhuma modificao pois de fato se observarmos os compndios mais recentes de lgica, as mudanas consistem na maioria das vezes somente em supresses ento tem de se concluir antes que ela necessita de uma total reelaborao; pois um avano de dois mil anos do esprito deve ter-lhe proporcionado uma conscincia mais elevada sobre seu pensamento e sobre sua pura essencialidade em si mesma. A comparao entre as configuraes s quais se elevou o esprito do mundo prtico e religioso e o esprito da cincia em cada espcie de conscincia real e ideal e a configurao na qual se encontra a lgica e sua conscincia sobre a sua essncia pura, mostra uma diferena demasiadamente grande para que no salte ime-diatamente aos olhos da mais superficial considerao que essa ltima conscincia est inteiramente em desproporo e indigna das primei-ras elevaes.

    Com efeito, a necessidade de uma transformao da lgica sentida h muito tempo. Na forma e no contedo, tal como ela se mostra nos manuais, preciso que se diga, ela caiu no desprezo. Ela ainda man-tida viva mais pelo sentimento de que no se pode em geral dispensar uma lgica e devido a um apego, que ainda persiste, tradio de sua importncia do que por convico de que aquele contedo comum e a ocupao com aquelas formas vazias tm valor e utilidade.

    As ampliaes que por um certo tempo lhe foram dadas por meio do material psicolgico, pedaggico e at mesmo fisiolgico foram a seguir reconhecidas quase universalmente como deformaes. Em si e por si uma grande parte dessas observaes, leis e regras psicolgicas,

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    pedaggicas e fisiolgicas, tanto faz se esto na lgica ou em outro lu-gar, tem de parecer bastante rasa e trivial. Alm disso, tais regras que, por exemplo, afirmam que se deve repensar e examinar o que se l em livros ou o que se ouve verbalmente; ou que, quando no se v bem, preciso auxiliar os olhos com culos, regras que foram apresentadas nos manuais na assim chamada lgica aplicada e, na verdade, so tra-tadas de modo muito srio em pargrafos, a partir das quais se chegaria verdade, tudo isso deve parecer a qualquer um muito suprfluo, com exceo do escritor ou do mestre de escola, que se encontra em apuros e que pretende ampliar o contedo demasiadamente breve e morto da lgica1.

    No que concerne a tal contedo, j foi indicado anteriormente a razo pela qual ele to destitudo de esprito. As determinaes do mesmo valem em seu acabamento como inamovveis e so apenas a partir do exterior colocadas em relao recproca. Pelo fato de que nos juzos e nos silogismos as operaes so reconduzidas e fundamentadas especialmente sobre o quantitativo das determinaes, tudo repousa sobre uma distino exterior, sobre mera comparao e torna-se um procedimento inteiramente analtico e um clculo destitudo de con-ceito. A derivao das assim chamadas regras e leis, principalmente do silogismo, no muito melhor do que os ensaios feitos com palitos de desigual comprimento, a fim de classific-los e agrup-los segundo a sua grandeza ou a ocupao ldica das crianas, o quebra-cabea, que consiste em recompor as partes recortadas de um quadro. Por conseguinte, no sem razo se equiparou esse pensamento ao clculo e o clculo a esse pensamento. Na aritmtica os nmeros so tomados como o que destitudo de conceito que, afora sua igualdade ou desi-gualdade, isto , afora sua relao inteiramente exterior, no possui ne-nhum significado e no um pensamento nem nele mesmo nem em sua relao. Se calculado de modo mecnico que trs teros multiplicados 1 Uma recente reelaborao dessa cincia, o Sistema de lgica de Fries, retrocede ao fundamento antropolgico. A superficialidade em si e por si da representao ou opinio que a alicera me dispensam do esforo de levar em considerao esse fenmeno to insignificante.

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    por dois teros constitui uma metade, essa operao contm mais ou menos tanto pensamento quanto o clculo de que, em uma figura, essa ou aquela espcie de silogismo pode ser encontrada.

    Para que esse esqueleto morto da lgica seja vivificado por meio do esprito para uma substncia [Gehalt] e contedo [Inhalt], seu m-todo tem de ser aquele por meio do qual ela unicamente capaz de ser cincia pura. No estado no qual se encontra mal se pode reconhecer um pressentimento de mtodo cientfico. Ela tem aproximadamente a forma de uma cincia experimental. As cincias experimentais encon-traram, at onde possvel, para aquilo que devem ser, seu mtodo peculiar de definir e de classificar sua matria. Tambm a matemtica pura possui seu mtodo, que apropriado para seus objetos abstratos e para a determinao quantitativa, segundo a qual ela unicamente os considera. No prefcio Fenomenologia do esprito falei o essencial sobre esse mtodo e em geral sobre o carter subordinado de cientifi-cidade que se pode encontrar na matemtica; mas tambm no interior da lgica a matemtica ser considerada mais detidamente. Espinosa, Wolff e outros foram seduzidos a aplicar a matemtica tambm sobre a filosofia e a fazer do percurso exterior da quantidade destituda de conceito o percurso do conceito, o que em si e para si contraditrio. At hoje a filosofia ainda no encontrou o seu mtodo; ela observava com inveja o edifcio sistemtico da matemtica e o emprestou dela, como eu j disse, ou se serviu do mtodo das cincias que so apenas misturas de matrias dadas, de princpios da experincia e de pensa-mento ou tambm auxiliou-se com o desprezo rude de todo mtodo. Mas a exposio do que unicamente pode ser o mtodo verdico da cincia filosfica recai no interior do tratado da prpria lgica; pois o mtodo a conscincia sobre a forma do interior movimento de si de seu contedo. Na Fenomenologia do esprito apresentei um exemplo desse mtodo em um objeto mais concreto, a conscincia2. Apresentam--se aqui figuras da conscincia, as quais em sua realizao ao mesmo

    2 Posteriormente fiz o mesmo com outros objetos concretos e com as respectivas partes da filosofia.

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    tempo se dissolvem cada uma a si mesma, tm sua prpria negao como seu resultado e com isso passam para uma figura mais eleva-da. A nica coisa para alcanar a progresso cientfica e em vista de cuja inteleco inteiramente simples necessrio se empenhar de modo essencial o conhecimento do enunciado lgico de que o negativo igualmente positivo ou que o que se contradiz no se dissolve no que nulo, no nada abstrato, mas essencialmente apenas na negao de seu contedo particular ou que uma tal negao no toda negao, e sim a negao da questo determinada que se dissolve, com o que negao determinada; que, portanto, no resultado est contido essencialmente aquilo do qual resulta o que propriamente uma tautologia, pois de outro modo seria um imediato, no um resultado. Na medida em que o que resulta, a negao, negao determinada, ela possui um conte-do. Ela um novo conceito, mas conceito mais elevado, mais rico do que o precedente; pois ela se tornou mais rica devido a essa negao ou oposio; ela, portanto, o contm, mas tambm mais do que ele, e a unidade dele e do seu oposto. Nesse caminho tem de se formar em ge-ral o sistema dos conceitos e se consumir em um percurso irresistvel, puro, que no traz nada de fora para dentro.

    Como eu poderia supor que o mtodo que persigo nesse sistema da lgica ou melhor, que esse sistema persegue nele mesmo no seria ainda capaz de maior aperfeioamento, de muita lapidao quanto aos detalhes? Mas ao mesmo tempo sei que ele o nico veraz. Isso j fica claro pelo fato de que ele no nada distinto de seu objeto e conte-do; pois o contedo em si, a dialtica que ele tem nele mesmo que o move para frente. claro que nenhuma exposio pode valer como cientfica se ela no percorre o caminho desse mtodo e se no ade-quada ao seu ritmo simples, pois o percurso da questo mesma.

    De acordo com esse mtodo lembro que as divises e ttulos dos livros, das sees e dos captulos, que so indicados na obra, bem como os esclarecimentos que a eles esto relacionados, foram feitos com o propsito de um panorama prvio e que apenas tm valor histrico. Eles no pertencem ao contedo e ao corpo da cincia, mas so com-binaes da reflexo exterior que j percorreu o todo da execuo, por

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    conseguinte, j sabe de antemo a seqncia de seu momentos e os in-dica antes mesmo de eles se apresentarem por meio da questo mesma.

    Nas outras cincias tais determinaes prvias e divises igualmente nada mais so por si mesmas do que indicaes exteriores; mas tam-bm no interior da cincia elas no so elevadas acima desse carter. Mesmo na lgica, por exemplo, se diz algo como: a lgica tem duas partes principais, a doutrina dos elementos e a metodologia; na dou-trina elementar encontra-se, sem mais, o ttulo: leis do pensamento e, a seguir, no primeiro captulo: sobre os conceitos; primeira seo: sobre a clareza dos conceitos etc. Essas determinaes e divises feitas sem qualquer deduo e legitimao constituem a armao sistemtica e a conexo inteira de tais cincias. Tal lgica v como sua vocao falar que os conceitos e as verdades devem ser deduzidos dos princpios; mas naquilo que ela chama de mtodo nem de longe se pensa em deduo. A ordem consiste na composio de coisas idnticas, na antecipao do que mais simples diante do que composto e em vista de outras consideraes exteriores. Mas no que se refere a uma conexo interna, necessria, ela fica no registro das determinaes das divises, e a pas-sagem apenas se faz pelo fato de que agora se diz: segundo captulo ou: passamos agora aos juzos e assim por diante.

    Tambm os ttulos e as divises que aparecem nesse sistema no devem ter por si outro significado do que o de uma indicao de con-tedo. Alm disso, porm, a necessidade da conexo e o surgimento imanente das diferenas tm de se encontrar no tratamento da questo mesma, pois ela recai na prpria determinao progressiva do conceito.

    Aquilo pelo qual o conceito mesmo se conduz adiante o que an-teriormente foi indicado como o negativo, que ele tem em si mesmo; isso que constitui o verdadeiramente dialtico. A dialtica, que foi considerada como uma parte separada da lgica e em considerao sua finalidade e ponto de vista, pode-se dizer, foi completamente ig-norada, alcana com isso uma posio inteiramente diferente. Mesmo no Parmnides e em outras obras ainda mais diretamente, a dialtica platnica tambm tem ora apenas o propsito de dissolver e de refutar afirmaes limitadas por meio de si mesmas, ora, porm, tem em geral

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    por resultado o nada. Freqentemente v-se a dialtica como um atuar exterior e negativo, que no pertence questo mesma, que tem seu fundamento na mera vaidade enquanto uma mania subjetiva de abalar e dissolver o que firme e verdadeiro ou pelo menos como algo que no conduz a nada mais seno vaidade do objeto dialeticamente tratado.

    Kant colocou a dialtica num nvel mais alto e esse aspecto perten-ce aos seus maiores mritos ao suprimir dela a aparncia de arbitra-riedade, que ela tem segundo a representao comum, e a exps como um atuar necessrio da razo. Uma vez que ela apenas valia como a arte de criar engodos e produzir iluses, pressupunha-se pura e simples-mente que ela jogava um jogo falso e que sua fora inteira repousava unicamente no fato de que ela escondia a fraude; que seus resultados eram apenas sub-reptcios e uma aparncia subjetiva. As exposies dialticas de Kant nas antinomias da razo pura, consideradas mais de perto, como ocorrer mais amplamente na seqncia dessa obra, no merecem, na verdade, um grande elogio. Mas a idia geral que ele colocou como base e fez valer a objetividade da aparncia e a neces-sidade da contradio, a qual pertence natureza das determinaes de pensamento. Inicialmente, na verdade, ele o fez de modo que essas determinaes so aplicadas pela razo sobre as coisas em si; mas jus-tamente o que elas so na razo e em vista do que em si, essa a sua natureza. Esse resultado, apreendido em seu lado positivo, nada mais do que a negatividade interna das mesmas, como a sua alma que se move a si mesma, o princpio de toda vitalidade natural e espiritual em geral. Mas, assim como se fica preso somente ao lado abstrato-negativo do dialtico, o resultado apenas o fato conhecido: que a razo in-capaz de conhecer o infinito; um resultado estranho, uma vez que o infinito o racional, dizer que a razo incapaz de conhecer o racional.

    O [elemento] especulativo [das Spekulative] reside nesse [elemen-to] dialtico [in diesem Dialektischen], tal como aqui tomado, e isso significa, na apreenso do que oposto em sua unidade ou do posi-tivo no negativo. Esse o lado mais importante, mas para a fora de pensamento ainda destreinada e no livre, o lado mais difcil. Se a fora de pensamento ainda est envolvida na tarefa de se libertar da

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    representao sensvel-concreta e do raciocinar, ela primeiramente tem de se exercitar no pensamento abstrato, tem de apreender os conceitos em sua determinidade e a partir deles aprender a conhecer. Uma expo-sio da lgica com este propsito teria de se apegar em seu mtodo ao classificar, tal como comentei anteriormente e, no que se refere ao contedo mais preciso, teria de se apegar s determinaes que resul-tam como os conceitos isolados, sem se entregar ao dialtico. Segundo a configurao exterior, ela seria semelhante ao modo de apresentao comum dessa cincia, de resto, segundo o contedo, tambm se distin-guiria dela e ainda assim serviria para exercitar o pensamento abstrato, embora no o especulativo, cuja finalidade a lgica tornada popular por meio de ingredientes psicolgicos e antropolgicos no consegue de modo algum preencher. Ela forneceria ao esprito a imagem de um todo metodicamente ordenado, embora a alma do edifcio, o mtodo que vive no dialtico, no apareceria ele mesmo nela.

    No que diz respeito formao e relao do indivduo com a l-gica, observo por fim ainda que essa cincia, assim como a gramtica, aparece em duas perspectivas ou valores distintos. Ela algo diferente para quem em geral se defronta pela primeira vez com ela e com as cin-cias e para quem retorna das cincias para ela. Quem comea a conhe-cer a gramtica, encontra nela formas e leis de abstraes secas, regras casuais, em geral um conjunto isolado de determinaes que apenas mostram o valor e o significado do que reside em seu sentido imediato; o conhecer conhece neles inicialmente nada alm deles. Quem, ao con-trrio, domina uma lngua e ao mesmo tempo conhece outras lnguas em comparao a essa, pode primeiramente sentir o esprito e a cultura de um povo na gramtica de sua lngua; as mesmas regras e formas possuem a partir de ento um valor pleno, vivo. Ele pode conhecer por meio da gramtica a expresso do esprito em geral, a lgica. Assim, aquele que se aproxima da cincia encontra na lgica inicialmente um sistema isolado de abstraes que, limitadas a si mesmas, no se esten-dem para alm dos outros conhecimentos e cincias. Alis, comparada com a riqueza da representao de mundo, com o contedo que apare-ce de modo real nas outras cincias e com a promessa que a cincia ab-

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    soluta oferece de descobrir a essncia dessa riqueza, a natureza interior do esprito e do mundo, a verdade, essa cincia tem antes, em sua con-figurao abstrata, na simplicidade incolor e fria de suas determinaes puras, a aparncia de tudo realizar, menos essa promessa, e encontra-se destituda de contedo diante daquela riqueza. A primeira familiarida-de com a lgica restringe o seu significado a ela mesma; seu contedo vale apenas como uma ocupao isolada com as determinaes de pen-samento, ao lado da qual as outras ocupaes cientficas so uma mat-ria prpria e um contedo [Gehalt] por si, sobre os quais o elemento da lgica [das Logische] tem por assim dizer uma influncia formal e, na verdade, uma influncia que se faz mais por si mesma e para a qual, por necessidade, a configurao cientfica e seu estudo sem dvida podem tambm ser dispensados. As outras cincias desprezaram inteiramente o mtodo regulamentado de serem uma seqncia de definies, axio-mas, teoremas e suas provas etc.; a assim chamada lgica natural faz-se valer por si mesma nelas e se auxilia sem um conhecimento especfico, voltado para o prprio pensamento. Mas a matria e o contedo dessas cincias se mantm por si mesmo inteiramente independentes do lgico e so tambm mais acessveis para o sentido, o sentimento, a represen-tao e o interesse prtico de toda espcie.

    Assim, sem dvida a lgica tem de ser primeiramente aprendida como algo que certamente se compreende e se penetra, mas cuja am-plitude, profundidade e significado ulterior, de incio, no se consegue medir. Apenas a partir do conhecimento mais profundo das outras ci-ncias eleva-se para o esprito subjetivo o lgico como um universal no apenas abstrato, e sim como a riqueza do universal que abrange em si mesmo o particular; assim como a mesma sentena moral na boca do jovem que a compreende inteiramente no possui o significa-do e a amplitude que possui no esprito de um homem experimentado pela vida, em quem se exprime toda a fora do contedo [Gehalt] que nela se encontra. Desse modo, o elemento lgico primeiramente atinge a apreciao de seu valor quando se tornou o resultado da experincia das cincias; ele se apresenta ao esprito a partir delas como a verdade universal, no como um conhecimento particular ao lado de outras

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    matrias e realidades, mas sim como a essncia de todo esse outro con-tedo.

    Mesmo que no incio do estudo o elemento lgico no esteja, na verdade, presente para o esprito nessa fora consciente, ele, por isso, no recebe menos a fora em si que o conduz em toda a verdade. O sistema da lgica o reino das sombras, o mundo das determinaes essenciais, libertado de toda concreo sensvel. O estudo dessa cincia, a estadia e o trabalho nesse reino de sombras a formao absoluta e a disciplina da conscincia. Ela realiza a uma ocupao afastada das intuies e dos fins sensveis, dos sentimentos e do mero mundo da representao apenas visado [gemeinten]. Considerado por seu lado negativo, essa ocupao consiste no afastamento da contingncia do pensamento raciocinante e da arbitrariedade de aceitar e de deixar va-ler esses ou aqueles fundamentos opostos.

    Mas o pensamento conquista especialmente desse modo a autono-mia e a independncia. Ele se familiariza com o que abstrato e, na progresso por meio de conceitos sem substratos sensveis, ele se torna a potncia inconsciente de acolher na forma racional a multiplicidade restante dos conhecimentos e as cincias, de apreend-las e ret-las no que tm de essencial, de afastar o exterior e, desse modo, extrair delas o lgico ou, o que o mesmo, de preencher a base abstrata da lgica, alcanada anteriormente por meio do estudo, com o contedo [Gehalt] de toda a verdade e dar-lhe o valor de um universal, o qual no est mais como um particular ao lado de outro particular, mas se estende sobre tudo isso e sua essncia, o verdadeiro-absoluto [das Absolut--Wahre].

    Diviso geral da lgica

    Naquilo que foi dito sobre o conceito dessa cincia e sobre o lugar de sua legitimao reside o fato de que a diviso geral aqui apenas pode ser provisria, apenas pode, por assim dizer, ser indicada, tendo em vista que o autor j conhece a cincia, sendo aqui, por conseguinte,

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    capaz de indicar previa e historicamente em que diferenas principais o conceito se ir determinar em seu desenvolvimento.

    Todavia, pode-se tentar tornar compreensvel, de modo geral e previamente, o que requerido para uma diviso, embora justamente nesse caso tem de ser reivindicado um procedimento de mtodo que primeiramente no interior da cincia adquire sua compreenso plena e legitimao. Portanto, antes de tudo preciso lembrar que aqui pressuposto que a diviso tem de estar conectada ao conceito ou muito mais residir nele mesmo. O conceito no indeterminado, mas determi-nado nele mesmo; mas a diviso exprime desenvolvida esta sua deter-minidade; ela o juzo do mesmo, no um juzo sobre qualquer objeto tomado do exterior, mas o julgar, isto , o determinar do conceito nele mesmo. O carter de retngulo, acutngulo etc., assim como do eqi-ltero etc., segundo cujas determinaes se dividem os tringulos, no reside na determinidade do tringulo mesmo, isto , no que se costuma chamar de conceito do tringulo. Tampouco naquilo que vale como o conceito de animal em geral ou de mamfero, de pssaro etc., residem as determinaes segundo as quais aquele dividido em mamferos, pssaros etc. e essas classes em gneros ulteriores. Tais determinaes so extradas de outros lugares, da intuio emprica; elas se acrescen-tam do exterior ao assim chamado conceito. No tratamento filosfico do dividir o conceito deve se mostrar a si mesmo como contendo sua origem.

    Mas o prprio conceito da lgica foi indicado na introduo como o resultado de uma cincia que reside num outro lugar e que aqui foi igualmente indicada como uma pressuposio. Dessa maneira, a lgi-ca se determinou como a cincia do pensamento puro, que tem como seu princpio o saber puro, a unidade no abstrata, mas desse modo concreta e viva. Nela, a oposio da conscincia entre, de um lado, um ente por si mesmo subjetivo e, de outro lado, um segundo ente desse tipo, um objetivo, sabida como superada, e o ser sabido como puro conceito nele mesmo e o puro conceito como o verdadeiro ser. Esses so assim os dois momentos que esto contidos no lgico. Mas eles sero sabidos como existentes sem separao, no como na conscincia onde

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    cada um era tambm sabido como existente por si; desse modo so-mente, pelo fato de que so sabidos como distintos (todavia no como existentes em si mesmos), sua unidade no abstrata, morta, imvel, mas concreta.

    Essa unidade constitui ao mesmo tempo o princpio lgico como elemento, de modo que o desenvolvimento daquela diferena, que exis-te imediatamente nele, apenas ocorre no interior desse elemento. Pois, na medida em que a diviso, tal como foi dito, o juzo do conceito, o ato de pr [das Setzen] a determinao nele j imanente e, assim, sua diferena, ento esse ato de pr no pode ser apreendido como uma nova dissoluo daquela unidade concreta em suas determinaes, tal como devem valer por si mesmas existentes, o que aqui seria um retroceder vazio ao ponto de vista anterior da oposio da conscin-cia; essa, mais precisamente, desapareceu. Aquela unidade permanece o elemento e dele no mais sai aquele separar da diviso e em geral do desenvolvimento. Com isso, as determinaes antes (no caminho para a verdade) por si mesmas existentes, como um subjetivo e um objetivo ou tambm como pensar e ser ou como conceito e realidade, seja em que perspectiva possam ter sido determinadas, esto finalmente rebaixadas em sua verdade, isto , em sua unidade, a formas. Em sua diferena elas permanecem elas mesmas, por conseguinte, em si o conceito inteiro e esse apenas posto na diviso sob suas prprias determinaes.

    Trata-se do conceito inteiro, que ora tem de ser considerado como conceito existente ora como conceito; ali ele apenas conceito em si, da realidade ou do ser, aqui ele conceito como tal, conceito existente por si (tal como ele , para nomear formas concretas, no homem pensante, mas tambm, certamente no como consciente e muito menos como sabido, no animal que sente e na individualidade orgnica em geral; mas ele conceito em si apenas na natureza inorgnica). A lgica teria de ser desse modo inicialmente dividida na lgica do conceito como ser e do conceito como conceito ou na medida em que nos servimos das restantes expresses comuns, embora as mais indeterminadas e, por isso, as mais polissmicas na lgica objetiva e na lgica subjetiva.

    No entanto, de acordo com o elemento que se encontra no funda-

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    mento da unidade do conceito em si mesmo e, com isso, da inseparabi-lidade de suas determinaes, essas determinaes, na medida em que so distintas e o conceito posto em sua diferena, devem pelo menos estar em relao umas com as outras. Resulta disso uma esfera da me-diao, o conceito como sistema de determinaes de reflexo, isto , do ser que passou para o ser em si do conceito, o qual desse modo ainda no posto como tal por si mesmo, mas ao mesmo tempo est preso ao ser imediato como a algo a ele mesmo tambm exterior. Essa a doutrina da essncia, que est no centro entre a doutrina do ser e do conceito. Na diviso geral dessa obra lgica ela ainda foi situada sob a lgica objetiva, pois embora a essncia j seja o interior, o carter de sujeito tem de ser reservado expressamente ao conceito.

    Kant3, em poca mais recente, ops ao que habitualmente se chama de lgica ainda uma outra lgica, a saber, uma lgica transcendental. O que aqui foi chamado de lgica objetiva corresponderia em parte ao que nele a lgica transcendental. Ele a distingue daquilo que chama de lgica geral, de modo que ela a) considera os conceitos que se refe-rem a priori aos objetos, ou seja, no abstraem de todo contedo do conhecimento objetivo ou ela contm as regras do pensamento puro de um objeto e b) ao mesmo tempo vai direo da origem do nosso conhecimento, na medida em que ele no pode ser atribudo aos obje-tos. O interesse filosfico de Kant est exclusivamente voltado para 3 Lembro que nessa obra irei me referir vrias vezes filosofia kantiana (o que para muitos pode parecer suprfluo), pois seja como se queria considerar, em outro lugar ou tambm nesta obra, sua determinidade particular, bem como as diferentes partes de sua execuo ela constitui a base e o ponto de partida da filosofia alem mais recente e esse seu mrito permanece-lhe de modo incondicional, independentemente das objees que se possa fazer-lhe. Por isso mesmo ela tem de ser levada em considerao na lgica objetiva, porque aborda, de modo mais preciso, importantes aspectos mais determinados do lgico, ao passo que em exposies posteriores da filosofia pouco observa o lgico, pelo contrrio, em parte muitas vezes apenas demonstra-lhe um desprezo rude mas no impune. O filosofar mais amplamente difundido entre ns no provm dos resultados kantianos de que a razo no poderia conhecer nenhum contedo [Gehalt] verdadeiro e que preciso se remeter f, no que diz respeito verdade absoluta. Mas o que resultado em Kant, com isso que se comea imediatamente nesse filosofar, e, assim, cortada a execuo precedente da qual procede aquele resultado e que conhecimento filosfico. A filosofia kantiana vale assim como uma almofada para a preguia do pensamento que se tranqiliza com o fato de que tudo j foi provado e resolvido. Para o conhecimento e um contedo determinado do pensamento que no se encontra em tal tranqilizao infrutfera e seca, necessrio, por conseguinte, voltar-se para a execuo precedente.

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    esse segundo lado. Seu pensamento principal consiste em reivindicar as categorias para a conscincia de si, compreendida como eu subjeti-vo. Em virtude dessa determinao, a perspectiva [Ansicht] permanece estacionada no interior da conscincia e de seu oposto e possui ainda algo que resta, para alm do emprico do sentimento e da intuio, que no posto e determinado [gesetzt und bestimmt] pela conscincia de si pensante, uma coisa em si, algo estranho e exterior ao pensamento; embora seja fcil de admitir que uma abstrao como a da coisa em si ela mesma apenas um produto do pensamento e, na verdade, do pensa-mento abstratizante. Se outros kantianos se exprimiram assim sobre o determinar do objeto por meio do eu, de que o objetivar do eu tem de ser visto como um atuar originrio e necessrio da conscincia, de modo que em tal atuar originrio ainda nem est a representao do eu mesmo a qual primeiramente uma conscincia daquela conscincia ou mesmo um objetivar daquela conscincia ento esse atuar objeti-vador libertado da oposio da conscincia mais precisamente aquilo que pode em geral ser tomado por pensar como tal4. Mas esse atuar no deveria mais ser nomeado de conscincia; conscincia engloba em si mesma a oposio do eu e de seu objeto, o qual no est presente naquele atuar originrio. A denominao conscincia lana ainda mais a aparncia de subjetividade sobre o mesmo do que a expresso pensamento, o qual aqui todavia tem de ser tomado no sentido absolu-to como pensamento infinito, no afetado pela finitude da conscincia, em suma, como pensamento como tal.

    Na medida em que o interesse da filosofia kantiana estava voltado para o assim chamado transcendental das determinaes de pensamento, o tratamento das mesmas acabou ele mesmo vazio. O que elas so nelas mesmas, sem a relao abstrata, sempre igual ao eu, sua determinidade uma diante da outra e sua relao recproca no foi tornado objeto de 4 Se a expresso "atuar objetivador do eu" pode lembrar outras produes do esprito, por exem-plo, da fantasia, ento tem de ser observado que se trata de um determinar de um objeto, na me-dida em que seus momentos de contedo no pertencem ao sentimento e intuio. Tal objeto um pensamento e determin-lo significa em parte primeiramente produzi-lo, em parte, na medida em que algo pressuposto, ter pensamentos ulteriores sobre ele, desenvolv-lo pelo pensamento.

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    considerao. Por conseguinte, o conhecimento de sua natureza no se encontrou de modo algum estimulado por essa filosofia. O nico ponto interessante que possui uma relao com isso surge na crtica das idias. Para o efetivo progresso da filosofia, porm, era necessrio que o inte-resse do pensamento prosseguisse para a considerao do lado formal, do eu, da conscincia como tal, isto , da relao abstrata de um saber subjetivo com um objeto e que o conhecimento da forma infinita, isto , do conceito, fosse desse modo introduzido. Mas para alcanar esse conhecimento, aquela determinidade finita, na qual a forma enquanto o eu conscincia, ainda tinha de ser removida. A forma, assim pensa-da em sua pureza, contm nela mesma o fato de se determinar, isto , de dar a si contedo e, na verdade, dar o mesmo em sua necessidade como sistema de determinaes de pensamento.

    A lgica objetiva assume ento muito mais o lugar da metafsica anterior, a qual era o edifcio cientfico sobre o mundo, que apenas deveria ser executada por meio de pensamentos. Se levarmos em considerao a ltima configurao do desenvolvimento dessa cin-cia, ento ela primeira e imediatamente a ontologia, em cujo lugar se pe a lgica objetiva, a parte daquela metafsica que deveria investi-gar a natureza do ens em geral; o ens compreende em si mesmo tanto o ser como a essncia, para cuja diferena nossa lngua salvou, de modo feliz, a expresso diferenciada. A seguir, porm, a lgica ob-jetiva abrange em si mesma tambm a metafsica restante, na medida em que essa procurou apreender com as formas puras de pensamento os substratos particulares, inicialmente tomados da representao, a alma, o mundo, Deus e as determinaes do pensamento constituram o essencial do modo de considerao. Mas a lgica considera essas formas livres daqueles substratos, dos sujeitos da representao e sua natureza e valor em si e para si mesmos. Aquela metafsica desistiu disso e atraiu para si a acusao justa de t-las empregado sem crtica, sem a investigao prvia para saber se elas e como elas so capazes de serem determinaes da coisa em si, segundo a expresso kantiana, ou muito mais do racional. A lgica objetiva , por conseguinte, a crtica veraz das mesmas uma crtica que no as considera segundo

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    a forma abstrata da aprioridade contra a aposterioridade, mas elas mesmas em seu contedo particular.

    A lgica subjetiva a lgica do conceito da essncia que superou sua relao com um ser ou sua aparncia e no mais exterior em sua determinao, e sim o subjetivo autnomo e livre, que se determina a si mesmo, ou melhor, o sujeito mesmo. Na medida em que o subjetivo implica o equvoco do que contingente e arbitrrio, bem como em geral das determinaes que pertencem forma da conscincia, ento aqui no tem de ser colocado um peso especial sobre a diferena entre o subjetivo e o objetivo, a qual mais tarde ser mais precisamente de-senvolvida no interior da lgica mesma.

    A lgica, portanto, de modo geral se divide em lgica objetiva e subjetiva, mas de modo mais determinado ela possui trs lados:

    A lgica do ser,A lgica da essncia eA lgica do conceito.